A tentação de Jesus. (Por PR. Zaqueu Tomaz) Leia o texto de Marcos. 1: 9-13. O extraordinário nesse texto é o realismo com o qual ele trata o trabalho do Espírito Santo na vida e na condição humana. Até mesmo as coincidências que atrelam-se ao trabalho do Espírito Santo, estão aqui estabelecidas. Até em palavras e tempos verbais. Primeiro se diz que Jesus foi batizado e logo ao sair da água, o Espírito veio sobre ele em forma corpórea, os céus se rasgam e ouve-se uma voz: " Tu és meu filho amado em quem eu me comprazo". E logo o Espírito desce e os céus se abrem. Logo o Espírito o impele ao deserto para ser tentado. O mesmo Espírito nas mesmas condições da vida. Uma das coisas mais difíceis que existem para nós cristãos é entendermos que o trabalho do Espírito Santo não acontece numa Dysneilãndia da nossa espiritualidade. Não é na Dysneyword dos nossos entretenimentos. O trabalho do Espírito Santo não acontece nas férias das nossas aflições. O trabalho do Espírito Santo não acontece nos dias santos aonde não é permitido que nenhuma tragédia caia perto da nossa casa. O trabalho do Espírito Santo acontece na totalidade da vida. Conforme a vida é. Conforme ela chega. E mais! Não só conforme ela é e conforme ela chega. Mas se ela não é e se ela não chega, o próprio Espírito se encarrega de nos levar para onde a vida está. Porque de um lado, é Jesus que toma a iniciativa de ser batizado e os céus se abrem. Mas de um outro lado é o Espírito que toma a iniciativa de o levar ao deserto para ser tentado. Em outras palavras: O trabalho e o compromisso do Espírito Santo é com a construção do nosso ser em Deus. De tal modo que, se a vida não vem pra nós com as caras que nós precisamos que ela venha, pra que a gente experimente, e se conheça e conheça a Deus, pode ter certeza que Deus vai nos levar para esse lugar onde essa construção está. De tal modo que, ou ela vem pra nós, ou nós vamos para ela. Se nós queremos andar no Espírito, a primeira coisa que a gente precisa saber, é que não é possível fugir da vida andando com o Espírito Santo. A maioria de nós entende a vida no Espírito Santo, como uma vida de reclusão, de abstenção, de proteção, de monastério, de silêncio, de sossêgo, de nenhuma contradição, aonde de preferência a gente contrataria todos os anjos para andarem na nossa frente varrendo todos os nossos caminhos pra que não houvesse a menor chance de que a vida fosse vida pra nós em momento nenhum, em hora nenhuma. Só que o trabalho do Espírito Santo em nós, acontece nas condições da vida em um mundo caído. O mundo é o que ele é! Andar no Espírito não é colocar o pé numa estrada rolante. Se possível você passaria o dia inteiro dentro de uma igreja, porque dá a sensação de que aí dentro o tempo para, os problemas se acabam. Mas não é assim. E o caminho tem todas as consequências de um caminho num mundo caído como esse, aonde existe fartura de glória e de graça em todo lugar, e existe também a perversão de tudo,vem todos os lugares. Aonde você corre o risco, de que a fruta que você come, em sendo comida no talo, te envenena. Aonde pra colher mel, você corre o risco de levar picada de abelha. Aonde cada coisa conquistada, significa a possibilidade de muitos arranhões o tempo todo. Essas são as condições na qual a gente vive todos os dias.. Em outras palavras: Está consumado! Mas a vida continua. Está pago! Mas a vida continua. " Pai. Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mau". " No mundo tereis aflições". Nada poderia ser mais realista do que isso. Uma oração que pede pra Deus não nos tirar do mundo. E o que eu vejo o tempo todo são os cristãos o tempo todo pedindo a Deus para tira-los do mundo. Quando Jesus disse, não os tire do mundo, ele estava dizendo: Não os aliene da vida. O que eles precisam é aprender na existência a serem livres do mau. Porque no mundo tereis aflições com certeza. Porque ter aflições no mundo é uma certeza. A incerteza é como eu vou responder as aflições que com certeza eu terei. E aí a palavra de Deus me manda ter bom ânimo. Porque tem uma outra certeza que é maior que a das aflições: Ele venceu o mundo! Essa é a certeza maior. Das duas uma. Ou eu olho para a certeza das aflições e entro em desânimo, ou eu olho pra certeza de que ele venceu o mundo, e aí me animo contra as aflições do mundo. É assim que é a vida. Fugir disso é outro evangelho. É outra história. Está consumado. Está pago. Está feito. O escrito de dívida está rasgado. Meu problema maior na vida hoje já não é o diabo. O meu maior problema na vida sou eu. É porque a gente continua a eleger o diabo como maior problema na vida da gente, é que a vida da gente vai ficando mais desgraçada. Porque enquanto o diabo for o problema, os demônios nascem na minha própria alma. Está consumado. Mas agora é a hora de no caminho eu aprender a andar na graça, e aprender que a graça não pede passaporte pra me acompanhar a lugar nenhum na vida. A graça se autoinstitui como liberdade absoluta de Deus, para ser meu Deus, quando João Batista me batiza ou quando o diabo me tenta. É a mesma graça, é o mesmo Espírito, é o mesmo Deus. Há três coisas muito simples nesse texto que eu gostaria que você guardasse no coração. 1-Realidade que a gente aprende, é que o Espírito afirma quem nós somos para o pai. Eu não preciso de muitas revelações. Eu só preciso saber, pelo espírito, por uma convicção do Espírito, quem eu sou para Deus, e quem Deus é para mim. O evangelho não é complicado. É absolutamente simples. E a sabedoria que faz diferença total, e a fé que muda o curso das coisas, não depende de você ter capacidade mental pra entender uma estrutura de equação de física quântica. O que importa é saber quem você é pra Deus, e quem Deus é pra você. Quando essa convicção entra no coração, as carências começam a ser supridas. Quanto mais profunda é essa consciência, mas ocupado pelo amor e pela certeza do pai eu vou ficando ocupado no sentido de cheio, pleno. É por isso que a primeira afirmação que se faz, é que Jesus é batizado,vê logo ao sair da água os céus se abrem e ouve-se uma voz dizendo: Esse é meu filho amado em quem eu me comprazo. Aí você diz: mas isso era relação de Jesus com o pai, não está no nosso nível! A gente não entendeu ainda o que é estar em Cristo. Significa: Jesus é o primogênito entre muitos irmãos. Que agora eu sou a semelhança de Jesus. Eu ganhei a liberdade de tratar a Deus como Jesus tratava.: Aba. Que o Espírito testifica com o meu espírito não que eu sou o filho de Deus, mas que eu sou filho de Deus.., e herdeiro de Deus, co-herdeiro de Cristo. Ou seja. Tudo na partilha, o que é dele é meu também. Não é uma casa doente, neurótica como a nossa, aonde existem os filhos protegidos, os filhos exilados, os filhos banidos, os filhos ovelha negra. Deus não está sofrendo de nenhuma neurose de figura parental Freudiana. Se ele trata justos e injustos com o mesmo amor, que não dizer dos filhos que estão em Cristo. Estar em Cristo significa dizer que agora eu me permito ouvir essa declaração do mesmo jeito. Então essa é a primeira coisa que eu preciso entender e crer. É que o trabalho do Espírito Santo é afirmar, revelar e mostrar quem é o pai para mim e quem sou eu para o pai. Não existe quase graça. Ou você se lança na graça e descansa, ou então você não vive. 2- Realidade que esse texto afirma, é que o mesmo Espírito que nos revela o pai, é também aquele que nos revela a nós mesmos. Eu preciso aprender quem sou eu para mim mesmo. Senão eu nunca serei objeto do trato da graça de Deus nas contradições da vida. Se você tentar se enxergar sem ser à partir da graça de Deus, isso te enlouquece. Trabalhos psicanalíticos que não trabalham com a graça, e escrafuncham a profundidade do ser, permitindo o ser se enxergar sem antes ter se visto na perspectiva de quem ele é pra Deus, frequentemente aprofundam ainda muito mais o teu sentir de autodesgraca permanente.. Primeiro vem a afirmação de quem você é pra ele. Depois o Espírito te leva ao deserto para ser tentado, que é pra você saber quem você é. Aí você vai ter que baixar a crista, ficar quebrantadinho. Acaba aquela teologia triunfalista do filho do rei. Você vai entender que você é única e exclusivamente filho da graça. O texto diz: "E o Espírito logo o impeliu", e os verbos que vão aparecendo aqui são interessantes: "Impeliu-o para o deserto para ser tentado por satanás". Impelir tem um fluxo. E as vezes a gente não entende. Porque na nossa cabeça a impressão que a gente tem, é que no dia que a gente encontrou a Cristo, a gente voltou para o jardim do Éden. E as vezes aquilo que você achou que era o caminho ruim, é o caminho da graça. Eu hoje olho para trás e agradeço a Deus pelas centenas de orações que ele não respondeu do jeito que eu pedi. Dou graças a Deus pelas coisas que eu repreendi e me aconteceram, dizendo: " Senhor, isso nunca"! E aí justamente caí o nunca na sua cabeça pra você aprender como diz a palavra de Deus no livro de Deuteronômio: " Eis que eu vos guiei pelo deserto de serpentes e escorpiões, vos mantive com o maná que vinha do céu, e com a água da rocha, e vos fiz percorrer pelo caminho dando voltas, para que vós soubesses o que estava no vosso próprio coração". O deserto é o único lugar do autoconhecimento, aonde a gente se convence definitivamente de que a nossa vida é só graça. Porque Jesus no deserto vence todas as tentações. Eu não venço todas elas. Ele foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança e não cometeu pecado. Nós somos tentados e pecamos toda hora. Porque às vezes eu peco até quando eu não cedo à tentação. Eu peco até no modo como acho que a venci. A nossa ambiguidade é tão grande que as vezes a gente peca até quando vence. Porque as vezes conseguimos reunir uma forçazinha alí pra escapar de uma tentação, somente para chegar na igreja e dar aquele testemunho maravilhoso de como vencemos uma tentação. E aí você começa a ver que você está contando a história da maldade da sua piedade, sem ter a coragem de dizer: irmãos, eu quase fui. A misericórdia de Deus me segurou, porque sozinho eu tinha caído. Até na hora de contar vitória a gente tá pecando. Porque não sabe contar dando glória a quem tem glória. Deserto é caminho do Espírito na vida da gente. O texto afirma que o Espírito o leva ao deserto para ser tentado. Significa pelo menos duas coisas: 1- Significa que o Espírito não tem medo do diabo. A gente fica achando o tempo todo que o trabalho do Espírito é ficar defendendo a gente do diabo o tempo todo. O mais tentando daquela tentação não foi Jesus, foi o diabo. 2- significa que desse encontro nosso com o adversário, o resultado nunca vai ser contra nós se a gente permanecer em Cristo. Porque hoje o que importa não é eu ter a certeza de que eu consigo vencer todas as tentações, mas é ter a certeza de que em Cristo, seja qual for a tentação, eu vou passar livre do mau. Só faz sentido vencer a tentação, se for para ficar livre do mau. O objetivo é ser liberto do mau antes de qualquer coisa. Por isso o Espírito não teme esse encontro, porque ele está certo de que esse encontro é a nosso favor. Porque Deus a ninguém tenha. Ou seja. O que a gente encontra aqui é um Deus certo de si. Então, quanto mais a gente se percebe no deserto, maior é a graça que recebemos. E não há ninguém que ande nessa vida, que não passe por essa tentação todos os dias de maneira objetiva e subjetiva. A gente não entende aonde é que esse mundo todo de tentação funciona. Ele não existe na esquina. Ele não habita no bar. A capital dele não é a boate mais badalada da cidade. Cada um é tentado pela sua própria cobiça. É aqui dentro do coração. Por isso pra desmistificar o ambiente como tentação é que Jesus foi tentado no deserto. Fica uma noite, duas, três no deserto? Passe um dia solitário no deserto que você vai ver que o silêncio do deserto começa a fazer você ouvir todas as vozes que você não tinha ouvido ainda aí dentro. E por último. O texto aqui nos ensina, que a nossa vida no Espírito acontece sempre entre feras e anjos. A gente gostaria que a nossa vida no Espírito acontece só entre anjos. Mas é entre feras e anjos. "Onde permaneceu quarenta dias sendo tentado por satanás. Estava com as feras, mas os anjos o serviam". O que nós precisamos saber é que tem muita fera no caminho. Mas tem serviço de anjos. A conclusão disso tudo é que andar no Espírito é crer sempre que nem a morte, nem coisas do presente, nem do porvir, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor. É crer sempre que por amor somos entregues à morte todo dia. Somos porém, apesar do deserto, apesar das feras, das tentações, somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou. Essa confissão de sermos mais que vencedores, acontece entre feras e anjos. Pense nisso. Um abraço a todos. PR. Zaqueu Tomaz