XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Área do trabalho TIC A mídia na percepção de ciência de alunos do ensino médio durante uma atividade de estudos sobre o DNA. Adauto L. L. Pessoa1* (IC), Agnaldo Arroio2 (PQ) *[email protected] 1. Instituto de Química da Universidade de São Paulo 2. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Palavras Chave: Percepção, Ciência, Mídia. Introdução A influência da mídia na formação da concepção de ciência de alunos do ensino médio tem sido foco de diversos estudos do ensino de ciências. Segundo Arroio e Giordan1 , por exemplo, a informação e a forma de ver o mundo predominante nas sociedades atualmente provêm fundamentalmente da televisão. Juntamente com esta, o cinema e a mídia impressa também influenciam significativamente na formação da visão de mundo e, conseqüentemente, de ciência dos alunos. Metodologia Foi desenvolvida uma atividade para a elaboração, por parte dos alunos, de um protocolo de extração de DNA de morango. Para contextualizar a atividade utilizou-se um vídeo2 (“Heroes”, de Tim Kring) 3 que trata do tema “mutações genéticas”. Com o auxílio de slides, foi desenvolvido um raciocínio lógico, baseado em conceitos químicos e biológicos, para a elaboração do protocolo. Todos colocaram suas idéias em prática no laboratório. No final, discutiu-se os resultados e outros assuntos relacionados ao DNA. A partir do registro audiovisual da atividade foi realizada a análise, tanto do áudio como do visual (gestos), inferindo sobre as possíveis percepções de ciência dos alunos. Resultados e Discussão Ao apresentar o trailer de “Heroes”3 e discutir sobre mutações genéticas, os alunos logo citam outros filmes que eles conhecem e tratam do mesmo assunto, como X-men e Quarteto Fantástico. Aluna – Isso (mutação genética) tem a ver com o Quarteto Fantástico? Porque lá (no filme) eles mudam (sofrem mutações) por causa da radiação solar. Muito do que os alunos conhecem sobre mutações genéticas vem de filmes de ficção científica. Isto mostra que há um risco da percepção de ciência deles se aproximar do senso comum caso esta não seja melhor discutida. Quando foi perguntado a eles se era possível extrair e ver DNA de células a olho nú, eles disseram que é impossível. UFPR – 21 a 24 de julho de 2008 Professor – Uma molécula de DNA não dá pra ver mesmo, mas se tivéssemos milhares embaraçadas, daria? Eles insistem na impossibilidade, porém fazem ressalvas. Aluno1 – Só se for com um microscópio. E tem que ser “o” microscópio! Aluna 2 – E se o DNA dos mutantes for maior (que o nosso), dá pra ver? Professor – Mas quando eu falo em ver DNA, vocês pensam em quê? Aluno 1 – Tô pensando no... (faz gestos indicando a espiral de DNA). Se você tiver um monte, talvez daria pra ver. Mas não daria pra ver a estrutura do negócio. Parece que os alunos “enxergam” o DNA somente como aquela “dupla fita espiralada”. Isto indica novamente a influência da mídia, pois o DNA sempre aparece em sua forma estrutural secundária (molecular) quando o assunto é tratado na mídia em geral, mas principalmente na TV. Conclusões Os recursos audiovisuais disponíveis na mídia que tratem sobre ciências devem ser discutidos nas escolas. O professor pode utilizá-los para reforçar algum conceito/visão de ciência ou para desmistificar concepções equivocadas2. Como os jovens passam mais tempo em contato com recursos audiovisuais do que na escola 4 , corremos o risco de formarmos cidadãos com uma visão deturpada da ciência e/ou concepções alternativas de conceitos científicos . Agradecimentos Agradeço ao LAPEQ pelo espaço cedido, ao professor Dirceu e aos alunos que participaram da atividade. ___________________ 1 Arroio, A;Giordan, M.; QNEsc, nº24, novembro, 2006; 8-11. ARROIO, Agnaldo . The role of cinema into science education. In: Science Education in a Changing Society. Lamanauskas, V. (Ed.). Siauliai: Scientia Educologica. 2007. 3 Kring, T.; Heroes, EUA, NBC, 2006. 4 Fisch et al.; Fisch, S. M., Yotive, W., McCann, S. K., Scott, M. & Chen, L. (1997). Science in Saturday morning: children´s perceptions of science in educational and non-educational cartoons. Journal Educational Media, 23, 157-167. 2