Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor. O que as empresas estão fazendo? Normando Rodrigues Souza Filho1 Resumo A popularização do acesso à internet, com os instrumentos de inclusão digital, tem gerado um aumento significativo nas trocas entre pessoas, principalmente, no que tange às relações cliente e empresa. Nesse novo cenário, os espaços virtuais estão deixando de ser ambientes de bate-papo, conversas e encontros pessoais, para adotarem um papel importante nas relações entre consumidores e empresas e fazendo parte das estratégias da organização. Outra mudança significativa é o fato da área de Serviço de Atendimento ao Consumidor também ter evoluído com o advento das mídias sociais. No século XXI os consumidores dispõem de inúmeros outros canais de interação com as companhias. Esta pesquisa investigou e analisou, através da aplicação de questionários direcionados a empresas de diversos segmentos e análise bibliográfica, como as empresas estão se comportando diante desta nova realidade de interação virtual, se estão monitorando as redes sociais, bem como quais as formas de interação das organizações nesses ambientes virtuais. A pesquisa bibliográfica foi realizada para investigarmos o modo como as empresas lidam com esses espaços, a fim de atingir seus objetivos e estratégias mantendo-se competitivas e com sua imagem consolidada. Encontramos como principal resultado da pesquisa o fato de que as organizações estão monitorando as redes sociais e, através de informações obtidas nelas, promovendo alterações nas suas estratégias, porém a grande maioria das empresas apenas monitora, sem saber ao certo como proceder com este novo agente em suas estratégias competitivas. Procuramos compreender como as interações sociais podem promover o fomento de diferentes formas de capital intelectual e como essas formas podem trazer à tona aspectos relevantes no estudo de grupos da internet. Por fim, foram levantadas algumas hipóteses e sugestões de pesquisa de maior profundidade para investigar as questões de monitoramento de redes sociais pelas empresas e suas possíveis consequências, pois é crescente a relação entre empresas e clientes no mundo virtual. Palavras-chave: Redes Sociais. Customer Relationship Management (CRM). Internet. 1 Mestrando em Administração pela Pontifícia Católica de São Paulo – PUC-SP. MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. E-mail: [email protected] Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 63 Normando Rodrigues Souza Filho Social network Monitoring as a form of relationship with the consumer. What are companies doing? Abstract digital inclusion has popularized the access to Internet and has generated a significant increase in the exchange of information among people, especially when it comes to client relations and business. In this new scenario, the virtual spaces are no longer environments for chatting or for personal encounters. Currently, they have an important role in the relationships between consumers and companies and have become part of the organizations’ strategies. Another significant change is that the area of Customer Service has also evolved with the advent of social media. In the twentieth-first century, consumers have many other channels for interacting with companies. This research investigated and analyzed, through the use of questionnaires applied in companies of various segments and also through literature review, how companies are behaving on this new reality of virtual interaction; if they are monitoring the social networks, and what are forms of interaction used by them in these virtual environments. The literature review was done so to investigate how companies deal with these spaces in order to achieve their goals and strategies while keeping their competitiveness and consolidated image. We found as a main result the fact that organizations are monitoring social networks and, through the information obtained, they are promoting changes in their strategies. However, the vast majority of companies just monitor the networks since they are not certain on how to proceed with this new agent within their competitive strategies. This study sought to understand how social interactions can foster the promotion of different forms of intellectual capital and how these forms can bring out aspects of the study of groups on the Internet. Finally, some hypotheses have been raised and suggestions were made for a more in-depth research to investigate issues of social network monitoring by companies and the possible consequences since there is an intensification of the relationships between companies and customers in the virtual world. Keywords: Social Networking. Customer Relationship Management (CRM). Internet. Introdução O mundo está cada vez mais conectado e em função deste fato as relações de consumo estão se transformado a cada dia. Atualmente é possível disseminar informações, opiniões, desejos, satisfações e insatisfações em questão de minutos e para um grande número de pessoas. Neste cenário, as organizações veem nessa conectividade e nos espaços virtuais, advindos da expansão da internet, oportunidades e ameaças para seus negócios. Como as organizações se preocupam com a sua imagem perante o mercado, sentem a necessidade de monitorar os espaços virtuais, a fim de captar informações que sejam úteis para manter sua posição de mercado ou até mesmo na construção dos seus planos de negócios. 64 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... Com o avanço da tecnologia, aliada ao mundo cada vez mais globalizado, as organizações estão expostas e suscetíveis às opiniões de consumidores cada vez melhor informados e familiarizados com ferramentas de internet e redes sociais. Desta forma, as empresas tendem a estar mais preocupadas e atentas aos espaços virtuais para colher informações e publicações advindas de consumidores e clientes sobre sua aceitabilidade e de seus produtos no mercado. Empresas como Starbucks, Dell, eBay, Google e Microsoft lideram a lista das empresas mais ativas nas redes sociais e, consequentemente, obtiveram os maiores lucros. Na era das mídias sociais, no entanto, a relevância de um fato não reside apenas no seu grau de veracidade. Existe um grande fator que envolve o interesse/curiosidade que este veículo de comunicação desperta no público que o acessa, como também nos que desejam e, por alguma restrição, não o acessam. É neste cenário que surge a pergunta básica do estudo em questão: como as empresas estão se comportando com a questão de monitoramento das redes sociais, como blogs, Orkut, YouTube, Facebook, etc.? Assim, a pesquisa focou identificar se as empresas estão monitorando estes ambientes intangíveis, suas formas de interação com estas manifestações virtuais dos consumidores e de que maneira estas informações são utilizadas nos planos de negócio da empresas. 1 Revisão teórica Os movimentos sociais, em geral, designam um tipo de ação coletiva orientada para a mudança, em que uma coletividade de pessoas é dirigida, de modo não hierárquico, por um ator social. Os movimentos logram maior duração e integração e são eles, em geral, que originam as organizações, os partidos e as associações, a partir de uma consciência de grupo e das afinidades percebidas por indivíduos submetidos às mesmas pressões sociais ou que enfrentam idênticas dificuldades e obstáculos (SILVA; MIRANDA NETTO, 1987). Todo esse movimento é possível devido ao uso da internet como meio de comunicação. A internet, cada vez mais popular, acaba com a linearidade da TV, dos impressos e do rádio, ao mesmo tempo em que integra atributos interativos em sua estrutura (PÓVOA, 2000) Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 65 Normando Rodrigues Souza Filho Houve grande investimento acadêmico nos estudos de redes a partir do campo das relações internacionais, tendo significação na história recente das ciências políticas. A origem da reflexão se dá ao fim da II Guerra Mundial e tem progresso com o fim da Guerra Fria, quando há redefinição dos atores nas relações internacionais. Novos caminhos de pesquisa surgem, nascidos a partir da reflexão de ordem e desordem nos sistemas políticos, ligados à elaboração da noção de globalização (COLONOMOS, 1995). Com relação à evolução dos meios digitais, pode-se dizer que passaram por três gerações. Na primeira, os instrumentos disponíveis eram excessivamente técnicos, de difícil operação e com pouco conteúdo relevante. Na segunda, os grupos de mídia entraram na internet, o que, por sua vez, transformou a rede em uma grande enciclopédia e num centro de informação. Na terceira geração, a internet apresenta os princípios de colaboração: inteligência coletiva (LÉVY, 1993), comunicação corporativa e web 2.0. A nova cultura digital é a cultura dos filtros, da seleção, das sugestões e dos comentários. Os mecanismos de busca, os agentes inteligentes e as comunidades virtuais são opções para se captar a atenção das pessoas e escolher entre as inúmeras possibilidades, uma vez que o excesso de dados requer tradutores, intérpretes e mediadores dos mais variados gêneros (COSTA, 2003). A interação representa um dos aspectos mais marcantes de cultura digital, que é essa capacidade de relação dos indivíduos com os inúmeros ambientes de informação – as interfaces – que as cercam e prendem a atenção (COSTA, 2003). 2 CRM A boa prática do marketing consiste em planejar, contemplando e promovendo a melhoria contínua dos processos, com atenção para a função social de atendimento aos desejos e necessidades das pessoas, proporcionando satisfação, bem-estar e qualidade de vida aos indivíduos e à sociedade (LEITE, 2007). Para atingir o objetivo descrito acima, o mercado costuma recorrer ao CRM – Customer Relationship Management – que é um acrônimo de origem inglesa, que significa em português Gestão de Relacionamento com o Cliente. É uma sigla que se tornou notória no final dos anos 90 66 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... e que atualmente é apontada como o novo e inevitável caminho para a sobrevivência nos negócios, pois o cliente precisa ser visto por todos os departamentos da mesma maneira, e a comercialização deve estar focada nas necessidades de cada consumidor (SOUZA, 2003). Trata-se de uma estratégia voltada ao entendimento e à antecipação das necessidades dos clientes atuais e potenciais de uma empresa. Consiste em capturar dados, consolidá-los em um banco de dados central, analisar os dados consolidados e distribuir os resultados dessa análise aos vários pontos de contato com o cliente. É uma metodologia baseada em tratar clientes diferentes de forma diferente com o objetivo de converter as informações obtidas em ativos da companhia. Ao invés de falar com os clientes de forma individual para conhecer suas necessidades, as empresas começam a realizar pesquisas de mercado, segmentação, modelos estatísticos que permitem predizer tendências e padrões de compras. Ao invés de procurar maior participação no mercado, procura-se maior participação nos clientes, ao invés de oferecer descontos para aumentar as receitas, criam-se vínculos mais fortes com os clientes, desenvolvendo a fidelidade dos mais valiosos e, assim, aumentando a lucratividade. O resultado esperado é uma melhora da geração de customer experience que é afetada diretamente pelos stakeholders. A busca pela relação e o aprendizado torna-se mais inteligente, satisfazendo cada vez mais as necessidades dos clientes. A chave de sucesso para proteger os melhores clientes dos outros clientes é a personalização da massa para criar pacotes de serviços e produtos de forma a melhor satisfazer às necessidades específicas de cada um deles. No mundo one-to-one, a única vantagem competitiva real é a capacidade de aprender mais sobre os clientes e a capacidade de transformar esse conhecimento em ações (BRETZKE, 2000). O ponto focal do CRM é saber identificar a ocorrência de eventos que determinam mudanças nas necessidades. O maior desafio é que todos estes dados estejam disponíveis em todos os pontos de contato com os clientes. A identificação do cliente deve ser pela empresa total e não por um departamento ou funcionário. Além disso, o cliente tem de ser identificado, independentemente do canal escolhido para entrar em contato com a empresa. Com o CRM as empresas deveriam buscar trazer valor para seus negócios e não meramente obter ganhos de processo (BRETZKE, 2000). Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 67 Normando Rodrigues Souza Filho Para Soares (2006 apud CRUZ; COSTA, 2011) existem alguns softwares que ajudam e apóiam a gestão de relacionamento com o cliente, esses são comumente chamados e denominados como sistemas de CRM. O CRM abrange: a automatização da gestão de marketing, a gestão comercial e a força de vendas. Para manter a empresa competitiva e em crescimento com recursos otimizados, é preciso focar a fidelização e a retenção dos clientes atuais com maior realização de negócios na prospecção constante e efetiva de novos clientes mais rentáveis. 3 Redes sociais As redes sociais estão aos poucos ganhando força, principalmente depois do advento da internet que, por meio de tecnologias, como o e-mail, os comunicadores instantâneos, a rede de blogs e comunidades on-line, como Orkut e Uolkut, estão mapeando nossas redes sociais, permitindo, a partir dessas aplicações, um aumento substancial em várias áreas de conhecimento, não apenas na área de comunicação e marketing (BARBOSA, 2004) Por outro lado, o trabalho pessoal em redes de conexões é tão antigo quanto a história da humanidade, mas, apenas nas últimas décadas, as pessoas passaram a percebê-lo como uma ferramenta organizacional. O que é novo no trabalho em redes de conexões é sua promessa como uma forma global de organização com raízes na participação individual. Uma forma que reconhece a independência enquanto apoia a interdependência. O trabalho em redes de conexões pode conduzir a uma perspectiva global baseada na experiência pessoal (LIPNACK; STAMPS, 1992, p. 19). Segundo Kotler (2000), as ferramentas de busca da internet deixam os consumidores bem informados e perspicazes em relação ao mercado, já que proporcionam a capacidade de comparação diante das variadas informações objetivas sobre empresas, produtos, marcas, preço, atributos e qualidade. Ou seja, o processo de compra mudou de lado, o agente decisor e controlador é o cliente e, com base nisso, as empresas irão se adequar para oferecer o que ele deseja, na medida desejada, no canal preferido, com os meios de pagamento mais convenientes e na frequência apropriada. 68 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... De forma diferente das instituições, as redes não supõem necessariamente um centro hierárquico e uma organização verticais, sendo definidas pela multiplicidade quantitativa e qualitativa dos elos entre os seus diferentes membros, orientadas por uma lógica associativa. Suas estruturas extensas e horizontais não excluem a existência de relações de poder e de dependência nas associações internas e nas relações com unidades externas (COLONOMOS, 1995) O word of mouth é um fenômeno que se torna mais importante nas estratégias de marketing pelo elevado grau de transparência que ganha com as mídias sociais. Com o advento das redes sociais e da mídia gerada pelo internauta, a comunicação boca a boca – até então um fenômeno importante, mais invisível e de difícil controle – torna-se mais visível, pode influenciar um universo maior de pessoas e pode se tornar uma medida importante, tanto qualitativa como quantitativa do sucesso de um produto, serviço ou campanha. O word of mouth geralmente ocorre no pós-venda – quando o consumidor fala sobre sua experiência com o produto ou serviço – mas também precede compras futuras, quando consumidores buscam informações sobre produtos antes da realização da compra. Este tipo de comunicação influencia a decisão de compra do consumidor com mais força do que as mídias tradicionais, os chamados canais de comunicação não pessoais, principalmente em relação a produtos, como carros, e a serviços, como consultas médicas, restaurantes, agências e locais de viagem, reforma da casa, cinema, teatro e escola para filhos e parentes (IKEDA, 1999). Apesar da finalidade das redes sociais não ser jornalística, os dispositivos ganham força para disseminar informação e aparecem como uma alternativa para o público. As redes sociais, segundo Marteleto (2001, p. 72), representam “[...] um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”. O caráter instantâneo para repassar uma mensagem é uma das principais características que pode garantir influências decisivas na difusão da notícia. Há bem pouco tempo, o mercado comentava sobre a agilidade na informação do blog e agora nos deparamos com novas ferramentas que fazem o mesmo, porém, de forma mais sucinta e objetiva. A noção de rede remete primitivamente à noção de capturar a caça. “Por transposição, a rede é assim um instrumento de captura de informações” (FRANCHINELLI; MARCON; MOINET, 2011). Por meio do uso das redes sociais podemos destacar ganhos em inteligência do marketing. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 69 Normando Rodrigues Souza Filho É comum ver casos em que as empresas utilizam estes canais para questionar os consumidores sobre mudanças nos produtos e para identificar insatisfações. Todas as empresas deveriam fazer uma busca por suas marcas para verificar se elas estão associadas a algum fenômeno, seja positivo ou negativo. Também se nota um avanço na proximidade com o consumidor quando interceptam mensagens de consumidores na rede social para responder a questões postadas por clientes. O foco no atendimento individual pode superar as expectativas do usuário e fidelizá-lo. Nestes canais é fácil notar o estímulo dos entusiastas da marca, uma vez que os clientes ajudam a promovê-la. De acordo com Coutinho (2007), as redes sociais alteram a relação dos consumidores com as marcas. Atualmente, elas influem na forma das empresas se posicionarem na internet. A rede pode auxiliar as empresas a estimular os consumidores, principalmente se houver promoções ou informações de valor. Não somente através de ganhos intangíveis podemos mensurar os resultados das redes sociais, o reforço nas vendas é um fator muito bem representado por algumas companhias que dispõem de anúncios exclusivos para seus seguidores. Em uma ferramenta na qual velocidade e imediatismo são os pontos fortes, a prestação de serviço deve seguir os mesmos parâmetros. Os usuários das redes sociais desejam prestação de serviços real time. Coutinho (2007) ressalta a problemática das empresas em conseguir convergir a opinião destes consumidores em um ambiente muito mais dinâmico. Os usuários precisam ter interesse em manter a relação com as empresas. No entanto, as empresas também precisam ter cuidado com o potencial negativo dessas redes. É necessário desenvolver uma estratégia para não ser evasivo. Se o consumidor se sentir invadido, ou de alguma forma lesado, a relação que era para ser boa pode se tornar uma ameaça. O boca a boca nas redes sociais tem potencial matador, porque um consumidor insatisfeito influencia pessoas que sequer conhece. A divulgação de novos produtos e serviços por canais interpessoais é também conhecida como propaganda boca a boca (SCHIFFMAN; KANUK, 1995). A grande mola propulsora e favorável ao crescimento das redes sociais é a gradativa redução dos custos de acesso à internet e, portanto, surgem inúmeras ferramentas que auxiliam a encontrar comentários sobre sua marca/negócio/estabelecimento/etc. É importante que as companhias que decidam atuar nas redes sociais tenham algumas premissas básicas, como: 70 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... a) b) c) d) rede social não é estratégia de mídia social: na verdade, é uma ferramenta ou tática, mas não uma estratégia; pode ser facilmente entendida como um canal para interagir com a empresa em nível mais humano; as redes sociais exigem velocidade e interconexão. Caso necessitem de aprovações formais ou jurídicas, talvez, estas plataformas não sejam o melhor caminho para a sua empresa; a qualidade da informação importa mais do que quantidade; seja cauteloso, monitore o que está sendo dito sobre sua marca, produtos e o mercado em que atua. Cabe à empresa encontrar o melhor equilíbrio para lidar com os pontos positivos e negativos do acesso às redes sociais. Segundo Cafferky (1999), mais de 80% das pessoas seguem as recomendações de um familiar, amigo ou um profissional ao adquirirem um produto ou serviço. A notícia ruim é que o impacto negativo pode ser ainda pior se o cliente for um formador de opinião no assunto em questão. Existem várias maneiras de tornar esse post negativo em uma informação positiva e contornar facilmente essa situação. A cordialidade e a disposição para entender o ocorrido de forma aberta são essenciais para uma boa resolução. Também se deve buscar a fidelização do cliente e seus seguidores, buscar uma nova oportunidade de consumir o produto ou serviço e, por fim, corrigir o erro. Esse tipo de situação é uma ótima oportunidade para identificar um erro que até então parecia não existir. Contudo, existe uma única maneira de tornar essa livre expressão de opinião, por parte dessa parcela mínima de insatisfeitos, em um problema infinitamente grande de uma parcela enorme de insatisfeitos. Para isso, basta insistir no erro (negando que ele existiu), menosprezando a opinião do cliente insatisfeito (esse item pode ser ainda pior se for usada agressividade, intolerância e ameaça) e, ironicamente, de forma transparente, possibilitando que todos os seguidores do insatisfeito vejam e sintam-se igualmente ofendidos. Juntando-se esses itens é possível criar um viral poderoso o suficiente para destruir a reputação de qualquer estabelecimento. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 71 Normando Rodrigues Souza Filho 4 Metodologia Para realização do estudo, nos baseamos numa pesquisa descritiva. A pesquisa descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir para modificá-la (CHURCHILL JR., 1987). Muitas das pesquisas de marketing realizadas são de caráter conclusivo descritivo (PERIN et al., 2000). Pode-se dizer que a pesquisa está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. Foi feito um estudo longitudinal transversal, através da aplicação de um questionário no mês de novembro de 2009, por meio de uma survey eletrônica hospedada no site do QuestionPro, em que enviamos, de forma eletrônica, para 100 empresas no Brasil, situadas basicamente nos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Atuantes em diversos segmentos, todas elas possuidoras de um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e de ferramentas de CRM, nos seus processos de relacionamento com seus clientes e consumidores. No questionário constavam 15 perguntas objetivas e foram utilizadas escalas nominais e likert, dividido em blocos para identificação do perfil da empresa e do respondente e, posteriormente, um bloco voltado especificamente para levantar as rotinas das empresas, bem como o grau de importância que esta atribui à necessidade de realizar o monitoramento das redes sociais. 5 Resultados e análises Quanto ao resultado dos respondentes, tivemos 92 que interagiram com o questionário, 75 que iniciaram o preenchimento, dos quais obtivemos 47 respondentes válidos, ou seja, 62,67% de validação, para fundamentar nosso estudo. Serão expostos agora, de forma estatística, os principais pontos da pesquisa, e para isso iremos dividi-los em alguns blocos de assuntos relacionados, visando facilitar o entendimento. Ao final de cada bloco será exposta uma breve análise dos dados coletados. 72 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... 5.1 Bloco 1 – Perfil dos respondentes Q1 – Definição de Perfil Idade Gênero 17,02% 55,32% 1 2 1 Homem 44,48% 2 Mulher 29,79% 4 3 6,38% 1 2 46,81% 1 19-24 anos 2 25-30 anos 3 31-36 anos 4 Mais de 37 anos Gráfico 1 – Levantamento amostral do gênero. Gráfico 2 – Levantamento amostral de idade dos respondentes. Fonte: elaborado pelo autor. Fonte: elaborado pelo autor. Escolaridade 2,13% 2,13% 1 2º Grau 5 1 23,40% 2 4 2 Graduação 21,28% 3 Pós-Graduação (Lato, senso) 4 Mestrado/Doutorado 3 5 Outros 51,05% Gráfico 3 – Levantamento amostral do grau de escolaridade dos respondentes. Fonte: elaborado pelo autor. Com esses dados preliminares apresentados nos Gráficos 1, 2 e 3 conseguiremos identificar o perfil dos respondentes quanto ao sexo, idade e formação acadêmica. Como podemos observar, temos uma pequena predominância de mulheres na faixa de 25-30 anos, ou seja, são considerados da geração Y (também referida como Geração Millennials ou Geração da Internet, conceito em Sociologia que se refere, segundo alguns autores, aos nascidos após 1980 e, segundo outros, de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, sendo sucedida pela Geração Z), isto é, são profissionais mais ligados a redes sociais e conectividades de forma geral. Outro ponto de atenção Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 73 Normando Rodrigues Souza Filho está na escolaridade dos executivos respondentes, cujo percentual de pós-graduados é superior aos 80%. Desta forma aumentando a credibilidade do perfil da amostra. 5.2 Bloco 2 – Perfil das indústrias Q1 – Qual o principal segmento da empresa/indústria? Segmento das Empresas 21,26% 1 6 44,68% 1 Alimentos 2 Cosméticos 2,13% 2 3 0,00% 3 Higiene/Limpeza 4 Montadoras/Auto Peças 4 5 4,26% 5 Serviços 6 Other 27,66% Gráfico 4 – Participação setorial. Fonte: elaborado pelo autor. Other Educação, Mídia, Financeiro, Entretenimento, Marketing, Construção e Petróleo. Quadro 1 – Demais setores analisados (agrupados em Other). Fonte: elaborado pelo autor. Porte das empresas 10,64% 1 65,96% 3 2 23,40% 1 Pequeno 2 Médio 3 Grande Gráfico 5 – Porte financeiro das empresas pesquisadas. Fonte: elaborado pelo autor. 74 Formação do capital 2 48,94% 51,06% 1 1 Nacional 2 Multinacional Gráfico 6 – Formação do capital/matriz das empresas da amostra. Fonte: elaborado pelo autor. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... Como pode ser visto no Gráfico 4, as empresas respondentes demonstraram uma heterogeneidade quanto ao segmento de atuação com uma predominância relativa de empresas ligadas à prestação de serviço. Quanto à formação do capital, encontramos uma igualdade estatística (Gráfico 6). Porém, como apresentado no Gráfico 5, a constatação de que 65% foram empresas de grande porte fornecernos-á um bom parâmetro quanto ao monitoramento das redes sociais, ou seja, se as empresas de grande porte estão realizando esta investigação. 5.3 Bloco 3 – Monitoramento da internet e redes sociais Q1 – A sua empresa considera importante acompanhar os comentários sobre os produtos e/ou serviços da sua empresa nas redes sociais da internet? Importância do monitoramento das redes sociais NÃO 27,66% SIM 0,00% 10,00% 72,34% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% Gráfico 7 – Relevância quanto ao monitoramento das redes sociais. Fonte: elaborado pelo autor. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 75 Normando Rodrigues Souza Filho Q2 – Sua empresa faz esse tipo de monitoramento? Fazem monitoramento NÃO 46,81% SIM 42,00% 53,19% 44,00% 46,00% 48,00% 50,00% 52,00% 54,00% Gráfico 8 – Universo das empresas no ato de monitorar as redes sociais. Fonte: elaborado pelo autor. Numa breve análise cruzada entre as perguntas 1 (Gráfico 7) e 2 (Gráfico 8) deste segundo bloco, já fica possível identificar a existência de uma lacuna entre o fato de 72% das empresas considerarem importantes monitorar as redes sociais e apenas 53% de fato fazer esse tipo de pesquisa. Isso nos leva a constatar que existe uma demanda reprimida desse tipo de pesquisa por parte das empresas e que os investimentos em monitoramento da internet tendem a crescer com o tempo. Na questão 3, a seguir, fica evidenciado no Gráfico 9 esse investimento de curto prazo das empresas em iniciarem seus processos de monitoramento das redes. Q3 (Para os que responderam “NÃO” na questão anterior) – Sua empresa tem intenção de iniciar esse tipo de monitoramento em quanto tempo? 76 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... Tem intenção de iniciar o monitoramento (quanto tempo) 9,09% 1 36,36% 1 Próximo mês 13,64% 2 5 3 4 13,64% 2 Nos próximos três meses 3 Nos próximos seis meses 4 No próximo ano 27,27% 5 Mais de um ano Gráfico 9 – Intenção de iniciar o monitoramento das redes Fonte: elaborado pelo autor. Q4 – No monitoramento efetuado, qualifique abaixo qual o grau de relevância/ importância dos sites e redes sociais abaixo para sua empresa? Obs.: considere o 1 menos relevante e o 6 mais relevante Question Score 1 2 3 4 5 6 1. Google 4.674 15.22% 4.35% 4.35% 6.52% 13.04% 56.52% 2. Yahoo 3.413 17.39% 15.22% 19.57% 17.39% 17.39% 13.04% 3. UOL 3.413 23.91% 10.87% 17.39% 15.22% 13.04% 19.57% 4. Globo.com 3.239 23.91% 8.70% 15.22% 28.26% 19.57% 4.35% 5. Orkut 3.848 17.39% 8.70% 17.39% 13.04% 15.22% 28.26% 6. Twitter 4.239 13.04% 8.70% 8.70% 13.04% 23.91% 32.61% 7. YouTube 4.065 10.87% 10.87% 19.57% 13.04% 10.87% 34.78% 8. Facebook 3.478 23.91% 10.87% 15.22% 15.22% 13.04% 21.74% Quadro 2 – Overall Matrix Scorecard. Fonte: elaborado pelo autor. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 77 Normando Rodrigues Souza Filho Os sites ou redes sociais, demonstrados no Quadro 2, foram escolhidos utilizando como base a pesquisa do Ibope Nielsen on-line de agosto de 2009, “ranking de Audiência”, que informava os sites de maior popularidade no Brasil. Com a realização da nossa pesquisa verificamos que as empresas que fazem monitoramento demonstraram que o Google é o site de maior relevância para as empresas, seguido do YouTube e Twitter. Já os sites UOL e Facebook, embora muito populares, têm baixa relevância para as empresas que buscam citações e opiniões dos usuários dos seus produtos e serviços. Q5 – Como é realizado esse monitoramento? Como é realizado o monitoramento 21,28% 1 4 3 27,66% 1 Agência especializada 2 2 Programa/Sistema especializado 3 Própria Empresa 8,51% 42,55% 4 Other Gráfico 10 – Ferramentas/fontes utilizadas no monitoramento. Fonte: elaborado pelo autor. Q6 – Com que frequência se faz o monitoramento? Qual frequência 1 2-4 vezes por semana 25,53% 17,02% 6 1 5 4 6,38% 34,04% 2 Uma vez por semana 3 Duas vezes por semana 2 4 A cada 15 dias 3 12,77% 4,26% 5 Uma vez no mês 6 Other Gráfico 11 – Periodicidade com que realiza o monitoramento. Fonte: elaborado pelo autor. 78 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... O Gráfico 10 mostra que o monitoramento em sua grande maioria é representado pelo trabalho dentro da própria companhia, ou seja, a tarefa do rastreamento, análise e possíveis ações a serem tomadas somam 42,5% dos entrevistados. O segundo grande grupo, com 27,6%, já se encontra em um segundo estágio de desenvolvimento no que tange às estratégias de gerenciamento das mídias sociais, portanto, já há uma reserva de budget para investimentos neste segmento, sendo direcionados a pagamentos para monitoramento realizado por agências especializadas. Observando a frequência com que é feito o monitoramento, demonstrado no Gráfico 11, percebemos que as organizações estão atentas à agilidade com que as informações surgem na internet, pois 51,07% das empresas realizam verificações semanais das redes sociais em busca de citações de seus produtos ou serviços, sendo que a maior parte, ou seja, 34,04%, faz o monitoramento até quatro vezes por semana. Outro fato interessante é que 25,53% das empresas realizam buscas nas redes sociais de forma ainda muito esporádica, pois não sabem como proceder com as informações encontradas. Q7 – Após o monitoramento qual a atitude da empresa ao identificar um comentário/ Buzz negativo do internauta? Como é realizado a Interação/Resposta em caso de Buzz NEGATIVO 1 Ignora 12,77% 21,28% 5 1 4 51,06% 2,13% 3 2 12,77% 2 Responde como suposto consumidor (Pessoa Física) utilizando um usuário fake; 3 Responde como suposto consumidor (Pessoa Física) utilizando um usuário verdadeiro; 4 Responde em nome da Empresa (Pessoa Jurídica); 5 Other Gráfico 12 – Tipos de respostas em caso de Buzz NEGATIVO. Fonte: elaborado pelo autor. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 79 Normando Rodrigues Souza Filho Q8 – Em caso de comentário/ Buzz positivo? Como é realizado a Interação/Resposta em caso de Buzz POSITIVO 1 Ignora 4,26% 5 1 48,94% 4 34,03% 3 10,64% 2 2,13% 2 Responde como suposto consumidor (Pessoa Física) utilizando um usuário fake; 3 Responde como suposto consumidor (Pessoa Física) utilizando um usuário verdadeiro; 4 Responde em nome da Empresa (Pessoa Jurídica); 5 Other Gráfico 13 – Tipos de respostas em caso de Buzz POSITIVO. Fonte: elaborado pelo autor. Ao serem questionadas quanto à ação de resposta aos comentários positivos ou negativos, como pode ser visto nos Gráficos 12 e 13, nota-se que as empresas agem de forma semelhante quando afirmam responder em nome da pessoa jurídica (51,06% com comentário negativo e 48,94% com comentário positivo), no entanto, as companhias tendem a gastar mais energia em não ignorar comentários negativos (21,28%), frente aos positivos (34,3%). Esta relação, aparentemente, nos induz a construir uma imagem de que as companhias estão mais preocupadas em identificar os pontos negativos mencionados nas redes sociais a convergir e compilar seus pontos positivos e criadores de vantagem competitiva. É fato que soaria bastante interessante que estas proporções estivessem alinhadas, assim garantiríamos que toda a esfera de pontos fortes e fracos / oportunidades e ameaças estariam sob o olhar da companhia, dentro da esfera de redes sociais. 80 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... Q9 – Qual o principal objetivo deste monitoramento dado pela empresa em tais manifestações? Qual o Objetivo coorporativo neste Monitoramento 1 Apenas Monitoramento de mercado; 2,13% 8,51% 5 23,40% 10,64% 2 Ações corretivas juntos as áreas envolvidas (Qualidade, P&D, Vendas, Mkt. etc.); 3 Repassa as informações para as áreas responsáveis pelas manifestações nas redes sociais; 4 Considerar essas informações no plano estratégico da empresa; 5 Ignorar 6 4 3 1 25,53% 2 29,79% 6 Other Gráfico 14 – Estratégias corporativas com o monitoramento. Fonte: elaborado pelo autor. Nesta última questão (Gráfico 14), reforçamos a hipótese levantada de que as empresas estão, neste momento, focadas em descobrir como agir em relação às não conformidades, ou ações corretivas nos processos de vendas, marketing ou qualidade de produto, mencionadas nos ambientes sociais, representando 29,79%. Em segundo lugar surge a indicação de que as organizações estão apenas monitorando as redes sociais, mas ainda ignoram as informações ou contribuições advindas deste canal. Considerando que o mundo virtual é fonte de conhecimento e de relacionamento com o consumidor, as empresas devem reverter este cenário e passar a considerar as redes sociais nos seus planos estratégicos e assim obter vantagens competitivas versus seus concorrentes que ainda não estão se relacionando com este canal. Considerações finais A maneira de fazer negócio mudou e a concordata do Lehman Brothers não somente fez desaparecer o crédito imobiliário no mundo, como também fez com que o mercado recorresse a novos meios Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 81 Normando Rodrigues Souza Filho de gerar negócios e reduzir custos. É nestas ocasiões que os modelos de negócio se reinventam ou aceleram potencialmente. A mídia social é uma delas, e usá-la com sabedoria pode significar lucros. Não usá-la poderá representar distanciamento do consumidor. O bom uso das redes sociais representa um dos mais produtivos resultados que reflete a aposta na aproximação do consumidor para o processo criativo de produtos e serviços, constituindo-se em uma das maneiras de ser estratégico. Isso é fazer inteligência de marketing junto ao formador de opinião (ex.: blogueiros). A estratégia, neste caso, passa a funcionar por meio da prestação de serviço e troca de informações. Prestar um bom serviço significa também reforçar a marca, um processo casado tanto no mundo offline quanto no online. Sabendo que este segmento está se mostrando mais um grande exemplo de “galinha dos ovos de ouro”, as empresas, preocupadas em reforçar a marca e aumentar as receitas, estão desenvolvendo enormes esforços para desenvolver estratégias que se apliquem às mídias sociais. O mercado, em geral, não quer perder o tempo da novidade tecnológica e quer se mostrar presente. Porém, cabe analisar minuciosamente a estratégia a ser adotada, posto que nem sempre a mesma fórmula pode ser aplicada apenas com mínimas customizações a outros modelos de negócio. Após todas estas exposições e análises provenientes da pesquisa aplicada, notamos que o principal questionamento que a empresa deve buscar responder é se deve ou não entrar nas redes sociais? Os experts digitais com certeza responderiam que sim. Já os mais racionais e regrados seriam mais ponderados em suas respostas, buscando uma equação de risco zero e retorno garantido, podendo cair em uma falsa ilusão de ter um projeto extremamente cartesiano e nada audacioso. Responder a alguns questionamentos antes de definir a estratégia de lucro é um início para realizar um levantamento completo do tipo de relação que a empresa tem com as mídias sociais. Esses questionamentos podem ser sintetizados em três pontos: 1) Como nós como fornecedores de produto/serviço poderemos criar lucratividade em nosso setor?; 2) O que acontece com a forma através da qual os clientes estão mudando, não somente em suas preferências, mas também no 82 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... seu poder que redefine o espaço de oportunidades? e 3) Qual o design ou modelo de negócios da próxima geração que devemos construir para capturar e proteger a lucratividade? Após respondê-los, podemos chegar à conclusão de que, possivelmente, estar fora das redes sociais seja a melhor estratégia. O máximo de cautela deverá ser adotado para ir além do sinal verde e aderir às mídias. A era digital trouxe a idéia (talvez simplificada demais) de que tudo é muito fácil, o que faz, às vezes, a empresa partir para uma estratégia digital diferente da realidade da organização e da capacidade de gestão e atualização disponíveis. Muitos aderentes ao processo estão interessados nas mídias por medo e insegurança e também pela manipulação das opiniões, podendo, desta forma, não serem estratégicos e, pior, geradores de não torcedores pelo produto/ marca/serviços, acarretando perda de mercado, redução das receitas e até mesmo retaliações. Não importa a estratégia escolhida, o importante é saber onde a empresa está e aonde ela quer chegar. Como em qualquer estratégia de mercado, as realizadas nas mídias digitais dependem muito mais de uma mente criativa do que de uma plataforma com interações em hologramas e 4D. A mídia digital precisa deixar de ser um mantra ecoado repetidamente nas empresas pequenas, médias ou grandes, e deve ser entendida a realidade do mercado, a realidade da empresa e, se for o caso, seguir o mantra e aproveitar o que ele tem a lhe oferecer. Este grande volume de informação gratuita e disponível nas redes sociais deve ser catalisado em forma de conhecimento da empresa para atuação no negócio. Portanto, trata-se de uma estratégia voltada ao entendimento e à antecipação das necessidades dos clientes atuais e potenciais de uma empresa. Estes dados devem ser capturados, consolidados em um banco de dados central, analisados e distribuídos em todos os pontos de contato com o cliente. O grande diferencial de input de um programa de CRM é obter a informação de que o concorrente não dispõe ou, então, ainda não monitore. Portanto, quanto maior o universo de captura de informações, maior será o número de necessidades conhecidas e, com isso, a empresa conseguirá maior oportunidade de satisfazer o cliente. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 83 Normando Rodrigues Souza Filho Com base na pesquisa elaborada, notamos que muitas empresas monitoram este cenário virtual, porém ainda se encontram em papel coadjuvante, não sabendo ainda como deverão proceder. Algumas poucas empresas já se mostram mais ativas, agindo nas comunidades virtuais e até se posicionando perante os internautas. Este trabalho é apenas o início de um longo estudo que poderá gerar uma análise mais profunda, capaz de permitir o agrupamento de comportamentos comuns que possam caracterizar uma escola de modos de entrada (ou aderência) às mídias sociais e respectivas metodologias abordadas. Recebido em março de 2011. Aprovado em maio de 2011. Referências ALBERTIN, Luiz Alberto. Administração de informática: funções e fatores críticos de sucesso. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. BARBOSA LIMA, Alessandro. Comunicação interpessoal on-line: um estudo sobre a utilização das redes sociais em ações de comunicação viral. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, São Paulo, 2004. BARELLA, Irene. Crescem as soluções que unem o call center à Web. Disponível em: <http://www.resellerweb.com.br/solutions/telecom/call_center/artigo.asp?id=15600>. Acesso em: 9 dez. 2009. BEGARA, Thalula. Blogs invadem o mundo corporativo. Disponível em: <http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=7920>. Acesso em: 12 maio 2006. BENDER, Alessandro. CEM – Consumer Experience Management. Disponível em: <http://www.umacentral.com.br/content/view/91/30/>. Acesso em: 11 nov. 2006. BOONE, Louis E.; KURTZ, David L. Marketing contemporâneo. Rio de Janeiro: LTC, 1998. BRETZKE, Mirian. Marketing de relacionamento e competição em tempo real com CRM (Customer Relatioship Management). 1. ed. São Paulo: Atlas, 2000. CAFFERKY, Michael. Venda de boca a boca: deixe seus clientes fazerem a propaganda. São Paulo: Nobel, 1999. CHURCHILL JR., Gilbert A. Marketing research: methodological foundations. Chicago: The Dryden Press, 1987. COBRA, Marcos. Administração de marketing. São Paulo: Atlas, 1992. COLONOMOS, Ariel (Org.). Sociologie des réseaux transnationaux; communautés, entreprises et individus: lien social et système international. Paris: l’Harmattan, 1995. 84 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> Monitoramento das redes sociais como forma de relacionamento com o consumidor... COSTA, Rogério da. A cultura digital. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2003. COUTINHO, M. Marketing e comunidades: do discurso ao diálogo. Revista da ESPM. São Paulo, v. 14, p. 28-39, mar./abr. 2007. CRUZ, Eduardo Picanço; COSTA, Sabrina Ott da. Orkut e serviço de atendimento ao cliente: integrando ferramentas. In: III SEGet – simpósio de excelência em gestão e tecnologia, 2006. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos07/977_SEGET%202007%20II. pdf>. Acesso em: 5 maio 2011. DIAS, Sérgio Roberto (Coord.). Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2003. E-LIFE. Site Corporativo (on-line). Disponível em: <http://www.elife.com.br>. Acesso em: 8 dez. 2009. FIORE, Frank. E-marketing estratégico. São Paulo: Makron Books, 2001. FRANCHINELLI, Ana Cristina; MARCON, Christian; MOINET, Nicolas. A prática da gestão de redes: uma necessidade estratégica da sociedade da informação. Disponível em: <http://www.comciencia.br/ reportagens/socinfo/info14.htm>. Acesso em: 26 fev. 2011. FURRIER, Marcio Tadeu. Miopia em marketing, 4 décadas depois. Disponível em: <http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Miopia%20em%20MKT%204%20decadas%20depois.htm>. Acesso em: 4 dez. 2009. GREENBERG, Paul. CRM, customer relationship management na velocidade da luz: conquista e lealdade de clientes em tempo real na internet. Rio de Janeiro: Campus, 2001. IKEDA, Ana Akemi. A importância da comunicação informal na aquisição de bens e serviços. In: CORREA, Tupã Gomes. Comunicação, marketing, cultura: sentidos da administração, do trabalho e do consumo. 1. ed. São Paulo: Centro Lusitano de Cultura, 1999. KENDZERSKI, Paulo Roberto. Como desenvolver um relacionamento eficiente com os clientes? Disponível em: <http://www.relacionamentodigital.com/como-desenvolverumrelacionamento-eficiente-com-os-clientes>. Acesso em: 9 dez. 2009. KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. São Paulo: Prentice Hall, 2000. _____ . Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 1998. _____ . Marketing. São Paulo: Atlas, 1992. LEITE, Nildo. Pense bem ao fazer o marketing de sua empresa. Disponível em: <http://www.rhportal.com.br/artigos/wmview.php?idc_cad=fuawlc_ii>. Acesso em: 5 maio 2011. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. LIPNAK, Jessica; STAMP, Jeffrey. Networks, redes de conexão: pessoas conectando-se com pessoas. São Paulo: Aquarela, 1992. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo> 85 Normando Rodrigues Souza Filho PERIN, M. G. et al. Pesquisa survey em artigos de marketing nos ENANPAD’S da década de 90. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 24, 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis, 2000. PÓVOA, Marcello. Anatomia da internet: investigações estratégicas sobre o universo digital. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. SCHIFFMAN, Leon; KANUK, Leslie. Consumer behavior. New Jersey: Prentice Hall, 1995. SILVA, Benedicto; MIRANDA NETTO, Antonio Garcia. Dicionário de ciências sociais. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987. SOUZA, Michaek de. A vez do gerenciamento de relações. 2003. Disponível em: <http://www.imasters.com.br/artigo/1648/bi/a_vez_do_gerenciamento_de_relacoes/>. Acesso em: 26 fev. 2011. VASSOS, Tom. Marketing estratégico na internet. São Paulo. 1997. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) apresentada na UNICID – Universidade da Cidade de São Paulo, São Paulo, 2006. 86 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 8, n. 9, p. 63-86, jan./jun. 2011 Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo>