i Faculdade 7 de Setembro Curso de Publicidade e Propaganda LEANDRO COSTA CHAVES ESPALHE: BUZZMARKETING COMO FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO Orientador: Prof.º Leonardo Macêdo de Paiva FORTALEZA 2007 ii Leandro Costa Chaves Espalhe: o buzzmarketing como ferramenta de comunicação. Monografia apresentada à banca examinadora dos trabalhos de conclusão curso de graduação da Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, sob a orientação do Prof.º Leonardo Macêdo de Paiva. Fortaleza 2007 iii A minha família por viabilizar a conclusão do curso. 4 AGRADECIMENTOS Aos meus pais por me apoiarem em todos os aspetos antes, durante a após o curso. Ao Fenótipo constituído por Pedro Marques, Madsen Felipe e Fernando Cavalcante pelo companheirismo verdadeiro em todos os momentos comuns e inusitados e vivenciados dentro e fora da faculdade. Aos professores que participaram da minha formação como aluno e profissional. Ao coordenador Ismael Furtado por lutar pela turma inaugural. Ao orientador Leonardo Macêdo pela incrível paciência e dedicação extra. 5 LEANDRO COSTA CHAVES Espalhe: buzzmarketing como ferramenta de comunicação. Monografia apresentada ao curso de comunicação social da Faculdade 7 Setembro, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel, com habilitação em Publicidade e Propaganda. Data de aprovação: Fortaleza, ________________________ BANCA EXAMINADORA Assinatura: _______________________________________ Prof. Ms. Leonardo Macêdo de Paiva Orientador Assinatura: _______________________________________ Prof. Ms. Luciana Lima Guilherme Membro Assinatura: _______________________________________ Prof. Ms. Antonio Jose M Leite Junior Membro 6 RESUMO CHAVES, Leandro Costa. Espalhe: buzzmarketing como ferramenta de comunicação. Fortaleza, 2007. Monografia – Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Faculdade 7 de Setembro. Uma das formas que mais proporciona lembrança no consumidor ao ouvir e falar sobre uma marca, produto ou serviço é a comunicação boca a boca. O presente estudo analisa os fundamentos da comunicação boca a boca utilizados como ferramenta de comunicação que podem auxiliar na venda de produtos e serviços ao serem aliados as estratégias de marketing. A prática de se utilizar da comunicação boca a boca como ferramenta de comunicação dentro da publicidade é entendida como buzzmarketing. São analisadas duas campanhas publicitárias realizadas pela agência Espalhe para fundamentar o estudo do buzzmarketing como ferramenta de comunicação, a comunicação boca a boca foi a principal difusora da mensagem publicitária. Palavras chaves: Comunicação, publicidade, boca a boca, marketing e buzzmarketing. SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 9 I. REFERENCIAL TEÓRICO 1 MARKETING E SUAS DEFINIÇÕES ___________________________________12 1.1 FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO _______________________________17 2 BUZZMARKETING E SEUS CONCEITOS ______________________________ 24 2.1 BUZZMARKETING E A PRÁTICA___________________________________ 32 II. PESQUISA DE CAMPO 3 ESTUDO DE CASOS: ESPALHE ______________________________________ 39 3.1 CASO 1: EU SOU DA LAPA ________________________________________ 40 3.2 CASO 2: TETRA PRISMA __________________________________________ 46 III. CONCLUSÃO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS___________________________________________ 52 BIBLIOGRAFIA ____________________________________________________ 53 SUMÁRIO DE FIGURAS 8 FIGURA 1 – Alonzo Dias com o endereço do site da campanha esculpido na areia _____41 FIGURA 2 – Surfista com a prancha customizada com o site da campanha____________42 FIGURA 3 –Torcida do botafogo agitando a bandeira gigante da campanha___________42 FIGURA 4 – Material promocional Eu Sou da Lapa distribuído nos bares cariocas_____43 FIGURA 5 –Marcos Palmeira com a camisa da campanha durante caminhada da Praia__44 FIGURA 6 – Matéria publicada na revista Veja sobre o movimento Eu Sou da Lapa____44 FIGURA 7 – Jogador chamando atenção do público com streetball__________________46 FIGURA 8 – Cartaz chamando para a seletiva e blog do time______________________47 FIGURA 9 – Público espectador dos jogos com os brindes distribuídos______________47 FIGURA 10 – Foto do tetra Prisma publicada em matéria na Folha de São Paulo______49 FIGURA 11 – Editorial de moda publicado na revista Trip sobre o steetball___________49 FIGURA 12 – Capa de matéria sobe o time Tetra Prisma publicada na revista Trip_____50 FIGURA 13 – Matéria publicada na revista Trip sobre o steetball___________________50 9 INTRODUÇÃO. Somos constantes divulgadores de marcas, produtos e serviços. Seja no trabalho ou em casa, somos recomendados ou damos recomendações para comprar tal produto ou adquirir tal serviço. E nisso não há nada de surpreendente. Estamos apenas exercitando uma de nossas funções básicas, a de se comunicar. O espantoso é ver que essa nossa básica função pode fazer frente a grandes investimentos de comunicação. Um simples relato de um colega sobre sua má experiência de uso com um produto pode gerar dúvida no consumidor sobre a qualidade do produto em questão e nesse caso nem toda a publicidade investida nele pode fazer frente ao relato dado pelo colega. É nessa comunicação espontânea que estão destinados parte dos esforços de comunicação de empresas que percebem que quem faz seu produto não é simplesmente a publicidade, mas também a sua boa aceitação no mercado e sua conseqüente recomendação. É importante que uma empresa invista sempre uma parte do seu capital para a comunicação do seu produto, marca ou serviço, seja institucional ou mesmo para a venda, o que importa é que sua mensagem ou nome sejam vistos (Chetochine, 2006). Quem vai ditar como, quando e de que maneira um produto ou serviço será vendido ou apresentado ao consumidor é a publicidade aliada as estratégias de marketing definidas pela agência ou departamento de marketing1. Embora hoje não exista forma mais crível de se ouvir sobre um produto que não seja a experiência relatada pelo próprio consumidor (Fox, 2000). McConnel e Huba (2006) apresentam os passos que uma organização deve seguir para que seu produto ou serviço seja bem aceito e recomendado pelos consumidores. Dentre eles está uma prática que pode parecer trivial, mas que ainda hoje não é seguida pelas grandes corporações: colher, avaliar e implantar o que é dito no feedback2 dos clientes. Esse seria, segundo os autores, um dos preceitos básicos que a empresa deveria seguir, já que a prática de ouvir e responder valoriza o consumidor. Jefrey J. Fox, (apud MC Connel & Huba, 2006 : 07), afirma que: “A propaganda e venda boca a boca é a forma mais poderosa de marketing, a menos dispendiosa e a mais difícil de conseguir.” 1 “A definição mais curta que já ouvi dizer que marketing é encontrar necessidade e satisfazê-las. Eu acrescentaria que ele produz valores positivos para ambas as partes” (Drucker, 1995:56). 2 Feed e back do inglês significam alimentar e voltar. Feedback no processo mercadológico refere-se a troca de opinião e sugestões sobre o produto, marca ou serviços entre empresa e consumidor. Onde o consumidor alimenta a empresa com a experiência com o produto. 10 Em duas linhas Jefrey J. Fox, sintetiza a proposta deste trabalho que é estudar o Buzzmarketing3 como ferramenta de comunicação destacando o desafio da utilização dos princípios da comunicação boca a boca como instrumento de promoção de venda. Quando afirma que “a propaganda e venda boca a boca são as formas mais poderosas de marketing” Fox (2006:22), na verdade está se referindo a diferença da forma de recepção da mensagem sobre o produto quando essa é originária de publicidade para quando é recebida através de um comentário ou indicação de um conhecido. Um produto pode se utilizar da publicidade para informar todos os seus atributos e qualidades ao consumidor de forma muito clara e lúdica, mas basta um comentário negativo sobre o produto que a mensagem publicitária não surtirá o mesmo efeito sobre o consumidor. Assim, como o comentário pode prejudicar ele pode ser o foco da campanha. As campanhas baseadas no buzzmarketing estão apoiadas em gerar o comentário sobre o produto, serviço ou marca. Jefrey J. Fox, expõe que a propaganda boca a boca é “a menos dispendiosa”, pois nas campanhas baseadas no buzzmarketing, quem realiza e efetiva o sucesso da mesma é o consumidor. Ele como disseminador da mensagem foi estimulado a repassá-la, e o custo da campanha se concentra apenas em como gerar esse estímulo, a partir disso, quem dá continuidade à campanha é o público atingido pela mensagem, funcionando como replicador da própria mensagem. Para elaborar uma campanha que estimule o comentário é necessário um atencioso planejamento de comunicação sempre focado na reação do receptor sobre a mensagem recebida e para isso é necessário seguir uma série de diretrizes apresentadas neste estudo. Jefrey rotula a propaganda boca a boca como a mais difícil de conseguir, pois, para transformar o consumidor em um propagador da mensagem é necessário trabalhar a comunicação em base de seis princípios básicos defendidos por McConnel & Huba (2006) que são, plus-delta dos clientes, compartilhar o conhecimento, estabelecer o buchicho, criar comunidades, dividir em pedaços e criar uma causa. Quando o assunto é comunicação boca a boca falamos de uma comunicação espontânea, algo que o consumidor transmita por acreditar e utilizar o que aquele produto ou serviço possa oferecer. E para que esse consumidor fale pela empresa é necessário que o produto ou a comunicação desperte uma série de “fatores” que desencadeariam no consumidor vontade de falar sobre ele. Essa disseminação de 3 Buzzmarketing pode ser entendido como um conjunto de ações de comunicação coordenados com o objetivo de gerar comentários sobre o produto anunciado entre o público atingido. (Salzman, Matathia e O’reilly,2006 ). 11 informações sobre o produto sempre ocorreu, porém hoje é possível estimular e monitorar esse tipo de disseminação através de práticas de buzzmarketing, que são estudadas neste trabalho através dos passos descritos por Mcconnel e Huba (2006). Para que a comunicação boca a boca possa ser utilizada como uma ferramenta de comunicação dentro de uma campanha publicitária é necessário estabelecer um parâmetro entre as atuais ferramentas de comunicação utilizadas pela publicidade e o buzzmarketing como ferramenta de comunicação. Assim poderemos analisar e verificar os resultados que podemos ter com o buzzmarketing incluso como ferramenta de comunicação em uma grande campanha. O presente trabalho analisa, a partir de dois casos de comunicação da agência Espalhe, como estratégias de buzzmarketing podem auxiliar uma empresa na propagação da mensagem do seu produto. Para esta finalidade são estudados os conceitos da comunicação boca a boca, como são aplicados na publicidade e utilizados como instrumentos de comunicação. O objetivo deste trabalho consiste em provar que em alguns casos grandes e caros investimentos em comunicação de massa podem dar lugar a uma comunicação barata e espontânea que é o marketing boca a boca, analisando se através de dados e números o investimento em formas diferenciadas de comunicação apresentam um custo-benefício significantemente maior se comparada com a tradicional mídia de massa. O estudo é de fundamental importância, pois busca fundamentar as práticas de buzzmarketing, ainda pouco estudadas no Brasil, através de autores consagrados no estudo das técnicas de comunicação boca a boca. 12 1. MARKETING E SUAS DEFINIÇÕES Diariamente a população é alvo de milhares de mensagem publicitárias que buscam atrair o público para despertar interesse por algum produto ou serviço. A grande competitividade gera a necessidade de chamar essa atenção para si, entre as empresas, diferenciando-se das demais. Para que um produto anunciado chegue até as mãos do consumidor, é necessário que uma série de atividades sejam cumpridas, e para cada produto existe uma ampla concorrência. São as práticas de marketing que despertam o interesse pelos produtos e os diferenciam dos semelhantes, pois segundo Kotler (2000) o marketing é apenas uma prática de mercado que gera o desejo através da troca4. O buzzmarketing, assim como outras ferramentas de comunicação, só apresentará bons resultados caso as práticas de marketing sejam bem aplicadas. Por isso faz-se necessário entender os conceitos do marketing para a realização de uma campanha baseada no buzzmaketing. Os conceitos de marketing são também um reflexo dessas relações e estão em constante transformação. Diversos fatores influenciaram seu surgimento e posteriores mudanças no conceito. Hoje, podemos estabelecer uma distinção entre as relações sociais, que mostram o papel do marketing na sociedade, bem como definições gerenciais para elaboração de produtos e serviços. Podemos então assumir uma definição social do marketing, que é definida por Kotler e Keller (2006) como: “processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. Uma visão mais consumista e imediatista é defendida por Zenone e Buairide (2002), que definem marketing como: “um conjunto de meios que as empresas dispõem para vender seus produtos e serviços, atuando desde a concepção do produto até o pós-venda.” Independente da abordagem do marketing que uma empresa adote, é preciso conhecer bem o consumidor para definir produtos ou serviços que se adéqüem ao seu mercado. 4 A troca é o conceito central de marketing. Exige a oferta de valor a alguém, em troca de valor. Através das trocas, várias unidades sociais – indivíduos, pequenos grupos, organizações, nações inteiras – obtêm os insumos de que precisam. Pela desistência de alguma coisa, elas adquirem alguma outra coisa em seu lugar. Essa alguma coisa é normalmente mais valiosa do que aquilo de que se desistiu, o que explica a motivação da troca. (KOTLER, Philip. Marketing - Para organizações que não visam o lucro. São Paulo: Atlas, 1978.20). 13 O marketing também possui uma definição gerencial na qual é clara a forma de distribuição, a determinação de preços ao consumidor, o planejamento para que serviços e produtos cheguem até ele, gerando as trocas de forma satisfatória, e atendendo assim os desejos dos consumidores, Kotler (2000) conceitua marketing gerencial como: “O processo de planejar e executar a concepção, a determinação do preço, a promoção e a distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfarão metas individuais e organizacionais”. (Kotler, 2000:36). E em função das diferenças entre gostos e preferências dos consumidores. É exigida das empresas uma segmentação do mercado, identificando e traçando o perfil dos consumidores, que demandam produtos específicos e conseqüentemente estratégias específicas. Estas estratégias definem o mix de marketing, ajustado para cada segmento identificado. Para as ações baseadas em buzzmarketig, a segmentação de público é fundamental, pois o comentário gerado se desenvolve dentro de nichos onde a penetração do produto pode ser maior ou menor dependendo do comentário gerado. Cobra (1992) segue a mesma definição social para marketing defendido por Kotler (2000), para ele: “o papel do marketing é então identificar necessidades não satisfeitas, de forma a colocar no mercado produtos ou serviços que ao mesmo tempo, proporcione satisfação dos consumidores, gere resultados auspiciosos aos acionistas e ajudem a melhorar a qualidade de vida das pessoas e comunidades em geral”. (Cobra, 1992:36). Segundo o autor, é através da criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor que é despertada a atenção do consumidor, mesmo criando essa necessidade sem um compromisso claro de atender a busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas, e o que o buzzmarketing propõe é que esse benefício de melhoria de qualidade de vida, que são geralmente os argumentos de venda do produto, sejam comentados e recomendados entre os consumidores. (Salzamn, Matathia & O’Reilly ,2006). Santana (2003) sugeriu que a demanda é naturalmente um fator importante dentro do conceito de marketing, pois antes de começar a criação de um produto ou 14 serviço, é preciso conhecer bem o seu potencial de crescimento. Assim as empresas poderão executar atividades necessárias para criar, promover e distribuir os produtos e serviços adequados a demanda. Mccarthy e Perreault (1997) dentro do conceito que construíram sobre o marketing discorrem sobre a existência dele em dois níveis: o micromarketing e o macromarketing. O primeiro observa os consumidores desempenhando atividades relacionadas a ele e o segundo adota uma visão mais ampla e completa dos sistemas de produção e distribuição. “Micromarketing é o desempenho das atividades destinadas a realizarem os objetivos de uma organização, partindo das necessidades do consumidor ou cliente e dirigindo-lhes um fluxo de bens e serviços a partir de um fabricante ou produtor” (Mccarthy e Perreault, 1997:31). As decisões devem ser determinadas de acordo com as necessidades dos clientes. O marketing deve partir das necessidades dos consumidores potenciais, a visão de macro dá ênfase ao sistema total de produção e distribuição, ele se interessa pelo fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor. “O macromarketing é um processo social que dirige o fluxo econômico de bens e serviços dos produtores aos consumidores de maneira que se iguale eficazmente a oferta e a demanda e realize os objetivos da sociedade” (Mccarthy e Perreault, 1997:33). O marketing precisa levar em consideração a demanda, produzir uma oferta eficaz ao consumo realizando os seus objetivos diante da sociedade. Assim dar-se-á a distribuição de bens e serviços igualitários sem excessos que prejudicariam o fluxo econômico. O buzzmarketing como ferramenta de comunicação está dentro do micromarketing agindo como auxílio para garantir os objetivos de difusão da mensagem publicitária. Outra definição importante é a da America Marketing Association5 (AMA), uma organização que reúne profissionais de marketing para estudo e desenvolvimento sobre a aplicação do marketing que entende o marketing como uma função organizacional e 5 Associação Americana de Marketing. Dicionário de termos de marketing. Disponível em http://www.marketingpower.com/ em 20 de Novembro de 2007. 15 um conjunto de processos para a criação, comunicação e entrega de valor para os clientes e para gerenciar os relacionamentos com os clientes de forma a beneficiar a organização e todos os envolvidos no processo (AMA, 2005). Já Lindon (2000) propõe uma visão diferente para o marketing, onde sua definição pode ser aplicada em organizações sem fins lucrativos, mobilizadas por causas sociais e filantrópicas, além dos poderes públicos. Para ele, marketing é “o conjunto dos métodos e dos meios de que uma organização dispõe para promover, nos públicos pelos quais se interessa o comportamento favorável à realização dos seus próprios objetivos”. (Lindon, 2000:30). A visão de Lindon (2000) sobre marketing pode ser identificada também dentro de uns dos seis princípios defendidos por McConel e Huba (2006) para gerar clientes propagadores da mensagem, eles apresentam o princípio de “criar uma causa”, seja apoiando ONGs ou causas sociais geram no consumidor um estímulo maior a comentar sobre a marca, produto ou serviço. O marketing visa atender as necessidades do consumidor de forma lucrativa, e está ligado à identificação e ao atendimento das necessidades humanas. Para que seja possível atingir os objetivos pré-estabelecidos em um planejamento de marketing é preciso estudar todos os canais de marketing e ferramentas de comunicação a fim de definir qual o melhor caminho a ser traçado e posto em prática (Kotler, 2000). Através dos canais de marketing as empresas se comunicam com consumidores para distribuição e venda de produtos. Por eles as estratégias são definidas principalmente em relação à comunicação. Kotler (2000) cita os canais pessoais como alternativa para propagação da mensagem. “O único método de consumidores feitos por consumidores e para consumidores. Ter clientes fiéis e satisfeitos que se gabam de fazer negócio com você é o sonho de todo empresário. Clientes satisfeitos não só comprarão novamente como também são anúncios falantes e ambulantes de sua empresa”. (Kotler, 2000:580). Kotler (2000) apresenta as fontes de canais de comunicação pessoais como baratos e convincentes. Pois envolvem duas ou mais pessoas que se comunicam diretamente e de forma pessoal. Dentro dos canais de comunicação pessoal temos os canais defensores, composto pelos vendedores, e os canais sociais, que são os consumidores. Que não são 16 amplamente explorados pela comunicação (Kotler 2000). É conceito do marketing defendido por Kotler que é abordada no presente trabalho. 17 1.1 FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO Através dos canais de comunicação é que são transmitidas as mensagens aos consumidores, neles encontramos as ferramentas de comunicação como rádio, televisão, jornal e internet. E é através desses meios que a mensagem é enviada ao receptor. Uma das propostas do buzzmarketing é que através dos canais de comunicação os canais de comunicação pessoais sejam estimulados, gerando a vontade de fazer o comentário e recomendações da marca produto ou serviço. É necessário que uma empresa se conheça bem antes de solicitar algum serviço de comunicação, pois, é através de um briefing6 completo que o profissional de marketing pode apontar quais canais de marketing seguir e quais ferramentas de comunicação a serem utilizadas. Marketing, internet, publicidade e propaganda, pesquisas, merchandisings, promoção de venda, marketing direto, eventos, assessoria de imprensa, mídias eletrônicas, mídia impressa e mídia extensivas são ferramentas utilizadas pela comunicação para enviar sua mensagem ao receptor. Em seguida apresentaremos uma breve explanação sobre cada destas ferramentas, destacando o modo de atuação dentro da publicidade e traçando um paralelo com o buzzmarketing a fim de estudá-lo como mais uma de ferramenta de comunicação. a) Marketing Quando falamos de ferramentas de comunicação o marketing pode ser considerado o grande corpo que engloba todas as ferramentas de comunicação. Segundo a clássica definição de Kotler (2000) podemos dividir a prática mercadológica em quatro p’s. São eles promoção, preço, praça e produto. Por se tratar de um conjunto de atividades de mercado que definem os focos de ação em cima de um produto ou serviço como, por exemplo: monitorar concorrência e estudar participação de mercado. Onde ações baseadas no marketing boca a boca entram como potencializadores de propagação da mensagem publicitária. 6 “O briefing é uma peça fundamental para a elaboração de uma proposta de pesquisa de mercado. É um elemento chave para o planejamento de todas as etapas da pesquisa de acordo com as necessidades do cliente. É nele que são descritas todas as necessidades e objetivos a serem alcançados em alguma campanha publicitária.” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Briefing. Acessado em 18 Nov. 2007. 18 b) Publicidade e Propaganda – Estratégias promocionais Publicidade e propaganda são um dos braços fundamentais do marketing são ferramentas da comunicação, pois é através da publicidade que é definido o caminho da comunicação de um produto ou serviço. É a propaganda que leva a mensagem do anunciante ao consumidor e para definir quais as melhores maneiras de realizar essa comunicação é que a empresa investe capital em pesquisas. Através da propaganda pode-se estimular o buchicho. Um exemplo recente foi de um anúncio das novas câmeras digitais da Sony, que copiaram a mesma disposição de objetos e cores de um anúncio do Ipod da Apple. Em poucas horas o anúncio da Sony estava publicado em diversos sites e blogs de tecnologia7 com o título “Sony copia Apple” e conseqüentemente os leitores já estavam sabendo do lançamento da nova série de câmeras. Ou exemplo de como a propaganda pode estimular o buchicho mesmo que negativamente é novamente da Sony. A peça é um outdoor que anuncia o lançamento da versão na cor branca do videogame portátil Playstation portable. O anúncio explora gratuitamente através de imagem e texto conteúdo racista com o título “o branco está chegando” e a fotografia de uma mulher segurando o rosto de uma mulher negra. Ao mesmo tempo em que o anuncio repercutia negativamente em sites e blogs de publicidade8 os leitores eram informados do lançamento da versão branca do videogame. Os exemplos da Sony comprovam que para algumas empresas vale o ditado “fale mal, mas fale de mim” como prática do buchicho para seus produtos e serviços. c) Pesquisas – Ferramenta de análise do mercado São as pesquisas que definirão que dão o início a criação de um bom plano de comunicação, elas é que definem o que é primordial ou não dentro das estratégias de comunicação de uma empresa e apontam os caminhos que devem seguir. 7 8 Conforme visto no http://www.forumpcs.com.br/noticia.php?b=223603. Acessado em 28 Nov. 2007. Conforme visto no http://marketingdeguerrilha.wordpress.com/2006/07/06/psp-com-outdoor-racistagera-buzz/. Acessado em 28 Nov. 2007. 19 A pesquisa é uma ferramenta sistemática, também aplicada por metodologia científica, e é vista segundo a American Marketing Association (AMA), a partir de uma definição de Kotler (2000) como: "função que liga o consumidor, o cliente e o público ao profissional de marketing por meio de informações – estas usadas para identificar e definir oportunidades e ameaças domercado; gerar, refinar e avaliar ações de marketing; monitorar o desempenho do marketing; e melhorar o entendimento do marketing como um processo” (Kotler, 2000 p:127). São as pesquisas de mercado e sobre o público alvo que norteiam as campanhas que visam gerar o boca a boca, pois a partir dos resultados que é elaborada a mensagem a ser transmitida ao espectador. d) Merchandising – Técnica de marketing promocional Quando em um ponto de venda o merchandising é bem aplicado e desenvolvido, ele pode garantir a boa venda do produto anunciado. De acordo com presidente da Popai - Global Organization of Marketing at Retail - Chan Wook Min, 80% das decisões de compra ocorrem no ponto-de-venda. Para que um produto ganhe a atenção do consumidor entre outras dezenas de produtos semelhantes no ponto é preciso que o produto seja bem trabalhado no local e é a prática do merchandising no ponto de venda que garante essa atenção. O impacto gerado por uma ação de merchandising que trabalha com os canais de venda pessoais, dificilmente fica somente no supermercado. O público atingido por esse merchandising é passível de comentar sobre o produto ou serviço anunciado. e) Promoção de Vendas – Técnica de marketing promocional Para que o consumidor consuma mais que o necessário de um produto ou serviço é preciso que todos os benefícios e funcionalidades agregadas ao produto estejam bem claros para ele. E são os recursos de promoção de vendas que facilitam esses resultados. Expandir vendas é apenas o resultado inicial de uma boa promoção de vendas realizadas, pois a partir de uma venda maior, mais consumidores existem para o produto 20 ou serviço ofertado e mais amplo será o banco de dados da empresa, o que pode melhorar a qualidade de pesquisas a fim de tornar aperfeiçoar o produto final. Porém para que uma promoção de vendas traga retorno é necessário analisar qual melhor tipo de promoção se adequa ao público desejado. São vários os métodos de promoção de vendas cada um com a sua especificidade (Kotler, 2000), dentre eles existem os métodos que utilizam os canais de comunicação pessoal para a venda, ou seja o boca a boca. f) Marketing Direto O marketing direto nasceu de um problema da comunicação. A superexposição do consumidor às mensagens publicitárias tornou aos poucos, as próprias mensagens cada vez mais ineficazes. A saída para contornar esse problema foi direcionar a mensagem para cada consumido através do marketing direto. Além de tornar a mensagem mais persuasiva o marketing direto é uma ótima ferramenta para quando se quer trabalhar com públicos segmentados, malas diretas, cartões e e-mails marketing entram como exemplos de peças do marketing direto. A desvantagem de se trabalhar com marketing direto é o custo operacional que geralmente demanda a partir da compra de um banco de dados, confecção da peça personalizada e envio da mesma. Com a ascensão do marketing direto, a prática do CRM9 (Customer Relationship Management) cresceu dentro das empresas, pois, através dele os bancos de dados eram alimentados e atualizados. (Kotler, 2000). g) Eventos Quando o conceito de experiência com a marca se tornou mais evidente as empresas pensaram de que outras formas poderiam proporcionar essa experiência para o cliente através de algum meio que não seja o seu produto. O meio encontrado e hoje amplamente adotado está na realização de eventos empresariais e culturais. Uma empresa cearense que se destaca na utilização de eventos como meio de proporcionar experiência com a marca é o jornal O POVO, que constantemente realiza 9 Customer Relationship Management é o termo inglês que traduzido para o português significa Gerenciamento de Relacionamento com o Cliente. É um sistema responsável por gerenciar todos os aspectos da relação ente o cliente e empresa. Para saber mais acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/CRM. 21 eventos de caráter social como palestras e cursos destinados à população10, assim como, patrocinam muitos shows de caráter cultural e é realizador de um dos maiores eventos do estado do Ceará que é o Verão Vida e Arte11 que possui comunidades dentro do site de relacionamento Orkut que contam com a participação de mais de mil membros que trocam informações sobre o evento e empresa realizadora do evento. h) Assessoria de Imprensa Pesquisar, gerenciar e analisar o que se fala no jornal, rádio e televisão do produto ou marca são funções básicas de quem trabalha com assessoria de imprensa por muito tempo. Hoje com a profusão de blogs, comunidades e fóruns de discussão a competência do profissional de assessoria de imprensa está sendo testada em outro nível. Atualmente o desafio é além de desempenhar as funções básicas, coletar e aplicar de maneira positiva o que é falado do produto ou serviço em todo tipo ou meio de comunicação, principalmente os gerados pelo usuário, onde geralmente se encontram os formadores de opinião que podem ou não alavancar uma campanha baseada no buzzmarketig. Saber lidar com esse novo tipo de disseminação da informação, fazer uso positivo dos meios disponíveis para essa profusão é o desafio do cargo. Há exemplos onde um único consumidor pode influenciar a empresa a mudar o posicionamento de algum aspecto de comunicação. Um exemplo recente foi o que ocorreu com a Fiat, que se utilizou do marketing direto para todos os clientes que adquiriram carros da empresa nos último cinco anos antes da ação. Foi enviada uma mala direta vendendo o novo Marea. Um único consumidor se sentiu ofendido pela empresa, pois o mesmo havia adquirido uma Fiat Uno (carro de entrada de linha da empresa) em 60 prestações. O cliente reportou o constrangimento à empresa, pois à duras custas havia conseguido comprar o automóvel mais acessível da Fiat e pouco tempo depois recebeu em sua residência a propaganda de um automóvel bem mais caro. A partir desse caso a Fiat passou a adotar o processo de segmentação de clientes por renda para a sua comunicação baseada em marketing direto (Seminário Alternativa 2007, 2007). 10 Disponível em http://www.opovo.com.br/opovo/aprendendo/. Acessado em 18 Dez. 2007. 11 Disponível em http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/750188.html. Acessado em 18 Dez. 2007. 22 i) Mídias Eletrônicas Rádio e televisão ainda ocupam o posto como mídias mais visadas pelos anunciantes, porém, pouco a pouco, vão perdendo espaço para a internet e mídias alternativas devido à segmentação de público e superexposição de mensagens publicitárias. Com a constante convergência digital a forma de interação entre espectador e televisão está se modificando, televisão digital, televisão na internet, podcastings (rádios pessoais) e outros exemplos de mídias eletrônicas nos mostram que a televisão e o rádio não irão se extinguir como mídia, mas, estão sofrendo grandes processos de transformação, cabendo ao profissional da comunicação estar bastante próximo dessa evolução e acompanhar de perto as novas tendências. Hoje, há empresas que investem bastante nos novos formatos de televisão para web12. A empresa de telefonia Nokia é uma das maiores anunciantes do serviço de televisão na internet conhecido como Joost (Seminário Alternativa 2007, 2007). As mídias eletrônicas como a televisão também podem entrar como apoio dentro de uma campanha baseada no buchicho quando por exemplo é lançado um comercial teaser que sugestiona o espectador a acessar algum endereço virtual para acompanhar a campanha. Dentro das mídias eletrônicas temos também a internet como ferramenta de comunicação. Ela estabelece constantemente novas formas de comunicação e é a grande responsável pela disseminação da informação podendo ser incluída como ferramenta de comunicação com o benefício de conseguir comunicar a um segmentado público ou grandes massas. Por ser uma mídia relativamente barata é o grande palco de experimentações na comunicação digital, por exemplo, as constantes campanhas de marketing viral que se apóiam nos conceitos de buzzmarketing. o) Mídia Impressa Os jornais e revistas, maiores expoentes quando se fala em mídia impressa, tendem cada vez mais a ter que explorar um dos seus maiores argumentos de venda que é a credibilidade, com a evolução dos processos comunicação a notícia que chega ao jornal e revista quase nunca será inédita. 12 Termo inglês utilizado para designar world wide web ou rede de alcance mundial mais conhecida como internet. Para saber mais acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Web. 23 Geralmente os leitores de jornal e revistas são formadores de opinião, o público alvo para as campanhas de buzzmarketing, e assim como as mídias eletrônicas, os jornais e revistas não irão se extinguir como alternativas de comunicação, porém, estão segmentando ainda mais o seu público a fim de garantir mais um argumento forte de venda. Um exemplo local de como empresas de comunicação podem lidar com a convergência digital no mercado de notícias é novamente o jornal O POVO, que a partir de Maio de 2007 além de ser vendido em bancas e gazeteiros foi disponibilizado também no seu website13. l) Mídia Extensiva Painéis, outdoor, backlights, frontlights, empenas, busdoor, totens, luminosos, big banners entre outros, todos entram como mídia extensiva quanto à ferramenta de comunicação. E comum ouvirmos comentários sobre painel ou outdoor quando esse chama a atenção do espectador de maneira diferenciada, seja através do texto ou imagem. Mídias exteriores sempre valorizaram a comunicação através de mensagens curtas e rápidas. Porém essas mensagens curtas e rápidas não evitaram também a superexposição e a grande ocupação de espaços públicos com propaganda. O que acabou por gerar, por exemplo, um projeto de lei em São Paulo que proíbe qualquer tipo de mídia exterior. 13 Disponível em http://www.opovo.com.br/opovo/. Acessado em 18 Dez. 2007. 24 2. BUZZMARKETING E SEUS CONCEITOS O que sempre vemos nos meios de comunicação é que as estratégias de comunicação e marketing estão em constante mudança, sempre se adaptando às necessidades e motivações do público. O mesmo ocorre com buzzmarketing que atualmente junto com o marketing de guerrilha que, é tão comentado quando, na verdade não passam de um conjunto de estratégias baseados em umas das peculiaridades mais antigas do homem; a arte de se comunicar. Há claros indícios de que a atual propaganda, aquela que utiliza ícones da música e celebridades da TV para falar das características de um determinado produto para as massas já não surte o mesmo efeito (por isso a corrida pela busca de mídias alternativas). As estratégias e formas de se comunicar estão sendo desacreditadas e analisadas cada vez mais pelos consumidores. Os artifícios da publicidade estão sendo a cada dia, colocados em jogo pelos consumidores. Os publicitários estão buscando novos mercados e mídias dentro da comunicação. Nos útimos anos, os grandes investimentos em comunicação vêm sendo feitos com o objetivo de reforçar a marca através de campanhas institucionais ou similares. Para a venda ou promoção, caso onde é necessário que o retorno da publicidade seja imediato, a saída tem sido se comunicar com o consumidor no ponto de venda ou novas estratégias que fujam do habitual tv, rádio e jornal. (Salzamn, Matathia & O’Reilly ,2006). Essas mudanças que vêm ocorrendo, após a entrada do ano 2000 se devem a grande ascensão que a internet teve pós o início do séc. XXI data. O consumidor com a popularização da internet se restringiu ainda mais em nichos específicos, essa restrição é a principal inimiga da propaganda de massa. É ela que estimula os departamentos de marketing e agências a criarem campanhas direcionadas a um tipo específico de público. É nesses nichos que o buzzmarketing pode mostrar sua força. (Mc Connel & Huba, 2006). “A era da propaganda acabou. Hoje os clientes raramente confiam na ajuda de agências de publicidade para tomar importantes decisões estratégicas na comunicação” (Ries, 2002:24). Mesmo que a afirmação de Ries (2002) pareça um tanto exagerada, ela não deixa de ser um reflexo da situação do mercado da comunicação no século 21. Salzman, Matathia e O’Reilly (2006) relatam que estudos feitos por publicitários, demonstram que a propaganda está tendo dificuldade para atingir os 25 formadores de opinião, os estudos foram realizados em 2001, pela Euro RSCG14, com 1830 adultos em 19 mercados pelo mundo. O estudo destacou que já em 2001 a internet como um dos principais meios de se obter informação sobre o produto ou empresa, acredita-se que hoje esses números sejam bem mais expressivos. Porém, no mesmo estudo denota o boca a boca com a fonte de maior grau de confiança quando se fala de produtos tecnológicos. Na pesquisa realizada pela Euro RSCG e relatada por Salzamn, Matathia e O’Reilly (2006), a propaganda e o ponto de venda se saíram pior ainda como fornecedores de informação. Quando as pessoas eram perguntadas onde obtiveram informações sobre o produto de tecnologia o resultado foi: 4% banners, 4% comercial na televisão, 1% outdoor, 0% comercial de rádio, 15% anúncio impresso (jornais e revistas) e 36% através das conexões pessoais, ou seja, o boca a boca. Através dessa pesquisa de seis anos atrás, também relatada por Mc Connel e Huba (2006) já percebemos que o desafio não é apenas passar bem a mensagem. É passar bem e atingir os formadores de opinião, aqueles que são chamados por Jackie Huba de clientes evangelistas, pois são eles que vão propagar a boa ou má experiência com a marca ou produto. Fica claro então que um dos desafios é identificar e trabalhar com esse cliente difusor de idéias para que ações de comunicação sustentadas na comunicação boca-aboca apresentem um bom resultado. Mas o que vem a ser exatamente esse buzzmarketing? “O buszzmarketing é orgânico – raramente provém de um esforço organizado. O buzzmarketing é qualquer esforço de comunicação que utiliza um evento de alto impacto e curta duração – agora ou nunca – com a finalidade única de criar valores conversacionais em torno de uma marca em vez de abordar os pontos cruciais”. (Becky Ebenkamp, Sicco Beerda apud Salzman, Matathia, O’ Reilly, 2006:14-15). “O buzzmarketing consiste em criar um boca-a-boca positivo em torno de um produto transformando em consumidores selecionados em veículos espontâneos de mensagem.” (Mc Connel & Huba, 2006:14-15). Na prática o buzzmarketing se apresenta no dia a dia como um conjunto de ferramentas que visa atrelar algum valor ao produto ou serviço que valha a pena ser 14 Euro RSCG é uma agência de publicidade que trabalha com operações no mundo inteiro. Sua sede é localizada em Nova Iorque e possui clientes que estão presentes nos cinco continentes. Para sber mais acesse: http://en.wikipedia.org/wiki/Euro_RSCG. 26 comentado e divulgado por nós mesmos consumidores. Esse é também o mote dos atuais conceitos de marketing de guerrilha (Salzamn, Matathia & O’Reilly, 2006). Antes de entender buzzmarketing, é necessário entender e diferenciar buzzmarketing, a prática mercadológica, da sua essência, o buchicho. O buchicho não traz um conceito novo, livros de história relatam que era comum na idade média a contratação de atores para aplaudir e elogiar espetáculos teatrais no seu término. McConnel e Huba (2006) apontam Emanuel Rosen como um dos precursores a estudar o buchicho como ferramenta de comunicação e definem que buchicho, quando aplicado às práticas de comunicação, é o “agregado de todas as comunicações de pessoa para pessoa sobre um produto, serviço ou empresa específico a qualquer hora” (Mc Connel & Huba 2006:48). Entende-se que todo dia participamos desse processo diversas vezes, afinal a comunicação é inerente ao homem. O que os especialistas em buzzmarketing fazem é adaptar essa característica nata a favor do seu cliente. Se comentários diários sobre a empresa e seus produtos forem positivos para a imagem dela, por que não estimular essa espontaneidade? O conceito de buchicho aplicado a práticas de marketing é principalmente gerar motivação para o consumidor comentar, recomendar e explanar sobre a empresa, produto ou serviço. Quando um consumidor estimulado por alguma ação de marketing faz comentário sobre a empresa anunciante, o processo deixa de ser natural, ou seja o consumidor não está falando sobre o produto por sua vontade própria, e sim por, em algum momento, ser estimulado a isso, seja pela publicidade ou características do produto. Quando o estímulo ao comentário é gerado intencionalmente e parte da comunicação do anunciante entramos na prática do buzzmarketing como ação de mercado. (Salzamn, Matathia & O’Reilly ,2006). Mc Connel e Huba (2006) introduzem o termo buchicho como o gerador do buzzmarketing. Eles defendem que o caminho para agregar novos clientes é o buchicho, que pode ser entendido como sinônimo para boca a boca. É ele que ajuda as empresas a se tornarem conhecidas mais rapidamente se comparadas a estratégias tradicionais de comunicação. Para eles, os produtos mais improváveis podem gerar grandes comentários, o que para o público pode parecer algo espontâneo na verdade é o produto de uma série de decisões e ações de marketing. (Mc Connel & Huba 2006). O buzzmarketing gera uma comunicação boca-a-boca diferente de outros tipos de marketing alternativos como o marketing de experiência, marketing de guerrilha dentre outros. Esses citados são exemplos de marketing que não produzem o mesmo 27 efeito do buzz por passar pouco tempo na praça literalmente. Portanto o buzzmarketing se mostra como uma ferramenta revolucionária na forma de elaborar estratégias de comunicação. Ele se propõe a construir uma rede de informações contínua e duradoura a partir dos formadores de opinião para garantir o objetivo central, que é a geração dos citados clientes propagadores da mensagem. Já diferente do boca-a-boca com clientes comuns, os que não são formadores de opinião. Para entender melhor sobre esse tipo de consumidor formador de opinião McConel e Huba (2006) apresentam: “As pessoas que espalham o buxixo (sic) são os hubs (pontos centrais), fontes confiáveis que disseminam as informações rapidamente. Existem dois tipos de hub:. Megahub. Pessoas que escrevem para revista e jornais; políticos proeminentes Hubs de redes individuais. Pessoas na comunidade que conseguem influenciar uma rede enorme de colegas de trabalho, amigos e familiares – pessoas no seu escritório que parecem sempre saber sobre o último filme, moda ou ivenção.” .” (Mc Connel & Huba, 2006 : p47). O buzzmarketing envolve três grandes vantagens que tornam suas técnicas críveis. A primeira é o custo, que diferente da mídia tradicional necessita apenas de uma pequena parcela de recursos, ou seja, mesmo com baixo caixa é possível obter resultados que saltam aos olhos. A segunda característica, é o seu efeito imediato. A velocidade que temos à nossa disposição e a tecnologia para isso nos permitem ter uma mensagem amplamente divulgada pelos citados hubs em poucos minutos, resultados em sua grande maioria de vezes comprovados por números de vendas ou pesquisa de share. E a terceira grande vantagem é a sua mensagem customizada, ela sempre vai chegar ao seu consumidor de uma forma diferente, vai chegar através de um colega ou amigo, da maneira que ele “gosta” de escutar. Por conta dessa forte trindade vemos a força que o buzzmarketing tem para atuar em determinados segmentos como o mercado de produtos para adolescentes, isso explica a mil novas campanhas que vemos estourar diariamente nos instant messengers, serviços amplamente utilizados por jovens (Salzamn, Matathia & O’Reilly ,2006). De acordo com Shimp (2002) as pessoas sempre possuem duas fontes de informação antes de comprar ou aderir a um produto ou serviço, as fontes pessoais e impessoais. As impessoais seriam as informações adquiridas através dos meios de comunicação e publicidade onde aí englobamos desde o jornalzinho de bairro até a 28 publicidade vista no telejornal local. Já nas fontes pessoais se encaixam os colegas, amigos e família, todas as fontes do boca-a-boca. Praticamente o que foi falado até agora sobre buzzmarketing só seria possível caso a ação atingisse o líder de opinião, que geralmente influencia nas tomadas de atitude ou comportamento dos que o cercam, agindo como informador, persuasor e confirmador. Porém esse líder geralmente é um influenciador em uma determinada área de consumo, uma dona de casa detentora de opinião sobre móveis e utensílios para cozinha dificilmente influenciaria na compra de um carro como formadora de opinião na área. Esses líderes de opinião geralmente têm mais contato com veículos de comunicação, são mais populares. Eles são geralmente os mais inovadores e possuem um certo status em relação aos seus “seguidores”. Dessa forma pode-se traçar que os líderes são motivados pela satisfação em ter acesso a novidade e serem reconhecidos pelo uso, é onde chegamos a um ponto fundamental do estudo do buzzmarketing versus formadores de opinião: o prestígio. Uma prática que se tornou comum e serve como exemplo de como o prestígio pode auxiliar na divulgação boca a boca é no ramo de tecnologia. Um ótimo exemplo de ação de buzzmarketing aplicado a líderes de opinião foi quando em meados de Junho de 2006 a Intel15 a maior fabricante de processadores do mundo estava para lançar sua nova linha de processadores caseiros, os Core 2 Duo, ela decidiu enviar sem ônus algum para o destinatário um computador completo (equipados com peças de ultima linha e claro seu novos processadores) para os principais responsáveis pelos grandes blogs de tecnologia do mundo. Os autores dos blogs receberam em casa um computador moderno para utilizarem em seu dia a dia durante um prazo determinado pela Intel16. O resultado dessa ação foram milhares de usuários por curto espaço de tempo dos novos processadores da Intel escrevendo colunas e artigos sobre o acontecido e lógico sobre a qualidade comprovada dos Core 2 Duo. Uma ação que pode parecer simples, mas que foi pensada e estudada dentro de um plano de comunicação. Uma estratégia primeiramente direcionada somente aos blogueiros tendo em vista eles como hubs, e que gerou um enorme comentário em toda a comunidade ligada em tecnologia. 15 Intel é a maior fabricante de processadores para computador do mundo. Para saber mais acesse: http://www.intel.com/portugues/. 16 Disponível em: http://www.brainstorm9.com.br/2006/11/27/quero-um-intel/. Acessado em: 27 Nov. 2007. 29 O exemplo da Intel mostra como é possível aplicar o buzzmarketing dentro de um plano de comunicação através do buchicho gerado pelo produto, porém algumas vezes o buchicho pode ser gerado apenas através das características do produto sem a intenção mercadológica por trás. Geralmente, isso ocorre com serviços para internet como Skype17, serviço que oferece telefonia através da tecnologia peer to peer18, onde nunca foi feita uma divulgação do serviço, porém poucas horas após o lançamento as funcionalidades que não são encontradas em outro serviço semelhante estampavam as matérias de blogs e publicações de tecnologia. Porém assim como o buchicho positivo pode ser gerado através das características e funcionalidades do produto, o buchicho negativo também pode acontecer, foi o que ocorreu com a empresa Kryptonite19, fabricante de cadeados e artigos de segurança. No dia 12 de Dezembro de 2004, um usuário do fórum bikeforuns.net revela em uma página do website que é possível abrir um modelo de cadeado específico da Kryptonite utilizando apenas uma caneta bic.20 Em apenas três dias o artigo publicado recebeu mais de cem respostas e o vídeo publicado com a façanha visualizado mais de 255 mil vezes. Apesar das constantes ligações para o serviço de atendimento após a publicação do vídeo a empresa pareceu não se importar com o fato, isso somente até o dia 17 de Dezembro quando o famoso The New York Times21 devido ao tamanho sucesso de comentários quanto ao feito do usuário, publica um artigo que relata o 17 “Skype é uma empresa global de comunicação via Internet, permitindo comunicação de voz e vídeo, grátis entre os usuários do software através do seu software homônimo Skype. Está disponível em 27 idiomas e é usado em quase todos os países.” Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Skype. Acessado em 10 Nov. 2007. 18 “O P2P ou Peer-to-Peer (Par-a-Par) é uma tecnologia para estabelecer uma espécie de rede de computadores virtual, onde cada estação possui capacidades e responsabilidades equivalentes.” Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Peer_to_peer. Acessado em 10 Ago. 2007. O que facilita o envio e recebimentos de dados digitais, onde cada usuário serve como servidor e hospedeiro do arquivo para outro. 19 Kryptonite é uma empresa americana referência no ramo de cadeados e artigos para segurança. Para saber mais acesse: http://www.kryptonitelock.com/Default.aspx. 20 Disponível em http://www.mktg2.net/2007/10/13/kryptonite-um-exemplo-de-buzz-negativo/. Acessado em 20 Nov. 2007. 21 “O The New York Times é um jornal de circulação diária internacionalmente conhecida publicado na cidade de Nova Iorque, distribuído nos Estados Unidos e em muitas outras nações mundialmente.” Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/The_New_York_Times. Acessado em: 15 Dez. 2007. 30 ocorrido. A partir da publicação do The New York Times, a mídia espontânea22 gerada sobre o caso atingiu outros jornais e revistas. Após cinco dias da publicação da matéria no jornal, cinco dias de mídia negativa praticamente em todos os meios, a empresa se pronuncia publicamente e oferece a troca do modelo de cadeado gratuitamente. O que pareceu apenas um caso de um consumidor curioso com o produto gerou proporções enormes e mídia negativa para a empresa Kryptonite como um todo, não somente para o modelo de cadeado avaliado. Além do impacto negativo nas vendas dos produtos, foram mais de 10 milhões de dólares para sanar as despesas, de troca de produto e revitalização da imagem. O caso da Kryptonite foi algo casual, poderia muito bem que até hoje nenhum consumidor curioso se habilitasse a brincar com canetas bic e cadeados. Mas e quando uma ação planejada de buzzmarketing gera buchicho negativo? Foi o que ocorreu com caso Red Bull23 em 2007 na cidade de São Paulo. Uma ação que visava o buzzmarketing, por conta de uma estratégia desastrada gerou bastante buchicho negativo em torno da marca. Em Janeiro de 2007 uma cratera abriu-se no meio de uma avenida movimentada da cidade de São Paulo devido às más condições no sistema de manutenção de metrôs. Enquanto os bombeiros trabalhavam arduamente para localizar sobreviventes no acidente, foi montado próximo a estação de trabalho um stand da Red Bull, onde as promotoras saiam do stand com mochilas no formato do produto, ultrapassavam o cordão de isolamento da área para distribuir latas do produto energético para os bombeiros em pleno caos e situação de desespero por parte das pessoas que estavam próximas ao acidente e perderam familiares e amigos na situação. A promotora alegou que ação não era promocional e sim para “dar um gás para a galera que está trabalhando”. Outra promotora afirmou que “era o momento certo, pois eles estão exaustos, a gente quer ajudar”. O setor de comunicação da Red Bull informou que não fez divulgação nem promoção do produto no lugar do acidente, apenas as 22 Dentro da linguagem do marketing de guerrilha entende-se mídia espontânea como a mídia não paga gerada através do buchicho sobre alguma marca sérico ou produto. Por exemplo, quando o Orkut foi lançado diversas revistas semanais como Época e Veja lançaram matérias sobre o serviço, ou seja, o Orkut chegou a mídia sem necessitar desembolsar por isso. Para saber mais acesse: http://www.espalhe.com.br. 23 “Red Bull é uma bebida energética sem álcool em sua composição que se tornou um sucesso de vendas em mais de 140 países, devido, em grande parte, a uma ótima campanha de marketing e uma excelente distribuição.” Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Red_Bull_%28bebida%29. Acessado em 07 Set. 2007. 31 promotoras eram orientadas a abordar profissionais em situação de cansaço físico e mental. A ação da empresa Red Bull repercutiu negativamente principalmente em jornais, fóruns e blogs24 de comunicação e é lembrada hoje por profissionais da área de guerrilha como um dos mais desastrosos esforços de comunicação de 2007. Conforme visto nos exemplos da Intel, dos cadeados Kryotonite e Red Bull, quem decide o destino e a forma de como será interpretado o comentário é o consumidor. Para que a mensagem a ser enviada através do buchicho seja interpretada de forma coerente pelo público é necessário estudar como se dão as práticas do buzzmarketing dentro da comunicação. 24 Disponível em: http://www.brainstorm9.com.br/2007/01/17/red-bull-na-cratera-do-metro/. Acessado em 27 Nov. 2007. 32 3.1 BUZZMARKETING E A PRÁTICA Segundo Salzman, Matathia e O’ Reilly (2006) o buzzmarketing vem evoluindo e tomando mais espaço dentro das estratégias de marketing e publicidade. Sendo cada vez mais aceito e parte do cotidiano de comunicação ele amadurece e já toma pra si o que a propaganda de massa não consegue fazer ou atingir. A propaganda continua muito viva, mas sem a eficiência em atingir o público como no passado. O que vemos estourar hoje é a segmentação de mercado, e é onde o buzzmarketing ganha força quando compara a diversas mídias tradicionais. As pessoas agora se agrupam e espalham em específicos tipos de mercado que hoje podem ser identificados mas não totalmente trabalhados com uma mídia de massa. Dessa maneira uma boa estratégia de comunicação aliada aos conceitos do buzzmarketing pode causar um grande impacto dentro dessa comunidade antes inatingível para as mídias tradicionais. O buzzmarketing pode ser defendido em dois modelos, o primeiro modelo é defendido por Marian Salzman, Ira Matathia, Ann O'Reilly (2006), e o segundo modelo defendido por Jackie Huba e Bem McConnel (2006). O modelo de formação do buzz defendido por Marian Salzman, Ira Matathia, Ann O'Reilly (2006) é dividido em três momentos. O primeiro conhecido como fímbria lunática, formada por 2% da população, e dela fazem parte os consumidores mais radicais, visionários que acabariam agindo fora dos limites das convenções para alcançar os resultados, esses consumidores inspirariam os alfas(que detêm o poder de influência), a problemática são as idéias defendidas por esse segmento, pois devido a grande distância em relação a massa essas idéias inovadoras e radicais acabariam morrendo na praia. No segundo momento defendido por Salzman, Matathia e O’ Reilly (2006) se encontram os fãs onde representariam cerca de 8% da população. Eles estariam entre os consumidores mais influentes e com poder de persuasão acima da média, ao mesmo tempo, sendo os consumidores mais inquietos e curiosos. A função deles dentro do buzz é de fomentar os seguidores que deverão aderir a suas idéias e causas. O terceiro momento é o que aparenta ser mais plausível e aplicável no mercado, nele, são caracterizados os consumidores abelhas, aqueles que recebem a informação do formador de opinião e se encarregam de passar a informação recebida a sua maneira. Eles estariam em segundo lugar, logo após os alfas, onde diferentes deles que apreciam o prestígio, o consumidor abelha se sente seguro de ter uma boa companhia (o alfa) eles 33 são os confirmadores da informação. Não querem ser os primeiros apenas querem fazer parte da disseminação, são eles que fazem o mercado, considerados como superconectores. Para Salzman, Matathia e O’ Reilly (2006), os super-conectores (abelhas) podem se mostrar bastante conhecedoras de uma determinada área e pouco conhecedores de outra, ou seja, assim como os alfas cada abelha tem a sua “área de atuação”. Sendo o trabalho dos profisionais identificar essa área. O segundo modelo de desenvolvimento do buzzmarketing defendido por Jackie Huba e Bem McConnel (2006) é considerado neste trabalho como o mais aplicável e plausível de entendimento e implementação. A teoria deles usa o termo evangelista para aqueles mesmo consumidores identificados como alfas na teoria anterior. Os clientes evangelistas por sua vez não são aqueles que pertencem ao tão seleto grupo de alfas. Eles podem ser caracterizados apenas como os consumidores apaixonados, leais, compradores e devoradores de novidades e principalmente crentes nos produtos e serviços que compram ou aderem. Em poucas palavras, são os cliente satisfeitos. Eles não divulgam algo por prazer ou prestígio, podem até vir a sentir isso ao falar de um produto, mas, algo está além do prestígio, o apego e paixão pela marca gerada pela satisfação. Os clientes apaixonados compram produtos da marca de paixão para presentear, dão feedbacks e falam dela mesmo quando não perguntados, perdoam falhas ocasionais e reportam eventuais erros. O que os leva a propagar a marca de um produto ou serviço é um bem querer comum e natural das pessoas. Os clientes evangelistas apenas desejam que outros se beneficiem, assim como eles, do que o produto possa oferecer. Para McConnel e Huba (2006) a publicidade e a regras tradicionais de comunicação estão perdendo força, e defendem que as empresas devem buscar esses clientes, pois eles são a moeda de maior valor e sucesso que a empresa pode possuir. McConnel e Huba (2006) traçam seis princípios básicos para defender a construção do dito evangelismo entre os clientes, são eles: Estabelecer o plus25-delta entre os clientes, partilhar o conteúdo, gerar o buchicho, criar comunidades, pedaços pequenos e criar uma causa. Receber o feedback contínuo dos cliente é o primeiro dos princípios. Eles estudam o plus-delta dos clientes, (a força motora para o feedback). Segundo McConnel e Huba (2006) o plus significa o reconhecimento sobre o que funciona bem e o delta 25 Plus é um termo em inglês utilizado para designar temos como algo a mais ou diferencial. 34 simboliza o que pode ser melhorado. É numa constante realização de plus-delta através de métodos qualitativos e quantitativos com esses clientes que a empresa valoriza essa relação com eles fortificando laços para um possível futuro cliente evangelista e ao mesmo tempo melhorar o desempenho da sua organização. Esse é apenas um dos caminhos para o evangelismo defendido por McConnel e Huba (2006). O que é um estudo que se confirma na atual tendência onde as empresas estão cada vez mais voltadas para os seus clientes em todos os aspectos que envolvem a relação com a marca, produto ou serviço. O segundo princípio apresentado por McConnel e Huba (2006) é a disseminação de conteúdo. Para ilustrar bem o assunto os autores recorrem ao caso Napster26, onde em 1999 o estudante Shawn Fanning, um programador de 19 anos desenvolveu um programa de computador que permitia internautas em pontos demográficos diferentes compartilhar arquivos de música no formato mp3. A própria ascensão do Napster pode ser considerada um case de sucesso através do buzzmarketig, pois é mais um caso onde as qualidades do produto falam por si só. A prova do sucesso foi a velocidade do números de residências utilizando o programa desenvolvido por Shawn Fanning. No auge do Napster, chegou a ser registrado 50 milhões de usuários no mundo inteiro que compartilhavam aproximadamente 10 milhões de arquivos de música. Foi uma distribuição de informações que se deu unicamente através do boca a boca, pois até então era inédita a forma de se obter “música de graça”. O caso despertou a ira dos advogados de grandes gravadoras, porém o foco dos autores não é estudar o sucesso do Napster e sim extrair o que podemos considerar positivo nas ações promovidas através do programa. A proposta de disseminação de conteúdo defendida por Huba e Mcconel (2006) é a de dividir o conteúdo, ou seja compartilhar o conhecimento da empresa. Dentro da proposta são destacados cinco lições básicas: 1. “Tornar a propriedade intelectual amplamente disponível pode abrir avenidas para novos produtos e serviços. 2. A internet e a tecnologia peer-to-peer usadas no Napster permitem que as informações sejam partilhadas e transmitidas a outrem na velocidade da luz. 26 “Napster foi o primeiro programa de compartilhamento massivo de arquivos através de tecnologia peer to peer. Criado por Shawn Fanning, o programa compartilhava somente arquivos de música em formatodigital.” Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Napster. Acessado em: 14 Ago. 2007. 35 3. A criação de novas tecnologias é infinita; os profissionais de marketing precisam continuar se adaptando e inovando para surfar nas ondas de oportunidades trazidas pela nova tecnologia. 4. Os clientes esperam plataformas abertas e modelos teste-antes-decomprar. 5. Os clientes gostam de participar de comunidades para partilhar e trocar dados de um para um, ou de um para muitos.” (Mc Connel & Huba, 2006 : p43-44). De todas as cinco lições extraídas a partir do lançamento do Napster que ocorreu em 1999 podemos fazer um paralelo com tendências que estamos vislumbrando hoje em 2007 na internet. Para exemplificar primeiro tópico, temos o exemplo do tramavirtual.com.br, um endereço virtual com a finalidade de hospedar bandas de música, onde o conteúdo das bandas está disponível a qualquer um que tenha acesso ao website. Para o tópico dois, temos como exemplo o incrível sucesso que são as redes de compartilhamento de arquivo, onde no início a funcionalidade seria apenas de enviar e receber diferentes formatos de arquivo, hoje, já é a base de exibição da chamada televisão da nova geração. O Joost, um sistema de televisão para web onde seu formato é sustentado a partir do compartilhamento de informações através dos usuários. Onde no momento que um espectador está assistindo a programação X ao mesmo tempo ele está transmitindo os dados da programação para outro usuário que sintoniza no canal X. No terceiro tópico, temos como exemplo a criação de diversas agências de comunicação com foco na web, isso é um reflexo de que cada vez mais profissionais de marketing e comunicação precisam de um suporte extra para trabalhar com novas tecnologias. São empresas que pensam e desenvolvem especificamente ações para serem executadas na internet. Hoje, é grande os números de campanhas publicitárias que compram uma chamada na televisão ou rádio para chamarem o espectador ou ouvinte para acessar o website onde se desenvolve a campanha. No tópico quatro, o melhor exemplo que podemos trazer é dos atuais serviços online. Tomando por exemplo o Google, todos os serviços novos disponibilizados sempre nos aparecem como versões alpha ou beta, que são versões de teste onde os usuários lançam o feedback para a empresa desenvolvedora para avaliação, nesse ponto já observamos o plus delta defendido por McConel e Huba (2006). Onde, através dos 36 constantes feedbacks quanto à utilização, a empresa desenvolve o software para então lançar a versão final. Já no último e quinto tópico, temos exemplos das constantes comunidades de relacionamento online. No Brasil o serviço mais popular é o Orkut27, no mundo temos myspace28 e o Windows Live Space, da Microsoft29 como o maior em números de usuários. Todo esse sucesso é comprovado pelo mais forte apelo da chamada web 2.0, que a visão do usuário como gerador de conteúdo, graças a isso é que todos esses formatos de comunidades de relacionamento fazem sucesso. O próprio myspace é a melhor definição para web 2.0, pois o nome do serviço já fala por ele, “meu espaço” não é apenas um bonito nome mercadológico, e sim o principal argumento de venda do serviço. Lá o usuário pode customizar a página como bem entender, é uma tendência que já está sendo seguida pelo concorrente Orkut, que a cada mês está adicionando novos serviços e funcionalidades que primam pela customização da página do usuário. Uma das lições aprendidas com o caso Napster é bastante utilizada por empresas que praticam o buzzmarketing, a quinta lição, a de criar comunidades. Clientes satisfeitos com a marca e produto que consomem gostam de fazer parte de algo maior que eles mesmos. Um caso clássico de paixão pela marca é da Harley-Davidson, onde um artigo de 2001 publicado pela Forbes definiu que os sentimentos dos clientes em relação a experiência com a marca é algo relacionado a um “movimento que existia antes de você nascer e continuará até depois que você morrer”. Saber explorar as vantagens e benefícios da marca, produto ou serviço a fim de construir redes de marketing boca a boca é o terceiro princípio básico para a criação de clientes evangelistas defendido por Mc Connel e Huba, (2006). Para estabelecer essa rede de buchicho entre os clientes as empresas podem estimular a criação de comunidades. Todos saem ganhando quando os clientes se conectam a empresa, essa aos clientes e os clientes entre si. Estimular a criação de comunidades entre os clientes é o quarto princípio apresentado por Mc Connel e Huba (2006). Um exemplo prático de utilização do conceito de comunidade como influenciador do buzzmarketing são as 27 Orkut é uma rede de relacionamento online filiada ao Google. Foi criada em 2004 com o objetivo de reunir e agrupar pessoas classificadas por suas preferências de assunto e amigos. Para saber mais acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut. 28 29 MySpace é serviço de relacionamento online assim como o Orkut. A Microsoft é a maior e mais conhecida empresa de softwares do mundo. Fabricante do sistema operacional mais difundido nos mundo, o Windows. Para saber mais: acesse http://www.microsoft.com/brasil/. 37 empresas que hospedam em seu website fóruns de discussão, onde os clientes trocam informações entre si sobre eles mesmos e a experiência com o produto. O quinto princípio para criar clientes evangelistas defendido por Mc Connel e Huba (2006) é a de criar pequenas experiências para o consumidor com o seu serviço. Pode ser confundido com marketing de experimentação, geralmente visto nas sessões de tecnologia de supermercados onde podemos testar os produtos à venda. O objetivo do princípio é de gerar comentários, porém os benefícios são bastante semelhantes ao do marketing de experimentação; reduzir risco para os tomadores de decisão, eliminar os inibidores de compra e levar o produto até as mãos dos clientes (Mc Connel & Huba, 2006). Criar uma causa que incentive a compra e gere o comentário é o sexto e último princípio defendido por McConel e Huba (2006). Geralmente empresas relacionam seus negócios com causas beneficentes, onde além de vender o produto venda a comodidade ao consumidor de saber que está cooperando para alguma causa social. Esses mesmos consumidores passaram a relacionar a marca a valores leais e éticos. Christopher Locke (2002) define o marketing de causa como o marketing de um produto ou serviço que se utiliza de trocas comerciais para promover doações e assim levantar dinheiro e visibilidade para a defesa de uma causa. Porém, é importante diferenciar o marketing de causa do marketing social, pois geralmente quando a publicidade se utiliza dos princípios de criar uma causa é classificada como marketing social. Kotler (2002) define como marketing social ações mercadológicas que procuram influenciar comportamentos sociais não em benefício do mercado, mas em benefício de um maior público e a sociedade em geral. Enquanto o marketing relacionado às causas se relaciona com os esforços de uma corporação para aumentar as vendas a partir do apoio a entidades ou movimentos sociais. Uma pesquisa realizada pela Cone Comunications relatada por Mc Connel & Huba (2006), entre dois produtos com preço e qualidades equivalentes em 1990 constatou que 78% dos consumidores têm preferência em comprar um produto associado a uma causa com a qual se importam, 66% disseram que trocariam de marca apara apoiar uma causa, 61% disseram que trocariam de varejista para apoiar uma causa e 54% pagariam a mais por um produto para apoiar uma causa. O estudo relatou que 80% dos entrevistados preferem uma empresa que adote uma causa por muito tempo àquelas que adotam em um curto prazo. “Empresas que apóiam causas por muito tempo conquistam o coração dos clientes” (Mc Connel & Huba, 2006:77). 38 A espontaneidade em comentar sobre produtos ou serviços é estimulada quando esses produtos estão ligados a uma causa. Cria no cliente um bem estar em fazê-lo sentir que faz parte de algo maior (Mc Connel & Huba, 2006). Dentro das práticas de buzzmarketing existe também o chamado buchicho falso. Ele ocorre quando a empresa contratante seleciona atores e modelos para falar bem do produto em diferentes praças. Onde o ator se passa por uma “pessoa comum” encantada com a marca. Grandes empresas de diferentes mercados já praticaram o chamado buchicho falso, como a montadora de automóveis Ford. (Mc Connel & Huba, 2006). A partir dos seis princípios básicos defendidos por Mc Connel e Huba (2006) para gerar clientes propagadores da marca, serviço ou produto entendemos o que deve ser feito para criar um canal de relação pessoal e interativo com a base de clientes. São princípios que podem ser aplicados em pequenas, médias e grandes empresas em qualquer ramo. A seguir apresentaremos dois estudos de caso onde foi possível identificar a atuação de todos os princípios para gerar clientes evangelistas em dois segmentos de produtos bastante diferentes onde o consumidor foi a propagador da mensagem. 39 3. ESTUDO DE CASOS: ESPALHE Para analisar como se dá a aplicação dos conceitos do buzzmarketing em uma campanha de publicidade, são estudados dois casos de comunicação realizados pela Agência Espalhe, a primeira agência de propaganda brasileira a investir profissionalmente em mídias diferenciadas com foco na aplicação dos conceitos do marketing boca a boca. Todos os casos estudados se utilizam dos técnicas de buzzmarketing para o cumprimento dos objetivos pré-estabelecidos. Em ambos os exemplos apresentados o grande diferencial foi o relativo capital pequeno de investimento na comunicação com um retorno muito maior se comparado aos valores gatos normalmente em campanhas na TV, rádio e jornal. Os clientes são Klabin Segall, grande incorporadora imobiliária no sudeste e Tetra Pak, empresa que confecciona embalagens cartonadas. A teoria sobre buzzmarketing defendida por McConel e Huba (2006) será diretamente relacionada em todas as ações de marketing desenvolvidas para as campanhas da Klabin Segal e Tetra Pak. 40 4. CASO 1: EU SOU DA LAPA A incorporadora imobiliária Klabin Segall optou por investir no bairro Lapa, no Rio de Janeiro, na época uma área que não recebia investimentos imobiliários há mais de 30 anos. A incorporadora decidiu trabalhar no bairro com o condomínio Cores da Lapa composto por seis edifícios propondo uma área de lazer inédita para a classe média. Para isso era necessária uma comunicação diferenciada para chamar a atenção da cidade para o bairro Lapa. A agência Espalhe, primeira agência brasileira especializada em marketing de guerrilha, montou um plano de comunicação para potencializar as vendas do condomínio Cores da Lapa. O caso Eu Sou da Lapa desenvolvido pela agência Espalhe apresenta todos os seis princípios básicos de buzzmarketing defendidos por McConnel e Huba (2006). A cada estágio da campanha de marketing de guerrilha é possível identificar um dos princípios. Para ganhar notoriedade rapidamente para a região da Lapa a Espalhe resolveu criar e apoiar uma causa, que segundo McConnel e Huba (2006) geram um bem estar no consumidor e é um fator incentivador do buchicho. A agência planejou o movimento “Eu sou da lapa”. Com o objetivo de despertar na comunidade carioca o desejo de morar no bairro Lapa. Para isso elegeram ícones que levantariam a bandeira do movimento “eu sou da lapa” e foram escolhidas personalidades que só os cariocas conheciam, para representar a cidade e levar o “eu sou da lapa” por onde estivesse, o que gerava o buchicho e mídia espontânea. As personalidades escolhidas foram artistas de rua do cotidiano do Rio de Janeiro como o escultor Alonzo Dias. 41 Figura 01 – Escultor Alonzo Dias com o endereço do site da campanha esculpido na areia. Ele esculpiu os Arcos da Lapa e o site www.eusoudalapa.com.br nas areias da praia de Copacabana. Outro ícone eleito foi o saxofonista dos metrôs da cidade, Ademir Leão, tido como referência local por tocar há mais de 25 anos nas ruas e metrôs do Rio de Janeiro. Sua vestimenta durante a campanha passou a ser camisa e chapéu Panamá do movimento “eu sou da lapa”, ele oferecia guias do bairro para todos que paravam. Um caso exemplar de mídia espontânea gerada foi quando o saxofonista foi convidado para dar entrevista no programa do Jô, na emissora Globo. Na data da entrevista ele se apresentou com as vestimentas da campanha Eu Sou da Lapa, na mesma noite de exibição do programa registrou-se um número de acessos recorde ao site da campanha “eu sou da lapa.” Já com este exemplo de mídia espontânea gerada é possível identificar o princípio de estabelecer o buchicho citado por McConnel e Huba (2006). Foi desenvolvida também a versão carioca do “Wally”, personagem do livro “Onde está Wally30?”. Um ator contratado vestiu a camiseta “Eu sou da Lapa” e chapéu panamá, e oferecia rodadas de chope em bares badalados em diferentes pontos da cidade. Tirava fotos das pessoas com a camiseta nos bares e as convidava para acessar o site da campanha para conferir as fotografias. O surfista Dadá Figueiredo também foi contratado, ele possui uma escola de surf em frente à barraca do Pepê, na praia da Barra da Tijuca. Dadá ministrou aulas com pranchas personalizadas e vestia uma camisa com o layout e endereço do site “Eu sou da Lapa”. 30 “Onde Está o Wally? é uma série de livros de caráter infanto-juvenil criada pelo ilustrador britânico Martin Handford, baseada em ilustrações e pequenos textos.”. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Onde_est%C3%A1_o_Wally%3F. Acessado em 18 Dez. 2007. 42 Figura 02 – Surfista da praia de Copacabana com a prancha customizada com o site da campanha. A agência Espalhe também desenvolveu uma estratégia para trabalhar com as torcidas de clubes de futebol. Elas foram influenciadas a participar da campanha a partir de uma ação inusitada que gerou bastante mídia espontânea. A ação se deu com as torcidas dos times Flamengo, Botafogo e Vasco. No início e intervalo dos jogos, elas levantaram bandeirões no estádio onde estava escrito “A torcida “X” também é da Lapa” e endereço do site da campanha. Nos estádios, mais de 78 mil pessoas foram impactadas e estima-se que milhares pela tevê. Figura 03 – Torcida do botafogo agitando a bandeira gigante desenvolvida para a campanha. Foi criado também o Guia “Eu sou da Lapa”, que continha 70 endereços comerciais e atrações, além da história do bairro da Lapa. Com este guia do bairro o 43 princípio de partilhar o conhecimento com o cliente é aplicado na campanha Eu Sou da Lapa. Para gerar o movimento online, foi desenvolvido o site www.eusoudalapa.com.br. Além de possuir o mesmo conteúdo do guia, o site oferecia o perfil dos ícones do movimento e últimos acontecimentos. Os links para a comunidade no Orkut e outros sites em comum estavam dispostos no site do Cores da Lapa, através do incentivo para que os usuários gerem conteúdo sobre o bairro dentro do site Eu Sou da lapa e nas comunidades de relacionamento, o princípio de criar comunidades é bastante claro dentro da campanha. Analisando e aplicando os comentários e opiniões expostas no site e nas comunidades relacionadas ao bairro Lapa a Espalhe pode receber o feedback dos clientes assim como descrito no princípio de plus-delta explicado por McConnel e Huba (2006). A agência Espalhe elaborou uma maneira de se comunicar também com a comunidade e os formadores de opinião. A Prefeitura, a Secretaria de Urbanismo e os estabelecimentos comerciais do bairro Lapa foram convidados a aderir ao movimento. Foram entregues camisetas, faixas, adesivos, guardanapos, bottons, bolachas de chope e guias. Figura 04 – Material promocional da campanha Eu Sou da Lapa distribuído nos bares cariocas. O material de campanha também foi enviado para artistas como o ator Marcos Palmeira. 44 Figura 05 – Ator Marcos Palmeira vestindo a camisa da campanha durante caminhada da Praia. Os corretores de vendas de imóveis receberam também material de vendas do empreendimento e o kit Eu sou da Lapa. Com todo esse material de campanha distribuído para os promotores de venda a Espalhe os aproximou do produto e criando experiência com o mesmo, assim como defendido no princípio de dividir em pequenos pedaços a experiência com a marca, produto ou serviço. A guerrilha e ações de buzzmarketing foram iniciadas dois meses antes do lançamento, preparando o mercado carioca para a chegada do condomínio Cores da Lapa. Ao total, foram distribuídos 40 mil guias, o site do Movimento Eu sou da Lapa obteve 6 mil acessos em um mês e a comunidade no site de relacionamento Orkut obteve quase 1500 membros. O buchicho gerado pela campanha foi parar nas reportagens que ovacionaram o bairro. Figura 06 – Matéria publicada na revista Veja sobre o movimento Eu Sou da Lapa. 45 Foram veiculadas 65 matérias sobre o movimento Eu sou da Lapa e sobre o empreendimento, em várias publicações e editoriais, antes, durante e depois do lançamento do Cores da Lapa. Para que a Klabin Segall conquistasse o mesmo espaço e valor de exposição que teve nos veículos de imprensa, ela teria de investir R$ 3 milhões de reais em propaganda. No dia 10 de novembro, a data de lançamento do condomínio, o Cores da Lapa virou case de mercado, com a venda recorde de 668 apartamentos em 2 horas. Tudo isso dentro do orçamento de R$ 180 mil reais da campanha. Hoje reconhecida como um divisor de águas no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, a ação foi finalista do Prêmio Aberje 2006. 46 CASO 2: TETRA PRISMA A Tetra Pak é referência mundial por suas embalagens cartonadas assépticas, e criou em 1998 a embalagem Tetra Prisma Aseptic. Foi designada para atender o público jovem, ela diferencia-se das demais embalagens pelo formato diferenciado e design metalizado e ergonômico. Verificando que o produto não era bem percebido pelo consumidor final, a empresa observou que precisava trabalhar com uma comunicação diferenciada para se fazer presente para os consumidores. A agência Espalhe mapeou os locais e eventos mais descolados de SP, e descobriu um esporte diferente no Parque do Ibirapuera, o streetball. No universo do basquete os fãs desenvolveram modas, gírias e hábitos, que se entrelaçam com a cultura do Hip-Hop. E essa junção de aspectos do estilo musical Rap e o basquete resultam no que é conhecido como streetball. Essa modalidade diferencia-se também pela democracia no jogo: para participar do streetball, não importa a idade ou tipo físico do atleta. É necessário somente a tabela, a bola e a vontade de aparecer na quadra. Analisando os diversos aspectos do esporte, a Espalhe concluiu que trazer a tona uma modalidade diferenciada do basquete poderia atrair a atenção da mídia e curiosos. A partir daí, foi criado o Tetra Prisma, primeiro time de streetball de São Paulo. Figura 07 – Jogador do Tetra Prisma demonstrando habilidade com o esporte e chamando atenção do público. Para que o time fosse aceito na comunidade do streetball foram utilizados todos os códigos da tribo. Desde a identidade visual da equipe que também remetia à marca e se misturava com a estética do Hip-Hop. Foi montada uma comissão técnica para avaliar os praticantes do esporte com idade entre 16 e 25 anos. Foi realizada uma 47 seletiva. Por meio da imprensa, de comunidades ligadas ao esporte no site de relacionamento Orkut e da distribuição de 300 cartazes por São Paulo. Figura 08 – Cartaz chamando para a seletiva e blog do time. Foram 100 inscrições e 10 foram escolhidos e ganharam ajuda de custo mensal e material esportivo, produzido pela Puma, empresa de sucesso em artigos esportivos. Foram realizadas partidas em quadras públicas da cidade de São Paulo, a equipe selecionada chegava descontraída, jogando e carregavam conservadores com produtos Tetra Pak para dividir com os adversários e público. Figura 09 – Público espectador dos jogos com os brindes distribuídos. 48 Ao utilizar os próprios atletas, no lugar das promotoras, para entregar os produtos e adesivos da campanha, a Tetra Pak tornou o time Tetra Prisma o porta-voz da empresa e da embalagem gerando uma empatia entre o público curioso, a mídia que era responsável pela cobertura e a marca Tetra Pak. Foram realizadas ao todo 87 partidas, nas quais foram atingidas cerca de 16 mil pessoas e distribuídas 16 mil embalagens. Foi desenvolvido também, um canal de comunicação para o time, o blog www.streetballbrasil.com.br (ver Figura 13), que chegou a receber mais de quinhentos visitantes únicos por dia, o blog tornou-se ponto de encontro de internautas que buscavam informações sobre o esporte e time. No site de relacionamento Orkut, foi criada a comunidade Tetra Prisma Streetball Team. Nas comunidades criadas pelo público atingido pela mensagem percebe-se a clara ação do usuário como agente disseminador da informação. Tudo sobre o esporte foi divulgado no blog oficial do Time Tetra Pak, o que fomentava ainda mais a discussão e dispersão da mensagem e nome da marca Tetra Pak. Inicialmente programada para durar 3 meses, a ação de guerrilha gerou um buchicho canal tão forte entre a Tetra Pak e os jovens e as mídias esportivas, que a Tetra Pak estendeu o projeto por mais 6 meses. Com isso conseguiu aproximar mais sua marca do consumidor final e venceu o desafio de criar e executar uma idéia ainda inédita no mercado. E isso dentro de um orçamento total de R$ 280 mil. Onde só em mídia espontânea, o resultado foi de aproximadamente R$ 5 milhões de reais. O trabalho de relacionamento com a imprensa gerou 80 inserções em diferentes veículos de comunicação o que resultou em uma média mensal de 9 exibições. As novidades sobre o time tetra Pak time foram divulgadas em revistas e veículos de marketing e inseridas em áreas pouco comuns para uma empresa de embalagens, como esportes e variedades. 49 Figura 10 – Foto de jogador do tetra Prisma publicada em matéria na Folha de São Paulo. Nas matérias divulgadas a Tetra Prisma foi exposta como uma marca associada a um esporte inovador e diferenciado. Mesmo mídias comerciais rígidas, como Rede Globo e ESPN, exibiram reportagens sobre o jogo e os time Tetra Pak e espetáculo dos jogadores. Recebeu até um editorial de moda com 6 páginas na Revista Trip. Figura 11 – Editorial de moda publicado na revista Trip sobre o steetball. 50 Figura 12 – Capa de matéria sobe o time Tetra Prisma publicada na revista Trip. Figura 13 – Matéria publicada na revista Trip sobre o steetball. Através das diferenciadas ações implementadas, a Tetra Pak estabeleceu uma aproximação diferenciada com os jovens, onde eles foram o divulgadores da mensagem ao participarem e criarem comunidades de relacionamento sobre o esporte e time da Tetra Pak. O time Tetra Prisma inspirou outros jovens a conhecer e praticar o esporte. Diferente da propaganda em mídia como televisão, rádio e jornal, os efeitos das ações baseadas no buzzmarketing não têm um período certo para acabar. Dependendo do buchicho gerado pela campanha o assunto pode se estender. Como foi o caso da Tetra Prisma, onde se verificou um atenuado aumento da prática do streetball nas quadras e espaços públicos de São Paulo. Como exemplo: a comunidade “TPF- Tetra Prisma 51 Fãs”31 no Orkut sobre o time de streetball continua recebendo atualizações por parte dos usuários. 31 Verificar o endereço http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6674844 (é necessário cadastro prévio no site). 52 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As campanhas realizadas pela agência Espalhe demonstram em números e resultados o poder que uma comunicação baseada no buzzmarketing pode realizar. Tanto no caso Eu Sou da Lapa, como no Tetra Prisma, o consumidor foi o principal elemento da campanha, agindo como difusor da mensagem do anunciante o que garantiu o ótimo resultado em ambas campanhas. Ele é o foco, ele é o contagiado e contagia o próximo com a mensagem da empresa. Ou seja em uma campanha que se utiliza do buzzmarketing, acima de tudo é necessário que a empresa conheça bem o seu público alvo, muito além das pesquisas. E principalmente coerência no momento de elaborar a estratégia para comunicação para que os princípios defendidos por McConnel e Huba (2006) possam ser aplicados dentro do plano de comunicação. A partir da análise das campanhas Eu Sou da Lapa e Tetra Prisma foi visto que os seis princípios básicos para criar clientes difusores da mensagem explicados nesse trabalho e apresentados por McConnel e Huba (2006) são elementos identificáveis dentro das campanhas de marketing de guerrilha apresentadas, onde estimularam o buchicho entre o público e mídia atingido pela mensagem. Outro ponto a ser destacado é o baixo custo das operações de marketing de guerrilha que se utiliza dos conceitos de buzzmarketing. Nos dois casos apresentados o valor de mídia espontânea gerada é muitas vezes maior que o investimento no orçamento da campanha de marketing de guerrilha, ou seja, mesmo empresas que dispõe de pouco capital para comunicação podem investir em ações de buzzmarketing como alternativa de baixo custo para se comunicar de forma diferenciada com o seu público. Os resultados apresentados nos casos da Klabin Segall e Tetra Pak realizados pela agência Espalhe estão diretamente ligados à utilização do buzzmarketing, e são exemplos claros de campanhas de publicidade em que os altos investimentos em mídias como televisão, rádio e jornal deram lugar a comunicação boca a boca obtendo resultados exemplares frente ao valor do investimento. Entende-se então que o buzzmarketing pode ser utilizado como ferramenta de comunicação dentro de grandes campanhas de comunicação. 53 BIBLIOGRAFIA AMA – American Marketing Association. Dicionário de termos de Marketing. Disponível em http//: www.marketingpower.com. 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