MODA, CULTURA E IDENTIDADE: nuances de Belo Horizonte Luiza Resende Dias1 RESUMO Esse trabalho tem como objetivo pesquisar a moda no meio urbano na capital mineira e observar as culturas e subculturas - hip-hop e soul music - de Belo Horizonte sob o viés da moda por meio de imagens fotográficas dos sujeitos em diferentes eventos locais. No primeiro momento, é destacada a popularização e democratização da roupa e, em seguida, a maneira com que isso afetou a sociedade e vice-versa. Ao analisar as imagens coletadas são feitas observações em torno das fotos e eventos investigados, com o intuito de relatar o ambiente dos locais e a possível importância que as roupas tiveram na ocasião. Palavras-chave: Subcultura. Moda, Identidade e Cultura. Análise “Baile da saudade” e “Quarteirão do Soul” O comportamento humano é traduzido na forma em que ele se veste para se comunicar com a sociedade. Por esse fenômeno exercer uma forte influência e fonte de inspiração para os criadores de moda, essa pesquisa pretende investigar quais são os hábitos e os trajes que são utilizados por pequenas culturas urbanas, [sub]culturas, pois a escolha do vestuário diz sobre como o indivíduo interpreta o meio em que vive. Através da análise dessas novas narrativas, é possível observar onde moram, qual a identidade regional/ cultural, classe social e preferência religiosa. A cidade escolhida como objeto de estudo foi Belo Horizonte, Minas Gerais e dela foram registrados três eventos/ festas culturais que são característicos dos grupos urbanos escolhidos. O primeiro lugar a ser visitado foi o “Baile da saudade”, em seguida partimos para o “Quarteirão do Soul” e terminamos no “Duelo de MC`s”. O “Baile da Saudade”, de acordo com a danceteria Flash Dance, foi fundado em 1983 com o intuito de reunir todos os dançarinos e admiradores da Black Music e Soul Music para resgatar e dar continuidade ao estilo. Por estar a tanto tempo na programação cultural de Belo Horizonte, o evento mensal se tornou uma referência para todos da cidade. Já o “Quarteirão do Soul” surgiu espontaneamente em 2004 quando um grupo de amigos resolvem escutar um CD do James Brown, em uma Caravan 86, na rua Goitacazes entre São Paulo e Curitiba. Depois disso, eles anunciaram na rádio Favela que passariam a se encontrar semanalmente 1 Designer de moda, graduada pela Universidade FUMEC. E-mail: [email protected]. nesse endereço para escutar Black Music. Desde então, todos os admiradores do estilo têm se reunido no centro da cidade. A escolha desses locais como pesquisa se originou no fato de que, as pessoas que lá frequentam têm o costume de colocar um “figurino social” para dançar e encontrar com os amigos. Segundo Geraldo de Sousa, assíduo frequentador do Baile da Saudade e do Quarteirão do Soul: Aqui é um baile Soul, um momento de festa e de alegria, eu tenho que inspirar meu visual. Você tem que estar diferenciado. Eu não vou colocar aqui uma roupa de escritório para dançar. Não teria graça, aqui eu sou um personagem, fora daqui eu sou uma pessoa normal. Aqui no Quarteirão do Soul eu venho para dançar, então tinha que ter um figurino de acordo com o estilo de dança. O meu figurino é esse, eu uso roupas da década de 40. Eu vejo filmes antigos, desenho em um papel e passo para o alfaiate fazer e o sapato também é a mesma coisa.” (Blog Brasil imperdível. Quarteirão do Soul leva ritmo dos anos 70 ao centro de Belo Horizonte. Disponível em <http://brasilimperdivel.tur.br/quarteirao-do-soulbhttp://brasilimperdivel.tur.br/quarteirao-do-soul-bh/h/>. Acesso em: 02/06/2013). Sabe se que “as roupas são destinadas a ser usadas no espaço público; nós nos vestimos para os outros não para nós mesmos.” (Crane, 2006, p.456). Sendo assim, a forma como nos vestimos sofre influência do meio no qual estamos inseridos. O fato de usarmos uma roupa da moda, ou não, pode querer dizer algo sobre nós e a forma como percebemos a sociedade em que vivemos. Outro motivo pela escolha do grupo de estilo se deve ao fato de que, hoje, as minorias que antes eram tidas como excluídas e perseguidas agora estão assumindo papel central na moda. As culturas centrais se voltaram para as periféricas e enxergaram nelas uma inspiração para se vestirem. "Se as modas promovidas pelas minorias agradam, [...] é porque para cada um a diferença se tornou um ideal de realização em si: cada um aspira a se tornar outro. (ERNER, 2005, p. 225) Nesses bailes é possível observar uma variedade muito grande de estampas usadas pelas mulheres. Há, em sua maioria, o uso de vestido com comprimento acima do joelho com padronagens bem coloridas e algumas calças pantalona. Independentemente da roupa, elas sempre estão de salto alto. Observa - se também o uso de short e o clássico calça jeans com blusa preta. Entretanto, essa é uma roupa mais típica das pessoas que não se caracterizam para a festa. Os homens se apresentam de maneira impecável. Praticamente todos usam terno completo ou simplesmente calça social e camisa, mas independente disso o sapato bicolor está sempre muito bem lustrado. Foi possível observar roupas com cores bem variadas. Havia ternos vermelho, preto, cinza e azul; as camisas eram das cores mais variadas possíveis, alaranjada, preta, florescente e a tradicional branca. Alguns também se vestiam com cachecol e camisa de gola rolê. Já na cabeça, quando não estavam com boinas ou chapéus os Black Power dominavam a pista e invadiam até a cabeça das mulheres. Nas noites de Belo Horizonte foi possível captar um exemplo de uma subcultura bastante impar. Apesar de não ser representada por um grupo de jovens, esses homens e mulheres de 40 à 60 anos ilustram bem o que foi citado anteriormente sobre subcultura e identidade. Nesse momento de lazer as pessoas que lá frequentam se vestem com muita elegância e estilo. A impressão é de estar nos Estados Unidos no final dos anos de 1950 e início dos 60 e os homens são, disparadamente, o destaque da noite. Independente de serem visitantes ou frequentadores assíduos, todos que se dispunham a participar da festa dançavam bem. Nessa subcultura do soul music os passos eram, em sua maioria, coreografados. Duplas e trios dançavam pelo salão passos ensaiados nos mínimos detalhes e davam um show. Apesar do ambiente simples todos se divertiam e ao que parece, faziam questão de se vestir com a melhor roupa que tinham, a “roupa de domingo” 2. Foi possível observar que, assim como nas outras subculturas, as pessoas que se reunem na danceteria e ou no quarteirão se conhecem de longa data. No período em que foi feita a pesquisa foi possível perceber que a medida que uma pessoa chegava na Flash Dance ela passava comprimentando todas as outras que lá já se encontravam. Essa noite de sábado representava um momento de lazer e de encontro de uma “tribo de estilo” característica da cidade de Belo Horizonte. Editorial e influência soul Na publicação da revista Vogue Japão do mês de abril do ano de 2013, há um editorial, The Vanishing Underground, fotografado por Mikael Jansson, que captura bem a influência da subcultura do soul na moda atual. O editorial trabalha com elementos chaves do estilo, como o cabelo Black Power, a utilização de estampas, a influência de acessórios, que foi muito comum nos anos 70 e o uso do terno completo para o homem. Além disso, a fotografia ainda se apropria da postura elegante muito comum entre os dançarinos e cantores de soul. Mesmo estando em um transporte público e no meio de uma situação do cotidiano, o comportamento no qual o fotógrafo se inspirou foi a sobriedade e polidez, representada pelo ícone do soul, James Brown que, mesmo com todo agito e passos extravagantes conseguia transparecer, quando parava para cantar ou dar entrevistas, a imagem de uma pessoa distinta. 2 Tradicionalmente o domingo era um dia de ir à missa “ver” Deus e também de festejar. Por esse motivo, a roupa de domingo era separada de véspera e era sempre a melhor peça do guarda roupa. Além disso, para os homens ela era sempre representada pelo terno, calça social e gravata. Para compreender melhor a influência que os estilos das subculturas possuem no mercado da moda, será analisado um editorial da revista Vogue Japão. As imagens aqui mostradas comprovam a influência global que esse fenômeno –moda – produz, pois mesmo o Soul sendo um estilo e uma cultura originada pelos grupos de afro-descendentes na América do Norte, ele foi capaz de transitar por continentes e implantar suas características. Por mais que compreendamos a velocidade e voracidade da globalização nos dias de hoje, fica ainda mais fácil enxergar isso quando vemos países com culturas completamente distintas, como os orientais, assumindo padrões de comportamento e imagem deste tipo. Ao observamos as imagens abaixo, notamos que o contexto do editorial é bem “americanizado”. Indícios como os títulos “Street Manhattan” e “Washington Hits” sugerem que as imagens possam ter sido feitas no próprio país de origem da subcultura. Entretanto, houve o cuidado do fotógrafo em contextualizar a cena com modelos japoneses para, a meu ver, dar um tom mais real e também de identificação aos leitores da revista, o que enfatiza o caráter global da moda. No Brasil a influência do soul music na moda já apareceu em diversos desfiles, mas o último foi na coleção de verão 2014 da marca Cavalera. Os estilistas Marcelo Sommer e Francis Petrucci se inspiraram no filme “Soul Train” e nos anos 70, o auge do estilo musical. Nessa temporada do São Paulo Fashion Week, SPFW, a marca animou todos os convidados quando colocou, em seu desfile, Tony Tornado ao vivo cantando músicas que passavam de Tim Maia a James Brown. Para completar o embalo, o casting foi composto de modelos e dançarinos e todos entraram pelo “corredor dançante”3, line dance of Soul Train, dançando o autêntico Soul. Além da música e da dança como referência, a Cavalera explorou ainda as cores, estampas e modelagem. Análise “Duelo de MCs” De acordo com o portal de notícias G1, o duelo de MCs é um evento semanal que ocorre desde 2007 embaixo do Viaduto Santa Tereza na capital mineira. O evento surgiu por iniciativa do coletivo Família de Rua que reuniu artistas, skatistas e dançarinos para escutar as músicas do estilo Hip hop. O evento tomou dimensões tão grandes que há semanas em que o 3 “Corredor dançante” ou line dance of Soul Train é uma formação feita por casais no momento da dança. Nessa formação são feitas duas filas indianas, uma de homens e outra de mulheres que ficam em paralelo. Ao decorrer da música as pessoas que estão na ponta saem e caminham dançando pelo corredor formado pelas pessoas que estão na fila. Dessa maneira, o casal dança em destaque e cada um tem seu momento de apresentação. local chega a ter aproximadamente mil pessoas. O coletivo já gravou um documentário que roda o país divulgando o trabalho realizado em Belo Horizonte e o estilo musical. Por ter atingido grandes proporções, o Duelo foi reconhecido com o Prêmio Bom Exemplo, que premeia iniciativas que contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, nesse ano de 2013. O estilo Hip hop, segundo os MC`s, mestres de cerimônia, e o site Hip Hop Brasil, é um estilo de vida e uma ideologia que apoia a politização e o acesso à informação entre as pessoas. Apesar de muitos membros dessa subcultura gostarem de se vestir com Nike, Adidas e camisas e bonés de times de basquete dos EUA, ele não é traduzido no consumo de roupas caras e de grandes marcas, mas sim em uma cultura de reivindicação no espaço público e dentro das periferias. Para o cantor Padrasto, os afro-descendentes têm que lutar pelos seus direitos e o Hip Hop é, para ele, uma maneira de fazer esse chamado ao combate da descriminação: Nos Estados Unidos 13% da população é negra e eles conseguiram os direitos iguais. Aqui no Brasil 85% da população é negra e nada mudou, só foi atualizado. O quilombo tá aí, o capitão do mato tá ai e a senzala tá ai. Quer dizer, o quilombo são as favelas, que continuam na miséria fazendo com que as pessoas tenham que descer para o asfalto para conseguir o que comer ou ‘roubar’ o que comer; o capitão do mato, que é o negro policial e também o que mais mata no país; e a senzala que são os presídios que estão cheios de negros. Agora, eu sozinho não posso mudar, ele sozinho não pode mudar. Tem que ser um conjunto de ideias para poder mudar o país, e como nós podemos fazer isso? Primeiro a gente tem que se aceitar, para depois os outros nos aceitarem e é essa a nossa doutrina dentro do Hip Hop. O Hip Hop dá uma saída para a comunidade e para a sociedade mudarem. Diferente do que aconteceu nos EUA, no Brasil esse estilo não se popularizou tanto e ainda continua sendo um movimento de combate à violência e a descriminação. Segundo Moisés Viana, Dj Link, “o Hip Hop depende do papel social. Se não trabalhar esse contexto ele não é um Hip Hop real.(...) Nós temos que acompanhar o dia-a-dia da comunidade e ficar sabendo o que é necessário em relação a infraestrutura.” (entrevista cedida ao documentário BH tem Hip Hop). O Hip Hop brasileiro, ao longo do tempo, se tornou mais híbrido, pois mistura cultura nacional, como rap e samba, cultura norte-americana, que foi a origem do estilo, e cultura africana, que pode ser observado nos passos de break misturados com capoeira. O estilo de roupa usado por esses jovens se caracteriza, no Brasil, mais pelas calças largas e caídas mostrando a roupa de baixo, blusas amplas, tênis e bonés de aba reta de alguma marca ou time famoso. Já nos Estados Unidos da América, onde o estilo teve origem, além de todos os elementos citados, o estilo ainda vem acompanhado de jaquetas college e muitas joias tanto no pescoço quanto nos dentes. A maneira de andar e de dançar também é bem singular e se espalhou para o mundo todo. Tanto os meninos quanto as meninas caminham pelas ruas de maneira largada e se arrastando, andando quase que de má vontade. Já nos shows essa turma se agita e, como em toda subcultura, possui uma maneira única de “danças”. De frente para o palco os jovens se posicionam com as mãos abertas para o alto e fazendo um movimento de sobre e desce que é bruscamente acompanhado pelo corpo fazendo com que esse se incline completamente. As músicas vêm acompanhadas de questionamentos, ritmo forte e intenso que muitas vezes aparecem com um clima carregado devido à agressividade e crueza dos assuntos abordados. Atualmente a música é uma das vertentes mais reconhecidas do estilo, mas muitos se esquecem de que esse é apenas um dos quatro elementos do estilo. Juntamente com a música vem o break4, grafite e Dj. Apesar de não ser originalmente integrante desse estilo, o rap passou a fazer parte da subcultura devido a aproximação e semelhança de cultura e ideologia. Independentemente da vertente, cada com sua maneira particular, é responsável por levar aos moradores dos aglomerados e do asfalto a sua reinvindicação. Editoriais Hip hop Na moda atual o estilo Hip hop aparece em várias influências que vêm desde as mais óbvias até as adaptações, como foi o caso do cropped, sneakers, bandanas na cabeça e os gorros, que no Brasil são mais usados por homens. O estilista Alexandre Herchcovith também apostou nessa influência em sua coleção de verão 2012 no SPFW e, em 2011, a Elle Brasil mostrou na capa da sua revista do mês de julho um dos looks do desfile com a modelo Carol Trentini. Nos editoriais desse ano, a revista norte americana Nylon também acreditou nessa influência e trouxe um editorial recheado de influências e estilo. Além das peças esportivas estampadas com as logos, a stylist Isabel Dupré misturou a referência urbana e esportiva do Hip hop com estampas e materiais característicos da moda jovem casual, como estampas florais e de onça, tecidos metalizados, maxi acessórios e um sapato de salto anabela com sola de borracha. Além do estilo, a modelo ainda incorpora os trejeitos do grupo e possa hora com os braços cruzados ora com o corpo largado e sem compromisso. 4 Break é uma maneira de danças o street dance, dança de rua. Esse estilo de dança surgiu em Nova York nos anos de 1970 e é praticado por b-boys e b-girls. O estilo abrange estilos musicas como o rocking, locking, hiphop dance e house dance. Essas imagens ajudam a comprovar o caráter globalizado que a moda assume na sociedade. As subculturas não mais pertencem a um local e a um grupo. Agora elas se tornaram globalizadas e de domínio público. Ao mesmo tempo em que o estilo Hip Hop se difunde no boca-a-boca ou nos panfletos distribuídos dentro das comunidades informando sobre os bailes, ele pode ser divulgado em revistas internacionais. Assim como muitas revistas a Nylon repaginou a cultura Hip Hop e a apresentou em sua edição com um caráter luxuoso, mas sem perder a essência e a pose do movimento subcultural. Como ela é uma revista voltada ao público de classe média/ alta dos EUA, ela apresenta seus editoriais promovendo grandes marcas. O Rise Shine, foi capaz de construir uma imagem com referências de uma cultura marginalizada utilizando Jean Paul Gaultier, Swarovski e Burberry Brit para representar com muito estilo as roupas largas e esportivas usadas pelos grupos. CONCLUSÃO Após realizar as pesquisas de campo, foi possível perceber quais os pontos fortes, em relação à imagem visual e ao comportamento, que a subcultura do Soul Music e do Hip Hop transmitem na cidade de Belo Horizonte para os que estão de fora desses grupos e, também, para os próprios integrantes. O primeiro grupo é divulgado como uma subcultura de dançarinos afro-descendentes que, em sua maioria, são ou estão se aposentando. O encontro semanal no “Quarteirão” ou o mensal no “Baile da Saudade” é um momento de alegria e descontração no qual se reúnem vários amigos com o intuito de dançar e se divertir. Conforme diz Geraldo Antônio dos Santos, dj do quarteirão do soul, para o documentário que possui o mesmo nome do evento,“arrastar essa ‘velharada’ aqui para dançar é um privilégio. Olha, está todo mundo feliz”. Sabe-se que o movimento soul sofre um pouco do descaso da prefeitura, por esse motivo eles tiveram que mudar, mais uma vez, de lugar e, agora, se encontram na Praça Sete. Felizmente, os frequentadores não se deixam abalar por isso e, independentemente do local, fazem questão de marcar presença e continuar a dar vida a essa subcultura que a tanto tempo sobrevive na cidade. Nos dois pontos de encontro citados as pessoas se apresentam vestidas, intencionalmente, de maneira bem performática e característica. Apesar dos dois lugares terem majoritariamente o mesmo grupo de pessoas, os visitantes e curiosos são sempre bem vindos e acolhidos. No segundo grupo, hip-hop, foi possível perceber que assim como nos Estados Unidos, país de origem da subcultura, esse é também um grupo formado em sua maioria por afrodescendentes que moram em comunidades da capital. A mensagem e as músicas escutadas por eles são de protesto e assuntos referentes a comunidades que vivem. Esse grupo tem total apoio da prefeitura e há diversos eventos relacionados ao Hip Hop na capital, como o III Cidade Hip Hop, realizado no mês de maio desse ano no espaço Cento e Quatro. No Duelo de MC`s em questão, foi possível perceber que, além das pessoas que fazem parte do grupo, há alguns curiosos e outras pessoas que apenas gostam do estilo e tentam fazer parte dele. Essas pessoas são aceitas e conseguem frequentar o lugar tranquilamente, mas não há muito envolvimento com os que pertencem, de fato, àquele grupo. O duelo em si é um encontro realizado com muita animação e vontade de divulgar os novos artistas e valorizar a cultura de rua. De acordo com a pesquisa realizada, foi possível relatar como a imagem visual contribui para o diálogo entre as pessoas, sendo ela positiva ou não. Para Titta Aguiar: A imagem visual que você transmite nos primeiros dez segundos a uma pessoa que o vê pela primeira vez é o suficiente para que ela tire todas as impressões sobre você baseada em sua aparência pessoal. Estudos indicam que 55% da primeira impressão que as pessoa têm de você é baseada em sua aparência e ações, 38% em seu tom de voz e 7% no que você diz, demonstrando assim que somos criaturas visuais(NANFELDT, 1996). Nos primeiros dez segundos você está sendo julgado quanto à classe social, à situação financeira, à personalidade e ao nível de sucesso. Essas impressões ditam como será a interação com a pessoa julgada: se positiva, aceitamo-la, mas, se negativa, a tendência é fechar a porta para ela. (AGUIAR, 2003, p. 25) Dessa maneira, pode se dizer que através das roupas usadas pelas subculturas foi possível tirar algumas impressões que foram confirmadas, ou não, após a imersão nos encontros frequentados. Como apresentado na análise, os homens admiradores da black e soul music se caracterizam com um figurino formal e incomum para o cotidiano de um sábado à tarde no centro da cidade ou um sábado à noite em Venda Nova. Para quem olha pela primeira vez esses senhores se dirigindo ao local de encontro pode até imaginar que se trata de homens que estão se dirigindo para algum grupo da igreja ou algum casamento, mas nunca para um encontro com os amigos para dançar. Quando os vemos agitados e fazendo diversos passos mirabolantes é que percebemos a função e o contexto que aquelas roupas têm no ambiente e no grupo em destaque. A maneira de se vestir é completamente característica e segue a moda vigente dos anos 1960 e 1970. Independentemente do que vestem no cotidiano, naquele instante a mensagem que é passada é essa da era de ouro da Disco. Para os admiradores da cultura de rua as roupas são bem características e é difícil encontra-los no cotidiano vestidos de outra maneira. Essa cultura faz parte da vida deles e é assim que querem ser vistos e reconhecidos. O hip hop é apenas uma das manifestações artísticas, mas representa uma grande parte do que significa viver esse estilo. À primeira vista, ao observarmos esses meninos de roupas largas com a logo de grandes marcas esportivas e bonés de aba reta que quase não entram na cabeça, ficamos imaginando qual o motivo de se vestirem dessa maneira. Qual atitude e imagem pretendem, inconscientemente, transmitir? Quando chegamos a um local onde há apresentações de Hip hop, como foi o caso do Duelo de MC`s, observamos que há no mesmo local skatistas e b-boys. A roupa larga e esportiva facilita e ajuda nos movimentos de ambos e dá agilidade nos passos e manobras de skate. Agregado a isso, existe a influência norte americana, pois lá foi a origem do estilo. Dessa maneira, descobrimos que a imagem descompromissada das roupas largas é mais do que um desejo de parecer “malandro”, e sim um conforto necessário. A mensagem das músicas comprova também que esse público se preocupa com o social e não estão lá apenas para se divertir e “zuar” com os amigos, mas também para se manifestar e vibrar com as mensagens passadas pelos MC`s. Assim, como qualquer outra subcultura, a razão para se vestirem dessa maneira é a identificação com o grupo e não uma moda local ou global. Muito pelo contrário são essas subculturas com estilo e forma distinta de se vestir que fazem surgir a moda. A partir do olhar dos grandes estilistas, a maneira de vestir desses grupos são configurados para o comércio e, em seguida, viram ou não um elemento de estilo. Aguiar defende que: Estilo e moda são duas coisas distintas. A moda é o reflexo da cultura do momento, são as tendências difundidas pelos estilistas em todo o mundo. O estilo é a expressão pessoal de quem somos, a expressão do caráter, a relação com o mundo à nossa volta; tem conteúdo pessoal, pois tiramos da moda somente aquilo com que nos identificamos. O estilo pessoal reflete na roupa as mudanças que se passam em nossas vidas. (AGUIAR, 2003, p. 39-40) Como reflexo, observamos que a sociedade passa a prestar mais atenção nesses movimentos culturais quando estes são colocados em evidência. Em consequência, vemos pessoas se questionando o que é esse grupo, o que significam e até alguns programas populares passam a incluir em sua programação reportagens e apresentações dessas subculturas. Em um estágio maior, notamos, como foi feito em Belo Horizonte, a prefeitura se preocupando com os movimentos sociais e abrindo espaço para a inclusão dessa minoria no meio público. É uma maneira de unir as diferentes partes que existem dentro de uma mesma sociedade e construir uma cidade para todos. BIBLIOGRAFIA AGUIAR, Titta, 2003 – Personal Stylist: guia para consultores de imagem. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003. 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