Os efeitos do tratamento quiropráxico sobre a cervicalgia: revisão de literatura Jackson dos Santos Pacheco 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia2 George Gleydson da Silva Sena3 [email protected] Pós-graduação em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila Resumo A cervicalgia ataca a área da coluna cervical, podendo conter diversas causa, tais como alterações mecânicos-posturais, artroses, hérnias e protusões discais, artrites, espondilites ou espasmos musculares, causando repercussões ortopédicas, reumatológicas ou até neurológicas. Alterações mecânicos-posturais na maioria das vezes tem sido a causa de dores na cervical. No Brasil têm se tornado comum o uso da quiropraxia por fisioterapeutas. Este estudo teve como objetivo rever na literatura os efeitos do tratamento quiropráxico sobre a cervicalgia. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica com base em artigos científicos e diversas publicações voltadas para a área da saúde relacionada a Coluna cervical, Cervicalgia e Quiropraxia, bem como, as bases virtuais de dados. Desta forma, conclui-se que é necessária a realização métodos de avaliação mais fidedignos, a fim de comprovar os seus reais efeitos no tratamento da cervicalgia. Palavras-chave: Coluna cervical; Cervicalgia; Quiropraxia. 1. Introdução Os hábitos do ser humano no mundo moderno em função do ritmo acelerado e falta de tempo, são cada vez mais nocivos para saúde. Sedentarismo, má alimentação, posturas inadequadas para trabalhar e dormir falta de exercícios físicos está cada vez mais presente hoje e são fatores que contribuem para dores no corpo e perda de saúde e qualidade de Vida. As lesões da coluna cervical são cada vez mais frequentes, em decorrência do número crescente de acidentes de alta energia. Existem várias classificações para as lesões da coluna cervical, sendo que as melhores preocuparam-se em identificar as lesões instáveis da coluna cervical. Desta forma, facilitam a decisão de tratamento e a definição do prognóstico dos pacientes. As condutas para o tratamento das lesões da coluna cervical são principalmente relacionadas ao diagnóstico correto da lesão, a restauração ou proteção da função neurológica e a correção da biomecânica da coluna cervical. As cervicalgias são comuns em diversas faixas etárias de ambos os sexos, possuindo elevada predominância nas síndromes dolorosas corporais, sendo a segunda maior causa de dor na coluna vertebral, perdendo apenas para a dor lombar. A cervicalgia acomete um número considerável de indivíduos, com média de 12% a 34% da população adulta em alguma fase da vida, com maior incidência no sexo feminino, trazendo prejuízos nas suas 1 Pós-graduando em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual. Orientador Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Aspectos Bioéticos e Jurídicos da Saúde. 3 Coorientador Especialista em Docência do Ensino Superior. 2 2 atividades de vida diária. Esta doença raramente se inicia de maneira súbita, em geral pode estar relacionada com movimentos bruscos, longa permanência em posição forçada, esforço ou trauma. As cervicalgias podem ser agudas ou crônicas e estão relacionadas a desordens biomecânicas e musculares, resultando quadros de algias, inflamações e perda de amplitude de movimento (SILVA et al. 2012). Ainda segundo os autores, embora muito se tenha pesquisado, não existe consenso na literatura com relação à melhor alternativa para o tratamento das dores na região cervical, existindo forte discordância entre os recursos a serem utilizados, tendo surgido ultimamente prática baseada em terapias manipulativas como a quiropraxia. A Quiropraxia é uma profissão da área da saúde encontrada em mais de 90 países, com 38 faculdades reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde e conta com aproximadamente 90.000 profissionais que atuam em todo o mundo. Está voltada para o diagnóstico, tratamento e prevenção das desordens do sistema musculoesquelético e dos efeitos destas desordens na saúde em geral, com ênfase em técnicas manuais, incluindo o ajuste e/ou manipulação articular (KACHAN et al. 2011). A partir desta análise, este trabalho tem por objetivo rever na literatura os efeitos do tratamento quiropráxico sobre a cervicalgia. Tal pesquisa desenvolver-se-á a partir da seguinte indagação: Como a utilização da Quiropraxia pode trazer benefícios no tratamento da Cervicalgia? Para tanto, cabe ao estudo a observação dos seguintes objetivos específicos: Construir o referencial teórico do presente estudo, ou seja, abordar a anatomia e fisiologia da coluna cervical; descrição da patologia da cervicalgia; Atuação da Quiropraxia na preservação e restauração da saúde. Identificar os elementos que se relacionam com o tema abordado, tais como as funções da coluna cervical, sinais e sintomas da cervicalgia, e as técnicas da Quiropraxia. Verificar os resultados obtidos com a revisão da literatura. Nesse contexto, a elaboração deste artigo justifica-se pela expectativa em contribuir para a identificação dos benefícios que a utilização das técnicas da Quiropraxia pelos profissionais pode auxiliar no combate a cervicalgia e na identificação de eventuais alternativas potenciais que compõe a técnica para restaurar a relação e as funções articulares normais, reestabelecer a integridade neurológica e influenciar os processos fisiológicos. 2. Coluna cervical Conforme a evolução do Homo Erectus, e de acordo com a teoria de Darwin, o atual ser humano galgou etapas de evolução que se iniciaram na aérea, vivendo em árvores para, em um segundo estágio, passar a viver no solo firme, em quatro apoios, e deste para a atual posição bípede. Porém, a coluna vertebral não se adaptou perfeitamente a esta nova configuração no espaço. Somente às custas de algumas modificações em sua estrutura original, que era quase ereta, este segmento corporal foi se acomodando a posição vertical. Tal fato foi conseguido com a mudança de uma curvatura espinhal simples para uma forma de S. A coluna vertebral, se observada de perfil, apresenta quatro curvaturas fisiológicas, que tem por objetivo distribuir as forças que atuam sobre o corpo humano (CARNEIRO; SOUSA & MUNARO, 2005). Segundo os mesmos autores, tais alterações anatômicas, já incorporadas à espécie e a coluna vertebral, são novamente modificados com a idade, hábitos, tipo de trabalho, e outros fatores. A evolução de cada ser humano, desde o período embrionário até a vida adulta, passa por fases distintas, influenciadas por inúmeros fatores, desde os genéticos aos psicológicos, fisiológicos, experiências físico-motoras e vícios posturais, sendo que estes últimos podem contribuir negativamente para a posição final da postura do individuo, causando serias perturbações da coluna vertebral. 3 A coluna cervical tem anatomia e fisiologia totalmente diversas da coluna lombar e dorsal. As necessidades funcionais são diferentes e, uma vez mais, são elas que determinam a anatomia e a fisiologia. A coluna cervical possui três funções: (1) provê suporte e estabilidade à cabeça; (2) suas superfícies articulares dão mobilidade à cabeça e (3) abriga e conduz a medula espinhal e artéria vertebral (BIENFAIT, 1999). Figura 1 – Coluna Cervical Fonte: SEI-TAI, 2009. Segundo o mesmo autor, na área relativamente pequena da coluna cervical, existem 35 articulações. Contudo, para fins de descrição de seu movimento, o pescoço pode ser dividido em coluna cervical superior, que compreende as articulações atlanto-occipital e atlantoaxial, e em coluna cervical inferior que corresponde de C3 a C7. Segundo Netter (2000), a coluna cervical se localiza no pescoço entre a parte inferior do crânio e a superior do tronco no nível dos ombros, é composta de sete ossos sobrepostos que são as vértebras. Estas estão unidas por estruturas chamadas ligamentos, músculos e por elementos que preenchem o espaço entre elas, que são os discos intervertebrais (BENASSI; GEREMIAS; PELAQUIM, 2009). A coluna cervical é formada por sete unidades funcionais, denominadas vértebras. Cada unidade apresenta-se como um osso móvel e articulado formando, assim, a porção lordótica cervical da coluna. Entre as principais funções desta região do eixo vertebral, destacam-se o suporte e a movimentação da cabeça, bem como a proteção das estruturas do sistema nervoso e vascular (CAILLIET, 2003). É também constituída por duas partes anatômica e funcionalmente diferentes: a coluna cervical superior, também denominada suboccipital, que contém a primeira vértebra cervical ou atlas, e a segunda vértebra ou áxis. Estas peças esqueléticas estão unidas entre si, além do occipital uma complexa cadeia articular com três eixos e três graus de liberdade. E a coluna cervical inferior, que se estende do platô inferior do áxis até o platô superior da primeira vértebra torácica. O atlas e o áxis as vértebras com formato diferente das outras vértebras cervicais, elas apresentam características que permitem uma grande mobilidade a coluna cervical: seu corpo vertebral é menor e o disco intervertebral é um terço da espessura dos corpos (KAPANDJI, 2000). Os níveis de comprometimento cervical são: alto, médio e baixo, oferecendo sintomas distintos para cada região comprometida e os sintomas podem aparecer de modo isolado ou simultâneo. Quando o comprometimento é alto (C1, C2 e C3) as queixas se detém ao colo (face anterior do pescoço), região lateral do crânio e região mandibular. Os sintomas podem se apresentar com dores musculares, sintomas auditivos, encefálicos (enxaqueca: fotofobia, náusea e vômitos) e os oculares (escurecimento da visão, nistagmo, e ambliopia). No 4 segmento médio, as raízes C4 e C5 quando comprometidas produzem sintomas ao nível da coluna cervical, com irradiação para o ombro e ainda para a região pré-cordial (região anterior e superior do tórax) o que para os menos experientes pode determinar a avaliação de exames de rotina cardiológica (UMPHRED, 2004). Segundo os mesmos autores, o mais comum comprometimento da coluna cervical se dá no nível baixo, nas vértebras C5, C6 e C7 apresentando como sintomas na região cervicobraquial, geralmente unilateral, mas quando bilateral se dá de forma assimétrica com presença de parestesia (sintomas de formigamento) acentuada no período da manhã ou do sono, a noite; podem estar presentes também as sensações de frio calor aumento do suor e de peso. A dor se distribuirá pelo membro superior, conforme a raiz nervosa comprometida. Figura 2 – Vertebras de C1 a C7 Fonte: Thompson & Floyd, 1997. Entre as patologias mais frequentes encontradas na região cervical, encontramos a cervicalgia mecânica e a neuralgia cervicobraquial ou cervicobraquialgia (GABRIEL; PETIT; CARRIL apud FERREIRA & ROSAS, 2009). O conhecimento apropriado da coluna cervical e suas doenças tornam-se indispensáveis na prática reumatológica e nas especialidades afins, uma vez que estas podem manifestar-se como queixas inespecíficas, tais como cefaléia e dores musculares, até quadros de mielorradiculopatias e suas complicações, com altos índices de morbidade e mortalidade. É de extrema importância a familiaridade do médico com as várias doenças da coluna cervical, como os traumatismos, processos inflamatórios, degenerativos e neoplásicos, além da necessidade de um diagnóstico diferencial preciso com outras condições da medicina interna (endócrinas, infecciosas, hematológicas, etc.) que podem apresentar-se com dor cervical (NATOUR, 2004). 3. Cervicalgia A cervicalgia se caracteriza pela dor no nível da coluna cervical. De acordo com Knoplich (2003, p.124), quando a dor desta região se irradia para o ombro, braço e mão passa a se denominar cervicobraquialgia, admitindo-se que o plexo braquial, formado das terminações C2 a C8, tenha sido afetado (PEQUINI, 2005). A dor cervical mecânica é problema comum na população em geral e engloba a dor cervical aguda, as lesões em chicote, as disfunções cervicais e a dor cervical-ombro. A limitação da amplitude de movimento, a sensação de aumento da tensão muscular, a cefaleia, a braquialgia, a vertigem e outros sinais e sintomas são manifestações comuns e podem ser agravados por movimentos ou pela manutenção de posturas da coluna cervical. A cervicalgia pode ter várias origens, desde alterações posturais, traumas mecânicos, retificações, 5 compressões articulares, entre outras (FERREIRA; VAS et al. apud MENDONÇA et al. 2011, p.02). Figura 3 – Cervicalgia Fonte: William, 2010. Esta patologia raramente se inicia de maneira súbita, em geral pode estar relacionada com movimentos bruscos, longa permanência em posição forçada, esforço ou trauma. Também pode ser definida como uma dor localizada na parte posterior do pescoço e superior das escápulas ou zona dorsal alta, que não se acompanha de sinais característicos de radiculopatia (SOBRAL et al. 2010). Teixeira (2001, p.307) atribui a cervicalgia a atividades ocupacionais, posturas anormais, estresses psíquicos, ansiedade e depressão e diz que outras afecções, como hérnias discais, traumatismos, tumores, infecções regionais e ou sistêmicas, costumam ser precipitadas por fadiga ou estresse psicológicos. Outros fatores importantes relacionados às cervicalgias, lembra Teixeira, é a excessiva flexão ou extensão cervical em decorrência de estresses emocionais, a sobrecarga funcional decorrente do manuseio ou transporte de objetos pesados em um ombro e a execução de atividades que impliquem a elevação dos membros superiores (PEQUINI, 2005). A cervicalgia atinge atualmente grande parte da população por diferentes causas, que podem ser desde problemas emocionais a patologias relacionadas ao trabalho. Na cervicalgia, a coluna torácica é normalmente desviada em uma pequena cifose e com os músculos da coluna quase sempre contraídos (BENASSI; GEREMIAS; PELAQUIM, 2009). Segundo a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), (2009), Cervicalgia é um problema comum em todo o mundo, pelo menos no mundo industrializado, e constitui causa importante de incapacidade. O pescoço controla os movimentos da cabeça em relação ao resto do corpo. Uma vez que os olhos e os órgãos vestibulares são localizados na cabeça, informações vindas dos mecanorreceptores das estruturas do pescoço são cruciais para interpretar os dados vestibulares e para controlar as funções motoras que dependem das informações visuais. A cervicalgia pode, assim sendo, ter profundas consequências (SILVA FILHO & MEJIA, 2012). Segundo os mesmos autores, A principal manifestação clínica da cervicalgia é a dor do tipo choque, que segue os trajetos radiculares, piorando com os movimentos que distendem a raiz, com o tórax ou com a coluna vertebral. As parestesias podem ocorrer na parte distal da raiz. Alterações dos reflexos, do tônus, da força ou alterações tróficas podem faltar ou serem tardias. O quadro clínico compõem-se da região cervical dolorida, limitação dos movimentos, cervicobraquialgia e diminuição da força dos membros superiores. 6 O paciente com cervicalgia costuma adquirir uma atitude de defesa e rigidez dos movimentos. Ocorre também uma alteração na mobilidade do pescoço e dor durante a palpação da musculatura, podendo também ser abrangida a região do ombro e nos casos mais graves ou prolongados haver irradiação para todo o membro superior (PUERTAS & CURTO, 2002). 4. Quiropraxia A Quiropraxia teve início em 1895, em Davenport, Iowa. Neste ano, Daniel David Palmer, um canadense, realizou uma manobra de manipulação articular em um paciente, com grande sucesso. Este paciente, chamado Harvey Lillard, tinha uma deficiência auditiva, e melhorou significativamente após a manobra. Palmer, então, cunhou o nome “Quiropraxia”, que vem do grego “Queirós”, que significa mãos, e “Práxis”, que significa prática, ou atividade (PETERSON apud FACCHINATO, 2006). Segundo a mesma autora, a Quiropraxia desenvolveu-se inicialmente predominantemente nos Estados Unidos e no Canadá. A partir da década de 1970-1980, entretanto, começou a tornar-se uma profissão internacional. Hoje em dia, há mais faculdades de Quiropraxia fora dos EUA do que nos Estados Unidos. Há hoje 37 faculdades de Quiropraxia no mundo, entre as quais 15 nos EUA, 2 no Brasil, 2 na África do Sul, além de faculdades no Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, México, Inglaterra, França, Dinamarca, Suécia, etc. O termo “Quiropraxia” é derivado de duas raízes gregas: Quiro - mãos e Praxis - pratica, assim “pratica com as mãos”; Esse é o nome da técnica utilizada para tratamento de dores e sintomas relacionados à coluna e sistema músculo – esqueléticos, profissão ainda pouco divulgada no Brasil, porém famosa por tratar problemas de saúde como estresse, desvios posturais, DORT, enxaquecas, hérnia de disco, questões ligadas à coluna e todas as articulações do corpo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUIROPRAXIA, 2010). A Quiropraxia se baseia na preservação e restauração da saúde com foco na eliminação da disfunção articular por meio do ajuste, que é definido como uma manobra de alta velocidade e baixa amplitude (SILVESTRINO et al. 2011). A ciência da Quiropraxia trabalha com o relacionamento entre as articulações do esqueleto e o sistema nervoso e com a integração desse relacionamento no restabelecimento e manutenção da saúde. A preocupação primária da Quiropraxia é com as anormalidades de natureza dinâmica na estrutura (coluna vertebral e demais articulações), que podem desenvolver a entidade clínica conhecida como complexo de subluxação. O complexo de subluxação inclui qualquer alteração na dinâmica biomecânica e fisiológica das estruturas contíguas da coluna, as quais podem causar distúrbios neuronais (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE QUIROPRAXIA, 2006). O complexo de subluxação vertebral é uma relação aberrante entre duas estruturas articulares adjacentes que podem ter sequelas funcionais ou patológicas, causando uma alteração nos reflexos biomecânicos e/ou neurofisiológicos destas estruturas articulares e/ou outros sistemas do organismo que podem ser afetadas direta ou indiretamente por elas (CID 10) (NUNES & NORO, 2011). Ainda segundo as mesmas autoras, para corrigir o complexo de subluxação vertebral a Quiropraxia se utiliza de ajustamentos, que podem ser entendidos como procedimentos que utilizam força, velocidade, amplitude e direção para movimentar as articulações; estes ajustamentos podem ser aplicados de diversas formas, dentre as diversas técnicas que a Quiropraxia oferece. A quiropraxia prevê a correção de tais subluxações através de ajustes quiropráticos que devolvem a mobilidade para a articulação afetada, inibem a hiperreatividade dos músculos e evitam que a região comprometida torne-se incapacitada. Conforme a Organização Mundial 7 da Saúde (2006) a quiropraxia, com procedimentos não invasivos, enfatiza que o indivíduo responda ao tratamento espontaneamente, excluindo o uso de medicamentos e cirurgia (CHAPMAN-SMITH, 2001). Figura 4 - Correção de subluxação cervical Fonte: Ricardo, 2011. Atuando como um serviço de assistência à saúde, a quiropraxia age oferecendo uma abordagem conservadora de tratamento. Ela se preocupa em atender às necessidades imediatas dos pacientes, agindo diretamente na causa das algias, através da recuperação da função e da amplitude de movimentos de articulações, músculos e outras estruturas do sistema músculo esquelético (CHAPMAN-SMITH apud PALANDI, 2009). A quiropraxia baseia-se em técnicas de ajustes quiropráxicos, que devolvem os movimentos artrocinemáticos, micromovimentos normais à coluna vertebral, reduzindo a compressão neural responsável pela sintomatologia dolorosa daquele determinado dermatómo. Embora muito se tenha pesquisado, não existe consenso na literatura com relação à melhor alternativa para o tratamento das dores na região cervical, existindo forte discordância entre os recursos a serem utilizados, tendo surgido ultimamente prática baseada em terapias manipulativas como a Quiropraxia (SILVA et al. 2012). Buscando solucionar a falta de amplitude de movimento (ADM), a quiropraxia, ciente de que os movimentos realizados pelos membros são de responsabilidade de várias estruturas como ossos, músculos e tendões, onde agem através de comandos enviados do cérebro, para suas raízes localizadas na coluna vertebral, buscam um tratamento que elimine alguns fatores extrínsecos, para que de uma forma manipulativa possam integrar o fluxo axoplasmático das articulações. Assim a quiropraxia, não somente preocupada em ajustar as articulações do corpo humano, manualmente ou mecanicamente, ativa ou passivamente, tem o objetivo de restaurar a relação e as funções articulares normais, reestabelecer a integridade neurológica e influenciar os processos fisiológicos, podendo desta forma ser uma chave para a regeneração dos movimentos normais (FERREIRA & ROSAS, 2009). De acordo com o Projeto de Lei n.º 1.436, de 2011 que Regulamenta o exercício da profissão de Quiropraxista decreta: Art. 1º O exercício da Quiropraxia, também denominada Quiroprática, obedecerá as disposições desta lei. Art. 2º Quiropraxista é o profissional que atua na promoção, na prevenção e na proteção da saúde, bem como no tratamento das disfunções articulares que interferem no sistema nervoso e musculoesquelético por meio do ajuste articular, visando à correção do Complexo de Subluxação. Parágrafo único. Para os fins desta lei, considera-se: I – ajuste articular o procedimento terapêutico quiroprático que se utiliza de força controlada, alavanca, direção específica, baixa amplitude e alta velocidade que é aplicado em segmentos articulares específicos e nos tecidos adjacentes com objetivo de causar influência nas funções articulares e neurofisiológicas; 8 II – Complexo de Subluxação o modelo teórico descritivo de uma disfunção motora segmentar, o qual incorpora a interação de alterações patológicas em tecidos nervosos, musculares, ligamentosos, vasculares e conectivos. Art. 3º O exercício da profissão de Quiropraxista é assegurado: I – ao portador de diploma de bacharelado em Quiropraxia conferido por instituição de ensino, reconhecida oficialmente; II – ao portador de diploma de Quiropraxia, conferido por instituição de ensino estrangeira devidamente, reconhecido e revalidado no Brasil como diploma de bacharelado em Quiropraxia, na forma da legislação em vigor; III – aos profissionais que até a promulgação da presente lei tenham comprovadamente exercido atividades ou funções de Quiropraxista por prazo não inferior a cinco anos e que sejam aprovados em exames de proficiência desenvolvidos e aplicados por órgão competente em tempo determinado para que se enquadrem nessa lei. Art. 4º O exercício da profissão depende ainda de registro no respectivo órgão competente, estabelecido em regulamento. Parágrafo único. O profissional Quiropraxista deve respeitar os preceitos do código de ética da profissão. Art. 5º O exercício da profissão e a utilização do título de Quiropraxista ou Quiroprático em desrespeito aos ditames desta lei configuram exercício ilegal de profissão. Art. 6º O regulamento estabelecerá o órgão responsável pela fiscalização do exercício da atividade de Quiropraxista (BRASIL, 2011). O Quiropraxista é o profissional, segundo a Organização Mundial da Saúde, capaz de realizar diagnóstico, tratamento e prevenção das desordens do sistema locomotor e dos efeitos destas desordens na saúde em geral. O tratamento se baseia em ajuste articular, manobra mioarticular, além de orientação corretiva e preventiva para manutenção da postura corporal durante a prática das atividades recreativas e profissionais da vida diária (PEREIRA; PAIVA & FAGUNDES, 2010). A Quiropraxia é uma profissão da área da saúde encontrada em mais de 90 países, com 38 faculdades reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde e conta com aproximadamente 90.000 profissionais que atuam em todo o mundo. Está voltada para o diagnóstico, tratamento e prevenção das desordens do sistema musculoesquelético e dos efeitos destas desordens na saúde em geral, com ênfase em técnicas manuais, incluindo o ajuste e/ou manipulação articular (KACHAN et al. 2011). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Quiropraxia é uma profissão na área da saúde que está voltada para o diagnóstico, tratamento e a prevenção das desordens do sistema musculoesquelético e dos efeitos destas desordens na saúde em geral. Há uma ênfase em técnicas manuais, incluindo o ajuste e/ou a manipulação articular, com enfoque particular nas disfunções articulares. Os conceitos e os princípios que distinguem e diferenciam a filosofia da Quiropraxia de outras profissões de saúde são de grande importância e influenciam profundamente a atitude e a abordagem destes em relação à atenção à saúde. A relação entre a estrutura, particularmente a coluna vertebral e o sistema musculoesquelético, e a função, especialmente coordenada pelo sistema nervoso, constitui a essência da Quiropraxia e o seu enfoque para a restauração e preservação da saúde (ZACARONI et al. 2010). Ainda segundo o mesmo autor, a atividade profissional do Quiropraxista implica em aplicar forças localizadas em determinados pontos da coluna vertebral ou extremidades para proporcionar mobilidade articular. Esse procedimento é realizado com alta velocidade e baixa amplitude, exigindo do profissional posição específica para adaptar-se ao paciente e a localização da fixação, o que propicia o aparecimento de distúrbios musculoesqueléticos. A Quiropraxia é uma ciência que enfatiza o poder inerente do corpo de se recuperar espontaneamente sem o uso de medicamentos ou métodos invasivos. A terapia utilizada é basicamente manual, destacando-se a Terapia de Manipulação Articular (TMA). Referida terapia é realizada com alta velocidade e baixa amplitude, produzindo, na maioria das vezes, 9 alívio imediato ao paciente. Internacionalmente, a faixa etária acima de 60 anos é a que mais procura o tratamento quiroprático, sendo certo que 95% desta população alegam ter recebido tratamento convencional, mas sem a adequada adaptação (OSAKI et al. 2011). Assim como as demais profissões da área busca tratar seus pacientes a partir de um conjunto de sinais e sintomas apresentados pelo paciente, para tal, é de vital importância uma avaliação bem realizada para se obter o máximo de informações para realizar um diagnóstico preciso e providenciar um tratamento eficaz para o paciente. Para isto, o profissional deve usar como parte básica do seu trabalho, um prontuário de atendimento que abranja a totalidade dos itens inspecionados na avaliação inicial, para que os detalhes observados sirvam de referência para todo o tratamento. O Quiropraxista por ser um profissional de intervenção primária na área da saúde, precisa ter o conhecimento e o discernimento para reconhecer a necessidade de encaminhamento do paciente para a avaliação específica de um médico especialista (WASSAL; PAIVA; FAGUNDES, 2011). O tratamento realizado pela Quiropraxia tem como objetivo reduzir a dor nos primeiros dias de seu surgimento, seguido pela restauração da função do sistema neuro-músculoesquelético, impedir uma perda de tônus muscular e evitar a incapacidade. Isto inclui: restaurar a mobilidade normal das articulações; inibir hiperatividade da musculatura; melhorar a flexibilidade muscular; a coordenação; força e resistência; alongamento de tecidos moles retraídos; reeducação proprioceptiva (treinamento neuromuscular da posição do corpo, equilíbrio e movimento); treinamento cardiovascular e reeducação postural (BAROSSI, PAIVA & CABRAL, 2010). Metodologia Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, revisando artigos científicos e publicações de diversas áreas da saúde como a fisioterapia, fisiologia, anatomia, e quiropraxia. Utilizando base virtual de dados como a Bireme, Scielo e Pubmed, entre outras publicações científicas como livros de autores renomados sobre o assunto, foram consultadas obras com publicação de 1997 até o ano de 2012, sendo usados os seguintes descritores: Coluna cervical combinado com Cervicalgia e Quiropraxia. Durante a busca eletrônica foram encontrados 57 artigos, no entanto foram utilizados apenas 30 neste estudo, devido critérios de inclusão e exclusão. A pesquisa limitou-se a artigos e livros científicos escritos em português e foram avaliados conforme os seguintes critérios de inclusão: (1) possuir validade científica; (2) origem e publicação na língua portuguesa; (3) ter sido publicado no período de 1997 a 2012; e (4) ter citação no titulo ou resumo da obra de algum dos descritores apresentados. Resultados e Discussão A cervicalgia é síndrome dolorosa regional que acomete, acometeu ou acometerá 55% da população em algum momento. Estima-se que 12% das mulheres e 9% dos homens apresentem cervicalgia crônica. São mais propensos a desenvolvê-la os idosos, trabalhadores braçais, indivíduos tensos ou que executem atividade adotando posturas prejudiciais (TEIXEIRA, 2001 apud PEQUINI, 2005). A dor cervical é muito frequente no mundo ocidental e na população em geral. Pool, et al. (2004 apud MORAIS, et al., 2004), em recente estudo, cita que 15% da população sofrem de dor cervical e 43% dessa população são encaminhados ao atendimento de fisioterapia. A cervicalgia é uma das queixas mais comuns no cotidiano da prática clínica e tem sido observada em cerca de 25% das pessoas entre 25 a 29 anos de idade, porém em 31 indivíduos 10 acima de 45 anos, esta proporção sobe significativamente para 50% da população (BARROS FILHO; MENDONÇA NETTO apud BENASSI; GEREMIAS; PELAQUIM, 2009). De acordo Silva et al. (2012) em um estudo com 6 artigos do tipo ensaio clínico aleatório e controlado para avaliação dos efeitos das técnicas de quiropraxia no tratamento da dor cervical, foram caracterizados quanto à forma de tratamento e resultados (Tabela 1) e ao método de avaliação, tempo de tratamento e acompanhamento (Tabela 2). Esse estudo avaliou 366 pacientes que apresentavam dor na região cervical, cuja origem não era artrose, hérnia de disco ou fratura das vértebras, foram separados aleatoriamente em 3 grupos, nos quais foi realizada manipulação cervical, mobilização articular e fisioterapia convencional. Figura 5 - Características do tratamento, resultados dos ensaios clínicos encontrados. Fonte: Silva, et al., 2012. Figura 6 - Caracterização dos métodos de avaliação, tempo de tratamento e seguimento. Fonte: Silva, et al., 2012. 11 Reforçando a ideia de que a manipulação quiropráxica é efetiva na diminuição da dor, as técnicas que utilizam as manipulações articulares globais favorecem a redução dos espasmos musculares e, consequentemente, da dor. As manipulações são relativamente mais eficazes do que a mobilização articular em pacientes com dor crônica e subaguda da cervical. A técnica de “thrust” gera melhora no quadro álgico e produz satisfação nos pacientes. Uma única manipulação é capaz de produzir redução completa da dor, porém na maioria dos casos faz-se necessária a realização de duas sessões (PETERSON & BERGMANN, 2002; DI FABIO, 1999; MCCARTHY, 2001; CYRIAX & CYRIAX 2001 apud OLIVEIRA & OLIVEIRA, 2009). Os mesmos autores observaram que após a manipulação da cervical ocorreu um aumento significativo da amplitude de movimento, sendo que na flexão esse aumento foi de 10%, na extensão foi de 28,9%, na inclinação lateral esquerda foi de 10,5%, já na inclinação lateral direita foi de 10%, na rotação esquerda houve um aumento de 2,7% e na rotação direita de 5,2%. A rotação esquerda apresentou o menor ganho de amplitude devido á um encurtamento ou retração muscular que o paciente apresentava do músculo esternocleidomastoídeo do lado direito, o que restringe o movimento para o lado esquerdo (PEREIRA & JUNIOR, 2005 apud OLIVEIRA & OLIVEIRA, 2009). Conclusão A dor cervical é ocasionada na maioria das vezes por alterações mecânicos-posturais. Dentre diferentes técnicas terapêuticas realizadas por fisioterapeutas a quiropraxia têm se tornado comum no Brasil. A utilização da quiropraxia no tratamento da cervicalgia mostrou resultados satisfatórios. Com o tratamento por meio da técnica quiropráxica houve aumento da amplitude de movimento da coluna cervical. Com a manipulação dos tecidos moles obteve-se uma redução considerável dos sintomas dolorosos da região cervical com apenas uma sessão de tratamento. Sugere-se a realização de novos trabalhos, com um maior número de ensaios clínicos controlados e aleatórios envolvendo a quiropraxia e analisando concomitantemente a amplitude de movimento de outras regiões como torácica e lombar a fim de constatar de forma eficaz dos benefícios do tratamento da quiropraxia em pacientes com cervicalgia, bem como a utilização de métodos de avaliação mais fidedignos, a fim de comprovar os seus reais efeitos no tratamento da cervicalgia. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUIROPRAXIA. 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