FILOSOFIA RENASCENTISTA PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL (1469-1527) O PENSAMENTO POLÍTICO ANTERIOR A MAQUIAVEL • O pensamento político medieval é teocrático. • O pensamento político renascentista recusa a ideia de teocracia, mas afirmava que o poder político só seria legítimo e justo se estivesse de acordo com a vontade de Deus e a Providência Divina. SEMELHANÇAS ENTRE OS DOIS ESTILOS DE PENSAMENTO • Remetem-se ao ideário cristão. • Fundamentam a política em Deus, na Natureza ou na Razão, ou seja, em elementos anteriores e exteriores à política, servindo de fundamentos a ela. • Afirmam que a política é a instituição de uma comunidade una e indivisa, cuja finalidade é realizar o bem comum e a justiça. • A boa política é feita pela comunidade harmoniosa, pacífica e ordeira. • O bom governo depende da ação de um príncipe virtuoso e racional, portador da justiça, da harmonia e da indivisibilidade da comunidade. Um só deus Um só sol Um só rei Um só pai O PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL • Para formular sua teoria política, Maquiavel partiu da experiência real de seu tempo. • Observou, como diplomata e conselheiro dos • Governantes de Florença, as lutas europeias de centralização monárquica. • Viu a ascensão da burguesia comercial das grandes cidades e a fragmentação da Itália, dividida em reinos, ducados, repúblicas e Igreja. COORDENADAS TEÓRICAS BÁSICAS • Concebia o fenômeno histórico como constituído por ciclos: os fatos históricos se repetem, a ordem sucede à desordem. • Concebia a natureza humana como egoísta, ambiciosa, ingrata, volúvel, movida pelas paixões e desejos insaciáveis. O CONTRASTE COM O PENSAMENTO TEOLÓGICO E RENASCENTISTA • Maquiavel não admitia um fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou Razão). • Toda cidade é dividida por dois desejos: o dos grandes de oprimir e comandar e o do povo de não ser oprimido e nem comandado. • A cidade é tecida por lutas internas. Assim, não é uma comunidade homogênea nascida da vontade divina, da ordem natural ou da razão humana. • Opõem-se ao conceito da boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça. • A sociedade é dividida e não pode ser vista como uma comunidade una, indivisa, homogênea, voltada para o bem comum. • A política é obra dos conflitos existentes na própria sociedade e a sua finalidade não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas a tomada e manutenção do poder. AS QUALIDADES DE UM PRÍNCIPE • O verdadeiro príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o poder. • O príncipe precisa ter virtú, ou seja, as qualidades para tomar e permanecer no poder, mesmo que use a violência, a mentira, a astúcia e a força. • O príncipe não pode ser odiado, mas respeitado e temido. VIRTÙ E FORTUNA • A virtù não consiste num conjunto fixo de qualidades morais opostas à fortuna. Virtù é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e dominar a fortuna. • Um príncipe deve mudar com a sorte, deve ser volúvel, inconstante. Dependendo das circunstâncias, será cruel ou generoso, mentirá ou será honrado, deverá ceder à vontade dos outros ou ser inflexível. • A fortuna é sempre favorável para quem deseja agarrá-la. É a sorte que se oferece como presente para quem é ousado e está disposto a vencê-la. • O ethos ou o caráter do príncipe deve variar com as circunstâncias. AÇÃO POLÍTICA • Astúcia e capacidade para adaptar-se às circunstâncias e aos tempos. • Não tem nada a ver com as virtudes éticas e morais da teologia cristã. • Consiste em ter eficácia prática e utilidade social, ou seja, busca atingir resultados. • Secularização da política. LEGITIMIDADE DE UM REGIME POLÍTICO • Qualquer regime político será legítimo se não estiver a serviço dos desejos e interesses de um particular ou de um grupo de particulares. • Todo regime político em que o poderio de opressão e comando dos grandes é maior do que o poder do príncipe e esmaga o povo é ilegítimo. • Para que um governo seja legítimo, o poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do povo. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • As relações de poder não são devidamente compreendidas se não forem referidas à dimensão “imaginária” da política. Isto significa que aquele que exerce o poder (o príncipe) deve levar em consideração, no exercício de seu governo, o impacto que sua imagem exerce sobre aqueles que governa. Esta é, certamente, uma máxima prudencial conhecida muito antes de Maquiavel MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • A república, para Maquiavel, é a única forma de organização política na qual os homens encontram a liberdade política. Isso porque a república implica, por um lado, a não dominação dos cidadãos por um grupo em especial ou por um único homem (todos estão submetidos à lei). Por outro lado, a república corresponde a uma forma de associação política na qual os cidadãos se veem na necessidade de participar mais ou menos ativamente da vida pública, isto é, os cidadãos exercem efetivamente o poder. Mas é preciso lembrar que o desejo de liberdade não é um desejo “natural”, o que quer dizer que Maquiavel o compreende como um desejo político, que se constitui no âmbito da vida política. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • Em princípio, ele é reativo, isto é, ele é um desejo (típico daqueles que Maquiavel chama de “povo”) de não ser dominado pelos homens que têm proeminência e que desejam dominar (que Maquiavel chama de “grandes”). Porém, o desejo de liberdade ultrapassa o limite de uma categoria de cidadãos (o “povo”), uma vez que ele pode coincidir com o bem comum, isto é, estar livre da opressão e viver sob leis. É esta capacidade de “universalização” do desejo de liberdade que o transforma no desejo político por excelência e que permite compreender por que a república é a única forma de associação política capaz de satisfazê-lo. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • Esta concepção de “liberdade pública” conserva sua atualidade pela seguinte razão: podemos facilmente ver que os conflitos entre diferentes interesses caracterizam a arena pública e podemos igualmente ver que a liberdade política não decorre de sua supressão, mas de nossa capacidade, como cidadãos, de absorvê-los e subordiná-los ao bem comum. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • Como afirma o capítulo XII de O Príncipe, um dos alicerces do domínio político são as armas; logo, a força. Porém, é necessário lembrar que as armas não esgotam o tema da força. O capítulo XVIII de O Príncipe destaca duas formas de “combate político”: a forma “humana” (as leis) e a forma “bestial” (a força). Daí é possível seguir duas séries de considerações: a primeira nos faz entender que a força está integrada à vida política como um dos aspectos da ação. Nesse sentido, não é razoável para Maquiavel acreditar que o campo da política seja essencialmente o domínio da harmonia, da concórdia e do consenso. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • O pensamento de Maquiavel deixou marcas profundas na reflexão política ocidental. Sob diversos aspectos, ele pode ser considerado um precursor, dando, pela primeira vez, um tratamento conceitual a temas tão importantes quanto o do conflito político, o da revolução, o da aparência, etc. Além disso, vale a pena notar que Maquiavel se recusa a enquadrar a política em um esquema normativo. Esta é a origem da rotulação de sua obra como “realista”, o que é pertinente em certo sentido. Entretanto, o que me parece fundamental é que Maquiavel assume, com muita coragem, os riscos de pensar a política sem qualquer referência a fatores transcendentes. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • Por esse motivo, seu pensamento se alimenta das (e está também exposto às) instabilidades do campo político que examina. Seu pensamento não é uma obra acabada, sistemática, não oferece um saber seguro sobre a ação política de modo a proporcionar àquele que o conhecesse o êxito duradouro. Pelo contrário. Ao incorporar como um dos conceitos fundamentais de sua reflexão a noção de Fortuna, Maquiavel conserva, no interior de sua própria “filosofia política”, a incerteza e o inacabamento da ação política. MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • A corrupção é uma possibilidade da vida política que jamais será totalmente eliminada. Toda e qualquer comunidade política é sujeita à corrupção porque os tempos e as circunstâncias mudam, o que a leva a perder sua força e vitalidade originárias. É importante colocar o problema nesses termos para evitar o tratamento exclusivamente moral do problema da corrupção política. Não há dúvidas de que a corrupção, entendida como ação criminosa realizada individualmente ou em grupo, e na qual o interesse coletivo é preterido tendo em vista o interesse privado, é um problema político grave . MAQUIAVEL POR HELTON ADVERSE • Contudo, um pensador como Maquiavel nos ajuda a entender as causas profundas da corrupção, e elas não são encontradas na suposta natureza egoísta do homem, muito menos na maldade intrínseca a determinados grupos sociais. A corrupção, para Maquiavel, é um problema que concerne a todo o corpo político: ela assinala a incapacidade dos cidadãos (em geral) de encontrar ou manter a forma política adequada a seus anseios. Consequentemente, a corrupção tem de ser referida à história política de um povo, na qual será possível aferir o grau de comprometimento que o vincula a suas instituições, ao mesmo tempo que evidencia a qualidade política dessas mesmas instituições. Se dirigirmos nossa atenção para o atual problema da corrupção, poderemos então nos perguntar se ele não indica a limitação de nossas instituições políticas, sua incapacidade de assegurar uma participação política mais efetiva e fomentar um engajamento político mais consistente.