Modalidade: Comunicação Oral / Apresentação de Slides GT: Teatro Eixo Temático: Práticas de Leitura em Teatro na Escola ENTRELAÇANDO TEATRO E LITERATURA: UMA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DOM JOSÉ GASPAR – ARAXÁ MG Gleuter Alves Guimarães UFU/MG/Brasil RESUMO: O presente artigo busca apresentar a pesquisa que está sendo realizado na Escola Estadual Dom José Gaspar em Araxá MG. Esse trabalho considera o espaço da escola de Ensino Médio sendo repensado diante um mundo que demanda cada vez mais decisões velozes de um aluno que está caminhando em sua formação como indivíduo pensante e que necessita ter espaço para expressar e se preparar para tantas mudanças na vida. O foco desse trabalho de pesquisa e experimentação voltado para a arte teatral é dar oportunidade para a experiência na construção de pessoas através da criação e interpretação de personagens, levando o aluno a uma visão interpretativa da leitura de textos literários de forma prazerosa e participativa na vida em comunidade, assim refletindo sobre a sua formação como cidadão consciente e atuante. O autor está iniciando o curso de Mestrado ProfArtes em Teatro na UFU sob orientação da Profª Drª Irley Machado. Palavras-Chave: Teatro na Escola; Literatura; Ensino médio; Araxá MG. INTERFACING THEATER AND LITERATURE: AN EXPERIENCE IN THE PUBLIC SCHOOL “DOM JOSÉ GASPAR” - ARAXÁ MG ABSTRACT: This article seeks to present a research that has been realized in the school Dom José Gaspar which is located in Araxá – MG/Brazil. This work considers the moment of high school (Ensino Medio) as something that has to be thought over before a world that demands more and more fast decisions of a student that is getting though his educational process as a being that thinks and someone who needs to have time to express himself and to be prepared for all lifes changes. The through the experience in the construction of a character it is possible to help on building up a sense of citizenship and it also helps the student find pleasure in his reading of literature texts and books. It also possible that the student will learn from these literature characters to be a better citizen getting involved in his community life. The author of this article is initiating his master course in Theater (ProfArtes) at University of Uberlandia (UFU) and his professor adviser is Dr. Irley Machado. Key words: Theater in the school; literature; High school; Araxá. INTRODUÇÃO Ensino Médio: Espaço para cultura A escola é um espaço onde a cultura pode e deve ser trabalhada de forma a dar ao aluno um desenvolvimento saudável e a despertar suas capacidades para a expressão e divulgação das ideias através da arte. O teatro proporciona ao aluno em qualquer fase de sua vida estudantil o desenvolvimento de suas potencialidades, tanto no sentido físico como no sentido psicoafetivo e social. Dentro da escola de Ensino Médio o jovem se solta ao apresentar-se em um palco diante de seus colegas e se sente valorizado por poder se expressar. As atividades teatrais dão ao aluno, desenvolvimento de capacidades físicas, vocais, rítmicas e de percepção espacial. A escola tem em mãos um elemento de agregação de valores, de desenvolvimento intelectual e cultural do aluno. Os espaços escolares podem se transformar em espaços únicos ou diferenciados da propagação da cultura nas cidades, bairros ou entre familiares e comunidade atendida pela escola. Analisando essas perspectivas o projeto busca entrelaçar a literatura e os seus personagens, que por muitas vezes se transformam em experiências de leitura enfadonha e obrigatória para cumprir requisitos curriculares e de questões para o vestibular em momentos de interpretação dinâmica e atraente. O teatro trabalhando para que a nossa diversidade literária seja prazerosa para o aluno que ao vivenciar o texto e seus personagens compreenda a relação tempo e espaço das obras e seus personagens. A partir disso, o próprio jovem se identifique e contextualize as histórias e momento em que vive e atua. As manifestações culturais e teatrais aconteceram e acontecem ao longo da história dando aos alunos grandes oportunidades de conhecer, participar e se desenvolver através da escola e seus educadores, ao mesmo tempo em que elevam o nome da escola através de suas atividades artísticas e culturais na cidade. A pesquisa visa trazer à tona experiências ricas vividas na escola, por educadores e educandos que fazem a história da arte teatral na cidade. Com essa pesquisa despertar o interesse das escolas, gestores e alunos a empreenderem projetos culturais a partir das escolas da cidade, ocupando espaços nas comunidades próximas e na cultura da cidade. Teatro e Literatura: laços de leitura e interpretação Pensando o contexto atual do aluno do ensino médio que vive em mundo cada dia mais veloz e com informações rápidas e muitas vezes desconexas, um mundo tecnológico que privilegia a leitura instantânea e de textos curtos, a literatura brasileira deixa de ser atraente ao jovem que não se vê parado e lendo um livro em que os personagens e as histórias parecem distantes e fora de seu mundo. A escola trata a literatura, quase sempre, como uma obrigação para cumprir a carga horária e “preparação” para o vestibular. Exames que tratam a literatura como uma parte de conhecimento automatizado e decorado com perguntas superficiais sobre o texto e seus personagens. O aluno passa a ver as histórias da literatura como uma matéria massacrante e que o faz desinteressar pela pesquisa dos autores e dos livros. O propósito de integrar o teatro e a literatura na escola é a aproximar a arte teatral com os textos literários, sejam poéticos ou de histórias ficcionais que retratam um contexto de vida dentro dos regionalismos brasileiros e de seus autores. A leitura de textos com aprofundamento no contexto da história de seus personagens e com a interpretação direcionada para a cena teatral e personagens que podem criar vida através do aluno de sua visão e atuação, trazendo uma ressignificação ao jovem que lê e busca o entendimento da dramaturgia do texto, seus cenários e conhecimento da personalidade de cada personagem. A partir dessa experiência, pesquisar a importância do teatro na vida do estudante de ensino médio através de vivência práticas na criação e desenvolvimento dos personagens, da sua participação na comunidade escolar e na cultura da cidade, como um indivíduo que lê, experimenta e pode analisar as atividades artísticas que acontecem em sua cidade e ainda pode transmitir a sua experiência e vivência teatral participando da cultura local caso seja de seu interesse. DESENVOLVIMENTO Os Laços Teóricos Desenvolver atividades teatrais na escola, investigando os processos de experimentação lúdica e formativa do indivíduo relacionando com a teoria educacional é um objetivo de nossa pesquisa com alunos do ensino médio, para isso é importante observar o embaamento teórico da arte na escola. No início do século XX, a sistematização do teatro para o desenvolvimento da criança é proposta através dos jogos teatrais como relata (JAPIASSU, 2012): A finalidade do jogo teatral na educação escolar é o crescimento pessoal e o desenvolvimento cultural dos jogadores por meio do domínio, da comunicação e do uso interativo da linguagem teatral, numa perspectiva improvisacional ou lúdica. O princípio do jogo teatral é o mesmo da improvisação teatral, ou seja, a comunicação que emerge da espontaneidade das interações entre sujeitos engajados na solução cênica de um problema de atuação. (JAPIASSU,2012, p. 26). A escola é lugar de interação e, como vemos, os jogos teatrais propõem uma comunicação entre os participantes, e como a criança tem uma capacidade muito grande de improvisar, criar personagens e interpretar histórias. Ela interage com colegas sem preconceito e com espontaneidade e assim vai desenvolvendo o seu potencial criativo e social. O teatro, através dos jogos teatrais adentra os muros da escola na perspectiva de uma nova pedagogia que se baseia nos princípios da psicologia desenvolvida na Europa com o pensamento do psicólogo russo L. S. Vigotsky (1896-1934) dialogando com os jogos teatrais da autora e diretora teatral norte americana Viola Spolin (1906-1994) e as técnicas psicofísicas de Stanislavski, como nos mostra Teixeira e Camargo (2012): Sendo o teatro (drama) uma forma de imitação operacionalizada pelo “se” imaginário (tanto dos atores como da “plateia”), é sistema de conhecimento, é operação imaginativa e vivenciada do mundo. É um método de aprendizado, relação e modificação do mundo. Constatamos assim a relação teatro/educação, teatro/representação, presentes desde as formas mais primitivas de drama na formação do homem. (TEIXEIRA & CAMARGO, 2012). De acordo com a constatação das relações do teatro com o mundo, com o ser humano em desenvolvimento, a escola operacionaliza os jogos de imitação, buscando dar ao aluno uma maior oportunidade de aprender e de se expressar, utilizando-se do lúdico para que ela sinta prazer em buscar o conhecimento e de fazer-se participativa na relação com o mundo em que está inserida. Assim, os jogos teatrais passam a fazer parte da vida escolar, oportunizando ao educando o desenvolvimento de seu potencial criativo e ao mesmo tempo difundindo o teatro como arte para se fazer e ser vista. A escola tem uma pedagogia que potencializa o sujeito criativo e ao mesmo tempo busca cumprir seu papel de difusor da cultura na sociedade em que se insere, ocupando espaços no cenário artístico de uma cidade. O teatro na escola brasileira Através da expansão da proposta dos jogos teatrais na educação na Europa e Estados Unidos, o teatro tem no Brasil um desenvolvimento com amparo legal através da LDB de 1961 (lei 4.024/61) que de acordo com JAPIASSU(2012, p. 63) introduzia a arte no currículo de forma não obrigatória, e que tinha em algumas escolas a disciplina Arte dramática, principalmente ministrada por educandários vocacionais e de aplicação e escolas pluriculturais. Esse tipo de disciplina era específica para a arte teatral (como havia outras para música, dança e artes plásticas) e as escolas eram autônomas em oferecer a disciplina e buscar professores para ensiná-la (geralmente entre artistas). Em 1971 entra em vigor a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB 5.692/71 que torna obrigatório o ensino da matéria Educação Artística nas escolas de 5ª a 8ª séries (Ensino fundamental hoje) e 1º ao 3º ano do atual ensino médio, regulamentada com duas horas/aula semanais e abordando de maneira integral as linguagens cênicas (teatro e dança), plástica e musical em uma só disciplina. Ainda de acordo com (JAPIASSU, 2012), “a publicação da lei 5692/71 surpreendeu os estabelecimentos de ensino ao exigir o oferecimento de uma matéria (educação artística) para a qual não havia profissionais licenciados.” Além de uma nova carga horária a ser encaixada no currículo, a matéria não possuía professores formados para ministrá-la e tampouco um professor que dominasse as quatro linguagens. Acontece então a improvisação com o deslocamento de professores de outras áreas sem conhecimento das artes para lecionar a matéria. Os cursos de formação universitária em educação artística só começaram três anos após a lei e para professores terem um conhecimento polivalente nas artes. Aconteceu, então, que a matéria foi direcionada para uma repetição de processos visuais e ainda com a implantação das formas matemáticas geométricas e ainda de desenhos livres sem orientação e conhecimento dos professores que não eram da área. Isso se propagou por longos anos, e na verdade, se pesquisarmos, veremos que ainda acontece em muitas cidades e escolas pela falta de professores habilitados e sem nenhum interesse pela arte e cultura, meros repetidores de formas e ainda sem visão das escolas, colocando a arte apenas como preparadores de cartazes de festinhas em datas comemorativas. Entra em cena o PCN Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) regulamentam os currículos escolares para a consolidação da nova LDB 9394/96 que colocou o ensino da Arte como disciplina obrigatória em toda a educação básica para promoção do desenvolvimento cultural do aluno. A caracterização do ensino da arte é assim colocada no PCN: Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades. A educação em Arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. (PCN-ARTE,p.19) Os objetivos da regulamentação e da implantação do PCN são, no papel, bem claros e bem redigidos, pensando em uma formação artística e cultural de maneira a levar o aluno a pensar, entender e participar das atividades artísticas. Assim como na lei anterior à disciplina Arte abrange os quatro eixos temáticos (música, dança, teatro e visuais), e sabemos que a formação do professor não habilita um profissional tão dinâmico e com conhecimento amplo nas artes. As Secretarias estaduais de educação formatam seus currículos na possibilidade de ter os vários professores nas quatro áreas, mas limitam a contratação de mais de um professor para arte, o que mais uma vez coloca a disciplina como uma complementação de carga horária de outros professores que não são habilitados na área. Na prática, o que vemos desde a implantação dos PCN que a Arte vem sendo colocada em apenas uma das séries, tanto no Fundamental, como no médio, e ainda, as escolas se utilizam do subterfúgio da interdisciplinaridade para incluir a arte em outras matérias, como Literatura, História e Educação física por já terem a carga horária e professores efetivos. Para uma verdadeira mudança no ensino da arte e cumprimento dos objetivos traçados pelo PCN e a efetiva entrada do nosso aluno no meio cultural em que vive, respeitando os caráteres regionais de um país continental com uma amplitude diversificada da arte e da cultura é que entendemos a necessidade de aprofundamento dos profissionais educadores em arte para buscar meios para um desenvolvimento mais dinâmico e inteligente da arte na educação como podemos ver na afirmação da arteeducadora Ana Mae Barbosa, 2003: Somente a ação inteligente e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor da construção de sua própria nação. (BARBOSA,2003. p.14). Outro ponto é a necessidade investimento das políticas públicas na capacitação do profissional e no investimento nos aparelhos escolares próprios para o desenvolvimento da arte, a proposição da contemplação no currículo por si só não garante uma boa formação do aluno no conhecimento da arte como nos diz Barbosa (2003), com a afirmação que concordo plenamente: Os poderes públicos, além de reservarem um lugar para a arte no currículo e se preocuparem em como a arte é ensinada, precisam propiciar meios para que os professores desenvolvam a capacidade de compreender, conceber e fruir arte. Sem a experiência do prazer da arte, por parte dos professores e alunos, nenhuma teoria de arte-educação será reconstrutora. (BARBOSA, 2003, p.14). Pensando nisso, podemos entender que houve um grande avanço com a regulamentação dos PCN para o desenvolvimento da Arte na escola, mas que muita coisa ainda necessita caminhar para que o aluno seja consciente da importância da participação na cultura e na arte onde ele vive. As escolas precisam abrir sua visão para entender a arte como importante na construção de uma educação melhor e na formação do indivíduo, entender que os professores cada vez mais precisam se capacitar e entrar no processo de desenvolvimento artístico e cultural de uma cidade ou região, lutando para abrir espaços para que a arte e o teatro cumpram seu papel de ser feito por pessoas e visto por pessoas, e que faça parte da construção de uma sociedade mais justa e culturalmente ativa. A escola: ambiente de laços e entrelaço. Minha pesquisa é ambientada na Escola Estadual Dom José Gaspar em Araxá – MG. É uma escola de Ensino Médio com contando em torno de 1100 alunos funcionando nos três períodos (manhã, tarde e noite). No período da manhã funcionam os 2ºs e 3ºs anos. Meu projeto foi realizado com as turmas de 3º ano da manhã com a colaboração dos professores de Literatura. A escola possui estrutura física ampla com 16 salas de aula, biblioteca, laboratórios de informática e química, uma sala multiuso ampla e equipada com sistema audiovisual, pátio e ginásio de esportes. O quadro de recursos humanos da escola é composto por aproximadamente 80 dentre professores, funcionários administrativos e de serviços gerais. A gestão é realizada com uma diretora, três vice-diretores (um em cada turno) e três orientadoras pedagógicas. É uma escola bem equipada no tocante a materiais pedagógicos e de novas tecnologias, mas em termos de arte e teatro não há uma estrutura que possa ser utilizada: não existe um espaço específico para teatro, nem um palco ou auditório, as apresentações são realizadas adaptadas no pátio coberto ou na sala de vídeo (multiuso) e até mesmo no ginásio. Por isso se torna importante desenvolver trabalhos que transformem o espaço escolar com intervenções de cunho artístico e teatral. A escola através de sua gestão apoia as iniciativas teatrais e tem incentivado a implantação de um projeto mais contínuo na área. Alguns pontos dificultam este trabalho quando se trata de ensino médio, o currículo apertado das disciplinas que não abdica de carga horária para projetos, a ênfase no vestibular e alguns docentes que ainda permanecem dificultando o uso da interdisciplinaridade. Apesar de no papel, os parâmetros curriculares e as reformas de conteúdos do ensino médio existirem, podemos ver que na prática a arte perdeu espaço ao longo dos anos, até 3 anos atrás eram 2 aulas semanais no 1º ano, hoje temos 1 aula semanal apenas para abranger os quatro eixos temáticos (dança, visuais, teatro e música). Não existe no currículo de Minas Gerais aulas específicas de teatro e poucos são os professores formados em arte, quando existem são da área de artes visuais ou música (caso da escola em questão). A pesquisa trata de desenvolvimento do teatro através de projeto, decidi fazê-la tendo em mente uma possibilidade de envolver a literatura e o teatro entrelaçando o conteúdo e uma forma atraente e dinâmica de estudo da literatura sem os rigores das avaliações e diretrizes de vestibulares. Em conversa com os professores de literatura percebi que há possibilidade de trazer uma cultura diferente dos modelos midiáticos atuais e com textos mais relevantes para o conhecimento de nossa literatura e arte. O trabalho vem sendo desenvolvido na escola em parceria com projeto de Literatura que acontece em horário do contra turno. A professora de Língua Portuguesa Mônica Lopes trabalha textos literários em oficina de leitura e letramento com alunos do 3º ano e em seguida faço a oficina de teatro com os mesmos alunos interessados no estudo e interpretação de uma forma prática e com jogos teatrais e jogos de interpretação e improvisação baseados nos temas da literatura. Como se trata de desenvolvimento de projeto, há uma inscrição prévia dos interessados através de divulgação nas turmas e, como acontece nesse tipo de trabalho além de interesse é necessário que o aluno possua disponibilidade para voltar em outro turno na escola. Ampliando a participação e com vistas ao projeto de pesquisa de meu mestrado estou propondo um novo horário que funciona no dia de reunião semanal de professores em que os alunos saem mais cedo. Assim no mesmo turno da manhã há uma maior fluência de alunos que podem participar das oficinas e de ensaios para apresentações e interferências que ocorram na escola. A princípio o trabalho vem sendo realizado com turmas de 3º ano por já estar entrelaçado ao projeto de literatura que já estava em andamento e eu ainda não havia ingressado no mestrado. Para 2015 pretendo ampliar para turmas de 1º e 2º ano em busca de uma pesquisa mais abrangente tanto em números de alunos como também em parceria com professores da disciplina Arte do 1º ano e de disciplinas do projeto Reinventando o Ensino Médio de Comunicação, Tecnologia e Turismo do 2º ano. Os trabalhos vêm sendo desenvolvidos com oficinas de leitura de diversos autores com suas histórias e seus personagens. Monteiro Lobato, Dias Gomes, Dalton Trevisan, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Alcântara Machado, Nélson Rodrigues e Ariano Suassuna foram os autores trabalhados até agora com contos, poemas, peças e textos diversificados que objetivam ao aluno ter um amplo conhecimento da diversidade de autores e das formas de textos que permeiam a literatura brasileira. Os regionalismos têm sido enfatizados para que haja esse intercâmbio com a diversidade cultural existente em um país continental e com tantos sotaques e características que entrelaçam os textos e os personagens desse imenso cenário chamado Brasil. As oficinas buscam despertar no aluno a pesquisa de músicas que identificam com o contexto regional das obras, a imaginação da construção de cenários e figurinos para personagens de épocas e lugares diferentes, os sotaques e as características físicas que podem ser trabalhadas na construção dos personagens. A leitura dramática, as improvisações, os exercícios de interpretação e construção corporal e vocal visam essa dinâmica na leitura de um texto literário com alegria e satisfação em criar e imaginar as cenas saídas das páginas literárias. Personagens que ganham vida, trilha sonora, fala e andar que os identifica. Para o aluno adolescente do ensino médio esse movimento é de suma importância para que entendam melhor a ideia de um autor de outras épocas distantes da atual em que vivem. Outro ponto a salientar no trabalho de oficinas é o entrelaçamento entre os indivíduos, cada com sua timidez ou espontaneidade, seus medos do toque, do olhar e do falar diante dos colegas, algo que se desenvolve somente adquirindo confiança e cumplicidade nas relações propostas em atividades lúdicas e interativas dos exercícios em grupo e ainda criadoras das improvisações em que precisam expor ideias e criar cenas e personagens. Aprofundar os conhecimentos teóricos obtidos na academia e relacioná-los com a prática educativa e o contexto escolar e da sociedade em que atuamos. O aprofundamento na pesquisa e no entrelaçamento do campo da teoria com o campo da prática me fez buscar um curso de mestrado para dar continuidade ao que vem sendo uma experiência de estudos e de vida nos últimos anos. Sou professor efetivo de educação física na rede estadual de Minas Gerais há vários anos, mas em vários momentos assumi as aulas de arte no ensino médio e sempre desenvolvi projetos de teatro dentro da escola. Desde então via a necessidade ampliar os horizontes para entender o que arte tem a contribuir na educação e como ela está presente na história. Ao mesmo tempo atuando nas séries iniciais do ensino fundamental fazia da escola o meu palco, onde contava histórias e encenava personagens aos pequenos alunos; mesmo nas aulas de educação física busquei entrelaçar a prática corporal e expressiva através de jogos e atividades teatrais. A licenciatura em Teatro veio há 4 anos através da EaD e pude me encantar com o mundo da pesquisa em teatro associando a teoria e prática. O Trabalho de Conclusão de curso já foi uma pesquisa associando projetos dentro da escola e a inquietação de ver que a cidade já teve no passado grandes trabalhos desenvolvidos dentro das escolas e que se tornaram referências culturais para a população e o por quê de terem se perdido e esquecidos no tempo e da escola não ser mais fomentadora de cultura na cidade de Araxá MG. Colei grau no início de 2014 na Universidade Federal de Goiás e me vi incentivado e enredado nas tramas da continuidade da pesquisa em arte. Procurando caminhos para a continuidade dos estudos surge o ProfArtes – Mestrado Profissional em Artes e ainda com a área de Teatro em uma Universidade próxima de minha cidade, a conceituada UFU. A preparação para o processo seletivo já trouxe um mergulho nos estudos da arte como experiência nos escritos de John Dewey e na pedagogia teatral de Flávio Degranges. Os horizontes e os laços da pesquisa e a prática se apresentam e a aprovação para o curso de Mestrado passa de desafio a realidade. Em um pequeno espaço de tempo já saio de uma Licenciatura em Teatro, que era um sonho, para um Mestrado que passa a ser um grande desafio nesses laços de educação, arte e vida. O curso está apenas se iniciando, mas muita coisa já se apresenta para a amplitude de possibilidades de pesquisa dentro da escola e da prática teatral transformadora para os alunos e a comunidade escolar. As disciplinas iniciais já incomodam nosso olhar para busca de novos desafios, as leituras de pensadores tradicionalmente conhecidos entrelaçando com os atuais pesquisadores em Arte nos desafiam a pensar e repensar o trabalho e o projeto de pesquisa. A “Metodologia de pesquisa” é uma disciplina que já abre um leque de possibilidades de construção e de novos vieses de trabalho de pesquisa além do tradicional texto escrito e já formatado. A pesquisa apresentada artisticamente, teatral, a utilização das TIC para divulgação de experiências e assim por diante vai nos desafiando o pensamento e a prática. ”Poéticas e processos da criação em arte” vem trazendo o desafio filosófico, o pensamento para a construção de nossa visão criadora e de como levar essa ideia para a escola. O corpo e a mente trabalhando de forma criativa na formação de nosso aluno, a escola dando espaço para a expressão e a criação em uma experiência diferente da formalidade e do conteúdo curricular formal. Permitir ao aluno, e por que não ao educador, criar e expressar novas possibilidades no processo educacional. Passa pelo conhecimento de si e do outro desencadeando em uma relação mais humana na escola. Essa comunicação já é uma novidade em meu processo acadêmico, estou apenas no início e juntamente com minha orientadora um direcionamento na pesquisa será alcançado, com mudanças e adaptações para o desenvolvimento da prática de pesquisador. O que posso dizer é que tem sido uma experiência enriquecedora e um grande desafio. Resultado dos laços entre Literautra e Teatro A pesquisa atual está em andamento e com atividades iniciais, portanto ainda sem resultados que possam ser expressos como um referencial. Outras propostas e sugestões estão acontecendo no decorrer do curso de mestrado, juntamente com orientadora e com os professores que trabalhando nas disciplinas de momento. O que posso descrever sobre experiências com alunos do ensino médio até hoje, motivadoras inclusive da minha proposta de pesquisa, são trabalhos realizados no ano passado voltados para esse projeto de integração teatro e literatura eq ue foram alvo de experiência para o estágio na Licenciatura em Artes Cênicas da UFG. Realizei oficinas de improvisação e interpretação com os alunos do 3º ano da escola em 2013 e juntamente com professores de Língua portuguesa trabalhei com textos modernistas da nossa literatura. Na oportunidade com os alunos que se fixaram na oficina criei um encontro entre a persoangem histórica da cidade de Araxá “Dona Beja” com o escritor Monteiro Lobato. Em um sarau Beja recebe Lobato que traz seus persoangens dos contos “Urupês” que contam histórias em cenas dos textos: Jeca-Tatu, a velha da colcha de retalhos e outros foram craindo o ambiente e ensaiaram essas cenas na escola. Esta experiência foi muito interessante no sentido de criação e envolvimento na construção dos persoangens, seus figurinos, suas falas e movimentações que foram sendo criadas em conjunto com danças e participação dos alunos na transformação da cena. Os alunos deram depoimentos muito positivos na relação que tiveram com o texto e no entendiemnto do mesmo. Outro trabalho ensaiado e realizado foi a leitura dramática da peça “O pagador de Promessas” de Dias Gomes apresentada em uma mostra cultural da escola para visitantes alunos do ensino fundamental de várias escolas da cidade. Havia certo receio dos alunos por ser uma apresentação de leitura sem a caracterização ou cenário, mas foi muito interessante a participação da plateia que esteve atenta aos dizeres dos personagens e das falas interpretadas. Os alunos que fizeram a cena relataram o cresciemnto de alguns alunos na leitura interpretativa durante os ensaiso até as apresentações finais. Foi também uma oportunidade de conhecimento de uma cultura diferente, palavras desconhecidas em um contexto e época muito diferentes do vivido por eles na atualidade. Embora houvesse percepção de que muita coisa ainda continua igual nos dois contextos. Entendo que um trabalho mais elaborado, com mais tempo e maior pesquisa só pode colher grandes frutos no processo educacional e cultural de nossos jovens. ENTRELAÇAMENTO FINAL A escola tem o espaço apropriado para difundir a arte em suas várias possibilidades de manifestações. É na escola que o jovem se sociabiliza e tem momentos para divulgar suas ideias e expressar seus sentimentos e habilidades. O espaço escolar no ensino médio precisa se reconstruir, buscar alternativas para que seja atraente e local de experiências em todas as áreas do desenvolvimento. A arte precisa ocupar essa lacuna que se vê na estrutura de nossas escolas, não se limitar à grade curricular de poucas horas/aula para um superficial conhecimento desfocado da prática de experimentação e de uma análise crítica da rotina cultural sem produção e criação de ideias e momentos para expressá-las. A minha proposta de pesquisa trabalha no campo da inter-relação que pode ocorrer entre disciplinas e conhecimentos variados. Especificamente nos saberes literários, a arte consegue adentrar o mundo das histórias e de seus personagens tornando a experiência de leitura e construção desses personagens em uma atividade prazerosa e criativa que pode capacitar o aluno a entrar no universo dos autores e de seus contextos para criação do enredo, fazendo-o pensar de forma crítica e analítica o mundo dos livros e da poesia. A arte teatral dando ao aluno oportunidade de buscar um entendimento do ser humano e seus contextos, de seu eu e da percepção do outro que está em volta e em observação ampliada distinguir o espaço da escola na participação cultural da cidade. Um aluno que possa relacionar a observação de cenários existentes na cidade e relacioná-los com épocas e contextos distantes no espaço e no tempo, relatados nos textos literários. Observação que pode ser feita em personagens que ocupam os espaços públicos das cidades e que podem servir de motivação para a construção de seus personagens no palco da escola. Acredito que a escola possa ser transformadora e participativa na construção de um cenário artístico na cidade, com propostas para a experimentação do aluno em seus muros e a partir da abertura de seus portões para as ruas, praças e teatros. O teatro e a literatura tem a capacidade de fazer pessoas pararem para observar e ouvir em meio a tanta correria de um mundo agitado e individualista. Transformar a movimentação de pessoas em reflexão ou simplesmente em pausa para participar como espectador de uma cena. Essa transformação só ocorre se há disposição de todos ou da maioria de professores, gestores, alunos para participar de mudanças na estrutura do processo ensino aprendizagem. Entrelaçamento de ideias, de conteúdos e de espaços dentro da escola para que a arte seja experiência rica na formação do nosso aluno jovem, e que muitos laços ainda terá pela frente para construir sua própria experiência de vida. Minha consideração final nessa rede de laços que são a arte, a escola, os alunos e professores é que a experiência e a busca pela pesquisa de novas alternativas dentro da escola precisam acontece e serem incentivadas. Quem deve produzir isso? Não é ninguém que venha de fora dos muros escolares, somos nós educadores que estamos vivenciando o momento com os alunos, no nosso espaço escolar que ainda é tão amplo e sem ocupação em matéria de arte. Precisamos deixar de ser professores repetidores da produção midiática e começar a dar oportunidade de novas experimentações a esse nosso aluno que tem potencial criador e pode estar ávido para ter novas experiências, seja artística ou mesmo de escrever anova literatura e dramaturgia. Cabe ao educador dentro da escola se interessar em mudar esse panorama, mas para isso é necessário sair do comodismo das formas já testadas e aprovadas em outros contextos e épocas. A pesquisa e o estudo de novos autores, novos paradigmas e novas reflexões precisam estar presentes na vida do educador do século XXI. A velocidade das informações e as possibilidades de estudo por meio das tecnologias também precisam fazer parte da vida do professor, perceber pesquisar o que há de novo dentro de sua área é fundamental para o processo de mudança e de entrelaçamento de ideias e experiências. REFERÊNCIAS: BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo. Cortez. 2ª edição. 2003. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília, SEF/MEC.1997. DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do Teatro: Provocação e Dialogismo. São Paulo. Editora Hucitec: Edições Mandacaru. 3ª edição. 2011. DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo. Martins Fontes. 2010 JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. Metodologia do ensino de teatro. Campinas, SP. Papirus. 9ª edição, 1ª reimpressão. 2012. MINAS GERAIS. CBC – Proposta Curricular / Arte. Belo Horizonte. SEE/MG. 2006. TEIXEIRA, Ana Paula. & CAMARGO, Robson Corrêa. Spolin e Stanislavski: Intersecções no ensino e na prática do teatro. Fenix – Revista de história e Estudos Culturais. Vol.7 ano VII nº 1. 2010. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br Gleuter Alves Guimarães Mestrando em Teatro – PROFARTES (Mestrado Profissional em Artes) – U F de Uberlândia Licenciado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Goiás (2013) Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa MG (1988) Professor efetivo da rede estadual de Minas Gerais – EE Dom José Gaspar – Araxá MG. http://lattes.cnpq.br/3310048796028490