II Semana de Geografia – UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006 CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE MAPAS DA MÍDIA NO ENSINO DE CARTOGRAFIA Bárbara Nazaré ROCHA1 George Alfredo LONGHITANO2 1 Geografia/ FFLCH/ USP; [email protected] Geografia/ FFLCH/ USP; [email protected] 2 Introdução: Este trabalho tem uma proposta didático-pedagógica de auxiliar os professores de geografia do ensino fundamental no ensino da cartografia. O objetivo é familiarizar os alunos com os objetos de estudo da cartografia que podem ser encontrados no cotidiano. Para isso deve-se coletar mapas e croquis encontrados na mídia (jornais e revistas, principalmente). Segundo Pontuschka (1999), a percepção espacial e a linguagem cartográfica são trabalhadas em todos os níveis de ensino (fundamental e médio), o que é essencial na evolução das estruturas cognitivas e no crescimento intelectual de crianças e jovens adolescentes. Estudo realizado por Santana et al (2003) aponta a cartografia como “uma ferramenta indispensável para a compreensão geográfica, mas muitos professores e alunos desconhecem a utilidade da linguagem cartográfica no ensino de todas as disciplinas e principalmente na geografia”. Alunos do ensino médio apresentam falta de alfabetização cartográfica, dificuldades na construção e leitura de mapas e falta de domínio e compreensão da linguagem cartográfica. O ensino da cartografia auxilia no entendimento de conceitos básicos da geografia. Entretanto, muitas escolas carecem de recursos cartográficos para ensino de tal disciplina. Este trabalho visa a fornecer exemplos de ferramentas para ensino da cartografia, através do aumento do contato dos alunos com os instrumentos dessa disciplina presentes na mídia. Desse modo, os alunos podem compreender quais são os elementos de um mapa e qual a diferença entre este e um croqui, por exemplo. Materiais e Métodos: Inicialmente, deve-se esclarecer e diferenciar os conceitos de mapa e croqui. Segundo Joly (1990), um mapa é a representação, sobre uma superfície plana, da superfície terrestre, que é curva. Ela dá uma imagem incompleta do terreno, sendo uma simplificação da realidade. O mapa descreve uma porção do espaço geográfico com suas características qualitativas e/ ou quantitativas. A confecção de um mapa é uma tarefa de certa complexidade. Abrange um conjunto de operações que vão desde os levantamentos no próprio terreno e a análise de documentação (fotos aéreas, por exemplo) até o estudo de expressões gráficas (legendas, etc.) e outros aspectos. Os mapas são elaborados com o auxílio de instrumentos e recursos, tais como fotografias aéreas, satélites artificiais e computadores. Os elementos de um mapa são: escala, projeções cartográficas, símbolos ou convenções e título. Os mapas são bastante utilizados por II Semana de Geografia – UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006 estrategistas militares e por órgãos governamentais para coordenação do território nacional (JOLY, 1990). Croqui é um esboço e não obedece rotina técnica para a elaboração de mapas, nem possui escala. Não tem como finalidade a divulgação para o público; contém informações sobre uma pequena área e supre a falta de uma representação cartográfica detalhada. A cartografia é um meio de transmissão de informação. “No dia-a-dia do cidadão podese fazer a leitura do espaço por meio de diferentes informações. Pode-se representar informações com diferentes finalidades: mapas de turismo, mapas de planejamento, mapas rodoviários, mapas de minerais, mapas geológicos, entre outros” (PONTUSCHKA, 1999, p.123). No ensino de cartografia de 1ª a 4ª série, deve-se trabalhar com a alfabetização cartográfica, familiarizando os alunos com esse tipo de linguagem visual, criando significados e desenvolvendo as noções de legenda, proporção, orientação e escala. Da 5ª série em diante, deve-se tratar da importância dos mapas e croquis e “do significado de cada uma dessas representações para que os alunos possam trabalhar com análise/ localização e correlação” e no ensino médio chegar à síntese (PONTUSCHKA, op cit.). Este trabalho busca uma maneira atrativa de despertar o interesse dos alunos pela cartografia, tal como Faria e Zacharias (2005) que analisaram positivamente o uso de jogos simuladores interativos na construção de conceitos geográficos e cartográficos. Porém, como o acesso à informática ainda é bastante restrito ou inexistente na maioria das escolas brasileiras, sugere-se a coleta e uso de materiais de mais fácil acesso, apesar de menos dinâmicos. Os materiais para este estudo são mapas e croquis encontrados em jornais e revistas e a metodologia consiste em analisar exemplos desses materiais, mostrando os erros mais comumente encontrados, de modo que possa vir a auxiliar os professores de geografia no ensino de cartografia. Resultados: Os mapas são facilmente encontrados em jornais e revistas, pois auxiliam o leitor na compreensão da área a ser retratada em determinada reportagem. Na época da invasão norteamericana ao Iraque, no ano de 2003, por exemplo, a mídia publicou inúmeros mapas da região invadida, mostrando os avanços das tropas, as cidades tomadas, as reservas petrolíferas etc. Outro exemplo de mapa encontrado, naquele mesmo ano, foi da capital paulista quando ocorreu a paralisação dos ônibus por causa da greve de funcionários. Neste caso, o mapa é importante para aqueles que dependem de tal transporte encontrarem caminhos alternativos. Além disso, os jornais trazem, diariamente, mapas do Estado com a previsão do tempo para o corrente dia. Mapas também são encontrados em cadernos e catálogos turísticos, revistas geográficas, entre outros. O erro mais freqüente dos mapas encontrados na mídia é a não informação da escala. Também são encontrados legendas impróprias, falta de título e de orientação (apesar de a convenção do norte ser sempre para cima) e erros mais grosseiros, como localização e escala errados. Alguns exemplos de mapas encontrados na mídia são expostos a seguir, juntamente com comentário sobre seus erros e acertos. II Semana de Geografia – UNESP / Ourinhos Figura 1: Mapa de previsão do tempo Fonte: O Estado de S. Paulo, 09 de abril de 2003 Org: G. A. LONGHITANO, 2006 29 de Maio a 02 de Junho de 2006 Figura 2: Mapa da região da subprefeitura de Santo Amaro Fonte: Folha de S. Paulo, 15 de abril de 2003. Org.: B. N. ROCHA, 2006. A figura 1 apresenta mapas de previsão do tempo. Este é um exemplo onde a escala de cores da legenda foi utilizada de forma correta, mas não possui escala espacial. O mapa à direita (figura 2) é um dos poucos exemplos encontrados que possuem orientação, mas também não traz a escala. II Semana de Geografia – UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006 Figura 3: Crescimento de Pessoas sem Religião no Brasil Fonte: Isto É, 23 de abril de 2003 Org: G. A. LONGHITANO, 2006 Figura 4: Mapa do Curdistão. Fonte: Folha de São Paulo, 09 de março de 2003 Org: G. A. LONGHITANO, 2006 A figura 3 apresenta uma boa legenda, mas não possui escala nem orientação. A figura 4 é um exemplo de mapa que traz a localização da área no globo. Jornais e revistas trazem propagandas de empreendimentos comerciais que, por sua vez, publicam croquis para localização de tal empreendimento. Os croquis são encontrados, principalmente, nos jornais do final de semana. Os croquis possuem inúmeras distorções e, às vezes, exagero. Isso ocorre devido à manipulação de seu uso para fins comerciais. Imobiliárias e construtoras, principalmente, utilizam-se desses recursos para valorizar o local do empreendimento imobiliário, diminuindo distâncias para mostrar as facilidades e recursos da região (metrô, parques, shopping-centers, etc). Por isso, esse tipo de representação cartográfica não apresenta escala. II Semana de Geografia – UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006 A figura 5 apresenta um croqui de localização de um empreendimento imobiliário, exemplificando o uso desse material por construtoras. Nota-se que a falta de escala permite, na representação, uma aproximação do empreendimento a setores de serviços, tais como metrô, parque e shopping-center. Figura 5: croqui de localização de um empreendimento imobiliário. Fonte: O Estado de São Paulo, 11 de abril de 2003 Org.: B. N. ROCHA, 2006. Conclusão: Conclui-se, portanto, que há na mídia muitos dos objetos que são estudados na cartografia, não havendo dificuldades para encontrá-los. Porém, há em muitos deles erros como mapas sem escala, distorções, legenda inadequada, falta de orientação, entre outros. A atividade de coleta de mapas e croquis na mídia é bastante simples e utiliza-se de materiais de fácil acesso. Esta atividade coloca o aluno em contato com o objeto da cartografia e a análise deste, ajuda a compreender quais são os elementos de um mapa (escala, projeções cartográficas, símbolos, convenções e título) e qual a forma correta de usá-los, alertando-os para os erros e manipulações cartográficas. Também permite traçar as diferenças entre mapa e croqui. Bibliografia: FARIA, M. S. D. A. e ZACHARIAS, A. A. Jogos simuladores interativos: possibilidades de visualização e aplicação para o ensino de geografia e cartografia. São Paulo: Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina, 2005. JOLY, F. A cartografia. Campinas: Papirus editora, 1990. PONTUSCHKA, N. N. Geografia na sala de aula (resenha). São Paulo: Revista GEOUSP n° 6, 1999. p. 117-125. SANTANA, A. M. dos V.; FONTES E. T. F. e FONTES, E. de O. O apreendido de cartografia dos alunos do ensino fundamental de 5° a 8° série nas escolas estadual e municipal de Itapé-BA. Rio de Janeiro: anais do X Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 2003.