ENGENHARIA/ENGINEERING 41 CONTROLE APLICADO NA OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO NATIVIDADE, P. S. G.1; GARCÊS, B. P.2 1 Graduado em Engenharia Elétrica, Universidade de Uberaba, Uberaba (MG), e-mail: [email protected]. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Confresa (MT), e-mail: [email protected] 2 RESUMO: O gradativo aumento no consumo de energia elétrica, e uma possível crise na oferta da mesma, faz necessário o aumento de pesquisas visando maior eficiência energética e sustentabilidade tanto no desenvolvimento de novos produtos quanto na mudança dos hábitos de consumo da sociedade em geral. A energia elétrica é muito mal gasta em todos os setores onde é utilizada e os sistemas de iluminação são responsáveis por boa parte desse desperdício, principalmente durante o dia enquanto temos luz natural abundante. Esse trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema inteligente e de baixo custo capaz de controlar a potência usada nos sistemas de iluminação, fazendo com que este use apenas a energia necessária para iluminar adequadamente determinado ambiente, aproveitando a iluminação natural já disponível. PALAVRAS CHAVE: Automação. Eficiência energética. Iluminação artificial. Sustentabilidade. APPLIED CONTROL TO THE OPTIMIZATION OF LIGHTING SYSTEMS ABSTRACT: The gradual increase in the consumption of electricity, and a possible collapse in its availability becomes necessary to increase research aimed at greater energy efficiency and sustainability in the development of new products and changing consumption habits of society in general. The electricity is badly worn in all sectors where it is used, and lighting systems are responsible for much of this waste, especially during the day while we have abundant natural light. This paper presents the development of an intelligent and inexpensive system able to control the power used for lighting, making this system to use only the power required to properly illuminate certain environment, taking advantage of the natural light available at the moment. KEY WORDS: Artificial lighting. Automation. Energy efficiency. Sustainability. INTRODUÇÃO A economia mundial cresceu continuamente nos últimos anos, e a previsão é que isso permaneça dessa forma. Sendo assim é natural que a demanda de energia se comporte da mesma maneira, mesmo que indiretamente, pois juntamente com o aumento do poder econômico da população vem o aumento do consumo de produtos que, certamente, foram produzidos utilizando alguma fonte energética. Estudos apontam que o consumo de energia deve crescer ao menos 1,6% ao ano, totalizando um crescimento de 39% entre 2010 e 2030 (BRITISH PETROLEUM, 2010). Diante dessa perspectiva, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o intuito de aumentar a eficiência energética dos dispositivos consumidores de energia, visando amenizar uma possível crise na oferta de energia elétrica em virtude da crescente demanda. Os sistemas de iluminação artificiais são responsáveis pelo consumo de boa parte da energia elétrica ofertada no mundo. Nesse setor, o desenvolvimento tecnológico tem contribuído para minimizar esses efeitos, no entanto a maioria das instalações continua equipada com sistemas antigos. Em geral, a iluminação artificial continua bastante ineficiente e, em especial no Brasil, é responsável por 17% do uso de toda energia elétrica consumida, sendo que aqui 50% das lâmpadas instaladas ainda são incandescentes, que tem um rendimento muito baixo (PROCEL; 2012). FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 Gastos desnecessários de energia em iluminação acontecem corriqueiramente durante o dia, quando temos a iluminação natural abundante. O motivo disso é que a maioria dos empreendimentos que opera em horário comercial não aproveita eficientemente a iluminação natural nesse período. Um exemplo prático seria a chegada dos funcionários em um escritório onde a jornada de trabalho se inicia às 08h. Neste momento todas as lâmpadas são acionadas. A maioria dos sistemas de iluminação trabalha apenas com dois estados: ligado (100% de uso de energia) e desligado (sem uso de energia). É evidente que, quando essa jornada se inicia, 100% da energia disponível para iluminação é utilizada, não levando em conta a iluminação natural já existente. Considerando que esse escritório funcione até as 18h, temos dez horas de gasto superdimensionado na energia de iluminação por dia e ao menos 50 horas por semana. Um bom projeto de iluminação natural pode fornecer a iluminação necessária durante 80 a 90% do tempo necessário durante o dia, permitindo uma enorme economia de energia em luz artificial. A iluminação natural é fornecida por fonte de energia renovável: é o uso mais evidente da energia solar. (MAJOROS, 1998). Infelizmente grande parte dos projetistas desconhecem as técnicas de bom aproveitamento deste tipo de iluminação. Isso tem melhorado gradualmente, todavia, mesmo se fossem extremamente popularizadas o custo da reestruturação ou reabilitação das construções já concluídas, seria extremamente dispendioso. Com base ENGENHARIA/ENGINEERING nessas informações este trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema de controle inteligente (protótipo) que manipule automaticamente a luminosidade artificial de um ambiente (interno ou externo) levando em consideração a iluminação natural já existente. Dessa forma, com um dispositivo de baixo custo e sem a alteração da planta do ambiente, espera-se uma economia considerável no consumo da energia elétrica utilizada na iluminação. 42 encontradas comercialmente, o principal motivo dessa alta comercialização do tipo incandescente: Tabela 1 – Preço de quatro tipos de lâmpadas em um estabelecimento em São Paulo - SP. ELÉTRICA PAULISTA PREÇOS (11/06/2013) Incandescente 60W R$ 1,40 MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente foi necessário escolher qual lâmpada seria utilizada no protótipo. No mercado existem diversos modelos, mas considerando a característica da fonte luminosa temos basicamente três tipos. O tipo de controle que será proposto no artigo pode ser aproveitado para manipular o brilho das lâmpadas enunciadas a seguir: Lâmpada Incandescente “A luz deste tipo de lâmpada é proveniente de um filamento metálico (tungstênio) alojado no interior de um bulbo de vidro sob vácuo ou com gases quimicamente inertes em seu interior”. (CAVALIN, G.; CEVELIN, S.; 2011). Ilustrada na Figura 1, é o mesmo tipo de lâmpada que passou a ser produzida por Thomas Edson a partir de 1879. Comparada às demais tem menor eficiência, pois consome bem mais energia para desempenhar a mesma potência luminosa, além disso, aquece bastante interferindo na temperatura ambiente podendo prejudicar inclusive o rendimento de um sistema com ar condicionado, tem baixa vida útil e é bastante propensa a se danificar por vibrações (INEE; 2013). Por esses motivos sua fabricação nos modelos de 60W (Watts), 75W e 100W passou a ser proibida por lei no Brasil a partir de 30 de junho desse ano, sendo que sua comercialização se encerra em 30 de junho de 2014 (Portaria Interministerial nº1007; 2010). Diodos Emissores de Luz (LED) 2,5W R$ 22,50 Fluorescente Compacta 15W R$ 9,00 Fluorescente compacta Dimerizável 20W R$38,50 Grande parte da população não tem acesso às informações sobre a qualidade economia das lâmpadas. Além disto, ao comparar os preços das mesmas fica evidente que a lâmpada incandescente será mais procurada, principalmente pela população de baixa renda, razão pela qual ainda existem milhões destas lâmpadas no Brasil. Lâmpada de LEDs Inicialmente não desenvolvidos com o objetivo de iluminar ambientes, os LEDs (diodos emissores de luz) atualmente vêm ganhando espaço nesse campo. São dispositivos semicondutores e tem o menor consumo entre todos os tipos de lâmpadas. Nos LEDs de alto brilho o consumo de energia equivale a 10% de uma lâmpada convencional e uma vida útil de até 80.000 horas (PHILIPS LIGHTING; 2012). Além disso, tem baixo aquecimento, alta resistência a vibrações e a condições variadas de ambiente. Uma lâmpada construída com LEDs de alto brilho (Figura 2) consome cerca de 8W para atingir a mesma luminosidade de uma lâmpada incandescente de 60W, ou seja, para a mesma potência luminosa são 52W de economia. A tendência é que as empresas tornem os preços mais acessíveis, pois infelizmente essa tecnologia ainda é onerosa. Figura 2 – Lâmpada de LEDs Figura 1 – Lâmpada Incandescente Fonte: Philips Fonte: Philips (2013). As tecnologias em iluminação tardaram muito a evoluir e como consequência disso, esse tipo de lâmpada continua sendo extremamente comercializada principalmente nos países subdesenvolvidos. A tabela abaixo mostra o preço de quatro tipos de lâmpadas FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 (2013). Lâmpada Fluorescente Neste tipo de lâmpada a corrente elétrica que passa através do gás preso no tubo de vidro, emite grande quantidade de radiação ultravioleta que é convertida em luz visível pela camada de fósforo que reveste os tubos. Por isto a luz fluorescente parece mais branca que as incandescentes. A partir do momento que a indústria começou a compactar este tipo de lâmpada aconteceram diversas campanhas de incentivo ao seu uso, elas se tornaram populares e mais baratas. O grande benefício delas sobre as incandescentes é que a relação de luminosidade comparada com o consumo de energia ENGENHARIA/ENGINEERING 43 elétrica é muito mais vantajosa. Maior luminosidade com menor gasto. Embora seu consumo seja superior à lâmpada de LEDs, de acordo com os fabricantes uma lâmpada fluorescente compacta convencional de 15W tem a mesma potência luminosa de uma incandescente de 60W, ou seja, 45W de economia para a mesma iluminação. Ainda bastante desconhecida, nos últimos anos chegou ao mercado a lâmpada compacta dimerizável, ou seja, sua luminosidade pode ser manipulada através de um potenciômetro com a ajuda de um circuito eletrônico (dimmer). Infelizmente é bastante cara, uma vez que uma única lâmpada de 20W custa em média R$38,50. Todavia por tornar possível a alteração de sua potência luminosa pode ser muito bem aproveitada na economia de energia e por esse motivo é utilizada no sistema de controle proposto nesse artigo, uma vez que as lâmpadas compactas convencionais não contam com essa possibilidade. De acordo com a norma, o protótipo deve trabalhar fornecendo uma intensidade de iluminância em torno de 750 LUX. Para a criação do protótipo e atuação do controlador são necessários alguns componentes específicos. Nesse protótipo a variável de processo (PV) é obtida através de um sensor de luminosidade bastante comum e barato: O LDR (Figura 4). Figura 3 – Lâmpada Fluorescente Compacta Dimerizável Este é um componente eletrônico passivo do tipo resistor variável, mais especificamente é um resistor cuja resistência varia conforme a intensidade da luz que incide sobre ele. À medida que a intensidade da luz aumenta, a resistência do LDR diminui. Ele é construído com um material semicondutor de alta resistência e, quando os fótons incidem nesse material, libertam elétrons diminuindo a resistência elétrica do mesmo. O sensor é fixado sobre uma superfície e apontado diretamente para a fonte de luz, no caso a lâmpada. O controle da iluminação é feito pela lâmpada escolhida, variável manipulada (MV), o setpoint (SP) é a intensidade luminosa do ambiente fixada pela NBR5413 já mencionada anteriormente. O funcionamento de todo o sistema é bem simples: Se a intensidade de iluminância no ambiente ficar abaixo dos 750 LUX o controlador manipula a lâmpada aumentando seu brilho, quando essa intensidade fica acima dos 750 LUX o controlador manipula a lâmpada diminuindo seu brilho e, caso a intensidade seja igual a 750LUX o controlador não altera nada. Essas decisões são tomadas a partir do cálculo do erro: Fonte: FLC (2013) A Lâmpada utilizada é a mesma da Figura 3. Este fabricante garante uma vida útil média de 6000 horas e sua potência luminosa equivale a de uma lâmpada incandescente de 80W (FLC, 2013). Vale ressaltar que a proposta do artigo não é controlar o fator de potência desse tipo de lâmpada (>0.55) e sim desenvolver um sistema que economize energia sem alterar essa característica. O próximo passo foi definir o tipo de ambiente a ser iluminado para testar o projeto, como já havia sido citado no texto optou-se pela escolha de um escritório. Para isto é necessário conhecer a intensidade de iluminância mínima e máxima adequada para este tipo de ambiente. A norma que fixa valores mínimos, máximos e médios de iluminância em interiores para as mais diversas situações é a NBR5413 e o instrumento que mede o nível de luminosidade de um local é o luxímetro. Tabela 2 – Intensidade Iluminância Mínima, Média e Máxima em escritórios de acordo com a NBR5413. INTENSIDADE DE ILUMINÂNCIA – ESCRITÓRIOS (NBR5413) MÍNIMA MÉDIA MÁXIMA 500 LUX 750 LUX 1000 LUX FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 Figura 4 – LDR (1) Controlador operando no modo reverso. Assim: • Se PV > SP, o erro é negativo; • Se PV < SP, erro é positivo; • Se PV = SP, erro é zero. A partir dessas análises obteve – se as seguintes regras de controle: Se a luminosidade está acima do desejado então a potência da lâmpada deve diminuir; Se a luminosidade está correta então a potência da lâmpada não deve ser alterada; ENGENHARIA/ENGINEERING 44 Se a luminosidade está abaixo do desejado então a potência da lâmpada deve aumentar. Para simulação do circuito eletrônico e confecção da placa de circuito foi utilizado o software PROTEUS 7.9 sp2, já o software de controle utilizou o compilador CCS C COMPILER v5, este último em sua versão demo. O projeto eletrônico pode ser divido em três partes. O primeiro deles é o elemento sensor/ transmissor (Figura 5). O LDR, dispositivo sensor de luz, se encontra no canto superior esquerdo da Figura 5. Quanto maior a intensidade de iluminância incidente maior será a corrente enviada para a base do transistor Q1, se essa luminosidade diminuir, a corrente na base também diminui. O transistor Q1 está trabalhando como amplificador, ou seja, ele amplifica a corrente que o LDR envia, para que essa informação possa ser transmitida para outro estágio. Quanto maior a corrente na base do transistor Q1, maior será a corrente de emissor do mesmo. Essa corrente de emissor é obrigada a fluir pelo resistor R1 causando nele uma queda de tensão. O valor dessa queda de tensão é proporcional à corrente de emissor que é proporcional à corrente de base. Em tese, havendo alteração da resistência do LDR provocada pela variação da intensidade de iluminância no ambiente, a corrente na base de Q1 varia proporcionalmente variando assim a corrente de emissor do mesmo, que afeta diretamente a queda de tensão em R1. Esse valor de tensão em R1 será a informação transmitida para o próximo estágio. O capacitor C1 funciona apenas “amortecendo” as variações bruscas de tensão em R1 que possam ocorrer afetando a confiabilidade do processo. Figura 5 – Sensor/Transmissor +5V de programas, dispositivos periféricos como conversores analógico/digitais (ADC), conversores digital/analógico (DAC) e interfaces de entrada e saída de dados. Opera a velocidades muito baixas se comparado com um microprocessador atual. O seu consumo em geral é na ordem dos miliwatts, tornando-o ideal para aplicações onde a exigência de baixo consumo de energia é um fator vital. No protótipo desenvolvido o microcontrolador (Figura 6) lê o sinal analógico transmitido pelo primeiro estágio, convertendo-o em um sinal digital (conversor A/D) para que haja um melhor tratamento da informação. Internamente ao software nele gravado, o valor convertido é comparado com o setpoint (SP), que no nosso caso é um sinal referência obtido caso a intensidade luminosa seja de 750LUX. De acordo com as regras de controle do software, caso esse sinal represente uma intensidade de iluminância abaixo de 750LUX o microcontrolador aumenta o sinal que controla a potência da lâmpada no próximo estágio, e se esse sinal representar uma intensidade de iluminância acima dos 750LUX o microcontrolador diminui esse sinal. Figura 6 – Microcontrolador PIC18F4520. U1 SINAL 2 3 4 5 6 7 14 13 33 34 35 36 37 38 39 40 Microcontrolador RA0/AN0/C1INRC0/T1OSO/T13CKI RA1/AN1/C2INRC1/T1OSI/CCP2B RA2/AN2/C2IN+/VREF-/CVREF RC2/CCP1/P1A RA3/AN3/C1IN+/VREF+ RC3/SCK/SCL RA4/T0CKI/C1OUT RC4/SDI/SDA RA5/AN4/SS/HLVDIN/C2OUT RC5/SDO RA6/OSC2/CLKO RC6/TX/CK RA7/OSC1/CLKI RC7/RX/DT RB0/AN12/FLT0/INT0 RB1/AN10/INT1 RB2/AN8/INT2 RB3/AN9/CCP2A RB4/KBI0/AN11 RB5/KBI1/PGM RB6/KBI2/PGC RB7/KBI3/PGD RD0/PSP0 RD1/PSP1 RD2/PSP2 RD3/PSP3 RD4/PSP4 RD5/PSP5/P1B RD6/PSP6/P1C RD7/PSP7/P1D RE0/RD/AN5 RE1/WR/AN6 RE2/CS/AN7 RE3/MCLR/VPP LUX 750.0 15 16 17 18 23 24 25 26 PWM 19 20 21 22 27 28 29 30 8 9 10 1 +5V PIC18F4520 LDR Q1 BC548 SINAL R1 100R C1 10u O segundo estágio é o cérebro do projeto: O microcontrolador. Este é um computador montado em um único chip, contendo um processador, memória e periféricos de entrada e saída, podendo ser programado para funções específicas. Normalmente é montado no interior de algum outro dispositivo (geralmente um produto comercializado) para que possam controlar as funções ou ações do produto. Além dos componentes lógicos e aritméticos usuais de um microprocessador, o microcontrolador integra elementos adicionais em sua estrutura interna, como memórias para armazenamento de dados, armazenamento FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 O próximo estágio utiliza uma técnica muito simples e conhecida no controle da potência luminosa da lâmpada, o PWM (Modulação por Largura de Pulso). Essa técnica é extremamente utilizada na conversão de sinais digitais em analógicos (Conversor D/A). Tem diversas aplicações no controle de variáveis analógicas a partir de dispositivos digitais. Como a velocidade de um motor, a intensidade do brilho de uma lâmpada, a porcentagem de abertura de uma válvula, etc. Através dessa técnica pode-se conseguir uma economia de energia fantástica na iluminação, pois a lâmpada não ficará apenas ligada ou desligada, mas sim com qualquer intensidade de brilho que o sistema necessite, sem o gasto desnecessário de energia. A figura 7 representa o funcionamento de um PWM. ENGENHARIA/ENGINEERING 45 Figura 9 – Resumo de funcionamento Figura 7 – Representação de sinais PWM. A forma de onda A tem um ciclo de trabalho de 10%, ou seja, a lâmpada fica ligada apenas com 1/10 da potência nominal. Já forma de onda B tem um ciclo de trabalho de 50% ligando a lâmpada com metade dessa potência. Por sua vez a forma de onda C tem um ciclo de trabalho de 90%, fazendo com que a lâmpada fique acesa com 90% da potência disponível. Assim, manipulando-se o ciclo de trabalho PWM na saída do segundo estágio, consegue-se alterar a intensidade luminosa da lâmpada no terceiro estágio, ilustrado na Figura 8. Figura 8 – Dimmer DIMMER R1 PWM 1 U2 6 1K 2 R2 R3 330R 1K L1 127V U3 4 Q2006L4 REDE 127V MOC3021 C1 47nF O terceiro estágio recebe o sinal PWM enviado pela saída do segundo estágio. O optoacoplador U2 é usado para isolar o circuito do microcontrolador (corrente contínua) do circuito que alimenta a lâmpada (corrente alternada). Este envia um sinal semelhante ao sinal de entrada para o gate do TRIAC U3. Toda vez que isso acontece esse dispositivo permite a circulação da corrente elétrica proveniente da rede através da lâmpada fazendo com que a mesma acenda. A variação da intensidade de iluminância luminosa dessa lâmpada altera as características do LDR, reiniciando todo o ciclo. Não há a necessidade de fazer o controle do ângulo de disparo do TRIAC, pois o sistema é realimentado. A Figura 9 mostra o resumo de funcionamento do sistema. FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 Antes de desenvolver o software que faz o controle foi necessário descobrir qual queda de tensão aparece nos terminais de R1 para uma intensidade de iluminância em torno de 750LUX. Para isso o circuito da Figura 5 foi montado em um protoboard e tal condição foi simulada. Alimentado com a mesma tensão do microcontrolador (+5V), o LDR foi posicionado em cima de um luxímetro, e com um voltímetro nos terminais de R1, a intensidade luminosa foi manipulada até que o luxímetro acusasse os 750LUX, nesse instante foi obtido a tensão de 4,02V. O conversor analógico digital foi configurado para trabalhar com resolução de 10 bits (interno ao microcontrolador), temos então 1024 representações diferentes para uma faixa de tensões que vai de 0V a +5V, ou seja, uma informação diferente a cada 0,00488V ou 4,88mV. Essa leitura analógica de tensão é convertida em informação digital e, posteriormente, representada no sistema decimal para que haja um tratamento mais simples, variando de 0 a 1023 (1024 variações). Assim, sempre que o sistema estiver controlado teremos como resultado da conversão A/D o número 823. O controle se resume em comparar o último valor informado pelo conversor A/D com esse valor. Se por exemplo, o valor convertido for 500 significa que a intensidade luminosa na lâmpada deve aumentar, logicamente se essa conversão atingir um valor de 900 deve-se diminuir a intensidade luminosa da mesma. A Figura 10 trata-se de um fluxograma que resume a rotina do software gravado no microcontrolador. ENGENHARIA/ENGINEERING Figura 10 – Fluxograma do software de controle 46 Figura 12 – Representação tridimensional da placa de circuito do projeto pronta. Os testes foram realizados em horário comercial (08h00min às 18h00min) em dois dias consecutivos e bem ensolarados. No primeiro, foram coletadas informações da luminosidade no exterior e interior de um pressuposto escritório sem nenhuma interferência de iluminação artificial. Essas informações são mostradas na Figura 13: Figura 13 – Intensidade de luminosidade externa e interna em LUX RESULTADOS E DISCUSSÃO . Depois de pronto, o software foi simulado no PROTEUS e aprovado nos testes. Isso indica sinal verde para a confecção de uma placa de circuito definitiva (PCI), a Figura 11 ilustra o layout com as trilhas da PCI a ser montada e a Figura 12 mostra a aparência tridimensional dessa PCI depois de confeccionada e já pronta para uso. Figura 11 – Layout da PCI a ser montada Esse gráfico evidencia que, na presença de iluminação artificial, a luminosidade interna do cômodo varia proporcionalmente à luminosidade externa. Porém o grande objetivo do monitoramento da luminosidade é a luminosidade interna, representada na Figura 14. Note que no período compreendido entre 12h00min e 15h00min a luminosidade dentro do cômodo fica acima dos 750LUX dispensando qualquer gasto de energia com iluminação, o que não acontece nos sistemas convencionais. Figura 14 – Luminosidade interna – Dia 1 FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 ENGENHARIA/ENGINEERING No segundo dia, a intensidade luminosa fornecida pelo sol foi pouco maior que no primeiro dia. O protótipo foi utilizado no controle da iluminação do ambiente sendo que a luminosidade e a potência consumida pelo dispositivo foram monitoradas diversas vezes nos mesmo horários do dia anterior. A Figura 15 ilustra e compara a luminosidade interna controlada no segundo dia com a iluminação interna natural do primeiro dia: 47 Figura16 – Potência Convencional) consumida (Controlado X Figura 15 – Iluminação natural no primeiro dia X Iluminação Controlada no segundo dia A linha azul mostra como se comportou a iluminação ambiente no dia 1, a linha vermelha indica como foi iluminado esse mesmo ambiente no dia 2 usando o protótipo desenvolvido no artigo. Nota-se que no intervalo compreendido entre 12h e 15h as linhas se sobrepõem. Isso comprova o que foi dito anteriormente, apenas a iluminação natural foi suficiente para manter o ambiente devidamente iluminado nesse período. Sendo assim, nesse mesmo intervalo não foi gasto energia elétrica alguma para iluminação, apenas a iluminação natural foi aproveitada, ou seja, o protótipo trabalhou praticamente desligado, apenas monitorando a intensidade de iluminância. Um simples sistema on/off que automaticamente desliga as lâmpadas do ambiente no intervalo que dispõe da iluminação natural necessária não pode ser usado ao invés do controle proposto no artigo, pois o mesmo fica longe de ter a mesma eficiência. Em uma situação em que o céu ficasse densamente nublado por volta das 13h00min e que, com isso a luminosidade caísse bruscamente, o sensor automaticamente detectaria e o controle manipularia a lâmpada automaticamente aumentando sua potência até que esta voltasse a ser ideal, utilizando apenas o necessário de energia. Um simples sistema on/off não faria isso. O gráfico de maior relevância é exibido na figura 16 e compara o percentual de potência usada no sistema desenvolvido com a potência usada por um sistema de iluminação convencional, ou seja, mostra a economia de energia elétrica proporcionada pelo protótipo. FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 A linha vermelha mostra como a energia elétrica é gasta em um escritório que conta com um sistema de iluminação convencional. Iniciada a jornada de trabalho as lâmpadas são ligadas e, ao fazer isso, cada lâmpada consome 100% da energia disponível, ou seja, são alimentadas com sua tensão nominal, consomem sua corrente nominal e logicamente é cobrado também o kWh nominal. Normalmente ficam acesas durante todo o dia e só são apagadas com o fim da jornada de trabalho. Já a linha azul mostra como a energia elétrica foi utilizada com auxílio do protótipo no segundo dia de testes. Note agora que a potência desenvolvida no sistema de iluminação foi gerenciada a todo instante. Às 08h00min já existia iluminação natural proveniente do sol, nesse momento o sistema consome aproximadamente 81% da energia disponível para iluminação. No decorrer da manhã o consumo de energia vai diminuindo, pois a iluminação natural aumenta, não sendo necessária a mesma quantidade de energia na iluminação artificial. Aproximadamente 12h as lâmpadas são desligadas, pois a iluminação natural é suficiente ficando sempre acima dos 750 LUX, e permanecendo assim por 3 horas seguidas. Há uma queda brusca de iluminação natural no cômodo onde foram feitos os testes a partir das 15h00min, pois o sol vai ficando acima das janelas e por consequência a luminosidade cai. Mesmo assim, desse instante até o fim do expediente às 18h00min, a potência utilizada continua sendo gerenciada da mesma forma que foi na parte da manhã, como se pode acompanhar pelo gráfico. O baixo custo do protótipo é outra característica muito importante, e é descrita sucintamente na Tabela 3. Deve ficar claro que essa tabela descreve apenas o custo para a confecção da placa de circuito. Os gastos com lâmpada, gabinete que aloja a placa, instalação, cabeamento e outros não foram incluídos. Apenas uma unidade do protótipo desenvolvido suporta facilmente a carga exigida por duas lâmpadas compactas dimerizáveis de 20W. Alterando-se o hardware essa capacidade pode ser facilmente ampliada. ENGENHARIA/ENGINEERING 48 Tabela 3 – Descrição de peças e valor gasto no desenvolvimento do protótipo CUSTO DO PROTÓTIPO QUANTIDADE REFERÊNCIA VALOR PREÇO (R$) 2 R1, R3 1K 0,18 1 R2 330R 0,09 1 R4 100R 0,1 1 C1 10u 0,15 1 C2 47nF 0,15 1 U1 PIC18F4520 18,5 1 U2 78L05 0,26 1 U3 MOC3021 1,18 1 U4 Q2006L4 1,49 1 Q2 BC548 0,17 1 D1 LED-RED 0,59 1 F1 470u 0,25 2 F3, F4 100nf 0,18 2 J1, LDR CONN-SIL2 2,5 2 LÂMPADA, REDE TBLOCK-I2 4,25 1 RLED 220R 0,1 1 PCI 10x10 3,12 TOTAL 33,26 CONCLUSÃO Usando esse sistema de controle os testes realizados mostraram cerca de 44% de economia na energia elétrica em relação a um sistema convencional que usa o mesmo tipo de lâmpada. Esta foi do tipo fluorescente compacta e dimerizável, mas esse mesmo circuito pode ser usado em lâmpadas incandescentes e, com uma pequena alteração de hardware, pode controlar um sistema de lâmpadas à LED. É claro que esse desempenho contou um pouco com o acaso, pois a intensidade de iluminância natural nos dois dias de testes contribuiu de certa forma para essa economia. Existem muitos fatores que se bem trabalhados e estudados podem garantir uma economia no uso da energia elétrica em geral. Esse artigo abordou somente a economia da energia dedicada à iluminação, e espera-se que o texto tenha acrescentado algo no extenso campo de pesquisas sobre eficiência energética. Nenhuma técnica ou método enunciado aqui é inédito, foram apenas usados de forma que contribuísse com o que foi proposto. Logicamente nem todos os escritórios contam com uma entrada de luz tão favorável quanto o cômodo escolhido no desenvolvimento do projeto, uma vez que parte dessas dependências se localiza em edifícios fechados, mal iluminados ou com pouca iluminação, onde consequentemente o controle descrito nesse artigo não teria o mesmo desempenho, mas sem dúvida traria alguma economia. Esse ambiente de trabalho foi escolhido como modelo para desenvolvimento do projeto, sendo que o FAZU em Revista, Uberaba, n.10, p. 41-48, 2013 sistema de controle proposto pode ser utilizado em iluminação pública, em residências, escolas, ambientes industriais e enfim, quase todo local que conta com os sistemas artificiais de iluminação convencionais. O setpoint de 750LUX não precisa ser fixo, pode ser projetada no software outra lógica com uma interface em que o usuário informa o valor da intensidade de iluminância desejada, ou até mesmo pode ser criada uma biblioteca contendo diversos valores de intensidade de iluminância segundo a NBR5413, assim o usuário teria apenas o trabalho de escolher o tipo de ambiente a ser iluminado e o protótipo automaticamente ajustaria o setpoint de acordo com o fixado pela norma. Dessa forma o mesmo dispositivo poderia atender diversas necessidades de iluminação. REFERÊNCIAS CAVALIN, G. e CERVELIN, S. Instalações Elétricas Prediais. 21. ed. São Paulo: Editora:Érica, 2011. 408 p. MAJOROS, A. Daylighting. Austrália: Universidade de Queensland , 1998. (Design tools and techniques. PLEA Notes, n. 4). PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. [S.l.: s.n.], 2013. Disponível em <http://www.eletrobras.com/elb/procel/main.asp.>. Acesso em: 28 jun.2013. INSTITUTO NACIONAL DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA. [S.l.: s.n.], 2013. Disponível em: <http://www.inee.org.br/eficiencia_o_que_eh.asp?Cat=efic iencia>. Acesso em: 28 jun. 2013. BP GLOBAL – British Petroleum. [S.l.: s.n.], 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/>. Acesso em: 28 jun. 2013. PHILIPS. Catálogo de produtos. Lâmpadas. 2013. Disponível em:< http://www.ecat.lighting.philips.com.br/l/lampadas/41334/ cat/>. Acesso em: 28 jun. 2013. FLC. Catálogo de produtos. [S.l. : s.n.], 2013. Disponível em <http://www.flc.com.br/produto/57/75/13/Eletr%C3%B4ni cos-Lamp_Comp_Fluor_Dimeriz%C3%A1velDimeriz%C3%A1vel#.UhtS3j-D6ZQ.>. Acesso em: 28 jun. 2013.