Divulgando o cérebro no Museu da Vida Suzana Herculano-Houzel Espaço Museu da Vida, Fundação Oswaldo Cruz, Av. Brasil 4365, Rio de Janeiro - RJ CEP 21040-360 Tel/Fax: (021)3865-2212 [email protected] www.ocerebronosso.bio.br Como todos os animais, nós humanos estamos constantemente interagindo com o mundo em que vivemos. Esta interação, segundo o senso comum, envolve várias etapas: a percepção do mundo; a criação de imagens e conceitos sobre ele; a ação sobre o mundo, transmitindo assim nossas respostas a ele. Hoje em dia aprendemos já na escola que o sistema nervoso, comandado pelo cérebro, é o responsável no corpo por essas atividades. Mas um animal como o homem, que pensa, sonha, interpreta, aprende e inventa não é só feito de percepção e ação. Como, então, o cérebro é capaz de gerar toda o rico repertório de atividades humanas? É a neurociência que hoje tenta desvendar estas questões. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, o conhecimento sobre o cérebro tem crescido a uma velocidade espantosa. Atualmente, técnicas revolucionárias contribuem para uma aceleração ainda maior da geração de conhecimentos: resonância magnética funcional, patch-clamp, e mutagênese são apenas alguns exemplos destas técnicas que desvendam o funcionamento cerebral. No entanto, a comunicação de novas descobertas científicas ao grande público não acompanhou a velocidade de crescimento do conhecimento sobre o cérebro. Enquanto no século XIX o público mantinha-se bem informado sobre os progressos desta nova ciência, discutindo recém-descobertas funções cerebrais em jornais cotidianos assim como em rodas sociais, a tendência para o século XXI, infelizmente, é a de um distanciamento progressivo do público em relação aos desenvolvimentos da pesquisa do cérebro. Torna-se então hoje em dia extremamente necessário um empenho sincero da parte de cientistas na busca da comunicação do conhecimento sempre crescente sobre o cérebro. O Espaço Museu da Vida, museu interativo de Ciências da Fundação Oswaldo Cruz a ser inaugurado em maio de 1999, tem o objetivo de garantir à população o acesso à informação sobre Saúde, Ciência e Tecnologia, possibilitando a compreensão dos processos e progressos científicos e seu impacto no cotidiano. Dentro do Museu, o complexo Laboratórios de Percepção têm como objetivos a transferência de conhecimentos sobre o processo da percepção, a partir dos pontos de vista físico, neurobiológico, psicológico e cultural. A divulgação da pesquisa do cérebro no Museu da Vida será uma das funções dos Laboratórios de Percepção, onde os visitantes explorarão diferentes aspectos da percepção do mundo. Na atividade “Mãos ao cérebro: brincando de neurocientista”, realizada em um laboratório montado no anfiteatro do Ciência em Cena, o público fará experimentos para, brincando de neurocientista, descobrir como funciona o cérebro. Assumindo os papéis de pesquisadores e cobaias, sob a orientação de mediadores especializados, os visitantes investigarão temas atuais da neurociência como a relação entre eletricidade cerebral e atividade mental, o aprendizado motor e cognitivo, e os diferentes tipos de memória. Desta forma, esperamos sensibilizar o público sobre o papel do cérebro na experiência cognitiva humana e no modo como vemos o mundo. O atendimento ao público será baseado em quatro atividades, já em fase de implantação: 1. Pesquisa sobre o nível de informação do público sobre o cérebro. Trata-se de uma pesquisa de opinião junto ao principal componente do público futuro do Museu da Vida, a população do Estado do Rio de Janeiro, buscando conhecer o papel que seus diferentes setores atribuem ao cérebro em sua vida cotidiana, e seu nível de conhecimento sobre as descobertas recentes sobre o cérebro. Esta pesquisa baseia-se em um questionário contendo 95 asserções, algumas das quais fazem até parte do “folclore científico”, como a famosa frase “Utilizamos apenas 10% do nosso cérebro”. As asserções abordam temas variados como a relação cérebro-mente, o aprendizado, a memória, a comparação cérebro-computador, disfunções cerebrais, questões de “trívia” do tipo “O sonho acontece a qualquer momento de uma noite de sono”, e técnicas modernas de estudo do funcionamento cerebral. A cada frase o respondente marca a casinha que melhor reflete sua posição: sim, não, ou não sei. A avaliação das respostas será feita através de testes estatísticos paramétricos e não-paramétricos, e através de critérios qualitativos. O questionário Você Conhece Seu Cérebro?, preparado pela autora, já passou por uma fase de teste, durante a qual foi aplicado à equipe do Museu da Vida, a adolescentes e adultos leigos. Seu conteúdo sofreu modificações para melhor adequá-lo à identificação do posicionamento do público com relação a certas questões-chave como a relação cérebromente. Apesar da sua extensão, pôde-se verificar que o questionário ocupa os respondentes em média durante apenas 15 a 20 minutos. Atualmente, encontra-se já em fase de distribuição a estudantes das diversas escolas que já visitam o Museu da Vida, a universitários e pós-graduandos das ciências Biomédica, Humana e Matemáticas, a professores destas áreas e, mais especificamente, Neurocientistas. A distribuição conta também com o apoio da revista Ciência Hoje para a pesquisa junto aos seus assinantes, os quais formam um grupo de comparação valioso, uma vez que são expostos a um veículo de divulgação científica de alto nível. 2. Criação e orientação de atividades lúdicas e interativas com o público que auxiliem a promoção de um entendimento das função do cérebro. Uma visita guiada oferecerá aos participantes a oportunidade de descobrirem o cérebro brincando de “neurocientistas por um dia”. Fazendo os papéis de experimentadores e cobaias, os próprios participantes, em atividades lúdicas criadas e dirigidas pela autora juntamente com monitores preparados, discutirão conceitos básicos e descobertas recentes da neurociência. Alguns exemplos de temas a serem cobertos são a relação entre eletricidade cerebral e atividade mental, a noção básica de campos receptores, o tempo de reação, o aprendizado motor e cognitivo, os diferentes tipos de memória, e os sentidos. Devido à diversidade do público atendido pelo Museu, existe uma necessidade de preparar-se uma série de atividades possíveis, cuja seleção para um determinado roteiro de visita acontecerá de acordo com a composição da platéia, informada previamente aos Laboratórios de Percepção pelo Centro de Recepção. As atividades que tratam do aprendizado motor e da sensibilidade tátil passaram pela fase inicial de testes com os demais integrantes dos Laboratórios de Percepção, e já se encontram em fase final de projeto, com elaboração dos recursos didáticos já encaminhada; outras, como as atividades que abordam os conceitos de campos receptores e de tempo de reação, estão entrando em fase de teste interno. As demais atividades encontram-se ainda em fase de criação. 3. Preparação de textos de divulgação científica para publicação em jornais, revistas e no novo "site" do Museu da Vida, "Nosso Cérebro", atualmente em implementação. O objetivo desta atividade é a comunicação da atualidade da Neurociência ao grande público, usando linguagem acessível a todos sem que o teor da informação fique comprometido. Idealmente, todos os textos preparados para divulgação nos meios mencionados acima deverão também ficar disponíveis ao público no âmbito do próprio Laboratório, na forma de lâminas ou textos eletrônicos passíveis de impressão na hora a partir de um computador. Até o momento, três artigos longos já foram preparados para o primeiro “número” da página eletrônica Nosso Cérebro, a ser implementada em 25 de maio de 1999: “Divisão celular fora de hora: elo comum entre o mal de Alzheimer e o câncer”; “Por que o mundo "cala" quando dormimos: Pianíssimos e Fortíssimos, ou (a)sincronia da orquestra cerebral?”; e “Esse bocejo irresistível…”. Além destes, outros artigos curtos (um ou dois parágrafos) relatando descobertas recentes em Neurociência estão em preparação para inclusão no primeiro número desta página. 4. Preparação de um banco de "fatos e descobertas" da Neurociência, também baseada em pesquisa bibliográfica. Através da compilação de dados gerados por pesquisas científicas será preparada uma base que possa ser consultada por meio de uma lista de palavras-chave. Esta base de dados deverá eventualmente ser colocada à disposição do público via internet. Todas as atividades desenvolvidas ficarão também à disposição de outros centros de divulgação científica. Contribuiremos assim ativamente à importante tarefa de informar o público sobre esta questão tão central à vida do homem: as origens cerebrais da sua mente.