o dom do discernimento dos espíritos

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O DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
Como todo dom espiritual, o DDDE está interado com os outros carismas e é e especialmente precioso para nós
tanto na nossa vida diária, quanto na nossa vida de oração e de serviço ao povo de Deus.
Todas as vezes que fazemos algo que não vem da vontade de Deus, pelos frutos conhecemos o que nos
impulsionou. Deus, porém quer nos prevenir, nos livrar de fazermos algo que muitas vezes pode trazer erros
irreparáveis. Para isto nos capacita com o dom do discernimento dos espíritos.
Facilmente, pelo nosso pecado, somos ludibriados por ocasiões, ambientes, por nós mesmos, pelo que
aparentemente nos traz prazer, é saboroso, é belo, agradável aos nossos olhos e apetites. Pela “lábia” sedutora das
pessoas e infinitas coisas que nos cegam pelo nosso desejo de aparecer, de ser amado, de ter boa imagem, de ter
poder, de satisfazer a nossa carne, de agradar os homens mais do que a Deus. Acatamos assim por eleger para nós
mesmos vários bens supremos e tendemos a nos inclinar para eles. Como o “Bem Supremo” é Deus, e embora
aparentemente bem intencionados,fracassamos, experimentamos momentos infelizes e amargos e levamos nossos
irmãos a experimentarem destes frutos, porque tudo só se realiza em Deus. Temos exemplos como: Adão e Eva e o
rei Davi.Por isso, é muito precioso ter discernimento com relação a todas as coisas que às vezes, com boa intenção e
com o desejo de nos agradar, são apresentadas, e que no entanto podem não ser a vontade de Deus para nós.Este
dom é precioso para todas as atividades da vida do homem.Ao orar por algum irmão é preciso discernir não só se
seu problema vem de sua fraqueza,mas também de que tipo de problema emocional ou de que tipo de tentação ou
opressão.Ao agirmos sem o discernimento dos espíritos, atraímos para nós e para outras pessoas envolvidas
conseqüências por vezes desastrosas, como foi ocaso de Davi, um homem de grande intimidade com Deus. Diante
da beleza de Betsabé, relaxou em examinar-se e em discernir de onde provinham seus sentimentos e desejos,
deixando-se enganar, talvez pela autoridade de rei que lhe dava direito de ter o que quisesse. Esqueceu-se que acima
dele há o Deus de Justiça. Joab, um oficial do rei Davi, havia partido para a guerra com seus homens. Davi, de seu
terraço vê uma bela mulher que banha e se apaixona por ela. O rei procurou informar-se de que era e soube que era
mulher de Urias e que seu marido estava na guerra. Davi enviou então mensageiros que trouxessem a ele a mulher,
chamada de Betsabé e dormiu com ela. Algum tempo depois, Betsabé mandou informar a Davi que estava grávida.
Davi mandou então a Joab uma ordem para que Urias viesse para casa na esperança de que este , dormindo com sua
mulher, pudesse vir a pensar ser dele a criança.Urias porém, em sua fidelidade ao rei, dormiu nos degraus do palácio
e não foi para sua casa.Não tendo dado certo seu primeiro plano, Davi manda que ponham Urias na frente da
batalha, pois estando no lugar mais perigoso viria a ser morto, como de fato aconteceu.Ao saber da morte de Urias,
Betsabé chora a morte do marido e vai morar com Davi. Davi, que não entrava em uma batalha sem antes perguntar
ao Senhor o que deveria fazer, deixa-se enganar e seduzir-se por sua própria carne e pela tentação do inimigo,
cometendo não só adultério, como mentira e assassinato. Deus em sua misericórdia envia o profeta Natã para abrir
os olhos a Davi, que se arrepende.
Assim é o dom do discernimento dos espíritos (DDDE). Os vários textos aqui colocados nos ajudam a refletir o que
vem de Deus, o que vem do homem e o que vem do maligno.
Boa leitura a todos!
O DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS – ( DDDE)
Gn.3,1-7 –DDDE - p.51 - A culpa original – dom do discernimento dos espíritos
1.A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: É verdade que Deus
vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?”
2.A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim.
3.Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.”
4.“Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis!
5.Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.”
6.A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele,
comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente.
7.Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.
- Eva conhecia muito bem a Deus e gozava de intimidade com Ele e tanto como Adão tinha um relacionamento
íntimo e afetivo com Deus. Ambos conheciam claramente as ordens de Deus acerca da árvore do Bem e do Mal. No
entanto, Eva não percebeu que quem lhe falava era o maligno, pois não parou para discernir quem lhe falava e se era
Deus ;iludida pela conversação que manteve com o inimigo, acabou {6} por cometer a rebeldia que viria a ser o
pecado de toda a humanidade. No seu amor perfeito, Deus respeita nossa liberdade e respeitou a liberdade de Eva
em desobedece-Lhe e pecar. Deve ter sido uma imensa dor para Deus, assistir Eva sendo enganada a ponto de
passar a pensar que era bom comer do fruto da árvore.
- (3,2-3) – Eva, antes da conversa com a serpente, achava o fruto tão perigoso até para ser tocado. Porém depois da
conversa, tinha opinião de que o fruto era bom para comer, tinha aspecto agradável, era bom para abrir a
inteligência.
- S.João da Cruz nos ensina que nossa alma tem três grandes inimigos: o mundo, o demônio e a nossa carne.
Inimigos a fazerem guerra e dificultarem o caminho que a nossa alma deseja trilhar até Deus.
Ex.20,2-3- DDDE – p.120 – O oculto: uma abertura para o diabo.
2.Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da servidão.
3.Não terás outro Deus além de mim”.
-Pela palavra oculto entendemos aquela atividade que diz respeito ao estudo de assuntos misteriosos, mantidos em
segredo – que se estendem para além da esfera do conhecimento normal do homem.
- Reunidos sob o comando do oculto estão: o horóscopo, a astrologia, as superstições, a adivinhação do futuro por
meio de cartas, bola de cristal, leitura da palma da mão, restos de café, sessões espíritas, etc. Todas essas atividades
proporcionam uma abertura ao diabo porque ele gosta delas todas. A razão suficientemente clara: o homem
abandona Deus e começa a depositar sua confiança nas mãos humanas, nas cerimônias e rituais que ele executa e
nos presentes que o feiticeiro dá como talismãs.
- Incitar o homem a ser como Deus é uma velha tentativa satânica. É a sede humana de
poder que leva o homem a procurar isso através da magia. De fato, desde o princípio Deus deixou bem claro a seu
povo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outro Deus além de mim”.
Lv.19,31- DDDE – p.163
31.Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso
Deus.
– A Bíblia não somente fala com franqueza contra aqueles que praticam a feitiçaria e o oculto, mas também contra
aqueles que buscam seus serviços.
Lv.20,6-7- DDDE – p.164 –
6.”Se alguém se dirigir aos espíritas ou aos adivinhos para fornicar, voltarei o meu rosto contra esse homem e o cortarei do meio de seu
povo”.
7.Santificai-vos, e sede santos, porque eu sou o Senhor, vosso Deus.
- Diversas pessoas acreditam em adivinhações através dos astros, cartas de tarô e da leitura da palma da mão. Outros
buscam saber o futuro por meio de pêndulo, da bola de cristal, de restos de café deixados na xícara... Tudo isso é
errado e proibido por Deus.
Lv.20,27-DDDE – p.165 –
27.Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados, e levarão sua culpa”.
-Durante o tempo de Moisés havia leis rigorosas que eram aplicadas contra os que se davam à prática do ocultismo.
Dt. 18,10-14- DDDE – p.234 – Deus proíbe todas as formas de ocultismo.
10. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros,
ao feiticismo,
11. À magia, ao espiritismo, à adivinhação ou â invocação dos mortos,
12. porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu
Deus, expulsa diante de ti essas nações.
13. Serás inteiramente do Senhor, teu Deus.
14. As nações que vais despojar ouvem os agoureiros e os adivinhos; a ti, porém, o Senhor, teu Deus, não o permite.
- Muitos mágicos alegam que praticam o oculto para ajudar o próximo e que fazem isso em virtude de haverem sido
abençoados por uma graça que lhes foi dada pelo próprio Deus. Isto é presunção, porque sobre este ponto Deus diz:
“Eu os desprezei por causa de seus atos ímpios, porque eles praticaram a feitiçaria e ritos diabólicos”. (Sb.12,4).
Dt. 30,15-20 – DDDE p.248 - Promessas e ameaças
15. Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal.
16. Mando-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes em seus caminhos, observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos, para
que vivas e te multipliques, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe na terra em que vais entrar para possuí-la.
17. Se, porém, o teu coração se afastar, se não obedeceres e se te deixares seduzir para te prostrares diante de outros deuses e
adorá-los,
18. eu te declaro neste dia: perecereis seguramente e não prolongareis os vossos dias na terra em que ides entrar para possuí-la, ao
passar o Jordão.
19. Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida,
para que vivas com a I tua posteridade, 20. amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a
tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais.
Comentário feito por
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Something Beautiful for God (trad. La Joie du don, p. 64 rev.)
«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»
Senhor, que a tua crucifixão e ressurreição nos ensinem a enfrentar as lutas da vida quotidiana e a sofrer aí a
angústia da morte, para que vivamos em maior e mais criativa plenitude. Com humildade e paciência aceitaste os
reveses da vida humana, como os sofrimentos da tua crucifixão. Ajuda-nos a aceitar as dificuldades e as lutas de
cada dia como ocasiões para crescermos e para nos tornarmos semelhantes a Ti. Torna-nos capazes de enfrentá-las
com paciência e coragem, com plena confiança na Tua proteção. Faz-nos compreender que só chegaremos à
plenitude da vida pela contínua aniquilação de nós próprios e dos nossos desejos egoístas, porque só morrendo
contigo podemos contigo ressuscitar.
Is. 8,19-20- DDDE –p.950
19.Se vos disserem: Consultai os espíritos dos mortos, os adivinhos, os que conhecem segredos e dizem em voz baixa: Porventura um povo
não deve consultar os seus deuses? Consultar os mortos em favor dos vivos?
20.Para aceitar uma lei e um testemunho. É o que se dirá. Porque não haverá aurora para eles.
21.Andarão errantes pela terra, fatigados e esfomeados; atormentados pela fome, agastar-se-ão e amaldiçoarão o seu rei e o seu
Deus. Levantarão os olhos, depois olharão para a terra,
– Toda a forma de espiritismo é condenada na Escritura conforme Isaías: Então porque tentais descobrir o futuro ao
consultar bruxas e médiuns? Não ouvis os seus sussurros e resmungos em voz baixa? Eles podem descobrir o futuro
consultando os mortos? Compara as palavras destas bruxas frente à Palavra de Deus. Se as mensagens delas forem
diferentes das minhas é porque eu não as enviei; pois não há luz nem verdade nelas.
Is.47,12-DDDE – p.1003 – dom do discernimento dos espíritos
12.Agarra-te, portanto, a teus feitiços e à multidão de teus sortilégios, nos quais te esmeraste desde tua juventude! Talvez acharás uma
receita eficaz para criar o terror”. Está claro! Deus ridiculariza e repreende, ao mesmo tempo, aqueles que praticam a feitiçaria.
-A Bíblia condena todas as formas de feitiçaria, conforme este versículo acima.
Is.47, 13-14 – DDDE - p.1003.4
13.Esbanjaste teus esforços entre tantos conselheiros.Que eles se levantem e te salvem, aqueles que preparam o mapa do céu e observam os
astros, que comunicam a cada mês como irão as coisas.
14.Ei-los como argueiros de palha que o fogo consumirá;não poderão escapar à investida da chama. Não será um braseiro onde se coze o
pão, nem o fogo perto do qual se assenta”.
– Há várias pessoas que afirmam ser capazes de prever o futuro através de horóscopo. Isto vem desde os tempos
passados, tanto que Isaías ridicularia e condena esta prática:
- Aqueles que escrevem horóscopos fariam bem em olhar esta passagem da Bíblia, bem como fariam bem aqueles
que o lêem e acreditam neles .Isto também se aplica àqueles que procuram os serviços de uma bruxa para que se
preveja o futuro através dos astros.
A Possessão: Ela realmente existe?
- A possessão não é um pecado, mas uma perturbação física e moral permitida por Deus – embora isto seja uma
ocorrência rara – por razões e objetivos que são para nós inexplicáveis. Por isso, o homem é incapaz de impedi-la. É
fato que quando Deus permite que ela aconteça é para sua glorificação e para realçar a espiritualidade do homem,
humilhando, assim, o diabo no processo. Há casos em que a pessoa, através de suas ações e seu comportamento,
convida o diabo a tomá-la sob sua possessão. Violência, ódio, dependência de drogas, embriaguez, prostituição,
etc.,podem conduzir a possessão. Esses vícios são considerados como “abertura” através dos quais o diabo fica
possibilitado de ter acesso.
Dn.13,1-65- DDDE - p.1208.10 – História de Suzana
1.Havia um homem chamado Joaquim, que habitava em Babilônia.
2.Tinha desposado uma mulher chamada Suzana, filha de Helcias, de grande beleza, e piedosa,
3.porque havia sido educada segundo a lei de Moisés por pais honestos.
4. Joaquim era sumamente rico. Junto à sua casa havia um pomar. Os judeus reuniam-se freqüentemente em casa dele, porque gozava de
uma particular consideração entre seus compatriotas.
5.Haviam sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo, aos quais se aplicava bem a palavra do Senhor: A iniqüidade surgiu,
em Babilônia, de anciãos juízes que passavam por dirigentes do povo.
6.Esses dois personagens freqüentavam a casa de Joaquim, aonde vinham consultá-los todos aqueles que tinham litígio.
7.Lá pelo meio-dia, quando toda essa gente tinha ido embora, Suzana vinha passear no jardim de seu marido.
8.Os dois anciãos viam-na portanto todos os dias durante seu passeio, tanto que se apaixonaram por ela e,
9.perdendo a justa noção das coisas, desviaram os olhos para não ver mais o céu e não ter mais presente no espírito a verdadeira regra de
comportamento.
10.Ambos foram atingidos pelo amor a Suzana, mas sem se confiarem mutuamente sua emoção.
11.Tinham vergonha de declarar um ao outro o desejo que sentiam de possuí-la.
12.Todos os dias, inquietos, procuravam avistá-la.
13.Uma vez disseram um ao outro: Vamos para casa; está na hora do almoço. Saíram cada um para seu lado.
14.Mas, havendo ambos retrocedido, encontraram-se novamente no mesmo lugar. Perguntando um ao outro qual o motivo de sua volta,
confessaram-se sua concupiscência. Combinaram então um encontro onde a pudessem surpreender sozinha.
15.Enquanto calculavam qual seria o momento propício, eis que Suzana chegou como de costume, com duas empregadas, e tomou a
resolução de banhar-se, pois fazia calor.
16.Lá não havia ninguém, salvo os dois anciãos escondidos, que a espreitavam.
17.Trazei-me, disse ela às duas empregadas, óleo e ungüentos, e fechai as portas do jardim, para eu me banhar.
18.O que elas fizeram por sua ordem. As portas do jardim estando fechadas, saíram pela porta do fundo para ir buscar os objetos pedidos,
ignorando que os anciãos lá se achavam escondidos.
19.Apenas saíram, os dois homens precipitaram-se em direção de Suzana.
20.As portas do jardim estão fechadas, disseram-lhe, ninguém nos vê. Ardemos de amor por ti. Aceita, e entrega-te a nós.
21.Se recusares, iremos denunciar-te: diremos que havia um jovem contigo, e que foi por isso que fizeste sair tuas servas.
22.Suzana exclamou tristemente: Que angústias me envolvem por todos os lados! Consentir? Eu seria condenada à morte! Recusar? Nem
assim eu escaparia de vossas mãos! 23.Não! Prefiro cair, sem culpa alguma, em vossas mãos, do que pecar contra o Senhor.
24.Suzana soltou grandes gritos, e os dois anciãos gritavam também contra ela.
25.E um deles, correndo às portas do jardim, abriu-as.
26.Com essa balbúrdia, os criados precipitaram-se pela porta do fundo para ver o que havia acontecido.
27.Os anciãos se puseram a falar, e os criados enrubesceram, pois jamais nada de semelhante fora dito de Suzana.
28.No dia seguinte, os dois anciãos, cheios de criminosas intenções contra a vida de Suzana, vieram à reunião que se realizava em casa de
Joaquim, marido dela.
29.Disseram, diante da assembléia: Mandem buscar Suzana, filha de Helcias, a mulher de Joaquim! Foram-na buscar,
30.e ela chegou com seus pais, seus filhos e os membros de sua família.
31.Era delicada e bela de rosto.
32.Aqueles homens perversos exigiam que ela retirasse seu véu - pois estava velada -, a fim de poderem (pelo menos) fartar-se de sua
beleza.
33.Os seus choravam, assim como seus amigos.
34.Os dois anciãos levantaram-se à vista de todos, e pousaram a mão sobre sua cabeça,
35.enquanto ela, debulhada em lágrimas, mas com o coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu. 36.Os anciãos disseram
então: Quando passeávamos pelo jardim, ela entrou com duas servas; depois fechou a porta e mandou embora suas acompanhantes.
37.Então, um jovem que se achava escondido ali, aproximou-se e pecou com ela.
38.Nós nos encontrávamos num recanto do jardim. Diante de tal desvergonhamento, corremos para eles e os surpreendemos em flagrante
delito.
39.Não pudemos agarrar o homem, porque era mais forte do que nós, e fugiu pela porta aberta.
40.Ela, nós a apanhamos; mas quando a interrogamos para saber quem era o jovem, recusou-se a responder. Somos testemunhas do fato.
41.Confiando nesses homens, que eram anciãos e juízes do povo, condenaram Suzana à morte.
42.Então ela exclamou bem alto: Deus eterno, vós que penetrais os segredos, que conheceis os acontecimentos antes que aconteçam,
43.sabeis que isso é um falso testemunho que levantaram contra mim. Vou morrer, sem nada ter feito do que maldosamente inventaram de
mim.
44.Deus ouviu sua oração.
45.Como a levassem para a morte, o Senhor suscitou o espírito íntegro de um adolescente chamado Daniel,
46.que proclamou com vigor: Sou inocente da morte dessa mulher!
47.Todo mundo virou-se para ele: O que significa isso?, perguntaram-lhe.
48.Então, no meio de um círculo que se formava, disse: Israelitas, estais loucos! Eis que condenais uma israelita sem interrogatório,
sem conhecer a verdade!
49.Recomeçai o julgamento, porque é um falso testemunho a declaração desses dois homens contra ela. 50.O povo apressou-se em
voltar. Os anciãos disseram a Daniel: Vem sentar conosco e esclarece-nos, pois Deus te deu o privilégio da velhice!
51.Separai-os um do outro, exclamou Daniel, e eu os julgarei. Foram separados.
52.Então Daniel chamou o primeiro e disse-lhe: Velho perverso! Eis que agora aparecem os pecados que cometeste outrora em julgamentos
injustos,
53.condenando os inocentes e absolvendo os culpados; no entanto, é Deus quem diz: não farás morrer o inocente e o íntegro.
54.Vamos! Se realmente a viste, dize-nos debaixo de qual árvore os viste juntos. -"Debaixo de um lentisco", respondeu.
55."Ótimo!, continuou Daniel, eis a mentira, que pagarás com tua cabeça. Eis aqui o anjo do Senhor que, segundo a sentença divina, vai
dividir teu corpo pelo meio".
56.Afastaram o homem. Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: Filho de Canaã! Tu não és judeu: foi a beleza que te seduziu, e a
concupiscência que te perverteu.
57.Foi assim que sempre fizeste com as filhas de Israel, as quais, por medo, entravam em relação convosco. Mas eis uma filha de Judá que
não consentiu no vosso crime.
58.Vamos, dize-me sob qual árvore os surpreendeste em intimidade. Sob um carvalho.
59.Ótimo!, respondeu Daniel, tu também proferiste uma mentira que vai te custar a vida. Eis aqui o anjo do Senhor, que empunha a espada,
prestes a serrar-te pelo meio para te fazer perecer.
60.Logo a assembléia se pôs a clamar ruidosamente e a bendizer a Deus por salvar aqueles que nele põem sua esperança.
61.Toda a multidão revoltou-se então contra os dois anciãos os quais, por suas próprias declarações, Daniel provou terem dado falso
testemunho.
62.De acordo com a lei de Moisés, aplicaram o tratamento que tinham querido infligir ao seu próximo: foram mortos. Assim, naquele dia,
foi poupada uma vida inocente.
63.Helcias e sua mulher louvaram a Deus por sua filha Suzana, com Joaquim, seu marido, e todos os seus parentes, pois nada de desonesto
havia sido encontrado em seu proceder.
64.E Daniel gozou, desde então, de uma alta consideração entre seus concidadãos.
65.Tendo-se
reunido
o
rei
Astíages
a
seus
antepassados,
Ciro,
o
persa,
subiu
ao
trono.
- Daniel pelo do dom do discernimento dos espíritos,sabia muito bem que tipo de anciãos eram eles, do julgamento
feito com falso testemunho, da inocência de Suzana e pelo dom da palavra de sabedoria faz um julgamento justo
provando a inocência de Suzana e condenando os anciãos pelas suas próprias palavras.
Comentário feito por :
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Carta 26, 11-20 ; PL 16, 1044-1046 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 349 rev.)
O sol da justiça: a Nova Lei no Templo
Uma mulher culpada de adultério é levada pelos escribas e pelos fariseus à presença do Senhor Jesus. Eles
formulam a acusação como traidores, de tal maneira que, se Jesus a absolver, dará a idéia de estar violando a Lei; se
a condenar, dará a impressão de ter alterado a razão da Sua vinda, porque Ele veio para perdoar os pecados de todos.
Enquanto eles falavam, Jesus, de cabeça baixa, escrevia na terra com um dedo. Vendo que eles esperavam uma
resposta, levantou a cabeça e disse: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» Haverá coisa
mais divina que este veredicto?: aquele que estiver sem pecado que castigue o pecador. Com efeito, como se pode
tolerar que um homem condene o pecado de outro quando desculpa o seu próprio pecado? Não é certo que este se
condena
ainda
mais,
ao
condenar
noutro
o
pecado
que
ele
próprio
comete?
Jesus falou assim e escrevia no chão. Por que o faria? Era como se dissesse: «Por que vês o argueiro que está no
olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?» (Lc.6, 41). Ele escrevia no chão com o mesmo dedo
com que havia redigido a Lei (Ex.31,18). Os pecadores serão inscritos na terra e os justos no céu, como Jesus disse
aos discípulos: «Alegrai-vos por estarem os vossos nomes escritos nos céus» (Lc.10,20).
Ao ouvirem Jesus, os fariseus «foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos». O evangelista tem razão em
afirmar que eles saíram, pois estes -homens não queriam estar com Cristo. Aquilo que se encontra no exterior do
Templo é terra; no interior encontram-se os mistérios. É que o que eles procuravam nos ensinamentos divinos eram
as folhas, não eram os frutos das árvores; eles viviam à sombra da Lei, e por isso não eram capazes de ver o sol da
justiça (Mal 3, 20).
NOVO TESTAMENTO
Mt.12,22-23 - DDDE – p.1298
22.Apresentaram-lhe, depois, um possesso cego e mudo. Jesus o curou de tal modo, que este falava e via.
23.A multidão, admirada, dizia: Não será este o filho de Davi?
- Jesus foi muito claro dizendo que estava expulsando o diabo das pessoas “possuídas”.
- Nos Evangelhos encontramos várias referências aos Possuídos:
Mt.(4,1-11)- DDDE – p.1287 - Tentação no deserto
1.Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio. 2.Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois,
teve fome.
3.O tentador aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães.
4.Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt.8,3).
5.O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe:
6.Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com
cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl.90,11s).
7.Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16).
8.O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe:
9.Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares.
10.Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt.6,13).
11.Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para servi-lo.
Comentário feito por:
Santo Isaac o Sírio (sec. VII), monge em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque
Discursos ascéticos, 1ª série, nº 85
“Então o demônio deixou-o”- (v.11)
Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim o jejum efetuado com discernimento suscita o desejo da oração.
Quando um homem começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos pensamentos do seu espírito. Com efeito, o
corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no seu leito. Quando o jejum sela a boca do homem, este medita em
estado de contrição, o seu coração reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das
cobiças e das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos. O
jejum feito com discernimento é uma grande casa que protege muito bem Porque o jejum é a ordem que foi dada
desde o início à nossa natureza, para não comer o fruto da árvore (Gn 2,17), e é daí que vem aquilo que nos
engana… Foi também por aí que o Salvador começou, quando se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois
do batismo, o Espírito levou-o ao deserto, onde jejuou quarenta dias e quarenta noites. Todos os que partem para
segui-lo fazem doravante o mesmo: é sobre este fundamento que põem o início do seu combate, porque tal arma foi
forjada por Deus… E quando agora o diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem medo.
Ele pensa imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto, recorda-se e a sua força é quebrada.
Consome-se assim que vê a arma que nos deu aquele que nos conduz ao combate. Que arma pode ser mais poderosa
e reanimar tanto o coração na sua luta contra os espíritos do mal?
Mt.4,24-DDDE – p.1288
24.Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele curava a
todos.
-Jesus falou do diabo diversas vezes, prevenindo-nos contra ele e pedindo-nos para nos guardarmos dele, mesmo
porque ele foi derrotado e destruído.
Mt.4,18-22- DDDE – p.1287
18.Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar,
pois eram pescadores.
19.E disse-lhes: Vinde após mim e vos farei pescadores de homens.
20. Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram.
21.Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam com seu pai Zebedeu consertando as
redes. Chamou-os,
22.e eles abandonaram a barca e seu pai e o seguiram.
23.Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades
entre o povo.
24.Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele curava a
todos.
25.Grandes multidões acompanharam-no da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.
- Os irmãos Simão e André discerniram o convite de Jesus e o seguiram imediatamente.
Comentário feito por :
Papa Bento XVI
Audiência geral de 14/06/06 (© copyright Libreria Editrice Vaticana)
Santo André imita a Cristo até na morte
Uma tradição narra a morte de André em Patras, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele
momento supremo, de modo análogo ao de seu irmão Pedro, pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus.
No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada
«cruz de Santo André». Eis o que o Apóstolo disse naquela ocasião, segundo uma antiga narração: «Salve, ó Cruz,
inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos Seus membros, como se fossem pérolas
preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno. Agora, ao contrário, dotada de
um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuís, quantos dons
tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como
discípulo Daquele que em ti foi suspenso. Ó Cruz bem-aventurada, que recebeste a majestade e a beleza dos
membros do Senhor! .Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu
intermédio me receba Quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!»Como se vê, há aqui
uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o
meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Devemos aprender
com isto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte
da cruz de Cristo, se refletirem a sua luz. Só naquela Cruz são também os nossos sofrimentos nobilitados e
adquirem o seu verdadeiro sentido.
Mt.4,24-DDDE – p.1288
24.Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele curava a
todos.
Mt.5,37 – DDDE – p.1289
37.Dizei somente:’Sim” se é sim;’não’ se é não. Tudo o que passa além disto, vem do Maligno.
Mt.6,13 – DDDE – p.1290
13.e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. (Maligno).
- Jesus derrotando o diabo na cruz deu-nos o dom de discernirmos sobre o demônio e suas investidas.
Mt.(8,16-17)- DDDE – p.1292 – Jesus expulsou o diabo de muitos possuídos.
16.Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos.
17.Assim se cumpriu a predição do profeta Isaías: Tomou as nossas enfermidades e sobrecarregou-se dos nossos males (Is.53,4).
.
Mt.(8,28-34)- DDDE – p.1293 - O possuído de Gerasa
28No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos de demônios saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Eram tão
furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali.
29.Eis que se puseram a gritar: Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?
30.Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava.
31.Os demônios imploraram a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos.
32.Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago, e
morreu nas águas.
33.Os guardas fugiram e foram contar na cidade o que se tinha passado e o sucedido com os endemoninhados. 34.Então a população saiu
ao encontro de Jesus. Quando o viu, suplicou-lhe que deixasse aquela região.
Mt. (9.1-8)-DDDE - p.1293 – Cura de um paralítico.1.Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.
2.Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: "Meu filho,
coragem! Teus pecados te são perdoados."
3.Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema."
4.Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações?
5.Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?
6.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -, toma a tua
maca e volta para tua casa."
7.Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.
8.Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.
- Discerniu Jesus que a cura mais importante para o paralítico era a interior, que precedeu a cura física.
Comentário feito por:
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o evangelho de Mateus
"Confiança, meu filho, os teus pecados estão perdoados" – (v.2)
Os judeus professavam que só Deus pode perdoar os pecados. Mas Jesus, mesmo antes de perdoar os pecados,
revelou os segredos dos corações, mostrando assim que possuía também esse outro poder reservado a Deus. Porque
está escrito:"Só tu, Senhor, conheces os segredos dos homens" (2Cr.6,30). Jesus revela pois a sua divindade e a sua
igualdade ao Pai, mostrando aos escribas o fundo dos seus corações, divulgando pensamentos que eles não ousam
declarar abertamente por medo da multidão. E fá-lo com muita doçura...O paralítico teria podido manifestar a Cristo
a sua decepção, dizendo-lhe: "Seja! Tu vieste para tratar outra doença e curar outro mal, o pecado. Mas que prova
tenho de que os meus pecados estão perdoados?" Ora ele não diz nada disso, mas confia naquele que tem o poder de
curá-lo. Aos escribas, Cristo diz: "O que é mais fácil? Dizer: 'Os teus pecados estão perdoados' ou dizer 'Toma o teu
catre e vai para tua casa'?" Por outras palavras: Que é que vos parece mais fácil?. Mostrar o poder sobre um corpo
inerte ou perdoar a uma alma as suas faltas? É evidentemente curar um corpo, porque o perdão dos pecados
ultrapassa essa cura, tanto quanto a alma é superior ao corpo. Mas, uma vez que uma destas obras é visível e a outra
não, vou cumprir também a obra que é visível e menor, para provar a outra que é maior e invisível.Nesse momento,
Jesus testemunha pelas suas obras que é "aquele que tira o pecado do mundo". (Jo.1,29).
Mt. (9,9-13)- DDDE – p.1293– Vocação de Mateus
9.Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe: Segue-me.
O homem levantou-se e o seguiu.
10.Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos.
11.Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?"
12.Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes.
13.Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). “Eu não vim chamar os
justos, mas os pecadores.”
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Comentário à 1ª carta de S. João
"Prefiro a misericórdia" – (v.13)
Amando o teu inimigo, tu desejas que ele seja para ti um irmão. O que nele amas não é o que ele é, mas o que
queres que ele seja. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho não trabalhada. Um artesão que seja hábil vê
aquela madeira, cortada no bosque; o pedaço de madeira agrada-lhe; não sei o que vai fazer com ela, mas não é para
que fique como está que o artista gosta daquela madeira. A sua arte fá-lo ver o que aquele pedaço de madeira pode
vir a ser; o seu amor não se dirige para a madeira em bruto: ele ama o que vai fazer dela e não a madeira em
bruto.Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Com efeito, ele diz: "Não são os que têm saúde que
precisam de um médico, mas sim os doentes". Amou-nos pecadores para que permanecêssemos pecadores? O
Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vinda do bosque, mas o que ele tinha em vista era a
obra que extrairia dali e não a madeira, nem o bosque.Também tu: vês o teu inimigo opor-se a ti, irritar-te com
palavras mordazes, tornar-se rude com as suas afrontas, perseguir-te com a sua raiva. Mas estás atento ao fato de
que se trata de um homem. Vês tudo o que esse homem fez contra ti mas vês nele que foi feito por Deus. Enquanto
homem, ele é obra de Deus; a raiva que tem contra ti é obra dele. E que dizes, no fundo do teu coração? "Senhor, sê
benevolente para com ele, perdoa-lhe os seus pecados, inspira-lhe o teu temor, converte-o." Neste homem, tu não
amas o que ele é mas o que queres que ele seja. Portanto, quando amas o teu inimigo, amas um irmão.
Comentário feito por:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, III, 11, 8-9
São Mateus, um dos quatro evangelistas – (v.9)
Não pode haver um número superior nem um número inferior de evangelhos. Com efeito, uma vez que são quatro
as regiões do mundo no qual nos encontramos, e quatro os ventos principais, e uma vez que, por outro lado, a Igreja
está espalhada por toda a terra e tem por “coluna e sustentáculo” (1Tm.3,15) o Evangelho e o Espírito da vida, é
natural que haja quatro colunas que sopram a imortalidade de todos os lados e dão vida aos homens. Quando o
Verbo, o artesão do universo, que tem o trono sobre os querubins e que sustenta todas as coisas (Sl 79, 2; Hb.1,3), se
manifestou aos homens, deu-nos um evangelho com quatro formas, embora mantido por um único Espírito.
Implorando a sua vinda, David dizia: “Manifestai-Vos, Vós que tendes o Vosso trono sobre os querubins” (Sl, 79,
2). Porque os querubins têm quatro figuras (Ez.1,6), que são as imagens da atividade do Filho de Deus.
“ O primeiro destes seres vivos era semelhante a um leão” (Ap.4,7), e caracteriza o poder, a preeminência e a
realeza do Filho de Deus; “o segundo, a um touro”, manifestando a sua função de sacrificador e de sacerdote; “o
terceiro tinha um rosto como que de homem”, evocando claramente a sua face humana; “o quarto era semelhante a
uma águia em pleno vôo”, indicando o dom do Espírito que paira sobre a Igreja. Os evangelhos segundo João,
Lucas, Mateus e Marcos estarão pois, também eles, de acordo com estes seres vivos sobre os quais Cristo Jesus tem
o seu trono. Encontramos estes mesmos traços no próprio Verbo de Deus; aos patriarcas que existiram antes de
Moisés, falava Ele segundo a sua divindade e a sua glória; aos homens que viveram sob a Lei, atribuiu Ele uma
função sacerdotal e ministerial; em seguida, fez-Se homem por nós; por fim, enviou o dom do Espírito a toda a
terra, escondendo-os à sombra das Suas asas (Sl 16, 8). São, pois, fúteis, ignorantes e presunçosos os que rejeitam a
forma sob a qual se apresenta o evangelho, ou introduzem no evangelho um número de figuras maior ou menor do
que as que referimos.
Comentário feito por:
S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 30: Pl 52, 285-286
«Ele come com os publicanos e os pecadores!» - (v.11)
Deus é acusado de se vergar para o homem, de se sentar perto do pecador, de ter fome da sua conversão e sede do
seu regresso, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência. Mas Cristo, meus irmãos, veio a esta
refeição; a Vida veio ao seio dos seus convidados para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição
prostrou-se para que aqueles que jaziam se levantem dos seus túmulos; a Bondade baixou-se para elevar os
pecadores até ao perdão; Deus veio ao homem para que o homem chegue até Deus; o juiz veio à refeição dos
culpados para desviar a humanidade da sentença de condenação; o médico veio junto dos doentes para restabelecêlos comendo com eles; o Bom Pastor inclinou o ombro para trazer a ovelha perdida ao aprisco da salvação.
« Ele come com os publicanos e os pecadores!» Mas quem é pecador, senão aquele que recusa ver-se como tal? Não
será afundar-se no seu pecado e, a bem dizer, identificar-se com ele, o deixar de se reconhecer pecador? E quem é
injusto, senão aquele que se acha justo?... Vamos, fariseu, confessa o teu pecado, e poderás vir à mesa de Cristo;
Cristo, por ti, far-se-á pão, esse pão que será partido para o perdão dos teus pecados; Cristo tornar-se-á, por ti, no
cálice, esse cálice que será derramado para a remissão das tuas faltas. Vamos, fariseu, compartilha a refeição dos
pecadores, e Cristo compartilhará a tua refeição; reconhece-te pecador, e Cristo comerá contigo; entra com os
pecadores no festim do teu Senhor, e poderás deixar de ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da
misericórdia.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 30/08/06 (trad. DC n° 2365, p. 826 © copyright Libreria Editrice Vaticana)
São Mateus: convertido, apóstolo, evangelista – (v.1)
«Levantou-se e seguiu-O.» A concisão da frase põe claramente em evidência a prontidão de Mateus a responder à
chamada. Para ele isso significava tudo abandonar, sobretudo o que lhe garantia uma fonte segura de recursos, que
era no entanto desonrosa e muitas vezes injusta. Mateus compreendeu pela evidência que a intimidade com Jesus o
impedia de seguir uma atividade desaprovada por Deus. Facilmente se tira daqui uma lição para o presente: também
hoje é inadmissível o apego a coisas incompatíveis com a caminhada de seguir a Jesus, como é o caso das riquezas
desonestas. Certa vez, Ele disse sem rodeios: «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuis, dá-o aos pobres
e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-Me» (Mt,19,21). Foi o que fez Mateus: «Levantou-se e seguiu-O».
Neste «levantou-se» conseguimos ler um nítido repúdio pela situação de pecado e simultaneamente a adesão
consciente a uma nova existência, reta, na comunhão com Jesus.Lembremos que a tradição antiga da Igreja é
unânime em atribuir a Mateus a paternidade do primeiro Evangelho. Já Papias, bispo de Hierápoles, na Frígia, o
tinha dito, cerca do ano 130. Escreveu : «Mateus verteu as palavras (do Senhor) em língua hebraica, e cada um as
interpretou como podia» (in Eusébio de Cesareia, Hist. Ec.l. III, 39, 16). O historiador Eusébio acrescenta esta
informação: «Mateus, que primeiro pregara entre os judeus, quando a certa altura decidiu ir também evangelizar
outros povos, escreveu na língua materna o Evangelho que anunciava. Procurou deste modo recompensar aqueles de
quem se separava, substituindo pela escrita o que perdiam com a sua partida» (III, 24, 6). Já não possuímos o
Evangelho escrito por Mateus em hebreu ou em aramaico, mas no Evangelho grego que chegou até nós
continuamos a ouvir ainda, de alguma maneira, a voz persuasiva do publicano Mateus que, tornado apóstolo,
continua a anunciar-nos a misericórdia salvífica de Deus, e escutamos essa mensagem de S. Mateus, nela meditando
sempre, e de novo, sempre, para aprendermos, também nós, a levantarmo-nos e a seguir Jesus com determinação.
Comentário feito por:
São Nicolau Cabasilas (c. 1320-1363), teólogo leigo grego
A Vida em Jesus Cristo, Livro 6
Cristo, o médico, vem curar os doentes
Cristo desceu à terra, e começou por chamar aqueles que ainda não tinham chamado por Ele, e que nunca tinham
sequer pensado Nele: «Eu vim chamar os pecadores», diz. Se veio à procura daqueles que não O desejavam, o que
fará àqueles que Lhe rezam? Se amou aqueles que O odiavam, como poderá afastar aqueles que O amam? Como
dizia São Paulo: «Se, de fato, sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Seu Filho,
com muito mais razão, depois de reconciliados, seremos salvos pela Sua vida» (Rm. 5,10). Consideremos, pois, em
que consiste a nossa oração. É certo que não somos dignos de obter aquilo que convém aos amigos pedir e receber,
mas antes aquilo que é dado a servos rebeldes, a devedores faltosos. Não invocamos o nosso Mestre para que Ele
nos dê uma recompensa, ou um favor, mas para que Ele tenha misericórdia de nós. Pedir a Cristo, amigo dos
homens, a misericórdia, o perdão ou a remissão dos pecados, e não partir de mãos vazias após esta oração – a quem
convém tal coisa, senão a devedores, dado que «não são os que têm saúde que precisam de médico»? Em suma, se
convém aos homens elevarem a voz para Deus, implorando a Sua piedade, só poderão fazê-lo os que têm
necessidade de misericórdia, os pecadores. Invoquemos, pois, a Deus, não somente com a boca, mas também com
os desejos e os pensamentos, a fim de aplicarmos a tudo aquilo por meio do qual pecamos o único remédio que pode
salvar-nos, porque «não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar» (At.4,12).
Comentário feito por
Santo Efrém (c. 2006-373), diácono na Síria, doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho ou Diatessaron, 5, 17
«Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?»
Nosso Senhor escolheu Mateus, o cobrador de impostos, para encorajar os colegas deste a virem com ele também.
Ele viu pecadores, chamou-os e fez que se sentassem junto de si. Um espetáculo admirável: os anjos ficam de pé,
trêmulos, enquanto os publicanos, sentados, se divertem. Os anjos enchem-se de temor perante a grandeza do
Senhor, enquanto os pecadores comem e bebem com Ele. Os escribas sufocam de ódio e de despeito, e os
publicanos exultam perante a sua misericórdia.
O céu viu este espetáculo, ficando em grande admiração; o inferno também o viu e ficou louco. Satanás viu e
enfureceu-se; a morte viu e enfraqueceu; os escribas viram e ficaram muito perturbados com isso. Havia alegria nos
céus e júbilo entre os anjos porque os rebeldes tinham sido convencidos, os recalcitrantes tinham ganho sensatez e
os pecadores tinham sido corrigidos, e porque os publicanos tinham sido justificados. Tal como Nosso Senhor não
renunciou à ignomínia da cruz apesar das exortações dos seus amigos (Mt. 16,22), Ele não renunciou à companhia
dos publicanos apesar da zombaria dos seus inimigos. Desprezou a zombaria e desdenhou o elogio, fazendo assim o
que é o melhor para os homens.
Comentário feito por
São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos, I, 21 ; CCL 122, 149-151 (a partir da trad. Orval rev.)
«À mesa com Jesus»
«Encontrando-Se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e
sentaram-se com Ele e Seus discípulos.» Procuremos compreender com maior profundidade o acontecimento até
aqui relatado. Mateus não quis apenas oferecer ao Senhor uma refeição material na sua morada terrestre, mas, com a
sua fé e amor, preparou-Lhe na verdade um banquete na casa do seu coração, como dá testemunho aquele que diz:
«Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele
Comigo» (Ap.3,20). Sim, o Senhor está à nossa porta e bate quando torna o nosso coração atento à Sua vontade,
seja através da palavra dos que a ensinam, seja por inspiração interior. Abrimos a porta ao chamado da Sua voz
quando livremente aceitamos os Seus ensinamentos interiores ou exteriores e quando, tendo compreendido o que
devemos fazer, o cumprimos. E Ele entra para cear, Ele conosco e nós com Ele, porque Ele mora no coração dos
Seus amigos, pela graça do Seu amor, para alimentá-los Ele próprio, eternamente, com a luz da Sua presença.
Assim, os desejos dos Seus amigos tornam-se cada vez mais elevados, e o próprio Se Senhor alimenta do zelo
destes para com o céu, como do mais delicioso alimento
Comentário feito por
Rupert de Deutz (v. 1075-1130), monge beneditino
As Obras do Espírito Santo, IV, 14 (a partir da trad. SC 165, p. 183 rev.)
O cobrador de impostos foi libertado para o Reino de Deus
Mateus, o publicano, recebeu por alimento «o pão da vida e da inteligência» (Si.15,3); e dessa mesma inteligência,
fez em sua casa um grande banquete para o Senhor Jesus, pois tinha recebido uma graça abundante, em
conformidade com o seu nome que quer dizer «dom do Senhor». Um presságio desse banquete de graças havia sido
preparado por Deus: tendo sido chamado enquanto estava no seu posto de cobrança, seguiu a Cristo e «ofereceuLhe, em sua casa, um grande banquete» (Lc. 5,29).
Ofereceu-Lhe portanto um banquete, dos grandes, um banquete real, diríamos.Mateus é de fato o evangelista que
nos mostra Cristo Rei através da Sua família e dos Seus atos. Logo no início da obra, declara que se trata do livro da
«Genealogia de Jesus Cristo, filho de David» (Mt.1,1). Em seguida, comenta como o recém-nascido é adorado pelos
magos como rei dos judeus; depois, tecendo o resto da narração com régios feitos e parábolas do reino, termina por
fim com as próprias palavras de um Rei que já está coroado pela glória da ressurreição: «Foi-me dado todo o poder
no Céu e na Terra» (28, 18). Se examinarmos bem o conjunto da sua redação reconheceremos, portanto que toda ela
respira os mistérios do Reino de Deus. Nada de espantoso há nisto; Mateus tinha sido publicano, lembrava-se de ter
sido chamado do serviço público do reino de pecado para a liberdade do Reino de Deus, do Reino de justiça. Como
homem verdadeiramente grato para com o grande Rei que o tinha libertado, serviu com fidelidade as leis do Seu
Reino.
Mt. (9,32-33)- DDDE - p.1294 – O surdo com um demônio dentro dele.
32.Logo que se foram, apresentaram-lhe um mudo, possuído do demônio.
33.O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel.
(Mt.9,37-38.10,1-8) - DDDE – pg.1294/5– Escolha dos Apóstolos.Recebem instruções.
37.Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os operários são poucos.
38.Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe.
10.
1.Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade.
2.Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
irmão.
3.Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.
4.Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.
5.Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem entrareis
em Samaria;
6.ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel.
7.Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
8.Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!
- Jesus outorgou aos Apóstolos e seus discípulos o poder de expulsar o diabo, Ele distinguiu entre curar os doentes e
expulsar o diabo.
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», 3-5
"Proclamai que o Reino dos céus está próximo" – (v.7)
Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério,
realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério,
cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que
manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da
Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo.12,32 gr.)...O mistério da santa
Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do
Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo»
(Mc.1,15; cfr. Mt.4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A palavra do Senhor
compara-se à semente lançada ao campo (Mc.4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno
rebanho de Cristo (Lc.12,32), já receberam o Reino; depois, por força própria, a semente germina e cresce até ao
tempo da messe (cfr. Mc.4,26-29). Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino: «Se
lanço fora os demônios com o poder de Deus, é que chegou a vós o Reino de Deus» (Lc.11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas
este Reino manifesta-se na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, que veio «para servir e dar a
sua vida em redenção por muitos» (Mt.10,45). E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da cruz,
ressuscitou, apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno (cfr. At.2,36; Hebr.5,6; 7,7-21) e derramou sobre os
discípulos o Espírito prometido pelo Pai (cfr. At. 2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador
e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e
instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na
terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.
Comentário feito por
Isaac de l'Étoile (?-c. 1171), monge cistercense
Sermão 35 (a partir da trad. SC 202, p.259)
Enviado às ovelhas perdidas
Cristo veio buscar a única ovelha que se tinha perdido (Mt 18, 12). Foi por ela que o Bom Pastor foi enviado no
tempo, Ele que estava prometido desde sempre; foi por ela que nasceu e foi dado. Ela é única, escolhida entre os
judeus e as nações, escolhida entre todas as nações, única no mistério, múltipla nas pessoas, múltipla pelo corpo
segundo a natureza, única pelo espírito segundo a graça, em suma, uma única ovelha e uma multidão sem conta. Foi
por isso que Aquele que veio buscar a única ovelha foi enviado «às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 15, 24).
Ora, aquilo que o Pastor reconhece como seu «ninguém Lhe pode arrancar das mãos» (Jo 10, 28). Porque não se
pode forçar o poder, enganar a sabedoria, destruir a caridade.É por isso que Ele fala com segurança, quando diz:
«Daqueles que Me deste, Pai, não perdi nenhum» (Jo 17, 12).
E Ele foi enviado como verdade para os que andavam enganados, como caminho para os que andavam perdidos,
como vida para os que estavam mortos, como sabedoria para os que eram loucos, como remédio para os doentes,
como resgate para os cativos e como alimento para aqueles que morriam de fome. Pode dizer-se que, na pessoa de
todos estes, Ele foi enviado «às ovelhas perdidas da casa de Israel», para que elas não se perdessem para sempre.
Mt.(10,7-15)- DDDE – p.1295 – Escolha dos Apóstolos.Recebem instruções.
7.Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
8.Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!
9.Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos,
10.nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento.
11.Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida.
12.Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa.
13.Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós.
14.Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos
pés.
15.Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.
16.Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.
Comentário feito por:
João Paulo II
Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2002, §9-10
"Que a vossa paz venha sobre essa casa"- (v.12)
As famílias, os grupos, os Estados, a própria Comunidade internacional, necessitam de abrir-se ao perdão para
restaurar os laços interrompidos, superar situações estéreis de mútua condenação, vencer a tentação de excluir os
outros, negando-lhes a possibilidade de apelo. A capacidade de perdão está na base de cada projeto de uma
sociedade futura mais justa e solidária. Pelo contrário, a falta de perdão, especialmente quando alimenta o
prolongamento de conflitos, supõe custos enormes para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são destinados
para manter a corrida aos armamentos, as despesas de guerra, as conseqüências das represálias econômicas. Acabam
assim por faltar os recursos financeiros necessários para gerar desenvolvimento, paz e justiça. Quantos sofrimentos
padecem a humanidade por não saber reconciliar-se, e quantos atrasos por não saber perdoar! A paz é a condição do
desenvolvimento, mas uma verdadeira paz torna-se possível somente com o perdão.
A proposta do perdão não é de imediata compreensão nem de fácil aceitação; é uma mensagem de certo modo
paradoxal. De fato, o perdão implica sempre uma aparente perda a curto prazo, mas garante, a longo prazo, um lucro
real.
Com a violência é exatamente o contrário: opta-se por um lucro de vencimento imediato, mas prepara para depois
uma perda real e permanente. À primeira vista, o perdão poderia parecer uma fraqueza, mas não: tanto para ser
concedido quanto para ser aceite supõe uma força espiritual e uma coragem moral a toda a prova. Em vez de
humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e mais rico, capaz de refletir em si um raio do
esplendor do Criador.
Comentário feito por:
S. Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir
Da Unidade da Igreja Católica
"Que a vossa paz desça sobre ela" – (12)
O Espírito Santo faz-nos esta recomendação: "Procura a paz e persegue-a" (Sl. 34,12). O filho da paz deve procurar
e perseguir a paz, aquele que conhece e ama o vínculo da caridade deve guardar a sua língua do pecado da
discórdia. Entre as suas prescrições divinas e os seus mandamentos de salvação, o Senhor, na véspera da sua Paixão,
acrescentou isto: "Deixo-vos a paz, dou-vos a paz" (Jo 14,27). Tal é a herança que nos legou: de todos os dons, de
todas as recompensas cuja perspectiva nos abriu, deixou a promessa ligada à conservação da paz. Se somos os
herdeiros de Cristo, permaneçamos na paz de Cristo. Se somos filhos de Deus, devemos ser construtores de paz:
"Felizes os que fazem a paz: serão chamados filhos de Deus" (Mt.5,9). É preciso que os filhos de Deus sejam
pacíficos, mansos de coração, simples nas atitudes, em perfeita concordância de afetos, unidos fielmente pelos laços
de um pensamento unânime. Esta unanimidade existiu outrora, no tempo dos apóstolos. Foi assim que o novo povo
dos crentes, fiel às prescrições do Senhor, manteve a caridade. Daí a eficácia das suas orações: eles podiam estar
certos de que obteriam tudo o que pedissem à misericórdia de Deus.
Comentário feito por
São Cromácio de Aquileia (?-407), bispo
Sermão 39; CCL 9A, 169-170
«É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo» (Jo.1,17)
É bom que a nova lei seja proclamada numa montanha, uma vez que a lei de Moisés nos foi dada numa montanha.
Uma é composta de dez mandamentos, destinados a formar os homens, tendo em vista a sua conduta na vida
presente; a outra consiste de oito bem-aventuranças, porque conduz aqueles que a seguem até a vida eterna e à pátria
celeste.
« Felizes os mansos, porque possuirão a terra». Portanto, é necessário ser manso, pacífico na alma e sincero de
coração. O Senhor mostra claramente que o mérito dos que o são não é pequeno, quando diz: «Possuirão a terra».
Trata-se, sem dúvida nenhuma, desta terra da qual está escrito: «Creio, firmemente, vir a contemplar a bondade do
Senhor na terra dos vivos» Sl.27(26),13. A herança dessa terra é a imortalidade do corpo e a glória da ressurreição
eterna.
Porque a mansidão ignora o orgulho, não conhece a jactância, desconhece a ambição. Além disso, não é sem razão
que, noutra ocasião, o Senhor exorta os Seus discípulos dizendo: «Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim,
porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt.11,29).
«Felizes os que choram, porque serão consolados.» Não os que choram a perda do que lhes é querido, mas os que
choram os seus pecados, se lavam das suas faltas com lágrimas e, certamente, aqueles que choram a iniqüidade
deste mundo, ou deploram as faltas dos outros.
Comentário feito por:
João Paulo II
Alocução no encontro inter-religioso em Assis, 27/10/86 (trad. DC no. 1929 © copyright Libreria Editrice Vaticana)
"Que a vossa paz desça sobre ela"- (v.13)
Esta jornada em Assis ajudou a tornarmo-nos mais consciente dos nossos compromissos religiosos. Mas deu
também ao mundo, que nos olha através dos "media", uma maior consciência da responsabilidade de cada religião
no que respeita aos problemas da guerra e da paz. Talvez mais do que nunca antes na história, se tenham tornado
evidentes para todos o laço intrínseco que une uma atitude religiosa autêntica e o grande bem que é a paz. Que peso
terrível a suportar para ombros humanos! Mas, ao mesmo tempo, que vocação maravilhosa e exaltante a seguir!
Embora a oração em si mesma seja já uma ação, isso não nos dispensa de trabalhar pela paz. Dessa forma, agimos
como arautos da consciência moral da humanidade enquanto tal, da humanidade que deseja a paz, que precisa da
paz.
Não há paz sem um amor apaixonado pela paz. Não há paz sem uma vontade feroz de realizar a paz. A paz espera
os seus profetas. Juntos, enchemos os nossos olhos de visões de paz: elas libertam energias para uma nova
linguagem de paz, para novos gestos de paz, gestos que quebrem as cadeias fatais das divisões herdadas da história
ou geradas pelas ideologias modernas. A paz espera os seus construtores. Estendamos a mão aos nossos irmãos e às
nossas irmãs para os encorajarmos a construírem a paz sobre os quatro pilares que são a verdade, a justiça, o amor e
a liberdade. A paz é um estaleiro aberto a todos e não apenas aos especialistas, sábios e estratégias. A paz é uma
responsabilidade universal: passa por mil pequenos atos da vida quotidiana. Pela sua forma quotidiana de viverem
com
os
outros, os
homens fazem
a sua escolha
pela paz
ou contra a paz...
O que fizemos hoje em Assis, rezando e dando testemunho do nosso compromisso pela paz, devemos continuar a
fazer cada dia da nossa vida. Porque o que fizemos hoje é vital para o mundo. Se o mundo deve continuar, e se os
homens e as mulheres devem sobreviver nele, o mundo não pode dispensar a oração.
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática sobre a Igreja, « Lumen Gentium », 21
"Recebestes de graça, dai de graça"
Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o Senhor
Jesus Cristo, pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao corpo dos seus
pontífices, mas, antes de mais, por meio do seu exímio ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus,
administra continuamente aos crentes os sacramento da fé, incorpora por celeste regeneração e graças à sua ação
paternal (cfr.1 Co.4,15) novos membros ao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e orienta o
Povo do Novo Testamento na peregrinação para a eterna felicidade.Para desempenhar tão elevadas funções, os
Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com uma efusão especial do Espírito Santo que sobre eles desceu (cfr. At.1
,8; 2,4; Jo. 20, 22-23), e eles mesmos transmitiram este dom do Espírito aos seus colaboradores pela imposição das
mãos (cfr. 1Tm.4,14; 2 Tm.1, 6-7), o qual foi transmitido até aos nossos dias através da consagração episcopal.
Ensina, porém, o sagrado Concílio que, pela consagração episcopal, se confere a plenitude do sacramento da
Ordem, aquela que é chamada sumo sacerdócio e suma do sagrado ministério na tradição litúrgica e nos santos
Padres. A consagração episcopal, juntamente com o poder de santificar, confere também os poderes de ensinar e
governar, os quais, no entanto, por sua própria natureza, só podem ser exercidos em comunhão hierárquica com a
cabeça e os membros do colégio episcopal. De fato, consta pela tradição que a graça do Espírito Santo é conferida
pela imposição das mãos e pelas palavras da consagração, e o caráter sagrado é impresso de tal modo que os Bispos
representam de forma eminente e conspícua o próprio Cristo, mestre, pastor e pontífice, e atuam em vez d'Ele.
Pertence aos Bispos assumir novos eleitos no corpo episcopal por meio do sacramento da Ordem.
Mt.(10,16-23)– DDDE p.1295
16.Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.
17.Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas.
18.Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos.
19.Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento
ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer.
20.Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós.
21.O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão.
22.Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
23.Se vos perseguirem numa cidade, fugi para uma outra. Em verdade vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que
volte o Filho do Homem.
Comentáro feito por:
Bem-aventurado João XXIII (1881-1963), Papa
Diário da Alma
«Sede prudentes como as serpentes e cândidos como as pombas» - (v.16)
É preciso tratar toda a gente com respeito, com prudência e com uma simplicidade evangélica. É conforme com o
exemplo de Jesus fazer prova da mais atraente simplicidade, sem contudo se abdicar da prudência dos sábios e dos
santos que Deus ajuda.
A simplicidade pode suscitar, não digo o desprezo, mas uma consideração mínima por parte dos maus. Pouco
importa se os maus, de quem não se deve fazer caso, podem infringir alguma humilhação pelos seus julgamentos e
pelos seus gracejos; tudo reverte em seu prejuízo e confusão. Aquele que é «simples, reto e temente a Deus» é
sempre o mais digno e o mais forte. Na condição, evidentemente, de se firmar numa prudência sábia e afável.
É simples aquele que não se envergonha de confessar o Evangelho, mesmo diante dos homens que não vêem nele
mais do que uma fraqueza e uma infantilidade, e de confessá-lo em todas as suas partes e em todas as ocasiões, na
presença de não importa quem. Ele não se deixa enganar ou conduzir no seu julgamento pelo próximo, e não perde a
serenidade da sua alma, qualquer que seja a atitude que os outros tomem para consigo. O prudente é aquele que sabe
calar uma parte da verdade que seria inoportuno manifestar, e que pode calar-se sem que o seu silêncio altere ou
falsifique a parte de verdade que diz; é aquele que sabe atingir as boas finalidades que se propõe, escolhendo os
meios mais eficazes...; é aquele que, em todas as circunstâncias, distingue o essencial e não se deixa embaraçar pelo
acessório; é aquele que, a par de tudo isto, espera o sucesso em Deus, apenas. A simplicidade não contradiz em nada
a prudência, nem inversamente. A simplicidade é amor; a prudência é pensamento. O amor reza a inteligência vela.
«Vigiai e orai» (Mt.26,41). Numa conciliação perfeita. O amor é como a pomba que geme; a inteligência, voltada
para a ação, é como a serpente que nunca cai por terra nem se magoa, porque vai tateando com a cabeça todas as
irregularidades do seu caminho.
Comentário feito por:
São Francisco Xavier (1506-1552), missionário jesuíta
Carta 131, 22 de Outubro de 1552 (a partir da trad. La Colombe, 1953, pp. 247-248)
«Envio-os como ovelhas para o meio dos lobos»
No dizer das gentes do país, corremos dois perigos. O primeiro é que o homem que nos conduz, após ter recebido o
nosso dinheiro, nos abandone nalguma ilha deserta ou nos lance ao mar, a fim de escapar ao governador de Cantão.
O segundo é ele conduzir-nos a Cantão e, ao chegarmos à presença do governador, este infligir-nos maus tratos ou
meter-nos na prisão. Porque a nossa diligência é inconcebível. Inúmeros decretos interditam a quem quer que seja o
acesso à China e, sem uma autorização do rei, é estritamente proibida a entrada de estrangeiros. Fora estes dois
perigos, há muitos outros, e maiores, ignorados pelas gentes do país. Seria bem longo descrevê-los; contudo não
deixarei
de
citar
alguns.
O primeiro é perdermos esperança e a confiança na misericórdia de Deus. É por Seu amor e para o Seu serviço que
vamos dar a conhecer a Sua lei e Jesus Cristo, Seu Filho, nosso Redentor e Senhor. Ele sabe-o bem, dado que foi
Ele que, na Sua santa misericórdia, nos comunicou este desejo. Ora, a falta de confiança na Sua misericórdia e no
Seu poder no meio dos perigos em que podemos cair ao Seu serviço é um perigo incomparavelmente maior que os
males que podem suscitar-nos todos os inimigos de Deus. Com efeito, se o Seu maior serviço o exigir, Ele guardarnos-á dos perigos desta vida; e, sem a permissão e autorização de Deus, os demônios e os seus ministros em nada
podem prejudicar-nos.
Comentário feito por
Beato João XXIII (1881-1963), Papa
Diário da Alma, Agosto de 1961
«Quando vos entregarem, não vos preocupeis »
Refletindo sobre mim e sobre as muitas vicissitudes da minha humilde vida, devo reconhecer que o Senhor me
dispensou até agora dessas tribulações que, a muitas almas, tornam difícil e ingrato o serviço da verdade, da justiça
e da caridade. Como agradecerei, meu Deus, o bom tratamento que recebi sempre em todos os lugares aonde
cheguei em Teu nome, e sempre em pura obediência, não por minha vontade, mas pela Tua? «Como retribuirei ao
Senhor todo o bem que Ele me fez?» (Sl.115, 12). Vejo muito bem que a minha resposta, a mim próprio e ao
Senhor, é sempre: «Erguerei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor» (v.13). Como já insinuei nestas
páginas, quando me assaltar a grande tribulação, devo recebê-la bem: «A nossa tribulação momentânea é leve, em
relação com o peso extraordinário da glória eterna que ela nos prepara» (2Co.4,17). E, se se fizer esperar algum
tempo, terei de continuar a saciar-me com o sangue de Jesus, com o cortejo de pequenas e grandes tribulações de
que a bondade do Senhor quiser rodear-me. Sempre me senti, e continuo a sentir-me muito impressionado por estas
palavras do pequeno Salmo 130: «Senhor, o meu coração não se orgulha, nem os meus olhos são altivos; não vou
atrás de grandezas nem de prodígios que me excedam. Ao contrário, aquieto e sossego a minha alma, como uma
criança saciada no colo de sua mãe, assim está a minha alma dentro de mim.» Como amo estas palavras! Mas, se
vier a perturbar-me no final da vida, Senhor Jesus, Tu me fortificarás na tribulação. O Teu sangue, o Teu sangue que
continuarei a beber do Teu cálice, quer dizer, do Teu coração, será para mim um penhor de salvação e de alegria
eterna. «A nossa tribulação momentânea é leve, em relação com o peso extraordinário da glória eterna que ela nos
prepara»
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Comentário do Evangelho de João 32, 4; PG 14, 741-752 (a partir da trad. Evangile selon Jean, DDB 1985, p.
116)
«Aqui está o Meu servo»
No decurso de uma refeição, Jesus levantou-Se da mesa e despojou-Se das Suas vestes, tomando a aparência de
escravo, como demonstram estas palavras: «tomou uma toalha e atou-a a cintura», para não ficar completamente nu
e para limpar os pés dos discípulos com as Suas próprias vestes (Jo 13, 2-5). Vede a que ponto se baixa a grandeza e
a glória do Verbo feito carne; para lavar os pés dos Seus discípulos, «deitou água na bacia».
«Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu
encontro, prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante sem
parar em casa do teu servo» (Gn. 18, 2-3).
Mas Abraão não leva pessoalmente a água e não declara que vai lavar os pés dos estrangeiros que chegaram a casa
dele, mas diz antes: «Permiti que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta
árvore». Nem José trouxe água para lavar os pés aos seus onze irmãos: foi o seu intendente que os mandou entrar
em casa e seguidamente «deram-lhes água para lavarem os pés» (Gn.43,24). Mas Aquele que declarou que «o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir» (Mt.20,28) e que disse, de pleno direito, «aprendei de Mim,
porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), deitou pessoalmente água na bacia. Sabia que ninguém, com
exceção d'Ele, podia lavar os pés aos discípulos de forma que essa purificação lhes permitisse tomar parte com Ele.
Penso que a água era uma palavra capaz de lavar os pés aos discípulos, quando eles se aproximassem da bacia ali
colocada para eles por Jesus.
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Comentário do Evangelho de João 32, 4; PG 14, 741-752 (a partir da trad. Evangile selon Jean, DDB 1985, p.
116)
«Aqui está o Meu servo»
No decurso de uma refeição, Jesus levantou-Se da mesa e despojou-Se das Suas vestes, tomando a aparência de
escravo, como demonstram estas palavras: «tomou uma toalha e atou-a a cintura», para não ficar completamente nu
e para limpar os pés dos discípulos com as Suas próprias vestes (Jo 13, 2-5). Vede a que ponto se baixa a grandeza e
a glória do Verbo feito carne; para lavar os pés dos Seus discípulos, «deitou água na bacia».
«Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu
encontro,
prostrou-se
por
terra
e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante sem parar em casa do teu servo»
(Gn.18,2-3). Mas Abraão não leva pessoalmente a água e não declara que vai lavar os pés dos estrangeiros que
chegaram a casa dele, mas diz antes: «Permiti que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai
debaixo desta árvore». Nem José trouxe água para lavar os pés aos seus onze irmãos: foi o seu intendente que os
mandou entrar em casa e seguidamente «deram-lhes água para lavarem os pés» (Gn.43, 24).
Mas Aquele que declarou que «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir» (Mt.20,28) e que
disse, de pleno direito, «aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt.11,29), deitou
pessoalmente água na bacia. Sabia que ninguém, com exceção d'Ele, podia lavar os pés aos discípulos de forma que
essa purificação lhes permitisse tomar parte com Ele. Penso que a água era uma palavra capaz de lavar os pés aos
discípulos, quando eles se aproximassem da bacia ali colocada para eles por Jesus.
Comentário feito por:
S. Fulgêncio de Ruspe (467-532), bispo
Sermão 3, para a festa de Santo Estêvão; CCL 91ª, 905 (trad. breviário)
«É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo.13, 35).
A caridade que fez Cristo descer do céu à terra foi a mesma que elevou Santo Estêvão da terra ao céu. O amor, que
primeiro
existia
no
Rei,
resplandeceu
a
seguir
no
soldado
Para onde Estêvão subiu primeiro, martirizado à vista de Paulo, foi para onde Paulo o seguiu, socorrido pelas
orações de Estêvão. Aqui está a verdadeira vida, meus irmãos, aquela em que Paulo não ficou abatido pela morte de
Estêvão, mas em que Estêvão se alegrou com a companhia de Paulo, porque a caridade leva a alegria tanto a um
como ao outro. Em Estêvão, o amor foi superior à hostilidade dos seus inimigos; em Paulo, «a caridade cobriu uma
multidão de pecados» (1P.4,8). Num, como no outro, o amor conseguiu, de modo idêntico, alcançar o Reino dos
céus. A caridade é, pois, a fonte e origem de todos os bens, uma proteção invencível, a via que conduz ao céu.
Aquele que caminha segundo a caridade não poderá afastar-se, nem ter medo. Ela dirige, ela protege, ela conduz à
meta. Por isso, meus irmãos, dado que Cristo preparou a escada da caridade, pela qual todo o cristão pode subir ao
céu, sede cuidadosamente fiéis a esse amor, praticai-o entre vós e, progredindo no amor, fazei a vossa ascensão.
Comentário feito por:
Santa Teresa-Benedita da Cruz (Edith Stein) (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
Meditação para o dia 6 de Janeiro de 1941 (a partir da trad. Source cachée, p. 271)
Santo Estêvão ofereceu a vida ao Menino Jesus, como quem Lhe oferece ouro
Bem perto do Salvador recém-nascido, encontramos Santo Estêvão. O que foi que valeu este lugar de honra àquele
que foi o primeiro a prestar ao Crucificado o testemunho do sangue? Em seu ardor juvenil, ele realizou aquilo que o
Senhor declarou ao entrar neste mundo: «Deste-Me um corpo. “Eis-Me aqui, para fazer a Tua vontade» (Hb.10,5-7).
Ele praticou a obediência perfeita, que mergulha as suas raízes no amor e se exterioriza no amor.
Seguiu os passos do Senhor naquilo que é mais difícil, por natureza e para o coração humano, naquilo que parece
mesmo ser impossível; tal como o próprio Salvador, cumpriu o mandamento do amor aos inimigos. O Menino que
está na manjedoura, que veio cumprir a vontade de Seu Pai até a morte na cruz, vê em espírito, diante de Si, todos
aqueles que o seguirão por esse caminho. Ele ama este jovem, que será o primeiro a ser colocado junto ao trono do
Pai, com a palma na mão. Aquela mãozinha aponta-o como modelo, como se dissesse: Vede o ouro que espero de
vós.
Mt.(11,25-30)– DDDE - p.1297
25.Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos
sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos.
26.Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
27.Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a
quem o Filho quiser revelá-lo.
28.Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei.
29.Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas
almas.
30.Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hippone (África do Norte) e doutor da Igreja
Confissões, I, 1-5
«Vinde a mim, todos que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei»- (v.28)
«Tu és grande, Senhor e digno de louvor» (Sl.144,3). «Grande e poderoso é o nosso Deus, a sua sabedoria não tem
limites» (Sl.146,5), e no entanto o homem quer louvar-te, o homem que é apenas uma pequena parcela da tua
criação, o homem que leva com ele por toda a parte a sua mortalidade, que leva com ele o testemunho do seu
pecado e que reconhece que «tu te opões ao orgulhoso». Contudo, parcela insignificante da tua criação, o homem
quer louvar-te. És tu quem o impulsionas a procurar a sua alegria no teu louvor, porque tu nos fizeste para ti, e o
nosso
coração
não
descansa
enquanto
não
repousa
em
ti...
« Louvarão o Senhor aqueles que o buscam» (Sl.21,27). Os que o procuram encontrá-lo-ão, e os que o encontram
louvá-lo-ão. Portanto, que eu te procure Senhor, invocando-te, e que te invoque, acreditando em ti! Porque tu nos
foste revelado pela pregação. Ela invoca-te, Senhor, esta fé que tu me deste, esta fé que me inspiraste pela
humanidade do teu Filho, pelo ministério do teu pregador. E como te invocarei, ó meu Deus e meu Senhor? Quando
te invocar, pedir-te-ei para vires a mim. Mas há em mim um lugar onde o meu Deus possa vir, esse Deus «que fez o
céu e a terra» (Gn 1,1)? Sim, Senhor meu Deus, há em mim alguma coisa que te possa abarcar? O céu e a terra que
tu criaste, e nos quais me criaste, podem conter-te?... Dado que eu mesmo existo, posso eu pedir-te que venhas a
mim, eu que não existiria se tu não existisses em mim?...Quem me concederá que repouse em ti? Quem me
concederá que venhas ao meu coração, que o entusiasmes para que eu esqueça os meus males e possa escutar-te, a
ti, meu único bem? Quem és tu para mim? Tem piedade de mim, para que eu possa falar. Que sou eu a teus olhos,
para que tu me mandes amar-te?... Na tua misericórdia, Senhor meu Deus, diz-me o que é que tu és para mim.
«Dizei à minha alma: eu sou a tua salvação» (Sl 34,3); que eu o perceba. Aqui está a orelha do meu coração à escuta
diante de ti. Senhor, faz com que ela te ouça, e «dizei à minha alma: eu sou a tua salvação». Eu quero acorrer a esta
palavra e apreendê-la finalmente.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 34; a partir da trad. de CCL 41, 423-426
«Bendigo-te, ó Pai»
Somos convidados a cantar ao Senhor um cântico novo (Sl 149, 1). É o homem novo que conhece este cântico novo.
O cântico é alegria e, se o analisarmos com mais atenção, também é amor. Aquele que sabe amar a vida nova
conhece esse cântico novo. Mas também é necessário que estejamos conscientes do que é a vida nova por causa do
cântico novo. Tudo isto faz arte do mesmo Reino: o homem novo, o cântico novo, a nova aliança. O homem novo
cantará
um
cântico
novo
e
fará
parte
da
nova
aliança.
«Eis-me a cantar», dirás. Cantas, sim, tu cantas: estou a ouvir-te. Mas toma cuidado para que a tua vida não dê um
testemunho contrário ao da tua língua. Cantai com a voz, cantai com o coração, cantai com a boca, cantai com a
vossa conduta, «cantai ao senhor um cântico novo».
Se vos questionais sobre o que deveis cantar Àquele que amais, e procurais louvores para Lhe cantar, «louvai-O na
assembléia dos fiéis» (Sl 149, 1). O cântico de louvor é o próprio cantor. Quereis cantar os louvores de Deus? Sede
o que cantais. Vós sois o Seu louvor, se viverdes bem.
Mt.(12,24-32) –DDDE - pg.1298
24.Mas, ouvindo isto, os fariseus responderam: É por Beelzebul, chefe dos demônios, que ele os expulsa.
25.Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa
dividida contra si mesma não pode subsistir.
26.Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino?
27.E se eu expulso os demônios por Beelzebul, por quem é que vossos filhos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes.
28.Mas, se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus.
29.Como pode alguém penetrar na casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem ter primeiro amarrado
este homem forte? Só então pode roubar sua casa.
30.Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha.
31.Por isso, eu vos digo: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será
perdoada.
32.Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem
neste século nem no século vindouro.
– O possuído que era cego e mudo. Caso do qual os fariseus acusavam Jesus de estar expulsando o diabo com a
ajuda de Belzebu.
Mt.12,32-48 – DDDE – p.1298
32.Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem
neste século nem no século vindouro.
33.Ou dizeis que a árvore é boa e seu fruto bom, ou dizeis que é má e seu fruto, mau; porque é pelo fruto que se conhece a árvore.
34.Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração.
35.O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira coisas más de seu mau tesouro. 36.Eu vos digo: no dia do
juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido.
37.É por tuas palavras que serás justificado ou condenado.
38.Então alguns escribas e fariseus tomaram a palavra: Mestre, quiséramos ver-te fazer um milagre.
39.Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas:
40.do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe, assim o Filho do Homem ficará três dias e três noites no seio
da terra.
41.No dia do juízo, os ninivitas se levantarão com esta raça e a condenarão, porque fizeram penitência à voz de Jonas. Ora, aqui está quem
é mais do que Jonas.
42.No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará com esta raça e a condenará, porque veio das extremidades da terra para ouvir a sabedoria
de Salomão. Ora, aqui está quem é mais do que Salomão.
43.Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha.
44.Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada.
45.Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem tornase pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa.
46.Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar.
47.Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te.
48.Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Sobre a unidade, 26-27 (a partir da trad. de DDB 1979, p. 49 e AELF)
«Estai preparados»
Era no nosso tempo que o Senhor estava a pensar quando disse: «Quando o Filho do Homem voltar encontrará a fé
sobre a terra?» (Lc.18,8). Vemos realizar-se esta profecia. Já não acreditamos no temor de Deus, nem na lei da
justiça, nem na caridade, nem nas boas obras.Tudo aquilo que a nossa consciência temia, porque acreditava, deixou
de temer, porque já não crê. Porque, se cresse, estaria vigilante; e, estando vigilante, salvar-se-ia.
Despertemos pois, meus irmãos muito queridos, tanto quanto formos capazes. Sacudamos o sono da nossa inércia.
Velemos de forma a observar e a praticar os preceitos do Senhor. Sejamos como Ele nos recomendou que fossemos
quando disse: «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que
esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a
quem
o
senhor,
quando
vier,
encontrar
vigilantes!».
Sim, permaneçamos vigilantes, com receio de que venha o dia da nossa partida e nos encontre tolhidos e
empedernidos. Que a nossa luz brilhe e irradie em boas obras, que ela nos encaminhe da noite deste mundo para a
luz e para a caridade eterna. Aguardemos com zelo e prudência a chegada súbita do Senhor, a fim de que, quando
Ele bater à porta, a nossa fé esteja desperta para d'Ele receber a recompensa pela nossa vigilância. Se observarmos
estas ordens, se retivermos estes conselhos e estes preceitos, as manhas enganosas do Acusador não conseguirão
atingir-nos durante o sono. Mas, reconhecidos como servos vigilantes, reinaremos com Cristo triunfador.
Mt.13,19 – DDDE – p.1299
19.quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele
que recebeu a semente à beira do caminho.
Mt.13,39 – DDDE –p.1.300
39.O inimigo, que o semeia, é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos.
Mt.(15,1-14)- DDDE- p.1302
1.Alguns fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com Jesus e lhe disseram:
2.Por que transgridem teus discípulos a tradição dos antigos? Nem mesmo lavam as mãos antes de comer. 3.Jesus respondeu-lhes: E vós,
por que violais os preceitos de Deus, por causa de vossa tradição?
4.Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte (Ex.20,12; 21,17).
5.Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus,
6.esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus.
7.Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías:
8.Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim.
9.Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is .9,13).
10.Depois, reuniu os assistentes e disse-lhes:
11.Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem.
12.Então se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe: Sabes que os fariseus se escandalizaram com as palavras que ouviram?
13.Jesus respondeu: Toda planta que meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz. 14.Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora,
se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.
-Deve-se ter em mente que Jesus até mesmo corrigia algumas crenças supersticiosas de menor importância que essa
sobre a existência do diabo, tais como , por exemplo, quando Ele falou claramente sobre a aparência exterior na
observância da lei por parte dos escribas e hipocrisia dos fariseus.
- O mesmo Jesus falou claramente quando baniu a idéia de que os judeus tinham uma indisposição que era
resultada de um pecado pessoal cometido pelo indivíduo. E se necessário fosse, Jesus teria falado muito mais
energicamente se tivesse que corrigir as crenças religiosas erradas que eles tinham a respeito do diabo!
Mt.15,21-28 – DDDE – p.1303 - A filha da mulher de Canaã.
21.Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia.
22.E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente
atormentada por um demônio.
23.Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com
seus gritos.
24.Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. 25.Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele,
dizendo: Senhor, ajuda-me!
26.Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _
27.Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...
28.Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.
29.Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali.
Mt.16,13-23-DDDE p.1304 – Pedro exprime sua fé em Jesus.
13.Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?
14.Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas.
15.Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?
16.Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
17.Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos
céus.
18.E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19.Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado
nos céus.
20.Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.
21.Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos
príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.
22.Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23.Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas
dos homens!
-Jesus usa este dom no dia-a-dia da sua vida pública. O Espírito Santo inspira Jesus a fazer discernimentos
importantíssimos e desconcertantes até quando Pedro exprime sua fé e Ele faz o primeiro anúncio de sua Paixão.
- Em primeiro lugar, Jesus pergunta a Pedro quem ele pensava que Ele era; Pedro responde: ”Tu és o Cristo, o Filho
de Deus vivo!” (v.16).
- Diante da resposta de Pedro à sua pergunta, Jesus reagiu dando glória ao Pai que havia revelado a Pedro quem ele
era. Reagiu declarando que aquela resposta não tinha vindo da humanidade de Pedro, mas do Pai (v.17), pois sabia
que um homem não tinha como concluir, sem a graça ,que Ele era o Messias.
- Como vimos Jesus discerniu que a resposta de Pedro, vinha de Deus.
- (v.17) “Feliz és, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto,mas meu Pai que
está nos céus”.
- Logo depois Jesus começa a manifestar aos seus discípulos o sofrimento e a morte pelos quais haveria de passar,
anuncia sua paixão, e Pedro diz a Jesus: “ Que Deus não permita isto, Senhor! “Isto não te acontecerá”. (v.22).
- A falta de fé, o desejo de agradar, a falta de visão espiritual devido a pouca fé, deram entrada a Satanás no
pensamento e nos sentimentos de Pedro. A humanidade decaída de Pedro, deixou-se levar pelos embustes do
inimigo, cujas palavras pareciam boas e adequadas, como na tentação do Paraíso.Jesus reage de maneira firme e
franca:
- “Afasta-te, Satanás, tu és para mim um escândalo;teus pensamentos não são de Deus,mas dos homens!”. (v.23).
Pois havia discernido que o que Pedro dissera vinha do inimigo, para afastá-lo do plano do Pai, e que o inimigo
utilizava a humanidade fraca de Pedro cuja mentalidade não estava ainda inteiramente transformada pelo Espírito
Santo.
- Como muitos judeus, Pedro esperava ainda um Messias vitorioso, glorioso, libertador dos romanos. Porém, estes
pensamentos não vinham de Deus, mas de Satanás, que os inspirava aos homens a fim de que eles não aceitassem o
Evangelho em toda a plenitude.
Comentário feito por:
S. Leão Magno (? - cerca 461), papa e doutor da Igreja
4º Sermão para o aniversário da sua ordenação
“Sobre esta pedra construirei a minha Igreja” – (v.18)
Nada escapava à sabedoria e ao poder de Cristo: os elementos da natureza estavam ao seu serviço, os espíritos
obedeciam-lhe, os anjos serviam-no… E, contudo, no universo inteiro, só Pedro foi escolhido para presidir à
chamada dos povos, à direção de todos os apóstolos e de todos os Padres da Igreja. Assim, embora haja no povo de
Deus muitos padres e muitos pastores, Pedro governá-los-ia pessoalmente a todos, como Cristo também os governa
com o título de chefe.O Senhor pergunta a todos os apóstolos qual é a opinião dos homens a seu
respeito. E eles dizem todos a mesma coisa, bem como expõem longamente as dúvidas provenientes da ignorância
humana. Mas assim que o Senhor exige conhecer os sentimentos dos próprios discípulos, o primeiro a confessar o
Senhor é aquele que é o primeiro na dignidade de apóstolo. Como ele disse: “Tu és o Messias, o Filho do Deus
vivo”, Jesus respondeu-lhe: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to
revelaram, mas meu Pai que está nos céus”. Foi a inspiração do céu que te instruiu; não foi a carne nem o sangue
que te permitiram descobrir-me, mas aquele do qual eu sou o Filho único.“E eu, declaro-te”, quer dizer; tal como
meu Pai te manifestou a minha divindade, também eu te faço conhecer a tua superioridade.
“Tu és Pedro”, quer dizer: Eu sou a rocha inabalável, a pedra angular que de dois povos fez um só (Ef.2,14), o
fundamento que ninguém pode substituir por outro (1Co.3,11), mas também tu és pedra, porque és sólido pela
minha força, e o que me é próprio pelo meu poder, tu o tens em comum comigo pelo fato de estares em comunhão
comigo.“Sobre esta pedra, construirei a minha Igreja”. Sobre a solidez deste fundamento, disse ele, eu construirei
um templo eterno, e a minha Igreja, cujo cume chegará ao céu, elevar-se-á sobre o fundamento desta fé
Comentário feito por :
São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja
Primeiro sermão para a festa dos santos Pedro e Paulo, 1, 3, 5 (trad. Orval)
«Roguei por ti a fim de que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos» . (Lc.22,32)
Cristo Mediador «que não cometeu pecado e cuja boca não proferiu mentira.» (1Pd.2,22). Como ousaria eu
aproximar-me d'Ele, eu pecador, um grande pecador, cujos pecados são mais numerosos que a areia do mar? Ele é
tudo o que há de mais puro e eu de mais impuro. Foi por isso que Deus me deu estes apóstolos, que são homens e
pecadores, grande pecadores, que aprenderam por si mesmos e através da sua experiência a que ponto deveriam ser
misericordiosos para com os outros. Culpados de grandes faltas, eles perdoarão facilmente os grandes pecados e
usarão conosco a medida que serviu para eles (cf. Lc.6,38).O apóstolo Pedro cometeu um grande pecado, talvez não
haja pecado maior do que aquele. Ele foi tão pronta e facilmente perdoado que nada perdeu do privilégio da sua
primazia. E Paulo, que havia desencadeado um furor sem limites contra a Igreja emergente, foi levado para a fé pelo
apelo do próprio Filho de Deus. Como paga de tantos males, recebeu tantos bens que se tornou «o instrumento
escolhido para levar o nome do Senhor perante os pagãos, os reis e os filhos de Israel» (At.9,15). Pedro e Paulo são
os nossos mestres: aprenderam plenamente com o único Mestre de todos os homens os caminhos da vida, e ainda
hoje no-los ensinam.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão atribuído (a partir da trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 399)
«Chamar-te-ás Pedro» (Jo.1,42)
«Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja.» Este nome, Pedro, foi-lhe dado porque ele foi o primeiro
a criar, entre as nações, os fundamentos da fé, e porque ele é a rocha indestrutível sobre a qual assentam os pilares e
o conjunto do edifício de Jesus Cristo. Foi pela sua fidelidade que lhe chamaram pedra, enquanto o Senhor recebe
este mesmo nome pelo Seu poder, segundo a palavra de São Paulo: «Eles bebiam a água da pedra espiritual que os
seguia, e esta Pedra é Jesus Cristo» (1Co.10,4). Sim, ele merecia partilhar o nome com Jesus Cristo, pois foi o
apóstolo escolhido para ser o colaborador da Sua obra. Em conjunto, construíram o mesmo edifício.
É Pedro quem planta, é o Senhor que dá o crescimento, é o Senhor que envia aqueles que deverão regar
(cf.1Co.3,6ss.).Vós sabeis, irmãos muito amados, que foi a partir das suas próprias faltas, no momento em que o seu
Salvador sofria, que o bem-aventurado Pedro foi educado. Foi depois de ter negado o Senhor que ele se tornou o
primeiro perante Ele. Ao tornar-se mais fiel por chorar sobre a fé que tinha traído, recebeu uma graça ainda maior
do que aquela que tinha perdido. Cristo confiou-lhe o Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele
que tinha sido tão fraco, tornou-se então o apoio de todos. Ele que, interrogado na sua fé, tinha sucumbido,
precisava confirmar os outros no fundamento inabalável da fé. E por isso que é chamado a pedra fundamental da
piedade das Igrejas.
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre S. Pedro e Sto. Elias
“Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”- (v.18)
Pedro devia receber as chaves da Igreja, mais ainda, as chaves dos céus, e devia ser-lhe confiada a governança de
um povo numeroso. Se, com a tendência que tinha para a severidade, Pedro tivesse permanecido sem pecado, como
poderia ser misericordioso com os seus discípulos? Ora, por uma disposição da graça divina, caiu no pecado, por
forma a que, tendo tido a experiência da sua própria miséria, pudesse ser bom para com os outros.
Repara bem: quem cedeu ao pecado foi Pedro, o chefe dos apóstolos, o fundamento sólido, a rocha indestrutível, o
guia da Igreja, o porto invencível, a torre inabalável, ele que tinha dito a Cristo: “Mesmo que tenha de morrer
contigo, não Te negarei” (Mt.26,35); ele que, por uma revelação divina, tinha confessado a verdade: “Tu és o
Messias, o Filho de Deus vivo.”Ora, narra o Evangelho que, na própria noite em que Jesus foi entregue, uma jovem
diz a Pedro: “Também tu estavas com aquele homem”, ao que Pedro responde: “Não conheço esse homem”
(Mt.26,69-72). Ele, a coluna, a muralha, cede perante as suspeitas de uma mulher. Jesus fixou nele o olhar, Pedro
compreendeu, arrependeu-se do seu pecado e desatou a chorar. É então que o Senhor misericordioso lhe concede o
seu perdão. Ele foi submetido ao pecado para que a consciência da sua culpa e do perdão recebido do Senhor o
levasse a perdoar aos outros por amor. Realizava assim uma disposição providencial, conforme a maneira divina de
agir. Foi necessário que Pedro, a quem a Igreja seria
confiada, a coluna das Igrejas, a porta da fé, o médico do mundo, se mostrasse fraco e pecador. Assim foi, na
verdade, para que ele descobrisse na sua fraqueza uma razão para exercer a bondade para com os outros homens.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 07.VI.06
Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja – (v.18)
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e tudo quanto
ligares na terra ficará ligado nos Céus, e tudo quanto desligares na terra será desligado nos Céus” (Mt.16,18-19). As
três metáforas às quais Jesus recorre são muito claras: Pedro será o fundamento, a rocha sobre o qual se apoiará o
edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino dos céus, para abrir ou fechar a quem melhor julgar; por fim, poderá
ligar ou desligar, no sentido em que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja,
que é e permanece a Igreja de Cristo. Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro verifica-se
também depois da ressurreição (Mc.16,7; Jo.20, 2. 4-6). Pedro será, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de
uma aparição do Ressuscitado (Lc.24,34; 1Co.15, 5). Este seu papel, realçado com decisão (Jo. 20, 3-10), marca a
continuidade entre a preeminência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade
que nasceu depois dos acontecimentos pascais. Vários textos-chave relativos a Pedro podem ser relacionados com o
contexto da Última Ceia, no decurso da qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os seus irmãos
(Lc.22,31ss.). Esta contextualização do primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia,
Páscoa do Senhor, indica também o sentido último deste primado: Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião
da comunhão com Cristo; deve conduzir à comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se rompa
(Jo.21,11), para que possa perdurar a comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de
todos. A responsabilidade de Pedro é, pois, a de garantir a comunhão com Cristo pela caridade de Cristo,
conduzindo à realização desta caridade na vida de todos os dias. Rezemos para que o primado de Pedro, confiado a
pobres pessoas humanas, possa ser sempre exercido neste sentido originário querido pelo Senhor e para que, desse
modo, o seu verdadeiro significado possa ser cada vez mais reconhecido pelos irmãos que ainda não estão em plena
comunhão
conosco
Comentário feito por:
São Clemente de Roma, papa entre 90 e 100, aprox.
Carta aos Coríntios, 5-7
O mais antigo testemunho histórico do martírio de Pedro e de Paulo
Deixemos estes exemplos de perseguição no Antigo Testamento para nos concentrarmos nos atletas mais próximos
de nós; evoquemos os exemplos valentes da nossa geração. O ciúme e a inveja desencadearam perseguições contra
os mais elevados e mais justos pilares da Igreja, que combateram até a morte. Olhemos os santos apóstolos: Pedro,
por causa de um ciúme injusto, foi sujeito, não a um nem a dois, mas a numerosos sofrimentos; depois de assim ter
dado o seu testemunho, partiu para o descanso na glória que tinha merecido. O ciúme e a discórdia permitiram a
Paulo mostrar como se obtém o prêmio reservado à constância. Sete vezes feito prisioneiro, exilado, lapidado,
tornado pregador do evangelho no Oriente e no Ocidente, recebeu a fama que corresponde à sua fé. Depois de ter
ensinado a justiça ao mundo inteiro, até aos confins do Ocidente, deu testemunho diante das autoridades; foi assim
que abandonou este mundo para ir para o descanso da santidade. Modelo supremo de coragem! A estes homens que
levaram uma vida santa, veio juntar-se uma grande multidão de eleitos que, em conseqüência do ciúme, sofreram
todo o gênero de maus tratos e suplícios, e deram um exemplo magnífico entre nós.
Escrevemo-vos tudo isto, bem amados, não apenas para vos advertir, mas também para vos exortar. Porque nos
encontramos na mesma arena; espera-nos o mesmo combate. Deixemos, pois, as nossas vãs e inúteis preocupações,
para seguirmos a regra gloriosa e venerável da nossa tradição. Tenhamos os olhos fixados naquilo que é belo,
naquilo que é agradável aos olhos daquele que nos criou, naquilo que lhe toca. Fixemos o olhar no sangue de Cristo
e compreendamos o valor que tem para Deus seu Pai, pois que, derramado pela nossa salvação, obteve para o
mundo a graça da conversão.
Comentário feito por:
São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo
Sermão CC1
«Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu»
O Senhor reconheceu em Pedro o intendente fiel, a quem confiou as chaves do Reino, e em Paulo um mestre
qualificado, a quem encarregou de ensinar na Igreja. Para prometer aos que foram formados por Paulo que
encontrariam a salvação, era preciso que Pedro os acolhesse para lhes dar repouso. Quando Paulo tiver aberto os
corações com a sua pregação, Pedro abrirá às almas o Reino dos Céus. Assim, pois, também Paulo recebeu de
Cristo uma espécie de chave, a chave da ciência, que permite abrir em profundidade os corações endurecidos para a
fé, para em seguida trazer à superfície, por uma revelação espiritual, aquilo que se encontrava escondido no interior.
Trata-se de uma chave que deixa escapar da consciência a confissão do pecado e que nela encerra para sempre a
graça do mistério do Salvador.Ambos receberam, pois, chaves das mãos do Senhor; um deles recebeu a chave da
ciência, o outro a chave do poder; este dispensa as riquezas da imortalidade, aquele distribui os tesouros da
sabedoria. Porque há tesouros do conhecimento, como está escrito: «O mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual
estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Cl.2,2-3).
Comentário feito por:
Santo Hilário (c. 315 - 367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja
Comentários sobre Mateus, 16
"Tu és o Filho do Deus vivo"
O Senhor tinha perguntado: "Quem dizem os homens que é o Filho do homem?" Naturalmente que o aspecto do seu
corpo manifestava o Filho do homem mas, ao fazer esta pergunta, ele dava a entender que, para além do que se
pudesse ver nele, havia outra coisa a discernir... O objeto da pergunta era um mistério para o qual se devia orientar a
fé dos crentes.A confissão de Pedro obteve plenamente a recompensa que merecia por ter visto naquele homem o
Filho de Deus. "Feliz" é ele, louvado por ter alongado a sua vista para além dos olhos humanos, não olhando para o
que vinha da carne e do sangue mas contemplando o Filho de Deus revelado pelo Pai dos céus. Foi considerado
digno de ser o primeiro a reconhecer o que em Cristo era de Deus. Que belo alicerce pôde ele dar à Igreja,
confirmado pelo seu novo nome!
Ele torna-se a pedra digna de edificar a Igreja de forma a que ela rompa as leis do inferno... e todas as cadeias da
morte. Feliz porteiro do céu a quem são confiadas as chaves do acesso à eternidade; a sua sentença na terra antecipa
a autoridade do céu, de tal forma que o que tiver ligado ou desligado na terra sê-lo-á também no céu. Jesus ordena
ainda aos discípulos que não digam a ninguém que ele é o Cristo porque vai ser preciso que outros, quer dizer, a Lei
e os profetas, sejam testemunhas do seu Espírito, uma vez que o testemunho da ressurreição caberá aos apóstolos. E,
assim como foi manifestada a felicidade daqueles que conhecem Cristo no Espírito, foi igualmente manifestado o
perigo de se desconhecer a sua humildade e a sua Paixão.
Comentário feito por:
Beata Teresa de Calcutá (1910-1097), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não há maior amor
O sacramento da reconciliação: "Tudo o que tiveres desligado na terra será desligado nos céus"
A confissão é um ato magnífico, um ato de grande amor. Só ali nos podemos dirigir como pecadores, portadores do
pecado; só dali podemos regressar como pecadores perdoados, sem pecado.A confissão não é senão a humildade em
ação. Chamávamos-lhe outrora penitência, mas trata-se verdadeiramente de um sacramento de amor, do sacramento
do perdão. Quando uma brecha se abre entre mim e Cristo, quando o meu amor cria fissuras, qualquer coisa pode
vir ocupar esse interstício. A confissão é aquele momento em que permito a Cristo que retire de mim tudo o que
divide, tudo o que destrói. A realidade dos meus pecados deve aparecer em primeiro lugar. À maior parte de nós,
espreita o perigo de esquecer que somos pecadores e que devemos dirigir-nos à confissão enquanto tal. Devemos
dirigir-nos a Deus para lhe dizer quanto estamos desolados por tudo o que pudemos ter feito e que o feriu.O
confessionário não é lugar para conversas banais ou tagarelices. O que aí importa é apenas um assunto - os meus
pecados, o meu arrependimento, o meu perdão, como vencer as minhas tentações, como praticar a virtude, como
crescer no amor de Deus.
Mt.(16,21-27)– DDDE - p.1304
21.Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos
príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.
22.Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23.Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas
dos homens!
24.Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.
25.Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.
26.Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?...
27.Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 96 (§4-9)
«Renunciar a si mesmo, tomar a própria cruz e seguir a Cristo»
Aquilo que o Senhor ordenou – «Se alguém quer vir Comigo, renuncie a si mesmo» – parece duro e penoso. Mas
não é duro nem penoso, quando Aquele que ordena ajuda a realizar aquilo que ordena. Porque, se é verdadeira a
palavra do salmo que diz: «por causa
das palavras dos teus lábios, segui caminhos difíceis» (Sl.16,4), também é verdadeira a palavra de Jesus, que disse:
«o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve» (Mt.11,30). É que o amor suaviza tudo aquilo que no mandamento é
árduo. Sabemos bem de que prodígios é capaz o amor. Por vezes, o amor é mal aliado, e dissoluto; mas quantas
dificuldades sofrem os homens, que tratamentos indignos e insuportáveis estão dispostos a agüentar para
alcançarem aquilo que amam! . Como o grande negócio da vida será escolher adequadamente aquilo que se deve
amar, será de admirar que aquele que ama a Jesus Cristo e quer segui-Lo renuncie a si mesmo para amá-lo? E o que
significa o que vem a seguir: «Tomar a própria cruz»? Que ele suporte aquilo que é penoso e Me siga. Porque,
quando um homem começa a seguir-Me, comportando-se segundo os Meus preceitos, há muito quem o contradiga,
muito quem se oponha a ele, muito quem o desencoraje, também entre aqueles que afirmam serem companheiros de
Cristo, que são os mesmos que impedem os cegos de gritar por Ele (Mt. 20, 31). Sejam ameaças, lisonjas ou
proibições, se queres seguir a Cristo, transforma tudo isso em cruz; agüenta, suporta, sem te deixares esmagar.
Amais o mundo; mas convém amar mais Aquele que fez o mundo. Estamos num mundo que é santo, que é bom,
que foi reconciliado, que foi salvo, ou antes, que tem de ser salvo, mas que é salvo, desde já, na esperança. «Porque
na esperança é que fomos salvos» (Rm.8,24). Assim, pois, neste mundo, ou seja, na Igreja, que segue a Cristo, Ele
diz-nos a todos: «Se alguém quer vir Comigo, renuncie a si mesmo.»
Mt.(17,1-9) –– DDDE - p.1304/5 – Transfiguração.
1.Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha.
2.Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.
3.E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele.
4.Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e
outra para Elias.
5. Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: Eis o meu
Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o.
6.Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo.
7.Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: Levantai-vos e não temais.
8.Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus.
9.E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.
Comentário feito por:
S. Leão Magno (? - c. 461), papa e doutor da Igreja
Sermão 51
"Este é o meu Filho bem-amado...; escutai-O!" – (v.5)
Os apóstolos, que precisavam ser confirmados na sua fé, receberam no prodígio da Transfiguração um ensinamento
adequado para levá-los ao conhecimento de todas as coisas. Com efeito, Moisés e Elias, quer dizer, a Lei e os
profetas, apareceram conversando com o Senhor. Tal como diz S. João: "A Lei foi comunicada por Moisés; a graça
e a verdade vieram por Jesus Cristo" (1,17). O apóstolo Pedro estava, por assim dizer, arrebatado em êxtase com o
desejo dos bens eternos; cheio de alegria com tal visão, desejava habitar com Jesus naquele lugar em que a Sua
glória, assim manifestada, o
cumulava de júbilo. Por isso, diz: "Senhor, é bom estarmos aqui; se quiseres, farei aqui três tendas, uma para ti,
outra para Moisés e outra para Elias". Mas o Senhor não respondeu a esta proposta, querendo naturalmente mostrar
não que aquele desejo era mau, mas que era deslocado. Porque o mundo só podia ser salvo pela morte de Cristo e o
exemplo do Senhor exortava a fé dos crentes a compreender que, sem que nos seja permitido duvidar da felicidade
prometida, é preciso, no meio das tentações desta vida, pedir mais a paciência do que a glória, porque a felicidade
do Reino não pode preceder o tempo do sofrimento. Foi por isso que, enquanto ele falava ainda, uma nuvem
luminosa os envolveu e do meio da nuvem uma voz proclamou: "Este é o meu Filho bem-amado, em quem pus todo
o meu amor; escutai-O"... "Este é o meu Filho, por Ele tudo foi feito e sem Ele nada foi feito" (Jo.1,3). Tudo o que
Eu faço, Ele o faz também; tudo o que Eu realizo, Ele o realiza comigo, inseparavelmente, sem diferença (Jo.5,17-
19)... Este é o meu Filho, que não se apropriou ciosamente dessa igualdade que tinha comigo, não reivindicou o seu
direito, mas, sem deixar a minha glória divina, humilhou-se até à condição de servo (Fl.,6sg), para cumprir o nosso
desígnio comum da restauração do gênero humano. Escutai sem hesitações Aquele que tem toda a minha
complacência, Aquele cuja doutrina me revela, cuja humanidade me glorifica, porque Ele é a Verdade e a Vida
(Jo.14,6). Ele é o meu poder e a minha sabedoria (1Co.1,24). Escutai-O, a Ele que resgata o mundo com o seu
sangue..., a Ele que abre o caminho do céu pelo suplício da sua cruz.
Mt.17,10-13 – DDDE – p.1305
10.Em seguida, os discípulos o interrogaram: Por que dizem os escribas que Elias deve voltar primeiro?
11.Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas.
12.Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o
Filho do Homem.
13.Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
Comentário feito por :
Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja
Oeuvres, ed. Assemani, t. 1, p. 486 (a partir da trad. Thèmes et figures, DDB 1984, coll. Pères dans la foi 28-29, p.
285)
Elias no Monte Horeb
«Eis que o Senhor vai passar. Nesse momento, passou diante dele um vento impetuoso e violento, que fendia as
montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava naquele vento» (1Rs.19,11). Em seguida, após o
furacão, ocorreram tremores de terra e relâmpagos; Elias percebeu que Deus também não estava ali. O objetivo
destes fenômenos era o de conter o zelo aliás, louvável do profeta nos limites da sua responsabilidade e ensinar-lhe,
a exemplo dos sinais da autoridade divina, que a severidade devia ser temperada com misericórdia. De acordo com
o sentido oculto, os turbilhões de vento que precederam a vinda de Deus, os tremores de terra, os incêndios ateados
pelos ventos, eram sinais precursores do juízo universal. «Após o fogo, ouviu-se um murmúrio». Através deste
símbolo, Deus refreia o zelo imoderado de Elias. Com isto quer dizer-lhe: «Vês que os ventos impetuosos não Me
agradam, nem os terríveis tremores de terra, e que também não gosto dos relâmpagos e dos raios: porque não imitas
a doçura do teu Deus? Porque não abrandas um pouco esse zelo que te consome, a fim de te tornares protector dos
homens do teu povo, em vez de seres seu acusador?» O doce murmúrio representa a alegria da vida bem aventurada
que será dada aos justos quando, no fim dos tempos, tiver lugar o temível juízo final. «Após ter escutado este
murmúrio, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou de pé à entrada da gruta e eis que uma voz lhe falou:
'Elias, que fazes aqui?' Ele respondeu: 'Sinto um zelo ardente pelo meu Senhor, o Deus dos exércitos, pois os filhos
de Israel abandonaram a Tua aliança'». O profeta manteve-se à entrada da gruta, sem ousar aproximar-se de Deus
que chegava, e cobriu o rosto, pensando que não era digno de ver Deus. No entanto, tinha perante os seus olhos um
sinal da clemência divina e, fato que devia tê-lo tocado ainda mais, passava pessoalmente pela experiência da
bondade maravilhosa de Deus nas palavras que Ele lhe dirigia. Quem não ficaria seduzido pela benevolência de uma
tão grande majestade, por uma pergunta tão doce: «Elias, que fazes aqui?»
Mt.(17,14-20) –DDDE - pg.1305
14.E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles e prostrou-se diante de Jesus,
15.dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água... 16.Já o apresentei a teus
discípulos, mas eles não o puderam curar.
17.Respondeu Jesus: Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo.
18.Jesus ameaçou o demônio e este saiu do menino, que ficou curado na mesma hora. 19.Então os discípulos lhe perguntaram em
particular: Por que não pudemos nós expulsar este demônio?
20.Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a
esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de demônio, só se pode
expulsar à força de oração e de jejum.
- Em (Mt.17,14-20 -p.1305) ; (Mc.9,14-29-p.1333); (Lc.9,37-43-p.1360),o jovem epilético ,o menino sofria de um
distúrbio mental ou epilepsia.Ao lermos estas três passagens que narram a cura do menino lunático, percebemos que
esta narrativa nos apresenta o desconsolo do pai do menino porque ele havia apresentado aos discípulos de Jesus e
estes não o haviam curado.-Esta afirmação foi feita depois que os Apóstolos haviam assumido o Ministério de Evangelização que Jesus lhes
confiara dando-lhes o poder de curar e expulsar demônios (Mt.10,1).
A razão porque os discípulos não puderam expulsar o demônio daquele menino é que, além de sua pouca fé, não se
abriram ao DDDE, que lhes teria indicado de que espírito se tratava e como seria expulso. Em sua vida pública,
Jesus discerniu várias vezes a origem das enfermidades, das palavras, dos males.
Comentário feito por:
S. Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo
Conversa com Motovilov
"Tendes muito pouca fé"- (v.20)
"O Senhor está perto dos que o invocam. Não faz acepção de pessoas. O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas
mãos" (Sl 145,18; Rm.2,11; Jo.3,35). Desde que amemos verdadeiramente o nosso Pai celeste como filhos, o
Senhor escuta de igual modo um monge e um homem do mundo, um simples cristão. Desde que ambos tenham a
verdadeira fé, amem a Deus do fundo do coração e possuam uma fé "grande como um grão de mostarda", "ambos
deslocarão montanhas". O próprio Senhor diz: "Tudo é possível àquele que crê" (Mt.9,23). E o santo apóstolo Paulo
exclama: "Posso tudo em Cristo que me dá forças" (Fl.4,13). Mais maravilhosas ainda são as palavras do Senhor a
propósito dos que crêem nele: "Aquele que acredita em mim fará também as obras que eu faço e fará ainda maiores,
porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no
Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei" (Jo.14,12-14).E é mesmo assim, ó amigo de Deus. Tudo
o que pedirdes a Deus, obtê-lo-eis, desde que o vosso pedido seja para glória de Deus ou para o bem do vosso
próximo. Porque Deus não separa o bem do próximo da sua glória: "Tudo o que fizerdes ao menor de entre vós, a
mim o fareis" (cf. Mt.25,45).
Comentário feito por:
São Thomas More (1478-1535), estadista inglês, mártir
Diálogo do Conforto contra a Tribulação
«Creio! Ajuda a minha incredulidade» (Mc.9,24)
«Senhor, aumenta-nos a fé!» (Lc.17,6).
Meditemos nas palavras de Cristo e compreendamos que, se não permitíssemos que a nossa fé amornasse, ou
mesmo que esfriasse, que perdesse a força, fazendo devanear os nossos pensamentos por futilidades, deixaríamos de
dar importância às coisas deste mundo, juntaríamos a nossa fé num cantinho da alma.Semearíamos então o grão de
mostarda no jardim do nosso coração, depois de termos arrancado todas as ervas daninhas, e a semente cresceria.
Com firme confiança na palavra de Deus, afastaríamos uma montanha de aflições; mas, se a nossa fé for vacilante,
nem um montinho de terra seremos capazes de deslocar. Para terminar esta conversa, dir-vos-ei que, dado que o
conforto espiritual pressupõe sempre uma base de fé, fé que só Deus nos pode dar, não devemos cessar nunca de lha
pedir.
Mt.(18,1-5.10) - DDDE - p.1359
1.Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?
2.Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:
3.Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.
4.Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus.
5.E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.
10.Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu
Pai que está nos céus
Comentário feito por :
São João Maria Vianney (1786-1859), sacerdote, cura de Ars
Sermão para a festa dos Santos Anjos da Guarda (in Sermons, Beauchesne 1925, t. 4)
«Os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de Meu Pai»
Meus irmãos: os anjos da guarda são os nossos amigos mais fiéis, porque estão conosco de dia, de noite, em todos
os momentos e em todos os lugares; a fé ensina-nos que os temos sempre ao nosso lado. É isso que leva David a
dizer: «Nenhum mal te acontecerá. Ele deu ordens aos Seus anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos»
Sl.91 (90), 10-11. E, para demonstrar como são grandes os desvelos que têm conosco, o profeta diz que eles nos
trazem nos braços, como uma mãe leva o seu filho. Ah! É que o bom Deus previu os perigos sem número aos quais
seríamos expostos na terra, entre tantos inimigos que não procuram senão a nossa perdição. Sim, são os nossos
anjos bons que nos consolam das nossas penas, que nos alertam quando o demônio nos vem tentar, que apresentam
a Deus as nossas orações e todas as nossas boas ações, que nos assistem na hora da morte e apresentam as nossas
almas ao juiz soberano. O trato dos anjos com os homens é tão freqüente desde o princípio do mundo que a Sagrada
Escritura se lhes refere a cada passo. Quase todos os patriarcas e profetas foram por eles instruídos acerca da
vontade do Senhor. Muitas vezes até vemos que Deus Se faz representar pelos anjos. Mas, dir-me-eis, se os
víssemos teríamos muito mais confiança neles? Se isso fosse necessário para a salvação da nossa alma, o bom Deus
tê-los-ia tornado visíveis. No entanto, isso não nos interessa, porque na nossa religião tudo conhecemos através da
fé, para que as nossas ações sejam mais meritórias. Se quereis saber o número dos anjos, as suas funções, dir-vos-ei
que são inúmeros: uns foram criados para honra de Jesus Cristo durante a Sua vida oculta, sofredora e gloriosa, ou
para serem guardiães dos homens sem que, por isso, deixem de fruir da divina presença; outros dedicam-se à
contemplação das perfeições de Deus, ou então velam pela nossa segurança e providenciam todos os meios
necessários à nossa santificação. Embora o bom Deus seja auto-suficiente utiliza o ministério dos Seus anjos para
governar o mundo.
Mt.(19,16-22)– DDDE - p.1307
16.Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus:
17.Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.
18.Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho,
19.honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
20.Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
21.Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!
22.Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.
Comentário feito por:
Clemente de Alexandria (150-c.215), teólogo
Homilia: «Os ricos salvar-se-ão?»
«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt.5,3)
Não se trata de rejeitar os bens susceptíveis de ajudar o próximo. É da natureza das posses serem possuídas; como é
da natureza dos bens difundir o bem; Deus destinou-os ao bem-estar dos homens. Os bens estão em nossas mãos
como ferramentas, como instrumentos dos quais retiramos bom uso, se soubermos manipulá-los. A natureza fez das
riquezas escravas, e não senhoras. Não se trata, pois, de depreciá-las porque, em si mesmas, não são boas nem más,
mas perfeitamente inocentes. Só de nós depende o uso, bom ou mau, que delas fizermos; o nosso espírito, a nossa
consciência, são inteiramente livres para disporem à sua vontade dos bens que lhes foram confiados. Destruamos,
pois, não os nossos bens, mas a cobiça que lhes perverte o uso. Quando nos tivermos tornado virtuosos, saberemos
usá-los com virtude. Compreendamos que esses bens dos quais nos mandam desfazermo-nos são os desejos
desregrados da alma. Nada lucrais em largar o dinheiro que tendes, se continuardes a ser ricos em desejos
desregrados. Eis de que forma concebe o Senhor o uso dos bens exteriores: temos de nos desfazer, não de um
dinheiro que nos permite viver, mas das forças que nos levam a usá-lo mal, ou seja, das doenças da alma. Temos de
purificar a nossa alma, isto é, de torná-la pobre e nua, para nesse estado ouvirmos o chamamento do Salvador:
«Vem e segue-Me». Ele é o caminho que percorre aquele que tem o coração puro. Este considera que a fortuna, o
ouro, a prata, as casas que possui, que tudo isso são
graças de Deus, e mostra-Lhe o seu reconhecimento socorrendo os pobres com os seus próprios fundos. Ele sabe
que possui esses bens, mais para os irmãos do que para si mesmo; longe de se tornar escravo das suas riquezas, é
mais forte do que elas; não as encerra na sua alma. E, se um dia o dinheiro lhe desaparecesse, aceitaria a ruína com a
felicidade dos melhores dias. É esse o homem, afirmo eu, que Deus considera bem-aventurado e a quem chama
«pobre em espírito» (MT.5, 3), herdeiro certo do Reino dos Céus, que está fechado àqueles que não souberam
desprender-se da sua opulência.
Comentário feito por
São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja
Conselhos e máximas, 169-175 (trad. OC, Cerf 1990, p. 288)
«Vem e segue-Me»
Quanto mais te separares das coisas terrenas mais te aproximarás das coisas do céu e mais riquezas em Deus
encontrarás.Aquele que souber morrer para tudo encontrará vida em tudo.Separa-te do mal, faz o bem, procura a paz
(Sl.3,15).Aquele que se queixa ou que murmura não é perfeito e nem sequer é bom cristão.Aquele que se esconde
no seu próprio vazio e sabe abandonar-se a Deus é humilde.Aquele que sabe suportar o próximo e suportar-se a si
mesmo é doce.Se queres ser perfeito, vende a tua vontade e dá-a aos pobres de espírito. Em seguida vira-te para
Cristo para obteres d'Ele a doçura e a humildade e segue-O até ao calvário e ao sepulcro.
Mt.21,23-27- DDDE – p.1310
23.Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe:
Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?
24.Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço.
25.Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos
dirá: Por que não crestes nele?
26.E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta. 27.Responderam a
Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.
Comentário feito por :
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão 288 (a partir da trad. de Thèmes et figures, DDB 1984, coll. Pères dans la foi 28-29, p. 303)
«Veio Jesus ter com João para ser batizado por ele. João opunha-se, dizendo: 'Eu é que tenho necessidade de ser
batizado por Ti!'». (Mt.3,13-14)
«Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram» (Mt.13,17). Estas santas personagens, com
efeito, cheios do Espírito de Deus para anunciar a vinda de Cristo, desejavam com ardor gozar da Sua presença
sobre a terra, se assim fosse possível. Foi por essa razão que Deus adiou a partida de Simeão deste mundo; queria
que ele pudesse contemplar, na pessoa de uma criança recém-nascida, Aquele por Quem o mundo foi criado
(Lc.2,25 ss.). Simeão viu-O com feições de menino; João, ao contrário, viu-O quando Ele já ensinava e escolhia os
Seus discípulos. Onde? Nas margens do rio Jordão. É aí, neste batismo de preparação que Lhe abria caminho, que
encontramos um símbolo e uma aproximação do batismo de Jesus Cristo: «preparai o caminho do Senhor, endireitai
as suas veredas» (Mt.3,3). O próprio Senhor quis ser batizado pelo Seu servo para fazer compreender a graça que
recebem àqueles que recebem o batismo em nome do Senhor. Foi aí que começou o Seu reino, como que a cumprir
a profecia: «dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra» (Sl.72 (71), 8). Nas margens do
rio onde o domínio de Cristo começa viu João o Salvador: viu-O, reconheceu-O e prestou-Lhe testemunho. João
humilhou-se perante a grandeza divina a fim de merecer que a sua humildade fosse ressalvada pela mesma
grandeza. Declara-se o amigo do esposo (Jo.3,29). Que amigo? Aquele que caminha em pé de igualdade? Longe
disso! Qual é a distância que ele guarda? Diz ele: «não sou digno de me inclinar para Lhe desatar as correias das
sandálias» (Mc.1,7).
Mt.(21,28-32) – p.1310 - DDDE
28.Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: - Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.
29.Respondeu ele: - Não quero. Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi.
30.Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: - Sim, pai! Mas não foi.
31.Qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro, responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos e as
meretrizes vos precedem no Reino de Deus!
32.João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem
fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.
Comentário feito por
Clemente de Alexandria (150 - c.215), teólogo
Homilia «Que rico será salvo?», 39-40
«Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus»
As portas estão abertas a todo aquele que, em sinceridade, com o coração, se voltar para Deus, e o Pai recebe com
alegria um filho que verdadeiramente se arrependa. Qual é o sinal do arrependimento verdadeiro? Não voltar a cair
em velhos erros e arrancar do coração, pela raiz, os pecados que nos punham em perigo de morte. Quando estes
estiverem apagados, Deus virá habitar-nos. Porque, como diz a Escritura, um pecador que se converte e se
arrepende encontrará no Pai e nos anjos do céu uma imensa e incomparável alegria (Lc 15,10). Eis por que o Senhor
disse : «Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios » (Os 6, 6; Mt 9,13); « Não tenho prazer na morte do ímpio,
mas sim na sua conversão » (Ez.33,11). «Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão brancos
como a neve. Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã.» (Is.1,18).
Só Deus, de fato, pode remir os pecados e não imputar erros, ainda que o Senhor Jesus nos exorte a perdoar, em
cada dia, aos irmãos que se arrependem. E se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas aos outros (Mt.7,11),
quanto não será capaz de dar «o Pai das misericórdias» (2Co.1,7)?. O Pai de toda a consolação, que é bom, cheio de
compaixão, de misericórdia e de paciência por natureza, espera os que se convertem. E a verdadeira conversão
supõe que deixemos de pecar e que não olhemos mais para trás .Lamentemos amargamente, pois, os erros
cometidos e peçamos ao Pai que os esqueça. Ele pode, na sua misericórdia, desfazer o que foi feito e, com o orvalho
do Espírito, apagar as nossas faltas passadas.
Comentário feito por:
Isaac de l'Étoile (?- c. 1171), monge cisterciense
1º Sermão para o 2º domingo da Quaresma (trad. cf. SC 207, p. 225s)
Arrepender-se a acreditar na palavra de Deus.
Irmãos, este é o momento de sair, cada um de nós por si, das vias do pecado. Saiamos da nossa Babilônia para nos
reencontrarmos com Deus, nosso Salvador, como nos advertia o Profeta: «Prepara-te para comparecer diante do teu
Deus, ó Israel!» (Am.4,12).
Abandonemos o abismo do nosso pecado e aceitemos partir em direção ao Senhor que assumiu «uma carne idêntica
à do pecado» (Rm.8,3). Libertemo-nos do desejo do mal e façamos penitência pelos nossos erros.
Assim, encontraremos Cristo, Ele que expiou o pecado que não tinha, de forma nenhuma, cometido. Então, Aquele
que salva os arrependidos dar-nos-á a salvação: «Ele é misericordioso para com aqueles que se convertem» (Si.12,3
Vulg.). Dir-me-ão: «Quem pode então, por si mesmo, sair do pecado?» Sim, na verdade, o maior pecado é o amor
que lhe temos, o desejo de cometê-lo. Por isso, despoja-te do teu desejo, odeia o mal e assim conseguirás desapegarte dele. Se odiares o pecado encontrarás a Cristo, em seu lugar. Cristo perdoa as faltas dos que odeiam o pecado e
espera que arranquemos os maus hábitos pela raiz.Mas vós dizeis que, mesmo isso é demasiado para vós e que, sem
a graça de Deus, é impossível ao homem odiar o seu pecado, desejar a justiça e querer arrepender-se: «Dêem graças
ao Senhor, pelo seu amor e pelas suas maravilhas em favor dos homens.» (Sl 106, 8) Senhor, salva--me da tibieza
do espírito e da tempestade . Ó Senhor de mão firme, Jesus todo-poderoso, tu, que libertaste a minha mente do
demônio da ignorância e arrancaste a minha vontade enfraquecida da doença das suas cobiças, liberta agora a minha
capacidade de agir de modo que, com os santos anjos, possa, também eu: «cumprir as Vossas ordens, sempre dócil à
Vossa palavra» (Sl.102,20).
Mt.(23,1-12) – pg.1312 – DDDE – Acusações contra os escribas e fariseus
1.Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos,disse:
2.Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3.Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.
4.Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5.Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6.Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas.
7.Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.
8.Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós sois todos irmãos.
9.E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10.Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.
11.O maior dentre vós será vosso servo.
12.Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.
Comentário feito por:
Máximas dos Padres do deserto (sécs. IV e V)
Macário 11 (a partir da trad. Solesmes 1966, p.217)
«Quem se humilha será exaltado» - (v.12)
Um dia, regressava Padre Macário do pântano para a cela levando umas folhas de palmeira. No caminho o diabo
veio ao seu encontro, com uma gadanha: quis feri-lo com ela, mas não conseguiu. Disse-lhe então: «Macário, por
tua causa passo por muitos tormentos, pois não posso vencer-te. No entanto, faço tudo o que tu fazes: tu jejuas, e eu
nunca como; fazes vigília, e eu nada durmo. Só me suplantas num aspecto». «Em qual?», perguntou Macário. «Na
humildade, é ela que não me deixa vencer-te».
Comentário feito por :
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terciária dominicana, doutora da Igreja, co-padroeira da Europa
Diálogos, cap. 4 (a partir da trad. Limiar 1953, p. 37 rev)
«Quem se humilhar será exaltado»
Santa Catarina ouviu Deus dizer-lhe: Tu pedes-me para Me conhecer e para Me amar, a Mim, a Verdade suprema.
Eis a via para quem quer chegar a conhecer-Me plenamente e a apreciar-Me, a Mim, a Verdade eterna: não saias
nunca do conhecimento de ti e, abaixada no vale da humildade, em ti mesma Me conhecerás. E a este conhecimento
irás buscar tudo o que te falta, tudo o que te é necessário. Nenhuma virtude tem vida em si própria, se a não tira da
caridade; ora, a humildade é a ama e a governanta da caridade. No conhecimento de ti mesma tornar-te-ás humilde,
dado que verás que não és nada por ti e que o teu ser vem de Mim, uma vez que Eu vos amei antes mesmo de terdes
existido. É devido a este amor inefável que tenho por vós que, querendo recriar-vos pela graça, vos lavei e recriei no
sangue
derramado
pelo
Meu
único
Filho
com
um
tão
grande
fogo
de
amor.
Só este sangue dá a conhecer a verdade àquele que tenha dissipado a nuvem do amor-próprio através do
conhecimento de si próprio. É então que, com este conhecimento de Mim mesmo, a alma se abrasa com um amor
inefável, e é devido a este amor que experimenta uma dor contínua. Não uma dor que a aflige ou a seca (longe de
tal, pelo contrário, fecunda-a) mas, uma vez que conheceu a Minha verdade, as suas próprias faltas, e a ingratidão e
cegueira do próximo, sente uma dor intolerável. Aflige-se apenas porque Me ama, porque se não Me amasse não se
afligiria.
Comentário feito por:
Santo Isaac o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossoul, no actual Iraque
Discursos ascéticos, I Série, nº 49 (a partir da trad. DDB 1981, p. 273)
«Quem se humilhar será exaltado»
A providência de Deus, que vela para dar a cada um de nós o que mais lhe convém, tudo dispôs para nos conduzir à
humildade. Porque, se te orgulhas com as graças da providência,
esta abandona-te e voltas a cair. Recorda, pois, que não é por ti, nem pela tua virtude, que resistes às más
tendências, mas que apenas a graça que te sustenta, para que não temas. Geme, chora, recorda-te dos teus pecados
no tempo da prova, a fim de seres libertado do orgulho e de adquirires a humildade. Mas não desesperes. Pede
humildemente a Deus que te perdoe os teus pecados.A humildade, também nas obras, apaga muitos pecados. Pelo
contrário, sem ela, as obras de nada servem, chegando mesmo a atrair males sobre nós. Obtém pois, pela humildade,
o perdão das tuas injustiças. A humildade está para a virtude como o sal para os alimentos; a humildade destrói a
força de numerosos pecados. Se a possuirmos, fará de nós filhos de Deus, conduzindo-nos a Deus mesmo sem o
socorro das boas obras. É por isso que, sem ela, todas as obras são vãs, como vãs são todas as virtudes e todas as
dores.
Comentário feito por:
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos, 1ª série, n° 20 (a partir da trad. Touraille, DDB 1981, p. 140)
«Quem se exaltar será humilhado, quem se humilhar será exaltado»
A humildade é uma força secreta que os santos recebem quando levam a cabo toda a ascese da sua vida. Na
verdade, esta força só é dada aos que atingem a perfeição da virtude pelo efeito da graça. É a mesma força que
receberam os bem-aventurados apóstolos sob forma de fogo. Com efeito, o Salvador tinha-lhes ordenado que não
deixassem Jerusalém enquanto não tivessem recebido a força vinda do alto (At.2,3;1,4). Jerusalém simboliza aqui a
virtude.
E
a
força
vinda
do
alto
é o
Paráclito,
isto
é,
o
Espírito
Consolador.
Ora, isso é o que a Sagrada Escritura tinha dito: os mistérios são revelados aos humildes (Lc.10,21). Aos humildes é
concedido receber em si este Espírito das revelações que descobre os mistérios. É por isso que alguns santos
disseram que a humildade cumula a alma nas contemplações divinas. Portanto, que ninguém imagine que atingiu a
medida da humildade só porque em certo momento lhe ocorreu um pensamento de compunção, ou porque derramou
algumas lágrimas. Mas se um homem venceu todos os espíritos adversos, se derrubou e submeteu todas as
fortalezas dos inimigos e se, então, sentiu que recebeu essa graça, quando «o Espírito der testemunho ao seu
espírito», como diz o apóstolo Paulo (Rm.8,16), aí temos a perfeição da humildade. Bem aventurado aquele que a
possui. Porque em todo o momento abraça o seio de Jesus (cf. Jo.13,25).
Comentário feito por :
São Macário (?-405), monge no Egito
Terceira Homilia, 1-3; PG 34, 467-470 (a partir da trad. Orval)
A vida comunitária : «Vós sois todos irmãos»
Independentemente das funções que tiverem, os irmãos devem mostrar-se caridosos e alegres uns para com os
outros. O que trabalha falará assim do que reza: «O tesouro que o meu irmão possui também eu o tenho, pois é-nos
comum.» Por seu lado, o que reza dirá do que lê: «O benefício que ele tira da leitura enriquece-me a mim também».
E o que trabalha dirá ainda: «É no interesse da comunidade que eu cumpro este serviço».
Os muitos membros do corpo formam um só corpo, e mutuamente se amparam, cumprindo cada um a sua tarefa. O
olho vê por todo o corpo; a mão trabalha pelos outros membros; o pé, ao caminhar, a todos leva; e cada membro
sofrerá desde que um outro esteja sofrendo .Eis como os irmãos se devem comportar uns para com os outros (cf.
Rm.12, 4-5). O que reza não julgará o que trabalha por este não rezar. O que trabalha não julgará o que reza. O que
serve não julgará os outros. Pelo contrário, cada um deles, seja o que for que faça, agirá para a glória de Deus
(cf.1Co.10,31; 2Co 4,15) .Assim, grande concórdia e serena harmonia formarão «o vínculo da paz» (Ef.4,3), que os
unirá entre si e os fará viver com transparência e simplicidade, sob o olhar benevolente de Deus. O essencial,
evidentemente, é perseverar na oração. Aliás, uma coisa só é requerida: cada um deve possuir em seu coração esse
tesouro que é a presença viva e espiritual do Senhor. Quer trabalhe, quer ore ou leia, deve cada um poder pensar
intimamente que está de posse desse bem indestrutível que é o Espírito Santo.
Mt.(26,14-27)– DDDE - p.1327- Traição e Judas/ A Ceia
14.Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes: 15.Que quereis dar-me e eu volo entregarei. Ajustaram com ele trinta moedas de prata.
16.E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.
17.No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Onde queres que preparemos a ceia pascal?
18.Respondeu-lhes Jesus: Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que
celebrarei a Páscoa com meus discípulos.
19.Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa.
20.Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos.
21.Durante a ceia, disse: Em verdade vos digo: um de vós me há de trair.
22.Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: Sou eu, Senhor?
23.Respondeu ele: Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá.
24.O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse
homem que jamais tivesse nascido!
25.Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: Mestre, serei eu? Sim, disse Jesus. 26.Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o,
partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.
27.Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos,
28.porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.
29.Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai
Comentário feito por:
Santo António (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos
“Eis o teu Rei”
“Eis o teu Rei” (Za.9,9), acerca do qual Jeremias nos fala nos seguintes termos: “Ninguém há semelhante a Vós,
Senhor! Vós sois grande! Grande e poderoso é o Vosso nome. Quem Vos não temerá, Rei dos povos?” (Jer 10, 6-7).
Deste Rei diz-nos o Apocalipse: “Sobre o Seu manto e sobre a Sua coxa, um nome está escrito: Rei dos reis e
Senhor dos senhores” (Ap.19,16). O Seu manto são as faixas; a Sua coxa é a carne. Em Nazaré, onde tomou carne,
foi coroado como que com um diadema; em Belém, foi envolvido em faixas como que de púrpura real. Tais foram
as primeiras insígnias da Sua realeza. E foi contra estas insígnias que se encarniçaram os Seus inimigos, para
assinalar a vontade que tinham de Lhe retirar a realeza; no decurso da Paixão, despojaram-No das Suas vestes, a Sua
carne foi trespassada com pregos. Ou melhor, foi nessa altura que Lhe foi dado o complemento das Suas insígnias
reais: já tinha a coroa e a púrpura, recebeu o cetro quando, “carregando às costas a cruz, saiu para o lugar chamado
Crânio” (Jo.19,17). Então, nas palavras de Isaías, teve “a soberania sobre os seus ombros” (9, 5); e diz a Carta aos
Hebreus: “Vemos, porém, coroado de honra e glória aquele Jesus que por um pouco tempo foi feito inferior aos
anjos, em virtude de ter padecido a morte” (Hb.2,9).Eis, pois, o teu rei, que vem a ti, para te dar a felicidade. Vem
na mansidão, para Se fazer amar, e não no poder, para Se fazer temer. Vem sentado num burrinho. As virtudes
próprias dos reis são a justiça e a bondade. Assim, o teu Rei é justo: “Retribuirá a cada um conforme o seu
procedimento” (Mt.16,27). É manso; é “o teu Redentor” (Is.54,5). E também é pobre; como diz o Apóstolo Paulo,
“despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo” (Fl.2,7).
No paraíso terrestre, Adão recusou-se a servir o Senhor; então, o Senhor tomou a forma de escravo, fez-Se servo do
escravo, a fim de que o escravo já não corasse por servir o Senhor. Fez-Se igual aos homens; “tornando-Se
semelhante aos homens” (Fl.2,7). É pobre, Ele que “não tem onde reclinar a cabeça” (Mt.8,20), até ao momento em
que, “inclinando a cabeça” na cruz, “rendeu o espírito” (Jo.19,30).
Comentário feito por :
Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
A Oração da Igreja (a partir da trad. Paris, 1955, pp. 19-22; cf. Source cachée, p. 54)
«Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?»
Sabemos, pelos relatos evangélicos, que Cristo orou como judeu crente e fiel à Lei.Ele pronunciou as velhas orações
de bênção do pão, do vinho e dos frutos da terra que ainda hoje se recitam, como testemunham os relatos da Última
Ceia, totalmente consagrada a uma das mais sagradas obrigações religiosas: a solene refeição pascal, que
comemorava a libertação da servidão do Egito. Talvez seja aqui que temos a visão mais profunda da oração de
Cristo,
e
como
que
a
chave
que
nos
introduz
na
oração
de
toda
a
Igreja.
A bênção e a partilha do pão e do vinho faziam parte do rito da refeição pascal. Mas uma e outra recebem aqui um
sentido inteiramente novo. Aqui nasce a vida da Igreja. É certo que só no Pentecostes é que a Igreja nasce como
comunidade espiritual e visível; mas aqui, na Ceia, cumpre-se o enxerto do sarmento na cepa que torna possível a
efusão do Espírito. As antigas orações de bênção tornaram-se, nos lábios de Cristo, palavras criadoras de vida. Os
frutos da terra transformaram-se na Sua carne e no Seu sangue, encheram-se da Sua vida. A Páscoa da Antiga
Aliança veio a ser a Páscoa da Nova Aliança.
Mc.1,12-15 – DDDE – p.1322
12. E logo o Espírito o impeliu para o deserto.
13. Aí esteve quarenta dias. Foi tentado pelo demônio e esteve em companhia dos animais selvagens. E os anjos o serviam.
14. Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia:
15. "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no
Evangelho."
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Discursos sobre os Salmos, PS 60; CCL 39, 766 (trad. Brésard, 2000 anos C, p. 88)
«Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado» (Hb.4,15)
«Escutai, ó Deus, o meu clamor, atendei a minha oração! Dos confins da terra grito por Vós, com o meu coração
desfalecido.» (Sl.60,2-3). Dos confins da terra, ou seja, de toda a parte.Não é só uma pessoa que fala assim; e, no
entanto, é uma só pessoa, porque não há senão um só Cristo do qual somos os membros (Ef 5,23). Aquele que grita
dos confins da terra está na angústia, mas não está abandonado. Porque fomos nós, ou seja, o Seu corpo, que o
Senhor quis prefigurar no Seu próprio corpo.Simbolizou-nos na Sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Lêse no Evangelho que Nosso Senhor, o Cristo Jesus, foi tentado no deserto pelo diabo. Em Cristo, és tu que és
tentado, porque Cristo tomou de ti a Sua humanidade para te dar a Sua salvação, de ti tomou a Sua morte para te dar
a Sua vida, de ti sofreu os Seus ultrajes para te dar a Sua honra. Foi portanto de ti que Ele tomou as tentações, para
te dar a Sua vitória. Se somos tentados n'Ele, n'Ele também triunfaremos do diabo.Reconheces que Cristo foi
tentado, e não reconheces que alcançou a vitória? Reconhece-te como tentado n'Ele, reconhece-te como vencedor
n'Ele. Ele poderia ter impedido o diabo de se aproximar d'Ele; mas, se não tivesse sido tentado, como nos teria
ensinado a maneira de vencer a tentação? Eis por que motivo não é de espantar que, atormentado pela tentação, Ele
grite dos confins da terra segundo este salmo. Mas por que não é vencido? O salmo continua: «Conduzi-me ao
rochedo». Recorda o Evangelho: «Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18). Assim, é a Igreja, que
Ele quis construir sobre a pedra, que grita dos confins da terra. Mas quem se tornou rochedo, para que a Igreja
pudesse ser construída sobre a rocha? Ouçamos São Paulo: «O rochedo era Cristo» (1Co.10,4). É pois sobre Ele que
nós somos edificados. Eis por que razão a pedra sobre a qual somos construídos foi a primeira a ser batida pelos
ventos, pelas torrentes e pelas chuvas, quando Cristo foi tentado pelo diabo (Mt.7, 5). Eis a fundação inabalável
sobre a qual Ele te quis edificar.
Mc.(1,21-28)- DDDE – pg. 1322/3 – Pregação e milagres em Cafarnaun
21.Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e
pôs-se a ensinar.
22.Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
23.Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo, que gritou:
24."Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!
25.Mas Jesus intimou-o, dizendo: "Cala-te, sai deste homem!"
26.O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.
27.Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: "Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além
disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!"
28.A sua fama divulgou-se logo por todos os arredores da Galiléia.
Comentário feito por:
São Jerônimo (347-420), padre, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de S. Marcos, 2
«Vieste para nos arruinar?» - (v.24)
«Havia na sua sinagoga um homem atormentado por um espírito mau». Esse espírito não podia suportar a presença
do Senhor; tratava-se do espírito impuro que tinha conduzido os homens à idolatria. «Que acordo pode existir entre
Cristo e Satã?» (2Co.6,15); Cristo e Satã não podiam estar associados um ao outro. «Pôs-se a gritar: ‘Que tens a ver
conosco?“‘» Aquele que assim grita é um indivíduo que se exprime em nome de várias pessoas; isto prova que tem
consciência de ter sido vencido, ele e os seus. «Pôs-se a gritar: ‘Que tens tu a ver conosco, Jesus de Nazaré? Viste
para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus’». Em pleno tormento, e apesar da intensidade do sofrimento
que o faz gritar, não abandonou a hipocrisia. É forçado a dizer a verdade, o sofrimento a isso o obriga, mas a malícia
impede-o de dizer toda a verdade: «Que tens a ver conosco, Jesus de Nazaré?»
Porque não reconheces o Filho de Deus? É de fato o Nazareno quem te tortura, não o Filho de Deus? Não era
Moisés um santo de Deus? E Isaías e Jeremias, não foram também santos de Deus? Porque não lhes dizes: «Sei
quem tu és, santo de Deus»? Não digas «Santo de Deus» mas «Deus Santo». Imaginas que sabes, mas não sabes; ou
se sabes, calas-te por duplicidade. Porque Ele não é apenas o Santo de Deus, mas o Deus Santo.
Mc. (5,1-20)–DDDE – (vv.18-20) e DDCE - p.1327
1.Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos.
2.Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério 3.onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro.
Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros,
4.pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar.
5.Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.
6.Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz:
7.Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes.
8.É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem!
9.Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
10.E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região.
11.Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte.
12.E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.
13.Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se no mar,
afogando-se.
14.Fugiram os pastores e narraram o fato na cidade e pelos arredores. Então saíram a ver o que tinha acontecido.
15.Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido possuído pela Legião.
E o pânico apoderou-se deles.
16.As testemunhas do fato contaram-lhes como havia acontecido isso ao endemoninhado, e o caso dos porcos.
17.Começaram então a rogar-lhe que se retirasse da sua região.
18.Quando ele subia para a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompanhá-lo. 19.Jesus não o admitiu, mas
disse-lhe: Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti.
20.Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam.
Comentário feito por:
São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
“Viram o possesso sentado junto de Jesus, vestido e curado, ele que tinha sido possuído por uma legião demônios” –
(v.15)
O objetivo de toda a nossa luta é tornarmo-nos humildes. Os nossos inimigos, os demônios, caíram pelo orgulho e
atraem-nos para a sua queda. Nós irmãos, sejamos humildes, e veremos a glória do Senhor, já nesta terra
(Mt.16,28), porque o Senhor dá-Se a conhecer aos humildes por meio do Espírito Santo. A alma que provou a
doçura do amor divino está totalmente regenerada e torna-se completamente diferente; ama o seu Senhor e tende
para Ele, dia e noite, com todas as suas forças. Até determinado momento, permanece tranqüila em Deus depois,
começa a sofrer pelo mundo. O Senhor misericordioso concede à alma, ora o repouso em Deus, ora um coração que
sofre pelo mundo inteiro, a fim de que todos os homens se arrependam e cheguem ao paraíso. A alma que conheceu
a doçura do Espírito Santo deseja que todos acedam ao mesmo conhecimento, porque a doçura do Senhor não
permite à alma ser egoísta, antes lhe concede um amor que irradia do coração.
Comentário feito por:
Beato Carlos de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara
Meditação 194 sobre os Evangelhos (trad. de Œuvres Spirituelles, Seuil 1958, pp. 212-215)
«Vai para casa, para junto dos teus; conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti»- (v.19)
Ao desejarmos seguir a Jesus, não nos espantemos se Ele não no-lo permitir logo, ou se até nunca no-lo chegar a
permitir. Com efeito, a sua visão alcança muito mais do que a nossa; Ele quer não só o nosso bem, como o de todos.
Decididamente, partilhar a vida com e como os apóstolos, é um bem e uma graça, e devemos ter por tarefa contínua
aproximarmo-nos desta imitação da sua vida. Mas a verdadeira, a única perfeição, não é levar este ou aquele tipo de
vida, é fazer a vontade de Deus; é levar o gênero de vida que Deus quiser, no local onde ele quiser, e levar esse tipo
de vida como Ele próprio o teria feito. Quando Ele nos deixar escolher por nós próprios, então sim, procuremos
segui-Lo passo a passo o mais exatamente possível, partilhar a sua vida tal como ela era, como fizeram os apóstolos
durante a sua vida e mesmo após a sua morte; o amor incita-nos a tal imitação. Quando a sua vontade nos quiser
noutro local, vamos aonde Ele nos quiser, façamos por levar o tipo de vida designado por sua vontade, mas, onde
quer que estejamos, aproximemo-nos sempre d’Ele com todas as nossas forças e ajamos, em qualquer circunstância
ou estado, como Ele próprio nesse local teria estado e agido, pois a vontade de seu Pai ali o pôs, tal como aqui nos
põe, a nós.
Mc. (8,11-13) – DDDE - p.1331– Os fariseus reclamam um prodígio. Acautelar-se deles.
11.Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com ele e pediram-lhe um sinal do céu, para pô-lo à prova.
12.Jesus, porém, suspirando no seu coração, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: jamais lhe será dado um
sinal.
13.Deixou-os e seguiu de barca para a outra margem.
Comentário feito por:
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Um Caminho Simples
"Para o porem à prova, pediram-lhe um sinal" – (v.11)
Deus está em toda a parte, em tudo, e sem Ele não podemos existir. Nem um só instante duvidei da sua existência
mas sei que alguns vivem na dúvida. Se não acreditais em Deus, podeis, no entanto, ajudar os outros com atos
inspirados pelo amor e o fruto dessas obras serão graças suplementares que descerão à vossa alma. Começareis
então a desabrochar lentamente e aspirareis à alegria de amar a Deus. Há tantas religiões! Cada um segue Deus à
sua maneira. Quanto a mim, sigo o caminho de Cristo: Jesus é o meu Deus, Jesus é o meu Esposo, Jesus é o meu
único
Amor,
Jesus
é
o
meu
Tudo
em
tudo,
Jesus
é
tudo
para
mim.
Eis a razão por que nunca tenho medo. Faço o meu trabalho com Jesus, faço-o por Ele, dedicando-lho; por isso, os
resultados são seus e não meus. Se precisais de um guia, só tendes que voltar os olhos para Jesus.
Deveis entregar-vos a Ele e contar inteiramente com Ele. Quando fazeis isso, a dúvida dissipa-se e a segurança
invade-vos. Mas Jesus disse: "Se não vos tornardes semelhantes a uma criança, não podereis vir a mim" (Mt.18,3).
Mc.(8,14-21) – DDDE - p.1331.2 –Os fariseus reclamam um prodígio.Acautelar-se deles 14.Aconteceu que eles haviam
esquecido de levar pães consigo. Na barca havia um único pão.
15.Jesus advertiu-os: Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes!
16.E eles comentavam entre si que era por não terem pão.
17.Jesus percebeu-o e disse-lhes: Por que discutis por não terdes pão? Ainda não tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois,
o coração insensível?
18.Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais?
19.Ao partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios de pedaços? Responderam-lhe: Doze.
20.E quando eu parti os sete pães entre os quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes? Sete, responderam-lhe.
21.Jesus disse-lhes: Como é que ainda não entendeis?...
Comentário feito por:
Jean Pierre de Caussade (1675-1751), jesuíta
Abandono na Providência divina (§26)
«Ainda não entendestes nem compreendestes?» - (v.17)
Se perfurássemos o véu, e se estivéssemos vigilantes e atentos, Deus revelar-Se-nos-ia sem cessar e usufruiríamos
da Sua ação em tudo quanto nos acontece, dizendo perante todas as coisas: «Dominus est., é o Senhor!» (Jo, 21, 7).
E descobriríamos em todas as circunstâncias um dom de Deus. Consideraríamos as criaturas frágeis instrumentos
nas mãos de um obreiro onipotente; e reconheceríamos sem dificuldade que nada nos falta, e que a contínua atenção
de Deus O leva a proporcionar-nos em cada instante aquilo que nos convém. Se tivéssemos fé, teríamos boa vontade
para com todas as criaturas; haveríamos de acariciá-las, interiormente gratos pelo fato de elas servirem e se
tornarem favoráveis à nossa perfeição, aplicada pela mão de Deus. Se vivêssemos ininterruptamente uma vida de fé,
estaríamos em permanente comércio com Deus, falando com Ele a todo o momento. A fé é intérprete de Deus; sem
os esclarecimentos que ela proporciona, não compreendemos a linguagem das criaturas. Esta é uma escrita em
números, onde apenas vemos confusão; uma amálgama de espinhos, de onde não nos ocorre que Deus possa falar.
Mas a fé permite-nos ver, como Moisés, o fogo da caridade divina que arde no seio destes espinhos (Ex.3, 2); a fé
dá-nos a chave destes números, permitindo-nos descobrir, no meio da confusão, as maravilhas da sabedoria do alto.
A fé confere um rosto celeste a toda a terra; é por meio dela que o coração é transportado, arrebatado, para
conversar no céu. A fé é a chave dos tesouros, a chave do abismo, a chave da ciência de Deus.
Mc.(8,27-35) – DDDE - p.1332– Pedro proclama sua fé em Jesus.
27.Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: Quem dizem os homens que eu
sou?
28.Responderam-lhe os discípulos: João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas.
29.Então perguntou-lhes Jesus: E vós, quem dizeis que eu sou? Respondeu Pedro: Tu és o Cristo.
30.E ordenou-lhes severamente que a ninguém dissessem nada a respeito dele.
31.E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos
sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias.
32.E falava-lhes abertamente dessas coisas. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
33.Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os
de Deus, mas os dos homens.
34.Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
35.Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á.
Comentário feito por:
Liturgia Latina
Hino de matinas do tempo da Paixão: "Pange, lingua, gloriosi"
"Começou então a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito"- (v.31)
Canta, língua gloriosa,
o combate singular
em que o Salvador do mundo,
pregado na dura cruz,
com o preço do seu sangue
resgatou a humanidade.
Como Adão no Paraíso
comeu o vedado pomo,
assim o Criador do mundo
decretou, compadecido,
que uma árvore nos desse
o que na outra perdemos.
Deus quis vencer o inimigo
com as suas próprias armas;
a Sabedoria aceitou
o tremendo desafio
e, onde nascera a morte,
brotou a fonte da vida.
Mandou o Senhor aos homens,
na plenitude dos tempos,
Deus de Deus, seu próprio Filho,
que do céu baixou à terra
e que no seio da Virgem
tomou um corpo mortal.
Ao chegar a sua hora,
o Homem Deus percorreu
o caminho do Calvário
como inocente cordeiro,
pois Ele viera ao mundo
para morrer numa cruz.
Elevemos jubilosos
à Santíssima Trindade
o louvor que lhe devemos
pela nossa salvação:
ao Eterno Pai, ao Filho
e ao Espírito de amor.
Amém
Comentário feito por:
São César de Arles (470-543), monge e bispo
Sermão 159, 1, 4-6
«Siga-Me.» - (v.34)
Quando o Senhor nos diz no evangelho: “Se alguém quer vir após Mim, renuncie a si mesmo”, achamos que Ele nos
manda fazer uma coisa difícil, e consideramos que nos impõe um fardo pesado. Mas se Aquele que manda nos ajuda
a realizar aquilo que manda, deixa de ser difícil cumpri-lo. Para onde devemos seguir Cristo senão para onde Ele
foi? Ora, nós sabemos que Ele ressuscitou e subiu aos céus; é para aí que temos de segui-lo. Não devemos deixarnos tomar pelo desespero porque, se nada podemos por nós mesmos, contamos com a promessa de Cristo. O céu
estava longe de nós antes de a nossa Cabeça ter ascendido até ele. A partir de agora, se somos membros do corpo a
que esta Cabeça pertence (Cl.1,18), por que havemos de desesperar de chegar ao céu? Se nesta terra são muitas as
preocupações e os sofrimentos que nos afligem, sigamos a Cristo, em quem se encontram a felicidade perfeita, a paz
suprema e a tranqüilidade eterna. Mas o homem desejoso de seguir a Cristo ouvirá esta palavra do apóstolo João:
“Aquele que diz que está nele deve também andar como Ele andou” (1Jo.2,6). Queres seguir a Cristo? Sê humilde,
como Ele foi humilde. Queres juntar-te a Ele nas alturas? Não desprezes o Seu abatimento.
Mc.(9,2-13) – DDDE - p.1332/3 –Transfiguração
2.Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E
3.transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode
fazer assim tão brancas.
4.Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus.
5.Pedro tomou a palavra: Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para
Elias.
6.Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados.
7.Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o.
8.E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles.
9.Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse
ressurgido dos mortos.
10.E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos.
11.Depois lhe perguntaram: Por que dizem os fariseus e os escribas que primeiro deve voltar Elias?
12.Respondeu-lhes: Elias deve voltar primeiro e restabelecer tudo em ordem. Como então está escrito acerca do Filho do homem que deve
padecer muito e ser desprezado?
13.Mas digo-vos que também Elias já voltou e fizeram-lhe sofrer tudo quanto quiseram, como está escrito dele.
Comentário feito por:
Pedro, o Venerável (1092-1156), abade de Cluny
Sermão n.º 1 para a Transfiguração; PL 189, 959
«Mestre, bom é estarmos aqui» - (v.5)
«O seu rosto resplandeceu como o Sol» (Mt.17,2). Envolvida pela aura da carne, hoje resplandeceu a Luz
verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina (Jo.1,9). Hoje ela glorifica esta mesma carne, mostra-a
deificada aos apóstolos para que estes a revelem ao mundo. E tu, cidade beatífica, fruirás eternamente a
contemplação deste Sol, ao desceres do «céu, de junto de Deus, já preparada, qual noiva adornada para o seu
esposo» (Ap.21,2). Nunca mais esse Sol se porá para ti; para sempre Ele próprio fará raiar a manhã eterna. Nunca
mais esse Sol será velado por nuvem alguma, mas brilhará sem cessar, e cumular-te-á de uma luz que não declinará
nunca. Nunca mais esse Sol te toldará os olhos, antes dar-te-á forças para que o olhes, e encantar-te-á com o seu
esplendor divino «Não mais haverá morte nem luto, nem pranto, nem dor» (Ap.21,4) que ensombre o brilho que
Deus te deu, pois, como foi dito a João: «O antigo mundo pereceu». Eis o Sol de que fala o profeta: «Já não será o
Sol que te iluminará durante o dia, nem a Lua durante a noite. O Senhor será a tua luz eterna, o teu Deus será o teu
esplendor. (Is 60,19). Eis a luz eterna que resplandece para ti no rosto do Senhor. Escutas a voz do Senhor,
contemplas o seu rosto resplandecente, e tornas-te como o Sol. Pois é pelo rosto que reconhecemos cada pessoa, e
reconhecê-la, é como ficar iluminado por ela. Aqui na terra acreditas pela fé; nos céus, reconhecerás. Aqui captas
com a inteligência; lá, serás captado. Aqui, vês «como num espelho»; lá, verás «face a face» (1Co.13,12) .Assim se
cumprirá o desejo do profeta: «Que Ele faça resplandecer em nós o seu rosto» (Sl 67,2) .Nessa luz exultarás para
sempre; nessa luz caminharás sem cansaço. Nessa luz, verás a luz eterna
Mc.(9,14-29)-pg.1291- DDDE(vv.28-29)
14.Depois, aproximando-se dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e os escribas a discutir com eles.
15.Todo aquele povo, vendo de surpresa Jesus, acorreu a ele para saudá-lo.
16.Ele lhes perguntou: Que estais discutindo com eles?
17.Respondeu um homem dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo.
18.Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o
expelissem, mas não o puderam.
19.Respondeu-lhes Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá!
20.Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando.
21.Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isto? Desde a infância, respondeu-lhe.
22.E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós!
23.Disse-lhe Jesus: Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê.
24.Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!
25.Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste menino e não
tornes a entrar nele.
26.E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: Morreu...
27.Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se.
28.Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: Por que não pudemos nós expeli-lo?
29.Ele disse-lhes: Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração.
Comentário feito por
Filoxeno de Mabboug (?-cerca 523), bispo na síria
Homilia 3,52-56
“Eu creio! Ajuda a minha pouca fé”- (v.24)
Inclina o teu ouvido e escuta, abre os teus olhos e vê os prodígios que são mostrados pela fé. Vem formar olhos
novos, criar orelhas escondidas. Foste convidado a escutar coisas escondidas; foste chamado a ver realidades
espirituais .Vem ver o que ainda não és, e renova-te entrando na nova criação.A sabedoria estava com o teu Criador
desde as suas primeiras obras (Pr.8,22). Mas na segunda criação a fé estava com ele; neste segundo parto tomou a fé
por auxiliar. A fé acompanha Deus em todas as coisas, e hoje, ele não faz nada de novo sem ela. Ter-lhe-ia sido fácil
fazer-te nascer da água e do Espírito (Jo.3,5) sem ela, e contudo, não te fez nascer neste segundo nascimento antes
que tivesses recebido o símbolo da fé, o credo. Ele podia renovar-te, e de velho, te fazer novo, e, contudo ele não te
muda e não te renova antes de ter recebido de ti a fé em caução. É exigida a fé a quem é batizado, e é então que, da
água, ele recebe tesouros. Sem a fé, o batismo é a água; sem a fé, os mistérios vivificantes são pão e água; sem o
olho da fé, o homem antigo aparece unicamente aquilo que é; sem o olho da fé, os mistérios são vulgares e os
prodígios do Espírito são vis. A fé olha, contempla e considera secretamente a força que está escondida nas
coisas… Porque aqui está: tu trazes sobre a mão a parte do mistério que, pela sua natureza, é pão vulgar; a fé olha-o
como o corpo do Único… O corpo vê o pão, o vinho, o óleo, a água, mas a fé obriga o seu olhar a ver
espiritualmente o que não vê corporalmente, quer dizer, a comer o Corpo no lugar do pão, a beber o Sangue no lugar
do vinho, a ver o batismo do Espírito no lugar da água e a força de Cristo no lugar do óleo.
Comentário feito por:
Hermas (séc. II)
O Pastor
«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» - (v.24)
Expulsa a dúvida da tua alma, nunca hesites em dirigir a Deus a tua oração, dizendo: «Como posso eu rezar, como
posso ser escutado, depois de ter ofendido a Deus tantas vezes?» Não raciocines dessa maneira; volta-te de todo o
coração para o Senhor, e reza-Lhe com total confiança. Conhecerás então a extensão da Sua misericórdia; verás que,
longe de te abandonar, Ele cumulará os desejos do teu coração. Porque Deus não é como os homens, que nunca se
esquecem do mal; Nele não há ressentimentos, mas uma terna compaixão para com as Suas criaturas.
Assim, pois, purifica o teu coração de todas as vaidades do mundo, do mal e do pecado, e reza ao Senhor. Tudo
obterás,
se
rezares
com
total
confiança.
Se, porém, a dúvida tomar o teu coração, as tuas súplicas não serão ouvidas. Aqueles que duvidam de Deus são
almas dúplices; nada obtêm daquilo que pedem. Quem duvida, a menos que se converta, dificilmente será ouvido e
salvo. Assim, pois, purifica a tua alma da dúvida, reveste-te da fé, porque a fé é poderosa, e crê firmemente que
Deus escutará todas as tuas súplicas. E, se Ele tardar um pouco a ouvir a tua oração, não te deixes arrastar pela
dúvida por não teres obtido imediatamente aquilo que pedes; esse atraso destina-se a fazer-te crescer na fé. Não
cesses, pois, de pedir aquilo que desejas. Não te permitas duvidar, pois a dúvida é perniciosa e insensata, roubando a
fé a muitos, incluindo os mais firmes. A fé é forte e poderosa; tudo promete e tudo obtém; a dúvida, que é falta de
confiança, tudo mina.
Mc.(9,30-37) – DDDE - p.1333 – Segunda predição da paixão
30.Tendo partido dali, atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse.
31.E ensinava os seus discípulos: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de
sua morte.
32.Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar.
33.Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: De que faláveis pelo caminho?
34.Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior.
35.Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.
36.E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:
37.Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que
me enviou
Comentário feito por:
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Oração 20
«Se alguém quer ser o primeiro, que se seja o último de todos e o servo de todos» - (v.35)
Jesus!... Como é grande a vossa humildade, ó divino Rei da Glória, submeterdes-vos a todos os vossos sacerdotes
sem fazer nenhuma distinção entre os que vos amam e os que são, infelizmente!, mornos ou frios no vosso serviço.
Ao seu apelo vós desceis do céu; eles podem adiantar, retardar a hora do santo sacrifício, sempre estais pronto. Ó
meu Bem-Amado, sob o véu da hóstia branca, como me apareceis doce e humilde de coração (Mt.11,29)! Para me
ensinardes a humildade não podíeis abaixar-vos mais; também eu quero, a fim de responder ao vosso amor, desejar
que as minhas irmãs me coloquem sempre em último lugar e convencer-me bem de que é esse o meu lugar.Eu sei, ó
meu Deus, vós abateis a alma orgulhosa, mas à que se humilha darás uma eternidade de glória; eu quero pois
colocar-me na última fila, partilhar das vossas humilhações a fim de «ter parte convosco» (Jo 13,8) no reino dos
Céus.Mas, Senhor, vós conheceis a minha fraqueza; cada manhã tomo a resolução de praticar a humildade e à noite
reconheço que cometi ainda muitas faltas de orgulho. À vista disto sou tentada a desencorajar, mas eu sei, o
desencorajamento é também orgulho.
Quero ó meu Deus, assentar a minha esperança somente em vós; porque vós tudo podeis, dignai-vos fazer nascer na
minha alma a virtude que desejo. Para obter esta graça da vossa infinita misericórdia repetir-vos-ei muitas vezes: «Ó
Jesus, doce e humilde de coração, tornai o meu coração semelhante ao vosso!»
Mc.(10,17-31) – DDDE - p.1335- Perigo das riquezas. Promessa do cêntuplo
17.Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei
para alcançara vida eterna?"
18.Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.
19.Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e
mãe."
20.Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."
21.Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um
tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
22.Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.
23.E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"
24.Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que
põem a sua confiança nas riquezas!
25.É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
26.Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27.Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.
28.Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."
29.Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou
terras por causa de mim e por causa do Evangelho
30.que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a
vida eterna.
31.Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."
Comentário feito por:
João Crisóstomo (c. 345- 407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre o devedor de dez mil talentos, 3; PG 51, 21
«Mas, então, quem pode salvar-se?»
Em resposta à pergunta que lhe fazia um homem rico, Jesus tinha revelado como se podia aceder à vida eterna. Mas
a idéia de ter de abandonar as suas riquezas deixou este homem muito triste e ele foi-se embora. Então, Jesus
declarou: «É mais fácil entrar um camelo pelo furo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus». Por
seu turno, Pedro aproxima-se de Jesus, ele que se despojou de tudo, renunciando à sua profissão e à sua barca, que
já não possui nem um anzol, e põe esta pergunta a Jesus: «Mas, então, quem pode salvar-se?»Repara, ao mesmo
tempo, na reserva e no zelo deste discípulo. Ele não disse: «Ordenas o impossível, essa ordem é demasiado difícil,
essa lei é demasiado exigente». Também não ficou em silêncio. Mas, não faltando ao respeito e mostrando quanto
estava atento aos outros, disse: «Mas então, quem pode salvar-se?»
É que muito antes de ser pastor, já ele tinha alma; antes de ser investido de autoridade, já se preocupava com a terra
inteira. Um homem rico teria provavelmente perguntado isso por interesse, por medo da sua situação pessoal e sem
pensar nos outros. Mas Pedro, que era pobre, não pode ser suspeito de ter feito a sua pergunta por semelhantes
motivos. É sinal de que se preocupava com a salvação dos outros, e que queria aprender do Mestre como se chega a
ela.
Daí a resposta encorajadora de Cristo: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus». Quer Ele dizer:
«Não penseis que vos deixo ao abandono. Eu próprio vos assistirei num assunto tão importante, e tornarei fácil o
que é difícil».
Comentário feito por:
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS III, n° 9
"Fitando nele o olhar, Jesus sentiu afeição por ele" – (v.21)
Deus olha para ti, sejas tu quem fores. E "chama-te pelo teu nome" (Jo 10,3). Vê-te e compreende-te, Ele que te
criou. Tudo o que há em ti, Ele o conhece: todos os teus sentimentos, os teus pensamentos, as tuas inclinações, os
teus gostos, a tua força e a tua fraqueza... Não é só porque fazes parte da sua criação, d'Ele que se preocupa mesmo
com os pássaros (Mt.10,29); tu és um ser humano, resgatado e santificado, seu filho adotivo, gozando em parte
dessa glória e dessa bênção que d'Ele se derramam eternamente sobre o Filho único.Foste escolhido para seres seu...
És um daqueles por quem Cristo ofereceu ao Pai a sua última oração e selou com o seu sangue precioso. Que
pensamento este, pensamento quase demasiado grande para ser abarcado pela nossa fé! Quando nisso refletimos,
como não reagir como Sara que se riu maravilhada e confusa (Gn.18,12)?! "Que é o homem", que somos nós, que
sou eu, para que o Filho de Deus "tenha por mim tão grande cuidado" (Sl.18,5)? Que sou eu para que Ele me tenha
recriado e tenha feito do meu coração a sua morada?
Comentário feito por :
São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla, Doutor da Igreja.
Homilia 63 sobre São Mateus; PG 58, 603 (trad. cf. Marc commenté, DDB 1986, p. 104)
«Terás um tesouro no Céu»
Cristo tinha dito ao jovem: «Se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos» (Mt. 19, 17). E ele pergunta:
«Quais?», não para O pôr à prova, longe disso, mas por supor que o Senhor tem para ele, a par da Lei de Moisés,
outros mandamentos que lhe proporcionem a vida; era uma prova do seu desejo ardente. Depois de Jesus lhe
enunciar os mandamentos da Lei, o jovem diz-Lhe: «Tenho cumprido tudo isso»; mas prossegue: «Que me falta
ainda?» (Mt.19,20), sinal certo desse mesmo desejo ardente. Não são as almas pequenas as que consideram que
ainda lhes falta alguma coisa, aquelas a quem parece insuficiente o ideal proposto para alcançarem o objeto dos seus
desejos.
E que diz Cristo? Propõe-lhe uma coisa grande; começa por propor-lhe a recompensa, declarando: «Se queres ser
perfeito, vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois, vem e
segue-Me». Vês o preço, a coroa que Ele oferece como prêmio desta corrida desportiva?.Para atraí-lo, propõe-lhe
uma recompensa de grande valor e apresenta-lhe o cenário completo. Aquilo que poderia parecer penoso permanece
na sombra. Antes de falar de combates e de esforços, mostra-lhe a recompensa: «Se queres ser perfeito», diz-lhe: eis
a glória, eis a felicidade! «Terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me»: eis a soberba recompensa daqueles
que seguem a Cristo, daqueles que escolhem ser Seus companheiros e Seus amigos! Este jovem apreciava as
riquezas da terra; Cristo aconselha-o a despojar-se delas, não para empobrecer com este despojamento, mas para
enriquecer ainda mais.
Comentário feito por:
Relato de três companheiros de São Francisco de Assis (c. 1244)
§§ 7-8 (a partir da trad. de Debonnet e Vorreux, Ed. Franciscaines, 1968, p.810)
Início da conversão de São Francisco
Certa noite, depois do seu regresso a Assis, os companheiros do jovem Francisco elegeram-no como chefe do grupo.
Com tantas vezes tinha feito, mandou então preparar um suntuoso banquete. Depois de saciados, saíram todos e
percorreram a cidade, a cantar. Os companheiros, em grupo, iam à frente de Francisco; este, empunhando o bastão
de chefe, fechava o cortejo, um pouco mais atrás, sem cantar, mergulhado nos seus pensamentos. E eis que, de
súbito, o Senhor lhe aparece, enchendo-lhe o coração de uma doçura tal, que ele ficou sem conseguir falar, sem se
mexer. Quando os companheiros se voltaram para trás e o viram assim tão longe deles, voltaram atrás e
aproximaram-se, receosos; encontraram-no mudado, como se fosse outro homem. Perguntaram-lhe: «Em que é que
pensavas para te esqueceres assim de nos seguir? Estarias a pensar em arranjar mulher?» «Têm toda a razão! Decidi
ter esposa, uma esposa mais nobre, mais rica e mais bela do que todas as que vocês já viram». Os companheiros
puseram-se a troçar dele. A partir daquele momento, ele fazia os possíveis para que Jesus Cristo lhe ocupasse a
alma, e bem assim aquela pérola que tanto desejava comprar depois de tudo ter vendido (Mt.13,46). Furtando-se
freqüentemente aos olhos dos que dele troçavam, ia muitas vezes – quase diariamente – rezar em segredo. De
alguma maneira a isso era impelido pelo gozo antecipado daquela doçura extrema que tantas vezes o visitava e que
com tanta força o atraía, estando ele na praça ou noutros locais públicos, para a oração.
Mc.10,35-45 DDDE – p.1335.6
35.Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te
pedirmos."
36."Que quereis que vos faça?"
37."Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda." 38. "Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus.
Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?"
39."Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em que
eu devo ser batizado.
40.Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem
está destinado."
41.Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.
42.Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes
exercem poder sobre elas.
43.Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo;
44.e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.
45.Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos."
Comentário feito por
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Conferência sobre o Credo, 6 (a partir da trad. do breviário francês)
«Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo»
Que necessidade havia de que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma grande necessidade, que podemos resumir em
dois pontos: necessidade de remediar os nossos pecados e necessidade de dar o exemplo para a nossa conduta. A
Paixão de Cristo dá-nos um modelo válido para toda a vida. Se procuras um exemplo de caridade: «Ninguém tem
mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo.15,13). Se buscas paciência, é na cruz que a encontramos
no grau máximo: Na cruz Cristo sofreu grandes tormentos com paciência porque «ao ser insultado não ameaçava»
(1Pe.2,23), «não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro» (Is.53,7). «Corramos com
perseverança a prova que nos é proposta, tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé. Ele,
renunciando à alegria que lhe fora proposta, sofreu a cruz, desprezando a ignomínia» (Hb.12,1-2).
Se procuras um exemplo de humildade, olha para o Crucificado. Porque Deus quis ser julgado por Pôncios Pilatos e
morrer. Se procuras um exemplo de obediência, basta que sigas Aquele que se fez obediente ao Pai «até a morte»
(Fl.2, 8). «De fato, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela
obediência de um só todos se hão de tornar justos» (Rm.5,19). Se buscas um exemplo de desapego dos bens
terrenos, simplesmente segue Aquele que é o «Rei dos reis e Senhor dos senhores», «em quem estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (1Tm.6,15; Cl.2,3); Ele está nu na cruz, tornado motivo de
escárnio, coberto de escarros, maltratado, coroado de espinhos e, por fim, dessedentado com fel vinagre.
Comentário feito por:
São Gregório de Niza (c. 335-395), monge e bispo
A Vida de Moisés, II, 231-233, 251-253 (a partir da trad. de cf. SC Iter, pp. 265ss.)
«Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho»
No Monte Sinai, Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a Tua glória». Deus respondeu-lhe: «Farei passar diante de ti
toda a Minha bondade, mas tu não poderás ver a Minha face» (Ex. 33,18ss.). Experimentar este desejo parece-me
porvir de uma alma animada pelo amor à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não pára de conduzir da
beleza que já viu para aquela que está para além. Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do desejo, almeja
pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face. A voz divina satisfaz o pedido,
recusando-o simultaneamente: a magnanimidade de Deus concede-lhe a satisfação do desejo, mas, ao mesmo
tempo, não lhe promete repouso nem saciedade. É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: aquele que para
Ele eleva os olhos nunca mais cessa de desejá-lo. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a Minha face». O Senhor
que tinha respondido a Moisés exprime-se da mesma forma aos Seus discípulos, clarificando o sentido desta
simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc.9,23) e não: «Se alguém quiser ir à Minha frente». Ao
que Lhe faz um pedido a respeito da vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc.18,22). Ora, aquele que
segue caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés recebe sobre a
maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para onde Ele conduzir. Com efeito, aquele
que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir o guia. Este o precede, mostrando-lhe o
caminho; por isso, quem o segue não se desviará do caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o
conduz. Com efeito, se se deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso,
Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a Minha face», o que significa: «não olhes de frente o teu guia»,
porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é contrário. Como vês, é importante aprender a seguir a
Deus: para aquele que assim O segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar.
Mc.16,9-19 –DDDE p1344
9.Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado
sete demônios.
10.Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos. 11.Quando souberam que Jesus vivia e que ela o tinha
visto, não quiseram acreditar. 12.Mais tarde, ele apareceu sob outra forma a dois entre eles que iam para o campo.
13.Eles foram anunciá-lo aos demais. Mas estes tampouco acreditaram.
14.Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem
nos que o tinham visto ressuscitado.
15.E
disse-lhes:
Ide
por
todo
o
mundo
e
pregai
o
Evangelho
a
toda
criatura
16.Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado
17.Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas,
18.manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.
19. Depois que o Senhor Jesus lhes falou, foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus.
20.Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a
acompanhavam.
Comentário feito por :
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PS 1, 22 «Witnesses of the Ressurrection»
Testemunhas da ressurreição
Seria de esperar que Nosso Senhor, uma vez ressuscitado, aparecesse ao maior número de pessoas possível,
sobretudo aos que O tinham crucificado. Pelo contrário, vemos pela história que Ele Se manifesta apenas a algumas
testemunhas escolhidas, e especialmente os Seus discípulos mais próximos.
Como diz São Pedro: «Deus ressuscitou-O, ao terceiro dia, e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às
testemunhas anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da Sua
ressurreição dos mortos» (At.10, 40-41). À primeira vista, isto parece-nos estranho. Com efeito, temos uma idéia
muito diferente da Ressurreição, representamo-la como uma manifestação deslumbrante e visível da glória Cristo.
Representando-a como um triunfo público, somos levados a imaginar a confusão e o terror que se teriam apoderado
dos Seus carrascos se Jesus Se tivesse apresentado vivo diante deles. Reconheçamos que tal raciocínio nos levaria a
conceber o Reino de Cristo como um reino deste mundo, o que não é corre
to. Seria supor que Cristo veio julgar o mundo nesse momento, quando tal só acontecerá no último dia. Por que Se
terá Ele mostrado apenas «a algumas testemunhas escolhidas anteriormente»? Porque era este o meio mais eficaz de
propagar a fé pelo mundo inteiro. Qual teria sido o fruto de uma manifestação pública que se impusesse a todos?
Esse novo milagre teria deixado a multidão como a tinha encontrado, sem mudança eficaz. Os Seus milagres
anteriores já não tinham convencido a todos; que teriam dito e sentido a mais do que anteriormente, mesmo que
«alguém ressuscitasse dentre os mortos»? (Lc.16, 31) Cristo mostra-Se para suscitar testemunhos da Sua
ressurreição, ministros da Sua palavra, fundadores da Sua Igreja. Como poderia a multidão, com a sua natureza
inconstante, adivinhá-lo?
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona ( Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 190
«Chamar-te-ás Pedro»- (Jo 1,42)
«Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja». Este nome de Pedro foi-lhe dado porque foi ele o
primeiro a assentar entre as nações os fundamentos da fé e porque ele é o rochedo indestrutível sobre o qual
repousam os alicerces e o conjunto do edifício de Jesus Cristo. Foi pela sua fidelidade que ele se chamou Pedro,
enquanto que o Senhor recebe esse mesmo nome pelo poder, segundo a palavra de S. Paulo: «Eles bebiam água da
pedra espiritual que os seguia, e essa pedra é Jesus Cristo» (1Co.10,4). Sim, ele merecia partilhar um mesmo nome
com Cristo, o apóstolo escolhido para ser o cooperador da Sua obra, construíram o mesmo edifício. É Pedro que
planta, é o Senhor que faz crescer, é o Senhor que também envia aqueles que deverão regar (cf 1Co.3,6s).Vós
sabeis, irmãos muito amados, foi a partir dos próprios erros, no momento em que sofria o Salvador, que o bemaventurado Pedro foi elevado. Foi depois de ter negado o Senhor, que se tornou o primeiro junto dele. Mais fiel
chorando sobre a fé que traíra, recebeu uma graça ainda maior do que aquela que tinha perdido. Cristo confiou-lhe o
Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele que tinha sido tão fraco, tornava-se agora o
sustentáculo de tudo. Ele, que interrogado acerca da sua fé sucumbira, tinha de estabelecer os outros sobre os
fundamentos inabaláveis da fé. Por isso é chamado a pedra fundamental da devoção das Igrejas.
Comentário feito por:
S. João Crisóstomo (cerca 345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja
7ª Homilia sobre a conversão
“A mim, que primeiro fui blasfemador e perseguidor, foi-me dada misericórdia”- (1Tm. 1,13)- p.1317: a conversão
de S. Paulo
É preciso que tenhamos sempre presente no nosso espírito o quanto todos os homens são rodeados por tantas
manifestações do mesmo amor de Deus. Se a justiça tivesse precedido a penitência, o universo teria sido aniquilado.
Se Deus estivesse pronto para o castigo, a Igreja não teria conhecido o apóstolo Paulo; não teria recebido um
homem assim no seu seio. É a misericórdia de Deus que transforma o perseguidor em apóstolo; é ela que muda o
lobo em cordeiro, e que fez de um publicano um evangelista (Mt.9,9). É a misericórdia de Deus que, comovida com
o
nosso
destino,
nos
transforma
a
todos;
é
ela
que
nos
converte.
Ao ver o glutão de ontem pôr-se hoje a jejuar, o blasfemador de outrora falar de Deus com respeito, o infame de
antigamente não abrir a boca a não ser para louvar a Deus, pode-se admirar esta misericórdia do Senhor. Sim
irmãos, se Deus é bom para com todos os homens, é-o particularmente para com os pecadores. Quereis mesmo
ouvir algo de estranho do ponto de vista dos nossos hábitos, mas verdadeiro do ponto de vista da piedade? Escutai:
ao passo que Deus se mostra exigente para com os justos, para com os pecadores não tem senão clemência e doçura.
Que rigor para com os justos! Que indulgência para com o pecador! É esta a novidade, a inversão, que nos oferece a
conduta de Deus… E eis por que: assustar o pecador, sobretudo o pecador inveterado, seria privá-lo de toda a
confiança, mergulhá-lo no desespero; lisonjear o justo, seria embotar o vigor da sua virtude, fá-lo-ia afrouxar no seu
zelo. Deus é infinitamente bom! O seu temor é a salvaguarda do justo, e a sua clemência faz mudar o pecador.
Comentário feito por:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, I, 10, 1-2
São Marcos transmite a todo o mundo a fé dos apóstolos – (vv.15-18)
A Igreja disseminada por todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos a fé
num só Deus, Pai todo-poderoso, que “fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém” (Ex.20,11; At.4,24); num só
Cristo Jesus, Filho de Deus, que encarnou pela nossa salvação; e no Espírito Santo que, através dos profetas,
anunciou os desígnios de Deus e a vinda do bem-amado Jesus Cristo nosso Senhor, o seu nascimento da Virgem, a
sua Paixão, a sua ressurreição de entre os mortos, a sua ascensão em corpo e alma aos céus, na glória do Pai, para
“sujeitar todas as coisas” (Ef 1, 22) e ressuscitar a carne de todo o gênero humano – a fim de que, diante de Cristo
Nosso Senhor, nosso Deus, nosso Salvador e nosso Rei, segundo os desígnios do Pai invisível, “todo o joelho se
dobre
nos céus, na terra e nos infernos, e toda a língua O confesse” (Fl.2, 10-11) e de que Ele julgue com justiça todas as
criaturas. Esta pregação que a Igreja recebeu, esta fé é guardada com cuidado, como se a Igreja habitasse uma só
casa; embora disseminada por todo o mundo, acredita em tudo isto de forma idêntica em toda a parte, como se
tivesse “um só coração e uma só alma” (At.4,32); prega, ensina e transmite esta mensagem com voz humana, como
se tivesse uma só boca. As línguas que se falam no mundo são diversas, mas a força da tradição é uma e a mesma.
As Igrejas estabelecidas na Germânia não crêem nem ensinam coisas diferentes das dos Iberos ou dos Celtas, ou das
do Oriente, do Egito ou da Líbia, nem das que foram fundadas no centro do mundo a Terra Santa. Assim como o
sol, criatura de Deus, é único e o mesmo em todo o mundo, assim a pregação da verdade brilha em toda a parte,
iluminando todos os homens que querem “conhecer a verdade” (1Tm.2,4).
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 08/11/06 (trad. DC 2369, p. 1056 © Libreria Editrice Vaticana)
A conversão de S. Paulo: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Ga.2,20)
O encontro com Cristo no caminho de Damasco revolucionou literalmente a vida de Paulo... É importante que nos
apercebamos de quanto Jesus Cristo possa incidir na vida de um homem e também na nossa própria vida: Como
acontece o encontro de um ser humano com Cristo? E em que consiste a relação que dele deriva?... Paulo ajuda-nos
a compreender o valor absolutamente fundamental e insubstituível da fé. Eis quanto escreve na Carta aos Romanos:
"Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei" (3,28).
E também na Carta aos Gálatas: "O homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus
Cristo; por isso, também nós acreditamos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas
obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada" (2,16). "Ser justificados" significa serem
tornados justos, isto é, ser acolhidos pela justiça misericordiosa de Deus, e entrar em comunhão com Ele, e poder
estabelecer uma relação muito mais autêntica com todos os nossos irmãos: e isto com base num perdão total dos
nossos pecados. Pois bem, Paulo diz com muita clareza que esta condição de vida não depende das nossas eventuais
boas obras, mas de uma mera graça de Deus: "Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da
redenção realizada em Cristo Jesus" (Rm. 3,24). Com estas palavras São Paulo expressa o conteúdo fundamental da
sua conversão, o novo rumo da sua vida que resultou do seu encontro com Cristo ressuscitado. Paulo, antes da
conversão, não tinha sido um homem afastado de Deus e da sua Lei. Ao contrário, era um observante, com uma
observância fiel até ao fanatismo. Mas à luz do encontro com Cristo compreendeu que com isso tinha procurado
edificar-se a si mesmo, à sua própria justiça, e que com toda essa justiça tinha vivido para si mesmo. Compreendeu
que era absolutamente necessária uma nova orientação da sua vida. E encontramos expressa nas suas palavras esta
nova orientação:
"E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim"
(Gl.2,20). Por conseguinte, Paulo já não vive para si, para a sua própria justiça. Vive de Cristo e com Cristo.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão 279
O perseguidor transformado em pregador
Do alto do céu a voz de Cristo fez com que Saulo caísse por terra: recebeu a ordem de não continuar com as suas
perseguições, e caiu por terra. Era preciso que tombasse e em seguida se erguesse; primeiro caído e depois curado.
Porque Cristo não teria nunca vivido nele se Saulo não tivesse abandonado a sua antiga vida de pecado. Caído por
terra, que ouve ele? «Saulo, Saulo, por que Me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão» (At.26,14).
Ao que ele respondeu: «Quem és tu, Senhor?» E a voz do alto continuou: «Sou Jesus de Nazaré, que tu persegues».
Os membros ainda estão na terra, é a cabeça que grita do alto do céu; e não diz: «Por que persegues os Meus
servos?» mas «Por que Me persegues?»E Paulo, que empregava todo o seu ardor nas perseguições, dispõe-se desde
logo a obedecer: «Que queres que eu faça?» Já o perseguidor se transformou em pregador, o lobo em ovelha, o
inimigo em defensor. Paulo aprende o que deve fazer: se ficou cego, se a luz do mundo lhe foi subtraída durante
certo tempo, foi para que no seu coração brilhasse a luz interior. A luz é retirada ao perseguidor para ser dada ao
pregador; no próprio momento em que não via nada deste mundo, viu Jesus. É um símbolo para os crentes: aqueles
que crêem em Deus devem fixar n'Ele o olhar da sua alma sem ter em consideração coisas exteriores. Saulo é
conduzido a Ananias; o lobo destruidor é levado à ovelha. Mas o Pastor que tudo conduz do alto dos céus,
tranquiliza-o: «Não te preocupes. Eu lhe revelarei tudo o que ele tem de sofrer pelo Meu nome.» (At.9,16). Que
maravilha! O lobo é trazido à ovelha. O Cordeiro, que foi morto pelas ovelhas, ensina-as a não temerem.
Comentário feito por
Santo Ireneu de Lyon (c.130-c.208), Bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, III, 1 (a partir da trad. Cerf 1984, p. 276 rev.)
«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura»
O Senhor de todas as coisas deu aos seus apóstolos o poder de proclamar o Evangelho. E é através deles que
conhecemos a verdade, isto é, os ensinamentos do Filho de Deus. Foi a eles que o Senhor disse: «Quem vos ouve é
a Mim que ouve, e quem vos rejeita é a Mim que rejeita; mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou.»
(Lc.10,16). Porque nós só conhecemos o plano da nossa salvação através daqueles que nos fizeram chegar o
Evangelho, não por outros. Este Evangelho foi primeiro pregado pelos apóstolos. Depois, por vontade de Deus,
transmitiram-no na Escritura para que se tornasse «coluna e sustentáculo» da nossa fé (1Tm.3,15). Não devemos
dizer que o pregaram antes de terem obtido o conhecimento perfeito, como alguns se atrevem a pretender, esses que
se gabam de ser os corretores dos apóstolos. Com efeito, depois de Nosso Senhor ter ressuscitado de entre os mortos
e de os apóstolos terem sido «revestidos com a força do Alto» (Lc.24, 49) pela vinda do Espírito Santo, ficaram
cheios de certeza acerca de tudo e possuíram pois o conhecimento perfeito. Então, foram «até aos confins do
mundo» (Sl 18, 5; Rm.10,18) proclamando a Boa Nova dos bens que nos vêm de Deus e anunciando aos homens a
paz do Céu. Todos eles possuíam, de maneira igual e cada um particularmente, o Evangelho de Deus.
Comentário feito por
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS, vol. 6, n° 15 «Rising with Christ»
«Eles não são deste mundo como Eu não sou deste mundo»
Começai desde já, neste tempo santo de Páscoa, a vossa ressurreição com Cristo. Vede como Ele vos estende a mão!
Ele ressuscita; ressuscitai com Ele! Saí do túmulo do velho Adão, abandonai as vossas preocupações, as invejas, as
inquietações, as ambições mundanas, a escravatura do hábito, o tumulto das paixões, os fascínios da carne, o
espírito frio, terra a terra e calculista, a ligeireza, o egoísmo, a preguiça, a vaidade e as manias de grandeza.
Esforçai-vos doravante por fazer o que vos parece difícil, mas que não deveria, e não deve ser negligenciado: velai,
rezai e meditai. Mostrai que o vosso coração, as vossas aspirações e toda a vossa vida estão com o vosso Deus.
Reservai em cada dia algum tempo para ir ao Seu encontro. Não vos peço que abandoneis o mundo nem que
abandoneis os vossos deveres nesta terra, mas sim que retomeis a posse do vosso tempo. Que não consagreis horas
inteiras ao lazer ou à vida em sociedade enquanto apenas consagrais alguns instantes a Cristo. Que não rezeis
unicamente quando estais cansados e à beira de adormecer; que não vos esqueçais por completo de louvá-lo ou de
interceder pelo mundo e pela Igreja. Comportai-vos segundo as palavras da Sagrada Escritura: «Procurai as
realidades lá de cima». Mostrai a vossa pertença a Cristo, pois o vosso coração «ressuscitou com Ele» e «a vossa
vida está oculta n'Ele» (Cl.3,1-3).
Lc.(1,5-25) –DDDE – p.1345- Anunciação do nascimento do precursor João Batista
5.Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de Aarão,
chamava-se Isabel.
6.Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7.Mas não tinham filho, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada.
8.Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe, 9.coube-lhe por sorte, segundo o costume em
uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume. 10.Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do
perfume.
11.Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume.
12.Vendo-o, Zacarias ficou perturbado, e o temor assaltou-o.
13.Mas o anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração: Isabel, tua mulher, dar-te-á um filho, e chamá-lo-ás João.
14.Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento; 15.porque será grande diante do Senhor e não
beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo;
16.ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus,
17.e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos,
para preparar ao Senhor um povo bem disposto.
18.Zacarias perguntou ao anjo: Donde terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada. 19.O anjo respondeu-lhe: Eu
sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova.
20.Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas
palavras, que se hão de cumprir a seu tempo.
21.No entanto, o povo estava esperando Zacarias; e admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário. 22.Ao sair, não lhes podia
falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo.
23.Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa.
24.Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu; e por cinco meses se ocultava, dizendo:
25.Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens.
Comentário feito por:
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
Sermão para a celebração do Natal
«Eis por que deves guardar silêncio» - (v.20)
No Natal festejamos um triplo nascimento. O primeiro e mais sublime nascimento é o do Filho único gerado pelo
Pai celeste na essência divina, sendo nisso distinto das pessoas. O segundo nascimento é o que se deu numa mãe que
na fecundidade guardou a pureza absoluta da sua castidade virginal. O terceiro é aquele pelo qual Deus, todos os
dias, à mesma hora, nasce em verdade, espiritualmente, pela graça e pelo amor, numa alma boa.Para que seja
possível este terceiro nascimento, permitamo-nos apenas a procura simples e pura de Deus, e abdiquemos de
qualquer outro desejo que não nos seja próprio, tendo apenas como única vontade a de Lhe pertencermos, de Lhe
darmos lugar da maneira mais digna e elevada, em total intimidade com Ele, para que possa realizar a sua obra, para
que possa nascer em nós sem o menor obstáculo. Por isso nos diz Santo Agostinho : «Esvazia-te para que possas
ficar completo; sai para que possas entrar», e diz ainda noutro texto: «Ó tu, alma nobre, nobre criatura, porque
procuras fora de ti o que está em ti próprio, tão inteiro, da maneira mais verdadeira e manifesta? E, pois que
participas da natureza divina, porque terás de importar com as coisas criadas, que tens tu a ver com elas?» Se o
homem preparasse assim um lugar no mais profundo do seu ser, Deus, sem dúvida, seria obrigado a ocupá-lo e
completamente; o próprio céu romper-se-ia para fazê-lo. Deus não pode deixar as coisas vazias; tal seria contrário à
sua natureza, à sua justiça. É por isso que deves calar-te; o Verbo deste nascimento poderá então ser pronunciado
em ti e poderás ouvi-lo. Mas fica certo de que, se quiseres falar, Ele calar-se-á. A melhor maneira de servirmos o
Verbo é nos calarmos e o escutarmos. Portanto, se saíres por completo de ti próprio, Deus entrará completo em ti; o
quanto de ti próprio tu saíres, será o quanto Ele em ti entrará, nem mais, nem menos.
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo
Comentário ao Evangelho de São João, 2, 193 ss. (trad. cf. SC 120, p. 339)
"Vais ficar mudo até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras."
Em nós, a voz e a palavra não são a mesma coisa, porque a voz pode fazer-se ouvir sem conferir sentido, sem
palavras, e a palavra também pode ser transmitida ao espírito sem voz, como acontece quando pensamos. Da mesma
maneira, sendo o Salvador a Palavra, João difere Dele por ser a voz, por analogia com Cristo, que é a Palavra. É isso
que o próprio João responde àqueles que lhe perguntam quem é ele: «Eu sou a voz do que brada no deserto:
"Aplanai o caminho do Senhor"» (Jo.1,23).Talvez seja por isso, por ter duvidado do nascimento dessa voz que viria
a revelar a Palavra de Deus, que Zacarias perdeu a voz, recuperando-a quando nasceu esta voz que é o precursor da
Palavra (Lc 1,64). É que, para poder captar a palavra que a voz designa, o espírito tem de ouvir a voz. É também por
isso que João é um pouco mais velho do que Cristo; com efeito, ouvimos a voz antes da palavra. João designa Cristo
dessa maneira, porque foi por uma voz que a Palavra Se manifestou. E Cristo também é batizado por João, que
confessa precisar ser batizado por Ele (Mt.3,14). Em suma, quando João aponta para Cristo, é um homem que
aponta para Deus, para o Salvador incorpóreo; é uma voz que aponta para a Palavra.
Lc.(1,26-38) - DDDE - p. 1345/6 -Manifestação da Santíssima Trindade
26.No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27.a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.
28.Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.
29.Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.
30.O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.
31.Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.
32.Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de
Jacó,
33.e o seu reino não terá fim.
34.Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?
35.Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente
santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.
36.Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,
37.porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
38.Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.
Comentário feito por:
João Paulo II
Alocução de 27.11.1983
"Rejubila, cheia de graça!" (v.28)
A alegria é uma componente fundamental do tempo sagrado que começa. O Advento é um tempo de vigilância, de
oração, de conversão, para além de uma espera fervorosa e alegre. O motivo é claro: «O Senhor está próximo»
(Fl.4,5). A primeira palavra dirigida a Maria no Novo Testamento é um convite jubiloso: «Exulta, rejubila!»
(Lc.1,28 grego).
Tal saudação está ligada à vinda do Salvador. Maria é a primeira a quem é anunciada uma alegria que, em seguida,
será proclamada a todo o povo; Maria participa nela de uma forma e numa medida extraordinária. Em Maria, a
alegria do antigo Israel concentra-se e encontra a sua plenitude; nela, a felicidade dos tempos messiânicos
manifesta-se irrevogavelmente. A alegria da Virgem Maria é de modo particular, a do «pequeno resto» de Israel (Is.
10,20 sg), dos pobres que esperam a salvação de Deus e que experimentam a sua fidelidade. Para participarmos
também nesta festa, é necessário esperarmos com humildade e acolhermos o Salvador com confiança. «Todos os
fiéis que, pela liturgia, vivem o espírito do Advento, considerando o amor inefável com que a Virgem Maria
esperava o Filho, serão levados a tomá-la como modelo e a preparar-se para ir ao encontro do Senhor que vem,
'vigilantes na oração e cheios de alegria'» (Paulo VI, Marialis cultus,4; Missal Romano).
Comentário feito por:
Santo Amadeu de Lausana (1108-1159), monge cisterciense, posteriormente bispo
Terceira homilia mariana
O Espírito Santo faz nascer em Maria a nova criação – (v.35)
«O Espírito Santo descerá sobre ti». Ele revelar-se-á em ti, Maria. Veio a outros santos, e a outros virá; mas em ti,
revelar-se-á. Revelar-se-á na fecundidade, na abundância, na plenitude da sua efusão em todo o teu ser. Quando te
tiver tomado, continuará em ti, presente em teus fluidos para fazer em ti obra melhor e mais admirável do que
quando, movendo-se na superfície das águas no começo, fez evoluir em diversas formas a matéria criada (Gn.1,2).
«E a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra». Cristo, força e sabedoria de Deus, envolver-te-á na sua
sombra; tomará então de ti a natureza humana, e a plenitude de Deus, que não poderias ter, mantê-la-á em Si ao
mesmo tempo em que assume
nossa carne. Estenderá sobre ti a sua sombra porque a humanidade que for escolhida pelo Verbo será como um véu
para a luz inacessível de Deus; e essa luz, assim joeirada, penetrará nas tuas tão castas entranhas. Rogamos-te
Soberana, digníssima Mãe de Deus, não desprezes os que pedem com verdadeiro temor, os que procuram com
piedade, os que com amor te batem à porta. Diz-nos, rogamos-te, que sentimento te comoveu, por que amor foste
tomada quando em ti se realizou a maravilha, quando o Verbo em ti se fez carne? Em que estado se encontrava a
tua alma, teu coração, o espírito, os sentidos e a razão? Como a sarça outrora mostrada a Moisés, inflamavas-te, sem
te queimares (Ex 3,2). Abandonavas-te no calor de Deus, sem que a chama te consumisse. Assim ardente, fundias-te
sob o fogo do Altíssimo; mas desse fogo divino ganhavas novas forças, para ficares sempre ardente e n’Ele te
fundires mais ainda. Ficaste mais virgem – e bem mais do que isso, porque virgem e mãe. Louvamos-te, ó cheia de
graça; o Senhor é contigo; bendita sejas entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
Comentário feito por: - Anunciação do nascimento de Jesus
Da liturgia bizantina
Hino "acatistos" à Mãe de Deus (séc. VII)
"Eu te saúdo, ó cheia de graça!" – (v.28)
Do céu foi enviado um arcanjo eminente para dizer à Mãe de Deus: "Alegra-te!"
Mas quando te viu, ó Senhora, a sua voz ganhou corpo e ele gritou a sua surpresa e o seu encantamento:
"Alegra-te: em ti brilha a alegria da salvação.
Alegra-te: por ti o mal desapareceu.
Alegra-te, porque ergues Adão da sua queda.
Alegra-te, porque Eva também já não chora.
Alegra-te, montanha inacessível aos pensamentos dos homens.
Alegra-te, abismo insondável aos próprios anjos.
Alegra-te, porque te tornas o trono e o palácio do Rei.
Alegra-te: tu levas em ti Aquele que tudo pode.
Alegra-te, estrela que anuncias o nascer do Sol.
Alegra-te, porque em teu seio Deus tomou a nossa carne.
Alegra-te: por ti, toda a criação é renovada.
Alegra-te: por ti, o Criador fez-se menino.
Alegra-te, Esposa que não foste desposada."
A Puríssima, conhecendo o seu estado virginal, respondeu confiadamente ao anjo Gabriel: "Que estranha maravilha
essa que dizes! Ela parece incompreensível à minha alma; como conceberei sem semente para engravidar, como tu
estás a dizer?" Aleluia, aleluia, aleluia!
Para compreender este mistério desconhecido, a Virgem dirige-se ao servo de Deus e pergunta-lhe como é que um
Filho poderia ser concebido nas suas castas entranhas. Cheio de respeito, o anjo aclama-a:
"Alegra-te: a ti Deus revela os seus desígnios inefáveis.
Alegra-te, confiança dos que rezam em silêncio.
Alegra-te: tu és a primeira das maravilhas de Cristo.
Alegra-te: em ti são recapituladas as doutrinas divinas.
Alegra-te, escada pela qual Deus desce do Céu.
Alegra-te, ponte que nos conduz da terra ao Céu.
Alegra-te, inesgotável admiração dos anjos.
Alegra-te, ferida incurável para os demônios.
Alegra-te: tu geras a luz de forma inexprimível.
Alegra-te: tu não revelas o segredo a ninguém.
Alegra-te: tu ultrapassas a sabedoria dos sábios.
Alegra-te: tu iluminas a inteligência dos crentes.
Alegra-te, Esposa que não foste desposada."
O poder do Altíssimo cobriu então com a sua sombra a Virgem que não tinha sido desposada, para levá-la a
conceber. E o seu seio fecundado tornou-se um jardim de delícias para os que nele querem colher a salvação,
cantando: "Aleluia, aleluia, aleluia!"
Comentário feito por :
São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja
Homilias para o Advento, nº 3; CCL 122, 14-17 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 170)
«O Senhor Deus vai dar-Lhe o trono de Seu pai David; Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó e o Seu reinado
não terá fim»
«O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, uma virgem, desposada com um
homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria». O que é dito da casa de David não diz
respeito apenas a José, mas também a Maria. Porque a Lei prescrevia que um homem se casasse com uma mulher da
sua tribo e da sua estirpe, segundo o testemunho do apóstolo Paulo, que escreveu a Timóteo: «Lembra-te de Jesus
Cristo, saído da estirpe de David, e ressuscitado dos mortos, segundo o meu Evangelho» (2Tim.2,8). «Ele será
grande e vai chamar-Se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe-á o trono de Seu pai David». O trono de
David significa aqui o poder sobre o povo de Israel, que David governou no seu tempo, com um zelo pleno de fé. A
este povo, que David dirigiu pelo seu poder temporal, vai Cristo conduzir por uma graça espiritual para o reino
eterno. «Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacob». A casa de Jacob designa a Igreja universal que, pela fé e o
testemunho rendido a Cristo, se une ao destino dos patriarcas, quer dos que tiram a sua origem carnal da sua cepa,
quer dos que, nascidos pela carne de uma outra nação, são reunidos em Cristo, pelo batismo no Espírito. É sobre
esta casa de Jacob que Ele reinará eternamente: «e o Seu reinado não terá fim». Sim, Ele reina sobre ela na vida
presente, quando governa o coração dos eleitos onde habita, pela sua fé e o seu amor para com Ele; e governa-os
pela Sua contínua proteção, para lhes fazer chegar os dons da recompensa celeste. Ele reina no futuro, quando, uma
vez terminado o estado de exílio temporal, os introduz na estadia da pátria celeste, onde eles se regozijam com a Sua
presença visível que continuamente lhes lembra que não podem senão cantar os Seus louvores
Lc.(3,1-9) – DDDE- p.1366
1.No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu
irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da Abilina,
2.sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias.
3.Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados,
4.como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías (40,3ss.): Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as
suas veredas.
5.Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão
aplainados.
6.Todo homem verá a salvação de Deus.
7.Dizia, pois, ao povo que vinha para ser batizado por ele: Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira iminente?
8.Fazei, pois, uma conversão realmente frutuosa e não comeceis a dizer: Temos Abraão por pai. Pois vos digo: Deus tem poder para destas
pedras suscitar filhos a Abraão.
9.O machado já está posto à raiz das árvores. E toda árvore que não der fruto bom será cortada e lançada ao fogo.
Comentário feito por:
Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense
Orações meditativas, nº 5
«Se não vos converterdes, perecereis»
Pobre de mim, a consciência acusa-me sem cessar, e a verdade não pode desculpar-me dizendo: ele não sabia o que
fazia. Perdoa, pois, Senhor, pelo preço do Teu precioso sangue, todos os pecados em que caí, consciente ou
inconscientemente. Sim, Senhor, pequei verdadeiramente, pequei por minha vontade, e pequei muito. Depois de ter
tido conhecimento da verdade, ofendi o Espírito de graça; e quando do meu batismo, o Espírito tinha-me concedido
de forma gratuita a remissão dos pecados. Mas eu, depois de ter tido conhecimento da verdade, voltei aos meus
pecados, «como o cão volta ao seu vômito» (2Pd. 2,22). Ó Filho de Deus, pisei-Te aos pés, negando-Te? Mas não
posso dizer que, ao negar-Te, Pedro Te tenha pisado aos pés, ele que Ele amava tão ardentemente, embora Te tenha
negado uma primeira vez, uma segunda e uma terceira vez. Também a mim Satanás me reclamou por vezes a fé,
para me joeirar como o trigo; mas a Tua oração desceu sobre mim, de maneira que a minha fé nunca desfaleceu (Lc.
22,31-32), nunca Te abandonou. Bem sabes que sempre quis aderir à fé em Ti; protege-me, pois, nesta vontade, até
ao fim. Sempre acreditei em Ti, sempre Te amei, mesmo quando pequei contra Ti. Lamento profundamente os meus
pecados. Do amor, porém, lamento apenas não ter amado tanto como devia.
Lc.3,10-18- DDDE - p.1310
10.Perguntava-lhe a multidão: Que devemos fazer?
11.Ele respondia: Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo.
12.Também publicanos vieram para ser batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13. Ele lhes respondeu: Não exijais mais do que vos foi ordenado.
14.Do mesmo modo, os soldados lhe perguntavam: E nós, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não pratiqueis violência nem defraudeis a
ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo.
15.Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo,
16.ele tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou
digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.
17.Ele tem a pá na mão e limpará a sua eira, e recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as palhas num fogo inextinguível. 18.É assim
que ele anunciava ao povo a boa nova, e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações.
Comentário feito por
Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero e mártir
Sermão sobre a santa Teofania; PG 10, 852 (a partir da trad. Année en fêtes, Migne 2000, p.136 rev.)
«Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o menor no Reino
do Céu é maior do que ele.»
Veneremos a compaixão de um Deus que veio salvar e não julgar o mundo. João, o precursor do Mestre, que até
então desconhecia este mistério, logo que percebeu que Jesus era verdadeiramente o Senhor, clamou àqueles que
tinham vindo pedir o batismo: «Raça de víboras» (Mt.3,6), porque me olhais com tanta insistência? Eu não sou o
Cristo. Sou um servo e não o Mestre. Sou um simples súbdito, não sou o rei. Sou uma ovelha, não o pastor. Sou um
homem, não um Deus. Curei a esterilidade da minha mãe vinda ao mundo, mas não tornei fecunda a sua virgindade;
fui tirado de baixo, não desci das alturas. Emudeci a língua do meu pai (Lc.1,20), não manifestei a graça divina. Sou
miserável e pequeno, mas depois de mim virá Aquele que é antes de mim (Jo.1,30).Ele vem depois, no tempo; mas
anteriormente estava na luz inacessível e inefável da divindade. «Aquele que vem depois de mim é mais poderoso
do que eu e não sou digno de Lhe descalçar as sandálias. Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo» (Mt.3,11).
Eu estou subordinado; Ele é livre. Eu estou sujeito ao pecado, Ele destrói o pecado. Eu ensino a Lei, Ele traz-nos a
luz da graça. Eu prego como escravo, Ele legisla como mestre. Eu tenho por leito o chão, Ele os Céus. Eu dou-vos o
batismo do arrependimento, Ele dá a graça da adoção. «Ele há de batizar-vos no Espírito Santo e no fogo». Porque
me venerais? Eu não sou o Cristo.
- Lc.4,1-13 [pg.1350/51] - DDDE - Tentação no deserto
1.Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto,
2.onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias. Durante este tempo ele nada comeu e, terminados estes dias, teve fome.
3.Disse-lhe então o demônio: Se és o Filho de Deus, ordena a esta pedra que se torne pão. 4.Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão
vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3).
5.O demônio levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe num só momento todos os reinos da terra, 6.e disse-lhe: Dar-te-ei todo este
poder e a glória desses reinos, porque me foram dados, e dou-os a quem quero.
7.Portanto, se te prostrares diante de mim, tudo será teu.
8.Jesus disse-lhe: Está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13).
9.O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-lhe: Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10.porque está escrito: Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem.
11.E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra (Sl 90,11s.). 12.Jesus disse: Foi dito: Não tentarás o Senhor
teu Deus (Dt 6,16).
13.Depois de tê-lo assim tentado de todos os modos, o demônio apartou-se dele até outra ocasião.
-Jesus discerniu que as sugestões que lhe vinham na tentação do deserto, embora citassem a Palavra de Deus, não
eram do Pai, mas do maligno para estragar o Plano do Pai.
Comentáro feito por:
Gregório Magno (c 540-604), papa, doutor da Igreja
Catequeses sobre o Evangelho, nº 16
“Porque, como pela desobediência de um só, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um
só, muitos se tornaram justos”. (Rm. 5,19)
O diabo atacou o primeiro homem, nosso pai, com uma tripla tentação: tentou-o pela gulodice, pela vaidade e pela
avidez. A sua tentativa de sedução resultou, pois que o homem, ao dar o seu consentimento, ficou então submisso ao
diabo. Tentou-o pela gulodice, mostrando-lhe na árvore o fruto proibido e convidando-o a comê-lo; tentou-o pela
vaidade, dizendo-lhe: “sereis como deuses”; tentou-o enfim pela avidez, ao dizer-lhe: “conhecereis o bem e o mal”
(Gn.3,5). Porque ser ávido, não é apenas desejar o dinheiro, mas também toda a situação vantajosa, desejar, para
além do razoável, toda a situação elevada… O diabo foi vencido por Cristo que ele tentou de um modo semelhante
àquele pelo qual ele tinha vencido o primeiro homem. Como da primeira vez, ele tentou-o pela gulodice: “ordena a
estas pedras que se transformem em pães”; pela vaidade: “se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo”; pelo desejo
violento de uma bela situação, quando ele lhe mostra todos os reinos do mundo e lhe diz: “dar-te-ei tudo isto, se
caíres a meus pés e me adorares”...É necessário chamar a atenção para uma coisa na tentação do Senhor: tentado
pelo diabo, o Senhor retrucou com os textos da Santa Escritura. Teria podido lançar o seu tentador no abismo pelo
Verbo que era ele próprio. E contudo não recorreu ao seu poderoso poder; apenas pôs em primeiro lugar os
preceitos da Santa Escritura. Mostra-nos assim como suportar a prova, de modo que, assim que os maus nos fazem
sofrer, sejamos impelidos a recorrer à boa doutrina em lugar da vingança. Comparai a paciência de Deus com a
nossa impaciência. Nós, quando recebemos injúrias ou sofremos uma ofensa, na nossa fúria vingamo-nos tanto
quanto podemos, ou ameaçamos fazê-lo. O Senhor, ele, suporta a adversidade do diabo respondendo-lhe apenas
com palavras de paz.
Comentário feito por
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de Lucas, IV, 7-12 ; PL 15,1614 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans A, p. 88)
«Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, onde era tentado pelo diabo»
Recordemos que o primeiro Adão foi expulso do paraíso para o deserto, para que a nossa atenção se concentre na
maneira como o segundo Adão (1Co.15,45) regressa do deserto ao paraíso. Vede, com efeito, como a primeira
condenação é desenredada, depois de ter sido enredada, como são restabelecidos os benefícios divinos sobre os
vestígios dos benefícios antigos. Adão vem de uma terra virgem, Cristo vem da Virgem; aquele foi feito à imagem
de Deus, Este é a imagem de Deus (Cl.1,15); aquele foi colocado acima de todos os animais irracionais, Este acima
de todos os seres vivos. Por uma mulher veio a insensatez, por uma virgem a sabedoria; a morte veio de uma árvore,
a vida pela cruz. Um, despido das vestes espirituais, concebeu para si uma veste de folhas de árvore; o Outro,
despido da veste deste mundo, deixou de desejar uma veste material (Jo.19,23).Adão foi expulso do deserto, Cristo
vem do deserto; porque Ele sabia onde se encontrava o condenado que queria reconduzir ao paraíso, já liberto do
seu pecado. Aquele que tinha perdido a rota que seguia no paraíso não era capaz de reencontrar a rota perdida no
deserto, sem ter quem o guiasse. As tentações são numerosas, o esforço com vista à virtude é difícil, é fácil dar
passos em falso e cair no erro. Sigamos pois a Cristo, conforme está escrito: «É ao Senhor vosso Deus que deveis
temer e seguir» (Dt.13,5). Sigamos, pois, os Seus passos, e poderemos passar do deserto ao paraíso.
Lc.4,38-44 DDDE - p.1352
38. Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta; e pediram-lhe por ela.
39. Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a. Ela levantou-se imediatamente e pôs-se a servi-los.
40. Depois do pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias lhos traziam. Impondo-lhes a mão, os sarava.
41. De muitos saíam os demônios, aos gritos, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Mas ele repreendia-os severamente, não lhes
permitindo falar, porque sabiam que ele era o Cristo.
42. Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado. As multidões o procuravam e foram até onde ele estava e queriam detê-lo,
para que não as deixasse.
43. Mas ele disse-lhes: É necessário que eu anuncie a boa nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha missão.
44.E andava pregando nas sinagogas da Galiléia.
Comentário feito por:
Santo Eucher (? - c. 450), Bispo de Lião
O Elogio do Deserto (a partir da trad. da Irmã Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 2, p. 109)
«Saiu e retirou-Se para um lugar solitário»
Não poderemos nós com razão adiantar que o deserto é o templo sem limites do nosso Deus? Aquele que mora no
silêncio deve certamente gostar de locais retirados. Foi aí que muitas vezes Se manifestou aos Seus santos; foi
graças à solidão que Ele Se dignou vir ter com os homens. Foi no deserto que Moisés, com a face banhada de luz,
viu a Deus. Lá lhe foi permitido conversar familiarmente com o Senhor. Palavra puxa palavra, dialogou com o
Senhor do universo como um homem costuma falar com o seu semelhante. Foi lá que recebeu a vara de prodigiosos
poderes. Entrou no deserto como pastor de ovelhas saiu dele como pastor de povos (Ex.3;33,11;34).Também o povo
de Deus, quando foi resgatado do Egito e libertado dos trabalhos forçados, foi conduzido a locais retirados,
refugiando-se no isolamento. Sim, foi no deserto que se aproximou deste Deus que o arrancou à servidão. E o
Senhor fez-Se chefe do Seu povo, ao guiar os seus passos através do deserto. Pelo caminho, dia e noite,
manifestava-Se numa coluna, numa chama ardente, numa nuvem relampejante, em sinais vindos do céu. Os filhos
de Israel puderam assim ver o trono de Deus e ouvir a Sua voz durante o tempo em que viveram na solidão do
deserto. Será necessário acrescentar que só chegaram à terra dos seus sonhos após a permanência no deserto? Para
que o povo entrasse um dia na posse da terra onde corria leite e mel, foi necessário primeiro passar por locais áridos
e não cultivados. É sempre através dos acampamentos no deserto que nos encaminhamos para a verdadeira pátria.
Quem quer «vir a contemplar a bondade do Senhor, na terra dos vivos» Sl.27 (26),13 vá habitar uma região
inabitável.
-Lc.5,17-26 –DDDE- pg.1352.3 – “ Cura de um paralítico”.
17.Um dia estava ele ensinando. Ao seu derredor estavam sentados fariseus e doutores da lei, vindos de todas as localidades da Galiléia, da
Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor fazia-o realizar várias curas.
18.Apareceram algumas pessoas trazendo num leito um homem paralítico; e procuravam introduzi-lo na casa e pô-lo diante dele.
19.Mas não achando por onde o introduzir, por causa da multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o arriaram com o leito ao meio
da assembléia, diante de Jesus.
20.Vendo a fé que tinham, disse Jesus: Meu amigo, os teus pecados te são perdoados.
21.Então os escribas e os fariseus começaram a pensar e a dizer consigo mesmos: Quem é este homem que profere blasfêmias? Quem pode
perdoar pecados senão unicamente Deus? 22.Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, replicou-lhes: Que pensais nos vossos
corações?
23.Que é mais fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer: Levanta-te e anda?
24.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados (disse ele ao paralítico), eu te ordeno: levanta-te,
toma o teu leito e vai para tua casa.
25.No mesmo instante, levantou-se ele à vista deles, tomou o leito e partiu para casa, glorificando a Deus.
26.Todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificavam a Deus; e tomados de temor, diziam: Hoje vimos coisas
maravilhosas.
-Discerniu Jesus que a causa maior dos males daquele homem não era a enfermidade física, mas a espiritual DDCEdom da cura espiritual
Comentário feito por:
Santo Ireneu’ de Lião (c.130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias III, 2, 2
«Hoje vimos coisas extraordinárias» - (v.26)
O Verbo de Deus veio habitar no homem; fez-se «Filho do Homem» para habituar o homem a receber Deus e para
habituar Deus a habitar no homem, como foi vontade do Pai. Eis por que o sinal da nossa salvação, Emanuel
nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is.7,14). É de fato o próprio Senhor que salva os homens, pois
estes não podem salvar-se a si próprios. Disse o profeta Isaías: «Revigorai, ó mãos abatidas, ó vacilantes joelhos!
Dai ânimo à vossa coragem, corações pusilânimes! Tomai ânimo, não temais! Eis o nosso Deus, que vem para nos
vingar; Ele vem em pessoa, e vem para nos salvar» (35,3-4). Porque é pela intervenção de Deus, e não pela do
homem,
que
recebemos
a
salvação.
Eis outro texto onde Isaías prediz que Quem nos salvará não é homem nem ser incorpóreo: «Não será um
mensageiro, não será um anjo, será o próprio Senhor a salvar o seu povo. Porque o ama, perdoar-lhe-á; Ele próprio o
libertará» (63,9). Mas tal Salvador é homem também, verdadeiramente, e portanto visível: «Eis, Cidade de Sião, que
os teus olhos verão o nosso Salvador» (33,20). Disse um outro profeta: «Ele próprio virá, far-nos-á misericórdia, e
lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mi.7,19). De Belém, aldeia da Judeia (Mi.5,1), é que deverá sair o
filho de Deus, que é Deus também, para difundir o seu louvor por toda a terra. Portanto Deus fez-se homem; e o
próprio Senhor nos salvou, ao dar-nos o sinal da Virgem.
Lc.7,24-30 – DDDE- p.1356
24. Depois que se retiraram os mensageiros de João, ele começou a falar de João ao povo: Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado
pelo vento?
25. Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos
reis.
26. Mas, enfim, que fostes ver? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais do que profeta.
27. Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro ante a tua face; ele preparará o teu caminho diante de ti (Ml 3,1).
28. Pois vos digo: entre os nascidos de mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele.
29. Ouvindo-o todo o povo, e mesmo os publicanos, deram razão a Deus, fazendo-se batizar com o batismo de João.
30. Os fariseus, porém, e os doutores da lei, recusando o seu batismo, frustraram o desígnio de Deus a seu respeito.
Comentário feito por:
Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara
Carta ao Padre Jerónimo de 19 de Maio 1898
«Que fostes ver ao deserto?»
É preciso passar pelo deserto e aí permanecer para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que extraímos
de nós tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma para deixar todo
o espaço apenas para Deus. Os judeus passaram pelo deserto, Moisés viveu lá antes de receber a sua missão, São
Paulo e São João Crisóstomo prepararam-se no deserto. É um tempo de graça, é um período pelo qual toda a alma
que quer produzir frutos tem necessariamente de passar. Ela precisa deste silêncio, deste recolhimento, deste
esquecimento de todo o criado, no meio dos quais Deus estabelece o Seu reino e forma nela o espírito interior: a
vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde, a alma produzirá
frutos exatamente na medida em que o homem interior se tiver formado nela (Ef.3,16). Não se dá o que se não tem e
é na solidão, nesta vida apenas e só com Deus, neste recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver
exclusivamente em união com Deus, que Deus Se dá inteiramente àquele que se dá assim a Ele. Dai-vos
inteiramente somente a Ele e Ele Se dará inteiramente a vós. Vede São Paulo, São Bento, São Patrício, São
Gregório Magno e tantos outros, quão longos tempos de recolhimento e de silêncio! Subi mais acima: olhai para
São João Baptista, olhai para Nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis dar-nos o
exemplo.
Lc.9,18-24 – DDDE – p.1359
18. Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou?
19. Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.
20. Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.
21. Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.
22. Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes
e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.
23. Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.
24. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.
Comentário feito por :
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja
Pesia 52, «O abandono é o fruto delicioso do amor»
«"E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim". E dizia isto para indicar de que morte ia
morrer» (Jo.12, 32-33)
Há nesta terra
uma Árvore maravilhosa
cuja raiz, oh mistério!
se encontra nos céus.
À sombra dos seus ramos
nada pode ferir;
aí se pode repousar
sem temer a tempestade.
Esta Árvore inefável
tem por nome Amor;
e seu fruto deleitável
chama-se abandono.
É um fruto que me torna feliz
já nesta vida;
e minha alma se alegra
com seu odor divino.
Este fruto, quando lhe toco,
é para mim um tesouro;
ao levá-lo à boca
mais doce ainda o sinto.
Ele me dá neste mundo
um oceano de paz;
e nesta paz profunda
repouso para sempre.
Só o abandono me entrega
em Teus braços, Jesus.
Ele me faz viver
a vida dos eleitos.
Comentário feito por
Catecismo da Igreja Católica, §§ 306-308
«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» - (V.23)
Deus é o Senhor soberano dos Seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das
criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus onipotente. É que Ele não só permite
às Suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas e de cooperarem, assim, na
realização dos Seus desígnios. Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua
Providência, confiando-lhes a responsabilidade de «submeter» a terra e dominá-la (Gn.1,26-28). Assim lhes
concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação e aperfeiçoar a sua harmonia, para
o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem
entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos.
Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de Deus» (1 Co.3, 9; 1Ts. 3,2) e do Seu Reino.Esta é uma verdade
inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a ação das Suas criaturas. É Ele a causa primeira, que opera
nas e pelas causas-segundas: «É Deus que produz em nós o querer e o operar, segundo o Seu beneplácito» (Fl.2,13).
Lc.(9,22-25) –DDDE – p.1359 - Renúncia
22.Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e
pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.
23.Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.
24.Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.
25.Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 21/02/07 (trad. DC 2376, p. 266 © Libreria Editrice Vaticana)
Aprender a "doar de novo" o amor que Cristo revelou na cruz
Na minha mensagem para a Quaresma quis realçar o amor imenso que Deus tem por nós para que os cristãos de
todas as comunidades possam deter-se espiritualmente, durante o tempo quaresmal, com Maria e João, o discípulo
predileto, ao lado d'Aquele que consumiu na Cruz pela humanidade o sacrifício da sua vida (cf. Jo. 19,25). Sim,
queridos irmãos e irmãs, a Cruz é a revelação definitiva do amor e da misericórdia divina também para nós, homens
e mulheres desta nossa época, muitas vezes distraídos por preocupações e interesses terrenos e momentâneos. Deus
é amor, e o seu amor é o segredo da nossa felicidade. Mas para entrar neste mistério de amor não há outro caminho
a não ser o de nos perdermos, de nos doarmos, o caminho da Cruz. "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mc.8, 34). Eis por que a liturgia quaresmal, enquanto nos convida a refletir e a
rezar, nos estimula a valorizar em maior medida a plenitude e o sacrifício, para rejeitar o pecado e o mal e vencer o
egoísmo e a indiferença. A oração, o jejum e a penitência, as obras de caridade para com os irmãos tornam-se assim
caminhos espirituais a serem percorridos para regressar a Deus, em resposta às repetidas chamadas à conversão
contidas
também
na
liturgia
hodierna
(cf.
Gl.2,12-13;
Mt.6,16-18).
Queridos irmãos e irmãs, o período quaresmal, que hoje empreendemos... seja para todos uma renovada experiência
do amor misericordioso de Cristo, que derramou na Cruz o seu sangue por nós. Coloquemo-nos docilmente na sua
escola, para aprender a "doar de novo", por nossa vez, o seu amor ao próximo, especialmente a quantos sofrem e se
encontram em dificuldade. É esta a missão de cada discípulo de Cristo.
Comentário feito por :
Teodoreto de Cyr (393-460), bispo
Tratado sobre a Encarnação, 26-27; PG 75, 1465 (a partir da trad. breviário)
«O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»
Jesus aceitou, exclusivamente por Sua vontade, os sofrimentos anunciados pela Escritura. Tinha-os predito muitas
vezes aos discípulos e tinha mesmo repreendido Pedro severamente por ter acolhido este anúncio com desagrado
(Mt.16,23); por fim, tinha-lhes mostrado que seriam para salvação do mundo. Foi por isso que Se designou a Si
mesmo aos que vinham buscá-Lo: «Sou Eu» (Jo.18,5.8). Esbofetearam-No, cuspiram-Lhe em cima, foi ultrajado,
torturado, flagelado, e por fim crucificado. Aceitou que dois ladrões, um à direita e outro à esquerda, fossem
associados ao Seu suplício; colocado ao nível de assassinos e criminosos, recolhe o vinagre e o fel, frutos de uma
vinha perversa; troçam Dele, atingindo-O com uma cana, perfuram-Lhe o lado com uma lança, e por fim depositamNo
no
túmulo.
E sofreu tudo isto para nos dar a salvação. Por meio dos espinhos, pôs fim aos castigos infligidos a Adão, que
devido ao seu pecado tinha escutado a seguinte sentença: «Maldita seja a terra por tua causa! Há de produzir para ti
espinhos e cardos» (Gn.3,17-18). Com o fel, tomou para Si o que há de amargo e penoso na vida mortal e dolorosa
dos homens; com o vinagre, aceitou a degenerescência da natureza humana e concedeu-lhe a restauração num
estado melhor. Por meio da púrpura, simbolizou a Sua realeza; pela cana, sugeriu quão fraco e frágil é o poder do
demônio. Pela bofetada, proclamou a nossa libertação como se fazia aos escravos; suportou as violências, as
correções e as chicotadas que nos eram devidas. Foi atingido no lado, fazendo lembrar Adão. Porém, ao invés da
fazer sair dele a mulher que, por meio do pecado, deu à luz a morte, fez jorrar uma fonte de vida (Gn.2,21;
Jo.19,34), que vivifica o mundo através de uma dupla corrente: a primeira renova-nos e reveste-nos da veste da
imortalidade no batistério; a segunda, após este nascimento, alimenta-nos à mesa de Deus, como se dá de mamar
aos recém-nascidos.
Lc.9,28-36 – DDDE - p.1360 – Presença Santíssima Trindade
28. Passados uns oitos dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu ao monte para orar.
29. Enquanto orava, transformou-se o seu rosto e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.
30. E eis que falavam com ele dois personagens: eram Moisés e Elias,
31. que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém.
32. Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono; ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois
personagens em sua companhia.
33. Quando estes se apartaram de Jesus, Pedro disse: Mestre, é bom estarmos aqui. Podemos levantar três tendas: uma para ti, outra para
Moisés e outra para Elias!... Ele não sabia o que dizia.
34. Enquanto ainda assim falava, veio uma nuvem e encobriu-os com a sua sombra; e os discípulos, vendo-os desaparecer na
nuvem, tiveram um grande pavor.
35. Então da nuvem saiu uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!
36. E, enquanto ainda ressoava esta voz, achou-se Jesus sozinho. Os discípulos calaram-se e a ninguém disseram naqueles dias coisa
alguma do que tinham visto.
Comentário feito por:
Anastásio do Sinai (?-depois de 700), monge
Homilia sobre a Transfiguração
«Moisés e Elias falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém»
Neste dia apareceu misteriosamente no Monte Tabor a condição da vida futura e do Reino da alegria. Neste dia, os
mensageiros da Antiga e da Nova Aliança reuniram-se de forma extraordinária em torno de Deus na montanha,
portadores de um mistério cheio de paradoxo. Neste dia, desenha-se no Monte Tabor o mistério da Cruz que, pela
morte, dá a vida: assim como Cristo foi crucificado entre dois homens no Monte Calvário, assim também Se
apresentou na majestade divina entre Moisés e Elias. E a festa de hoje mostra-nos este outro Sinai, montanha ó quão
mais preciosa que o Sinai, pelas suas maravilhas e os seus eventos, que ultrapassa, pela teofania que nela se deu, as
visões divinas figuradas e obscuras. Rejubila, ó Criador de todas as coisas, Cristo Rei, Filho de Deus resplandecente
de luz, que transfiguraste à Tua imagem toda a criação e de forma misteriosa a recriaste. E rejubila, ó imagem do
Reino celeste, santíssimo Monte Tabor, que ultrapassas em beleza todas as montanhas! Monte Gólgota e Monte das
Oliveiras, cantai juntos um hino e rejubilai; cantai a Cristo a uma só voz no Monte Tabor e celebrai-O juntos!
Lc.9,46-50 - DDDE- p.1360
46. Veio-lhes então o pensamento de qual deles seria o maior.
47. Penetrando Jesus nos pensamentos de seus corações, tomou um menino, colocou-o junto de si e disse-lhes:
48. Todo o que recebe este menino em meu nome, a mim é que recebe; e quem recebe a mim, recebe aquele que me enviou; pois quem
dentre vós for o menor, esse será grande.
49. João tomou a palavra e disse: Mestre, vimos um homem que expelia demônios em teu nome, e nós lho proibimos, porque não é
dos nossos.
50. Mas Jesus lhe disse: Não lho proibais; porque, o que não é contra vós, é a vosso favor.
Comentário feito por
João Cassiano (c. 360-435), fundador do mosteiro de Marselha
Conferências, n°15, 6-7 (a partir da trad. de SC 54, p. 216 e de Bourguet, L'Evangile médité, p. 53 rev.)
«Vinde e aprendei de Mim» (Mt.11,28-29)
Os grandes da fé não tiravam nenhum partido do poder que detinham de operar maravilhas. Confessavam que não
tinham mérito nenhum nisso e que quem fazia tudo era a misericórdia do Senhor. Se alguém admirava os seus
milagres rejeitavam a glória humana com palavras recolhidas dos apóstolos: «Homens de Israel, porque vos
admirais com isto? Porque nos olhais, como se tivéssemos feito andar este homem por nosso próprio poder ou
piedade?» (At.3,12) No seu entender, ninguém devia ser louvado pelos dons e maravilhas de Deus. Mas por vezes
acontece que homens inclinados ao mal, condenáveis a respeito da fé, expulsam demônios e operam prodígios em
nome do Senhor. Foi disso que os apóstolos se queixaram um dia: «Mestre – disseram eles – vimos um homem
expulsar demônios em Teu nome e impedimo-lo porque não é dos nossos». Nessa altura Cristo respondeu: «Não o
impeçais porque quem não está contra nós é por nós». Mas quando, no fim dos tempos, Lhe disserem: «Senhor,
Senhor, não foi em Teu nome que profetizamos, em Teu nome que expulsamos os demônios e em Teu nome que
fizemos muitos milagres?», Jesus afirma que responderá: «Nunca vos conheci; afastai-vos de Mim, vós que
praticais a iniqüidade»(Mt 7, 22ss).E àqueles a quem Ele próprio concedeu a graça gloriosa dos sinais e dos
milagres, o Senhor avisa que não se ensoberbeçam com isso: «Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem;
alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no céu» (Lc 10, 20). O Autor de todos os sinais e milagres
chama os Seus discípulos a guardar a Sua doutrina: «Vinde – diz-lhes – e aprendei de Mim», não a expulsar
demônios pelo poder do céu, nem a curar os leprosos, nem a dar luz aos cegos, nem a ressuscitar os mortos, mas, diz
Ele: «Aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração» (Mt.11, 29).
Lc.9,51-56. – DDDE- p.1361– Jesus repreende dois discípulos
51.Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém.
52.Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada.
53.Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém.
54.Vendo isto, Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma? 55.Jesus voltou-se e
repreendeu-os severamente. Não sabeis de que espírito sois animados.
56.O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.] Foram então para outra povoação.
Comentário feito por:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermões “De diversis”, nº 1
“Tomou resolutamente o caminho para Jerusalém”- (v.51)
Irmãos é bem certo que já vos pusestes a caminhar para a cidade onde habitareis; não avançais por entre os bosques,
mas pela estrada. Mas receio que esta via vos pareça longa e vos traga menos consolações do que tristeza. Sim,
receio que alguns, ao pensamento de que lhes resta ainda uma longa estrada a percorrer, se sintam conquistados por
uma falta de coragem espiritual, que percam a esperança de conseguir suportar tantas dores e durante tanto tempo.
Como se as consolações de Deus não enchessem a alma dos eleitos de uma alegria muito superior à multidão das
dores contidas no seu coração.É certo que, atualmente, estas consolações ainda não lhes dadas senão à medida das
suas penas; uma vez, porém, atingida a felicidade, não serão já consolações, mas delícias sem fim que
encontraremos à direita de Deus (Sl.5, 11). Desejemos esta direita, irmãos, que nos alcança todo o nosso ser.
Ansiemos ardentemente por esta felicidade, para que o tempo presente nos pareça breve (como de fato é) em
comparação com a grandeza do amor de Deus. “Os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a
glória que revelar-se-á em nós” (Rm.8,18). Promessa feliz, por cujo cumprimento devemos esperar com todo o
nosso coração!
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Africa do Norte) e Doutor da Igreja
Meditações, cap.18
O caminho para Jerusalém
O peso da nossa fragilidade faz-nos pender para as realidades deste mundo; o fogo do Teu amor, Senhor, eleva-nos
e transporta-nos para as realidades do alto, para as quais ascendemos pelo impulso do coração, cantando os salmos
das subidas e ardendo com o fogo da Tua bondade, que nos transporta.Para onde nos fazes ascender assim? Para a
paz da Jerusalém celeste. «Alegrei-me quando me disseram: Vamos para a casa do Senhor» (Sl.121,1). Só o desejo
de aí morar para sempre nos permitirá lá chegar. Enquanto estamos neste corpo, encaminhamo-nos para Ti. Não
temos aqui embaixo cidade permanente, procuramos sem cessar a nossa morada na cidade futura (Hb.13,14). Que a
Tua graça me conduza, Senhor, ao fundo do meu coração, para aí cantar o Teu amor, meu Rei e meu Deus. E,
recordando-me desta Jerusalém celeste, o meu coração ascenderá para Jerusalém, a minha verdadeira pátria,
Jerusalém, a minha verdadeira mãe (Gl.4,26), da qual Tu és rei, luz, defensor, protetor e pastor, da qual és a
inalterável alegria, e a Tua bondade é a fonte de todos os seus inefáveis bens. Tu, meu Deus e minha misericórdia
divina.
Lc.9,51-65– DDDE – p.1361
51. Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém.
52. Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada.
53. Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém.
54. Vendo isto, Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?
55. Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. [Não sabeis de que espírito sois animados.
56. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.] Foram então para outra povoação.
57. Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás.
58. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
59. A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai.
60. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.
61. Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa.
62. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus.
Comentário feito por
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
Meditação para a festa da Exaltação da Santa Cruz (a partir da trad. Source cachée, Cerf 1999, p. 277)
«Segue-Me»
O Salvador precedeu-nos no caminho da pobreza. Todos os bens do céu e da terra Lhe pertencem. Não representam
para Ele nenhum perigo; podia fazer uso deles e manter o Seu coração completamente livre. Mas Ele sabia que é
quase impossível a um ser humano possuir bens sem se subordinar a eles e tornar-se seu escravo. Foi por esta razão
que Ele abandonou tudo e nos mostrou, com o Seu exemplo, mais ainda do que pelas Suas palavras, que só possui
tudo quem não possui nada. O Seu nascimento num estábulo e a Sua fuga para o Egito mostravam já que o Filho do
Homem não teria onde reclinar a cabeça. Quem quiser segui-Lo tem de saber que não temos aqui morada
permanente. Quanto mais vivamente tomarmos consciência disso, mais fervorosamente tenderemos para a nossa
futura morada, e exultaremos com o pensamento de termos direito de cidadania no Céu.
Lc.10,1-12– DDDE – p.1361
1. Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e
lugares para onde ele tinha de ir.
2. Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.
3. Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.
4. Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho.
5. Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa!
6. Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós.
7. Permanecei na mesma casa, comei e bebei do que eles tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não andeis de casa em casa.
8. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que se vos servir.
9. Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo.
10. Mas se entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saindo pelas suas praças, dizei: 11. Até o pó que se nos pegou da vossa cidade,
sacudimos contra vós; sabei, contudo, que o Reino de Deus está próximo.
12.Digo-vos: naqueles dias haverá um tratamento menos rigoroso para Sodoma.
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre São Lucas, nº 1,1-2 (a partir da trad. de SC 87, p. 99)
«A fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (Lc 1,4)
«Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos fatos que entre nós se consumaram, resolvi eu também,
depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo
Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (Lc 1, 1-4).Antigamente, entre os
judeus, um grande número de pessoas presumia ter o dom da profecia, mas alguns eram falsos profetas. O mesmo se
passou no tempo no Novo Testamento, em que muitos «empreenderam» escrever evangelhos, mas nem todos foram
aceites. A palavra «empreenderam» contém uma acusação velada contra aqueles que, sem terem a graça do Espírito
Santo, se lançaram na redação de evangelhos. Mateus, Marcos, João e Lucas não «empreenderam» escrever mas,
cheios
do
Espírito
Santo,
escreveram
efetivamente
os
verdadeiros
Evangelhos.
A Igreja tem, pois, quatro evangelhos; os hereges têm-nos em grande número. «Muitos empreenderam compor uma
narração», mas apenas quatro evangelhos foram aprovados; e é desses que devemos retirar, para trazer à luz, aquilo
em que é necessário crer sobre a pessoa do Nosso Senhor e Salvador. Sei que existe um evangelho a que chamam
«segundo São Tomé», um outro «segundo Matias» e lemos ainda outros tantos para não fazermos figura de
ignorantes diante daqueles que imaginam saber alguma coisa quando já conhecem esses
textos. Mas, em tudo isso, não aprovamos nada senão aquilo que a Igreja aprova: admitir apenas quatro evangelhos.
Eis o que podemos dizer sobre o texto do prólogo de São Lucas: «Muitos empreenderam compor uma narração dos
fatos que entre nós se consumaram».
Comentário feito por :
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de Lucas 7, 45.59 (a partir da trad. de cf. SC 52, pp. 23ss. rev.)
«Como cordeiros para o meio de lobos»
Enviando discípulos para a messe que tinha sido bem semeada pelo Verbo do Pai, mas que clamava por ser
trabalhada, cultivada, cuidada com solicitude para que os pássaros não roubassem a semente, Jesus declara-lhes:
«Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos». O Bom Pastor não teme que os lobos Lhe ataquem o rebanho;
enviou os Seus discípulos, não para se tornarem presas deles, mas para difundirem a graça. A solicitude do Bom
Pastor faz com que os lobos não consigam atentar contra os cordeiros que Ele envia. E envia-os para que se realize a
profecia de Isaías: «O lobo e o cordeiro pastarão juntos» (Is 65, 25). Além do mais, não têm os discípulos ordem de
nem sequer levarem um cajado na mão? Portanto, aquilo que o humilde Senhor prescreveu, também os discípulos o
realizam através da prática da humildade. Porque Ele enviou-os a semear a fé, não pela coação, mas pelo ensino;
não através da ostentação da força do seu poder, mas pela exaltação da doutrina da humildade. E considerou que era
bom juntar a paciência à humildade, tendo em conta o testemunho de Pedro: «ao ser insultado, não respondia com
insultos; ao ser maltratado, não ameaçava» (1Pe 2, 23).O que remete para o que foi dito: «Sede Meus imitadores:
abandonai o desejo de vingança, não respondais aos ataques da arrogância retribuindo o mal, mas com a paciência
que perdoa. Ninguém deve imitar aquilo que recebe dos outros; a mansidão atinge os insolentes de uma forma muito
mais forte».
Lc.(10,17-24) –- DDDE – p.1362
17. Voltaram alegres os setenta e dois, dizendo: Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!
18. Jesus disse-lhes: Vi Satanás cair do céu como um raio.
19. Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do inimigo.
20. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos céus.
21.Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: Pai, Senhor do céu e da terra, eu te dou graças porque
escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai bendigo-te porque assim foi do teu agrado.
22.Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar.
23.E voltou-se para os seus discípulos, e disse: Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes,
24.pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.
Comentário feito por:
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
"Esperando por Cristo", Sermões Pregados em Várias Ocasiões, nº 3
"Felizes os olhos que vêem o que vós vedes" – (v.23)
Durante séculos, antes que Jesus tivesse vindo a terra, todos os profetas, um após outro, estiveram no seu posto, no
alto da torre; todos o esperavam e perscrutavam a sua vinda através da obscuridade da noite. Vigiavam sem cessar
para surpreender o primeiro brilho da aurora...: "Deus, a ti, meu Deus, eu busco desde a aurora. A minha alma tem
sede de ti, como terra árida, esgotada, sem água" (Sl 62,2)... "Ah! se tu rasgastes os céus e descestes! As montanhas
fundiriam na tua presença, como se o fogo as atingisse... Desde as origens do mundo que os olhos nada puderam
ver, meu Deus, das maravilhas que preparaste para aqueles que, esperando, estiveram unidos a ti" (Is 64,1; 1Co
2,9).Contudo, se alguma vez houve homens que tiveram o direito de se apegarem a este mundo e dele não se
desinteressarem, foram os servos de Deus; a terra tinha-lhes sido prometida como herança e, de acordo com as
próprias promessas do Altíssimo, ela devia ser a sua recompensa. Mas a nossa verdadeira recompensa diz respeito
ao mundo que há de vir... E também eles, esses grandes servos de Deus, ultrapassaram o dom terrestre de Deus,
apesar do seu valor, para se apegarem a promessas mais belas ainda; em nome dessa esperança, sacrificaram aquilo
cuja posse já detinham.Não se contentaram como nada menos do que a plenitude do seu Criador; procuraram ver o
rosto do seu Libertador. E, se fosse preciso que, para isso, a terra se quebrasse, os céus se rasgassem, os elementos
do mundo fundissem para que, enfim, ele aparecesse, então, mais vale que tudo se desfaça, antes que continuar a
viver sem ele! Tal era a intensidade do desejo dos adoradores de Deus em Israel, que esperavam aquele que havia de
vir...
A
sua
perseverança
prova
que
havia
alguma
coisa
a
esperar.
Também os apóstolos, depois de o seu Mestre ter vindo e regressado aos Céus, não ficaram atrás dos profetas na
acuidade da sua percepção nem no ardor das suas aspirações. O milagre da espera na perseverança continuou.
Comentário feito por:
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
Meditations and Devotions : Part III, 2, 2 «Our Lord refuses sympathy» (a partir de trad. francesa do original inglês)
«Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes» -(v.24)
Poder-se-á dizer que a partilha profunda dos sentimentos é uma lei eterna, porque ela tem significado, ou melhor,
tem cumprimento, de forma primordial, no amor recíproco e indizível da Trindade. Deus, infinitamente uno, foi
também sempre três pessoas. Desde sempre, Deus exulta no Filho e no Espírito, e Eles n'Ele. Quando o Filho Se fez
carne, viveu durante trinta anos com Maria e José, formando assim uma imagem da Trindade na terra. Mas
convinha que Aquele que havia de ser o verdadeiro Grande Sacerdote, e de exercer esse ministério para toda a raça
humana, estivesse livre de laços e de sentimentos. Tal como se dissera antigamente que Melquisedec não tinha pai
nem mãe (Hb.7,3). Abandonar a mãe, gesto que Ele torna plenamente significativo em Caná (Jo.2,4), era portanto o
primeiro passo solene necessário ao cumprimento da salvação do mundo. Jesus renunciou não só a Maria e a José,
mas também aos amigos secretos. Quando chegou o Seu tempo, teve de renunciar a todos eles.Mas podemos supor
que Ele estava em comunhão com os santos patriarcas que haviam preparado e profetizado a Sua vinda. Numa
ocasião solene, vimo-Lo a falar durante toda a noite com Moisés e Elias sobre a Paixão. Que visão, que
pensamentos nos são então abertos acerca da pessoa de Jesus, de Quem tão pouco sabemos! Quando Ele passava
noites inteiras em oração, quem melhor poderia apoiar o Senhor e dar-Lhe força do que essa «multidão admirável»
de profetas de quem Ele era o modelo e o cumprimento? Ele podia pois falar com Abraão, que exultara pensando
que tinha visto o Seu dia (Jo.8,56), e com Moisés, ou com David e Jeremias, que tão particularmente O tinham
prefigurado, ou com os que mais tinham falado com Ele, como Isaías e Daniel. Encontrava nestes um fundo de
grande simpatia. Quando foi para Jerusalém, para o sofrimento último, todos os santos padres da antiga aliança,
cujos sacrifícios prefiguravam o Seu, vieram invisivelmente ao Seu encontro.
Lc.11,29-32 - DDDE -p.1337
29. Afluía o povo e ele continuou: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará outro sinal senão o sinal do
profeta Jonas.
30. Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração.
31. A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra ouvir a
sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão.
32. Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas.
Ora,
aqui
está
quem
é
mais
do
que
Jonas.
Comentário feito por
S. João Maria Vianney (1786-1859), cura de Ars: Sermão para o 3º Domingo depois do Pentecostes
«Assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas; assim o será também o Filho do Homem para esta geração»
Meus irmãos, ao percorrermos as diferentes épocas do mundo, vemos por toda a parte a terra coberta das
misericórdias do Senhor, e os homens cercados pelos Seus benefícios. Não, meus irmãos, não é o pecador que
retorna a Deus para pedir-Lhe perdão; mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e que o faz voltar para
Ele.Espera pelos pecadores na penitência, e convida-os pelos movimentos interiores da Sua graça e pela voz dos
Seus
ministros.
Vede como se comporta para com Nínive, esta grande cidade pecadora. Antes de punir os habitantes, manda, da Sua
parte, o Seu profeta Jonas anunciar-lhes que, dentro de quarenta dias, os irá punir. Jonas, em vez de ir a Nínive,
refugia-se noutro lado. Quer atravessar o mar; mas, longe de deixar os Ninivitas sem aviso antes de os punir, Deus
faz um milagre, conservando o Seu profeta, durante três dias e três noites, no seio de uma baleia, que, ao fim de três
dias, o lança para terra. Então o Senhor diz a Jonas: «Vai anunciar à grande cidade que dentro de quarenta dias
perecerá.» Não lhes impõe qualquer condição. E o profeta, tendo partido, anunciou em Nínive que dentro de
quarenta
dias
iria
perecer.
Com esta notícia, todos se entregaram à penitência e às lágrimas, desde o camponês até ao rei. «Quem sabe, diz-lhes
o rei, se o Senhor não terá ainda piedade de nós?» O Senhor, vendo-os recorrer à penitência, pareceu congratular-Se
com o prazer de os perdoar. Jonas, vendo que chegava o prazo do castigo, retira-se para fora da cidade, a fim de
esperar que o fogo do céu caísse sobre ela. Vendo que não caía: «Ah! Senhor» grita-Lhe Jonas «vais-me fazer
passar por falso profeta? Prefiro morrer. Ah! Sei bem que és demasiado misericordioso, que não desejas senão
perdoar» – «O quê! Jonas», disse-lhe o Senhor, «queres que faça perecer tanta gente que se humilhou perante mim?
Oh! não, não, Jonas, não teria coragem; ao contrário, amá-los-ei e conservar-lhes-ei a vida.»
Lc.(11,42-46) – DDDE- p.1364
42.Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de diversas ervas e desprezais a justiça e o amor de Deus. No
entanto, era necessário praticar estas coisas, sem contudo deixar de fazer aquelas outras coisas.
43.Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas!
44.Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber.
45.Um dos doutores da lei lhe disse: Mestre, falando assim também a nós outros nos afrontas.
46.Ele respondeu: Ai também de vós, doutores da lei, que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós
mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos.
Comentário feito por:
São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
«Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas» - (v.43)
A alma do homem humilde é como o mar; quando atiramos uma pedra ao mar, a pedra agita a superfície das águas
durante uns instantes, mas em seguida mergulha nas profundezas. Assim são absorvidas as dores no coração do
homem humilde, porque a força do Senhor está com ele. Onde te habitas, alma humilde? Quem vive em ti? E a que
posso eu comparar-te? Resplandeces brilhante como o sol, mas não te consomes, apesar de arderes (Ex.3,2), e
aqueces todos os homens com o teu ardor. A ti pertence a terra dos mansos, nas palavras do Senhor (Mt.5,4). És
semelhante a um jardim florido, ao fundo do qual se encontra uma casa magnífica, onde o Senhor gosta de repousar.
Amam-te o céu e a terra. Amam-te os santos apóstolos, os profetas, os santos e os bem-aventurados. Amam-te os
anjos, os serafins, os querubins. Ama-te, na tua humildade, a puríssima Mãe do Senhor. Ama-te o Senhor, que
rejubila em ti.
Comentário feito por:
Didaquê (entre 60-120), catequese judaico-cristã
§3 (a partir da trad. Quéré, Pères apostoliques, Seuil 1980, p.94)
«Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29)
Meu filho, foge de todo o mal ou daquilo que se assemelhar ao mal. Não sejas irascível: a cólera leva ao crime. Não
sejas ciumento, conflituoso nem violento: essas paixões originam mortes. Meu filho, não sejas sensual: a
sensualidade é o caminho para o adultério. Não uses de linguagem licenciosa, nem tenhas um olhar atrevido:
também isso engendra adultério. Resguarda-te dos encantamentos, da astrologia, das purificações mágicas; recusa-te
a vê-las e a ouvi-las: isso seria perderes-te na idolatria. Meu filho, não sejas mentiroso, porque a mentira conduz ao
roubo. Não te deixes seduzir nem pelo dinheiro nem pela vaidade, que também incitam a roubar. Meu filho, não
murmures contra os outros: tornar-te-ás blasfemo. Não sejas insolente nem malévolo, pois isso também conduz à
blasfêmia.
Usa de mansidão: «Felizes os mansos, porque possuirão a terra» (Mt 5, 5). Sê paciente, misericordioso, sem malícia,
cheio de paz e bondade. Respeita sempre as palavras que ouviste do Senhor (Is.66,2). Não te engrandecerás a ti
próprio, não abandonarás o teu coração ao orgulho. Não te aliarás aos soberbos, mas freqüentarás os justos e os
humildes. Receberás os acontecimentos da vida como dons, sabendo que é Deus quem dispõe sobre todas as coisas.
Comentário feito por:
As Máximas dos Padres do Deserto (séculos IV e V)
Collection systématique, cap. 9 (a partir da trad. de SC 387, pp. 427ss.)
«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis»
Um irmão que tinha pecado foi expulso da igreja pelo sacerdote; e o aba Bessarion levantou-se e saiu com ele,
dizendo: «Eu também sou pecador» .Certa vez, em Scété, um irmão cometeu uma falta. Convocou-se um conselho
para o qual chamaram o aba Moisés, mas este recusou-se a comparecer. Então o padre mandou-lhe dizer: «Vem,
porque toda a gente está à tua espera». Ele levantou-se, pegou numa cesta rota, encheu-a de areia, colocou-a aos
ombros e foi assim. Os outros, que saíram ao seu encontro, perguntaram-lhe: «Que é isso, pai?» O ancião
respondeu: «Os meus pecados vão-se derramando atrás de mim e eu nem consigo vê-los; e, no entanto, vim aqui
hoje julgar os pecados de outrem». Ouvindo isto, não disseram nada ao irmão, mas perdoaram-lhe.O abba Joseph
perguntou ao abba Poemen: «Diz-me o que devo fazer para me tornar monge». O ancião respondeu: «Se queres
encontrar repouso aqui e no mundo que virá, repete continuamente: «Quem sou eu?» E não julgues ninguém».Um
irmão perguntou ao mesmo abba Poemen: «Se eu vir um pecado do meu irmão, será correto ocultá-lo?» O ancião
respondeu-lhe: «Enquanto escondermos os pecados dos nossos irmãos, também Deus esconde os nossos; a partir do
momento em que manifestamos as faltas dos irmãos, Deus manifesta também as nossas».
Lc.(11,47-54) – DDDE - p.136447.Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram.
48.Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais
os sepulcros.
49.Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a
outros.
50.E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo,
51.desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta
disso a esta geração!
52.Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar.
53.Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas,
54.armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.
Comentário feito por:
Balduíno de Ford ( ?-c.1190), abade cisterciense
O Sacramento do altar, II, 1
«Começaram a pressioná-Lo fortemente com perguntas e a fazê-Lo falar sobre muitos assuntos, armando-Lhe
ciladas»
«Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigênito» (Jo 3,16). Este Filho único «foi oferecido»,
não porque os seus inimigos tenham prevalecido, mas porque assim «aprouve ao Senhor» (Is 53, 10-11). «Ele, que
amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13,1). O fim é a morte aceite
por aqueles que Ele ama; eis o fim de toda a perfeição, o fim do amor perfeito, porque «ninguém tem mais amor do
que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13).Este amor de Cristo foi mais poderoso na morte de Cristo do que
o ódio dos seus inimigos; o ódio apenas pôde fazer o que o amor lhe permitia. Judas, ou os inimigos de Cristo,
entregaram-No à morte, devido a um terrível ódio. O Pai entregou o seu Filho, e o Filho entregou-Se a Si mesmo
por amor (Rm 8,32; Gl 2,20). O amor não é, porém culpado de traição; é inocente, mesmo quando Cristo morre por
amor. Porque só o amor pode impunemente fazer o que lhe apraz. Só o amor pode forçar a Deus e, como Ele, guiarnos. Foi o amor que O fez descer dos céus e O pôs na cruz, que fez jorrar o sangue de Cristo pela remissão dos
pecados, num ato tão inocente quanto salutar. Qualquer ação de graças pela salvação do mundo é devida ao amor,
portanto. E o amor incita-nos, numa lógica incômoda, a amar a Cristo, tanto quanto podíamos odiá-Lo.
Lc.(12,54-59) – DDDE - p.1366
54.Dizia ainda ao povo: Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: Aí vem chuva. E assim sucede.
55.Quando vedes soprar o vento do sul, dizeis: Haverá calor. E assim acontece.
56.Hipócritas! Sabeis distinguir os aspectos do céu e da terra; como, pois, não sabeis reconhecer o tempo presente?
57.Por que também não julgais por vós mesmos o que é justo?
58.Ora, quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível para entrar em acordo com ele pelo caminho, a fim de que ele te
não arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão.
59.Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo.
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Decreto sobre o Ecumenismo, 4
Discernir os sinais dos tempos
Hoje, em muitas partes do mundo, mediante o sopro da graça do Espírito Santo, empreendem-se, pela oração, pela
palavra e pela ação, muitas tentativas de aproximação daquela plenitude de unidade que Jesus Cristo quis. Este
sagrado Concilio exorta todos os fiéis a que, reconhecendo os sinais dos tempos, solicitamente participem do
trabalho ecumênico. Por «movimento ecumênico» entendem-se as atividades e iniciativas, que são suscitadas e
ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade
dos cristãos. Tais são: primeiro todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que, segundo a equidade e a
verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais difíceis as relações com eles;
depois, o «diálogo» estabelecido entre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em
Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua
Comunhão e apresenta com clareza as suas características. Com este diálogo, todos adquirem um conhecimento
mais verdadeiro e um apreço mais justo da doutrina e da vida de cada Comunhão. Então estas Comunhões
conseguem também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do
bem comum. E onde for possível, reúnem-se em oração unânime. Enfim, todos examinam a sua fidelidade à
vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de
renovação e de reforma. Desde que os fiéis da Igreja Católica prudente e pacientemente trabalhem sob a vigilância
dos pastores, tudo isto contribuirá para promover a equidade e a verdade, a concórdia e a colaboração, o espírito
fraterno e a união. Assim, palmilhando este caminho, superando pouco a pouco os obstáculos que impedem a
perfeita comunhão eclesiástica, todos os cristãos se congreguem numa única celebração da Eucaristia e na unidade
de uma única Igreja.
Lc.13,1-9 - DDDE (v.1-5)- p.1366.7
1. Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus
sacrifícios.
2. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por
terem sido tratados desse modo?
3. Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
4. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os
demais habitantes de Jerusalém?
5. Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
6. Disse-lhes também esta comparação: Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o achou.
7. Disse ao viticultor: - Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a; para que ainda ocupa
inutilmente o terreno?
8. Mas o viticultor respondeu: - Senhor, deixa-a ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo.
9.Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás.
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Dos benefícios da paciência, 3-5; PL 4, 624-625 (a partir da trad. de Orval)
Imitar a paciência de Deus
Como é grande a paciência de Deus!.Ele faz com que o dia nasça e com que o sol se levante tanto para os bons
como para os maus (Mt 5, 45); Ele rega a terra com as chuvas e ninguém fica excluído da Sua benevolência, uma
vez que a água é dada indistintamente aos justos e aos injustos. Vemo-Lo agir com igual paciência para com os
culpados e para com os inocentes, os fiéis e os ímpios, aqueles que Lhe dão graças e os ingratos. Para todos eles os
tempos obedecem à voz de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, os ventos sopram, manam as fontes, as
colheitas aumentam de abundância, a uva amadurece, as árvores carregam-se de frutos, as florestas reverdecem e os
prados cobrem-se de flores. E embora Ele tenha o poder de Se vingar, prefere esperar muito tempo com paciência e
aguarda e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se esbata com o tempo e o homem se volte enfim
para Deus, segundo o que Ele mesmo nos diz: «Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a
fim de que tenha a vida» (Ez 33, 11). E ainda: «Voltai-vos para Mim, regressai para o Senhor vosso Deus, porque
Ele é misericordioso, bom, paciente e compassivo» (Jl 2, 13). Ora, Jesus diz-nos: «Sede perfeitos como é perfeito o
vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Por estas palavras Ele nos indica que, sendo filhos de Deus e regenerados por um
nascimento celeste, atingimos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e a
semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta a brilha nos nossos atos. Que grande glória a nossa, a
de nos assemelharmos a Deus, que grande felicidade, termos essa virtude digna dos louvores divinos!
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Os benefícios da paciência, 7 (a partir da trad. de SC 291, p. 199 rev.)
«Talvez venha a dar frutos no futuro»: imitar a paciência de Deus
Irmãos bem-amados, Jesus Cristo, Nosso Senhor e Deus, não Se contentou em ensinar a paciência por palavras;
também a demonstrou pelos Seus atos. Na hora da paixão e da cruz, quantos sarcasmos ultrajantes escutados com
paciência, quanta troça injuriosa suportada, ao ponto de ser cuspido, Ele que, com a Sua própria saliva, tinha aberto
os olhos a um cego (Jo 9, 6); de Se ver coroado de espinhos, Ele que coroa os mártires com flores eternas; de Lhe
baterem na face com as palmas das mãos, a Ele que concede palmas verdadeiras aos vencedores; despojado das
Suas vestes, Ele que reveste os outros de imortalidade; alimentado com fel, Ele que dá o alimento celeste;
dessedentado com vinagre, Ele que dá a beber o cálice da salvação. Ele, o inocente, Ele, o justo, ou antes, Ele, que é
a própria inocência e a justiça, é contado entre os malfeitores; falsos testemunhos esmagam a Verdade; Aquele que
deverá ser o juiz é submetido a julgamento; a Palavra de Deus é conduzida ao sacrifício, calando-Se. A seguir,
quando os astros se eclipsam, quando os elementos se perturbam, quando a terra treme, Ele não fala, não Se mexe,
não revela a Sua majestade. Suporta tudo até ao fim com uma constância inesgotável, para que a paciência completa
e perfeita tenha o seu auge em Cristo. E, depois de tudo isto, ainda acolhe os Seus carrascos, se se converterem e se
se voltarem para Ele; graças à Sua paciência. Ele não fecha a Sua Igreja a ninguém. Aos adversários, aos blasfemos,
eternos inimigos do Seu nome, não apenas lhes concede o perdão, se se arrependerem das suas faltas, mas ainda os
recompensa com o Reino dos Céus. Quem poderíamos indicar de mais paciente, de mais benevolente? A mesma
pessoa que derramou o sangue de Cristo é vivificada pelo sangue de Cristo. Tal é a paciência de Cristo, e se não
fosse tão grande como realmente é, a Igreja não teria o Apóstolo Paulo.
Comentário feito por:
Didaqué (entre 60-120), catequese judaico-cristã
§§ 1-6 (a partir da trad. de coll. Icthus, t. 1, pp. 112ss.)
«Escolhe a vida» (Dt.30,19)
Há dois caminhos: um de vida e outro de morte, mas há uma grande diferença entre os dois. Ora o caminho da vida
é o seguinte: primeiro que tudo, amarás a Deus que te criou; em segundo lugar, amarás o teu próximo como a ti
mesmo e aquilo que não queres que ele te faça não o faças tu a outrem. Eis o ensinamento contido nestas palavras:
Bendizei aqueles que vos maldizem, rezai pelos vossos inimigos, jejuai pelos que vos perseguem. Com efeito, que
mérito tendes em amar os que vos amam? Não o fazem também os pagãos? Quanto a vós, amai os que vos odeiam e
não tereis inimigos. Abstende-vos dos desejos carnais e corporais. Segundo mandamento da doutrina: não matarás,
não cometerás adultério, não seduzirás rapazes, não cometerás fornicação, nem roubo, nem magia, nem
envenenamento; não matarás nenhuma criança, por aborto ou depois do nascimento; não desejarás os bens do teu
próximo. Não cometerás perjúrio, não levantarás falsos testemunhos, não terás intenções de maledicência e não
guardarás rancor. Não terás duas maneiras de pensar nem duas palavras: porque a duplicidade de linguagem é uma
armadilha de morte. A tua palavra não será mentirosa nem vã, mas plena de sentido. Não serás avarento, nem
ganancioso, nem hipócrita, nem maldoso, nem orgulhoso; não terás má vontade com o teu próximo. Não deves
odiar ninguém: deves corrigir uns e rezar por eles e amar os outros mais do que a própria vida.Meu filho, foge de
tudo o que é mal e de tudo o que te parece mal. Vigia para que ninguém te desvie da doutrina, porque esse estará a
guiar-te para longe de Deus. Se puderes suportar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não, faz ao menos o que
te for possível.(Referências bíblicas: Mt 22, 37ss.; 7, 12; Tb 4, 15; Mt 5, 44ss.; 1Pe 2, 11; Ex 20; Mt 24, 4)
Lc.13,10-17– DDDE - p.1367
10. Estava Jesus ensinando na sinagoga em um sábado.
11. Havia ali uma mulher que, havia dezoito anos, era possessa de um espírito que a detinha doente: andava curvada e não podia
absolutamente erguer-se.
12. Ao vê-la, Jesus a chamou e disse-lhe: Estás livre da tua doença.
13. Impôs-lhe as mãos e no mesmo instante ela se endireitou, glorificando a Deus.
14. Mas o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse ao povo: São seis os dias em que se deve trabalhar; vinde,
pois, nestes dias para vos curar, mas não em dia de sábado.
15. Hipócritas!, disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou o seu jumento da manjedoura, para os levar a
beber?
16. Esta filha de Abraão, que Satanás paralisava há dezoito anos, não devia ser livre desta prisão, em dia de sábado?
17. Ao proferir estas palavras, todos os seus adversários se encheram de confusão, ao passo que todo o povo, à vista de todos os milagres
que ele realizava, se entusiasmava.
Comentário feito por :
São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
Catequese baptismal, n.° 13 (a partir da trad. bréviaire / Bouvet, Soleil levant 1961, p. 259)
Libertos dos laços do pecado pela cruz de Cristo
São Paulo disse: «Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo»
(Gl. 6,14). Foi coisa deveras admirável, ter aquele cego de nascença recuperado a vista em Siloé; mas que significou
isso para todos os outros cegos do mundo? A ressurreição de Lázaro, morto havia quatro dias, foi coisa grande que
ultrapassou a natureza; mas essa graça aproveitou apenas a ele, nada trouxe a todos os que, no mundo, tinham
morrido pelos pecados cometidos. Foi assombroso fazer brotar, a partir de apenas cinco pães, alimento bastante para
saciar cinco mil homens; mas isso nada significou para aqueles que, em todo o universo, sofriam de fome e de
ignorância. Admirável foi a libertação de uma mulher acorrentada por Satanás desde há dezoito anos; mas que
significará esse fato, comparando-o com a situação de todos nós, que estamos amarrados com as cadeias dos nossos
pecados ?Ora, a vitória da cruz conduziu à luz todos aqueles que a ignorância tornava cegos, libertou todos os que o
pecado fazia cativos, e resgatou toda a humanidade. Não te surpreenda que o mundo inteiro tenha sido resgatado.
Aquele que morreu por este resgate não era só um homem, mas o Filho unigênito de Deus. O pecado de Adão
trouxe a morte ao mundo inteiro; se a queda de um só fez reinar a morte sobre todos os homens, não haverá a
justiça de um só, com muito mais forte razão, fazer reinar a vida? (Rom 5, 17) Se outrora, pela árvore cujo fruto
comeram, os nossos primeiros pais foram expulsos do paraíso, não poderão então agora, pela árvore da cruz de
Jesus, entrar os crentes muito mais facilmente no Paraíso? Se o primeiro ser modelado de barro a todos a morte
trouxe, não poderá Aquele que do barro o modelou trazer a todos a vida eterna, pois se é Ele próprio a Vida? (Jo 14,
6)
(Lc.16,19-31) – DDDE– Parábola do rico e Lázaro - pg.1371
19.Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava.
20.Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico.
21.Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas.
22.Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
23.E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. 24.Gritou, então: - Pai
Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou
cruelmente atormentado nestas chamas.
25.Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é
consolado, mas tu estás em tormento.
26.Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem
os de lá passar para cá.
27.O rico disse: - Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos,
28.para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos.
29.Abraão respondeu: - Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!
30.O rico replicou: - Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão.
31.Abraão respondeu-lhe: - Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum
dos mortos.
-Além
do cunho da hospitalidade, esta parábola leva-nos a refletir, pelo DDDE, sobre a vida e a morte, do abismo
que existe entre o céu e o inferno, e que morremos uma única vez, e que não voltamos isto é não nos reencarnamos,
mas ressuscitamos.
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo do nosso tempo, « Gaudium et Spes », § 69
"Um pobre... estava deitado junto ao portão" – (v.20)
Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados
devem chegar eqüitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade. Sejam quais forem as
formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis
circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens, não
deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no
sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte
de bens suficientes para si e suas famílias. Assim pensaram os Padres e Doutores da Igreja, ensinando que os
homens têm obrigação de auxiliar os pobres e não apenas com os bens supérfluos. Aquele, porém, que se encontra
em extrema necessidade, tem direito de tomar, dos bens dos outros, o que necessita. Sendo tão numerosos os que no
mundo padecem fome, o sagrado Concílio insiste com todos, indivíduos e autoridades, para que, recordados daquela
palavra dos Padres - «alimenta o que padece fome, porque, se o não alimentaste, mataste-o» - repartam realmente e
distribuam os seus bens, procurando sobretudo prover esses indivíduos e povos daqueles auxílios que lhes permitam
ajudar-se
e
desenvolver-se
a
si
mesmos.
Nas sociedades economicamente menos desenvolvidas, o destino comum dos bens é freqüentes vezes parcialmente
atendido graças a costumes e tradições próprias da comunidade, que asseguram a cada membro os bens
indispensáveis. Mas deve evitar-se considerar certos costumes como absolutamente imutáveis, se já não
correspondem às exigências do tempo actual; por outro lado, não se proceda imprudentemente contra os costumes
honestos, que, uma vez convenientemente adaptados às circunstâncias atuais, continuam a ser muito úteis. De modo
análogo, nas nações muito desenvolvidas economicamente, um conjunto de instituições sociais de previdência e
seguro pode constituir uma realidade parcial do destino comum dos bens. Deve prosseguir-se o desenvolvimento
dos serviços familiares e sociais, sobretudo daqueles que atendem à cultura e educação. Na organização de todas
estas instituições, porém, deve atender-se a que os cidadãos não sejam levados a uma certa passividade com relação
à sociedade ou à irresponsabilidade e recusa de serviço.
Comentário feito por:São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilia sobre Lázaro
“Não vos esqueçais da hospitalidade”- (v.22)
A propósito desta parábola, convém perguntarmos a nós próprios por que motivo o rico vê Lázaro no seio de
Abraão e não em companhia de outro justo. É que Abraão foi hospitaleiro. Aparece, pois, ao lado de Lázaro, para
acusar o rico de não ter sido
hospitaleiro. Com efeito, o patriarca procurava reter os mais simples transeuntes, dando-lhes acesso à sua tenda (Gn
18, 1ss.). O rico, pelo contrário, apenas mostrara desdém por aquele que vivia diante de sua casa. Ora, tratava-se de
um homem que, dispondo de tanto dinheiro, podia dar segurança ao pobre. Mas continuou a ignorá-lo, dia após dia,
não lhe proporcionando a ajuda de que ele tinha necessidade. O patriarca não agiu desta forma, bem pelo contrário!
Sentado à entrada da tenda, estendia a mão a quantos passavam, qual pescador que lança a rede ao mar para apanhar
o peixe, apanhando muitas vezes também ouro e pedras preciosas. Assim, apanhando os homens na sua rede,
aconteceu a Abraão apanhar também anjos, e – coisa espantosa! – sem disso se precaver.O próprio Paulo se mostra
espantado, tendo-nos deixado a seguinte exortação: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns,
sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb.13,2). E Paulo tem razão em dizer “sem o saberem”. Se Abraão tivesse
sabido que aqueles que acolhia com tanta benevolência eram anjos, nada teria feito de extraordinário ou de
admirável em assim os acolher. Se recebe este elogio é, pois, porque ignorava a identidade daquelas personagens.
Com efeito, tomou por homens vulgares estes viajantes que tão generosamente convidou para sua casa. Também tu
sabes mostrar-te apressado em receber uma personagem célebre, mas tal não é motivo de espanto. Em contrapartida,
é realmente admirável reservar um acolhimento cheio de bondade à gente normal que não conhecemos.
Comentário feito por :
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Sermão 122, sobre o rico e Lázaro
«O rico viu de longe Abraão com Lázaro no seu seio» «Abraão era muito rico», diz-nos a Escritura (Gn 13, 2).
Abraão, meus irmãos, não era rico devido a si próprio, mas devido aos pobres; em vez de guardar para si a sua
fortuna, propôs-se partilhá-la.Este homem, ele próprio estrangeiro, não cessou de tudo fazer para que o estrangeiro
deixasse de se sentir estrangeiro. Vivendo dentro da tenda, não podia suportar que alguém passasse sem abrigo.
Perpétuo viajante, acolhia sempre os hóspedes que apareciam. Em vez de repousar sobre a generosidade de Deus,
sabia-se chamado a reparti-la: usava-a para defender os oprimidos, para libertar os prisioneiros, ou mesmo para
arrancar ao seu destino homens que iam morrer (Gn 14, 14). Na presença do estrangeiro que recebe (Gn 18, 1ss.),
Abraão não se senta, permanece de pé. Não é conviva do seu hóspede, faz-se seu servidor; esquece que na sua casa
é ele o senhor, traz ele próprio o alimento e, preocupado com uma preparação cuidada, pede ajuda à sua mulher.
Para si próprio, entrega-se inteiramente aos seus empregados, mas para o estrangeiro que recebe, pensa que vale a
pena confiá-lo à sabedoria da sua esposa.Que direi ainda, meus irmãos? É uma delicadeza tão perfeita... que atraiu o
próprio Deus para a casa de Abraão, que O forçou a ser seu hóspede. Assim veio a Abraão, repouso dos pobres,
refúgio dos estrangeiros, Aquele que, mais tarde, haveria de dizer-Se acolhido na pessoa do pobre e do estrangeiro:
«Tive fome, disse Ele, e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; fui estrangeiro e recebestes-Me» (Mt.
25, 35).E lemos ainda no Evangelho: «O pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão». Não é natural,
meus irmãos, que Abraão, até no seu repouso, acolha todos os santos, e que até na sua beatitude se ocupe do seu
serviço de hospitalidade?.Sem dúvida alguma, não se poderia sentir plenamente feliz se, mesmo na glória, não
continuasse a exercer o seu ministério de partilha.
Comentário feito por:
São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, Doutor da Igreja
Homilia 6 contra a riqueza; PG 31, 275-278
«Feliz é o homem que tem piedade e empresta, que dá aos pobres; a sua justiça perdura para sempre» (Sl.111)
Que responderás ao soberano juiz, tu que vestes as tuas paredes e não vestes o teu semelhante? Tu que enfeitas os
teus cavalos e não tens um único olhar para o teu irmão que está na miséria?.Tu que escondes o teu ouro e não vens
em
auxílio
do
oprimido?
Diz-me, o que é que te pertence? De quem recebeste tudo aquilo que acumulas ao longo desta vida? .Não saíste nu
do ventre da tua mãe? E não voltas à terra igualmente nu? (Jb 1, 21) De quem recebeste os teus bens presentes? Se
responderes «do acaso», és um ímpio que se recusa a conhecer o seu criador e a agradecer ao seu benfeitor. Se
concordares que foi de Deus, diz-me por que razão os recebeste.Será Deus injusto ao repartir desigualmente os bens
necessários à vida? Porque vives tu na abundância e aquele na miséria? Não será unicamente para que um dia
recebas a recompensa pela tua bondade e gestão desinteressada, enquanto o pobre obterá a coroa prometida à
paciência? .Ao esfomeado pertence o pão que tu guardas; ao homem despido o manto que tens nos teus cofres.
Deste modo, cometes tantas injustiças quantas as pessoas que poderias ajudar.
Lc.(23,35-43) –DDDE - pg.1381
35.A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si
próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!
36.Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam:
37.Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.
38.Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus.
39.Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!
40.Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício?
41.Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.
42.E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!
43.Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e posteriormente de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre a cruz e o bom ladrão, 1, 3-4
«Colocaram uma inscrição por sobre a sua cabeça: 'Este é o rei'» - (v.38)
«Senhor, lembra-te de mim quando vieres inaugurar o teu reino». O ladrão não ousou fazer esta prece sem antes,
pela confissão, se ter libertado do fardo dos pecados. Vê bem, cristão, a força da confissão. Ele confessou os
pecados e o paraíso abriu-se-lhe; confessou os
pecados e ganhou confiança bastante para pedir o reino dos céus, depois de tantos roubos cometidos…Queres
conhecer o Reino? Que vês portanto aqui que se lhe assemelhe? Tens debaixo dos olhos os pregos e uma cruz, mas
essa cruz, dizia Jesus, é o próprio sinal do Reino. E eu, ao vê-Lo na cruz, proclamo-O Rei. Não é próprio de um rei
morrer pelos seus súbditos? Ele próprio o disse: «O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas» (Jo 10, 11). Isto é
igualmente verdade para um bom rei: também ele dá a vida pelos seus súditos. Proclamá-Lo-ei Rei por causa da
dádiva que fez da sua vida: «Senhor, lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino».Compreendes agora que a
cruz é o sinal do Reino? Eis outra prova. Cristo não deixou a sua cruz na terra, ergueu-a e levou-a com Ele para o
céu. Sabemo-lo porque Ele a terá junto de Si quando voltar pleno de glória. Para perceberes o quanto esta cruz é
digna de veneração, repara em como Ele a tomou como um título de glória. Quando o Filho do homem vier, «o sol
escurecerá e a lua perderá o brilho». Reinará então uma claridade tão viva que até os astros mais brilhantes se
eclipsarão. «As estrelas cairão do céu. Aparecerá então no céu o sinal do Filho do homem» (Mt 24,29ss). Vês bem
a força do sinal da cruz? Quando um rei entra numa cidade, os soldados pegam nos estandartes, içam-nos aos
ombros e marcham à sua frente para anunciar a chegada régia. De igual modo, legiões de anjos precederão a Cristo,
quando Ele descer do céu. Trarão aos ombros esse sinal anunciador da vinda do nosso Rei.
Comentário feito por:
São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge e bispo
5.º Sermão da Santa Páscoa (PG 46, 683; Leccionário, p. 367 rev.)
«Pilatos disse: "Aqui está o vosso Rei"» (Jo 19,14).
Bendito seja Deus! Festejemos o Filho único, o Criador dos céus, que lá ascendeu após ter descido às profundezas
do inferno, e que envolve a terra inteira com os raios da Sua luz. Festejemos o sepultamento do Filho único e a Sua
Ressurreição de vencedor, o júbilo do mundo inteiro e a vida de todos os povos. Tudo isto nos foi obtido assim que
o Criador ressurgiu dos mortos, ao rejeitar a ignomínia e transformando, no Seu esplendor divino, o perecível em
imperecível. E qual foi a ignomínia rejeitada? Isaías dá-nos a resposta: «Sem figura nem beleza, vimo-Lo sem
aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens» (53, 2-3). E quando ficou Ele sem a Sua glória? Quando
carregou aos ombros a madeira da cruz como troféu da Sua vitória sobre o diabo. Assim que Lhe foi posta na cabeça
uma coroa de espinhos, a Ele, que coroa os Seus fiéis. Assim que foi revestido de púrpura Aquele que reveste de
imortalidade os que renascem da água e do Espírito Santo. Assim que pregaram à madeira o Senhor da vida e da
morte. Aquele, porém, que ficou sem a Sua glória foi transfigurado na luz, e o júbilo do mundo despertou com o
Seu corpo. «O Senhor é Rei, vestido de majestade» (Sl 93 (92), 1). De que majestade Se vestiu Ele? De
incorruptibilidade, de imortalidade, do chamamento dos Apóstolos, da coroa da Igreja. São Paulo é disso
testemunho, ao dizer: «É, de fato, necessário que este ser mortal se revista de imortalidade» (1Co.15,53). E o
salmista diz também: «O Teu trono, Senhor, está firme desde sempre, e Tu existes desde a eternidade; o Teu reino é
um reino para toda a eternidade, e o Teu domínio estende-se por todas as gerações» (Sl 93 (92), 2; 145 (144), 13). E
ainda: «O Senhor é Rei: alegre-se a terra e rejubile a multidão das ilhas!» (Sl 97 (96), 1). A Ele a glória e o poder,
amem!
Lc.(24,13-35) –DDDE– Os discípulos de Emaús - pg.1382/3
13.Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios.
14.Iam falando um com o outro de tudo o que se tinha passado.
15.Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-se deles e caminhava com eles.
16.Mas os olhos estavam-lhes como que vendados e não o reconheceram.
17.Perguntou-lhes, então: De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?
18.Um deles, chamado Cléofas, respondeu-lhe: És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?
19.Perguntou-lhes ele: Que foi? Disseram: A respeito de Jesus de Nazaré... Era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e
de todo o povo.
20.Os nossos sumos sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
21.Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas
sucederam.
22.É verdade que algumas mulheres dentre nós nos alarmaram. Elas foram ao sepulcro, antes do nascer do sol;
23.e não tendo achado o seu corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que está vivo.
24.Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a ele mesmo não viram.
25.Jesus lhes disse: Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas!
26.Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?
27.E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras.
28.Aproximaram-se da aldeia para onde iam e ele fez como se quisesse passar adiante.
29.Mas eles forçaram-no a parar: Fica conosco, já é tarde e já declina o dia. Entrou então com eles.
30.Aconteceu que, estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho.
31.Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram... mas ele desapareceu.
32.Diziam então um para o outro: Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?
33.Levantaram-se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os Onze e os que com eles estavam.
34.Todos diziam: O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão.
35.Eles, por sua parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como o tinham reconhecido ao partir o pão.
Comentário feito por:
São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja
Homilia 23
«Não vos esqueçais da hospitalidade»
Dois dos discípulos caminhavam juntos. Eles não acreditavam e, no entanto falavam sobre o Senhor. De repente
Este apareceu-lhes, mas sob uns traços que não lhes permitia reconhecê-Lo. Convidam-No para partilhar da sua
pousada, como é costume entre viajantes . Põem então a mesa, apresentam os alimentos, e a Deus, que eles não
tinham ainda reconhecido na explicação das Escrituras, descobrem-No quando da fração do pão. Não foi portanto ao
escutarem os preceitos de Deus que foram iluminados, mas ao cumpri-los:
«Não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei é que serão justificados»
(Rm 2,13). Se quisermos compreender o que ouvimos, apressemo-nos a pôr em prática o que conseguimos perceber.
O Senhor não foi reconhecido enquanto falava; Ele dignou-Se manifestar-Se quando Lhe ofereceram de comer.
Ponhamos amor no exercício da hospitalidade, queridos irmãos; pratiquemos de coração a caridade. Diz Paulo sobre
este assunto: «Que permaneça a caridade fraterna. Não vos esqueceis da hospitalidade, pois graças a ela alguns sem
o saberem, hospedaram anjos.» (Hb. 13,1; Gn.18,1ss). Também Pedro diz: «Exercei a hospitalidade uns para com os
outros, sem queixas» (1 Pe.4,9). E a própria Verdade nos declara: «Era peregrino e recolhestes-Me» .«Sempre que
fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt.25,35.40.E apesar disto,
somos tão preguiçosos diante da graça da hospitalidade! Avaliemos, irmãos, a grandeza desta virtude. Recebamos
Cristo à nossa mesa, para que possamos ser recebidos no seu festim eterno. Demos neste preciso momento a nossa
hospitalidade a Cristo que no estrangeiro está, para que no momento do julgamento não sejamos como estrangeiros
que Ele não sabe de onde vêm (Lc 13,25), mas sejamos irmãos que em seu Reino Ele recebe
Comentário feito por :
São Gregório Magno (c. 540-604), Papa, Doutor da Igreja
Homilia 23 sobre o Evangelho (a partir da trad. Barroux rev.)
«Os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecer»
Acabais de o ouvir irmãos caríssimos: dois discípulos de Jesus caminhavam na estrada e, não acreditando que era
Ele, d'Ele falavam, porém. O Senhor apareceu-lhes, sem contudo Se lhes mostrar sob uma forma por que O
pudessem reconhecer. O Senhor realizou no exterior, aos olhos do corpo, o que neles se cumpria no interior, aos
olhos do coração. No seu próprio interior, os discípulos amavam e duvidavam em simultâneo; no exterior, o Senhor
estava presente sem no entanto manifestar Quem era. Aqueles que d' Ele falavam, oferecia a Sua presença; mas aos
que duvidavam d'Ele, escondia o aspecto habitual, que lhes teria permitido reconhecê-Lo. Trocou algumas palavras
com eles, reprovou-lhes a lentidão em compreender, explicou-lhes os mistérios da Sagrada Escritura que Lhe diziam
respeito. E, no entanto, no coração deles continuava a ser um estranho, por falta de fé; fez então menção de seguir
para diante. A Verdade, que é simples, nada fez com duplicidade, mas manifestou-Se simplesmente aos discípulos
no Seu corpo tal como estava no espírito deles.Com esta prova, o Senhor queria ver se os que ainda não O amavam
como Deus eram ao menos capazes de amá-lo como viajante. A Verdade caminhava com eles; não podiam
continuar estranhos ao amor; ofereceram-Lhe hospitalidade, propondo-Lhe que pernoitasse com eles, como se
costuma fazer aos viajantes. Por que dizemos então que eles Lho propuseram, quando está escrito: «Insistiram com
Ele»? Este exemplo mostra-nos bem que não devemos apenas oferecer hospitalidade aos viajantes, mas fazê-lo com
insistência.Os discípulos puseram a mesa, ofereceram da sua ceia; e, não tendo reconhecido a Deus quando da Sua
explicação da Sagrada Escritura, eis que O reconhecem agora, na fração do pão. Não foi ao escutar os mandamentos
de Deus que ficaram iluminados, mas ao pô-los em prática.
Jo.1,6-8.19-28 p.1384.5 - 1Ts.5,16-24 DDDE- p.1514
6.Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.
7.Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.
8.Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
19.Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu?
20.Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo.
21.Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não.
22.Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti
mesmo?
23.Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3).
24.Alguns dos emissários eram fariseus.
25.Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26.João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.
27.Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado.
28.Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
Comentário feito por:
São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja
Catequeses sobre o Evangelho, nº 7
«No meio de vós está Quem vós não conheceis. É Aquele que vem depois de mim»
«Eu batizo com água, mas no meio de vós está Quem vós não conheceis.» Não é no Espírito, mas em água que João
batiza. Incapaz de perdoar os pecados, ele lava pela água o corpo dos batizados, mas não lava o espírito pelo perdão.
Então porque é que ele batiza se não perdoa os pecados pelo seu batismo? Porquê, a não ser para permanecer no seu
papel de precursor? Tal como, nascendo, precedeu o Senhor que ia nascer, assim também, batizando, precede o
Senhor que ia batizar. Precursor de Cristo pela sua pregação, ele o foi também dando um batismo que era uma
imagem
do
sacramento
que
estava
para
vir.
João anunciou um mistério quando declarou que Cristo estava no meio dos homens e que eles não O conheciam,
pois o Senhor, quando Se revelou na carne, era ao mesmo tempo visível no Seu corpo e invisível na Sua majestade.
E João acrescenta: «O que vem depois de mim passou à minha frente» (Jo 1,15); e explica as causas da
superioridade de Cristo quando precisa: «Porque existia antes de mim», como que para dizer claramente: «Se é
superior a mim, tendo nascido depois de mim, é porque o tempo do Seu nascimento não o restringe dentro dos seus
limites. Nascido de uma mãe no tempo foi gerado pelo Pai fora do tempo.»João manifesta o humilde respeito que
Lhe deve, prosseguindo: «Não sou digno de desatar as correias das Suas sandálias.» Era costume entre os antigos
que, se alguém se recusasse a desposar uma jovem que lhe estava prometida, desatasse a sandália do que viesse a ser
seu marido. Ora Cristo manifestou-Se como Esposo da santa Igreja. Mas porque os homens pensavam que João era
o Cristo – coisa que o próprio João negou –, ele declara-se indigno de desatar a correia da Sua sandália. É como se
dissesse claramente: «Eu não adoto incorretamente o nome de esposo» (cf Jo 3,29).
Jô.(1,35-42) – DDDE – pg.1385– Encontro com os primeiro discípulos
35.No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos.
36.E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus.
37.Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus.
38.Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?
39.Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima.
40.André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido.
41.Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo).
42.Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre São Pedro
“Jesus pousou sobre ele o olhar e disse: ‘Chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedro”-(v.42)
“Tu és Simão, filho de Jonas; chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedro”. Eis o nome que Cristo dá a Simão. A
Tiago e a seu irmão chamar-lhes-á “filhos do trovão” (Mc 3, 17). A que se devem estas mudanças de nome? Servem
para mostrar que Ele, Jesus, é o mesmo que havia estabelecido a antiga aliança, que tinha mudado o nome de Abrão,
que passou a ser Abraão, e o de Sarai, que passou a chamar-se Sara, e o de Jacob, que passou a ser Israel (Gen 17, 5
ss; 32, 29). E que também dera o nome a vários, quando do seu nascimento: a Isaac, a Sansão, aos filhos de Isaías e
de Oséias. Nós temos um nome muito superior a todos os outros: o nome de “cristãos” – o nome que faz de nós
filhos de Deus, amigos de Deus, um mesmo corpo com Ele. Haverá nome que possa tornar-nos mais fervorosos na
virtude, encher-nos de maior zelo, levar-nos a fazer o bem? Evitemos, pois, fazer alguma coisa que seja indigna
deste nome tão grande e tão belo, derivado do nome do próprio Jesus Cristo. Quantos ostentam o nome de um
grande chefe militar ou de alguma personagem ilustre consideram-se honrados por esse fato e tudo fazem para ser
dignos dele. Quanto mais nós, que não tiramos o nosso nome de um general nem de um príncipe desta terra, nem
sequer de um anjo, mas do Rei dos anjos, quanto mais nós devemos estar dispostos a tudo perder, incluindo a
própria vida, em honra deste santo nome!
Jo.5,1-16 –DDDE – p.1389.0
1.Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
2.Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.
3.Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.
4.[Pois de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento. E o primeiro que entrasse no
tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.]
5.Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.
6.Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: Queres ficar curado?
7.O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro
desceu antes de mim.
8.Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.
9.No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando. Ora, aquele dia era sábado.
10.E os judeus diziam ao homem curado: E sábado, não te é permitido carregar o teu leito.
11.Respondeu-lhes ele: Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda.
12.Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda?
13.O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.
14.Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: Eis que ficaste são; já não peques, para não te acontecer coisa pior.
15.Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.
16.Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses milagres no dia de sábado.
- O DDDE ocorre após a cura física que o Senhor fez no paralítico.
Comentário feito por:
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 8 (a partir da trad. de Cerf 1991, p. 63)
«Levanta-te, toma a tua maca e anda»
Nosso Senhor foi à piscina de Betesda; encontrou um homem doente há trinta e oito anos, e disse-lhe: «Queres ser
curado?». Meus filhos, reparai bem que este doente permaneceu ali longos anos. Este doente estava destinado a
servir a glória de Deus, e não a morte (Jo 11, 4). Oh, se quiséssemos esforçar-nos por compreender, em espírito de
verdadeira paciência, o ensinamento profundo contido no fato de o doente ter esperado trinta e oito anos que Deus o
curasse e ordenasse que se fosse embora!Isto destina-se às pessoas que, mal começando uma vida ligeiramente
diferente e não vendo produzir-se de imediato as grandes coisas esperadas, crêem estar tudo perdido e se queixam
de Deus como se Ele as tratasse injustamente. São poucos os homens que possuem esta nobre virtude de se
abandonarem e se resignarem, que se aceitam como são e suportam a própria enfermidade, os próprios obstáculos e
as próprias tentações, até que o próprio Senhor os cure. Que poder e que autoridade são dados a este homem! Na
verdade, é a ele que é dito: «Levanta-te, não podes continuar deitado, deves sair triunfante do cativeiro, ser salvo e
andar em total liberdade; levarás a tua cama, ou seja, aquilo que antes te levava a ti, e deves erguê-la e levá-la agora
com autoridade e força.» Aquele que o próprio Senhor libertar será bem libertado, andará cheio de alegria e, após
esta longa espera, obterá uma liberdade maravilhosa, de que são privados todos os que julgam que se libertam a si
mesmos quebrando os seus laços antes do tempo.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Sobre os mistérios, 24s (trad. breviário rev.)
Queres ficar são?
O paralítico da piscina de Betesda esperava um homem para o ajudar a descer à piscina. Quem era esse homem, a
não ser o Senhor Jesus, nascido da Virgem? Com a Sua vinda, Ele não prefigurou apenas a cura de algumas pessoas;
Ele era a própria verdade que cura todos os homens. Por conseguinte, era Ele que se esperava que descesse, Ele de
Quem Deus Pai disse a João Baptista: «Aquele sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer é que batiza no
Espírito Santo» (Jo.1, 33). Então, por que desceu o Espírito como uma pomba, se não para que tu a visses e
reconhecesses que a pomba enviada da arca por Noé, o justo, era uma imagem desta outra pomba, de modo a que
nela reconhecesses a prefiguração do sacramento do Batismo? Podes estar ainda na dúvida, quando o Pai proclama
para ti de maneira indubitável no Evangelho: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o Meu agrado»
(Mt 3, 17); quando o Filho o proclama, Ele sobre Quem o Espírito Santo se manifestou sob forma de pomba;
quando o Espírito Santo também o proclama, Ele que desceu sob forma de pomba; quando David o proclama: «A
voz do Senhor ressoa sobre as águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a vastidão das
águas» (Sl 28, 3)? A Escritura atesta também que, às preces de Gedeão, o fogo desceu do céu; e que, à prece de
Elias,
o
fogo
foi
enviado
para
consagrar
o
sacrifício
(Jz.6,21;
1Rs.18,38).
Não consideres o mérito pessoal dos sacerdotes, mas a sua função. Por conseguinte, acredita que o Senhor Jesus está
lá, invocado pela oração dos sacerdotes, Ele que disse: «Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome,
Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20). Por maioria de razão, onde está a Igreja, onde estão os mistérios, é lá que Ele
se digna conceder-nos a Sua presença. Desceste ao batistério. Recorda o que disseste: que crês no Pai, que crês no
Filho, que crês no Espírito Santo. Pelo mesmo compromisso da tua palavra, quiseste crer no Filho da mesma
maneira que crês no Pai, acreditar no Espírito Santo da mesma maneira que crês no filho, apenas com a diferença
que professas que é necessário crer na cruz do único Senhor Jesus.
Jo.(5,17-30) –DDDE - pg.1390
17.Mas ele lhes disse: Meu Pai continua agindo até agora, e eu ajo também.
18.Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas afirmava
ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.
19.Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o
que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o Filho. 20.Pois o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e
maiores obras do que esta lhe mostrará, para que fiqueis admirados.
21.Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer. 22.Assim também o Pai não
julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho.
23.Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que o enviou.
24.Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na
condenação, mas passou da morte para a vida.
25.Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvire m
viverão.
26.Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo,
27.e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem.
28.Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz:
29.os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados.
30.De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a
vontade daquele que me enviou.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 97
«Chegará a hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus» - (v.25)
"Desperta, tu que dormes; levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará! (Ef 5,14). Compreende bem de que
mortos se trata quando te dizem: "Levanta-te de entre os mortos!" Muitos vezes, até dos mortos visíveis, se diz que
eles dormem; e, na verdade, dormem todos para aquele que os pode acordar. Um morto está mesmo morto para ti:
podes bater-lhe, sacudi-lo que ele não acorda. Mas, para Cristo, estava apenas adormecido aquele a quem ordenou:
"Levanta-te!" e imediatamente se levantou (Lc 7,14). É fácil despertar do seu leito uma pessoa que dorme; com
mais facilidade ainda Cristo desperta um morto já sepultado... "Há quatro dias que está morto; já cheira mal" (Jo
11,39). Mas eis que chega o Senhor para quem tudo é fácil. Diante da voz do Senhor não há amarras que resistam;
as potências das moradas dos mortos tremem e Lázaro aparece vivo... Pela vontade vivificante de Cristo, mesmo os
que
estão
mortos
há
muito
tempo
apenas
estão
a
dormir.
Mas Lázaro saído do túmulo estava ainda incapaz de andar. Por isso, o Senhor ordena aos seus discípulos: "Soltem-
no e deixem-no ir". Cristo tinha-o ressuscitado mas eles é que lhe soltariam as faixas da mortalha. Vede a parte do
Senhor ao trazer alguém de novo à vida: escravo dos seus hábitos, ele ouve as exortações da Palavra divina...
Quando são vivamente admoestados, os pecadores entram em si mesmos; começam a passar a sua vida em revista e
a sentir o peso das cadeias dos seus maus hábitos. Decidem mudar de vida: ei-los ressuscitados. Mas, embora vivos,
eles ainda não podem caminhar; é preciso que as suas faixas sejam soltas; é o papel dos apóstolos: "Aquilo que
desligardes na terra será desligado nos céus" (Mt.18,18).
Comentário feito por:
Odes de Salomão (texto cristão hebraico do início do sec.II)
nº. 42
«Os mortos vão ouvir a voz do Filho de Deus» - (v.25)
Cristo fala
Os que não me reconheceram não tiveram esse benefício;
Estive escondido para os que não me possuíam.
Estou junto daqueles que me amam.
Todos os meus perseguidores estão mortos;
Os que me sabiam vivo procuraram-me.
Ressuscitei, estou com eles,
falo pela sua boca.
Eles repeliram os seus perseguidores
e sobre eles lancei o jugo do meu amor.
Como o braço do noivo sobre a noiva (cf. Ct 2,6),
assim é o meu jugo sobre os que me conhecem.
Como a tenda das núpcias armada em casa do noivo,
assim o meu amor protege aqueles que crêem em mim.
Eu não fui condenado,
embora o parecesse.
Não pereci,
embora o tenham imaginado.
A mansão dos mortos viu-me
e foi vencida,
a morte deixou-me partir,
e a muitos outros, comigo.
Fui fel e vinagre para ela;
Desci, com ela,
toda a profundidade da sua mansão,
e a morte rendeu-se,
não pôde suportar o meu rosto.
Reuni entre os seus mortos
uma assembléia de vivos (cf. 1P3,19; 4,6).
Falei-lhes com lábios vivos,
de modo que a minha palavra não fosse vã.
Correram para mim os que estavam mortos;
e gritaram dizendo: «Tem piedade de nós,
Filho de Deus, procede conosco conforme a tua graça.
Faz-nos sair dos laços das trevas,
abre-nos a porta, para que cheguemos a ti.
Vemos que a nossa morte
não se apoderou de ti.
Sejamos também libertados contigo,
pois és o nosso Salvador».
Ouvi as suas vozes,
e a sua fé, guardei-a no meu coração.
Na sua fronte tracei o meu nome (Ap.14,1)
Eles são livres e pertencem-me.
Aleluia
Jo.(5,31-47)- DDDE – pg. 1390
31.Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.
32.Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim.
33.Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.
34.Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos.
35.João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz.
36.Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.
37.E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face...
38.e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou.
39.Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.
40.E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida...
41.Não espero a minha glória dos homens,
42.mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.
43.Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo...
44.Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?
45.Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança.
46.Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. 47.Mas, se não acreditais nos
seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?
Comentário feito por:
Santo Aphraate (?-c. 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque
As Exposições, n° 21
«Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim»- (v.46)
Moisés foi perseguido, tal como Jesus foi perseguido. Esconderam-no por altura do seu nascimento para que não
fosse morto pelos perseguidores; a Jesus, obrigaram-no a fugir para o Egito logo que nasceu, para que Herodes, o
seu perseguidor, não o matasse. Na altura em que nasceu Moisés, afogavam as crianças no rio; quando nasceu Jesus,
mataram os meninos de Belém e dos arredores. A Moisés, Deus disse: "Morreram aqueles que queriam a tua vida"
(Ex 4,19); o anjo disse a José, no Egito: "Levanta-te, toma o menino e volta para a terra de Israel, porque morreram
os que queriam a sua vida" (Mt 2,20). Moisés fez o povo sair da servidão do Faraó; Jesus salvou todos os povos da
servidão de Satanás... Quando Moisés imolou o cordeiro, os primogênitos dos Egípcios foram mortos; Jesus tornouse o verdadeiro cordeiro quando o crucificaram... Moisés fez descer o maná para alimentar o seu povo; Jesus deu o
seu próprio corpo aos povos. Moisés amaciou as águas amargas com a madeira; Jesus amaciou a nossa amargura
sendo crucificado no madeiro. Moisés fez descer a Lei para o povo; Jesus deu Testamentos aos povos. Moisés
venceu os Amalecitas estendendo as suas mãos; Jesus venceu Satanás com o sinal da cruz.
Moisés fez sair água do rochedo para o povo: Jesus enviou Simão Pedro levar o seu ensinamento aos povos. Moisés
retirava o véu do rosto para falar com Deus; Jesus retirou o véu que cobria o rosto dos povos para que eles ouvissem
e recebessem o seu ensinamento (2Co.3,16). Moisés impôs as mãos aos anciãos e eles receberam o sacerdócio;
Jesus impôs a mão aos apóstolos e eles receberam o Espírito Santo. Moisés subiu à montanha e aí morreu; Jesus
subiu aos céus e sentou-se à direita de Seu Pai.
Comentário feito por:
S. Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja
Carta 53, a S. Paulino, bispo de Nola
"Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim, porque foi de mim que ele falou na Escritura" – (v.46)
Há uma "sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que, desde antes dos séculos, Deus antecipadamente nos destinou".
Esta sabedoria de Deus é Cristo; Ele é "poder de Deus e sabedoria de Deus"... No Filho, com efeito, "encontram-se
escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento"; oculto no mistério, destinado previamente, desde
antes dos séculos, Ele é o que foi predestinado e prefigurado na Lei e nos profetas.Por isso, os profetas tinham o
nome de "videntes"; viam Aquele que estava escondido e desconhecido dos outros. Também Abraão "viu o seu dia
e rejubilou". Para Ezequiel, os céus abriram-se, enquanto para o povo pecador permaneciam cerrados. "Retirai o véu
de cima dos meus olhos, diz David, e contemplarei as maravilhas da vossa lei". Na verdade, a lei é espiritual e, para
compreendê-la, é preciso que seja "afastado o véu" e que "a glória de Deus seja contemplada de rosto
descoberto". No Apocalipse, mostra-se um livro fechado com sete selos... Quantos homens hoje, que se pretendem
instruídos, têm nas mãos um Livro selado! São incapazes de abri-lo, a menos que seja aberto por "Aquele que tem a
chave de David; se Ele abrir, ninguém o fechará e, se Ele fechar, ninguém o abrirá". Nos Atos dos Apóstolos, o
eunuco lia o profeta Isaías...; contudo, ignorava Aquele que venerava no livro sem O conhecer. Surge Filipe;
mostra-lhe Jesus oculto pela letra. Compreende, pois, que não podes comprometer-te com as Sagradas Escrituras
sem
teres
um
guia
que
te
mostre
o
caminho.
(Referências bíblicas: 1Co.2,7 ; 1Co 1,24 ; Cl.2,31 ; 1Sm.9,9 ; Jo.8,56 ; Sl.118,18 ; 2Co 3,16-18 ; Ap.5,1 ; Ap.3,7 ;
At.8,26s)
Comentário feito por:
Santo Aphraate (?-c. 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque
As Exposições, n° 21
«Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim» - (v.46)
Moisés foi perseguido, tal como Jesus foi perseguido. Esconderam-no por altura do seu nascimento para que não
fosse morto pelos perseguidores; a Jesus, obrigaram-no a fugir para o Egito logo que nasceu, para que Herodes, o
seu perseguidor, não o matasse. Na altura em que nasceu Moisés, afogavam as crianças no rio; quando nasceu Jesus,
mataram os meninos de Belém e dos arredores. A Moisés, Deus disse: "Morreram aqueles que queriam a tua vida"
(Ex 4,19); o anjo disse a José, no Egito: "Levanta-te, toma o menino e volta para a terra de Israel, porque morreram
os que queriam a sua vida" (Mt 2,20). Moisés fez o povo sair da servidão do Faraó; Jesus salvou todos os povos da
servidão de Satanás... Quando Moisés imolou o cordeiro, os primogênitos dos Egípcios foram mortos; Jesus tornouse o verdadeiro cordeiro quando o crucificaram... Moisés fez descer o maná para alimentar o seu povo; Jesus deu o
seu próprio corpo aos povos. Moisés amaciou as águas amargas com a madeira; Jesus amaciou a nossa amargura
sendo crucificado no madeiro. Moisés fez descer a Lei para o povo; Jesus deu Testamentos aos povos. Moisés
venceu os Amalecitas estendendo as suas mãos; Jesus venceu Satanás com o sinal da cruz.
Moisés fez sair água do rochedo para o povo: Jesus enviou Simão Pedro levar o seu ensinamento aos povos. Moisés
retirava o véu do rosto para falar com Deus; Jesus retirou o véu que cobria o rosto dos povos para que eles ouvissem
e recebessem o seu ensinamento (2Co 3,16). Moisés impôs as mãos aos anciãos e eles receberam o sacerdócio;
Jesus impôs a mão aos apóstolos e eles receberam o Espírito Santo. Moisés subiu à montanha e aí morreu; Jesus
subiu aos céus e sentou-se à direita de Seu Pai.
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
2º Sernão sobre o Gênesis
«Se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito» - (v.46)
No princípio dos tempos, o Senhor, que tinha criado o homem, falava diretamente ao homem e este era capaz de
compreendê-lo. Era assim que Deus conversava com Adão, como depois conversaria com Noé e com Abraão. E,
mesmo depois de o gênero humano se ter precipitado no abismo do pecado, Deus não cortou por completo relações
com ele, ainda que as que mantinha tivessem, naturalmente, menos familiaridade, porque os homens tinham-se
tornado indignos delas. Consentiu, pois, em renovar relações de benevolência com eles, mas através de missivas,
como se faz com um amigo ausente; desta maneira, podia também, na Sua bondade, atrair novamente a Si todo o
gênero humano. O portador dessas missivas que Deus nos enviava era Moisés.Abramos essas cartas e leiamos as
primeiras palavras: «No princípio, criou Deus o céu e a terra.» Que coisa admirável!. Moisés, que veio ao mundo
muitos séculos depois, foi verdadeiramente inspirado do alto para nos contar as maravilhas que Deus fez ao criar o
mundo.Dá mesmo a impressão de que se dirige a nós diretamente, dizendo: «Foram os homens que me ensinaram o
que vou revelar-vos? De maneira nenhuma, foi o Criador, Aquele que realizou estas maravilhas; é Ele que dirige a
minha língua para vo-lo ensinar. Peço-vos que silencieis todas as reclamações dos raciocínios humanos. Não ouçais
este relato como se fosse apenas a palavra de Moisés, pois é o próprio Deus que vos fala. Moisés é apenas o
intérprete de Deus.». Irmãos, acolhamos a Palavra de Deus de coração reconhecido e humilde. Porque foi Deus
quem tudo criou, é Ele que prepara todas as coisas e as dispõe com sabedoria. [...] É Ele que conduz o homem, por
meio daquilo que é visível, ao conhecimento do Criador do universo. É Ele que ensina o homem a contemplar o
Artífice supremo nas Suas obras, a fim de que o homem saiba adorar o seu Criador.
Comentário feito por:
Jacques de Saroug (cerca 449-521), monge e bispo sírio
Homilia sobre o véu de Moisés
“Foi de mim que falaram na Escritura” – (v.39)
“O rosto de Moisés resplandecia porque ele tinha falado com Deus. Aarão e todos os Israelitas o viram… e tiveram
medo de se aproximarem dele… Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu” (Ex 34,29s). O
brilho com o qual o rosto de Moisés resplandecia, era Cristo que brilhava nele; mas não se mostrou aos olhos dos
Hebreus; eles não o viram… Todo o Antigo Testamento se nos apresenta velado, como Moisés, o símbolo de toda a
profecia. Por detrás desse véu, estendido sobre os livros dos profetas, aparece Cristo, augusto juiz, sentado sobre o
seu trono de glória…Se Moisés estava velado, que outro profeta poderia descobrir a face? Por conseguinte, a seguir
a ele, todos estavam velados nos seus discursos. Simultaneamente, anunciavam e cobriam; apresentavam a sua
mensagem, e ao mesmo tempo encobriam-na com um véu… É porque Jesus brilhava nos seus livros que um véu o
escondia aos olhos, véu que proclamava a todo o universo que as palavras das Santas Escrituras tinham um sentido
escondido…Nosso Senhor levantou este véu quando explicou os mistérios ao universo inteiro. Pela sua vinda, o
Filho de Deus
descobriu o rosto de Moisés velado até então, palavras ininteligíveis. A nova aliança veio iluminar a velha; o mundo
pode enfim apoderar-se dessas palavras que mais nada encobre. O Senhor, nosso Sol, elevou-se sobre o mundo e
iluminou toda a criatura; mistério, enigmas são finalmente esclarecidos. O véu que cobria os livros foi levantado e o
mundo contempla o Filho de Deus com o rosto descoberto.
Comentário feito por :
Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Revelação Divina (Dei Verbum), §§ 14-16
«Investigai as Escrituras: são elas que dão testemunho a Meu favor.»
Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano, escolheu por
especial providência um Povo a quem confiar as Suas promessas. A «economia» da salvação, de antemão
anunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento, como
verdadeira Palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam o seu valor perene: «Tudo
quanto está escrito para nossa instrução está escrito para que, por meio da paciência e da consolação que nos vêm da
Escritura, tenhamos esperança» (Rm.15, 4).A «economia» do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar,
a anunciar profeticamente e a simbolizar com várias figuras o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino
messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero humano antes do tempo da
salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo como Deus,
justo e misericordioso, trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias,
revelam contudo a verdadeira pedagogia divina. Por isso, os fiéis devem receber com devoção estes livros, que
exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria
salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o
mistério
da
nossa
salvação.
Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois testamentos, dispôs tão sabiamente as coisas, que o
Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo Testamento está patente no Novo. Pois, apesar de Cristo ter
alicerçado a Nova Aliança no Seu sangue, os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente assumidos na
pregação evangélica, adquirem e manifestam a sua plena significação no Novo Testamento, que por sua vez
iluminam e explicam.
Jô. 6,41-51 - DDDE – pg.1392 - Discurso sobre o Pão da Vida
41. Murmuravam então dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42. E perguntavam: Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?
43. Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. 45. Está escrito nos profetas:
Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por ele instruído vem a mim.
46. Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai.
47. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
48. Eu sou o pão da vida.
49. Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram.
50. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.
51. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a
salvação do mundo.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja
Sobre os mistérios, 48-49, 58
“Eu sou o Pão da Vida”- (v.35)
É admirável que Deus tenha feito chover o maná sobre os nossos pais e que eles tenham sido diariamente saciados
com o pão do céu. É por isso que está escrito: “O homem comeu o pão dos anjos” (Sl 77, 25). Contudo, aqueles que
comeram este pão do deserto estão todos mortos. Pelo contrário, o alimento que agora recebes este Pão vivo que
desceu dos céus, é sustento para a vida eterna, e quem come deste Pão não morrerá jamais. É o Corpo de Cristo.
Esse maná era do céu, este é do cimo dos céus; aquele era um dom do céu, este é o Senhor dos céus; aquele estava
sujeito à corrupção quando era guardado nem que fosse até ao dia seguinte, a este é estranha toda a corrupção: quem
dele prova com respeito não pode ser tocado pela corrupção. A água brotou dos rochedos para os hebreus, para ti
brota o sangue de Cristo. A água saciou-os por momentos, o sangue lava-te para sempre. Os hebreus beberam e têm
sede. Tu, depois de teres bebido, nunca mais poderás ter sede (cf. Jo 4, 14). Aquilo era a pré-figuração, isto é a
verdade plena. Era a “sombra do que devia vir” (Cl.2, 17). Escuta o que foi manifestado a nossos pais: “De fato,
todos bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, que era Cristo” (1Cor 10, 4). Tu conheceste o cumprimento,
tu viste a luz plena, a verdade pré-figurada, o corpo do Criador, mais do que o maná do céu. Sobre aquilo que
comemos e aquilo que bebemos, diz o Espírito Santo: “Saboreai e vede como é bom o Senhor; feliz o homem que
Nele
se
abriga”
(Sl
33,
9).
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre a 1ª Carta aos Coríntios, nº 24
“O pão que darei é a Minha carne, pela vida do mundo”- (v.51)
“Nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão” (1 Cor 10, 17). O
que é o pão que comemos? O Corpo de Cristo. Em que se transformam os comungantes? No Corpo de Cristo, não
numa multidão, mas num único Corpo. Assim como o pão, constituído por muitos grãos de trigo, é um único pão no
qual desaparecem os grãos, assim como os grãos subsistem nele, sendo impossível detectar o que os distingue em
massa tão bem ligada, assim também nós, juntos e com
Cristo, formamos um todo. Com efeito, não é de um corpo que se alimenta determinado membro, alimentando-se
outro membro de outro corpo. É o mesmo Corpo que a todos alimenta. E é por isso que o apóstolo Paulo salienta
que “todos participamos do mesmo pão”.Pois bem, se participamos todos do mesmo pão, se nos tornamos todos
esse mesmo Cristo, por que não demonstramos a mesma caridade? .Era o que acontecia no tempo dos nossos pais:
“A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma” (At. 4, 32). Mas tal não acontece no
presente; pelo contrário. E, contudo, homem, Cristo veio procurar-te, a ti que estavas tão longe dele, para se unir a
ti. E tu não queres unir-te a teu irmão?. Com efeito, Ele não se limitou a dar o seu corpo; mas porque a primeira
carne, tirada da terra, estava morta pelo pecado, introduziu nela, por assim dizer, outro fermento, a sua própria
carne, da mesma natureza que a nossa mas isenta de todo o pecado, cheia de vida. O Senhor distribuiu-a por todos a
fim de que, alimentados por esta carne nova, possamos, em comunhão uns com os outros, entrar na vida imortal.
Comentário feito por:
Vaticano II
Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium), 47-48
"O pão que eu vos darei é a minha carne, entregue para que o mundo viva" – (v.51)
O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do
seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua
esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de
caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória
futura. 48. É por isso que a Igreja procura solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como
estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente, por meio
duma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo
do Senhor; dêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que
não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador, progridam na unidade com Deus
e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos (1Co.15,28).
Jô.(7,1-2.2,10.25-30) – DDDE - pg.1393/4 – Opinião a cerca de Jesus
1.Depois disso, Jesus percorria a Galiléia. Ele não queria deter-se na Judéia, porque os judeus procuravam tirar-lhe a vida.
2.Aproximava-se a festa dos judeus chamada dos Tabernáculos
10.Mas quando os seus irmãos tinham subido, então subiu também ele à festa, não em público, mas despercebidamente.
25.Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: Não é este aquele a quem procuram tirar a vida?
26.Todavia, ei-lo que fala em público e não lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram de fato as autoridades que ele é o Cristo?
27.Mas este nós sabemos de onde vem. Do Cristo, porém, quando vier, ninguém saberá de onde seja.
28.Enquanto ensinava no templo, Jesus exclamou: Ah! Vós me conheceis e sabeis de onde eu sou!... Entretanto, não vim de mim mesmo,
mas é verdadeiro aquele que me enviou, e vós não o conheceis.
29.Eu o conheço, porque venho dele e ele me enviou.
30.Procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.
Comentário feito por:
Orígenes (cerca 185-253), padre e teólogo
Comentário a S. João, 19,12
“Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, porque ainda não chegara a Sua hora” – (v.30)
Procurar Jesus é muitas vezes um bem, porque é o mesmo que procurar o Verbo, a verdade e a sabedoria. Mas vocês
vão dizer que as palavras “procurar Jesus” são por vezes pronunciadas a propósito dos que lhe querem mal. Por
exemplo: “Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém Lhe deitou a mão, porque ainda não chegara a Sua hora”.
“Eu sei que sois a descendência de Abraão, mas vós procurais matar-me porque a Minha palavra não tem cabimento
em vós” (Jo.8,37). “Mas vós procurais matar-me, a Mim que vos disse a
verdade que ouvi a Deus!” (Jo.8,40).Estas palavras… não se opõem a esta outra: “Quem procura encontra” (Mt.7,8).
Existem sempre diferenças entre os que procuram Jesus: nem todos O procuram sinceramente para a sua salvação e
para obter a Sua ajuda. Há homens que O procuram por inumeráveis razões muito longínquas do bem. É por isso
que só os que O procuraram de coração sincero encontraram a paz, aqueles de quem se pode verdadeiramente dizer
que procuram o Verbo que está com Deus (Jo 1,1), para que Ele os leve a Seu Pai… Ele ameaça ir-se embora se não
é acolhido: “Eu vou-me embora: vós haveis de Me procurar” (Jo.8,21)… Ele sabe de quem se afasta e junto de
quem permanece sem ser ainda encontrado, para que se O procuram O encontrem no tempo favorável.
Jo.8,1-11 DDDE - p.1395
1.Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras.
2.Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar.
3.Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério.
4.Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério.
5.Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?
6.Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra.
7.Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.
8.Inclinando-se novamente, escrevia na terra.
9.A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos
mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele.
10.Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?
11.Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Carta 26, 11-20 ; PL 16, 1044-1046 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 349 rev.)
O sol da justiça: a Nova Lei no Templo
Uma mulher culpada de adultério é levada pelos escribas e pelos fariseus à presença do Senhor Jesus. Eles
formulam a acusação como traidores, de tal maneira que, se Jesus a absolver, dará a idéia de estar a violar a Lei; se a
condenar, dará a impressão de ter alterado a razão da Sua vinda, porque Ele veio para perdoar os pecados de todos.
Enquanto eles falavam, Jesus, de cabeça baixa, escrevia na terra com um dedo. Vendo que eles esperavam uma
resposta, levantou a cabeça e disse: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» Haverá coisa
mais divina que este veredicto?: aquele que estiver sem pecado que castigue o pecador. Com efeito, como se pode
tolerar que um homem condene o pecado de outro quando desculpa o seu próprio pecado? Não é certo que este se
condena ainda mais, ao condenar noutro o pecado que ele próprio comete?Jesus falou assim e escrevia no chão. Por
que o faria? Era como se dissesse: «Por que vês o argueiro que está no olho do teu irmão e não reparas na trave que
está no teu olho?» (Lc.6,41). Ele escrevia no chão com o mesmo dedo com que havia redigido a Lei (Ex.31,18). Os
pecadores serão inscritos na terra e os justos no céu, como Jesus disse aos discípulos: «Alegrai-vos por estarem os
vossos nomes escritos nos céus» (Lc 10, 20). Ao ouvirem Jesus, os fariseus «foram saindo um a um, a começar
pelos mais velhos». O evangelista tem razão em afirmar que eles saíram, pois estes homens não queriam estar com
Cristo. Aquilo que se encontra no exterior do Templo é terra; no interior encontram-se os mistérios. É que o que eles
procuravam nos ensinamentos divinos eram as folhas, não eram os frutos das árvores; eles viviam à sombra da Lei,
e por isso não eram capazes de ver o sol da justiça (Ml.3,20).
Jo.(9,1-41) DDDE- O cego de nascença - p.1397/8
1.Caminhando, viu Jesus um cego de nascença.
2.Os seus discípulos indagaram dele: Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego? 3.Jesus respondeu: Nem este
pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus. 4.Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele
que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar.
5.Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6.Dito isso, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego.
7.Depois lhe disse: Vai, lava-te na piscina de Siloé (esta palavra significa emissário). O cego foi, lavou-se e voltou vendo.
8.Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto mendigar perguntavam: Não é este aquele que, sentado, mendigava?
9.Respondiam alguns: É ele. Outros contestavam: De nenhum modo, é um parecido com ele. Ele, porém, dizia: Sou eu mesmo.
10.Perguntaram-lhe, então: Como te foram abertos os olhos?
11.Respondeu ele: Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: Vai à piscina de Siloé e lava-te. Fui, laveime e vejo.
12.Interrogaram-no: Onde está esse homem? Respondeu: Não o sei.
13.Levaram então o que fora cego aos fariseus.
14.Ora, era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
15.Os fariseus indagaram dele novamente de que modo ficara vendo. Respondeu-lhes: Pôs-me lodo nos olhos, lavei-me e vejo.
16.Diziam alguns dos fariseus: Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda sábado. Outros replicavam: Como pode um pecador
fazer tais prodígios? E havia desacordo entre eles.
17.Perguntaram ainda ao cego: Que dizes tu daquele que te abriu os olhos? É um profeta, respondeu ele.
18.Mas os judeus não quiseram admitir que aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a vista, até que chamaram seus pais.
19.E os interrogaram: É este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu cego? Pois como é que agora vê?
20.Seus pais responderam: Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego.
21.Mas não sabemos como agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade. Que ele mesmo explique.
22.Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse
Jesus como o Cristo.
23.Por isso é que seus pais responderam: Ele tem idade, perguntai-lho.
24.Tornaram a chamar o homem que fora cego, dizendo-lhe: Dá glória a Deus! Nós sabemos que este homem é pecador.
25.Disse-lhes ele: Se esse homem é pecador, não o sei... Sei apenas isto: sendo eu antes cego, agora vejo.
26.Perguntaram-lhe ainda uma vez: Que foi que ele te fez? Como te abriu os olhos?
27.Respondeu-lhes: Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos. Por que quereis tornar a ouvir? Quereis vós, porventura, tornar-vos também
seus discípulos?...
28.Então eles o cobriram de injúrias e lhe disseram: Tu que és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés.
29.Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste não sabemos de onde ele é.
30.Respondeu aquele homem: O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos.
31.Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade. 32.Jamais se ouviu dizer que
alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença.
33.Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada.
34.Responderam-lhe eles: Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?... E expulsaram-no.
35.Jesus soube que o tinham expulsado e, havendo-o encontrado, perguntou-lhe: Crês no Filho do Homem? 36.Respondeu ele: Quem é ele,
Senhor, para que eu creia nele?
37.Disse-lhe Jesus: Tu o vês, é o mesmo que fala contigo!
38.Creio, Senhor, disse ele. E, prostrando-se, o adorou.
39.Jesus então disse: Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.
40.Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?...
41.Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste.
Comentário feito por:
Gregório de Narek (c. 944 – c. 1010), monge e poeta armênio
Livro de orações, n.° 40
«Ele foi, lavou-se e voltou a ver» - (v.7)
Deus todo-poderoso, nosso Benfeitor, Criador do Universo,
Escuta os meus gemidos, que estou em perigo.
Liberta-me do medo e da angústia;
Liberta-me com a tua força poderosa, Tu que tudo podes…
Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma da vida.
Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona, a mim, cativo, para me fazer perecer;
Conduz para o repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.
Cura a febre que me sufoca o coração.
Perante ti sou culpado, liberta-me da inquietação, fruto da invenção diabólica,
Faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada.
Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso.
Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto
E na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).
Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflete a tua (Gn 1,26).
Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador.
Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste,
Para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário.
Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai
Para louvor do teu Espírito Santo
Pelos séculos dos séculos. Amém.
Jo.(10,1-10) – DDDE- O bom Pastor- p.1398
1.Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
2.Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3.A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz à pastagem.
4.Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas; e as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz.
5.Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6.Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria falar.
7.Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
8.Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram.
9.Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. 10.O ladrão não vem senão para
furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.
Comentário feito por:
Teodoro de Mopsuesto (? - 428), bispo de Mopsuesto na Cilícia e teólogo
Comentário de S. João
"O que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe e as ovelhas escutam a sua voz" – (vv.2-3)
O porteiro deste redil é o bem-aventurado Moisés, que o estabeleceu sobre os preceitos da Lei para permitir que os
que vivem de acordo com essas normas vivam nesse redil com toda a segurança. O pastor conduz os homens como
ovelhas às pastagens da boa doutrina, dando-lhes a conhecer o alimento da palavra, aquele com que devem
alimentar-se primeiro, e aquele com que devem alimentar-se em seguida. Dá-lhes a conhecer o sentido profundo
destas palavras, mostrando-lhes como se devem entender as Escrituras, bem como as doutrinas das quais devem
afastar-se, doutrinas essas que talvez outros lhes ensinem, enganando-os, com vista à perda das ovelhas.
«Investiguemos, pois – diz o Senhor aos fariseus – se sois vós ou Eu quem toma a entrada prescrita pela Lei, quem
cumpre com zelo os preceitos da Lei, a quem Moisés, o porteiro do redil, abre realmente a porta, a quem ele
concede louvores e honras com base nas obras que pratica, que ele declara ser o verdadeiro pastor. Se, no seu livro,
Moisés elogia aquele que cumpre os preceitos da Lei, é certo que o cumprimento desses preceitos não se encontra
em vós, mas em Mim. «Sem nada fazerdes que seja útil às ovelhas, vós apenas procurais o que vos é vantajoso. É
por isso que não tendes qualquer autoridade para acusar seja quem for.
Por Mim, é com direito e justiça que sou chamado pastor, porque comecei por observar a
Lei com cuidado; depois, tomei a porta prescrita pela Lei, que Me foi apontada pelo próprio porteiro; e por fim
cumpri
zelosamente
tudo
quanto
tem
de
ser
feito
para
o
bem
das
ovelhas.»
Comentário feito por:
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de João, 10, 3 (a partir da trad. Orval)
O Bom Pastor e a porta das ovelhas
Jesus disse: «Eu sou o Bom Pastor.» E é evidente que o título de pastor convém a Cristo porque, assim como o
pastor leva o rebanho a pastar, assim também Cristo restaura os fiéis através do alimento espiritual que é o Seu
próprio
Corpo
e
o
Seu
próprio
Sangue.
Para se distinguir do mau pastor e do ladrão, Jesus precisa que é o «bom pastor». É bom porque defende o rebanho
com a dedicação com que o bom soldado defende a sua pátria. Por outro lado, Cristo afirmou que o pastor entra pela
porta e que Ele é essa porta. Assim, pois quando aqui afirma ser o Pastor, temos de compreender que é Ele que entra
e que entra por Si mesmo. E é bem verdade, porque Ele afirma que conhece o Pai por Si mesmo, enquanto nós
entramos por meio Dele e é Ele que nos dá a felicidade. Reparemos bem que não há outro que seja a porta, porque
mais ninguém é a luz, a não ser por participação. João Baptista não era a luz, antes tinha vindo para dar testemunho
da luz (Jo 1, 8). Mas Cristo «era a luz que ilumina todo o homem» (v. 9). Ninguém pode, por conseguinte, dizer de
si mesmo que é a porta, porque Cristo reservou para Si esse título. Mas o título de pastor, esse o comunicou a
outros, deu-o a alguns dos Seus membros. Com efeito, também Pedro o foi, e os outros apóstolos, e também o são
todos os bispos. «Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração», diz Jeremias (3,15). Ora, ainda que os chefes da
Igreja - que são filhos da mesma Igreja - sejam todos pastores, Cristo afirma «Eu sou o Bom Pastor» para nos
mostrar a singular força do Seu amor. Nenhum pastor será bom se não estiver unido a Cristo pela caridade,
tornando-se assim membro do verdadeiro Pastor.
-Em(Jo.10,4-5) o DDDE é muito importante na nossa vida cristã, pois nos levará a distinguir a voz de Deus das
outras vozes que tentam nos confundir.
- O próprio Jesus nos diz que as suas ovelhas conhecem a sua voz e não seguem o estranho, antes fogem dele,
porque não conhecem a voz de estranhos. As ovelhas de Jesus recebem uma iluminação divina que lhes revela a
verdadeira intenção dos sentimentos, palavras, desejos, planos, atitudes. Protege-nos da falsidade que há no mundo,
orientando nossas vidas, nossas decisões para a verdade que vem do Senhor.
Jo.(10,11-18) - DDDE - O bom Pastor –p.1398
11.Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas.
12.O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e
foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas.
13.O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas.
14.Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim,
15.como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
16.Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um
só pastor.
17.O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18.Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que
recebi de meu Pai.
Comentário feito por :
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja
Sermões para os domingos e as festas dos santos (trad. Bayart, Eds. franciscanas 1944, p. 140)
«O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas»
«Eu sou o bom pastor». Cristo pode dizer com propriedade «Eu sou». Para Ele nada pertence ao passado nem ao
futuro: tudo Nele é presente. É o que Ele diz de Si mesmo no Apocalipse: «Eu sou o Alfa e o Ómega, Aquele que é,
que era e que virá, o Todo-Poderoso» (Ap.1, 8). E no Êxodo: «Eu sou Aquele que sou. Assim dirás aos filhos de
Israel: «'Eu sou' enviou-me a vós»» (Ex 3, 14).«Eu sou o bom pastor». A palavra «pastor» vem do termo «pastar».
Cristo serve-nos o repasto da Sua carne e do Seu sangue, em cada dia, no sacramento do altar. Jessé, pai de David,
disse a Samuel: «Resta ainda o [filho] mais novo, que anda a apascentar as ovelhas» (1Sm.16, 11). Também o nosso
David, pequeno e humilde como um bom pastor, apascenta as suas ovelhas. Lemos ainda em Isaías: «É como um
pastor que apascenta o rebanho, leva os cordeiros ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias» (Is 40, 11). Com
efeito, ao conduzir o seu rebanho à pastagem, ou ao regressar de lá, o bom pastor reúne todos os cordeirinhos que
ainda não conseguem andar; toma-os nos braços e leva-os junto ao peito; leva também as ovelhas que vão dar à luz
e as que acabaram de ter os filhos. Assim faz Jesus Cristo: dia após dia alimenta-nos com os ensinamentos do
Evangelho e os sacramentos da Igreja. Reúne-nos nos Seus braços, estendidos sobre a cruz, «para congregar na
unidade os filhos de Deus que estavam dispersos» (Jo 11, 52). Aconchega-nos no seio da Sua misericórdia, como
uma mãe aconchega o seu filho.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Homilia da Missa inaugural do seu Pontificado, 24/4/05 (trad. DC 2337, p. 547, copyright © Libreria Editrice
Vaticana)
"Dou a vida pelas minhas ovelhas" – (v.15)
No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu
poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia.
Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros,
daqueles que são esmagados e mortos. Precisamente assim Ele se revela como o verdadeiro pastor: "Eu sou o bom
pastor... Ofereço a minha vida pelas minhas ovelhas", diz Jesus de si mesmo (cf. Jo 10, 14 s). Não é o poder que
redime, mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se
mostrasse mais forte. Que atingisse duramente, vencesse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do
poder se justificam assim, justificando a destruição daquilo que se opõe ao progresso e à libertação da humanidade.
Nós sofremos pela paciência de Deus. E de igual modo todos temos necessidade da sua plenitude. O Deus, que se
tornou cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica. O mundo é redimido pela
plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens.
-Jesus discerniu que o Pai em sua bondade aproveitaria a enfermidade de Lázaro para que se manifestasse a sua
glória.
Jo.(11,1-45) – DDFC DDDE DDPC – Ressurreição de Lázaro p.1399/400
1.Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta.
2.Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu
irmão.
3.Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas está enfermo.
4.A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será
glorificado o Filho de Deus.
5.Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro.
6.Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar.
7.Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para a Judéia.
8.Mestre, responderam eles, há pouco os judeus te queriam apedrejar, e voltas para lá?
9.Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo.
10.Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz.
11.Depois destas palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo.
12.Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há de sarar.
13.Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal.
14.Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro morreu.
15.Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele.
16.A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós, para morrermos com ele.
17.À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro.
18.Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.
19.Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão. 20.Mal soube Marta da vinda
de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa.
21.Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!
22.Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá.
23.Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá.
24.Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia.
25.Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.
26.E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?
27.Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo.
28.A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e te chama.
29.Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao encontro dele.
30.(Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado.)
31.Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela
ia ao sepulcro para ali chorar.
32.Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão
não teria morrido!
33.Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito. E, sob o
impulso de profunda emoção,
34.perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vinde ver.
35.Jesus pôs-se a chorar.
36.Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava!
37.Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que este não morresse?
38.Tomado, novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra.
39.Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí...
40.Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se creres, verás a glória de Deus? Tiraram, pois, a pedra.
41.Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me ouviste.
42.Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste.
43.Depois destas palavras, exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
44.E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: Desligai-o e deixai-o
ir.
45.Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele
Comentário feito por:
São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja
Sermão sobre o Santo Batismo
“Lázaro, sai para fora” – (v.43)
“Lázaro, sai para fora!” Deitado no túmulo, ouviste este chamamento imperioso. Haverá voz mais sonora do que a
do Verbo? Então, vieste para fora, tu que estavas morto, e não apenas há quatro dias, mas há muito tempo.
Ressuscitaste com Cristo; caíram-te as ligaduras. Agora, não voltes a cair na morte; não voltes a juntar-te aos que
habitavam nos túmulos; não te deixes abafar pelas ligaduras dos teus pecados. É que talvez não pudesses voltar a
ressuscitar. Poderias acaso retirar da morte deste mundo a ressurreição de todos, no final dos tempos? Que o
chamamento do Senhor te ressoe, pois, aos ouvidos! Não te feches aos ensinamentos e aos conselhos do Senhor. Se
estavas cego e mergulhado em trevas no túmulo, abre os olhos para não te afundares no sono da morte. Na luz do
Senhor, contempla a luz; no Espírito de Deus, fixa o teu olhar no Filho. Se acolheres a Palavra, concentrarás na tua
alma todo o poder de Cristo, que cura e ressuscita. Não receies sofrer para conservares a pureza do teu batismo e
abre no coração os caminhos que te fazem ascender ao Senhor. Conserva cuidadosamente o ato de libertação que
recebeste
por
pura
graça.
Sejamos luz, como os discípulos aprenderam a sê-lo Daquele que é a grande Luz: “Vós sois a luz do mundo”
(Mt.5,14). Sejamos luminárias no mundo, erguendo bem alto a Palavra da vida, sendo poder de vida para os outros.
Partamos em busca de Deus, em busca Daquele que é a primeira e a mais pura das luzes.
Jo.12,20-33- DDDE - p.1402
20.Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa.
21.Estes se aproximaram de Filipe (aquele de Betsaida da Galiléia) e rogaram-lhe: Senhor, quiséramos ver Jesus.
22.Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe o disseram ao Senhor.
23.Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado.
24.Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto.
25.Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
26.Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.
27.Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta
hora.
28.Pai, glorifica o teu nome! Nisto veio do céu uma voz: Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo.
29.Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido um trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe.
30.Jesus disse: Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa.
31.Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo.
32.E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.
33.Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer.
Comentário feito por:
São Cirilo de Alexandria (380-444), Bispo, Doutor da Igreja
Comentário sobre o Livro dos Números, 2; PG 69, 619 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 193)
«Se o grão de trigo morrer, dá muito fruto»
Cristo, primícias da nova criação, depois de ter vencido a morte, ressuscitou e sobe para o Pai como oferenda
magnífica e esplendorosa, como as primícias do gênero humano, renovado e incorruptível. Podemos considerá-Lo o
símbolo do feixe das primícias da colheita que o Senhor exigiu a Israel que oferecesse no Templo (Lv.23,9). O que
representa este sinal?Podemos comparar o gênero humano às espigas de um campo, que nascem da terra, ficam à
espera de crescer e, depois de amadurecerem, são apanhadas pela morte. Era por isso que Cristo dizia aos Seus
discípulos: «Não dizeis vós que, dentro de quatro meses, chegará o tempo da ceifa? Pois bem, Eu digo-vos: erguei
os olhos e vede. Os campos estão brancos para a ceifa. O ceifeiro já recebe o salário e recolhe o fruto para a vida
eterna» (Jo. 4,35-36). Ora, Cristo nasceu entre nós, nasceu da Virgem Santa como as espigas brotam da terra. Aliás,
não hesita em dizer de Si próprio que é o grão de trigo: «Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo,
lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.» Deste modo,ofereceu-Se por nós ao Pai, à
maneira de um feixe e como primícias da terra.Porque a espiga de trigo, como aliás nós próprios, não pode ser
considerada isoladamente. Vemo-la num feixe, constituído por numerosas espigas de um mesmo braçado. Cristo
Jesus é único, mas aparece-nos como um feixe, e constitui efetivamente uma espécie de braçado, no sentido em que
contém em Si todos os crentes, em união espiritual, evidentemente. Se assim não fosse, como poderia São Paulo
escrever: «Com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar lá nos céus» (Ef.2,6)? Com efeito, uma vez que Se fez um de
nós, nós formamos com Ele um mesmo corpo (Ef.3,6). Aliás, é Ele quem dirige estas palavras a Seu Pai: «Que
todos sejam um como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti» (Jo.17,21). O Senhor constitui, pois, as primícias da
humanidade, que está destinada a ser armazenada nos celeiros do céu.
Jo.(13,1-15)– DDDE – Jesus lava os pés de seus discípulos- p.1403
1.Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam
no mundo, até o extremo os amou.
2.Durante a ceia, - quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -,
3.sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava,
4.levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha, cingiu-se com ela.
5.Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.
6.Chegou a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: Senhor, queres lavar-me os pés!...
7.Respondeu-lhe Jesus: O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve.
8.Disse-lhe Pedro: Jamais me lavarás os pés!... Respondeu-lhe Jesus: Se eu não tos lavar, não terás parte comigo.
9.Exclamou então Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.
10.Disse-lhe Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem
todos!...
11.Pois sabia quem o havia de trair; por isso, disse: Nem todos estais puros.
12.Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz?
13.Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14.Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. 15.Dei-vos o exemplo para
que, como eu vos fiz, assim façais também vós.
Comentário feito por:
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutora da Igreja, co-padroeira da Europa
Carta 129
“Sabendo que a sua hora tinha chegado…, Jesus amou-os até ao fim”- (v.1)
Sede obedientes até à morte, a exemplo do Cordeiro sem mancha que obedeceu a seu Pai até à morte vergonhosa da
cruz. Pensem que ele é o caminho e a regra que deveis seguir. Tende-o sempre presente diante dos olhos do vosso
espírito. Vede como ele é obediente, este Verbo, a Palavra de Deus! Ele não recusa transportar o fardo das dores de
que seu Pai o encarregou; pelo contrário, ele lança-se, animado de um grande desejo. Não é isso que ele manifesta
na Ceia de quinta-feira santa quando diz: “Tenho ardentemente desejado comer convosco esta Páscoa, antes de
padecer” (Lc.22,15)? Por “comer a Páscoa”, ele entende o cumprimento da vontade do Pai e do seu desejo. Não
vendo quase mais nenhum tempo à sua frente (ele via-se já no fim, quando devia sacrificar o seu corpo por nós), ele
exulta, rejubila e diz com alegria: “ Desejei ardentemente”. Aqui está a Páscoa de que ele falava, aquela que
consistia em se dar a si próprio em alimento, a imolar o seu próprio corpo para obedecer ao Pai.Jesus tinha
celebrado muitas outras Páscoas com os discípulos, mas nunca esta, ó indizível, doce e ardente caridade! Tu não
pensas nem nas tuas dores nem na tua morte ignominiosa; se tivesses pensado nisso, não terias sido tão feliz, não lhe
terias chamado uma Páscoa. O Verbo viu que foi ele próprio que foi escolhido, ele próprio que recebeu por esposa a
nossa humanidade. Pediram-lhe que nos desse o seu próprio sangue a fim de que a vontade do Pai se cumprisse em
nós, a fim de que seja o seu sangue que nos santifica. Vede bem a doce Páscoa que aceita este cordeiro sem mancha
(Ex.12,5), e é com um grande amor e um grande desejo que ele cumpre a vontade do Pai e que observa inteiramente
o seu desejo. Que doce amor indizível!...É por isso, meus bem-amados, que vos peço que nunca tenham medo de
nada e que coloquem toda a vossa confiança no sangue de Cristo crucificado… Que qualquer temor servil seja
banido do vosso espírito. Direis com S. Paulo…: Por Cristo crucificado, tudo posso, pois ele está em mim por
desejo e por amor, e fortalece-me (Fl.4,13; Gl.2,20). Amai, amai, amai! Pelo seu sangue, o doce cordeiro fez da
vossa alma um rochedo inabalável.
Comentário feito por :
São João Maria Vianney (1786-1859); presbítero, Cura d'Ars
Sermão para a Quinta-Feira Santa
«Amou-os até ao fim»
Que amor, que caridade, a de Jesus Cristo, em ter escolhido a véspera do dia em que ia ser morto para instituir um
sacramento por meio do qual permanecerá entre nós, como Pai, como Consolador, e como toda a nossa felicidade!
Mais felizes ainda do que aqueles que O conheceram na Sua vida mortal, estando Ele num só lugar, tinham de se
deslocar de longe para terem a felicidade de vê-lo, nós encontramo-Lo em toda a parte, e essa felicidade foi-nos
prometida até ao fim do mundo. Ó imenso amor de Deus pelas Suas criaturas!Não, nada pode detê-Lo, quando quer
mostrar-nos a grandeza do Seu amor. Neste momento de felicidade para nós, toda a Jerusalém está a ferro e fogo, a
população está enfurecida, todos conspiram para a Sua perda, todos querem verter o Seu adorável sangue - e é
precisamente nesse momento que Ele prepara para eles, como para nós, a prova mais inefável do Seu amor.
Jo.(14,1-6) – DDDE - Adeuses .Despedidas –p.1404
1.Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim.
2.Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar.
3.Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais.
4.E vós conheceis o caminho para ir aonde vou.
5.Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?
6.Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
Comentário feito por:
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Comentário ao evangelho de S. João, 14,2
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» - (v.6)
Cristo é ao mesmo tempo o caminho e o fim: o caminho, pela sua humanidade, o fim, pela sua divindade. Assim,
enquanto homem que é, diz: «Eu sou o Caminho» e, enquanto Deus que é a isto acrescenta: «A Verdade e a Vida».
Estas duas últimas palavras designam bem o fim desse caminho, pois o fim desse caminho é o fim do desejo
humano. Cristo é o caminho para se atingir o conhecimento da verdade, sendo Ele próprio a verdade: «Ensina-me,
Senhor, o teu caminho, e caminharei na verdade» (Sl 85,11). E Cristo é o caminho para se chegar à vida, sendo Ele
próprio
a
vida:
«
Ensinar-me-á
o
caminho
da
vida»
(Sl
15,11).
Se procuras um caminho a seguir, segue a Cristo, pois Ele próprio é o caminho: «Este é o caminho a seguir» (Is
30,21). E comenta Santo Agostinho: «Caminha seguindo o homem e chegarás a Deus». Porque mais vale coxear
durante o caminho do que caminhar a passos largos mas fora do caminho. Aquele que no caminho coxeia, mesmo se
não avançar, aproxima-se do seu fim: mas aquele que caminha fora do caminho, quanto mais denodadamente correr,
mais do seu fim se afastará.Se procuras para onde ir, sê unido a Cristo, porque Ele é em pessoa a verdade a que
desejamos chegar: «Sim, é a verdade que a minha boca proclama» (Pr.8,7). Se procuras onde ficar, fica junto a
Cristo porque Ele é, em pessoa, a vida: «Aquele que me encontrar, encontrará a vida» (Pr.8,35).
Jo.(14,1-12) – DDDE – Adeuses.Despedidas p.1404
1.Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim.
2.Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar.
3.Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais.
4.E vós conheceis o caminho para ir aonde vou.
5.Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?
6.Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
7.Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto.
8.Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.
9.Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois,
dizes: Mostra-nos o Pai...
10.Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece
em mim, é que realiza as suas próprias obras.
11.Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras.
12.Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque
vou para junto do Pai.
Comentário feito por:
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutora da igreja, co-padroeira da Europa
Oração 16
«Na casa de meu Pai há muitas moradas» - (v.2)
Tu queres, Pai eterno, que te sirvamos segundo a tua vontade, e conduzes os teus servidores de diferentes maneiras e
por diversas vias. Assim tu mostras que não devemos de modo algum julgar as intenções do homem pelos atos que
nos apercebemos do exterior... A alma que na tua luz vê a luz (Sl 35,10) regozija-se ao contemplar em cada homem
as tuas formas variadas, as tuas vias inumeráveis. Porque ainda que caminhem por diferentes vias, eles não correm
menos pela estrada da tua ardente caridade. De resto, sem isso eles não seguiriam verdadeiramente a tua verdade. É
por isso que vemos alguns correr por um caminho de penitência, estabelecida na mortificação corporal; outros
estabelecidos sobre a humildade e a mortificação da sua própria vontade; outros sobre uma fé viva; outros sobre a
misericórdia; e outros todos abertos ao amor ao próximo, depois de terem se esquecido de
si mesmos. Por este modo de ver, a alma... desenvolve-se e adquire a luz sobrenatural pela qual descobre a largueza
sem medida da tua bondade. Como têm o sentido do real, esses que vêem a tua vontade em todas as coisas! Em
todas as ações dos homens, eles consideram a tua vontade sem julgar a das criaturas. Compreenderam bem e
receberam a doutrina da tua verdade, quando diz: «não julgueis segundo as aparências» (Jo 7,24).
Ó Verdade eterna, qual é o teu ensinamento? Por que caminho é que tu queres que vamos ao Pai? Que via nos
convém seguir? Não posso ver outra estrada que não seja a que pavimentaste com as virtudes verdadeiras e reais da
tua ardente caridade. Tu, Verbo eterno, tu a aspergiste com o teu sangue; é ela a via.
Jo.(14,15-21) – DDDE- p.1404 – Adeuses.Despedidas
15.Se me amais, guardareis os meus mandamentos.
16.E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco.
17.É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque
permanecerá convosco e estará em vós.
18.Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós.
19.Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, me tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis.
20.Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós.
21.Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o
amarei e manifestar-me-ei a ele.
Comentário feito por:
Santo Irineu de Lyon (c. 130 - c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as Heresias, III 1,1
"Proclamai a Boa Nova a toda a criação" –
A partir do momento em que nosso Senhor ressuscitou dos mortos e os apóstolos foram revestido com a força do
alto pela vinda do Espírito Santo (Lc 24,49), eles ficaram cheios de certeza a propósito de tudo e receberam o
perfeito conhecimento. Então, foram até às extremidades da terra (Sl 18,5), proclamando a Boa Nova que nos vem
de Deus e anunciando aos homens a paz do céu, eles que possuíam todos por igual e cada um em particular o
Evangelho de Deus.Assim, Mateus, no meio dos Hebreus e na sua própria língua, publicou uma forma escrita do
Evangelho, enquanto Pedro e Paulo evangelizavam Roma e aí fundavam a Igreja. Após a morte deles, Marcos,
discípulo de Pedro e seu intérprete (1Pe.5,19), transmitiu-nos também por escrito a pregação de Pedro. Por seu lado,
Lucas, companheiro de Paulo, consignou num livro o Evangelho pregado por este. Por fim, João, o discípulo do
Senhor, o mesmo que tinha repousado sobre o seu peito, publicou também ele o Evangelho, durante a sua estadia
em Éfeso...Marcos, intérprete e companheiro de Pedro, apresentou assim o início da sua redação do Evangelho:
«Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Tal com está escrito nos profetas, "eis que envio o meu
mensageiro diante de ti para preparar o teu caminho"»... Como se vê, Marcos faz das palavras dos santos profetas o
início do Evangelho, e aquele que os profetas proclamaram como Deus e Senhor, Marcos põe-no logo a abrir como
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... No fim do Evangelho, Marcos diz: «E o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado,
foi levado aos céus e sentou-se à direita de Deus». É a confirmação da palavra do profeta: «Oráculo do Senhor ao
meu senhor: Senta-te à minha direita e eu farei dos teus inimigos escabelo para os teus pés» (Sl 109,1).
Jo.(14,15-31) – DDDE DDCEF DDM - p.1404/5 – Adeuses. Despedidas
15.Se me amais, guardareis os meus mandamentos.
16.E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco.
17.É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque
permanecerá convosco e estará em vós.
18.Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós.
19.Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, me tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis.
20.Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós.
21.Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o
amarei e manifestar-me-ei a ele.
22.Pergunta-lhe Judas, não o Iscariotes: Senhor, por que razão hás de manifestar-te a nós e não ao mundo? 23.Respondeu-lhe Jesus: Se
alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.
24.Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou.
25.Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco.
26.Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho
dito.
27.Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!
28.Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai, porque o
Pai é maior do que eu.
29.E disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem.
30.Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem nada em mim.
31.O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Comentário feito por:
Santo Hilário (c. 315-367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja
A Trindade, 2, 31-35
«Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco: o Espírito de verdade» - (vv.1617)
«Deus é espírito» diz o Senhor à Samaritana ; sendo Deus invisível, incompreensível e infinito, não será num monte
nem num templo que Deus deverá ser adorado (Jo 4, 21-24). «Deus é espírito» e um espírito não pode ser
circunscrito, nem contido; pela força da sua natureza, ele está em todo o lado e de local algum está ausente ; em
todo o lado e em tudo superabunda. Por isso é preciso adorar a Deus, que é espírito, no Espírito Santo.O apóstolo
Paulo outra coisa não diz quando escreve : «o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a
liberdade» (2Co.3,17). Que cessem portanto os argumentos daqueles que recusam o Espírito. O Espírito Santo é um,
por todo o lado foi derramado, iluminando todos os patriarcas, os profetas e o coração de todos
quantos participaram na redação da Lei. Inspirou João Baptista já no seio de sua mãe; foi por fim infundido sobre
os apóstolos e sobre todos os crentes para que conhecessem a verdade que lhes é dada na graça.Qual é ação do
Espírito em nós? Escutemos as palavras do próprio Senhor : «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois
capazes de as compreender por agora. É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós;
mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, guiar-vos-á para a Verdade completa»
(Jo 16, 7-13). São-nos reveladas, nestas palavras, a vontade do doador, assim como a natureza e o papel d'Aquele
que Ele nos dá. Porque a nossa fragilidade não nos permite conhecer nem o Pai nem o Filho ; o mistério da
encarnação de Deus é difícil de compreender. O dom do Espírito Santo, que se faz nosso aliado por sua intercessão,
ilumina-nos.Ora este dom único que está em Cristo é oferecido a todos em plenitude. Está sempre presente em todo
o lado e a cada um de nós é dado, tanto quanto O queiramos receber. O Espírito Santo permanecerá conosco até ao
fim dos tempos, é a nossa consolação na espera, é o penhor dos bens da esperança que virá, é a luz dos nossos
espíritos, o esplendor das nossas almas.
Jo.14,23-29 DDDE – ddl- p.1406
23.Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos
nossa morada.
24.Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou.
25.Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco.
26.Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho
dito.
27.Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!
28.Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai, porque o Pai
é maior do que eu.
29.E disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem.
Comentário feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Relações diversas, 46, 48
«Se alguém Me tem amor, viremos a ele e nele faremos morada.»
Usufruía certo dia, estando recolhida, desta companhia que tenho sempre na alma; e pareceu-me que Deus aí Se
encontrava, de tal maneira que me recordei daquelas palavras de São Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo»
(Mt.16,16), porque Deus estava realmente vivo em mim. Esta tomada de consciência não se assemelhava às outras,
pois elevava o poder da fé; não se pode duvidar de que a Trindade está na nossa alma com uma presença especial,
com o Seu poder e a Sua essência. Espantada por ver tão alta Majestade em criatura tão vil como a minha alma, ouvi
estas palavras: «A tua alma não é vil, minha filha, porque foi feita à Minha imagem» (cf. Gn 1, 27).Noutro dia,
meditava nesta presença das três Pessoas divinas em mim, e a luz era de tal maneira viva, que não havia dúvida de
que ali estava o Deus vivo, o Deus verdadeiro. Pensei na amargura desta vida, que nos impede de estar sempre em
tão admirável companhia e o Senhor disse-me: «Minha filha, depois desta vida não poderás servir-Me como agora.
Por isso, quer comas, quer durmas, quer faças outra coisa qualquer, faze tudo por Mim, como se já não tivesses a ti,
mas só a Mim em ti, como proclamou São Paulo (cf. Gl.2,20).»
Jo. 14,27-31 DDDE- p.1405
27. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!
28.Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai, porque o Pai
é maior do que eu.
29.E disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem.
30.Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem nada em mim.
31.O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Comentário feito por :
Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV
Livro 1, cap. 11
«Dou-vos a Minha paz»
Grande paz poderíamos alcançar se nos não quiséssemos ocupar das palavras e dos atos alheios e do que não nos diz
respeito. Como poderá permanecer em paz aquele que interfere nos problemas dos outros, que busca o que é
exterior e pouco ou muito raramente se recolhe? Felizes os simples, porque terão grande paz.Por que razão qualquer
dos santos foi tão perfeito e contemplativo? Porque a todo o momento eles matavam em si os desejos do mundo, de
todo o coração pertenciam a Deus e então livremente se ocupavam de si. Mas nós ocupamo-nos muito das nossas
paixões e daquilo que passa. Raramente vencemos por completo um defeito, e não conseguimos um progresso
diário: assim nos mantemos frios ou mornos.Se estivéssemos completamente mortos para nós próprios e mais livres
por dentro, saberíamos o gosto do divino e alguma coisa da contemplação do Céu. O nosso maior e único obstáculo
é não estarmos livres de paixões e desejos e não nos esforçarmos por entrar na perfeita via dos santos. Quando nos
sucede qualquer adversidade, imediatamente desanimamos e voltamos às consolações humanas.Se nos mantivermos
quais homens fortes no combate, depressa veremos sobre nós o auxílio de Deus. Na verdade, Ele está pronto a
ajudar os que combatem e esperam na Sua graça, pois é Quem nos favorece as ocasiões de lutar, para que
vençamos. Oh, soubesses tu quanta paz para ti e alegria para os outros a tua vida santa causaria, julgo que terias
mais ardor no teu progresso espiritual
Comentário feito por:
Santo Padre Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
"Um pensamento"
"Dou-vos a minha paz"- (v.27)
O Espírito de Deus é espírito de paz; mesmo na altura das nossas faltas mais graves, ele faz-nos sentir uma dor
tranqüila, humilde e confiante, devido precisamente à sua misericórdia. Pelo contrário, o espírito do mal excita,
exaspera e faz-nos experimentar, na altura das nossas faltas, uma espécie de cólera contra nós mesmos; contudo, é
para conosco mesmos que devíamos exercer a primeira das caridades. Portanto, quando és atormentado por certos
pensamentos, essa agitação não provém nunca de Deus mas do demônio; sendo Deus um espírito de paz, o que ele
te dá é a serenidade.
Comentário feito por:
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 23, para o domingo depois da Ascensão
Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz - (v.27)
Na provação, o homem que não quer nem deseja sinceramente se não a Deus deve refugiar-se Nele e esperar com
paciência que a paz regresse. Quem sabe onde e como agradará a Deus voltar a cumulá-lo dos Seus dons? Coloca-te
pacientemente ao abrigo da vontade divina, que vale cem vezes mais do que os impulsos de uma virtude brilhante.
Porque os dons de Deus não são o próprio Deus, e só Dele devemos gozar, e não dos Seus dons. Mas a nossa
natureza é de tal maneira ávida, de tal maneira voltada para si mesma, que se
insinua por toda a parte, apoderando-se daquilo que não lhe pertence, e manchando assim os dons de Deus,
impedindo a nobre ação de Deus. Mergulha, pois, em Cristo, na Sua pobreza e na Sua pureza, na Sua obediência, no
Seu amor, e em todas as Suas virtudes. Foi Nele que foram concedidos ao homem os dons do Espírito Santo, a fé, a
esperança e a caridade, a verdade, a alegria e a paz interiores, no Espírito Santo. É também Nele que se encontra o
abandono e a suave paciência, e tudo se recebe de Deus com um coração semelhante.Tudo quanto Deus Se permite
decretar, seja prosperidade ou adversidade, alegria ou dor, tudo isso deve concorrer para o bem do homem
(Rm.8,28). A menor das coisas que acontecem ao homem é eternamente vista por Deus, pré-existe Nele, acontece
como Ele a quis, e não de outra forma. Estejamos pois em paz! Essa paz em todas as coisas que só se aprende no
verdadeiro desprendimento e na vida interior. Tal é a herança do homem nobre que está solidamente fixado no
repouso da alma em Deus, no desejo de Deus, que ilumina todas as coisas; tudo isso é purificado passando por
Cristo
Jo.15,18-21 DDDE - p.1406
18.Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós.
19.Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o
mundo vos odeia.
20.Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se
guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa.
21.Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
Comentário feito por
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Carta 56 (a partir da trad. rev. Tournay)
«Como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia»
O Senhor quis que nos alegrássemos, que rejubilássemos de alegria quando somos perseguidos (Mt 5, 12), porque,
com as perseguições, vem-nos também a coroa da fé (Tg 1, 12), pois é nessa altura que os soldados de Cristo dão
prova do que são, que os céus se abrem ao seu testemunho. Não pertencemos à milícia de Cristo para vivermos
descansados, para repousarmos durante o serviço, quando o Mestre da humildade, da paciência e do sofrimento
pertenceu à mesma milícia antes de nós. E aquilo que Ele nos ensinou, que foi o primeiro a cumprir e que nos exorta
a cumprirmos também, foi que Ele próprio sofreu antes de nós e por nós. Para participarem nas competições dos
estádios, os homens exercitam-se, treinam, e são objeto de grandes honras quando, diante da multidão, recebem o
prêmio. Mas eis aqui uma prova ainda mais nobre e extraordinária, em que é diante de Deus que combatemos, nós
que somos Seus filhos, e em que Ele mesmo nos concede a coroa celestial (1Co.9,25). Também os anjos nos olham
e é Cristo Quem nos assiste. Armemo-nos com todas as nossas forças para travarmos o bom combate, de alma
generosa e fé íntegra.
At.1,15-17.20-26- DDDE- p.1414
15.Num daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembléia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e
disse:
16.Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia
daqueles que prenderam Jesus.
17.Ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério
20.Pois está escrito no livro dos Salmos: Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e ainda mais: Que outro receba o seu
cargo (Sl 68,26; 108,8).
21.Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós,
22.a começar do batismo de João até o dia em que do nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha de sua
Ressurreição.
23.Propuseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias.
24.E oraram nestes termos: Ó Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste
25.para tomar neste ministério e apostolado o lugar de Judas que se transviou, para ir para o seu próprio lugar. 26.Deitaram sorte e caiu a
sorte em Matias, que foi incorporado aos onze apóstolos.
Comentário feito por:
Tertuliano (c. 155-c. 220), teólogo
A Prescrição contra os hereges, 20-22; CCL I, 201s (a partir da trad. breviário rev.)
São Matias, apóstolo, uma das doze pedras dos alicerces da Igreja. (Ap. 21, 14)
Cristo Jesus, Nosso Senhor, durante a Sua estada sobre terra, afirmou aquilo que era, aquilo que fora, que era servo
da vontade do Pai, e que deveres prescrevia ao homem. Dizia tudo isto abertamente à multidão, ou dirigindo-Se em
particular aos Seus discípulos, de entre os quais escolheu doze principais para viverem a Seu lado, a quem destinou
para irem ensinar às nações. Após a queda de um deles, ordenou aos outros onze, no momento de partir para o Pai
após a ressurreição, que fossem pregar a todos os povos e batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
(Mt.28, 19).De imediato, juntou-se aos apóstolos – palavra que significa «enviados» – o décimo segundo, Matias,
para substituir Judas, tirado à sorte pelos outros e confiando na profecia de um salmo de David. Eles receberam a
força do Espírito Santo que lhes tinha sido prometida, para realizarem milagres e falarem diversas línguas.
Primeiramente testemunharam a fé em Jesus Cristo por toda a Judéia, onde instituíram Igrejas. Seguidamente
partiram pelo mundo e proclamaram pelas nações o mesmo ensinamento da fé.Depois, fundaram Igrejas em todas as
cidades, às quais, outras Igrejas foram buscar a estaca da fé e as sementes da doutrina. O que prova a sua unidade é
que comungam na paz, os seus membros tratam-se por irmãos, e praticam a hospitalidade com reciprocidade. Esta
construção não tem outro fundamento a não ser a tradição única de um mesmo mistério. Aquilo que os apóstolos
pregaram foi o que Cristo lhes revelou, e que só pode ser garantido por estas mesmas Igrejas, fundadas pelos
próprios apóstolos, onde eles pregaram de viva voz, como se diz, e seguidamente por cartas.
At.1,24-13,5- DDDE - p.1428.9
24.Entretanto, a palavra de Deus crescia e se espalhava sempre mais.
25.Tendo Barnabé e Saulo concluído a sua missão, voltaram de Jerusalém (a Antioquia), levando consigo João, que tem por sobrenome
Marcos.
1.Havia então na Igreja de Antioquia profetas e doutores, entre eles Barnabé, Simão, apelidado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém,
companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo.
2. Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a
que os tenho destinado.
3.Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as mãos e os despediram.
4.Enviados assim pelo Espírito Santo, foram a Selêucia e dali navegaram para a ilha de Chipre.
5.Chegados a Salamina, pregavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham com eles João para auxiliá-los.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Encíclica «Spe Salvi», § 26 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)
«Não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar»
Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor. Isto vale já no âmbito do mundo humano.
Quando alguém experimenta um grande amor na sua vida, trata-se de um momento de «redenção» que lhe dá um
sentido novo à vida. Mas, muito rapidamente, dar-se-á conta também de que o amor que lhe foi dado não resolve,
por si só, o problema da sua vida. É um amor que permanece frágil; pode ser destruído pela morte. O ser humano
necessita do amor incondicional. Precisa daquela certeza que o faz dizer: «Nem a morte nem a vida, nem os anjos
nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer
outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm.8,38-39). Se este
amor absoluto existe, com absoluta certeza, então – e somente então – o homem está «redimido»,
independentemente
do
que
lhe
possa
acontecer
em
dada
circunstância.
É o que isto significa, quando dizemos: Jesus Cristo «redimiu-nos». Através d'Ele tornamo-nos seguros de Deus –
de um Deus que não constitui uma remota «causa primeira» do mundo - porque o seu Filho unigênito fez-Se homem
e d'Ele pode cada um dizer: «Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl.2,
20).
At.5,27-32.40-41- DDDE- p.1419
27.Trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os interrogou, dizendo: 28.Expressamente vos
ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer recair sobre nós
o sangue deste homem!
29.Pedro e os apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens.
30.O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-o num madeiro.
31.Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
32.Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que lhe obedecem.
Comentário feito por:
São Justino (c. 100-160), filósofo, mártir
Primeira Apologia, 67.66; Pg 6, 427-431
«O verdadeiro pão vindo do céu»: no século II, uma das primeiras descrições da eucaristia fora do Novo Testamento
No dia que se chama o dia do sol [o domingo], todos os habitantes das cidades ou dos campos se reúnem num só
local. Lemos as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas quando o tempo o permite. Quando a leitura
termina, quem preside toma a palavra para chamar a atenção sobre esses belos ensinamentos e exortar a segui-los.
Seguidamente,
levantamo-nos todos juntos e recomendamos as intenções de oração. Depois trazem pão, vinho e água. O presidente
faz subir de todo o seu coração ao céu orações e ações de graças, e o povo responde com a aclamação «Amém!»,
uma palavra hebraica que significa: «Assim seja».
At.(8,9-25) – DDDE - p.1422/23 –“Simão o mago”.
9.Ora, havia ali um homem, por nome Simão, que exercia magia na cidade, maravilhando o povo de Samaria, e fazia-se passar por um
grande personagem.
10.Todos lhe davam ouvidos, do menor até o maior, comentando: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande.
11.Eles o atendiam, porque por muito tempo os havia deslumbrado com as suas artes mágicas.
12.Mas, depois que acreditaram em Filipe, que lhes anunciava o Reino de Deus e o nome de Jesus Cristo, homens e mulheres pediam o
batismo.
13.Simão também acreditou e foi batizado. Ele não abandonava Filipe, admirando, estupefato, os grandes milagres e prodígios que eram
feitos.
14.Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João.
15.Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo,
16.visto que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus.
17.Então os dois apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo.
18.Quando Simão viu que se dava o Espírito Santo por meio da imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo:
19.Dai-me também este poder, para que todo aquele a quem impuser as mãos receba o Espírito Santo.
20.Pedro respondeu: Maldito seja o teu dinheiro e tu também, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro!
21.Não terás direito nem parte alguma neste ministério, já que o teu coração não é puro diante de Deus.
22.Arrepende-te desta tua maldade e roga a Deus, para que, sendo possível, te seja perdoado este pensamento do teu coração.
23.Pois estou a ver-te no fel da amargura e nos laços da iniqüidade.
24.Retorquiu Simão: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha a cair sobre mim. 25.Os apóstolos, depois de
terem dado testemunho e anunciado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém e pregavam a boa nova em muitos lugares dos
samaritanos.
- No
Ato dos Apóstolos são descritas várias passagens em que foi usado o DDDE.
É o que vemos na passagem do homem, por nome Simão, que exercia magia na cidade, e que gozava da confiança
de todos os homens.
- Quando Felipe começou a anunciar o Reino de Deus, as pessoas passaram a voltar-se para Jesus e abandonar a
consulta do adivinho, discernindo que o que ele fazia não vinha de Deus.
- Simão, o mago, fica estupefato diante dos milagres e prodígios e pede também aos Apóstolos o Batismo. Enganase porém em seu discernimento, quando pede a Pedro e João que lhe dessem aquele poder para que todo aquele em
que ele impusesse as mãos recebessem também o Espírito Santo.
- Simão acreditava que se poderia vender o poder de Deus como ele vendia suas adivinhações antes de se tornar
cristão, pensando que o Espírito Santo dado aos cristãos provinha do mesmo espírito de adivinhações.
Fascinado pelos prodígios e milagres e também pelo hábito de ganhar dinheiro, fazendo coisas inusitadas, pensou
que se poderia fazer o mesmo com o Espírito Santo.
- Muitas coisas do nosso passado podem bloquear nosso discernimento espiritual, especialmente se nós, pessoas
próximas a nós ou com influência sobre nós, freqüentam falsas doutrinas; a incompatibilidade entre o Evangelho e o
mundo.
- É muito importante renunciarmos e desapegar-nos desta mentalidade velha, mundana, diabólica, para nos
enchermos do vinho novo,da mentalidade do Reino dos céus.
At.8,26-40 - DDDE - p.1423
26.Um anjo do Senhor dirigiu-se a Filipe e disse: Levanta-te e vai para o sul, em direção do caminho que desce de Jerusalém a Gaza, a
Deserta.
27.Filipe levantou-se e partiu. Ora, um etíope, eunuco, ministro da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros,
tinha ido a Jerusalém para adorar.
28.Voltava sentado em seu carro, lendo o profeta Isaías.
29.O Espírito disse a Filipe: Aproxima-te para bem perto deste carro.
30.Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías, e perguntou-lhe: Porventura entendes o que estás lendo?
31.Respondeu-lhe: Como é que posso, se não há alguém que mo explique? E rogou a Filipe que subisse e se sentasse junto dele.
32.A passagem da Escritura, que ia lendo, era esta: Como ovelha, foi levado ao matadouro; e como cordeiro mudo diante do que o tosquia,
ele não abriu a sua boca.
33.Na sua humilhação foi consumado o seu julgamento. Quem poderá contar a sua descendência? Pois a sua vida foi tirada da terra (Is
53,7s.).
34.O eunuco disse a Filipe: Rogo-te que me digas de quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outrem? 35.Começou então Filipe a
falar, e, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus.
36.Continuando o caminho, encontraram água. Disse então o eunuco: Eis aí a água. Que impede que eu seja batizado?
37.[Filipe respondeu: Se crês de todo o coração, podes sê-lo. Eu creio, disse ele, que Jesus Cristo é o Filho de Deus.]
38.E mandou parar o carro. Ambos desceram à água e Filipe batizou o eunuco.
39.Mal saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco, que, cheio de alegria, continuou o seu caminho.
40.Filipe, entretanto, foi transportado a Azoto. Passando além, pregava o Evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia.
Comentário feito por :
São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja
Tratado do Amor de Deus 3, 15
«Os vossos pais comeram o maná e morreram; mas quem come o pão do céu não morrerá»
O maná foi saboreado por todos aqueles que o comeram, mas diferentemente, segundo a diversidade do apetite
daqueles que o tomaram, e nunca foi saboreado na sua totalidade, porque havia maior diversidade de sabores do que
de gostos entre os israelitas (Sb.16,20-21). No céu, veremos e saborearemos toda a Divindade, mas nem os bem
aventurados todos juntos O verão ou O saborearão totalmente. Assim, os peixes desfrutam a incrível imensidade do
oceano, mas nenhum peixe, nem mesmo toda a multidão dos peixes, viu todas as praias ou molhou as suas escamas
em todas as águas do mar; e os pássaros perdem-se a seu belo prazer na vastidão do ar, mas nunca nenhum pássaro,
nem mesmo todo o conjunto dos pássaros, voou por todas as regiões do ar e nunca nenhum chegou à suprema região
deste. Os nossos espíritos, à sua maneira e segundo toda a extensão dos seus desejos, nadarão no oceano e voarão no
ar da Divindade, e rejubilarão eternamente por ver que este ar é tão infinito, este oceano tão vasto, que não pode ser
medido pelas suas asas; e, rejubilando sem reserva nem exceção em todo este abismo infinito da Divindade, não
poderão contudo igualar o seu gozo a esta infinitude, a qual permanece sempre infinitamente infinita acima a sua
capacidade.
Comentário feito por:
São Pedro Damião (1007-1072), eremita e depois bispo, Doutor da Igreja
Sermão 45; PL 144,743 e 747 (a partir da trad. Orval)
«Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá»
A Virgem Maria deu Jesus Cristo à luz, aqueceu-O nos seus braços, envolveu-O em panos e rodeou-O dos seus
cuidados maternais. E é o corpo desse mesmo Jesus que hoje recebemos, é o Seu sangue redentor que bebemos no
sacramento do altar. É isso que a fé católica tem por verdadeiro, é isso que a Igreja ensina com fidelidade.A língua
humana não é capaz glorificar suficientemente aquela de quem tomou carne «o mediador entre Deus e os homens»
(1Tim 2, 5). O louvor humano não está à altura daquela de cujas entranhas puríssimas saiu o fruto que é o alimento
das nossas almas, Aquele que diz de Si mesmo: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste
pão, viverá eternamente». Com efeito, nós fomos expulsos do paraíso de delícias por causa de um alimento, e é
também por via de um alimento que reencontramos as alegrias do paraíso. Pelo alimento que Eva tomou, fomos
condenados a um jejum eterno; pelo alimento que Maria nos deu, abriram-se para nós as portas do banquete celeste.
At.9,1-22 – DDDE- p.1423.4
1. Enquanto isso, Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes,
2. e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que achasse
seguindo essa doutrina.
3. Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu.
4. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
5. Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão.
6. Então, trêmulo e atônito, disse ele: Senhor, que queres que eu faça? Respondeu-lhe o Senhor:] Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito
o que deves fazer.
7. Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém.
8. Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco,
9. onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber.
10. Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: Ananias! Eis-me aqui, Senhor, respondeu ele.
11. O Senhor lhe ordenou: Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; ele está
orando.
12. (Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.)
13. Ananias respondeu: Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém.
14. E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome. 15. Mas o Senhor lhe disse:
Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel.
16. Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome.
17. Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, envioume para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo.
18. No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado.
19. Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco.
20. Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.
21. Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Este não é aquele que perseguia em Jerusalém os que invocam o nome de Jesus? Não veio
cá só para levá-los presos aos sumos sacerdotes?
22. Saulo, porém, sentia crescer o seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo
Comentário feito por :
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão 279
O perseguidor transformado em pregador
Do alto do céu a voz de Cristo fez com que Saulo caísse por terra: recebeu a ordem de não continuar com as suas
perseguições, e caiu por terra. Era preciso que tombasse e em seguida se erguesse; primeiro caído e depois curado.
Porque Cristo não teria nunca vivido nele se Saulo não tivesse abandonado a sua antiga vida de pecado. Caído por
terra, que ouve ele? «Saulo, Saulo, por que Me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão» (At.26,14).
Ao que ele respondeu: «Quem és tu, Senhor?» E a voz do alto continuou: «Sou Jesus de Nazaré, que tu persegues».
Os membros ainda estão na terra, é a cabeça que grita do alto do céu; e não diz: «Por que persegues os Meus
servos?» mas «Por que Me persegues?»E Paulo, que empregava todo o seu ardor nas perseguições, dispõe-se desde
logo a obedecer: «Que queres que eu faça?» Já o perseguidor se transformou em pregador, o lobo em ovelha, o
inimigo em defensor. Paulo aprende o que deve fazer: se ficou cego, se a luz do mundo lhe foi subtraída durante um
certo tempo, foi para que no seu coração brilhasse a luz interior. A luz é retirada ao perseguidor para ser dada ao
pregador; no próprio momento em que não via nada deste mundo, viu Jesus. É um símbolo para os crentes: aqueles
que crêem em Deus devem fixar n'Ele o olhar da sua alma sem ter em consideração coisas exteriores. Saulo é
conduzido a Ananias; o lobo destruidor é levado à ovelha. Mas o Pastor que tudo conduz do alto dos céus,
tranquiliza-o: «Não te preocupes. Eu revelar-lhe-ei tudo o que ele tem de sofrer pelo Meu nome.». (At.9,16). Que
maravilha! O lobo é trazido à ovelha. O Cordeiro, que foi morto pelas ovelhas, ensina-as a não temerem.
At.11,1-18 – DDDE DDPC - p.1426.7
1. Os apóstolos e os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus.
2. E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no:
3. Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles?
4. Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera, dizendo:
5. Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha, presa pelas
quatro pontas, descia do céu até perto de mim.
6. Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres, feras, répteis e aves do céu.
7. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come.
8. Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha boca coisa profana ou impura. 9. Outra vez falou a voz do
céu: O que Deus purificou não chames tu de impuro.
10. Isto aconteceu três vezes e tudo tornou a ser levado ao céu.
11. Nisso chegaram três homens à casa onde eu estava, enviados a mim de Cesaréia.
12. O Espírito me disse que fosse com eles sem hesitar. Foram comigo também os seis irmãos aqui presentes e entramos na casa de
Cornélio.
13. Este nos referiu então como em casa tinha visto um anjo diante de si, que lhe dissera: Envia alguém a Jope e chama Simão, que tem por
sobrenome Pedro.
14. Ele te dirá as palavras pelas quais serás salvo tu e toda a tua casa.
15. Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós.
16. Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo.
17. Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?
18. Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus, dizendo: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o
arrependimento que conduz à vida!
Comentário feito por :
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de João, 10, 3 (a partir da trad. Orval)
O Bom Pastor e a porta das ovelhas
Jesus disse: «Eu sou o Bom Pastor.» E é evidente que o título de pastor convém a Cristo porque, assim como o
pastor leva o rebanho a pastar, assim também Cristo restaura os fiéis através do alimento espiritual que é o Seu
próprio
Corpo
e
o
Seu
próprio
Sangue.
Para se distinguir do mau pastor e do ladrão, Jesus precisa que é o «bom pastor». É bom porque defende o rebanho
com a dedicação com que o bom soldado defende a sua pátria. Por outro lado, Cristo afirmou que o pastor entra pela
porta e que Ele é essa porta. Assim, pois quando aqui afirma ser o Pastor, temos de compreender que é Ele que entra
e que entra por Si mesmo. E é bem verdade, porque Ele afirma que conhece o Pai por Si mesmo, enquanto nós
entramos por meio Dele e é Ele que nos dá a felicidade. Reparemos bem que não há outro que seja a porta, porque
mais ninguém é a luz, a não ser por participação. João Baptista não era a luz, antes tinha vindo para dar testemunho
da luz (Jo.1, 8). Mas Cristo «era a luz que ilumina todo o homem» (v. 9). Ninguém pode, por conseguinte, dizer de
si mesmo que é a porta, porque Cristo reservou para Si esse título.Mas o título de pastor, esse comunicou-o a outros,
deu-o a alguns dos Seus membros. Com efeito, também Pedro o foi, e os outros apóstolos, e também o são todos os
bispos. «Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração», diz Jeremias(3, 15). Ora, ainda que os chefes da Igreja - que
são filhos da mesma Igreja - sejam todos pastores, Cristo afirma «Eu sou o Bom Pastor» para nos mostrar a singular
força do Seu amor. Nenhum pastor será bom se não estiver unido a Cristo pela caridade, tornando-se assim membro
do verdadeiro Pastor.
Comentário feito por
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de João 10, 3 (trad. cf. bréviaire)
«Se alguém entrar por Mim estará salvo.»
«Eu sou o bom pastor». É evidente que o título de pastor convém a Cristo. Porque, assim como um pastor leva o seu
rebanho a pastar, assim também Cristo restaura os fiéis através do alimento espiritual, que é o Seu corpo e o Seu
sangue. Por outro lado, Cristo afirmou que o pastor entra pela porta e que Ele próprio é essa porta; temos de
compreender, pois, que é Ele que entra, e que entra por Si mesmo. E é bem verdade: é por Si mesmo que Ele entra;
manifesta-Se a Si mesmo e mostra que conhece o Pai por Si mesmo, enquanto nós entramos por Ele e é Ele que nos
dá a felicidade perfeita.Mais ninguém é a porta, porque mais ninguém é «a luz verdadeira que a todo o homem
ilumina» (Jo 1, 9). É por isso que nenhum homem afirma ser a porta; Cristo reservou para Si este nome, como
pertencendo-lhe com propriedade. O título de pastor, porém, comunicou-o a outros, deu-o a alguns dos Seus
membros. Com efeito, também Pedro o foi (Jo 21, 15) e os outros apóstolos, e todos os bispos. «Dar-vos-ei pastores
segundo o Meu coração», diz a Escritura (Jr.3, 15). Nenhum pastor é bom se não estiver unido a Cristo pela
caridade, tornando-se assim membro do verdadeiro pastor.Porque o serviço do Bom Pastor é a caridade. É por isso
que Jesus afirma que dá a vida pelas Suas ovelhas (Jo 10, 11). Cristo deu-nos o exemplo: «Ele deu a Sua vida por
nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1Jo.3, 16).
At.16,1-10 DDDE - p.1423
1.Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego,
2.que gozava de ótima reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio.
3.Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares, pois todos sabiam
que o seu pai era grego.
4.Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em
Jerusalém.
5.Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número dia a dia.
6.Atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra de Deus na
(província da) Ásia.
7.Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.
8.Depois de haverem atravessado rapidamente a Mísia, desceram a Trôade.
9.De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio!
10.Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho.
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Carta 56 (a partir da trad. rev. Tournay)
«Como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia»
O Senhor quis que nos alegrássemos, que rejubilássemos de alegria quando somos perseguidos (Mt 5, 12), porque,
com as perseguições, vem-nos também a coroa da fé (Tg 1, 12), pois é nessa altura que os soldados de Cristo dão
prova do que são, que os céus se abrem ao seu testemunho. Não pertencemos à milícia de Cristo para vivermos
descansados, para repousarmos durante o serviço, quando o Mestre da humildade, da paciência e do sofrimento
pertenceu à mesma milícia antes de nós. E aquilo que Ele nos ensinou, que foi o primeiro a cumprir e que nos exorta
a cumprirmos também, foi que Ele próprio sofreu antes de nós e por nós. Para participarem nas competições dos
estádios, os homens exercitam-se, treinam, e são objeto de grandes honras quando, diante da multidão, recebem o
prêmio. Mas eis aqui uma prova ainda mais nobre e extraordinária, em que é diante de Deus que combatemos, nós
que somos Seus filhos, e em que Ele mesmo nos concede a coroa celestial (1Cor 9, 25). Também os anjos nos
olham e é Cristo Quem nos assiste. Armemo-nos pois com todas as nossas forças para travarmos o bom combate, de
alma generosa e fé íntegra.
Comentário feito por
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS, vol. 6, n° 15 «Rising with Christ»
«Eles não são deste mundo como Eu não sou deste mundo»
Começai desde já, neste tempo santo de Páscoa, a vossa ressurreição com Cristo. Vede como Ele vos estende a mão!
Ele ressuscita; ressuscitai com Ele! Saí do túmulo do velho Adão, abandonai as vossas preocupações, as invejas, as
inquietações, as ambições mundanas, a escravatura do hábito, o tumulto das paixões, os fascínios da carne, o
espírito frio, terra a terra e calculista, a ligeireza, o egoísmo, a preguiça, a vaidade e as manias de grandeza.
Esforçai-vos doravante por fazer o que vos parece difícil mas que não deveria, e não deve, ser negligenciado: velai,
rezai e meditai. Mostrai que o vosso coração, as vossas aspirações e toda a vossa vida estão com o vosso Deus.
Reservai em cada dia algum tempo para ir ao Seu encontro.Não vos peço que abandoneis o mundo nem que
abandoneis os vossos deveres nesta terra, mas sim que retomeis a posse do vosso tempo. Que não consagreis horas
inteiras ao lazer ou à vida em sociedade enquanto apenas consagrais alguns instantes a Cristo. Que não rezeis
unicamente quando estais cansados e à beira de adormecer; que não vos esqueçais por completo de O louvar ou de
interceder pelo mundo e pela Igreja. Comportai-vos segundo as palavras da Sagrada Escritura: «Procurai as
realidades lá de cima». Mostrai a vossa pertença a Cristo, pois o vosso coração «ressuscitou com Ele» e «a vossa
vida está oculta n'Ele» (Cl. 3,1-3).
At.16,11-15- DDDE - p.1433
11.Embarcados em Trôade, fomos diretamente à Samotrácia e no outro dia a Neápolis;
12.e dali a Filipos, que é a cidade principal daquele distrito da Macedônia, uma colônia (romana). Nesta cidade nos detivemos por alguns
dias.
13.No sábado, saímos fora da porta para junto do rio, onde pensávamos haver lugar de oração. Aí nos assentamos e falávamos às mulheres
que se haviam reunido.
14.Uma mulher, chamada Lídia, da cidade dos tiatirenos, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava. O Senhor abriu-lhe o
coração, para atender às coisas que Paulo dizia.
15.Foi batizada juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai
comigo. E obrigou-nos a isso.
Comentário feito por
Paulo VI, Papa de 1963 a 1978
Exortação apostólica «Evangelii nuntiandi», cap. 7, § 75 - Copyright © Libreria Editrice Vaticana
«Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, Ele dará testemunho a Meu favor
Repleta do conforto do Espírito Santo, a Igreja vai crescendo. Ele é a alma desta mesma Igreja. É Ele que faz com
que os fiéis possam entender os ensinamentos de Jesus e o Seu mistério. Ele é Aquele que, hoje ainda, como nos
inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua boca as
palavras que ele sozinho não poderia encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam, a fim
de a tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o reino anunciado.
As técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas ainda as mais aperfeiçoadas não podem substituir a ação
discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem Ele. De igual modo, a
dialética mais convincente, sem Ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E ainda os mais bem
elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de
valor.Vivemos na Igreja um momento privilegiado do Espírito. Procura-se por toda a parte conhecê-Lo melhor, tal
como a Escritura O revela. De bom grado as pessoas se colocam sob a Sua moção. Fazem-se assembléias em torno
Dele. Aspira-se, enfim, a deixar-se conduzir por Ele. É um fato que o Espírito de Deus tem um lugar eminente em
toda a vida da Igreja; mas é na missão evangelizadora da mesma Igreja que Ele mais age. Não foi por acaso que o
grande ponto de partida da evangelização sucedeu na manhã do Pentecostes, sob a inspiração do Espírito. Pode-se
dizer que o Espírito Santo é o agente principal da evangelização. Mas pode-se dizer igualmente que Ele é o termo da
evangelização: de fato, só Ele suscita a nova criação, a humanidade nova que a evangelização há de ter como
objetivo, com a unidade na variedade que a mesma evangelização intenta promover na comunidade cristã. Através
Dele, do Espírito Santo, o Evangelho penetra no coração do mundo, porque é Ele que faz discernir os sinais dos
tempos - os sinais de Deus -, que a evangelização descobre e valoriza no interior da história.
Comentário feito por
S. Cirilo de Alexandria (389-444), Bispo e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de S. João, 10 (trad. bréviaire)
«Vós também haveis de dar testemunho»
A missão de Cristo na terra estava cumprida, mas era necessário que nos tornássemos «participantes da natureza
divina» do Verbo (2Ped 1, 4), isto é, que a nossa vida anterior fosse abandonada para se transformar numa nova. De
fato, enquanto viveu visivelmente entre os seus, Cristo surgia-lhes, segundo julgo, como o dispensador de todos os
bens. Mas quando chegou o momento em que teve de subir ao Pai celeste, foi necessário que Ele continuasse
presente entre os seus fiéis por meio do Espírito e que habitasse pela fé nos nossos corações (Ef 3, 17).Aqueles em
quem habita o Espírito são transformados e recebem d'Ele uma vida nova, como facilmente podemos demonstrar
pelos exemplos tanto do Antigo como do Novo Testamento. Samuel, dirigindo-se a Saul, diz: «O espírito do Senhor
virá então sobre ti» (1Sam 10,6). E São Paulo afirma: «E nós todos que, com o rosto descoberto, refletimos a glória
do Senhor, somos transfigurados na Sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2 Cor 3,
18).Vês como o Espírito transforma noutra imagem aqueles em quem habita? Facilmente os faz passar da
consideração das coisas terrenas ao olhar voltado unicamente para as realidades celestes, e os conduz da tibieza à
vida heróica. Foi o que sucedeu com os discípulos: fortalecidos pelo Espírito, não se deixaram intimidar pelos seus
perseguidores, permanecendo unidos a Cristo pelo vínculo de um amor invencível. Fato indubitável. É pois verdade
o que nos diz o Salvador: «É melhor para vós que Eu vá» (Jo.16, 7). Pois esse é o momento da descida do Espírito
Santo
At.(16, 16-18)- DDDE- p.1433/34 - Prisão de Paulo e Silas
16.Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, a qual com as suas
adivinhações dava muito lucro a seus senhores.
17.Pondo-se a seguir a Paulo e a nós, gritava: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação.
18.Repetiu isto por muitos dias. Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que
saias dela. E na mesma hora ele saiu.
- Este texto fala-nos do DDDE e narra sobre a moça escrava, possuída do espírito de Pitão, que gritava :“Estes
homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação”.
- Apesar de suas palavras em relação a São Paulo e seus amigos serem verdadeiras e elogiosas , o Apóstolo manda
que ela cale a boca porque reconheceu que quem falava não era a escrava, mas um espírito maligno.
- Esse acontecimento nos ensina que o Inimigo pode usar palavras bonitas, ou até Palavras da Bíblia para nos iludir,
como tentou fazer com Jesus no deserto.
- Para conseguir estragar a obra da salvação, é capaz de dizer a verdade, para que as pessoas pensem que tudo o
mais que ele diga é verdade.
- Também hoje encontramos falsas doutrinas que dizem coisas muito bonitas e até misturam partes do Evangelho
com sua doutrina falsa, fazendo com que as pessoas pensem que tudo é verdade e vem de Deus. Na realidade, o
objetivo aqui é afastar as pessoas de Deus e do Evangelho.
- Há muitas doutrinas que não se dizem religião mas “ filosofia” e que também fazem esta mistura.Não cabe a nós
julgar a intenção das pessoas que as praticam, mas analisar o fundamento doutrinário das mesmas, que não só ferem
a doutrina cristã, mas (e isto que é pior) fazem as pessoas insensíveis à vontade de Deus e à verdade do Evangelho.
- Jesus disse que deixaria crescer juntos o joio e o trigo. Porém disse também que, no final dos tempos, o joio será
lançado no fogo.
- O DDDE nós dá a graça de no mundo, e diante das coisas que se nos apresentam , reconhecer a diferença entre o
joio e o trigo.
Jo.16,19-20- DDDE- p1406
19.Jesus notou que lho queriam perguntar e disse-lhes: Perguntais uns aos outros acerca do que eu disse: Ainda um pouco de tempo, e não
me vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver.
20.Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa
tristeza se há de transformar em alegria.
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão Maio, 98, 1, 2: PLS 2, 494-495
Já estamos com Ele
Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo elevou-Se ao céu; que o nosso coração se eleve com Ele. Ouçamos o que nos diz o
apóstolo Paulo: «Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo,
sentado
à
direita
de
Deus»
(Cl.3,1).
Assim como Jesus Se elevou sem com isso Se afastar de nós, do mesmo modo nós estamos já com Ele apesar de a
Sua promessa ainda não se ter realizado na nossa carne. Ele já foi elevado acima dos céus; contudo, sofre na terra
todas as penas que nós, os Seus membros, sentimos. Disso deu testemunho quando exclamou do alto: «Saulo, Saulo,
porque Me persegues?» (At. 9, 4), e ainda: «Tive fome, e destes-Me de comer» (Mt.25,35). Por que não
trabalhamos na terra de modo a descansarmos, pela fé, pela esperança e pela caridade que nos unem a Ele, desde já
com Ele no céu? Ele, que está lá, está também conosco, e nós, que estamos aqui, estamos também com Ele. Ele
pode fazê-lo devido à Sua divindade, ao Seu poder, ao Seu amor; e nós, se não o podemos fazer pela divindade,
podemos fazê-lo pelo amor. Ele não abandonou o céu quando desceu até nós, e não nos abandonou quando subiu ao
céu.Permanece conosco, mesmo estando no alto, pois prometeu antes da sua Ascensão, dizendo: «Eu estarei sempre
convosco até ao fim dos tempos» (Mt.28,20).
Jo.17,11-19- DDDE - p.1407
11.Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém, vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me
encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós.
12.Enquanto eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, que me incumbiste de fazer conhecido. Conservei os que me deste, e
nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
13.Mas, agora, vou para junto de ti. Dirijo-te esta oração enquanto estou no mundo para que eles tenham a plenitude da minha alegria.
14.Dei-lhes a tua palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo.
15.Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal.
16.Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo.
17.Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade.
18.Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
19.Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Africa do Norte) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de São João, n°11
«Eles não são do mundo, como Eu também não sou do mundo»
Escutai todos, judeus e gentios; escutai, todos os reinos da terra! Não impeço o vosso domínio deste mundo, «o Meu
Reino não é deste mundo» (Jo 18, 36). Não receeis, portanto, com aquele temor insensato que invadiu Herodes
quando lhe anunciaram o Meu
nascimento. Não, diz o Salvador, «o Meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a um reino que não é deste
mundo; vinde pela fé; que o temor não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de Deus disse ao
falar do Pai: «Por Ele, fui nomeado rei em Sião, na Sua montanha santa» (Sl 2, 6).Mas esta Sião e esta montanha
não são deste mundo.O que é, com efeito, o Seu Reino? São aqueles que crêem n'Ele, aqueles a quem Ele disse:
«Vós não sois do mundo, como Eu também não sou do mundo». E, no entanto, Ele quer que eles estejam no mundo;
Ele pede ao Pai: «Não Te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno». Porque Ele não disse: «O
Meu Reino não está neste mundo» mas sim: «não é deste mundo; se o Meu Reino fosse deste mundo, os Meus
servos viriam combater para que eu não fosse entregue» (Jo 18, 36).Com efeito, o Seu reino está verdadeiramente
aqui na Terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está misturado com o trigo (Mt.13,24ss.). O Seu reino não é
daqui porque Ele é como um viajante neste mundo. Àqueles sobre os quais reina, disse: «Vós não sois do mundo
porque Eu vos escolhi do meio do mundo». (Jo.15,19). Portanto, eles eram deste mundo quando ainda não eram o
Seu Reino e pertenciam ao príncipe deste mundo (Jo.12,31). Todos aqueles que são engendrados da raça de Adão
pecador pertencem a este mundo; todos aqueles que foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao Seu Reino e já
não são deste mundo. «Com efeito, Deus arrancou-nos ao poder das trevas e transferiu-nos para o Reino do Seu
Filho bem-amado» (Cl.1,13).
Rm.8,14-17- DDDE – p.1457
14.pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
15.Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual
clamamos: Aba! Pai!
16.O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.
17.E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele
sejamos glorificados.
Comentário feito por:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Demonstração da pregação apostólica 6-8 (trad. Verbraken / Orval)
«Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo»
Eis a regra da nossa fé, eis o fundamento do nosso edifício, eis aquilo que dá firmeza ao nosso comportamento. Em
primeiro lugar: Deus Pai, incriado, ilimitado, invisível, Deus uno, criador do universo; é o primeiro artigo da nossa
fé. Segundo artigo: o Verbo de Deus, Filho de Deus, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que foi revelado aos profetas
segundo o gênero das suas profecias e segundo os desígnios do Pai; por meio de Quem todas as coisas foram feitas;
no final dos tempos, para recapitular todas as coisas, dignou-Se encarnar, aparecendo entre os humanos, visível,
palpável, para destruir a morte, fazer surgir a vida e operar a reconciliação entre Deus e o homem. Terceiro artigo: o
Espírito Santo, por Quem os profetas profetizaram, os nossos pais conheceram as coisas de Deus e os justos foram
conduzidos para a via da justiça; no final dos tempos, foi enviado aos homens de uma maneira nova, a fim de os
renovar em toda a face da terra, para Deus.É por isto que o batismo do nosso novo nascimento é colocado sob o
signo destes três artigos. Deus Pai no-lo concede, com vista ao nosso novo nascimento em Seu Filho, pelo Espírito
Santo. Porque
aqueles que trazem em si o Espírito Santo são conduzidos ao Verbo, que é o Filho, o Filho conduz-lo ao Pai, e o Pai
concede-lhes a imortalidade. Sem o Espírito, é impossível ver o Verbo de Deus, e sem o Filho ninguém pode
aproximar-se do Pai. Porque o conhecimento do Pai é o Filho; o conhecimento do Filho faz-se pelo Espírito Santo; e
o Filho concede o Espírito segundo a complacência do Pai.
At.15,1-2.22-29- DDDE – ddl - p.1473
1.Alguns homens, descendo da Judéia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não
podeis ser salvos.
2.Originou-se então grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar
desta questão com os apóstolos e os anciãos em Jerusalém.
22.Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a comunidade escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo
e Barnabé: Judas, que tinha o sobrenome de Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos.
23.Por seu intermédio enviaram a seguinte carta: "Os apóstolos e os anciãos aos irmãos de origem pagã, em Antioquia, na Síria e Cilícia,
saúde!
24.Temos ouvido que alguns dentre nós vos têm perturbado com palavras, transtornando os vossos espíritos, sem lhes termos dado
semelhante incumbência.
25.Assim nós nos reunimos e decidimos escolher delegados e enviá-los a vós, com os nossos amados Barnabé e Paulo,
26.homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27.Enviamos, portanto, Judas e Silas que de viva voz vos exporão as mesmas coisas.
28.Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do seguinte indispensável:
29.coisas fareis bem de vos guardar conscienciosamente. Adeus!
Comentário feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Relações diversas, 46, 48
«Se alguém Me tem amor, viremos a ele e nele faremos morada.»
Usufruía certo dia, estando recolhida, desta companhia que tenho sempre na alma; e pareceu-me que Deus aí Se
encontrava, de tal maneira que me recordei daquelas palavras de São Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo»
(Mt 16, 16), porque Deus estava realmente vivo em mim. Esta tomada de consciência não se assemelhava às outras,
pois elevava o poder da fé; não se pode duvidar de que a Trindade está na nossa alma com uma presença especial,
com o Seu poder e a Sua essência. Espantada por ver tão alta Majestade em criatura tão vil como a minha alma, ouvi
estas palavras: «A tua alma não é vil, minha filha, porque foi feita à Minha imagem» (cf. Gn.1, 27).Noutro dia,
meditava nesta presença das três Pessoas divinas em mim, e a luz era de tal maneira viva, que não havia dúvida de
que ali estava o Deus vivo, o Deus verdadeiro. Pensei na amargura desta vida, que nos impede de estar sempre em
tão admirável companhia e o Senhor disse-me: «Minha filha, depois desta vida não poderás servir-Me como agora.
Por isso, quer comas, quer durmas, quer faças outra coisa qualquer, faz tudo por Mim, como se já não te tivesses a
ti, mas só a Mim em ti, como proclamou São Paulo (cf. Gl .2, 20).»
At.20,28-38 - DDDE - p.1439
28.Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele
adquiriu com o seu próprio sangue.
29.Sei que depois da minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho.
30.Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos.
31.Vigiai! Lembrai-vos, portanto, de que por três anos não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.
32.Agora eu vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para edificar e dar a herança com os santificados.
33.De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes.
34.Vós mesmos sabeis: estas mãos proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros.
35.Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele
mesmo disse: É maior felicidade dar que receber!
36.A essas palavras, ele se pôs de joelhos a orar.
37.Derramaram-se em lágrimas e lançaram-se ao pescoço de Paulo para abraçá-lo,
38.aflitos, sobretudo pela palavra que tinha dito: Já não vereis a minha face. Em seguida, acompanharam-no até o navio.
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Africa do Norte) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de São João, n°11
«Eles não são do mundo, como Eu também não sou do mundo»
Escutai todos, judeus e gentios; escutai, todos os reinos da terra! Não impeço o vosso domínio deste mundo, «o Meu
Reino não é deste mundo» (Jo 18, 36). Não receeis, portanto, com aquele temor insensato que invadiu Herodes
quando lhe anunciaram o Meu nascimento. Não, diz o Salvador, «o Meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a
um reino que não é deste mundo; vinde pela fé; que o temor não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o
Filho de Deus disse ao falar do Pai: «Por Ele, fui nomeado rei em Sião, na Sua montanha santa» (Sl 2, 6). Mas esta
Sião e esta montanha não são deste mundo.O que é, com efeito, o Seu Reino? São aqueles que crêem n'Ele, aqueles
a quem Ele disse: «Vós não sois do mundo, como Eu também não sou do mundo». E, no entanto, Ele quer que eles
estejam no mundo; Ele pede ao Pai: «Não Te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno». Porque
Ele não disse: «O Meu Reino não está neste mundo» mas sim: «não é deste mundo; se o Meu Reino fosse deste
mundo, os Meus servos viriam combater para que eu não fosse entregue» (Jo.18,36).
Com efeito, o Seu reino está verdadeiramente aqui na Terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está
misturado com o trigo (Mt 13, 24ss.). O Seu reino não é daqui porque Ele é como um viajante neste mundo.
Àqueles sobre os quais reina, disse: «Vós não sois do mundo porque Eu vos escolhi do meio do mundo». (Jo 15,
19). Portanto, eles eram deste mundo quando ainda não eram o Seu Reino e pertenciam ao príncipe deste mundo
(Jo.12,31). Todos aqueles que são engendrados da raça de Adão pecador pertencem a este mundo; todos aqueles que
foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao Seu Reino e já não são deste mundo. «Com efeito, Deus arrancounos ao poder das trevas e transferiu-nos para o Reino do Seu Filho bem-amado» (Cl.1,13).
At.22,3-16 – DDDE p.1441
1.Irmãos e pais, ouvi o que vos tenho a dizer em minha defesa.
2. Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, escutaram-no com a maior atenção.
3. Continuou ele: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a
observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de Deus como todos vós também o sois no dia de hoje.
4. Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres.
5. O sumo sacerdote e todo o conselho dos anciãos me são testemunhas. E foi deles que também recebi cartas para os irmãos de Damasco,
para onde me dirigi, com o fim de prender os que lá se achassem e trazê-los a Jerusalém, para que fossem castigados.
6. Ora, estando eu a caminho, e aproximando-me de Damasco, pelo meio-dia, de repente me cercou uma forte luz do céu.
7. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
8. Eu repliquei: Quem és tu, Senhor? A voz me disse: Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.
9. Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem falava.
10. Então eu disse: Senhor, que devo fazer? E o Senhor me respondeu: Levanta-te, vai a Damasco e lá te será dito tudo o que deves fazer.
11. Como eu não pudesse ver por causa da intensidade daquela luz, guiado pela mão dos meus companheiros, cheguei a Damasco.
12. Um certo Ananias, homem piedoso e observador da lei, muito bem conceituado entre todos os judeus daquela cidade,
13. veio ter comigo e disse-me: Irmão Saulo, recobra a tua vista. Naquela mesma hora pude enxergá-lo.
14. Continuou ele: O Deus de nossos pais te predestinou para que conhecesses a sua vontade, visses o Justo e ouvisses a palavra da sua
boca,
15. pois lhe serás, diante de todos os homens, testemunha das coisas que tens visto e ouvido.
16. E agora, por que tardas? Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome.
Comentário feito por :
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão 279
O perseguidor transformado em pregador
Do alto do céu a voz de Cristo fez com que Saulo caísse por terra: recebeu a ordem de não continuar com as suas
perseguições, e caiu por terra. Era preciso que tombasse e em seguida se erguesse; primeiro caído e depois curado.
Porque Cristo não teria nunca vivido nele se Saulo não tivesse abandonado a sua antiga vida de pecado. Caído por
terra, que ouve ele? «Saulo, Saulo, por que Me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão» (At.26, 4).
Ao que ele respondeu: «Quem és tu, Senhor?» E a voz do alto continuou: «Sou Jesus de Nazaré, que tu persegues».
Os membros ainda estão na terra, é a cabeça que grita do alto do céu; e não diz: «Por que persegues os Meus
servos?» mas «Por que Me persegues?»E Paulo, que empregava todo o seu ardor nas perseguições, dispõe-se desde
logo a obedecer: «Que queres que eu faça?» Já o perseguidor se transformou em pregador, o lobo em ovelha, o
inimigo em defensor. Paulo aprende o que deve fazer: se ficou cego, se a luz do mundo lhe foi subtraída durante um
certo tempo, foi para que no seu coração brilhasse a luz interior. A luz é retirada ao perseguidor para ser dada ao
pregador; no próprio momento em que não via nada deste mundo, viu Jesus. É um símbolo para os crentes: aqueles
que crêem em Deus devem fixar n'Ele o olhar da sua alma sem ter em consideração coisas exteriores. Saulo é
conduzido a Ananias; o lobo destruidor é levado à
ovelha. Mas o Pastor que tudo conduz do alto dos céus, tranquiliza-o: «Não te preocupes. Eu lhe revelarei tudo o
que ele tem de sofrer pelo Meu nome.» (At.9,16). Que maravilha! O lobo é trazido à ovelha. O Cordeiro, que foi
morto pelas ovelhas, ensina-as a não temerem.
At.22,30.23,6-11- DDDE- DDPC- p.1442
At.22
30.No dia seguinte, querendo saber com mais exatidão de que os judeus o acusavam, soltou-o e ordenou que se reunissem os sumos
sacerdotes e todo o Grande Conselho. Trouxe Paulo e o mandou comparecer diante deles
At.23
6.Paulo sabia que uma parte do Sinédrio era de saduceus e a outra de fariseus e disse em alta voz.: Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus.
Por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos é que sou julgado. 7.Ao dizer ele estas palavras, houve uma discussão entre os
fariseus e os saduceus, e dividiu-se a assembléia. 8.(Pois os saduceus afirmam não haver ressurreição, nem anjos, nem espíritos, mas os
fariseus admitem uma e outra coisa.)
9.Originou-se, então, grande vozearia. Levantaram-se alguns escribas dos fariseus e contestaram ruidosamente: Não achamos mal algum
neste homem. (Quem sabe) se não lhe falou algum espírito ou um anjo...
10.A discussão fazia-se sempre mais violenta. O tribuno temeu que Paulo fosse despedaçado por eles e mandou aos soldados que
descessem, o tirassem do meio deles e o levassem para a cidadela.
11.Na noite seguinte, apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Coragem! Deste testemunho de mim em Jerusalém, assim importa também que o
dês em Roma.
Comentário feito por :
João Paulo II
Encíclica «Ut unum sint», § 22
«Que todos sejam um»
Quando os cristãos rezam juntos, a meta da unidade fica mais próxima. A longa história dos cristãos, marcada por
múltiplas fragmentações, parece recompor-se tendendo para a fonte da sua unidade, que é Jesus Cristo. Ele «é
sempre o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade» (Hb.13,8). Na comunhão de oração, Cristo está realmente
presente; reza «em nós», «conosco» e «por nós». É Ele que guia a nossa oração no Espírito Consolador, que
prometeu e deu à sua Igreja no Cenáculo de Jerusalém, quando a constituiu na sua unidade original. No caminho
ecumênico para a unidade, a primazia pertence, sem dúvida, à oração comum, à união orante daqueles que se
congregam à volta do próprio Cristo. Se os cristãos, apesar das suas divisões, souberem unir-se cada vez mais em
oração comum ao redor de Cristo, crescerá a sua consciência de como é reduzido o que os divide em comparação
com aquilo que os une. Se se encontrarem sempre mais assiduamente diante de Cristo na oração, os cristãos poderão
ganhar coragem para enfrentar toda a dolorosa realidade humana das divisões, e reencontrar-se-ão juntos naquela
comunidade da Igreja que Cristo forma incessantemente no Espírito Santo, apesar de todas as debilidades e
limitações humanas.
Rm.1,16-25 – DDDE– p.1450.1
16. Com efeito, não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a salvação de todo o que crê, ao judeu em
primeiro lugar e depois ao grego.
17. Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está escrito: O justo viverá pela fé (Hab 2,4).
18. A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade.
19. Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência.
20. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por
suas obras; de modo que não se podem escusar.
21. Porque, conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos
pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato.
22. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos.
23. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis.
24. Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos.
25. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém!
26. Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza.
27. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo
homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.
28. Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e daí o seu
procedimento indigno.
29. São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade.
30. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais.
31. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia.
32. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam,
como também aplaudem os que as cometem
Comentário feito por
As Máximas dos Padres do Deserto (séculos IV e V)
Collection systématique, cap. 9 (a partir da trad. de SC 387, pp. 427ss.)
«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis»
Um irmão que tinha pecado foi expulso da igreja pelo sacerdote; e o abba Bessarion levantou-se e saiu com ele,
dizendo: «Eu também sou pecador» Certa vez, em Scété, um irmão cometeu uma falta. Convocou-se um conselho
para o qual chamaram o abba Moisés, mas este recusou-se a comparecer. Então o padre mandou-lhe dizer: «Vem,
porque toda a gente está à tua espera». Ele levantou-se, pegou numa cesta rota, encheu-a de areia, colocou-a aos
ombros e foi assim. Os outros, que saíram ao seu encontro, perguntaram-lhe: «Que é isso, pai?» O ancião
respondeu: «Os meus pecados vão-se derramando atrás de mim e eu nem consigo vê-los; e, no entanto, vim aqui
hoje julgar os pecados de outrem». Ouvindo isto, não disseram nada ao irmão, mas perdoaram-lhe.O abba Joseph
perguntou ao abba Poemen: «Diz-me o que devo fazer para me tornar monge». O ancião respondeu: «Se queres
encontrar repouso aqui e no mundo que virá, repete continuamente: «Quem sou eu?» E não julgues ninguém».Um
irmão perguntou ao mesmo abba Poemen: «Se eu vir um
pecado do meu irmão, será correto ocultá-lo?» O ancião respondeu-lhe: «Enquanto escondermos os pecados dos
nossos irmãos, também Deus esconde os nossos; a partir do momento em que manifestamos as faltas dos irmãos,
Deus manifesta também as nossas».
Rm.8,1-11 – DDDE- p.1457
1. De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo.
2. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. 3. O que era impossível à lei, visto que a carne a
tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o
pecado na carne,
4. a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito.
5. Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito.
6. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz.
7. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode.
8. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus.
9. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o
Espírito de Cristo, este não é dele.
Comentário feito por
Didaqué (entre 60-120), catequese judaico-cristã
§§ 1-6 (a partir da trad. de coll. Icthus, t. 1, pp. 112ss.)
«Escolhe a vida» (Dt 30, 19)
Há dois caminhos: um de vida e outro de morte, mas há uma grande diferença entre os dois. Ora o caminho da vida
é o seguinte: primeiro que tudo, amarás a Deus que te criou; em segundo lugar, amarás o teu próximo como a ti
mesmo e aquilo que não queres que ele te faça não o faças tu a outrem. Eis o ensinamento contido nestas palavras:
Bendizei aqueles que vos maldizem, rezai pelos vossos inimigos, jejuai pelos que vos perseguem. Com efeito, que
mérito tendes em amar os que vos amam? Não o fazem também os pagãos? Quanto a vós, amai os que vos odeiam e
não tereis inimigos. Abstende-vos dos desejos carnais e corporais. Segundo mandamento da doutrina: não matarás,
não cometerás adultério, não seduzirás rapazes, não cometerás fornicação, nem roubo, nem magia, nem
envenenamento; não matarás nenhuma criança, por aborto ou depois do nascimento; não desejarás os bens do teu
próximo. Não cometerás perjúrio, não levantarás falsos testemunhos, não terás intenções de maledicência e não
guardarás rancor. Não terás duas maneiras de pensar nem duas palavras: porque a duplicidade de linguagem é uma
armadilha de morte. A tua palavra não será mentirosa nem vã, mas plena de sentido. Não serás avarento, nem
ganancioso, nem hipócrita, nem maldoso, nem orgulhoso; não terás má vontade com o teu próximo. Não deves
odiar ninguém: deves corrigir uns e rezar por eles e amar os outros mais do que a própria vida.Meu filho, foge de
tudo o que é mal e de tudo o que te parece mal. Vigia para que ninguém te desvie da doutrina, porque esse estará a
guiar-te para longe de Deus. Se puderes suportar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não, faz ao menos o que
te
for
possível.
(Referências bíblicas: Mt 22, 37ss.; 7, 12; Tb 4, 15; Mt 5, 44ss.; 1Pe 2, 11; Ex 20; Mt 24, 4)
-Rm.(8,12-13) - DDDE – “ O Espírito dá a vida” - p.1457
12.Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne.
13.De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis,
-É necessário portanto, o exercício do DDDE, um dos canais de que Deus se utiliza para nos ajudar a vencer esses
grandes inimigos, que tentam nos confundir na busca de conhecer e viver a vontade de Deus.
- O objetivo desses 3 inimigos da alma (o mundo,o demônio e a carne) é nos iludir e seduzir para que façamos a
vontade deles ou a nossa mas não façamos a vontade de Deus.É preciso orar e ter uma vida constante de louvor e de
unidade coma a Palavra de Deus e os sacramentos da Igreja.
- Desta forma, nos tornamos pessoas profundamente unidas e dóceis às moções do Espírito Santo para que não
deixemos ser ludibriados como Adão e Eva.
- A falta de discernimento espiritual veio pôr a perder toda a humanidade. É preciso “ vigiar e orar para não cair em
tentação”, como nos ensinou Jesus.Este estado de alerta, calmo e confiante na misericórdia de Deus, nos vem do
louvor constante, da oração diária e do estudo da Palavra de Deus.
- Uma maneira corretíssima de sabermos se algo vem da vontade de Deus, do inimigo ou de nós próprios, é a
Palavra de Deus. Muitas vezes, em discernimento dos espíritos não temos tempo nem de raciocinar. Daí, esta
palavra precisa estar tão enraizada em nós que faça parte já do nosso ser.
Desta forma, e alimentados pela oração, nossa vontade e inteligência estarão sempre abertos à ação do Espírito
Santo que nos revelará pelo carisma do DDDE o que vem de Deus, o que vem de nós, o que vem do maligno.
Rm.9,1-5 –DDDE p.1458
1. Digo a verdade em Jesus Cristo, não minto; a minha consciência me dá testemunho pelo Espírito Santo:
2. sinto grande pesar, incessante amargura no coração.
3. Porque eu mesmo desejaria ser reprovado, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, segundo a
carne.
4. Eles são os israelitas; a eles foram dadas a adoção, a glória, as alianças, a lei, o culto, as promessas
5. e os patriarcas; deles descende Cristo, segundo a carne, o qual é, sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre. Amém.
Comentário feito por:
Catecismo da Igreja Católica, §§ 345-349
O sentido do sábado
O «Sábado» – fim da obra dos «seis dias». O texto sagrado diz que «Deus concluiu, no
sétimo dia, a obra que fizera» e que assim «se completaram o céu e a terra»; e no sétimo dia Deus «descansou» e
santificou e abençoou este dia (Gn.2,1-3). Estas palavras inspiradas são ricas de salutares ensinamentos:Na criação,
Deus estabeleceu uma base e leis que permanecem estáveis, sobre as quais o crente pode apoiar-se com confiança, e
que serão para ele sinal e garantia da fidelidade inquebrantável da Aliança divina. Por seu lado, o homem deve
manter-se fiel a esta base e respeitar as leis que o Criador nela inscreveu.A criação foi feita em vista do Sábado e,
portanto, do culto e da adoração de Deus. O culto está inscrito na ordem da criação – «Operi Dei nihil preponatur –
Nada se anteponha à obra de Deus (ao culto divino)» – diz a Regra de São Bento, indicando assim a justa ordem das
preocupações humanas.O Sábado está no coração da Lei de Israel. Guardar os Mandamentos é corresponder à
sabedoria e à vontade de Deus, expressas na Sua obra da criação.O oitavo dia. Mas para nós, um dia novo surgiu: o
dia da Ressurreição de Cristo. O sétimo dia acaba a primeira criação. O oitavo dia começa a nova criação. A obra da
criação culmina, assim, na obra maior da Redenção. A primeira criação encontrou o seu sentido e cume na nova
criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.
Rm.11,1.7-11 – DDDE - p.1460
1.Pergunto, então: Acaso rejeitou Deus o seu povo? De maneira alguma. Pois eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de
Benjamim.
7.Conseqüência? Que Israel não conseguiu o que procura. Os escolhidos, estes sim, o conseguiram. Quanto aos mais, foram obcecados,
8.como está escrito: Deus lhes deu um espírito de torpor, olhos para que não vejam e ouvidos para que não ouçam, até o dia presente (Dt
29,3).
9.Davi também o diz: A mesa se lhes torne em laço, em armadilha, em ocasião de tropeço, em justo castigo!
10.A vista se lhes obscureça para não verem! Dobra-lhes o espinhaço sem cessar (Sl 68,23s)!
11.Pergunto ainda: Tropeçaram acaso para cair? De modo algum. Mas sua queda, tornando a salvação acessível aos pagãos, incitou-os à
emulação.
Comentário feito por:
São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja
Entretien 5 (a partir de Desjardins, Le Livre des quatre amours, Desclée 1964, p. 142 rev.)
«O que se humilha será exaltado»
A humildade não consiste apenas em desconfiarmos de nós mesmos, mas também em confiarmos em Deus; a
desconfiança de nós e das nossas próprias forças produz a confiança em Deus, e desta confiança nasce a
generosidade de espírito. Nossa Senhora, a Santíssima Virgem, deu-nos um exemplo notável disto quando
pronunciou estas palavras: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Quando
diz que é a serva do Senhor, ela demonstra uma enorme humildade, tanto mais que opõe aos louvores que o anjo lhe
dirige: que será Mãe de Deus, que a criança que sair do seu ventre será chamada de Filho do Altíssimo, uma
dignidade maior do que se poderia imaginar; ela opõe, como eu dizia, a todos estes louvores e grandezas a sua
baixeza e a sua indignidade, afirmando que é a serva do Senhor. Mas reparai que, após ter prestado tributo à
humildade, tem de imediato uma atitude de enorme generosidade ao dizer: «Faça-se em mim segundo a tua
palavra».É certo, queria ela dizer, que não sou de modo nenhum capaz desta graça, tendo em consideração o que eu
própria sou; mas na medida em que aquilo que é bom em mim pertence a Deus e em que aquilo que me dizes é a
Sua santa vontade, creio que isso pode fazer-se e se fará; e, sem a mínima hesitação, diz: «Faça-se em mim segundo
a tua palavra».
Rm.16,20– DDDE - Recomendações. - p.1465
“O Deus da paz em breve não tardará a esmagar Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm.16,20).
- O DDDE é uma graça que provém da presença do Espírito Santo em nós.Nossa unidade com Ele, nossa
intimidade com Ele em oração. Da mesma forma que nos dá palavras de Sabedoria, ou qualquer outro dom, dá-nos
igualmente o discernimento dos espíritos, dom espiritual que nos permite discernir, examinar, perceber e identificar
em nós mesmos, nas outras pessoas, nas comunidades, nos ambientes e nos objetos o que é de Deus, o que é da
natureza humana ou o que é do maligno. Este dom permite-nos identificar qual espírito está impulsionando ou está
influenciando uma ação, uma situação, algum desejo nosso, alguma decisão a tomar, algo que nos digam,
proponham ou ofereçam.
- Rm.12,2-DDDE– “ Verdadeira religião”. p.1461
2.Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade
de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.
- São Paulo nos exorta que “não nos conformemos com este mundo, mas transformemo-nos pela renovação do
nosso espírito, para que possamos discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é
perfeito”.
- Precisamos nos abrir, então, ao DDDE para não nos deixarmos arrastar pelas nossas paixões e pelas tentações do
inimigo e assim livremente fazermos a vontade do Pai.
- Talvez, momentaneamente, uma atitude ou palavra nossa traga realização, alegria, mas logo, percebemos quão
vazia ficou nossa alma ou alma dos nossos irmãos, pois só a vontade de Deus pode nos levar a verdadeira alegria e a
realização de nossas vidas.
1CO.2,10-16 –DDDE – p.1467
10.Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus.
11.Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém
as conhece, senão o Espírito de Deus.
12.Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos
prodigalizou
13.e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais
em termos espirituais.
14.Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo
Espírito que se devem ponderar.
15.O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas e não é julgado por ninguém.
16.Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, se abalançará a instruí-lo (Is 40,13)? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo.
Comentário feito por :
São Padre Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
Ep 3, 626 e 570; CE 34 (a partir da trad. Une pensée, Mediaspaul 1991, p. 40)
«Sai desse homem!»
Não te assustes com as tentações; através delas, Deus quer provar e fortificar a tua alma, dando-lhe ao mesmo
tempo a força de as vencê-las. Até agora, a tua vida foi a de uma criança; doravante, o Senhor quer tratar-te como
adulto. Ora as provas do adulto são bem superiores às da criança, e é isso que explica por que razão ficas
inicialmente perturbada. Mas a vida da tua alma reencontrará rapidamente a calma, ela não tardará. Tem paciência,
e tudo melhorará. Portanto, abandona estas vãs apreensões. Lembra-te de que não é a sugestão do maligno que faz a
falta, mas antes o consentimento dado a essas sugestões. Só uma vontade livre é capaz do bem e do mal. Mas,
quando a vontade geme sob a prova infligida pelo Tentador, e quando não quer o que lhe é proposto, nem falta é,
mas sim virtude.Guarda-te de cair na agitação, lutando contra as tentações, porque isso apenas as fortificará. É
necessário tratá-las com desprezo, sem te preocupares com elas. Volta o teu pensamento para Jesus crucificado, para
o Seu corpo depositado nos teus braços e diz: «Eis a minha esperança, a fonte da minha alegria!.Uno-me a Ti com
todo o meu ser, e não Te soltarei antes de me pores em segurança».
(1Co.3,9-11.16-17) – DDDE – p.1470
9.Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus.
10.Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. 11.Quanto ao fundamento,
ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo.
16.Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?
17.Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós.
Comentário feito por :
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão sobre o salmo, 130 §§ 1-2
O Corpo de Cristo, Templo Santo
«O Senhor expulsou-os a todos do templo». O Apóstolo Paulo disse: «O templo de Deus é santo, e esse templo sois
vós» (1Cor 3, 17), quer dizer, todos vós que acreditais em Cristo e que credes ao ponto de O amar. Todos aqueles
que assim crêem são as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus (1Pe 2, 5); são como essa madeira
imputrescível de que foi construída a arca que o dilúvio não pôde submergir (Gn 6, 14). Este templo, o povo de
Deus, os próprios homens, é o local onde Deus nos concede o que Lhe pedimos. Àqueles que rezam a Deus fora
deste templo não será concedida a paz da Jerusalém do alto, mesmo que lhes sejam concedidos certos bens materiais
que Deus também concede aos pagãos. No entanto, ser atendido no que diz respeito à vida eterna é uma coisa
totalmente diferente; isso não é concedido senão àqueles que oram no templo do Senhor. Porque aquele que reza no
templo de Deus reza na paz da Igreja, na unidade do Corpo de Cristo, porque o Corpo de Cristo é constituído pela
multidão dos crentes distribuídos por toda a terra. E aquele que reza na paz da Igreja, ora «em espírito e verdade»
(Jo 4, 23); o Templo antigo era apenas um símbolo. Com efeito, foi para nos instruir que o Senhor expulsou do
Templo estes homens que não procuravam senão o seu próprio interesse, que só lá se dirigiam para comprar e para
vender. Se esse Templo antigo teve de passar por essa purificação, é
evidente que também o Corpo de Cristo, o verdadeiro Templo, tem compradores e vendedores misturados com
aqueles que rezam, quer dizer, homens que só procuram «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo»
(Fil 2, 21). Tempos virão em que o Senhor expulsará todos os seus pecados.
Comentário feito por:
Bem-aventurado John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS, vol 6, n° 19
Festa da dedicação de uma catedral, festa da Igreja
Uma catedral é fruto de um desejo momentâneo ou é algo que se pode realizar pela vontade? Com toda a certeza, as
igrejas que herdamos não resultam apenas da gestão de capitais, nem são uma pura criação do gênio; são fruto do
martírio, de grandes feitos e de sofrimentos. As suas fundações são muito profundas; elas assentam sobre a pregação
dos apóstolos, sobre a confissão da fé dos santos, e sobre as primeiras conquistas do Evangelho no nosso país. Tudo
o que é nobre na sua arquitetura, que cativa os olhos e chega ao coração, não é um puro resultado da imaginação dos
homens, é um dom de Deus, é uma obra espiritual.A cruz assenta sempre no risco e no sofrimento, é sempre regada
com lágrimas e sangue. Em parte alguma cria raízes e dá fruto se a pregação não for acompanhada de renúncia. Os
detentores do poder podem fazer um decreto, favorecer uma religião, mas não a podem estabelecer, podem apenas
impô-la. Só a Igreja pode estabelecer a Igreja. Só os santos, os homens mortificados, os pregadores da retidão, os
confessores da verdade, podem criar uma verdadeira casa para a verdade. É por isso que os templos de Deus são
também os monumentos dos Seus santos. A sua simplicidade, a sua grandeza, a sua solidez, a sua graça e a sua
beleza não fazem senão recordar a paciência e a pureza, a coragem e a doçura, a caridade e a fé daqueles que não
adoraram a Deus apenas nas montanhas e nos desertos; eles sofreram, mas não em vão, porque outros herdaram os
frutos do seu sofrimento (cf Jo 4, 38). Efetivamente, a longo prazo, a sua palavra deu fruto; fez-se Igreja, esta
catedral onde a Palavra vive desde há muito tempo. Felizes os que entram nesta relação de comunhão com os santos
do passado e com a Igreja universal. Felizes os que, entrando nesta igreja, penetram de coração no céu.
1Co.4,1-5 –DDDE - p.1468
1.Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus.
2.Ora, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis.
3.A mim pouco se me dá ser julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo.
4.De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor.
5.Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará
as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece.
Comentário feito por
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n.º 84 (a partir da trad. de Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible,
Médiaspaul, 1988, t. 6, p.158)
«O Esposo está com eles»
Que a alma disto se lembre: foi o Esposo Quem, primeiro, a procurou e Quem, primeiro, a amou; tal é a fonte da sua
própria procura e do seu próprio amor «Procurei, diz a Esposa [do Cântico dos Cânticos], Aquele Que o meu
coração ama» (3, 1). Sim, é de fato a esta procura que te convida a ternura d’Aquele que, antes de ti, te procurou e te
amou. Não O procurarias, se primeiro Ele não te tivesse procurado; não O amarias, se primeiro Ele não te tivesse
amado.O Esposo não Se antecipou numa só benção, mas em duas: no amor e na procura. O amor é a causa da Sua
procura; a procura é o fruto do Seu amor, e dele é também penhor assegurado. És amada por Ele, de maneira que
não podes lamentar-te por não seres realmente amada. A dupla experiência da Sua ternura encheu-te de audácia:
aniquilou-te as vergonhas, persuadiu-te a voltares para Ele, deu força ao teu entusiasmo. Daí o fervor, daí o ardor
em «procurares Aquele que o teu coração ama», pois é evidente que não terias podido procurá-lO, se primeiro Ele
não te tivesse procurado; e agora que Ele te procura, não podes deixar de O procurar.
1Co.5,1-7 – DDDE – p.1469
1.
Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem
mesmo entre os pagãos: há entre vós quem vive com a mulher de seu pai!...
2. E continuais cheios de orgulho, em vez de manifestardes tristeza, para que seja tirado dentre vós o que cometeu tal ação!
3. Pois eu, em verdade, ainda que distante corporalmente, mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim
se comportou.
4. Em nome do Senhor Jesus -, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus -,
5. seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus.
6. Não é nada belo o motivo da vossa jactância! Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?
7. Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. 8.
Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de
pureza
e
de
verdade.
Comentário feito por
Catecismo da Igreja Católica, §§ 2174-2175
O Dia do Senhor: O dia da ressurreição, da nova criação
Jesus ressuscitou de entre os mortos «no primeiro dia da semana» (Mc.16,2). Enquanto «primeiro dia», o dia da
ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto «oitavo dia», a seguir ao sábado, significa a nova
criação, inaugurada com a ressurreição de Cristo. Este dia tornou-se para os cristãos o primeiro de todos os dias, a
primeira de todas as festas, o dia do Senhor (dies dominica), o «Domingo». O domingo distingue-se expressamente
do sábado, ao qual sucede cronologicamente em cada semana, e cuja prescrição ritual substitui para os cristãos. O
domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judaico e anuncia o descanso eterno
do homem, em Deus
- 1Co.10,12[pg.1474] – Exemplos dos castigos de Israel.
-1Co.12,10[pg.1476] – Diversidade dos carismas
- São Paulo nos diz: “Quem está de pé, cuide para não cair”.
- Santa Tereza de Ávila nos diz que, quando oramos nos tornamos tão sensíveis ao DDDE, que qualquer alfinetada,
por menor que seja, é percebida e discernida por nós.Quando estamos em estado de pecado e sem oração, tornamonos insensíveis ao discernimento dos espíritos e nos deixamos enganar facilmente por nossos desejos, ou pelo
inimigo.
É impressionante termos uma vida sacramental de oração, de louvor, uma vida de intimidade com Deus e com sua
Palavra, afim de que O Espírito Santo possa agir em nós livremente , fazendo-nos discernir a origem de nossas
intenções e ações.
1Co.10,12-22- DDDE- p.1474
12.Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia.
13.Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas
forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela.
14.Portanto, caríssimos meus, fugi da idolatria.
15.Falo como a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que digo.
16.O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de
Cristo?
17.Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão.
18.Considerai Israel segundo a carne: não entram em comunhão com o altar os que comem as vítimas?
19.Que quero afirmar com isto? Que a carne sacrificada aos ídolos ou o próprio ídolo são alguma coisa?
20.Não! As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os
demônios.
21.Não podeis beber ao mesmo tempo o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do
Senhor e da mesa dos demônios.
22.Ou
queremos
provocar
a
ira
do
Senhor?
Acaso
somos
mais
fortes
do
que
ele?
Comentário feito por
Santo Afrate (? - c. 345), monge e bispo próximo de Mossul
Exposições, n°1 «De la foi» (a partir da trad. SC 349, pp. 209ss. rev.)
Assentar os alicerces sobre a rocha
Escuta-me: falo-te da fé que foi edificada sobre a rocha e do edifício que é erguido sobre a rocha. Com efeito, o
homem começa por acreditar e, quando crê, ama; quando ama, espera; quando espera, é justificado; quando é
justificado, atinge a completude; quando atinge a completude, atinge o seu máximo. Quando todo o seu edifício está
construído, atinge a completude e a plenitude e torna-se morada e templo onde Cristo habita. Eis o que diz o bemaventurado apóstolo Paulo: «Sois templo de Deus e o Espírito de Deus habita em vós» (1Cor 3, 16; 6, 19). E Nosso
Senhor diz aos Seus discípulos: «Vós estais em Mim e Eu em vós» (Jo 14, 20). Quando o edifício se torna casa de
habitação, o homem começa e preocupar-se com aquilo que Aquele que nela habita lhe pede. É como numa casa
onde morasse um rei ou um homem de família nobre com nome real. Nessa altura, o rei exige todas as insígnias da
realeza e todo o serviço devido à sua dignidade real. Um rei não habita numa casa vazia. Assim se passa também
com o homem que se tornou casa de habitação para o Cristo/Messias: que ele providencie tudo o que é conveniente
ter ao serviço do Messias que em si habita, tudo aquilo que Lhe agrada. Com efeito, este homem começou
por construir o seu edifício sobre a rocha, quer dizer, sobre o próprio Cristo. Sobre essa pedra se baseia a sua fé. O
bem-aventurado Paulo faz duas afirmações sobre isso: «Como sábio arquiteto, assentei o alicerce. Mas ninguém
pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo» (1Cor 3, 10.11) . E também: «O espírito de Deus
habita em vós», porque Nosso Senhor diz: «Eu e o Pai somos Um» (Jo 10, 30). Desde então, cumpre-se a palavra
segundo a qual o Messias permanece nos homens que n'Ele crêem e é Ele o alicerce sobre o qual se ergue todo o
edifício
Gl.1,13-24 – DDDE – p.1492
13.Certamente ouvistes falar de como outrora eu vivia no judaísmo, com que excesso perseguia a Igreja de Deus e a assolava;
14.avantajava-me no judaísmo a muitos dos meus companheiros de idade e nação, extremamente zeloso das tradições de meus pais.
15.Mas, quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça, 16.para revelar seu Filho em
minha pessoa, a fim de que eu o tornasse conhecido entre os gentios, imediatamente, sem consultar a ninguém,
17. sem ir a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim, parti para a Arábia; de lá regressei a Damasco.
18.Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias.
19.Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor.
20.Isto que vos escrevo - Deus me é testemunha -, não o estou inventando.
21.Em seguida, fui para as regiões da Síria e da Cilícia.
22.Eu era ainda pessoalmente desconhecido das comunidades cristãs da Judéia;
23.tinham elas apenas ouvido dizer: Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora combatia. E glorificavam a Deus por
minha causa.
Comentário feito por
Bem-aventurada Isabel da Trindade (1880-1906), carmelita
Último retiro, 10º – 11º dias (OC, Cerf 1991, pp.173ss.)
«Maria, sentada aos pés do Senhor, escutava a Sua palavra»
Para que nada me tire do belo silêncio interior, [manterei] sempre a mesma condição, o mesmo isolamento, o
mesmo distanciamento, o mesmo despojamento. Se os meus desejos, os meus medos, as minhas alegrias ou as
minhas dores não estiverem perfeitamente ordenados para Deus, não estarei sozinha e haverá ruído em mim; por
isso, é preciso serenidade, «repouso das potências», concentração do ser. «Filha, escuta, vê e presta atenção;
esquece o teu povo e a casa do teu pai. Porque o rei deixou-se prender pela tua beleza» [Sl 45 (44), 11-12]. Esquecer
o próprio povo parece-me difícil; porque aqui «povo» é todo este mundo, que faz, por assim dizer, parte de nós
mesmos: é a sensibilidade, são as memórias, as impressões, etc. Quando a alma faz essa ruptura, quando se liberta
de tudo isso, o Rei fica prisioneiro da sua beleza. Vendo o belo silêncio que reina na Sua criatura e considerando
que está absolutamente recolhida, o Criador fá-la passar por esta solidão imensa, infinita, [retira-a] para esse «lugar
seguro» cantado pelo profeta [Sl 18 (17), 20] e que outra coisa não é se não Ele próprio. «Ao deserto a conduzirei,
para lhe falar ao coração» (Os 2, 16). Ei-la, a alma entrada nessa vasta solidão em que Deus Se fará ouvir! São
Paulo diz: «A palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da
alma e do corpo, das articulações e das medulas» (Hb 4, 12). Portanto, será ela quem diretamente completará o
trabalho
do
despojamento
na
alma.
Mas não é suficiente ouvir a palavra, é necessário guardá-la! (Jo 14, 23) E é guardando-a que a alma será
«consagrada na verdade» (Jo 17, 17); é esse o desejo do Mestre: não prometeu Ele àquele que guarda a Sua palavra
que: «meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada»? (Jo 14, 23) É toda a Trindade que habita na
alma que a ama verdadeiramente, ou seja, que guarda a Sua palavra.
Gl.3,26-29 – DDDE - p.1495
26. porque revestistes de Cristo.
27.Todo vós que fôstes batizados em Cristo,vos revestistes de Cristo.
28. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus.
29. Ora, se sois de Cristo, então sois verdadeiramente a descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.
Comentário feito por
Catecismo da Igreja Católica, §§ 306-308
«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»
Deus é o Senhor soberano dos Seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das
criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus onipotente. É que Ele não só permite
às Suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas e de cooperarem, assim, na
realização dos Seus desígnios.Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua
Providência, confiando-lhes a responsabilidade de «submeter» a terra e dominá-la (Gn. 1,26-28). Assim lhes
concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação e aperfeiçoar a sua harmonia, para
o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem
entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos.
Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de Deus» (1 Co.3,9; 1Tes 3,2) e do Seu Reino.Esta é uma verdade
inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a ação das Suas criaturas. É Ele a causa primeira, que opera
nas e pelas causas-segundas: «É Deus que produz em nós o querer e o operar, segundo o Seu beneplácito» (Fl.
2,13).
Gl.1,13-18 - DDDE - p.1497
13.Certamente ouvistes falar de como outrora eu vivia no judaísmo, com que excesso perseguia a Igreja de Deus e a assolava;
14.avantajava-me no judaísmo a muitos dos meus companheiros de idade e nação, extremamente zeloso das tradições de meus pais.
15 Mas, quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça,
16.para revelar seu Filho em minha pessoa, a fim de que eu o tornasse conhecido entre os gentios, imediatamente, sem consultar a
ninguém,
17.sem ir a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim, parti para a Arábia; de lá regressei a Damasco.
18.Três
anos
depois
subi
a
Jerusalém
para
conhecer
Cefas,
e
fiquei
com
ele
quinze
dias.
Comentário feito por
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
Meditação para a festa da Exaltação da Santa Cruz (a partir da trad. Source cachée, Cerf 1999, p. 277)
«Segue-Me»
O Salvador precedeu-nos no caminho da pobreza.Todos os bens do céu e da terra Lhe pertencem. Não representam
para Ele nenhum perigo; podia fazer uso deles e manter o Seu coração completamente livre. Mas Ele sabia que é
quase impossível a um ser humano possuir bens sem se subordinar a eles e tornar-se seu escravo. Foi por esta razão
que Ele abandonou tudo e nos mostrou, com o Seu exemplo, mais ainda do que pelas Suas palavras, que só possui
tudo quem não possui nada. O Seu nascimento num estábulo e a Sua fuga para o Egito mostravam já que o Filho do
Homem não teria onde reclinar a cabeça. Quem quiser segui-Lo tem de saber que não temos aqui morada
permanente. Quanto mais vivamente tomarmos consciência disso, mais fervorosamente tenderemos para a nossa
futura morada, e exultaremos com o pensamento de termos direito de cidadania no Céu.
Gl.5,18-25– DDDE - p.1497
18. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei.
19. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem,
20. idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos,
21. invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não
herdarão o Reino de Deus!
22. Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade,
23. brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei.
24. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências.
25. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito.
26.Não
sejamos
ávidos
da
vanglória.
Nada
de
provocações,
nada
de
invejas
entre
nós.
- A carne tem desejo contrários ao espírito.Dessa forma não podemos agir segundo as inclinações da nossa natureza,
precisamos fortificar nosso espírito a fim de buscar a vontade do nosso Deus.
Comentário feito por
Didaquê (entre 60-120), catequese judaico-cristã
§3 (a partir da trad. Quéré, Pères apostoliques, Seuil 1980, p.94)
«Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29)
Meu filho, foge de todo o mal ou daquilo que se assemelhar ao mal. Não sejas irascível: a cólera leva ao crime. Não
sejas ciumento, conflituoso nem violento: essas paixões originam mortes. Meu filho, não sejas sensual: a
sensualidade é o caminho para o adultério. Não uses de linguagem licenciosa, nem tenhas um olhar atrevido:
também isso engendra adultério. Resguarda-te dos encantamentos, da astrologia, das purificações mágicas; recusa-te
a vê-las e a ouvi-las: isso seria perderes-te na idolatria. Meu filho, não sejas mentiroso, porque a mentira conduz ao
roubo. Não te deixes seduzir nem pelo dinheiro nem pela vaidade, que
também incitam a roubar. Meu filho, não murmures contra os outros: tornar-te-ás blasfemo. Não sejas insolente nem
malévolo,
pois
isso
também
conduz
à
blasfêmia.
Usa de mansidão: «Felizes os mansos, porque possuirão a terra» (Mt.5,5). Sê paciente, misericordioso, sem malícia,
cheio de paz e bondade. Respeita sempre as palavras que ouviste do Senhor (Is 66, 2). Não te engrandecerás a ti
próprio, não abandonarás o teu coração ao orgulho. Não te aliarás aos soberbos, mas frequentarás os justos e os
humildes. Receberás os acontecimentos da vida como dons, sabendo que é Deus quem dispõe sobre todas as coisas.
Ef.1,3-6.11-12 – DDDE – p.1498
3.Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo,
4.e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos.
5.No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade,
6.para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem-amado.
11.Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade,
12.para servirmos à celebração de sua glória, nós que desde o começo voltamos nossas esperanças para Cristo.
Comentário feito por
Santo Epifânio de Salamina (? - 403), bispo
Homilia n°5; PG 43, 491.494.502 (a partir da trad. cf Solesmes, Lectionnaire, t. 1, p. 1003)
«Salve, ó cheia de graça»
Que dizer? Que elogio se há de fazer à Virgem gloriosa e santa? Ela ultrapassa todos os seres, à exceção apenas de
Deus; por natureza, é mais bela que os querubins, os serafins e todo o exército dos anjos. Nem as línguas do céu
nem as da terra, nem as línguas dos anjos bastam para louvá-la. Virgem bendita, pomba pura, esposa celeste, templo
e trono da divindade! Cristo, sol esplendoroso do céu e da terra, pertence-te. Tu és a nuvem luminosa que fez descer
Cristo,
Ele
o
brilho
resplandecente
que
ilumina
o
mundo.
Rejubila, ó cheia de graça, porta do céu; é de ti que fala o autor do Cântico dos Cânticos quando exclama: «És
horto cerrado, minha irmã, minha esposa, horto cerrado, fonte selada» (4, 12). Santa Mãe de Deus, ovelha
imaculada, tu trouxeste ao mundo o Cordeiro, Cristo, o Verbo encarnado em ti. Que maravilha espantosa nos céus:
uma mulher vestida de sol (Ap 12, 1), trazendo nos braços a luz! Que maravilha espantosa nos céus: o Senhor dos
anjos que Se torna filho da Virgem. Os anjos acusavam Eva; agora, cumulam Maria de glória, porque Ela levantou
Eva da queda e abriu as portas do céu a Adão, outrora expulso do Paraíso.Imensa é a graça concedida a esta Virgem
santa. É por isso que Gabriel a cumprimenta dizendo-lhe: «Rejubila, cheia de graça», resplandecente como o céu.
«Rejubila, cheia de graça», Virgem ornada de virtudes sem número. «Rejubila, cheia de graça», tu que sacias os
sedentos com as doçuras da fonte eterna. Rejubila, Santa Mãe Imaculada, tu que geraste Cristo, que te precede.
Rejubila, púrpura real, tu que revestiste o Rei do céu e da terra. Rejubila, livro selado, tu que deste a ler ao mundo o
Verbo, o Filho do Pai.
Ef.4,1-7.11-13 –DDDE - p.1500.1
1.Exorto-vos, pois, - prisioneiro que sou pela causa do Senhor -, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados,
2.com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade.
3.Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
4.Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. 5.Há um só Senhor, uma só fé,
um só batismo.
6.Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos.
7.Mas a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo,
11.A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores,
12.para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo,
13.até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a
estatura da maturidade de Cristo.
Comentário feito por
Rupert de Deutz (v. 1075-1130), monge beneditino
As Obras do Espírito Santo, IV, 14 (a partir da trad. SC 165, p. 183 rev.)
O cobrador de impostos foi libertado para o Reino de Deus
Mateus, o publicano, recebeu por alimento «o pão da vida e da inteligência» (Sir 15, 3); e dessa mesma inteligência,
fez em sua casa um grande banquete para o Senhor Jesus, pois tinha recebido uma graça abundante, em
conformidade com o seu nome [que quer dizer «dom do Senhor»]. Um presságio desse banquete de graças havia
sido preparado por Deus: tendo sido chamado enquanto estava no seu posto de cobrança, seguiu a Cristo e
«ofereceu-Lhe, em sua casa, um grande banquete» (Lc 5, 29). Ofereceu-Lhe portanto um banquete, dos grandes –
um
banquete
real,
diríamos.
Mateus é de fato o evangelista que nos mostra Cristo Rei através da Sua família e dos Seus atos. Logo no início da
obra, declara que se trata do livro da «Genealogia de Jesus Cristo, filho de David» (Mt 1, 1). Em seguida, comenta
como o recém-nascido é adorado pelos magos como rei dos judeus ; depois, tecendo o resto da narração com régios
feitos e parábolas do reino, termina por fim com as próprias palavras de um Rei que já está coroado pela glória da
ressurreição: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra» (28, 18). Se examinarmos bem o conjunto da sua
redação, reconheceremos portanto que toda ela respira os mistérios do Reino de Deus. Nada de espantoso há nisto;
Mateus tinha sido publicano, lembrava-se de ter sido chamado do serviço público do reino de pecado para a
liberdade do Reino de Deus, do Reino de justiça. Como homem verdadeiramente grato para com o grande Rei que o
tinha libertado, serviu portanto com fidelidade as leis do Seu Reino.
(Ef.4,1-6) –DDDE – p.1500
1.Exorto-vos, pois, - prisioneiro que sou pela causa do Senhor -, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados,
2.com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. 3.Sede solícitos em conservar a
unidade do Espírito no vínculo da paz.
4.Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. 5.Há um só Senhor, uma só fé,
um só batismo.
6.Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos.
Comentário feito por
Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de S. Mateus, 14, 11; PL 9, 999 (a partir da trad. Matthieu commenté, DDB 1985, p. 98
rev.; cf SC 258, p. 23)
«Este é na verdade o Profeta que devia vir ao mundo!»
Os discípulos dizem que têm apenas cinco pães e dois peixes. Os cinco pães significavam que estavam ainda
submetidos aos cinco livros da Lei, e os dois peixes que eram alimentados pelos ensinamentos dos profetas e de
João Batista .Eis o que os apóstolos tinham para oferecer em primeiro lugar, uma vez que ainda se encontravam ali;
e foi dali que partiu a pregação do Evangelho. O Senhor tomou os pães e os peixes. Ergueu os olhos ao céu,
abençoou-os e partiu-os. Dava graças ao Pai por estar encarregado de os alimentarem com a Boa Nova, após os
séculos da Lei e dos profetas. Os pães também são dados aos apóstolos: era por eles que os dons da graça divina
deviam ser espalhados. Em seguida, as pessoas são alimentadas com os cinco pães e os dois peixes. Uma vez
saciados os convivas, os bocados de pão e de peixe que sobejaram eram de tal forma abundantes que encheram doze
cestos. Isto significa que a multidão fica saciada com a palavra de Deus, que provém do ensinamento da Lei e dos
profetas. É a abundância do poder divino, reservado para os povos pagãos, que transborda na sequência do serviço
do alimento eterno. Ela realiza uma plenitude, a do número doze, como o número dos apóstolos. Ora acontece que o
número dos que comeram é o mesmo que o dos crentes vindouros: cinco mil homens (Mt 14, 21; At.4,4).
Ef.4,7-16– DDDE - p.1500.1
7. Mas a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo,
8. pelo que diz: Quando subiu ao alto, levou muitos cativos, cumulou de dons os homens (Sl 67,19).
9. Ora, que quer dizer ele subiu, senão que antes havia descido a esta terra?
10. Aquele que desceu é também o que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas.
11. A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores,
12. para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo, 13. até que todos tenhamos
chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.
14. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos
homens e de seus artifícios enganadores.
15. Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo.
16. É por ele que todo o corpo - coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que
lhe
é
própria
efetua
esse
Comentário feito por
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Os benefícios da paciência, 7 (a partir da trad. de SC 291, p. 199 rev.)
«Talvez venha a dar frutos no futuro»: imitar a paciência de Deus
Irmãos bem-amados, Jesus Cristo, Nosso Senhor e Deus, não Se contentou em ensinar a paciência por palavras;
também a demonstrou pelos Seus atos. Na hora da paixão e da cruz,
quantos sarcasmos ultrajantes escutados com paciência, quanta troça injuriosa suportada, ao ponto de ser cuspido,
Ele que, com a Sua própria saliva, tinha aberto os olhos a um cego (Jo 9, 6); de Se ver coroado de espinhos, Ele que
coroa os mártires com flores eternas; de Lhe baterem na face com as palmas das mãos, a Ele que concede palmas
verdadeiras aos vencedores; despojado das Suas vestes, Ele que reveste os outros de imortalidade; alimentado com
fel, Ele que dá o alimento celeste; dessedentado com vinagre, Ele que dá a beber o cálice da salvação. Ele, o
inocente, Ele, o justo, ou antes, Ele, que é a própria inocência e a justiça, é contado entre os malfeitores; falsos
testemunhos esmagam a Verdade; Aquele que deverá ser o juiz é submetido a julgamento; a Palavra de Deus é
conduzida ao sacrifício, calando-Se. A seguir, quando os astros se eclipsam, quando os elementos se perturbam,
quando a terra treme, Ele não fala, não Se mexe, não revela a Sua majestade. Suporta tudo até ao fim com uma
constância inesgotável, para que a paciência completa e perfeita tenha o seu auge em Cristo.
E, depois de tudo isto, ainda acolhe os Seus carrascos, se se converterem e se se voltarem para Ele; graças à Sua
paciência, Ele não fecha a Sua Igreja a ninguém. Aos adversários, aos blasfemos, eternos inimigos do Seu nome,
não apenas lhes concede o perdão, se se arrependerem das suas faltas, mas ainda os recompensa com o Reino dos
Céus. Quem poderíamos indicar de mais paciente, de mais benevolente? A mesma pessoa que derramou o sangue de
Cristo é vivificada pelo sangue de Cristo. Tal é a paciência de Cristo, e se não fosse tão grande como realmente é, a
Igreja não teria o Apóstolo Paulo.
Ef,4,11-18 [pg.1500/1] – “Diversidade de funções” – “O homem velho e o novo”.
11.A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores,
12.para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo,
13.até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a
estatura da maturidade de Cristo.
14.Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos
homens e de seus artifícios enganadores.
15.Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo.
16.É por ele que todo o corpo - coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que
lhe é própria - efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade.
17.Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas.
18.Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da vida de Deus.
- O DDDE resguarda nossas vidas pessoais e o nosso serviço aos irmãos de toda a influência do inimigo, para que
não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade
dos homens e de seus artifícios enganadores. Mas, pela prática sincera naquele que é a cabeça, Cristo (...), não
persistindo em viver como pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas, com o entendimento obscurecido e,
por sua ignorância e o endurecimento de seu coração, mantêm-se afastado da obra de Deus.
Ef.6,10-18 - DDDE –pg.1502/3
10.Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder.
11.Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio.
12.Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.
13.Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever.
14.Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça,
15.e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz.
16.Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17.Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.
18.Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica
por todos os cristãos.
- São Paulo nos ensina como fazer para estarmos sempre fortes no Senhor, sem nos deixarmos iludir ou enganar
pelo inimigo: ” Fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que
possais resistir às ciladas do demônio.(...) Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias
maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o
corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão, para anunciar o Evangelho da paz.
Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos do maligno.Tomai, enfim o capacete
da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus.Intensificai as vossas invocações e súplicas.
- Portanto, a obediência à Igreja, a freqüência aos Sacramentos, o estudo da Palavra, a oração pessoal diária, e o
amor e amizade de Maria nos farão crescer no discernimento espiritual.
- O DDDE também protege o uso dos dons carismáticos; por ele os cristãos reconhecem os dons do Espírito Santo e
não são enganados por falsos dons provindos do maligno ou da imaginação do homem.
- Ef.6,11-12- DDDE - pg.1502/3
O mundo nos ameaça muitas vezes através de amigos, crédito, valor, contentamentos, desprezos,honra, prazeres,
poder, entre outras coisas.O demônio que se aproveita desses outros dois inimigos para fortalecer, e, juntamente
com o mundo e a carne, dá forte guerra à alma...só o,poder divino basta para vencê-lo, e só a luz divina é capaz de
entender seus ardis .
“ Revesti-vos da armadilha de Deus para que possais resistir às ciladas do demônio.Porque nós não temos que lutar
contra a carne e o sangue”.
Fl.1,1-11 –DDDE - p1503
1. Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, juntamente com os bispos e
diáconos:
2. a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!
3. Dou graças a meu Deus, cada vez que de vós me lembro.
4. Em todas as minhas orações, rezo sempre com alegria por todos vós,
5. recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6. Estou persuadido de que
aquele que iniciou em vós esta obra excelente lhe dará o acabamento até o dia de Jesus Cristo.
7. É justo que eu tenha bom conceito de todos vós, porque vos trago no coração, por terdes tomado parte na graça que me foi dada, tanto na
minha prisão como na defesa e na confirmação do Evangelho.
8. Deus me é testemunha da ternura que vos consagro a todos, pelo entranhado amor de Jesus Cristo!
9. Peço, na minha oração, que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério,
10. com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
11.cheios
de
frutos
da
justiça,
que
provêm de
Jesus
Cristo,
para
a
glória
e
louvor
de
Deus.
Comentário feito por
Bem-aventurado Guerric d'Igny (c. 1080-1157), monge cisterciense
(a partir da trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 299)
Jesus à mesa com os fariseus
O Criador eterno e invisível do mundo, dispondo-Se a salvar o género humano que se arrastava ao longo dos tempos
sujeito às duras leis da morte, «nestes tempos que são os últimos» (Hb.1, 2) dignou-Se encarnar profundidade do
Seu amor por nós, não apenas Se fez homem, mas homem pobre e humilde, para que, ao aproximar-Se de nós na
Sua pobreza, nos levasse a ter parte nas Suas riquezas (2Co.8, 9). Fez-Se tão pobre por nós, que não tinha onde
repousar a cabeça: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça» (Mt.8,20).Foi por isso que aceitou ir comer uma refeição com os que O convidaram, não pelo
gosto imoderado da comida, mas para aí ensinar a salvação e suscitar a fé. E encheu os convivas de luz pelos Seus
milagres. E os servos, que estavam ocupados no interior e não tinham a liberdade de chegar perto Dele, ouviram a
palavra da salvação. Com efeito, Ele não menosprezava ninguém, ninguém era indigno do Seu amor porque «Vós
tendes compaixão de todos amais tudo o que existe, e não aborreceis nada do que fizestes» (Sab 11, 23-24).Portanto,
para realizar a Sua obra de salvação, o Senhor entrou, num sábado, na casa de um fariseu importante. Os escribas e
os fariseus observavam-No para O poderem repreender, a fim de que, se Ele curasse o hidrópico, O poderem acusar
de violar a Lei e, se não o curasse, O acusarem de impiedade ou fraqueza. Pela luz puríssima da Sua palavra de
verdade, viram desvanecerem-se todas as trevas da sua mentira
Fl.1,4-6.8-11 – DDDE –p.1503
4. Em todas as minhas orações, rezo sempre com alegria por todos vós,
5. recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora.
6. Estou persuadido de que aquele que iniciou em vós esta obra excelente lhe dará o acabamento até o dia de Jesus Cristo.
8. Deus me é testemunha da ternura que vos consagro a todos, pelo entranhado amor de Jesus Cristo!
9. Peço, na minha oração, que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério,
10. com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
11. cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a glória e louvor
de
Deus.
Comentário feito por
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre São Lucas 22, 4 (a partir da trad. SC 87, p. 303 rev.)
«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas»
João Batista dizia: «Toda a ravina será preenchida» (Lc 3,5), mas não foi ele quem preencheu todos os vales, foi o
Senhor, nosso Salvador. «E os caminhos tortuosos ficarão direitos». Cada um de nós era tortuoso e foi a vinda de
Cristo, realizada na nossa alma, que
endireitou tudo o que o era. Nada havia de mais irremediável do que vós. Considerai os desejos desregrados de
outrora, o vosso arrebatamento e todas as outras más inclinações, e vede se desapareceram de vez – compreendereis
que nada havia de mais impraticável do que vós ou até, para usar uma expressão mais forte, de mais tosco. A vossa
conduta era tosca, assim como as vossas palavras e obras. Mas o Senhor, o meu Jesus, veio aplainar as vossas
rugosidades e transformar todo esse caos numa estrada plana para fazer de vós um caminho sem sobressaltos,
perfeitamente liso e todo cuidado, para que Deus Pai possa andar em vós e Cristo Senhor possa em vós morar e
dizer: «O Meu Pai e Eu viremos a ele e nele faremos morada» (Jo.14,23).
Fl.1,9-11– DDDE - pg.1503
9.Peço, na minha oração, que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério.
10.com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
11.cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.
Comentário feito por
Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo
Cem Capítulos Sobre o Conhecimento, 78-80, da Filocalia (tradução a partir da de Bellefontaine 1987, t. 8, p. 159
rev.)
«Cala-te e sai desse homem!»
O Batismo, banho de santidade, lava as manchas do pecado, mas não altera a dualidade da nossa vontade e não impede que os
espíritos do mal nos combatam ou nos enredem nas suas ilusões. Mas a graça de Deus tem a sua morada na profundidade da
alma, ou seja, no entendimento. Com efeito, diz-se que a filha do rei e as donzelas suas amigas «avançam com alegria e júbilo
e entram com alegria no palácio real» (Sl 44, 16): entram para o interior, não se mostram aos demônios. Por isso, quando nos
recordamos de Deus com fervor, sentimos brotar o desejo do divino do fundo do nosso coração. Mas, nessa altura, os espíritos
malignos atacam os sentidos corporais e aí se ocultam, aproveitando o relaxamento da carne. Desta forma, o nosso interior,
como diz o divino apóstolo Paulo, rejubila continuamente na lei do Espírito (Rm.7, 22), mas os sentidos desejam deixar-se
levar pela propensão para os prazeres «A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam» (Jo 1, 5) considerou oportuno
manifestar-Se à Criação em carne e osso, acendendo em nós a luz do Seu conhecimento divino. O espírito do mundo não
acolheu o desígnio de Deus, isto é, não O reconheceu. No entanto, como maravilhoso teólogo, o evangelista João acrescenta:
«O Verbo era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à
existência, mas o mundo não O reconheceu. Veio para o que era Seu e os Seus não O receberam. Mas, a quantos O receberam,
aos que Nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (vv. 9-12). Quando diz que o mundo não recebeu a
verdadeira Luz, o evangelista não se refere a Satanás, que lhe é estranho, visto que A rejeitou desde o início. Com esta
afirmação, São João acusa justamente os homens que compreendem os poderes e as maravilhas de Deus mas, devido aos
corações obscurecidos, não se querem aproximar da claridade do Seu conhecimento.
Fl.3,17-41 - DDDE– p.1506
17. Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos.
18. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de
Cristo,
19. cujo destino é a perdição, cujo deus é o ventre, para quem a própria ignomínia é causa de envaidecimento, e só têm prazer no que é
terreno.
20. Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
21. que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda
criatura.
Comentário feito por
Anastásio do Sinai (?-depois de 700), monge
Homilia sobre a Transfiguração
Moisés e Elias falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém»
Neste dia apareceu misteriosamente no Monte Tabor a condição da vida futura e do Reino da alegria. Neste dia, os
mensageiros da Antiga e da Nova Aliança reuniram-se de forma extraordinária em torno de Deus na montanha,
portadores de um mistério cheio de paradoxo. Neste dia, desenha-se no Monte Tabor o mistério da Cruz que, pela
morte, dá a vida: assim como Cristo foi crucificado entre dois homens no Monte Calvário, assim também Se
apresentou na majestade divina entre Moisés e Elias. E a festa de hoje mostra-nos este outro Sinai, montanha ó quão
mais preciosa que o Sinai, pelas suas maravilhas e os seus eventos, que ultrapassa, pela teofania que nela se deu, as
visões divinas figuradas e obscuras. Rejubila, ó Criador de todas as coisas, Cristo Rei, Filho de Deus resplandecente
de luz, que transfiguraste à Tua imagem toda a criação e de forma misteriosa a recriaste. E rejubila, ó imagem do
Reino celeste, santíssimo Monte Tabor, que ultrapassas em beleza todas as montanhas! Monte Gólgota e Monte das
Oliveiras, cantai juntos um hino e rejubilai; cantai a Cristo a uma só voz no Monte Tabor e celebrai-O juntos!
- Fl.4,8 [pg.1506]-“Recomendações finais”.
Após o discernimento é preciso ser obediente de forma radical para cumprir não o que os outros exigem nem o que
exigimos de nós mesmos, mas o que Deus nos pede,em cada situação:
“ Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e
louvável, é o que deve ocupar vossos pensamentos.
(Fl.2,6-11) – DDDE – p.1504.5
6.Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus,
7.mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.
8.E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.
9.Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes,
10para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos.
11.E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.
Comentário feito por
Santo João Crisóstomo (c. 345-407), padre em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homília sobre «Pai, se é possível» (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 72)
«Tanto amou Deus o mundo»
Foi a cruz que reconciliou os homens com Deus, que fez da terra um céu, que uniu os homens aos anjos. Ela
derrubou a cidadela da morte, destruiu o poder do demônio, libertou a terra do mal, estabeleceu os fundamentos da
Igreja. A cruz é a vontade do Pai, a glória do Filho, o júbilo do Espírito Santo. A cruz é mais brilhante que o sol
porque, quando o sol se turva, a cruz resplandece; e o sol turva-se, não no sentido de ser aniquilado, mas de ser
vencido pelo esplendor da cruz. A cruz rasgou a ata da nossa condenação, quebrou as cadeias da morte. A cruz é a
manifestação do amor de Deus: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o Seu Filho Unigênito, a fim de que
todo
o
que
Nele
crê
não
se
perca».
A cruz abriu o paraíso, deixou que nele entrasse o malfeitor (Lc.23,43) e conduziu ao Reino dos Céus a criatura
humana, destinada à morte.
Comentário feito por
Proclo de Constantinopla (c. 390-446), bispo
Sermão 9, para o Dia de Ramos; PG 65, 772 (a patir da trad. Brésard, 2000 anos, ano C, p. 108)
«Bendito Aquele que vem, o nosso Rei»
O dia de hoje, meus bem-amados, é da maior importância. É um dia que nos solicita um grande desejo, uma pressa
imensa, um alento vivo, para nos conduzir ao encontro do Rei dos Céus. Paulo, o mensageiro da Boa Nova, dizianos: «O Senhor está perto. Não vos inquieteis» (Fl.4,5-6). Acendamos, pois, as lamparinas da fé; à semelhança das
cinco virgens sensatas (Mt 25, 1ss.), enchamo-las do óleo da misericórdia para com os pobres; acolhamos a Cristo
bem despertos, e cantemos-Lhe com as palmas da justiça na mão. Beijemo-Lo, derramando sobre Ele o perfume de
Maria (Jo 12, 3). Ouçamos o cântico da ressurreição: que as nossas vozes se elevem, dignas da majestade divina, e
brademos com o povo, soltando esse grito que se escapa das bocas da multidão: «Hossana nas alturas! Bendito seja
Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel». É razoável chamar-Lhe «Aquele que vem», porque Ele vem
sem cessar, porque Ele nunca nos falta: «O Senhor está próximo de quantos O invocam em verdade» (Sl 144, 18).
«Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor».O Rei manso e pacífico está à nossa porta. Aquele que tem o
trono nos céus, acima dos querubins, senta-Se, cá em baixo, sobre uma burrinha. Preparemos a casa da nossa alma,
limpemos as teias de aranha que são os mal-entendidos fraternos, que não haja em nós a poeira da maledicência.
Difundamos às mãos-cheias a água do amor, e apazigüemos todas as feridas criadas pela animosidade; semeemos o
vestíbulo dos nossos lábios com as flores da piedade. E soltemos então, na companhia do povo, esse grito que brota
dos lábios da multidão: «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel».
Fl.4,4-7– DDDE - p1506
4. Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!
5. Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo.
6. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a
ação de graças.
7. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus.
Comentário feito por
Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero e mártir
Sermão sobre a santa Teofania; PG 10, 852 (a partir da trad. Année en fêtes, Migne 2000, p.136 rev.)
«Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Batista; e, no entanto, o mais
pequeno no Reino do Céu é maior do que ele.»
Veneremos a compaixão de um Deus que veio salvar e não julgar o mundo. João, o precursor do Mestre, que até
então desconhecia este mistério, logo que percebeu que Jesus era verdadeiramente o Senhor, clamou àqueles que
tinham vindo pedir o batismo: «Raça de víboras» (Mt.3,6), porque me olhais com tanta insistência? Eu não sou o
Cristo. Sou um servo e não o Mestre. Sou um simples súbdito, não sou o rei. Sou uma ovelha, não o pastor. Sou um
homem, não um Deus. Curei a esterilidade da minha mãe vindo ao mundo, mas não tornei fecunda a sua virgindade;
fui tirado de baixo, não desci das alturas. Emudeci a língua do meu pai (Lc 1, 20), não manifestei a graça divina.
Sou miserável e pequeno, mas depois de mim virá Aquele que é antes de mim (Jo.1,30). Ele vem depois, no tempo;
mas anteriormente estava na luz inacessível e inefável da divindade. «Aquele que vem depois de mim é mais
poderoso do que eu e não sou digno de Lhe descalçar as sandálias. Ele há de batizar-vos no Espírito Santo e no
fogo» (Mt.3,11). Eu estou subordinado; Ele é livre. Eu estou sujeito ao pecado, Ele destrói o pecado. Eu ensino a
Lei, Ele traz-nos a luz da graça. Eu prego como escravo, Ele legisla como mestre. Eu tenho por leito o chão, Ele os
Céus. Eu dou-vos o batismo do arrependimento, Ele dá a graça da adoção. «Ele há de batizar-vos no Espírito Santo
e no fogo». Porque me venerais? Eu não sou o Cristo.
Comentário feito por
São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo
Sermão 88 (a partir da trad. Année en Fêtes, Migne 2000, p. 37)
«Vai chegar alguém mais forte do que eu«
João não falava apenas do seu tempo quando anunciou o Senhor aos fariseus, dizendo: «Preparai os caminhos do
Senhor, endireitai as Suas veredas» (Mt.3,3). João brada hoje em nós, e o trovão da sua voz abala o deserto dos
nossos pecados. Mesmo abafada pelo sono
do martírio, a sua voz ressoa ainda, e continua a dizer-nos: «Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas
veredas». João Baptista ordenou, pois, que preparássemos os caminhos do Senhor. Vejamos que caminho preparou
ele para o Salvador. Desde o princípio, traçou e ordenou na perfeição o caminho para a chegada de Cristo, pois foi
em todas as coisas sóbrio, humilde, contido e virgem. É ao descrever todas estas virtudes que o evangelista afirma:
«João trazia um trajo de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel
silvestre» (Mt.3,4). Que sinal maior de humildade pode haver num profeta do que o desprezo pelas vestes elegantes,
em troca de pêlos rugosos? Que mais profundo sinal de fé pode haver do que estar sempre pronto, de rins cingidos,
para desempenhar todas as tarefas servis? Que marca de abstinência mais notável pode haver, do que a renúncia às
delícias desta vida, para se alimentar de gafanhotos e mel silvestre?. Todos estes comportamentos do profeta eram, a
meu ver, proféticos em si mesmos. Que o mensageiro de Cristo se vestisse de pêlos de camelo significava, muito
simplesmente, que Cristo, ao vir a este mundo, Se revestiria do nosso corpo humano, deste tecido grosso, enrugado
pelos nossos pecados. O cinto de couro significa que a nossa frágil carne, orientada para o vício antes da vinda de
Cristo, seria por Ele conduzida à virtude.
Cl.2,12-14 –DDDE p.1509
12.Sepultados com ele no batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos.
13.Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão da vossa carne, chamou-vos novamente à vida em companhia com ele. É ele que nos
perdoou todos os pecados,
14.cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz.
Comentário feito por
João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005
Encíclica «Dives in Misericórdia», cap. 8, § 15 (trad. copyright © Libreria Editrice Vaticana)
«Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu!»
Quanto mais a consciência humana, vítima da secularização, esquecer o próprio significado da palavra
«misericórdia», e quanto mais, afastando-se de Deus, se afastar do mistério da misericórdia, tanto mais a Igreja tem
o direito e o dever de apelar «com grande clamor» (Mt 15, 23) para o Deus da misericórdia. Este «grande clamor»,
elevado até Deus para implorar a Sua misericórdia caracterizará a Igreja do nosso tempo. O homem contemporâneo
interroga-se com profunda ansiedade quanto à solução das terríveis tensões que se acumulam sobre o mundo e se
entrecruzam nos caminhos da humanidade. Se algumas vezes o homem não tem a coragem de pronunciar a palavra
«misericórdia», ou não lhe encontra equivalente na sua consciência despojada de todo o sentido religioso, ainda se
torna mais necessário que a Igreja pronuncie esta palavra, não só em nome próprio, mas também em nome de todos
os homens contemporâneos.É, pois, necessário que tudo o que acabamos de dizer no presente documento sobre a
misericórdia se transforme continuamente em fervorosa oração, num clamor a suplicar a misericórdia, segundo as
necessidades do homem no mundo contemporâneo. E que este clamor esteja impregnado de toda a verdade sobre a
misericórdia que tem expressão tão rica na Sagrada Escritura e na Tradição, e também na autêntica vida de fé de
tantas gerações do Povo de Deus. Com este clamor apelamos, como fizeram os Autores sagrados, para o Deus que
não pode desprezar nada daquilo que criou (Sab 11, 24), para o Deus que é fiel a Si próprio, à Sua paternidade e ao
Seu amor.
- 1Ts.5,21-[pg.1514] – “ Examinai tudo:abraçai o que é bom”.
-Tudo o que impulsiona e se apresenta ao homem cristão:sentimentos, ações, desejos, planos, palavras e tantas
outras coisas, deve, antes de discernido, se examinado à luz de Deus: “ Examinai tudo:abraçai o que é bom.Guardaivos de toda espécie de mal”.
1Tm.1,1-2.2-14- DDDE –p.1517
1.Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Jesus Cristo, nossa esperança,
2.a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia, paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor!
2.
1.Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens,
2.pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e
honestidade.
3.Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador,
4.o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
5.Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem
6.que se entregou como resgate por todos. Tal é o fato, atestado em seu tempo;
7.e deste fato - digo a verdade, não minto - fui constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios, na fé e na verdade.
8.Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando as mãos puras, superando todo ódio e ressentimento.
9.Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em
primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo,
10.e sim em boas obras, como convém a mulheres que professam a piedade.
11.A mulher ouça a instrução em silêncio, com espírito de submissão.
12.Não permito à mulher que ensine nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio.
13.Pois o primeiro a ser criado foi Adão, depois Eva.
14.E não foi Adão que se deixou iludir, e sim a mulher que, enganada, se tornou culpada de transgressão.
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (norte de África) e Doutor da Igreja
Explicação do Sermão da Montanha , 19, 63 (a partir da trad. DDB 1978, p.133)
A palha e o argueiro
Nesta passagem, o Senhor previne-nos contra os juízos temerários e injustos, pois pretende que ajamos com um
coração simples, olhando sempre só para Deus. Dado que ignoramos o motivo de muitas ações, seria temerário da
nossa parte julgá-las. Os mais dispostos a fazer juízos temerários e a condenar os outros são aqueles que preferem
condená-los a corrigi-los e trazê-los ao bem, uma atitude que denota orgulho e mesquinhez. Por exemplo, um
homem peca por cólera, e tu repreende-lo com ódio. Entre a cólera e o ódio vai a mesma distância que separa a
palha do argueiro. O ódio é uma cólera inveterada que, com o tempo, assumiu proporções tais, que bem merece o
nome de argueiro. Pode acontecer que te encolerizes quando pretendias corrigir, mas não deves nunca deixar-te
levar pelo ódio. Afasta primeiro o ódio para longe de ti, e poderás depois corrigir aquele que amas.
2Ts.1,11-2,2 – DDDE - p1522
11. Nesta esperança suplicamos incessantemente por vós, para que nosso Deus vos faça dignos da vossa vocação e que leve eficazmente a
bom
termo
todo
o
vosso
zelo
pelo
bem
e
a
atividade
de
vossa
fé.
1. No que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos,
2. não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como
procedentes
de
nós
e
que
vos
afirmassem
estar
iminente
o
dia
do
Senhor.
Tt.1,1-9 – DDDE – p.1524.5
1.Paulo, servo de Deus, apóstolo de Jesus Cristo para levar aos eleitos de Deus a fé e o profundo conhecimento da verdade que conduz à
piedade,
2.na esperança da vida eterna prometida em tempos longínquos por Deus veraz e fiel,
3.que na ocasião escolhida manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por ordem de Deus, nosso Salvador,
4.a Tito, meu verdadeiro filho em nossa fé comum: graça e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, nosso Salvador!
5.Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei.
6.(Devem ser escolhidos entre) quem seja irrepreensível, casado uma só vez, tenha filhos fiéis e não acusados de má conduta ou
insubordinação.
7.Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem
intemperante, nem violento, nem cobiçoso.
8.Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente,
9.firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem.
Comentário feito por
Siluane (1866-1938), monge, santo das igrejas ortodoxas
Escritos (a partir da trad. Sophrony, Starets, Présence 1975, p. 442)
«Se tivésseis fé como um grão de mostarda»
Dantes, pensava que o Senhor realizava milagres apenas em resposta às orações dos santos, mas agora compreendi
que o Senhor também realiza milagres pelo pecador, desde que a alma deste se humilhe; porque, quando o homem
aprende a humildade, o Senhor escuta as suas orações. Muitos, por inexperiência, dizem que determinado santo fez
um milagre, mas compreendi que é o Espírito Santo que habita no homem que realiza os milagres. O Senhor quer
que todos sejam salvos e que vivam eternamente com Ele, e é por isso que ouve as orações do homem pecador, que
se Lhe dirige para o bem dos outros ou para o seu próprio bem.
Hb.2,14-18 – DDDE- p.1528
14. Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte
aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio,
15. e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão.
16. Veio em socorro, não dos anjos, e sim da raça de Abraão;
17. e por isso convinha que ele se tornasse em tudo semelhante aos seus irmãos, para ser um pontífice compassivo e fiel no serviço de
Deus, capaz de expiar os pecados do povo.
18. De fato, por ter ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados.
Comentários feito por:
Santo Isaac o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos (trad. Deseille, La Fournaise de Babylone, Eds. Présence 1974, p. 88)
«De madrugada, ainda escuro, levantou-Se e saiu; foi para um lugar solitário e ali Se pôs em oração.»
Nada torna a alma pura e feliz, nem a ilumina e afasta dela os maus pensamentos, como as vigílias. Por isso, todos
os nossos pais perseveraram neste trabalho das vigílias e adotaram por regra permanecer acordados de noite durante
todo o curso da sua vida ascética. Fizeram-no especialmente porque tinham entendido o nosso Salvador convidarnos a isso insistentemente, em diversos lugares, pela Sua Palavra viva: «Velai, pois, orando continuamente»
(Lc.21,36); «Vigiai e orai, para não cairdes em tentação» (Mt.26,41); e ainda: «Orai sem cessar» (1Tes.5,17). E não
Se contentou com advertir-nos apenas por palavras. Deu-nos também o exemplo na Sua pessoa, honrando a prática
da oração acima de qualquer outra coisa. Por isso Ele se isolava constantemente para rezar, e isso não era feito de
um modo qualquer, mas escolhendo por tempo a noite e por lugar o deserto, a fim de que também nós, evitando as
multidões e o tumulto, nos tornemos capazes de orar na solidão. Por isso os nossos pais receberam este alto
ensinamento a respeito da oração como se ele viesse do próprio Cristo. E escolheram vigiar na oração segundo a
ordem do apóstolo Paulo, sobretudo a fim de poderem permanecer sem nenhuma interrupção na proximidade de
Deus pela oração contínua. Nada que venha do exterior os atinge e nada altera a pureza do seu intelecto, o que
perturbaria estas vigílias que os enchem de alegria e que são a luz da alma.
Comentário feito por
Bem-aventurado Guerric d'Igny (c. 1080-1157), prior cisterciense
1º Sermão para a Purificação (a partir da trad. cf SC 166, pp. 309ss.)
«Simeão tomou-O nos braços e bendisse a Deus»
«Tende na mão as vossas lâmpadas acesas» (Lc.12,35). Mostremos assim, através deste sinal visível, a alegria que
partilhamos com Simeão, que tem nas mãos a luz do mundo. Sejamos ardentes pela nossa devoção e luminosos
pelas nossas obras, e, com Simeão, levaremos Cristo em nossas mãos. Hoje a Igreja tem o hábito tão belo de nos
fazer levar velas. Por conseguinte, quem é que hoje, tendo a sua vela acesa na mão, não se lembra do bem
aventurado ancião? Nesse dia, ele tomou Jesus nos braços, o Verbo presente na carne, semelhante à luz na cera,
testemunhando que Ele era «a Luz para se revelar às nações». É verdade que o próprio Simeão era «uma luz ardente
e brilhante», que prestava homenagem à luz (Jo.5, 35; 1, 7). Foi por isso que ele veio ao Templo, conduzido pelo
Espírito, do qual estava repleto, «para receber, ó Deus, a Tua misericórdia no meio do Teu Templo» (Sl.47, 10) e
para proclamar que ela era a misericórdia e a luz do Teu povo.Ó ancião cintilando de paz, não tinhas apenas a luz
em tuas mãos, foste penetrado por ela. Tu estavas tão iluminado por Cristo, que vias antecipadamente como Ele
iluminaria as nações, como resplandeceria hoje o brilho da nossa fé. Regozija-te agora, santo ancião; vê hoje o que
tinhas entrevisto antecipadamente: as trevas do mundo dissiparam-se; «as nações caminham à Sua luz»; «toda a
terra está repleta da Sua glória» (Is.60, 3; 6, 3).
1Pd.1,3-9 – p.1542.3 – DDDE DDFC
3.Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Na sua grande misericórdia ele nos fez renascer pela ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, para uma viva esperança,
4.para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada para vós nos céus;
5.para vós que sois guardados pelo poder de Deus, por causa da vossa fé, para a salvação que está pronta para se manifestar nos últimos
tempos.
6.É isto o que constitui a vossa alegria, apesar das aflições passageiras a vos serem causadas ainda por diversas provações,
7.para que a prova a que é submetida a vossa fé (mais preciosa que o ouro perecível, o qual, entretanto, não deixamos de provar ao fogo)
redunde para vosso louvor, para vossa honra e para vossa glória, quando Jesus Cristo se manifestar.
8.Este Jesus vós o amais, sem o terdes visto; credes nele, sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa,
9.porque
vós
estais
certos
de
obter,
como
preço
de
vossa
fé,
a
salvação
de
vossas
almas.
Comentário feito por
Relato de três companheiros de São Francisco de Assis (c. 1244)
§§ 7-8 (a partir da trad. de Debonnet e Vorreux, Ed. Franciscaines, 1968, p.810)
Início da conversão de São Francisco
Certa noite, depois do seu regresso a Assis, os companheiros do jovem Francisco elegeram-no como chefe do grupo.
Com tantas vezes tinha feito, mandou então preparar um suntuoso banquete. Depois de saciados, saíram todos e
percorreram a cidade, a cantar. Os companheiros, em grupo, iam à frente de Francisco; este, empunhando o bastão
de chefe, fechava o cortejo, um pouco mais atrás, sem cantar, mergulhado nos seus pensamentos. E eis que, de
súbito, o Senhor lhe aparece, enchendo-lhe o coração de uma doçura tal, que ele ficou sem conseguir falar, sem se
mexer . Quando os companheiros se voltaram para trás e o viram assim tão longe deles, voltaram atrás e
aproximaram-se, receosos; encontraram-no mudado, como se fosse outro homem. Perguntaram-lhe: «Em que é que
pensavas para te esqueceres assim de nos seguir? Estarias a pensar em arranjar mulher?» «Têm toda a razão! Decidi
ter esposa, uma esposa mais nobre, mais rica e mais bela do que todas as que vocês já viram». Os companheiros
puseram-se a troçar dele A partir daquele momento, ele fazia os possíveis para que Jesus Cristo lhe ocupasse a alma,
e bem assim aquela pérola que tanto desejava comprar depois de tudo ter vendido (Mt 13, 46). Furtando-se
freqüentemente aos olhos dos que dele troçavam, ia muitas vezes – quase diariamente – rezar em segredo. De
alguma maneira a isso era impelido pelo gozo antecipado daquela doçura extrema que tantas vezes o visitava e que
com tanta força o atraía, estando ele na praça ou noutros locais públicos, para a oração.
1Pd.5,1-4 – DDDE – p.1546
1.Eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós; porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei
participante com eles daquela glória que se há de manifestar.
2.Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado.Tende cuidado dele,não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de
interesse sórdido, mas com dedicação;
3.não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho.
4.E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão atribuído (a partir da trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 399)
«Chamar-te-ás Pedro» (Jo 1, 42)
«Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja.» Este nome, Pedro, foi-lhe dado porque ele foi o primeiro
a criar, entre as nações, os fundamentos da fé, e porque ele é a rocha indestrutível sobre a qual assentam os pilares e
o conjunto do edifício de Jesus Cristo. Foi pela sua fidelidade que lhe chamaram pedra, enquanto o Senhor recebe
este mesmo nome pelo Seu poder, segundo a palavra de São Paulo: «Eles bebiam a água da pedra espiritual que os
seguia, e esta Pedra é Jesus Cristo» (1Cor 10, 4). Sim, ele merecia partilhar o nome com Jesus Cristo, pois foi o
apóstolo escolhido para ser o colaborador da Sua obra. Em conjunto, construíram o mesmo edifício. É Pedro quem
planta, é o Senhor que dá o crescimento, é o Senhor que envia aqueles que deverão regar (cf 1Cor 3, 6ss.). Vós
sabeis, irmãos muito amados, que foi a partir das suas próprias faltas, no momento em que o seu Salvador sofria,
que o bem-aventurado Pedro foi educado. Foi depois de ter negado o Senhor que ele se tornou o primeiro perante
Ele. Ao tornar-se mais fiel por chorar sobre a fé que tinha traído, recebeu uma graça ainda maior do que aquela que
tinha perdido. Cristo confiou-lhe o Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele que tinha sido tão
fraco, tornou-se então o apoio de todos. Ele que, interrogado na sua fé, tinha sucumbido, precisava de confirmar os
outros no fundamento inabalável da fé. E por isso que é chamado a pedra fundamental da piedade das Igrejas.
1Pd.3,18-22- DDDE– p.1545
18.Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua
carne, mas foi vivificado quanto ao espírito.
19.É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido
rebeldes,
20.quando Deus aguardava com paciência, enquanto se edificava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, apenas oito se salvaram através da
água.
21.Esta água prefigurava o batismo de agora, que vos salva também a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que
consiste em pedir a Deus uma consciência boa, pela ressurreição de Jesus Cristo.
22.Esse Jesus Cristo, tendo subido ao céu, está assentado à direita de Deus,
depois
de
ter
recebido
asubmissão
dos
anjos,
dos
principados
e
das
potestades.
Comentário feito por
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Discursos sobre os Salmos, PS 60; CCL 39, 766 (trad. Brésard, 2000 anos C, p. 88)
«Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado» (Hb.4,15)
«Escutai, ó Deus, o meu clamor, atendei a minha oração!. Dos confins da terra grito por Vós, com o meu coração
desfalecido.» (Sl 60, 2-3). Dos confins da terra, ou seja, de toda a parte. Não é só uma pessoa que fala assim; e, no
entanto, é uma só pessoa, porque não há senão um só Cristo do qual somos os membros (Ef 5,23). Aquele que grita
dos confins da terra está na angústia, mas não está abandonado. Porque fomos nós, ou seja, o Seu corpo, que o
Senhor quis prefigurar no Seu próprio corpo. Simbolizou-nos na Sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás.
Lê-se no Evangelho que Nosso Senhor, o Cristo Jesus, foi tentado no deserto pelo diabo. Em Cristo, és tu que és
tentado, porque Cristo tomou de ti a Sua humanidade para te dar a Sua salvação, de ti tomou a Sua morte para te dar
a Sua vida, de ti sofreu os Seus ultrajes para te dar a Sua honra. Foi portanto de ti que Ele tomou as tentações, para
te dar a Sua vitória. Se somos tentados n'Ele, n'Ele também triunfaremos do diabo.
Reconheces que Cristo foi tentado, e não reconheces que alcançou a vitória? Reconhece-te como tentado n'Ele,
reconhece-te como vencedor n'Ele. Ele poderia ter impedido o diabo de se aproximar d'Ele; mas, se não tivesse sido
tentado, como nos teria ensinado a maneira de vencer a tentação? Eis por que motivo não é de espantar que,
atormentado pela tentação, Ele grite dos confins da terra segundo este salmo. Mas por que não é vencido? O salmo
continua: «Conduzi-me ao rochedo». Recorda o Evangelho: «Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt.16, 8).
Assim, é a Igreja, que Ele quis construir sobre a pedra, que grita dos confins da terra. Mas quem se tornou rochedo,
para que a Igreja pudesse ser construída sobre a rocha? Ouçamos São Paulo: «O rochedo era Cristo» (1Co.10,4). É
pois sobre Ele que nós somos edificados. Eis por que razão a pedra sobre a qual somos construídos foi a primeira a
ser batida pelos ventos, pelas torrentes e pelas chuvas, quando Cristo foi tentado pelo diabo (Mt.7,25). Eis a
fundação inabalável sobre a qual Ele te quis edificar.
1Pd.5,5-14 –DDDE - p.1546
5. Semelhantemente, vós outros que sois mais jovens, sede submissos aos anciãos. Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de
humildade; porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes (Pr 3,34).
6. Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno.
7. Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós.
8. Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar.
9. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que os vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós.
10. O Deus de toda graça, que vos chamou em Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, vos
tornará inabaláveis, vos fortificará.
11. A ele o poder na eternidade! Amém.
12. Por meio de Silvano, que estimo como a um irmão fiel, vos escrevi essas poucas palavras. Minha intenção é de admoestar-vos e
assegurar-vos que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual estais firmes.
13. A igreja escolhida de Babilônia saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho.
14. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo afetuoso. A paz esteja com todos vós que estais em Cristo.
Comentário feito por
Santo Irineu de Lyon (c.130-c.208), Bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, III, 1 (a partir da trad. Cerf 1984, p. 276 rev.)
«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura»
O Senhor de todas as coisas deu aos seus apóstolos o poder de proclamar o Evangelho. E é através deles que
conhecemos a verdade, isto é, os ensinamentos do Filho de Deus. Foi a eles que o Senhor disse:«Quem vos ouve é a
Mim que ouve, e quem vos rejeita é a Mim que rejeita; mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou.»
(Lc.10,16). Porque nós só conhecemos o plano da nossa salvação através daqueles que nos fizeram chegar o
Evangelho, não por outros.Este Evangelho foi, primeiro, pregado pelos apóstolos. Depois, por vontade de Deus,
transmitiram-no na Escritura para que se tornasse «coluna e sustentáculo» da nossa fé (1Tm.3,15). Não devemos
dizer que o pregaram antes de terem obtido o conhecimento perfeito, como alguns se atrevem a pretender, esses que
se gabam de ser os corretores dos apóstolos. Com efeito, depois de Nosso Senhor ter ressuscitado de entre os mortos
e de os apóstolos terem sido «revestidos com a força do Alto» (Lc.24,49) pela vinda do Espírito Santo, ficaram
cheios de certeza acerca de tudo e possuíram pois o conhecimento perfeito. Então, foram «até aos confins do
mundo» (Sl.18,5; Rm.10,18) proclamando a Boa Nova dos bens que nos vêm de Deus e anunciando aos homens a
paz do Céu. Todos eles possuíam, de maneira igual e cada um particularmente, o Evangelho de Deus.
1Jo.2,12-27 - DDDE – p.1550
12.Filhinhos, eu vos escrevo, porque vossos pecados vos foram perdoados pelo seu nome.
13 Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque vencestes o Maligno.
14.Crianças, eu vos escrevo, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu
vos escrevi, porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o Maligno.
15 Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai.
16.Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede do Pai, mas
do mundo.
17.O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente.
Comentário feito por
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
2ª homilia sobre o Cântico dos Cânticos, §8 (a partir da trad. Seuil 1953, p. 98)
Pôs-se a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
Ó rebento de Jessé, Tu que és um sinal para todos os povos, quantos reis e profetas desejaram ver-Te e não Te
viram! Feliz daquele que, na sua velhice, foi cumulado com o dom divino da Tua vinda! Ele tremeu em desejo de
ver o sinal, viu-o e alegrou-se. Tendo recebido o beijo da paz, deixou este mundo com a paz no coração, não sem
antes proclamar que Jesus tinha nascido para ser um sinal de contradição. E essa profecia cumpriu-se: mal apareceu,
o sinal da paz foi contraditado, mas por aqueles que têm ódio à paz. Porque Ele é a paz para os homens de boa
vontade, mas para os mal intencionados é pedra de tropeço. Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. O
Senhor veio a ele, mas os Seus não o receberam. Felizes os pobres pastores que, velando na noite, foram
considerados dignos de ver este sinal!Já nesse tempo Ele Se escondia aos pretensos sábios e prudentes, revelandoSe aos humildes. Aos pastores, o anjo disse: «Eis o sinal para vós.» Ele é para vós, os humildes e obedientes, para
vós que não vos jactais de ciência orgulhosa, mas que velais noite e dia, meditando na lei de Deus. Eis o sinal para
vós! Aquele que os anjos prometiam, Aquele que os povos reclamavam, Aquele que os profetas anunciaram. Eis,
pois, o sinal para vós; mas sinal de quê? De perdão, de graça, de paz, duma paz que não terá fim. Eis o sinal para
vós: um Menino envolto em panos e reclinado numa manjedoura. Mas Deus está Nele, reconciliando o mundo
Consigo. Este Menino é o beijo de Deus, o Mediador entre Deus e os homens, Jesus homem e Cristo, que vive e
reina pelos séculos dos séculos.
1.Jo.4,1-6– DDDE - pg.1552
1.Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no
mundo.
2.Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus; 3.todo espírito que não
proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo.
4.Vós, filhinhos, sois de Deus, e os vencestes, porque o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo.
5.Eles são do mundo. É por isto que falam segundo o mundo, e o mundo os ouve.
6.Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da
Verdade e o espírito do erro.
- São João Evangelista nos adverte quanto “a necessidade de examinarmos se os espíritos são de Deus e nos ensina
como reconhecê-lo”:
“Todo espírito que proclama Jesus Cristo que se encarnou é de Deus” e “ os espíritos do mundo falam segundo o
mundo, e que é do mundo os ouve. Ao passo que os que são de Deus, que conhecem a Deus, ouvem a Deus”. É isso
que nos dá a graça de distinguir o Espírito da Verdade e o espírito do erro.
Comentário feito por:
Odes de Salomão (texto cristão hebraico do princípio do séc. II)
N° 15
«Sobre aqueles que habitavam no país das sombras e da morte, fez-se uma luz»
Tal como o sol é a alegria
dos que procuram a luz,
assim a minha alegria é o Senhor,
pois Ele é o meu sol.
Os seus raios reergueram-me,
a sua luz dissipou todas as trevas da minha fronte.
Graças a Ele foram-me dados estes olhos,
E pude ver a sua luz santa;
Foram-me dados ouvidos
e pude ouvir a sua verdade;
foi-me dado o pensamento da ciência
e por seu intermédio me alegrei.
Abandonei o caminho do erro,
fui junto d’Ele,
e d’Ele generosamente recebi a salvação.
Ele muito me deu, por sua benevolência,
e a sua beleza modelou-me.
Em seu nome, cobri-me de incorruptibilidade,
abandonei a corrupção por sua divina graça.
A mortalidade desapareceu defronte do meu rosto,
A morada dos mortos foi aniquilada pelas minhas palavras,
Ergueu-se uma vida imortal na terra do Senhor.
Ela foi revelada aos crentes
e sem reservas concedida
a todos os que a Ele se entregam.
Amém!
1Jo.5,5-13 DDDE - p.1553
5. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?
6. Ei-lo, Jesus Cristo, aquele que veio pela água e pelo sangue; não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é quem dá
testemunho dele, porque o Espírito é a verdade.
7. São, assim, três os que dão testemunho:
8. o Espírito, a água e o sangue; estes três dão o mesmo testemunho.
9. Aceitamos o testemunho dos homens. Ora, maior é o testemunho de Deus, porque se trata do próprio testemunho de Deus, aquele que ele
deu do seu próprio Filho.
10. Aquele que crê no Filho de Deus tem em si o testemunho de Deus. Aquele que não crê em Deus, o faz mentiroso, porque não crê no
testemunho que Deus deu a respeito de seu Filho.
11. E o testemunho é este: Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho.
12. Quem possui o Filho possui a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.
13. Isto vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna, vós que credes no nome do Filho de Deus.
Comentário feito por:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano do século XIII, Doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos (trad. Bayart, Ed. franciscanas 1944, p. 71)
«Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado»».
Oh, como admiro esta mão! Esta mão do meu amado, de ouro engastado de rubis (Ct.5,14). Esta mão cujo contacto
solta a língua do mudo, ressuscita a filha de Jairo (Mc 7, 33; 5, 41) e purifica o leproso. Esta mão da qual o profeta
Isaías nos diz: «Todas estas coisas fez a Minha mão» (66, 2).Estender a mão é dar um presente. Oh Senhor, estende
a Tua mão –
essa mão que o carrasco estenderá sobre a cruz. Toca o leproso e concede-lhe essa graça. Tudo aquilo em que a Tua
mão tocar será purificado e curado. «E tocando na orelha do servo», diz São Lucas, «curou-o» (22, 51). Estende a
mão para conceder ao leproso o dom da saúde. Ele diz: «Quero, fica purificado» e imediatamente a lepra se cura;
«faz tudo o que Lhe apraz» (Sl 113B, 3). Nele nada separa o querer do realizar.Ora, esta cura instantânea opera-a
Deus cada dia na alma do pecador pelo ministério do sacerdote. Este tem um triplo ofício: estender a mão, quer
dizer, rezar pelo pecador e ter piedade dele; tocar-lhe, consolá-lo, prometer-lhe o perdão; querer esse perdão e darlho através da absolvição. Tal é o triplo ministério pastoral que o Senhor confiou a Pedro, quando lhe disse por três
vezes: «Apascenta as Minhas ovelhas» (Jo 21, 15-17).
Comentário feito por
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e posteriormente Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homilias sobre São Mateus, n.º 25, 1-3 (a partir da trad. Véricel, l'Evangile commenté, pp.100-101)
«Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.»»
Jesus não disse simplesmente: «Quero, fica purificado.» Fez mais e melhor: «Estendeu a mão e tocou-lhe.» Este é
um fato digno de atenção. Dado que podia curá-lo por um ato da Sua vontade e pela palavra, porque lhe tocou com a
mão? Pela única razão de mostrar, quero crer, que não era inferior mas superior à Lei; e também para mostrar que,
dali em diante, nada é impuro para quem é puro. A mão de Jesus não ficou impura no contacto com o leproso; ao
invés, o corpo do leproso ficou purificado pela santidade dessa mão. Cristo veio não apenas para curar os corpos,
mas para elevar as almas à santidade; Ele ensina-nos aqui a cuidarmos da nossa alma, a purificá-la, sem nos
preocuparmos com abluções exteriores. A única lepra a temer é a da alma, isto é, o pecado. Quanto a nós, devemos
dar continuamente a Deus ações de graças. Agradeçamos-Lhe não apenas pelos bens que nos concedeu, mas ainda
pelos que concedeu aos outros: poderemos assim destruir a inveja, manter e fazer crescer o nosso amor ao próximo.
2Jo.1,4-9 – DDDE – p.1554
4. Muito me alegrei por ter achado entre teus filhos alguns que andam na verdade, conforme o mandamento que temos recebido do Pai.
5. E agora rogo-te, Senhora, não como quem te escreve um novo mandamento, mas sim o que tivemos desde o princípio: que nos amemos
uns aos outros.
6. Nisto consiste o amor: que vivamos segundo seus mandamentos. É este o mandamento que tendes ouvido desde o princípio, e segundo o
qual deveis viver.
7. Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo que se encarnou. Quem assim proclama é o sedutor e
o Anticristo.
8. Acautelai-vos, para que não percais o fruto de nosso trabalho, mas antes possais receber plena recompensa. 9.Todo aquele que caminha
sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus. Quem permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho.
Comentário feito por
São Romano, o Melodista (? – c. 560), compositor de hinos
Hino de Noé, str. 11ss. (a partir da trad. SC 99, pp. 117 ss. rev.)
«Como nos dias de Noé»
O sábio Noé embarcou na arca por ordem de Deus, com os seus filhos e as mulheres destes, ao todo somente oito
almas. Sem parar de gemer, este servo rezava assim: «Não me faças perecer com os pecadores, meu Salvador, pois
vejo já o caos apoderar-se da criação e os elementos estão agitados pelo medo. As nuvens estão preparadas, o céu
está tumultuoso, os anjos acorrem à frente da Tua cólera». Ao ouvir estas palavras, Deus cerrou a arca e selou-a,
enquanto o seu fiel gritava: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo».Do alto
do céu, o juiz dá uma ordem; de imediato se abriram as comportas, precipitando as chuvas, torrentes de água e
saraiva de um lado do mundo ao outro; e o medo fez brotar as fontes do abismo, inundando a terra em todo o lado.
Foi este o efeito da cólera de Deus, porque os homens haviam perseverado no seu endurecimento e não se tinham
apressado a gritar-Lhe com fé: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo». Em
seguida, o coro dos anjos, vendo os homens carnais destruídos, gritou: «Agora, que os justos possuam toda a
extensão da terra!» Porque o Criador gosta de ver aqueles que fez à Sua imagem (Gn.1,26); foi por isso que pôs os
Seus santos de parte para os salvar. Noé solta a pomba e ela regressa ao fim do dia, trazendo no bico um ramo de
oliveira, que anunciava simbolicamente a misericórdia de Deus. Então Noé sai da arca, como que do túmulo,
segundo a ordem que recebera, não como outrora Adão, que comera de uma árvore que dá a morte, pois Noé
produzira um fruto de penitência ao dizer: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do
universo».Mortas estão a corrupção e a iniqüidade; o homem de coração reto triunfa pela sua fé, pois encontrou
graça. Então, o justo (Gn 6, 9) ofereceu ao Senhor um sacrifício sem mancha; o Criador aspirou o seu agradável
perfume e declarou: «Jamais o universo voltará a perecer num dilúvio, mesmo que todos os homens levem uma
vida má. Hoje estabeleço uma aliança irrevogável com eles.Mostro o Meu arco a todos os habitantes da Terra para
lhes servir de sinal, para que todos Me invoquem assim: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens,
redentor do universo».»
Ap.3,1-6,14-22 – DDDE- p.1559
1.Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: Eis o que diz aquele -que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas. Conheço as tuas obras: és
considerado vivo, mas estás morto.
2.Sê vigilante e consolida o resto que ia morrer, pois não achei tuas obras perfeitas diante de meu Deus.
3.Lembra-te de como recebeste e ouviste a doutrina. Observa-a e arrepende-te. Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a
que horas te surpreenderei.
4.Todavia, tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes; andarão comigo vestidas de branco, porque o merecem.
5.O vencedor será assim revestido de vestes brancas. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, e o proclamarei diante do meu Pai e dos
seus anjos.
6.Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
14.Ao anjo da igreja de Laodicéia, escreve: Eis o que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus.
15.Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente!
16.Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.2
17.Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito - e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu.
18.Aconselho-te que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas alvas para te vestires, a fim de que não apareça a
vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro.
19.Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te.
20.Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo.
21.Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono.
22.Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Comentário feito por
João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005
Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-Feira Santa de 2002, §§ 4-6
«Hoje veio a salvação a esta casa»
Tenho a impressão de que o sucedido entre Jesus e o «chefe dos publicanos» de Jericó se parece em vários aspectos
com uma celebração do sacramento da misericórdia. Cada um dos nossos encontros com um fiel que nos pede para
se confessar pode ser sempre, pela graça surpreendente de Deus, aquele «local» junto do sicômoro onde Jesus
levantou os olhos para Zaqueu. A nós, é-nos impossível medir quanto tenham penetrado os olhos de Cristo no
íntimo do publicano de Jericó. Sabemos, porém, que aqueles são os mesmos olhos que fixam cada um dos nossos
penitentes. No sacramento da reconciliação, somos instrumentos dum encontro sobrenatural com leis próprias, que
devemos apenas respeitar e favorecer. Deverá ter sido, para Zaqueu, uma experiência impressionante ouvir chamar
pelo seu nome. Na boca de muitos conterrâneos, aquele nome era pronunciado com grande desprezo. Agora ouve
proferi-lo com uma ternura tal, que exprime não só confiança, mas familiaridade e de algum modo urgência duma
amizade. Sim, Jesus fala a Zaqueu como a um velho amigo, que talvez O esquecera, mas nem por isso Ele
renunciara à sua fidelidade e, por conseguinte, entra com a doce pressão do afeto na vida e na casa do amigo
reencontrado: «Desce depressa, pois tenho de ficar em tua casa» (Lc 19, 5). No relato de Lucas, impressiona o tom
da linguagem: tudo é tão personalizado, delicado, afetuoso! Não se trata apenas de comoventes traços de
humanidade. Há, neste texto, uma urgência intrínseca, expressa por Jesus enquanto expressão reveladora da
misericórdia de Deus.
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