CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE FERNANDO JARDIM BOEIRA ESTUDO AVANÇADO SOBRE INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA CANOAS, 2010 1 FERNANDO JARDIM BOEIRA ESTUDO AVANÇADO SOBRE INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA Trabalho de conclusão apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Telecomunicações, sob orientação do Prof. Me. Diogo Scolari. CANOAS, 2010 2 FERNANDO JARDIM BOEIRA ESTUDO AVANÇADO SOBRE INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA Trabalho de conclusão aprovado pelo orientador como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Telecomunicações pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle. Aprovado pelo Orientador em 08 de Dezembro de 2010. ORIENTADOR: _____________________________________________________________ Prof. M.e Diogo Scolari Unilasalle 3 Dedico este trabalho e a, consequente, conquista do Engenharia meus pais, grau de Bacharel em Telecomunicações aos Alvarino de e Sueli, que incondicionalmente sempre acreditaram que esse sonho era possível de ser alcançado. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus que sempre esteve comigo e nas horas que tive dificuldades, tenho certeza que foi ele quem me deu força necessária para concluir esse objetivo. Agradeço a meus pais, que sempre me incentivaram a estudar. Agradeço a minha mãe pelas vezes, enquanto eu ainda era uma criança, que ela me ajudava na escola com os temas de casa que na época eu não era capaz de realizar sozinho, tenho certeza de que esses momentos foram decisivos, pois se eu não tivesse tido um apoio, provavelmente, teria desistido antes de chegar à faculdade. Agradeço a meu pai pela sua exigência, pois para ele a única nota satisfatória era a nota DEZ. Para meu pai se você tira NOVE não significa que você sabe 90% do conteúdo e sim que você não aprendeu 10% do que foi abordado em aula. A soma desses valores mais a educação e orientação vinda deles, ajudaram-me a não desistir nunca nos primeiros obstáculos. Agradeço a minha namorada Kelly que embora não tenha participado de toda minha trajetória na faculdade, foi muito importante na reta final da conquista desse “título”, pois surgiu na minha vida num período bastante turbulento e ajudou-me de forma ímpar, com sua alegria, compreensão e paciência. Agradeço ao amigo e orientador desse trabalho, Prof. Me. Diogo Scolari que sempre se mostrou interessado no desenvolvimento desse trabalho. Nas horas em que eu vacilei, ele estava lá para me direcionar. Agradeço a todos os professores que de alguma forma contribuíram para minha formação. Dentre esses professores gostaria de agradecer ao professor Artur Severo pelas aulas de Sinais e Sistemas e também Controle, são cadeiras como essas que valorizam nossa conquista. Gostaria também de agradecer ao professor Alexandre Haupt, o mais didático que tive durante o curso. Agradeço de forma especial ao atual coordenador do curso, Prof. Dr. Tiago Balen, pois está sempre disposto em ajudar a todos que o procuram, e na medida do possível toma decisões que são para o bem geral do curso de Eng. de Telecomunicações. 5 Agradeço também aos meus familiares, amigos, colegas de aula que colaboram, direta e indiretamente para realização desse objetivo. Aos familiares e amigos pela compreensão das vezes em que estive ausente, aos colegas de aula pelas tantas vezes em que estivemos juntos, principalmente no tão citado lab. do 7° andar. Na categoria de grandes amigos, gostaria de deixar um agradecimento especial ao Marcos Abib, aprendi muitas coisas, principalmente, sobre comportamento pessoal dentro das organizações e também na vida pessoal. Agradeço aos ex-colegas de trabalho da empresa Exatron, principalmente ao Regis Haubert, Claudir Dias e Solange Martins, que no início dessa caminhada me apoiaram de forma incisiva. Agradeço a todos os colegas da empresa Siemens Iriel, de forma especial a Luciano Gomes, Felipe Pereira, Marcelo Aguiar, Michele Antunes, Ivonne Duso, Claudionei Lima, Pablito Garcia, Eliane Viana e Vanessa Miranda. Agradeço a empresa Siemens por ter me disponibilizado a oportunidade de conhecer e pesquisar sobre o assunto desse trabalho. Enfim, a todos que de alguma forma colaboraram para realização desse sonho, deixo meu MUITO OBRIGADO! 6 “If I have been able to see further, it was only because I stood on the shoulders of giants”. "Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos”. Sir Isaac Newton 7 RESUMO A interferência eletromagnética (EMI) em equipamentos eletrônicos está tornandose cada vez mais notável. As pessoas vêem com entusiasmo a evolução de aparelhos eletrônicos, principalmente aqueles sem fio, mas, o que infelizmente nem sempre é percebido são as consequências que essa “poluição” do espectro de frequência traz para o ambiente onde vivemos. É de suma importância que aparelhos eletroeletrônicos não tenham funcionamento indesejado quando expostos a ambientes eletromagnéticos. Para isso, é necessário que se entenda como o ruído eletromagnético pode interferir em nesses equipamentos. Considerando as perturbações da interferência eletromagnética será feito estudo e desenvolvimento de um trabalho que aborde como se origina a EMI (Electromagnetic Interference), seus principais efeitos já conhecidos e formas de imunizar um produto eletroeletrônico quanto a EMI se valendo dos conceitos de compatibilidade eletromagnética (EMC). Existem normas que regulam a EMI gerada por equipamentos, com isso tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista legal, fica evidenciado a necessidade de se aplicar técnicas para que a EMI seja reduzida. Tem-se como objetivo demonstrar os efeitos da interferência eletromagnética e como eliminá-la usando conceitos de compatibilidade eletromagnética, de uma forma que seja compreendida não apenas por pessoas que tenham conhecimento técnico do assunto, mas também por leigos que possam vir a se interessar por este tema. Palavras-Chave: EMC (Eletromagnetic Compatibility), EMI (Eletromagnetic Interference), Interferência Eletromagnética, Produto Eletroeletrônico. 8 ABSTRACT The electromagnetic interference (EMI) in electronics equipments is becoming more and more notable. The people see with enthusiasm the evolution of electronic devices, mainly the wireless devices, but, unfortunately the bad consequences that the pollution of frequency spectrum brings to environment where we live, not always considered is. Therefore, it is fundamental that electronic devices continue having a good work even if on show in electromagnetic environments. For it is important to understand how the electromagnetic noise can disturb these equipments. Considering electromagnetic interference disturbs will be done a study and development of a work that accost how the EMI begins, the mainly effects caused and ways to immunize an electronic device against EMI, using the electromagnetic compatibility concepts (EMC). There are standards that regularize the EMI generated by equipments, in this way, from the technical view point as well as from the legal viewpoint, can be understood the necessity in implement techniques for to reduce the interference electromagnetic. The objective from this work is demonstrate the electromagnetic interference and how to reduce it using electromagnetic compatibility concepts, by the way that not just technical people understand, but everyone that have interest about this issue can read and understand too. Palavras-Chave: EMC (Eletromagnetic Interference), electroelectronic device. Compatibility), EMI (Eletromagnetic 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Surto de tensão ou corrente elétrica de 100/1300µs ................................ 33 Figura 2 - Impulso de tensão de 1,2 / 50µs ............................................................... 34 Figura 3 - Impulso de corrente 8 / 20 µs.................................................................... 34 Figura 4 - Rajada de pulsos ...................................................................................... 35 Figura 5 - Características de um pulso individual da rajada de pulsos...................... 35 Figura 6 - Oscilações senoidais amortecidas............................................................ 36 Figura 7 - Diagrama de estudo de EMC.................................................................... 37 Figura 8 - Comparação entre os níveis de perturbação eletromagnética.................. 37 Figura 9 - Acoplamento por impedância comum ....................................................... 38 Figura 10 - Acoplamento condutivo........................................................................... 39 Figura 11 - Acoplamento por indução ....................................................................... 40 Figura 12 - Modelo do acoplamento capacitivo ......................................................... 41 Figura 13 - Comportamento do acoplamento capacitivo em relação a frequência.... 41 Figura 14 - Modelo do acoplamento indutivo............................................................. 42 Figura 15 - Acoplamento por irradiação de campo eletromagnético. ........................ 43 Figura 16 - Ambiente Eletromagnético ...................................................................... 47 Figura 17 - Relação entre indutância e a geometria do circuito ................................ 62 Figura 18 - Influência do “layout” de um cartão na indutância do circuito. Este “layout” de aterramento resulta em indutância máxima.......................................................... 63 Figura 19 - Percurso de alimentação e retorno para as correntes ............................ 63 Figura 20 - Placa de circuito impresso multicamada para circuitos digitais............... 65 Figura 21 - Embedded Circuits.................................................................................. 65 Figura 22 - Transiente de corrente da fonte de alimentação..................................... 67 Figura 23 - Pontos de Ground na PCB...................................................................... 68 Figura 24 - Separação por ponte............................................................................... 69 Figura 25 - Separação por ponte............................................................................... 69 Figura 26 - Separação de circuitos digitais e analógicos por filtros........................... 71 Figura 27- Laminados de folhas metálicas para cabos de par trançado ................... 74 Figura 28 - Gaxetas de EMI Metálicas ...................................................................... 75 Figura 29 - Passagem de Ventilação com Blindagem EMI ....................................... 76 10 Figura 30 - Janelas Blindadas ................................................................................... 76 Figura 31 - Ferrites para Absorção............................................................................ 77 Figura 32 - Gaxetas de Elastômeros Condutivos ...................................................... 77 Figura 33 - Região de disparo do triac ...................................................................... 86 Figura 34 - Esquema elétrico dimmer comum........................................................... 86 Figura 35 - Esquema elétrico dimmer com EMC....................................................... 87 Figura 36 - Camadas que formam a estrutura da PCB ............................................. 88 Figura 37 - Distribuição dos componentes na PCB................................................... 89 Figura 38 - Serigrafia da placa mostrando posição do capacitor X2 e Indutor .......... 89 Figura 39 - Painel Top............................................................................................... 90 Figura 40 - Senóide pura com sua FFT a 1250 Hz / divisão ..................................... 90 Figura 41 - Senóide pura com sua FFT a 125 Hz / divisão ....................................... 91 Figura 42 - Dimmer sem proteção EMI ..................................................................... 92 Figura 43 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima................. 92 Figura 44 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima................. 93 Figura 45 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima................. 93 Figura 46 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima................. 94 Figura 47 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima............... 94 Figura 48 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima............... 95 Figura 49 - Dimmer com proteção EMI, blindagem e indutor .................................... 96 Figura 50 - Dimmer com proteção EMI, capacitor X2 e indutor................................. 96 Figura 51 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima................. 97 Figura 52 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima................. 97 Figura 53 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima................. 98 Figura 54 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima................. 98 Figura 55 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima............... 99 Figura 56 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima............... 99 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - THDs de tensão e corrente em lâmpadas incandescentes ...................... 30 Tabela 2 - THDs de lâmpadas incandescentes dimerizadas .................................... 31 Tabela 3 - THDs de Aparelhos Eletrônicos ............................................................... 32 Tabela 4 - Impedância de uma trilha de circuito impresso de 10 mm de comprimento (indutância de 5,9 nH) ............................................................................................... 60 Tabela 5 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 10% da senóide....... 100 Tabela 6 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 50% da senóide....... 100 Tabela 7 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 90% da senóide....... 100 12 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AM – Amplitude Modulada ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações CA – Corrente Alternada CC – Corrente Contínua CEN/Cenelec – Comitê Europeu de Normalização/ Comitê Europeu de Normalização Eletrotécnica CI – Circuito Integrado CISPR – Comité International Spécial des Pertubations Radioélectriques dB – Decibel EMC – Electromagnetic Compatibility EMI – Electromagnetic Interference ESD – Electrostatic Discharge FAA – Administração Federal de Aviação FCC – Federal Communications Commission FFT - Fast Fourier Transform FM – Frequência Modulada IEC – International Electrotechnical Commission IPT – Instituto de Pesquisas Tecnologicas LFCs – Lâmpadas fluorescentes Compactas MIL-STD – Military Standard NHTSA – Agência Americana de Segurança nas Estradas NBR – Norma Brasileira PCI – Placa de Circuito Impresso PED – Portable Electronic Device RF – Rádio Freqüência SAE – Society of Automotive Engineers THD – Total Harmonic Distortion VCC – Tensão de Corrente Continua VDE-FTZ – Verband Deutscher Electrotechniker-technical agency of the German 13 LISTA DE SÍMBOLOS mHz: MegaHertz dv/dt: derivada de tensão di/dt: derivada de corrente gHz: GigaHertz kHz: KiloHertz Hz: Hertz %: Porcentagem W: Watts µs: Microssegundo kV: KiloVolt Ω: Ohm m: Metro pF: PicoFarad nH: NanoHenry nS: NanoSegundo µH: MicroHenry V: Volt cm: Centímetro 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 2 INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA ............................................................. 19 2.1 Perturbações Eletromagnéticas ................................................................................................... 22 2.1.1 Fontes de perturbações eletromagnéticas.................................................................................... 23 2.2 Perturbações eletromagnéticas conduzidas pela rede elétrica ................................................ 24 2.2.1 Perturbações eletromagnéticas de baixa frequência.................................................................... 24 2.2.1.1 Harmônicos ................................................................................................................................ 26 2.2.2 Perturbações eletromagnéticas de alta frequência e transientes ................................................. 33 2.3 Comparação entre os níveis de perturbação eletromagnética ................................................. 36 2.4 Propagação das perturbações eletromagnéticas ....................................................................... 38 2.4.1 Acoplamento através de uma impedância comum ....................................................................... 38 2.4.2 Acoplamento condutivo ................................................................................................................. 39 2.4.3 Acoplamento por indução.............................................................................................................. 40 2.4.4 Acoplamento por irradiação de campo eletromagnético............................................................... 42 2.5 Interferência Eletromagnética em aeronaves.............................................................................. 43 2.5.1 Dispositivos Eletrônicos Portáteis (PEDs) .................................................................................... 44 3 COMPATIBILIDADE ELETROMAGNÉTICA......................................................... 45 3.1 Requisitos EMC para equipamentos eletroeletrônicos.............................................................. 47 3.1.1 Requerimentos Internacionais ...................................................................................................... 47 3.1.2 Requerimentos no Brasil ............................................................................................................... 49 4 TÉCNICAS PARA REDUÇÃO DE EMI ................................................................. 52 4.1 Comportamento não ideal dos componentes ............................................................. 52 4.1.1 Condutores (fios e trilhas) ............................................................................................................. 52 4.1.2 Trilhas de placas de circuito impresso .......................................................................................... 53 4.1.3 Efeito dos terminais de um componente....................................................................................... 53 4.1.4 Resistores...................................................................................................................................... 54 4.1.5 Capacitores ................................................................................................................................... 54 4.1.6 Indutores........................................................................................................................................ 54 4.1.7 Capacitâncias parasitas e de acoplamento .................................................................................. 55 15 4.2 Segregação de Circuitos ............................................................................................................... 55 4.2 Disposição de Componentes e Trilhas ........................................................................................ 57 4.3 Supressão da Interface.................................................................................................................. 57 4.4 Característica típica de operações de circuitos integrados ...................................................... 59 4.5 Perturbações no aterramento do circuito digital ........................................................................ 60 4.5.1 Distribuição de alimentação .......................................................................................................... 66 4.5.2 Sugestões de layout interfaces de redes e telecomunicações ..................................................... 67 4.5.2.1 Separação por ponte.................................................................................................................. 69 4.6 Blindagens e fugas em Compatibilidade Eletromagnética........................................................ 71 4.6.1 Tipos de Blindagem....................................................................................................................... 73 4.6.1.1 Dispositivos diversos para a blindagem..................................................................................... 74 4.6.2 Eficácia da Blindagem................................................................................................................... 78 4.6.2.1 Usando blindagem em circuito impresso ................................................................................... 78 5 CASOS CURIOSOS ENVOLVENDO EMI ............................................................. 80 5.1 Nissan.............................................................................................................................................. 80 5.2 Segunda Guerra Mundial............................................................................................................... 80 5.3 Recall Toyota .................................................................................................................................. 81 5.4 Grua falante, Piloto automático desligado e robôs sem controle............................................. 81 6 APLICAÇÃO PRÁTICA ......................................................................................... 85 6.1 Principio de funcionamento de um dimmer ................................................................................ 85 6.2 Projeto de dimmer considerando os conceitos de EMC............................................................ 87 6.2.1 Esquema elétrico dimmer.............................................................................................................. 87 6.2.2 Layout e estrutura da PCI ............................................................................................................. 87 6.3 Rede elétrica e variações decorridas após o uso do dimmer ................................................... 90 6.3.1 Senóide da rede elétrica ............................................................................................................... 90 6.3.2 Dimmer sem proteção para EMI ................................................................................................... 91 6.3.3 Dimmer com proteção para EMI ................................................................................................... 95 6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 101 16 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 103 17 1 INTRODUÇÃO Com a crescente utilização de produtos eletroeletrônicos, o mercado desses equipamentos está cada dia mais acirrado, refletindo assim no profissional que desenvolve os aparelhos, o Engenheiro Eletroeletrônico, Telecomunicações. Esse profissional é desafiado diariamente a criar produtos inovadores e que custem menos do que o do concorrente, tudo isso, muitas vezes, dentro de um cronograma apertado. Entretanto, não raras são as situações em que algumas etapas do projeto são abandonadas, como, por exemplo, testes de funcionamento que pudessem simular a real utilização que o produto será submetido posteriormente em campo. Neste trabalho será abordado um problema em especial, a interferência eletromagnética. Interferência Eletromagnética (EMI) é uma perturbação de origem eletromagnética cujo efeito causa uma degradação no desempenho e funcionamento normal de um componente, dispositivo e sistema eletroeletrônico. EMI relaciona todos os problemas referentes à transferência de energia eletromagnética. A interferência eletromagnética é um campo ou onda elétrica ou magnética que pode ou não alterar o funcionamento ou danificar um equipamento eletroeletrônico. A interferência pode ser proposital ou acidental e pode ser de origem natural ou artificial. O campo magnético terrestre é de origem natural e pode causar interferência em sistemas elétricos de potência pela influência de sua força, as descargas atmosféricas e os ventos são exemplos de causas naturais de EMIS e assim como manchas solares causam interferência em sinais de telecomunicações através de radiação cósmica gerada. Outro conceito que será abordado é a Compatibilidade Eletromagnética (EMC), que é a capacidade de um equipamento eletrônico funcionar corretamente estando imerso num ambiente eletromagnético. Para ilustrar melhor o problema de interferência eletromagnética, pode ser citado o seguinte exemplo: Numa determinada época, microprocessadores foram introduzidos em alguns ônibus escolares para operar dispositivos antiderrapantes dos freios, mas não foi planejado para esse caso que interferências eletromagnéticas pudessem gerar alguma situação de risco. No entanto, ao se aproximar de um carro da polícia os 18 microprocessadores sem proteção eletromagnética (EMC), sofreram interferência do rádio transmissor tornando os freios do ônibus escolar inoperante. Dessa forma um componente que era de segurança falhou e poderia ter causado uma tragédia. No Brasil o interesse pelo tema tem aumentado nos últimos anos com a ocorrência de alguns fatos e instalações de multinacionais em nosso país, principalmente, as européias e com isso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por meio da Resolução nº 237 – Regulamento para certificação de equipamentos de telecomunicações quanto aos aspectos de compatibilidade eletromagnética, de 09 de novembro de 2000, passou a exigir de todos os fabricantes nacionais de equipamentos para uso em telecomunicações o cumprimento de requisitos específicos em EMC, que refletem as especificações técnicas da Diretiva EMC. Essa resolução pode ser lida no seguinte link: http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicac ao=17640&assuntoPublicacao=Regulamento%20para%20certificação%20de%20eq uipamentos%20de%20telecomunicações%20quanto%20aos%20aspectos%20de%2 0compatibilidade%20eletromagnética&caminhoRel=Cidadao-BibliotecaAcervo%20Documental&filtro=1&documentoPath=biblioteca/resolucao/2000/anexo_r es_237_2000.pdf. 19 2 INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA Nesse momento é importante que algumas definições sejam entendidas. Conforme Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem-se as seguintes definições: a) Ambiente eletromagnético: Conjunto de fenômenos eletromagnéticos existentes em um dado local. b) Ruído eletromagnético: Fenômeno eletromagnético variável no tempo, aparentemente não contendo informação e capaz de superpor-se a um sinal desejado ou de combinar-se com o mesmo. c) Sinal não desejado: Sinal capaz de prejudicar a recepção de um sinal desejado. d) Sinal interferente: Sinal que prejudica a recepção de um sinal desejado. e) Perturbação eletromagnética: Fenômeno eletromagnético capaz de degradar o desempenho de um dispositivo, equipamento ou sistema, ou de afetar desfavoravelmente matéria viva ou inerte. Nota: Uma perturbação eletromagnética pode ser um ruído eletromagnético, um sinal não desejado ou uma modificação do próprio meio de propagação. f) Interferência eletromagnética (EMI): Degradação do desempenho de um equipamento, canal de transmissão ou sistema; causada por uma perturbação eletromagnética. eletromagnética” respectivamente, e causa Nota: “interferência e efeito, Os termos “perturbação eletromagnética” e não devem ser designam, utilizados indiscriminadamente. g) Compatibilidade eletromagnética (EMC): Capacidade de um dispositivo, equipamento ou sistema para funcionar satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético, sem introduzir perturbação eletromagnética intolerável em tudo que se encontre nesse ambiente. h) Emissão (eletromagnética): Fenômeno pelo qual a energia eletromagnética emana de uma fonte. i) Radiação (eletromagnética): 1. Fenômeno pelo qual a energia emana de uma fonte para o espaço sob a forma de ondas eletromagnéticas. 2. 20 Energia transferida através do espaço sob a forma de ondas eletromagnéticas. j) Interferência intersistemas: Interferência eletromagnética que ocorre num sistema devido a uma perturbação eletromagnética produzida por outro sistema. k) Interferência intra-sistema: Interferência eletromagnética que ocorre num sistema devido a uma perturbação eletromagnética produzida dentro do próprio sistema. l) Ruído natural: Ruído eletromagnético cuja fonte reside em fenômenos naturais e não naqueles produzidos artificialmente. m) Ruído artificial: Ruído eletromagnético produzido artificialmente. n) Célula TEM: Recinto fechado, frequentemente constituindo uma linha coaxial retangular, no qual uma onda se propaga em modo eletromagnético transversal, a fim de produzir um campo especificado para os ensaios. o) Rede Fictícia: Rede inserida no cabo de alimentação elétrica de um equipamento sob ensaio e que fornece, em uma dada faixa de frequências, uma impedância de carga especificada, para medição de tensões de perturbação e que pode desacoplar tal equipamento da rede elétrica, naquela faixa de frequências. p) Rede Fictícia em V: Rede fictícia que possibilita medir separadamente as tensões entre cada condutor e a terra. q) Plano (de referência) de terra: Superfície condutiva plana, cujo potencial é utilizado como uma referência comum. r) Corrente de modo diferencial: Em um cabo de dois condutores, ou para dois condutores particulares em um cabo multicondutor, é a metade da amplitude da diferença dos fasores que representam as correntes em cada condutor. s) Corrente de modo comum: Em um cabo tendo mais que um condutor, incluindo blindagens onde houver, é a amplitude da soma dos fasores representando as correntes de cada um dos condutores. t) Faixa de passagem (de uma emissão ou sinal): Largura da faixa de frequência fora da qual o nível de qualquer componente espectral não excede um percentual especificado de um nível de referência. 21 u) Perturbação de faixa larga: Uma perturbação eletromagnética de largura de faixa maior que aquela de um dado equipamento de medição, receptor ou dispositivo susceptível. v) Perturbação de faixa estreita: Uma perturbação eletromagnética, ou componente espectral de uma perturbação, de largura de faixa menor ou igual àquela de um dado equipamento de medição, receptor ou dispositivo susceptível. A EMI é a energia que causa resposta indesejável a qualquer equipamento e que pode ser gerada por centelhamento nas escovas de motores, chaveamento de circuitos de potência, em acionamentos de cargas indutivas e resistivas, acionamentos de relés, chaves, disjuntores, lâmpadas fluorescentes, aquecedores, ignições automotivas, descargas atmosféricas e mesmo as descargas eletrostáticas entre pessoas e equipamentos, aparelhos de micro-ondas e equipamentos de comunicação móvel. Tudo isto pode provocar alterações causando sobretensão, subtensão, picos, transientes e outros tipos de ruído. A exposição de equipamentos à diversas tecnologias diferentes somada à inadequação das instalações, possibilitam a geração e emissão de interferência eletromagnética. A ocorrência dessas perturbações é muito comum nas indústrias e fábricas, onde a EMI é muito frequente em função do maior uso de máquinas e motores que geram transientes na rede elétrica. O maior problema causado pela EMI são as situações esporádicas e que degradam aos poucos os equipamentos e seus componentes. Os mais diversos problemas podem ser gerados pela EMI, por exemplo, em equipamentos eletrônicos, podemos ter falhas na comunicação entre dispositivos de uma rede de equipamentos e/ou computadores, alarmes gerados sem explicação, atuação em relés que não seguem uma lógica e sem haver comando para isto e, queima de componentes e circuitos eletrônicos, etc. É muito comum a presença de ruídos na alimentação devido a erros de projeto na determinação do aterramento. A EMI deve ser considerada também em sistemas digitais e analógicos onde estamos falando de frequências de 30 a 300 MHz, ou seja, superiores a VHF [DE LIZ]. 22 Em geral, em frequências elevadas, os condutores se aproximam ainda mais do comportamento de uma antena, o que nos ajuda a entender porque os problemas de emissão de EMI se agravam em redes que operam em altas velocidades. Qualquer circuito eletrônico é capaz de gerar algum tipo de campo magnético ao seu redor e seu efeito vai depender de sua amplitude e duração. Outro exemplo típico de como a EMI pode afetar o comportamento de um componente eletrônico, é um capacitor que fique sujeito a um pico de tensão maior que sua tensão nominal especificada, com isto pode-se ter a degradação do dielétrico (a espessura do dielétrico é limitada pela tensão de operação do capacitor, que deve produzir um gradiente de potencial inferior à rigidez dielétrica do material), causando um mau funcionamento e em alguns casos a própria queima do capacitor. A eletricidade estática é uma carga elétrica em repouso que é gerada principalmente pelo desbalanceamento de elétrons localizado sob uma superfície ou no ar do ambiente. Este desbalanceamento de elétrons gera assim um campo elétrico que é capaz de influenciar outros objetos que se encontram a uma determinada distância. O nível de carga é afetado pelo tipo de material, velocidade de contato e separação dos corpos. Quando um objeto é carregado eletrostaticamente, um campo elétrico associado a esta carga é criado em torno dele e um dispositivo sujeito a este campo, que não esteja aterrado, poderá ser induzido, causando uma transferência das cargas entre os dois corpos. Esta transferência de cargas poderá resultar em falhas que reduzem a vida útil de algum equipamento, ou até mesmo o inutilize permanentemente. 2.1 Perturbações Eletromagnéticas Uma onda senoidal pura (sem distorção), de uma dada frequência e de uma dada amplitude, não possui componentes harmônicos acima da frequência fundamental. Se uma onda senoidal for retificada, componentes harmônicos pares são produzidos. Uma forma de onda quadrada, por outro lado, consiste de uma frequência fundamental e contém todos os componentes harmônicos ímpares desta frequência. Entre estes extremos estão diversas formas de onda: retangular, 23 trapezoidal e oscilatória decorrente de um pulso ou transiente, tais formas de onda possuem combinações de componentes harmônicos pares e ímpares. Quando uma tensão ou corrente muda de amplitude abruptamente em relação ao tempo, as mudanças nas derivadas de tensão (dv/dt) e corrente (di/dt) produzem componentes harmônicos de natureza elétrica ou magnética, respectivamente. Se o espectro de frequências das formas de onda de excitação for conhecido, o espectro de frequências da resposta pode então ser previsto e a própria resposta ser determinada. As perturbações eletromagnéticas possuem seu espaço no espectro eletromagnético de frequências. Perturbação Eletromagnética é qualquer fenômeno eletromagnético que pode causar degradação no funcionamento de um equipamento ou sistema. A perturbação eletromagnética pode ser um ruído, um sinal indesejado ou mesmo uma alteração nas características do meio de propagação [ABNT]. 2.1.1 Fontes de perturbações eletromagnéticas As fontes reais de perturbações eletromagnéticas que são tão variadas e variáveis que parecem desafiar qualquer tentativa de formulação de um banco de dados de alguma utilidade prática. Para identificar e quantificar perturbações é necessário que se identifique a característica crítica e quanto essa característica é crítica. Essa criticidade é determinada somente pela suscetibilidade dos receptores envolvidos. Se não tivéssemos receptores, e nenhum acoplamento, as fontes de perturbação não teriam importância. A seguir temos as principais características críticas das fontes de perturbação que devem ser conhecidas: a) Origem da perturbação eletromagnética. Para o controle é importante conhecer de onde a perturbação se origina (localização, externa, ou interna ao sistema). b) Frequência. Esta pode ser um campo de 10 Hz (+ ou – 2 Hz) entrando em batimento com as ondas alfa de uma pessoa, causando desorientação, ou pode ser um harmônico de um transmissor de rádio causando interferência de RF. 24 c) Tensão e dV/dt. Causando perfuração dielétrica ou erros em processamentos digitais de dados. d) Corrente e dI/dt. Calor excessivo (e incêndios) são causados se correntes excessivas duram por muito tempo ou transientes de tensão perigosos ocorrem se correntes variam num tempo muito curto. e) Energia do impulso (em adição à duração e tempo de subida como parâmetros diferenciadores). Podem criar ressonâncias destrutivas ou interferentes, ou ainda matar uma pessoa. f) Modo (diferencial ou comum). Frequentemente faz diferença se uma perturbação causa ou não algum prejuízo. 2.2 Perturbações eletromagnéticas conduzidas pela rede elétrica Conforme Souza, a rede de transmissão de energia elétrica constitui um meio importante de propagação das perturbações eletromagnéticas, pois é parte da infraestrutura básica de qualquer sociedade organizada da atualidade. A grande diversidade de equipamentos e sistemas alimentados e interligados por esta rede aponta para uma alta probabilidade de ocorrerem degradações no desempenho de funcionamento de diversos equipamentos ou sistemas provocados por perturbações eletromagnéticas que trafegam por ela. A própria rede elétrica pode ser considerada uma fonte de perturbações eletromagnéticas, pois as alterações de características deste meio de transmissão são também consideradas como um tipo de perturbação eletromagnética. A seguir são descritas estas perturbações eletromagnéticas de uma forma mais detalhada, apresentando as causas e principais características de cada tipo. 2.2.1 Perturbações eletromagnéticas de baixa frequência 25 As principais perturbações eletromagnéticas de baixa frequência conduzidas pela rede elétrica de interesse neste trabalho são: a) harmônicos Quando na rede elétrica estão presentes sinais de tensão e correntes elétricas não senoidais, com auxílio da série de Fourier podem–se representar estes sinais por um somatório de parcelas senoidais composto de um componente fundamental e outros componentes de frequências múltiplas deste valor, chamados de componentes harmônicos. A presença destes componentes harmônicos pode causar desde degradações no funcionamento até danos irreversíveis a equipamentos e sistemas conectados à rede. Normalmente, nos testes de imunidade eletromagnética, são considerados os componentes harmônicos até a 40ª ordem, isto é, com frequências de 2000 Hz para rede de 50 Hz e 2400 Hz para rede de 60 Hz. b) inter-harmônicos Os sinais denominados de Inter-harmônicos não apresentam frequências múltiplas da frequência fundamental da rede elétrica e são produzidos, como exemplo, por conversores estáticos de frequência e sistemas de comunicação do tipo Carrier (que usam a rede elétrica como meio de comunicação). Estes tipos de perturbações eletromagnéticas podem causar degradações e danos a equipamentos e sistemas de forma semelhante aos harmônicos. Nos testes de imunidade eletromagnética em relação aos inter-harmônicos são levados em conta: sinais de áudio de 110 Hz à 2000 Hz; sinais de frequências médias de 3 kHz à 20 kHz; sinais de rádio frequência de 20 kHz à 500 kHz e pulsos de curta duração. c) variações de tensão As variações de tensão são definidas como variações rápidas da tensão de alimentação em condições normais de operação. Estas variações são causadas por variações contínuas das condições de carga, pelo chaveamento de cargas e mesmo pelas mudanças abruptas da tensão da rede. Estas variações ocorrem em uma gama de + 10 % em relação ao valor nominal da tensão. d) afundamento de tensão 26 O afundamento de tensão é definido como a queda da tensão de até 15% do valor nominal com duração entre 0,5 e 50 períodos do sinal. Este tipo de perturbação eletromagnética é provocado por falhas nas redes de alta, média e baixa tensão. e) interrupções curtas São consideradas interrupções curtas as variações de 100% do valor da tensão nominal em intervalos de 0,5 a 50 períodos do sinal. f) desequilíbrio O desequilíbrio de tensão é provocado, entre outros, pela distribuição heterogênea de cargas monofásicas no sistema trifásico. Este desequilíbrio pode afetar equipamentos com alimentação trifásica como, por exemplo, o aquecimento de motores e introduzir erro na comutação de dispositivos em equipamentos eletrônicos de potência. g) DC offset A superposição de níveis CC em sinais alternados produz distorções harmônicas e geram aquecimento de equipamentos industriais, sobretudo em transformadores. 2.2.1.1 Harmônicos Os harmônicos são ondas senoidais de frequências múltiplas inteiras a uma frequência de referência, chamada fundamental. No caso do sistema elétrico brasileiro, a fundamental é a frequência padrão de 60 Hz, tendo como 2º harmônico uma onda senoidal de 120 Hz, 3º harmônico uma onda senoidal de 180 Hz e assim por diante. Os harmônicos são uma forma matemática de analisar a distorção de uma forma de onda, seja ela de tensão ou de corrente. Esta análise é feita por meio da decomposição de uma onda, utilizando a série de Fourier. O índice utilizado para contabilizar a quantidade de harmônicos presentes em uma onda, ou, em outras palavras, quão distorcida uma onda está em relação a uma onda senoidal é o THD. O THD é a relação entre a potência da frequência fundamental medida na saída de um sistema de transmissão e a potência de todas as harmônicas observadas na 27 saída do sistema pela não linearidade, quando um sinal único de potência especificada é aplicado à entrada do sistema. Este é normalmente especificado em porcentagem (%) ou decibel (dB), e, é um dos parâmetros de maior importância quando analisamos um equipamento (amplificador, processador, mixer, etc.), quanto menor a distorção harmônica, melhor é a capacidade de processar, amplificar ou transmitir o sinal de áudio sem distorcer (mudar as características) o sinal original. Portanto, lembre-se deste parâmetro sempre que for escolher um equipamento. A fórmula para THD% é dada por [POMILIO]: (Eq. 1) Onde os termos V2 até VN são os níveis dos harmônicos e V1 é o nível da fundamental. Assim, podemos dizer que THD é o valor eficaz dos harmônicos dividido pelo valor eficaz da fundamental, portanto: (Eq. 2) eH = Valor eficaz total dos harmônicos eF = Valor eficaz da fundamental THD% = THD 100 THDdB = 10.log(THD) – para potências THD dB = 20.log(THD) – para tensões e correntes No nosso país vem sendo adotadas medidas de redução para demanda de energia elétrica, mas essa redução está trazendo um aumento na distorção da corrente elétrica que circula pelas instalações elétricas. Para melhor entendimento, foram escolhidos e analisados quatro itens adotados pela Procel com objetivo de reduzir a demanda de energia, são eles: 28 Controladores de velocidade variável. Com a possibilidade de economia de energia e gerência do controle dos fluxos de potência, apresentam, em alguns casos, harmônicos bastantes significativos. Lâmpadas fluorescentes compactas. A substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas, visando economia, injeta níveis substanciais de harmônicos nos sistemas de distribuição secundária, além de contribuir para a diminuição do fator de potência. Instalação de bancos de capacitores. Visando a melhoria do fator de potência, uma instalação mal executada, sem uma análise crítica acerca dos harmônicos circulantes no sistema, provoca problemas de qualidade de energia, tais como: amplificação do conteúdo harmônico presente no sistema; estabelecimento de condições de ressonância harmônica; e queima prematura dos bancos de capacitores devido ao aquecimento de unidades capacitivas sob condições harmônicas. Controladores de intensidade luminosa. Também em busca de economia, este dispositivo piora o fator de potência e aumenta a injeção de harmônicos no sistema elétrico. Vários estudos realizaram uma análise entre a qualidade de energia elétrica e a conservação de energia elétrica. Um desses mostra um estudo acerca da substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas (LFCs) em ambientes residenciais que concluiu que, nessa situação, há um ganho em conservação de energia e uma perda na qualidade de energia elétrica, sobretudo na corrente circulante na instalação e um aumento na corrente pelo neutro, principalmente de 3º harmônico. Outro estudo parecido feito por Gonzales, mas com foco na interferência causada pelo uso de LFCs em residências, também constatou um ganho na demanda ativa da residência, porém com um aumento da potência reativa e uma diminuição do fator de potência. A corrente circulante na instalação elétrica também ficou mais distorcida. Um terceiro estudo analisou a poluição na rede elétrica causada por sistemas de controle de iluminação, os dimmers, para controle de lâmpadas incandescentes, fluorescentes com reatores eletromagnéticos e eletrônicos. Nessa situação, duas variáveis foram estudadas para efeitos de comparação: fator de potência e 3º harmônico na corrente. 29 Variando a potência de iluminação, o fator de potência diminuía com a diminuição da potência para as lâmpadas incandescente e fluorescente com reator eletromagnético. Para a lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o fator de potência se mantinha constante. Em relação ao 3º harmônico da corrente, o percentual deste em relação à fundamental aumentava com a diminuição da potência de iluminação, também para as lâmpadas incandescentes e fluorescentes com reator eletromagnético. Mais uma vez, para a lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o percentual de 3º harmônico em relação à fundamental se manteve constante com a diminuição da potência de iluminação. Quando foram realizaram ensaios em reatores eletrônicos de lâmpadas fluorescentes comparando com reatores eletromagnéticos, em outro estudo, foi percebido que o reator eletrônico, apesar de ser vantajoso no aspecto da conservação de energia, gera mais harmônicos de corrente, tendo uma forma de onda bastante distorcida se comparado com o reator eletromagnético. O principal problema na utilização dos reatores eletrônicos é o aumento da corrente de neutro em sistemas trifásicos, comumente percebido em prédios comerciais que utilizem lâmpadas fluorescentes com reator eletrônico na base de sua iluminação. Alguns pesquisadores, como Tostes, apresentaram medições de correntes de lâmpadas de descarga utilizadas em iluminação pública, mostrando a corrente e seus harmônicos de lâmpadas de vapor de mercúrio, vapor de sódio e metálico. Das lâmpadas analisadas, por exemplo, as que apresentavam maior distorção harmônica de corrente foram as lâmpadas de vapor de sódio com uma média de 35% de distorção harmônica de corrente, sendo 20% e 25% para as lâmpadas de vapor de mercúrio e vapor metálico, respectivamente. Nessas medições, foram mostradas ainda a realizada em um transformador de 30 kVA que alimentava, exclusivamente, um conjunto de iluminação pública, contendo 15 postes com quatro lâmpadas de vapor de sódio de 400 W cada um. A distorção de corrente encontrada foi de 59,37%, sendo que o espectro harmônico desta corrente apresentou um 3º harmônico de 53,2%, 2% de 5º harmônico e 7,6% de 7º harmônico. A distorção de tensão medida estava em 6%. No caso das medições realizadas nos aparelhos eletrodomésticos, foram medidas de minuto a minuto a tensão, a corrente, o THD de tensão e corrente, o fator de potência e a potência ativa, reativa e aparente. Como o enfoque deste 30 subcapítulo são os harmônicos, os resultados apresentados serão de corrente, harmônicos, valor eficaz, fator de crista e o THD de tensão no instante de medição. A forma de onda era guardada no instrumento não de forma automática e sim por intervenção do usuário. O tempo de coleta total variava de aparelho para aparelho, conforme sua funcionalidade. As lâmpadas incandescentes são cargas puramente resistivas, tendo um comportamento linear, que também é confirmado quando comparado o conteúdo harmônico da tensão e corrente. A Tabela 1 mostra os THDs de tensão e corrente em medições realizadas em cinco lâmpadas incandescentes. Pode-se notar que, descontando os eventuais erros do instrumento de medição, os dois THDs são iguais, mostrando que estas lâmpadas não geram correntes harmônicas. Enfim, os harmônicos de corrente serão iguais aos harmônicos de tensão, por serem as lâmpadas incandescentes cargas lineares. Tabela 1 - THDs de tensão e corrente em lâmpadas incandescentes Nº 1 2 3 4 5 Fabricante/Tipo Fabricante 1 - tipo clara Fabricante 2 - tipo clara Fabricante 3 - tipo bulbo translúcido Fabricante 4 - tipo cristal Fabricante 5 - tipo buldo translúcido Potência (W) 40 40 60 100 100 THD (% ) V I 4,01 3,67 3,91 3,95 3,76 3,64 3,22 3,15 3,76 3,66 Fonte Revista O Setor Elétrico Maio 2010 p. 39. Entretanto, quando dimerizadas, o conjunto “lâmpada incandescente + dimmer” passa a ter um comportamento de carga não linear, como mostrado na Tabela 2, na qual são mostrados os THDs, tanto de tensão quanto de corrente, para os mesmos níveis de iluminamento e para três dimmers analisados. Quando se reduz o iluminamento, percebe-se um aumento dos harmônicos, uma vez que a forma de onda de corrente fica cada vez mais distante de uma forma de onda senoidal. 31 Tabela 2 - THDs de lâmpadas incandescentes dimerizadas Nº 1 2 3 Iluminação em 75% THD(%) Fabricante/Tipo Fabricante 1 - Tipo rotativo Fabricante 2 -Tipo deslizante Fabricante 3 - Tipo rotativo V 3,40 3,87 4,24 I 26,62 37,86 33,74 Iluminação em 25% THD(%) V 3,29 4,10 3,94 I 78,03 16,72 74,86 Fonte Revista O Setor Elétrico Maio 2010 p. 39. a) eletrônicos Os aparelhos eletrônicos apresentam altos THDs de corrente. Isso se explica por sua forma de conversão CA-CC utilizada na fonte de alimentação: ponte de diodos com filtro capacitivo. Esta categoria de eletrodomésticos é a principal carga não linear de consumidores residenciais e comerciais e, consequentemente, da rede de distribuição que os abastece. A Tabela 3 traz os aparelhos eletrônicos medidos com seus respectivos THDs. Os fabricantes estão numerados conforme o tipo de aparelho, ou seja, o fabricante 1 de televisão não é o mesmo fabricante 1 do aparelho de som. 32 Tabela 3 - THDs de Aparelhos Eletrônicos Nº Computador 1 2 3 4 5 6 7 Televisão 1 2 3 4 5 Aparelho de Som 1 2 3 4 Impressora a laser 1 Laptop 1 Radio relógio 1 Telefone sem fio 1 2 3 Videocassete 1 2 Videogame 1 2 Aparelho/Fabricante THD V I Athlon 1.8 GHz Petium 166 MHz- monitor 14" Petium 300 MHz- monitor 14" Pentium 3 - 1 GHz- monitor 15" Pentium 3 - 1 GHz- monitor 17" Pentium 4 - 2,7 GHz- monitor 17" Pentium 4- 3 GHz monitor 17" 3,81 4,07 3,10 3,66 3,75 3,78 5,28 89,27 98,47 98,10 114,32 94,06 119,96 94,42 Fabricante 1 - 14" Fabricante 2 - 14" Fabricante 3 - 14" Fabricante 4 - 20" Fabricante 5 - 20" 1,07 3,03 2,98 2,90 1,69 111,63 95,96 103,29 103,00 136,17 Fabricante 1 Fabricante 2 Fabricante 3 Fabricante 4 2,40 1,27 3,29 4,50 43,20 61,18 42,80 35,97 Fabricante 1 3,47 111,60 Fabricante 1 3,04 10,00 Fabricante 1 3,37 51,03 Fabricante 1 Fabricante 2 Fabricante 3 3,45 4,19 1,61 26,18 29,15 37,84 Fabricante 1 Fabricante 2 3,28 135,23 3,45 56,28 Fabricante 1 Fabricante 2 3,30 4,01 Fonte Revista O Setor Elétrico Maio 2010 p.42. 45,30 56,92 33 2.2.2 Perturbações eletromagnéticas de alta frequência e transientes A rede elétrica também constitui um meio de transmissão de perturbações com frequências elevadas e de transições rápidas. As principais perturbações de alta frequência são: a) surto de tensão ou corrente elétrica – 100/1300 µs Os surtos com 100µs de tempo de subida e 1300 µs de tempo de duração, representados na forma reduzida como surtos-100/1300µs são causados, por exemplo, pelo rompimento de fusíveis em redes elétricas de baixa tensão e apresentam alta energia e longa duração. Estes tipos de perturbações podem causar degradações no funcionamento ou mesmo danos a equipamentos e sistemas conectados à rede elétrica. As características principais deste sinal são indicadas abaixo e ilustradas na figura 1: Amplitude: 2 a 3 a tensão nominal da rede; Tempo de subida: 100 [µs]; Tempo de pulso: 1300 [µs]. Figura 1 - Surto de tensão ou corrente elétrica de 100/1300µs Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 17. b) impulso de tensão elétrica de 1,2 / 50 µs e Impulso de corrente elétrica de 8/20 µs Estes tipos de perturbações eletromagnéticas podem produzir pulsos de tensão ou corrente em função da impedância do equipamento ligado à rede elétrica. 34 Normalmente são causados por chaveamentos de bancos de capacitores, falhas na rede e descargas elétricas, entre outras causas. Estes tipos de perturbações eletromagnéticas podem produzir pulsos de tensão ou corrente em função da impedância do equipamento ligado à rede elétrica. Normalmente são causados por chaveamentos de bancos de capacitores, falhas na rede e descargas elétricas, entre outras causas. A figura 2 e figura 3 mostram os impulsos de tensão e corrente com os respectivos tempos de subida e de pulso. Figura 2 - Impulso de tensão de 1,2 / 50µs Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 18. Figura 3 - Impulso de corrente 8 / 20 µs Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 18. c) rajadas de pulsos (Burst) 35 Esta perturbação eletromagnética é constituída por uma sucessão de pulsos de curta duração gerados, por exemplo, no chaveamento de cargas indutivas e a comutação de contatos de relés e contatores. Este tipo de sinal apresenta algumas características importantes: Tempo de subida rápido; pulsos de curta duração; baixa energia e alta taxa de repetição. A figura 4 e figura 5 apresentam as características da rajada de pulsos e do pulso individual, respectivamente. Figura 4 - Rajada de pulsos Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 19. Figura 5 - Características de um pulso individual da rajada de pulsos Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 19. 36 A rajada de pulsos pode produzir apenas degradação no funcionamento de um equipamento ou sistema, pois apresenta baixa energia não produzindo danos irreversíveis nestes equipamentos. d) oscilações senoidais amortecidas Este tipo de perturbação eletromagnética é normalmente produzido no chaveamento em redes de baixa, média e alta tensão. O conteúdo energético destas oscilações é menor que a energia dos surtos de tensão e corrente elétrica. No entanto pode-se ter a ocorrência de degradações em função da polaridade alternada deste tipo de perturbação. Estas oscilações podem apresentar amplitudes de pico até 4 KV e frequências entre 30 KHz a 2 MHz e são mostradas na figura 6. Figura 6 - Oscilações senoidais amortecidas Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 20. 2.3 Comparação entre os níveis de perturbação eletromagnética No estudo da Compatibilidade eletromagnética entre equipamentos ou sistemas colocados em um mesmo ambiente eletromagnético, como indicado na figura 7, deve-se analisar a possibilidade de perturbações eletromagnéticas de uma determinada fonte provocarem a degradação no desempenho ou mesmo a interrupção no funcionamento de um equipamento em teste. 37 Figura 7 - Diagrama de estudo de EMC Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 20. É preciso levar-se em conta o máximo valor declarado da perturbação eletromagnética gerada pela fonte, chamado de Nível de Compatibilidade Eletromagnética e o máximo valor da perturbação eletromagnética aceitável no equipamento em teste, chamado de Nível de Imunidade Eletromagnética. Uma comparação entre estes níveis está indicada na figura 8, onde também aparece o Nível de Susceptibilidade Eletromagnética que indica o valor da perturbação eletromagnética que indica o valor da perturbação eletromagnética que produz degradação não aceitável no desempenho do funcionamento do equipamento em uso. Figura 8 - Comparação entre os níveis de perturbação eletromagnética Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 07. A figura apresentada tem o objetivo de ajudar no entendimento sobre os significados das definições apresentadas. Pela dificuldade que é apresentar esses 38 valores de forma prática, mostrou-se de forma teórica, onde se leva em consideração modelos de distribuição estatística. Os níveis de perturbação não são estabelecidos pelos valores máximos absolutos e sim pelos valores que poderão ser ultrapassados em algumas ocorrências. 2.4 Propagação das perturbações eletromagnéticas Será abordado nesse capítulo os tipos de propagação das perturbações eletromagnéticas da fonte geradora até um receptor. Conforme SOUZA denomina-se estes fenômenos de acoplamentos da interferência eletromagnética, estes fenômenos descrevem os mecanismos de transmissão das perturbações, bem como os meios destes acoplamentos. 2.4.1 Acoplamento através de uma impedância comum Quando circuitos compartilham o mesmo sistema de alimentação, ou o mesmo ponto de terra, tem se o acoplamento por meio de uma impedância comum. A figura 9 mostra acoplamento para alimentação em corrente contínua. Figura 9 - Acoplamento por impedância comum Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 08. 39 Com a variação da corrente elétrica em um dos circuitos, tem-se a modificação da tensão da fonte que alimenta os dois circuitos. Assim, uma ação que ocorre em um circuito provoca uma variação indesejável da tensão de alimentação no outro circuito. Este efeito pode ser demonstrado pela expressão da queda de tensão na impedância interna da fonte (Vg): Vg = Zg (I1 + I2) (Eq.3) Esta queda de tensão é chamada de tensão na impedância comum. Portanto, qualquer variação espúria na corrente elétrica em um circuito produz uma variação na tensão da impedância comum. Esta variação poderá causar uma degradação no funcionamento do outro circuito. 2.4.2 Acoplamento condutivo Este tipo de acoplamento ocorre de forma mais específica na rede de transmissão elétrica de baixa e média tensão, onde vários sistemas ruidosos (motores, conversores, equipamentos de manobra etc.) estão conectados juntamente com equipamentos ou sistemas eletrônicos. A figura 10 mostra que as perturbações eletromagnéticas produzidas pela fonte ruidosa são conduzidas pela rede elétrica, podendo alcançar os equipamentos ou sistemas, que também são alimentados pela mesma rede. Figura 10 - Acoplamento condutivo Fonte Souza, 2006. 40 2.4.3 Acoplamento por indução Elementos de circuitos energizados possuem campos elétricos e magnéticos próprios. Estes campos podem produzir o acoplamento das perturbações eletromagnéticas de um equipamento ou sistema para outros equipamentos ou sistemas fisicamente próximos. A figura 11 indica que a presença de campos elétricos e magnéticos pode induzir o aparecimento de correntes e tensões elétricas espúrias em equipamentos ou sistemas localizados na proximidade destes campos. Figura 11 - Acoplamento por indução Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 10. Quando ocorre interferência entre dois sistemas por indução, deve-se analisar esta interferência em função dos agentes: campo elétrico ou campo magnético. O acoplamento por indução de campo elétrico é denominado de Acoplamento Capacitivo e o acoplamento por campo magnético é chamado de Acoplamento Indutivo. O modelo do acoplamento capacitivo é mostrado na figura 12, onde a grandeza V representa o sinal da fonte da perturbação eletromagnética e Vn indica o sinal de perturbação presente no sistema que sofre a degradação no desempenho de seu funcionamento. 41 Figura 12 - Modelo do acoplamento capacitivo Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 11. Esta perturbação eletromagnética é transmitida para Z, através da capacitância C que existe na região entre a fonte e o receptor. O sinal vn(t) pode ser calculado pela expressão: (Eq.4) Logo, a tensão vn depende do valor da capacitância do acoplamento. A figura 13 mostra o comportamento desta tensão ao longo da frequência: Figura 13 - Comportamento do acoplamento capacitivo em relação a frequência Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 12. A figura 14 mostra o modelo do acoplamento indutivo, onde a circulação de corrente elétrica no primário produz um fluxo magnético gerado por L1 que atinge L2, chamado de φ12. Como este fluxo é variável no tempo, tem-se a indução de corrente no circuito do secundário, produzindo uma tensão vo que representa, neste caso, a perturbação eletromagnética atingindo um equipamento ou sistema. 42 Figura 14 - Modelo do acoplamento indutivo Fonte Antônio Marcos de Souza, 2005, p. 12. A tensão vo é determinada pela Lei de Faraday: (Eq. 5) (Eq. 6) Onde B12 é a densidade de linhas de força de campo magnético gerado em L1 que atinge L2 e S a área envolvida pelo circuito receptor (secundário). O ângulo θ é medido entre a direção das linhas de força do campo magnético e o eixo normal à superfície S. O valor deste ângulo e a área S definem a intensidade do fluxo magnético que realmente produz a tensão Vo. Analisando a expressão da tensão vo, pode-se concluir que esta tensão será tanto maior quanto maior for o fluxo φ12 e a frequência. Este acoplamento pode ocorrer entre bobinas próximas ou mesmo em circuitos adjacentes e é mais percebido em sistemas que trabalham em altas frequências. 2.4.4 Acoplamento por irradiação de campo eletromagnético Neste tipo de acoplamento, tem-se um elemento irradiando um campo eletromagnético, que se propaga na atmosfera e atinge equipamentos ou sistemas 43 localizados em uma grande região em torno desta fonte geradora. Estas ondas eletromagnéticas são recebidas e produzem perturbações eletromagnéticas no interior destes sistemas. A figura 15 representa este tipo de acoplamento: Figura 15 - Acoplamento por irradiação de campo eletromagnético. Fonte Souza, 2006. É importante lembrar que a teoria elementar de antenas estabelece que campos eletromagnéticos na proximidade da fonte são considerados campos de indução e campos distantes da fonte são denominados de campos de irradiação. 2.5 Interferência Eletromagnética em aeronaves O uso de equipamentos de eletrônicos portáteis causa efeitos sobre o sistema eletroeletrônico dos aviões que é motivo de preocupação para vários operadores aeronáuticos. Dentre os aparelhos suspeitos em causar perturbações, estão lap tops, palmtops, reprodutores e gravadores de áudio, jogos, brinquedos eletrônicos, celulares e pagers. A utilização desses equipamentos pode causar desacoplamentos ou desvios de pilotos automáticos, indicações não corretas em displays, e até, o desligamento não intencional da aviônica. Em 1960, foi estabelecido um comitê nos Estados Unidos para investigar os efeitos da EMI em aeronaves civis, nesse caso investigando uma situação onde um receptor de FM, fez com que o sistema de navegação de um avião indicasse que ele estava 10 graus fora de curso. Após desligar o receptor, o sistema voltou a indicar a posição original. O trabalho desse comitê foi responsável pela revisão das regras do uso de dispositivos eletrônicos portáteis, em inglês, PED (Portable Electronic Device), a bordo de aviões em 1963. 44 A interferência eletromagnética emitida pelos PEDs tem sido considerada como a principal responsável por eventos anômalos durante vôos. Estudos estatísticos dão conta de que perturbações oriundas de PEDs estão entre as principais causas de acidentes e incidentes aéreos. Não há registro de nenhum acidente fatal que tenha sido provocado por utilização de aparelhos eletrônicos durante o vôo. No entanto, em 1998, na Tailândia, um Airbus A310 da Thai Airways caiu na terceira tentativa de pouso no aeroporto de Surat Thani. Como foram encontrados muitos celulares nos destroços, suspeitou-se que os passageiros tenham usado os aparelhos para avisar parentes e conhecidos, que os aguardavam no aeroporto, que o pouso atrasaria (AGHDASSI, 1999). 2.5.1 Dispositivos Eletrônicos Portáteis (PEDs) Os PEDs transmissores emitem sinais eletromagnéticos, já os eletroeletrônicos não intencionais não precisam transmitir, mas mesmo assim emitem algum nível de radiação que pode interferir na operação de outros aparelhos. Por exemplo, se uma lâmpada fluorescente for acesa próximo a um rádio AM, causará efeitos de estática sobre esse ele. Conforme AGHDASSI, o principal suspeito em gerar EMI significativa é os telefones celulares, que são transmissores intencionais e operam no modo digital na faixa de 415 MHz, 900 MHz e 1,8 GHz, podendo ter outras faixas noutras regiões do mundo. Quando em modo de espera e nenhuma ligação está sendo feita, mesmo assim o celular envia sinal periodicamente para a estação base, a fim de se manter em contato com a rede e a antena (estação-base). Um avião pousado pode estar próximo a uma estação-base, e isso resulta numa ligação muito forte entre ela e o celular a bordo. Sob essas condições a rede deverá ajustar a potência de saída para níveis baixos para manter contato com a antena, o que representa um nível pequeno de EMI. Mas, enquanto, no momento da decolagem o avião começa a se afastar da estação-base, a potência de saída dos aparelhos celulares é reajustada, muitas vezes para potência máxima, e assim o risco de EMI torna-se maior. 45 3 COMPATIBILIDADE ELETROMAGNÉTICA Compatibilidade Eletromagnética é definida como a habilidade de um dispositivo, equipamento ou sistema funcionar satisfatoriamente em seu ambiente sem provocar perturbações intoleráveis a este ambiente ou a seus componentes (BOSCH, 2004). O uso de sistemas eletrônicos em sistemas embarcados vem assumindo um papel indispensável, para o aumento do conforto, segurança e diminuição das emissões. Por outro lado, equipamentos e produtos eletrônicos estão presentes na vida diária de milhões de pessoas: telefones celulares, dispositivos sem-fio de entrada e saída de computadores, como mouses, teclados, redes wi-fi, sem contar as transmissões de rádio e televisão. Estes sistemas “sem-fio” (do inglês wireless) operam de maneira silenciosa e invisível, ininterruptamente para a conveniência e satisfação de necessidades humanas modernas (BIENERT, 2004). Apesar dos grandes benefícios e facilidades desses sistemas, eles introduzem ondas eletromagnéticas aos diversos ambientes em que operam. Neste contexto, compatibilidade eletromagnética vem se tornando uma habilidade cada vez mais crítica para garantir o correto funcionamento de todos esses sistemas em seus respectivos ambientes. Num sistema embarcado, a fim de garantir o funcionamento adequado de cada componente e a operação dos sistemas como um todo, faz-se necessária a análise da interação entre esses componentes do ponto de vista elétrico e eletromagnético. Um componente não deve interagir com outro de forma que a operação de qualquer um deles seja prejudicada. Essa interação pode ser abordada do ponto de vista de emissão ou de susceptibilidade à interferência. No primeiro caso o foco se concentra no que emana elétrica e eletromagneticamente do componente para o meio e no segundo, como o componente é afetado por sinais elétricos e eletromagnéticos que chegam até ele. Determinados equipamentos são naturalmente fontes ou receptores de sinais eletromagnéticos. Transmissores e receptores de áudio ou dados, por exemplo. Outros sabidamente geram ruídos ou são sensíveis. Circuitos digitais, circuitos de chaveamento e sensores, respectivamente, são exemplos. 46 Os dispositivos podem ser separados em classes de acordo com o seu comportamento durante e após serem submetidos a um ambiente eletromagnético. Existem dispositivos que operam normalmente, mesmo quando submetidos a elevados níveis de potência. Outros podem ter sua operação degradada ou podem não operar enquanto estão submetidos à irradiação. Outros ainda podem passar a operar de forma degradada, mesmo depois de cessada a interferência. O projeto dos equipamentos já deve prever o controle da emissão e da susceptibilidade elétrica e eletromagnética. Diversas técnicas já são conhecidas usando leiautes, terras, blindagem, conectores apropriados, e filtragem nos pinos dos dispositivos. Cada fornecedor e fabricante têm seus requisitos de EMC, assim como cada componente usualmente tem seus requisitos de EMC específicos, definidos por normas. O objetivo das normas é estabelecer padrões mínimos a serem atendidos dentro da indústria. A Compatibilidade Eletromagnética (EMC) é uma matéria cada vez mais preocupante para qualquer pessoa que opere equipamentos e sistemas elétricos, eletrônicos ou de telecomunicações e, ainda que a sua designação seja algo crítico (pelo menos à primeira abordagem para pessoas sem formação específica em eletricidade), está associada a alguns efeitos que fazem parte do nosso dia a dia, e que são do conhecimento geral, decorrentes do fato de qualquer aparelho elétrico gerar perturbações radioelétricas. Exemplos desses efeitos são as perturbações visíveis na imagem de um televisor quando um veículo motorizado ruidoso (em radiação eletromagnética) passa nas proximidades ou quando ouvimos no nosso receptor de rádio perturbações oriundas de um aspirador elétrico. Existem muitas outras causas dificilmente identificáveis, mas capazes de gerar efeitos imprevisíveis e que existem potencialmente em qualquer local ou ambiente, nomeadamente o lar, a indústria, os hospitais e os transportes aéreos, terrestres e marítimos. Nas últimas cinco décadas assistiu-se a uma preocupação relativamente crescente a este tema, comprovada na edição de publicações e normas técnicas sobre esta matéria e mais recentemente através dos requisitos das Diretivas Comunitárias Européias relacionadas à EMC, ou nos regulamentos das companhias de aviação comercial, que proíbem a utilização de aparelhos eletrônicos aos passageiros durante os vôos, para impossibilitar a ocorrência de fenômenos que interfiram com os sistemas de navegação aérea. Atualmente o tema Compatibilidade 47 Eletromagnética, relaciona-se com a medição e a definição de limites para as várias perturbações geradas pelo aparelho ‘perturbador’, por um lado, e com a influência dessas perturbações sobre o aparelho ‘perturbado’, por outro. Na figura 16 pode ser observado um exemplo de ambiente eletromagnético. Figura 16 - Ambiente Eletromagnético Fonte www.osetoreletrico.com.br/web/documentos/fasciculos/ed37_compatibilidade_eletromagnetica_em_si stemas_eletricos.pdf 3.1 Requisitos EMC para equipamentos eletroeletrônicos 3.1.1 Requerimentos Internacionais Uma configuração EMC pode ser assegurada com certa facilidade na instalação de um sistema eletrônico, exigindo-se que cada unidade de equipamento cumpra as respectivas normas EMC, as quais abordam tanto o aspecto de emissão (o equipamento como uma fonte de perturbação EM) quanto de imunidade (o equipamento não sendo afetado por perturbações EM no ambiente). Nesse sentido, vários organismos de normalização têm elaborado especificações técnicas no âmbito 48 EMC em diferentes domínios: IEC/CISPR em nível internacional; FCC/USA, VDEFTZ/Alemanha e BSI/Inglaterra em nível nacional; MIL-STD/USA (normas militares), SAE (normas para veículos automotivos), em níveis específicos; entre outros. Mais recentemente, a Comissão Européia tornou obrigatório desde janeiro de 1996 o cumprimento da Diretiva 89/336/EEC (Diretiva Européia sobre Compatibilidade Eletromagnética – Diretiva EMC) para a comercialização e/ou entrada em serviço de equipamentos eletroeletrônicos. Essa “legislação EMC” constitui a mais ampla e moderna abordagem em vigor e as especificações técnicas definidas nesse contexto pelo Comitê Europeu de Normalização/Comitê Europeu de Normalização Eletrotécnica (CEN/Cenelec) constituem a referência mundial para EMC. Os fenômenos eletromagnéticos, contra os quais a Diretiva EMC vem exigir um nível de proteção adequado, são identificados pelo IEC, adotados pelo Cenelec e compreendem: a) fenômenos conduzidos de baixa frequência: - harmônicas, inter-harmônicas, - sistemas de sinalização na rede, - flutuações de tensão, - variação da frequência da rede, - tensões induzidas de baixa frequência, - DC no sistema AC; b) fenômenos de campos radiados de baixa frequência: - campos magnéticos (contínuos ou transitórios), - campos elétricos; c) fenômenos conduzidos de alta frequência: - tensões ou correntes induzidas, - transitórios unidirecionais, - transitórios oscilatórios; d) fenômenos de campos radiados de alta frequência: - campos magnéticos, - campos elétricos, - campos eletromagnéticos; e) fenômenos de descargas eletrostáticas. 49 De modo geral, nos domínios da EMC comercial são englobados todos os fenômenos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos, de frequências desde 0 Hz a 400 GHz para avaliação do comportamento de equipamentos eletroeletrônicos, tanto no aspecto de emissão como de imunidade, radiada e conduzida. As especificações técnicas inerentes à Diretiva Européia sobre EMC (referenciadas pelo IEC e também adotadas no Brasil) caracterizam os procedimentos de teste e limites para cada fenômeno eletromagnético referenciado anteriormente, definindo assim a qualidade intrínseca dos equipamentos eletroeletrônicos. Em 15 de dezembro de 2004, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Européia aprovaram a Diretiva 2004/108/CE que revoga a anterior, a Diretiva 89/336/CEE, que dizia respeito à Compatibilidade Eletromagnética (os equipamentos de rádio e os terminais de telecomunicação já estão regulamentados pela Diretiva 1999/5/CE). Essa nova Diretiva EMC passa a exigir que os requisitos essenciais de EMC sejam aplicados também em instalações fixas, além de já serem exigidos para aparelhos, estipulando que os fabricantes de equipamentos destinados a serem ligados em redes devem construí-los de forma a evitar que as redes sofram uma degradação de serviço quando utilizadas em condições normais de funcionamento. Da mesma maneira, os operadores das redes devem construir as redes de modo que os equipamentos não sofram uma carga desproporcionada, prejudicando as redes. 3.1.2 Requerimentos no Brasil No Brasil, não existe propriamente uma imposição para o cumprimento de normas EMC no que se refere a produtos eletroeletrônicos de uso geral, embora as recomendações apresentadas pela IEC sirvam de referência. No entanto, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), por meio da Resolução nº 237 – Regulamento para certificação de equipamentos de telecomunicações quanto aos aspectos de compatibilidade eletromagnética, de 9 de novembro de 2000, passou a exigir de todos os fabricantes nacionais de equipamentos para uso em telecomunicações o cumprimento de requisitos específicos em EMC(que refletem as 50 especificações técnicas da Diretiva EMC). Também já estão sendo adotados no Brasil requisitos EMC para equipamentos eletromédicos, os quais (novamente) refletem as especificações técnicas da Diretiva EMC. Embora existam outros procedimentos para qualificação de produtos eletroeletrônicos em outros países, a Diretiva Européia sobre EMC está referenciada neste trabalho como um desafio para a indústria brasileira, principalmente, por definir um contexto internacional, moderno e abrangente, em que são exigidos requisitos técnicos para emissão e imunidade, tanto de produtos como de suas próprias instalações. A qualificação para a Diretiva EMC vem, assim, requerer às empresas que não estavam habituadas ao cumprimento de normas específicas na área EMC, uma mudança significativa nos seus próprios procedimentos internos, de forma a vencer certa “inércia EMC” dentro de sua própria empresa, além de investimentos em equipamentos e pessoal para ensaios e projetos EMC. A questão que se coloca então é: por que uma empresa brasileira deveria fazer, em maior ou menor escala, investimentos nesse sentido? Obviamente, essa pergunta deveria ser respondida de acordo com a estratégia de desenvolvimento e o mercado-alvo pretendidos, pois não existem atualmente restrições oficiais similares nesse âmbito para o mercado brasileiro. Entretanto, os seguintes aspectos devem também ser considerados na busca de uma resposta para essa questão: a) EMC x eletroeletrônica: a área da compatibilidade eletromagnética não representa somente uma “reserva de mercado” de alguns países, mas principalmente uma consequência do desenvolvimento eletroeletrônico, em que os problemas de interferência surgem como consequência natural do uso de um maior número de circuitos operando em maior proximidade, utilizando maiores bandas de frequência, menores níveis de sinal, etc.. EMC é, assim, uma necessidade inerente à própria eletrônica; b) padrão internacional: embora o ponto de partida para aplicação da Diretiva EMC tenha sido as normas internacionais existentes (IEC), o processo de normalização europeu representa cada vez mais o padrão internacional que está sendo implementado, que abordam tanto os aspectos de emissão como imunidade; c) exigências de mercado: é natural, como já está acontecendo, que mesmo em mercados onde não é necessário o cumprimento oficial de requisitos, haja uma maior 51 aceitação por produtos europeus diante de uma maior garantia de funcionamento desses produtos; d) competitividade: a abordagem implicitamente pretendida para o cumprimento da Diretiva EMC – em que os problemas de interferência são analisados e solucionados desde a fase de projeto – é a forma que tem se mostrado mais rentável para o desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos. É nesse sentido que está sendo desenvolvida uma tecnologia avançada, contra a qual qualquer empresa brasileira da área eletroeletrônica terá que competir. Dessa forma, a indústria eletroeletrônica brasileira terá que, num futuro próximo, cumprir muitas das exigências especificadas atualmente para o mercado europeu para se tornar competitiva em um mercado cada vez mais globalizado e, consequentemente, terá de se adaptar aos procedimentos de projeto e fabricação inerentes ao campo da Compatibilidade Eletromagnética. 52 4 TÉCNICAS PARA REDUÇÃO DE EMI O uso de técnicas de redução de EMI se faz necessário para que aparelhos eletrônicos em geral sejam eletromagneticamente compatíveis com seu ambiente. Sempre é bom lembrar que, sendo fontes, o objetivo das fontes de alimentação é gerar energia para os circuitos nela conectados com um mínimo de interferência gerada. Para CALOY, é condição para que as técnicas de redução da EMI sejam eficientes, deve-se aplicá-las desde as fases iniciais do projeto do produto, ou seja, devem-se utilizar técnicas de redução da EMI de maneira preventiva. Por exemplo: um projeto criterioso de um produto eletroeletrônico (layout da placa de circuito impresso, disposição dos componentes, etc.), leva-se em conta o comportamento em frequência dos componentes, que é limitado pela sua constituição física (comportamento não ideal dos componentes). Para uma melhor compreensão das técnicas, faz-se necessária uma explanação sobre o comportamento não ideal dos componentes eletrônicos. Esse estudo das não idealidades são de grande ajuda no entendimento das técnicas, pois o desconhecimento das limitações dos componentes pode fazer com que as técnicas de redução da EMI sejam praticamente inócuas. 4.1 Comportamento não ideal dos componentes 4.1.1 Condutores (fios e trilhas) Embora os condutores não sejam normalmente considerados componentes, eles possuem características que são muito importantes para a propagação do ruído gerado e para os transientes dos circuitos eletrônicos. A indutância é uma das características mais importantes. Mesmo em baixas frequências um condutor pode ter mai reatância indutiva do que resistência. 53 4.1.2 Trilhas de placas de circuito impresso As placas de circuito impresso (PCI) são compostas de um substrato no qual condutores (trilhas) são gravados. Os condutores em PCI´s têm seções transversais retangulares e os fios têm seções transversais circulares. A distribuição da corrente sobre a trilha comporta-se de uma maneira que é bastante similar à dos fios. Para a excitação CC ou de baixa frequência a corrente é distribuída uniformemente sobre a trilha. A resistência de baixa frequência por unidade de comprimento da trilha é dada por [MONTROSE]: (Eq.7) Onde: w – largura da trilha; t – espessura da trilha; σ – condutividade do cobre. 4.1.3 Efeito dos terminais de um componente Um componente eletrônico é conectado ao seu circuito via terminais. Um dos principais fatores que afetam o comportamento em alta frequência dos componentes é o comprimento dos terminais de fixação dos mesmos. Terminais de fixação muito longos causam um desvio no comportamento ideal do componente em altas frequências. O comprimento e a separação dos terminais de um componente fazem com que o componente tenha absorvido um elemento indutivo e um elemento capacitivo, tais elementos somados ao componente podem causar um fator bastante indesejado, a ressonância. 54 4.1.4 Resistores Este componente é o mais comum em sistemas eletrônicos e são fabricados basicamente de carbono, fio enrolado ou filmes finos. O resistor de filme, devido sua forma de fabricação, é o que possui valores mais precisos de resistência, dependendo ainda da técnica de fabricação, um resistor pode se comportar diferente da forma ideal em altas frequências. 4.1.5 Capacitores Existem inúmeros tipos de capacitores que variam de modelo, material usado na sua construção e também técnicas diferentes de fabricação dos mesmos. Para a redução de EMI, são utilizados, preferencialmente, capacitores cerâmicos e eletrolíticos. Os capacitores cerâmicos têm valores de capacitância menores que os eletrolíticos e são usados, geralmente, para suprimir emissões radiadas (altas frequências), enquanto que capacitores eletrolíticos são utilizados são utilizados para suprimir as emissões conduzidas (baixas frequências). 4.1.6 Indutores A técnica de construção determinará os valores dos elementos parasitas num indutor não ideal. O enrolamento das bobinas dos fios na forma cilíndrica introduz o valor de resistência do fio bem como a capacitância entre as bobinas próximas. Com isso, elementos de capacitância parasita são produzidos para o indutor. 55 4.1.7 Capacitâncias parasitas e de acoplamento As capacitâncias parasitas e de acoplamento estão presentes em vários componentes e é através delas que surgem conexões indesejadas e imprevistas entre dois pontos de um circuito. Elas podem, por exemplo, estar conectando segmentos de trilhas ou cabos, transformadores, terminais semicondutores, resistores, indutores e dissipadores. Os acoplamentos capacitivos dos componentes de um circuito variam entre componentes e também com o layout usado na PCI e criam caminhos para as correntes parasitas. 4.2 Segregação de Circuitos A segregação de circuitos consiste na separação em setores determinados dos elementos dos circuitos, de acordo com um critério de maior ou menor capacidade de geração de interferência eletromagnética. Para que o custo seja minimizado, esta técnica deve ser aplicada na fase inicial do projeto, ou seja, o projeto da placa de circuito impresso não deve ser inicializado se antes ser conhecidas as áreas onde as técnicas de blindagem e filtragem de EMI devem ser aplicadas. Para uma melhor análise das interferências nas PCI´s é didático se dividir o campo de atuação da interferência em dois “mundos”, Mundo Exterior e Mundo Interior. Mundo Exterior: onde o controle total do ambiente eletromagnético não é possível. Mundo Interior: onde o controle total do ambiente eletromagnético pode ser obtido. A fronteira entre o mundo exterior e interior é difícil de ser definida. Os condutores que saem do chassi de um equipamento estão sujeitos a todo o espectro eletromagnético do ambiente, mas os cabos que permanecem no interior do 56 equipamento podem também sofrer ação deste fenômeno se o chassi do equipamento não for adequadamente blindado e se os cabos externos não forem suficientemente filtrados. Por exemplo, um flat-cable ou um jumper conectando duas PCI’s não estará protegido de um ambiente eletromagnético agressivo, com radiofrequência (RF) irradiada, a não ser que haja um invólucro que forneça a blindagem adequada em toda a faixa de frequências de interesse, tanto para emissões como para recepção. Para OZENBAUGH, a utilização de uma única PCI para todos os circuitos em um equipamento é a melhor maneira (com baixos custos) de estar em conformidade com as normas de EMC. Isto porque é mais fácil controlar o ambiente eletromagnético de uma única PCI, do que controlar o ambiente eletromagnético de várias PCI’s com fios e cabos conectando-as. Muitos tipos de equipamentos eletrônicos podem não precisar de um invólucro blindado se forem fabricados com uma única PCI. Quando os circuitos do mundo interior estiverem demarcados, eles devem ser subdivididos em circuitos: extremamente ruidosos, ruidosos, potencialmente agressivos; e circuitos “limpos”, sensíveis e potencialmente vítimas. A probabilidade de um nó de circuito ser vítima de algum fenômeno eletromagnético depende do nível de seus sinais e de suas margens de ruído (menor margem => maior sensibilidade). Os muitos ambientes do mundo interior devem ser fisicamente segregados uns das outros, e do mundo exterior, mecanicamente e eletricamente. Na fase inicial do projeto, as áreas a serem segregadas devem ser mostradas claramente em todos os desenhos. A maioria dos projetos é feito em duas dimensões (comprimento x largura). Na montagem final de uma PCI é comum se verificar que tenha um circuito muito sensível (como um termopar ou amplificador de sinal sonoro) esteja muito próxima de um circuito ruidoso (como um transistor comutando e/ou um transformador de alta frequência), e que a PCI tenha problemas de integridade de sinal. Onde existe uma blindagem efetiva, o limite entre o mundo interior/exterior torna-se a divisória da blindagem. Todos os componentes associados de filtragem, supressão e conectores para a malha de cabos blindados, devem usar um painel de conectores na divisória da blindagem como sua referência. Uma única área para 57 todas as interconexões é ainda melhor. Uma faixa mais larga de conectores montados – com blindagem e/ou filtros – na PCI também podem ser conectados a um painel de metal. Essas partes seriam soldadas ao plano de referência da PCI e eletricamente ligadas metal-a-metal na divisória da blindagem durante a montagem final. 4.2 Disposição de Componentes e Trilhas Para CALOY, os componentes mais “ruidosos” ou suscetíveis de cada área devem ser posicionados o mais próximo possível do centro de suas áreas e tão longe quanto possível de cabos e fios. Tais componentes incluem geradores e linhas de clock, CI’s digitais com barramento, micro-controladores, transistores de potência operando como comutadores, retificadores, indutores, transformadores e dissipadores, CI’s analógicos e amplificadores que operem com níveis de mV. Após serem feitas as conexões, extremamente, curtas dos componentes para os planos de referência, a distribuição do clock digital deve ser a próxima rede a ser disposta, e deve ser feita em uma única camada (layer) da PCI, adjacente ao plano de 0V. Estas trilhas devem ser mais curtas possíveis. Depois dessa fase, os barramentos digitais de Entradas e Saídas (E/S) de alta velocidade devem ser dispostos de uma maneira similar às trilhas de clock, respeitando somente as trilhas de clock e conexões no plano de referência onde haja um conflito. As trilhas muito suscetíveis, tais como aquelas que levam sinais de transdutores (níveis de mV), devem também ser dispostas como se fossem trilhas de clock ou barramento de dados, embora estejam em uma área diferente na PCI. Todos os outros tipos de sinais (analógicos, digitais e de potência) devem ser dispostos de acordo com quão agressivos ou sensíveis a EMI eles forem. 4.3 Supressão da Interface 58 Os distúrbios eletromagnéticos podem ser radiados ou conduzidos através das interfaces entre as áreas segregadas. As técnicas de blindagem, filtragem e isolação são utilizadas para reduzir os distúrbios eletromagnéticos a níveis aceitáveis. Para decidir quais são os métodos mais econômicos para cada interface, deve-se ter conhecimento de todos os fenômenos eletromagnéticos possíveis de ocorrer, dado o ambiente eletromagnético operacional e as características de emissão/imunidade dos circuitos. Os condutores que passam do mundo externo para o interno podem necessitar de todo as técnicas de supressão: blindagens, filtros, transformadores de isolação, opto-isoladores e protetores contra surtos. Uma boa prática é reservar uma única área da PCI, ou o revestimento da blindagem, para todas as conexões entre mundo exterior e interior. Os mostradores – displays – e controles, como, pushbuttons e potenciômetros também são interfaces entre mundos externo e interno, e estão particularmente expostas à Descarga Eletrostática (Electrostatic Discharge – ESD). As blindagens podem ser aplicadas nos CI’s ou áreas específicas da PCI. Os métodos de segregação descritos ajudam a fazer com que a aplicação de uma blindagem de baixo custo seja possível. Os tipos de supressão a serem aplicados às trilhas e outros condutores que interconectam áreas diferentes da PCI necessitam de uma avaliação, tanto do sinal desejado quanto do ruído indesejável presente, além da sensibilidade dos circuitos conectados nas extremidades das áreas. A interferência irradiada entre áreas segregadas é possível. A capacitância parasita entre os componentes pode ser somente da ordem de picofarads, mas os sinais de altas frequências podem injetar correntes de deslocamento consideráveis nos componentes e trilhas das áreas vizinhas. A combinação de componentes de dimensões pequenas e de baixo perfil com os planos de referência da PCI, junto com a alocação dos dispositivos mais ruidosos, por exemplo, clocks, processadores, conversores estáticos e de sinais no centro de suas áreas, podem evitar que se tenha que blindar áreas da PCI, umas entre as outras. 59 4.4 Característica típica de operações de circuitos integrados O projeto de circuitos envolve matemática pura onde equações descrevem as funções a serem implementadas. Frequentemente, entretanto, mesmo se a lógica está correta, estes projetos podem não funcionar depois de montados devido perturbações indesejadas. Mesmo que funcionem, o produto pode ainda não ser legalmente comercializável devido a problemas de emissão eletromagnética. Portanto, os aspectos práticos de controle de interferência e emissão eletromagnética devem ser considerados desde o inicio das fases do projeto, “layout”, e teste de um produto (CALOY). Em circuitos analógicos, as fontes externas de perturbação eletromagnética são, em geral, a principal preocupação. Em circuitos digitais, as fontes de perturbações internas são de maior importância. Perturbações internas são o resultado dos seguintes fatores: a) Perturbação do barramento de aterramento, b) Perturbação do barramento de alimentação, c) Reflexão de linha de transmissão, d) Diafonia. O desempenho ou taxa de erros de circuitos digitais pode variar com combinações diferentes de chaveamento de CIs. Como em um sistema complexo, é impossível testar todas as combinações de chaveamento de portas, um problema de perturbação pode não ser detectado durante os ensaios de laboratório. A fim de garantir operação confiável, não é bastante testar o circuito somente no laboratório. Deve se, adicionalmente, assegurar que práticas adequadas de “layout” e fixação foram seguidas durante o projeto. Isto pode ser mais bem demonstrado pela medição de tensões de perturbação dentro do sistema. Medições das diferenças de potencial de aterramento entre vários pontos no sistema devem ser feitas, e tensões entre “Vcc” e terra devem ser medidas nos pinos de alimentação de todos os CIs. Estas tensões podem então ser comparadas com um objeto aceitável de tensão de perturbação que será tratado, posteriormente. 60 4.5 Perturbações no aterramento do circuito digital Correntes transientes no aterramento são as fontes principais de tensões de perturbação intra-sistema, e de emissões conduzidas e radiadas. A impedância do aterramento deve ser minimizada se desejamos minimizar a perturbação causada pelas correntes de aterramento transientes. Um condutor típico de cartão de circuito impresso (largura de 0,5 mm com um condutor de retorno na outra face do cartão) tem uma resistência de 4,72 miliohms por centímetro, uma capacitância de 0,79 pF por centímetro, e uma indutância de 5,9 nH por centímetro. A impedância de uma indutância de 5,9 nH versus a frequência, que está relacionada ao tempo de subida do pulso pela expressão “ f2 = 1/ π tr. Veja tabela 4: Tabela 4 - Impedância de uma trilha de circuito impresso de 10 mm de comprimento (indutância de 5,9 nH) Frequência (MHz) 1 10 30 50 70 90 110 160 Tempo de Subida (ns) 318 31,8 10,6 6,4 4,5 3,5 2,9 2,0 Impedância (Ω) 0,04 0,39 1,1 1,85 2,6 3,35 4,09 5,9 Fonte Caloy, 2010 . Como pode ser visto, nas frequências de importância nos circuitos lógicos digitais (10 a 150 MHz), a impedância de uma indutância de 5,9 nH é muitas ordens de grandeza maior do que a resistência de 4,72 miliohms. Para um sinal digital com tempo de subida de 3 ns, o condutor de aterramento terá uma reatância indutiva de aproximadamente 4 ohms por centímetro. Portanto, é a indutância a característica de maior importância durante o “layout” de um cartão de circuito impresso digita. Se a impedância do circuito de aterramento deve ser minimizada, a indutância deve ser reduzida de uma ordem de grandeza ou mais. 61 Indutância não é uma propriedade do condutor, como o é a resistência. A indutância relacionada a corrente que flui em circuito ao fluxo magnético total produzido por esta corrente. Na ausência de materiais magnéticos, a relação entre fluxo e corrente é linear: Fluxo=L x I Eq.(2) (Eq. 8) Onde a indutância é a constante de proporcionalidade. Esta depende da geometria do circuito, mas não especificamente do comprimento ou seção transversal dos condutores. Alguns autores estabelecem que indutância é diretamente proporcional ao comprimento de um condutor e inversamente proporcional ao logaritmo de diâmetro deste. Assim, por exemplo, a indutância de um único condutor circular é igual a L= 0,00197 Ln (4h/d) µH/cm Eq.- (3) (Eq. 9) Onde “d” é o diâmetro do condutor. Esta expressão pressupõe uma geometria especifica: o condutor está localizado acima de um percurso de retorno de corrente e distanciado deste percurso de uma altura “h”. Devido ao logaritmo na Eq. 3, é difícil obter um grande decréscimo na indutância, através do aumento da seção do condutor. Em caso típico de dobramento o diâmetro (um aumento de 100%), a indutância decrescerá somente de 20%. A seção teria de crescer de 500% para um decréscimo de 50% na indutância. A geometria de um circuito de uma espira, como o mostrado na figura abaixo, determina sua indutância. A quantidade total de fluxo magnético produzido por uma dada corrente que flui neste circuito depende do espaçamento dos condutores de alimentação e retorno. Se estes condutores estão próximo um do outro, mesmo fluxo é produzido. Na figura 17 é mostrada a relação entre a geometria do circuito e a indutância. 62 Figura 17 - Relação entre indutância e a geometria do circuito Fonte Caloy, 2010, p.3. Um circuito útil tem muitos laços nos quais correntes podem circular. Mas cada corrente traça individualmente seu próprio laço. A geometria de cada laço determina sua indutância da mesma maneira como mostrado na figura acima. A geometria pode ser manipulada pelo projetista do “layout” da placa de tal modo a minimizar sua indutância, mas o problema é fazer com que o projetista reconheça de que geometria estamos tratando. O laço de corrente para uma determinada linha de sinal pode ser identificado traçando a linha de sinal de sua origem ao seu destino. Suponha, agora, que seu destino seja o pino de entrada de um CI, o que acontece à corrente após esta entrar no CI? A resposta é que esta corrente deve sair do CI, e o fará através dos pinos de Vcc e/ou terra. Idealmente, os pinos de Vcc e terra estão num mesmo potencial C.A., e as trilhas de alimentação e aterramento podem ser consideradas como percursos de retorno paralelos sobre os quais a corrente encontrará seu caminho de volta a origem. Cada corrente individual deve retornar à sua própria origem, de tal modo que seu percurso formará um laço fechado. A geometria deste laço fechado é o que determina sua indutância. Não é especialmente o comprimento das trilhas (ou largura destas), mas sim a área envolvida pelo laço que importa. A figura abaixo é um exemplo de como não devemos dispor o sistema de aterramento. Os CIs de origem e destino estão próximos no cartão, mas o “layout” do aterramento apresenta uma indutância máxima. Na figura 18 é observada a influência do layout na indutância do circuito. 63 Figura 18 - Influência do “layout” de um cartão na indutância do circuito. Este “layout” de aterramento resulta em indutância máxima. Fonte Caloy, 2010, p.4. As linhas “Vcc” e terra não são apenas os percursos de alimentação e retorno para as correntes da fonte de alimentação. Estas linhas são, também, os percursos de retorno para todas as correntes de sinal no circuito e, como tal, deveria formar um percurso de baixa impedância para estas correntes. Na figura 19 é possível notar que quanto maior for o loop de corrente de sinal e retorno da corrente, maior será a geração de indução. Figura 19 - Percurso de alimentação e retorno para as correntes Fonte Caloy, 2010, p.5. 64 Como as linhas de “Vcc” e terra (idealmente) formam uma malha de percursos que se interligam em vários pontos no circuito, estas linhas fornecem múltiplos percursos de retorno paralelos para cada corrente de sinal. Uma dada corrente de sinal ao retornar à sua origem, se distribui entre estes percursos de retorno múltiplo na razão inverso das impedâncias destes. Se um percurso apresenta uma impedância significativamente menor, é por este percurso que a maior parte da corrente irá fluir. Já vimos que a indutância é a característica de maior importância durante o “layout” de um cartão de circuito impresso digital. E a indutância é principalmente determinada pela área do laço que a corrente percorre. Dizer que a corrente segue o percurso de menor impedância é o mesmo que dizer que esta segue o percurso de área de laço mínima. Entretanto, o percurso de área de laço mínima para uma dada corrente pode ser um percurso de área de laço um tanto grande para uma outra corrente. Portanto a multiplicidade de percursos de retorno paralelos se torna um fator importante. Cada corrente deve dispor de uma grande variedade de percursos de retorno, um dos quais minimizara sua própria área de laço. Os únicos percursos de retorno disponíveis são as trilhas de distribuição de alimentação e aterramento. A disposição destas é, portanto, crítica para minimização das perturbações. Esta disposição determina as geometrias de todos os laços de corrente no circuito. Dado o nível de importância, é fundamental que o projetista do “layout” da placa de circuito impresso disponha as regiões de alimentação e aterramento em uma etapa anterior do projeto da mesma, de preferência, imediatamente após a decisão de onde colocar os circuitos, componentes e conectores. 65 Figura 20 - Placa de circuito impresso multicamada para circuitos digitais Fonte Caloy, 2010, p.7. Figura 21 - Embedded Circuits Fonte Caloy, 2010, p.7. 66 Uma solução eficaz (que muitas vezes é a única para cartões muito denso) para problemas de interferência eletromagnética em cartões de circuito impresso é o uso de uma placa multicamada, figuras 20 e 21 acima. Em uma placa multicamada, o aterramento pode ser uma camada de cobre com furos metalizados para a inserção de terminais de componentes. A tensão de alimentação pode ser distribuída da mesma forma, isto é, de vista de permitir que as correntes procurem seus percursos de retorno individuais de menos impedância. Uma corrente de retorno individual, preferencialmente, seguirá por um percurso diretamente abaixo do correspondente à sua trilha de alimentação. Este é o percurso de indutância mínima. 4.5.1 Distribuição de alimentação Idealmente o “layout” da distribuição de alimentação deveria ser o mesmo que o sistema de aterramento, e paralelo a este último. Na prática isto não é sempre possível ou necessário. Como a perturbação da fonte de alimentação pode ser controlada pelo uso apropriado de capacitores de desacoplamento, um sistema de distribuição de malha de alimentação (ou plano de alimentação), não é tão importante quanto um sistema de aterramento adequado. Se um compromisso é necessário, é melhor usar espaço de cartão para prover o melhor sistema de aterramento possível e controlar a perturbação da fonte de alimentação por outros meios. Mesmo que comecemos com o melhor “layout” de aterramento possível, há ainda um problema, como o mostrado na figura 22-a. Quando a porta lógica chaveia, há um transiente de corrente “dI” que corre na linha da fonte de alimentação. Este transiente de corrente flui através do sistema de alimentação e aterramento. A indutância do aterramento já foi minimizada, tanto quanto possível. O problema principal agora é a queda de tensão que ocorre através da indutância “Lp” da linha da alimentação. A corrente transiente que flui através desta indutância produz uma grande tensão de perturbação que aparece no terminal de “Vcc” da porta lógica. A amplitude do transiente de tensão da alimentação pode ser reduzida pelo decréscimo da indutância “Lp” e/ou pelo decréscimo da corrente transiente que flui 67 através da indutância. A indutância pode ser minimizada pelo uso de um plano ou malha de alimentação, como no caso do sistema de aterramento. A corrente transiente pode ser minimizada, ou eliminada, suprindo-se a corrente de uma outra fonte, como, por exemplo, um capacitor próximo da porta lógica, como mostrado na figura 22-b. A tensão de perturbação através da porta é então uma função do capacitor de desacoplamento “Cd” e da fiação entre este e a porta. O tipo de capacitor usado, seu valor e o modo de instalação com respeito ao CI são todos importantes para a determinação da eficácia do capacitor. Figura 22 - Transiente de corrente da fonte de alimentação a-Sem capacitor de desacoplamento b-Com capacitor de desacoplamento Fonte Caloy, 2010, p.8. Mesmo quando uma malha ou plano de alimentação é usado, capacitores de desacoplamento são, ainda, exigidos para controlar a emissão radiada da corrente transiente de alimentação, a emissão radiada é proporcional à área do laço envolvido pela corrente transiente. Pode-se ver na fig.acima que esta área é consideravelmente reduzida quando capacitores de desacoplamento são usados. 4.5.2 Sugestões de layout interfaces de redes e telecomunicações 68 Na figura 23 pode ser observado que pontos de ground são importantes para o controle de EMI. Figura 23 - Pontos de Ground na PCB Fonte Caloy, 2010, p.16. 69 Figura 24 - Separação por ponte Fonte Caloy, 2010, p.17. O método de ponte é uma quebra do moat (fosso), onde somente as trilhas alimentação e ground cruzam a ponte. Figura 25 - Separação por ponte Fonte Caloy, 2010, p.17. 4.5.2.1 Separação por ponte 70 A violação do moat por qualquer trilha associada aos circuitos de I/O, causam problemas de emissão e suscetibilidade. As correntes de RF devem ter sua imagem ao longo de suas trilhas. Somente estes caminhos de imagem poderão existir. Os ruídos de modo comum serão gerados entre as duas áreas separadas. A vantagem de usar a ponte é similar ao conceito de um castelo com fosso. Somente sinais com o passaporte, cruzam a ponte. Esta técnica é comum para circuitos onde um plano de aterramento comum é requerido ou separadamente filtrado, onde uma alimentação regulada é necessária, nestes casos o ferrite bead é usado. Um aterramento nas duas pontas da ponte é recomendado (sistema de multiaterramento) O aterramento na entrada da ponte tem duas funções: a) Remover as componentes de alta frequência no circuito de distribuição de energia (ruído de ground) do acoplamento das áreas dividida. b) Ajuda a remover as correntes de redemoinho que poderão estar presentes no gabinete. Um caminho de baixa impedância para o ground deve ser proporcionado às correntes de RF, tais como, as correntes de RF nos cabos de l/º. Um aterramento nas duas pontas da ponte, também aumenta a imunidade à descarga eletrostática, a energia do pulso é drena para o caminho de aterramento de baixa impedância. Uma outra razão para aterrar ambos os lados da ponte, é remover a tensão de ruído de aterramento criada por gradientes que aparecem nas duas áreas. A figura 26 a seguir ilustra a rota das trilhas usando circuitos digitais e analógicos. Filters e ferrites serão usados para cruzar o moat (fosso). 71 Figura 26 - Separação de circuitos digitais e analógicos por filtros Fonte Caloy, 2010, p.18. 4.6 Blindagens e fugas em Compatibilidade Eletromagnética Blindagens custosas são, frequentemente, instaladas em sistemas para resolver problemas de EMI que deviam ter sido evitados no próprio projeto do sistema. Por exemplo, se um transformador de potência operando em 60Hz é montado próximo de um tubo de raios catódicos em um monitor de vídeo, o traço da tela irá oscilar. Uma maneira de resolver este problema é adicionar uma custosa blindagem de três camadas. Ou, se tivesse considerado este problema desde o inicio, poder-se-ia ter: a) Encolhido um transformador de pouca dispersão, b) Montado o transformado na parte de baixo de um chassi de aço, com uma cobertura de chapa de aço, a fim de formar um invólucro blindado, c) Montado o transformador bem distante do tubo, com seu campo de dispersão alinhado com o eixo mais longo do tubo, d) Deixando bastante espaço em torno do tubo para uma blindagem comum padrão, caso necessário. O processo de decidir “o que” dever ir “onde” em um sistema eletrônico é de importância fundamental para minimizar problemas de EMI. Pode-se evitar o uso de blindagens custosas afastando-se os circuitos suscetíveis do circuito perturbadores. Circuito de impedância elevada (Z > 377 ohms), sujeitos ao acoplamento capacitivo, 72 devem ser mantidos distantes de circuitos de alta tensão, e circuitos de baixa impedância (Z < 377 ohms), sujeitos ao acoplamento indutivo, devem ser mantidos distantes de circuitos de corrente elevada. Como exemplo deste último caso, podese citar a interferência em sensores de periféricos (circuitos de baixa impedância causada por circuitos de deflexão horizontal de monitores de vídeo e por fontes de alimentação circuitos de corrente elevada). Depois de adotadas todas as medidas no nível de circuito e ainda assim não se conseguir satisfazer o limite da emissão, uma blindagem deve ser especificada. A idéia é simples: nenhuma radiação escapa de uma caixa equipotencial totalmente fechada, qualquer radiação que porventura escape de uma unidade blindada resulta de violações da integridade da blindagem tais como furos, fendas, uniões entre painéis, cabos que penetram a blindagem, etc. Em sistemas com sinais de clock de frequência acima de 10 MHz, as técnicas de circuito e layout por si só podem não ser o bastante para que o produto satisfaça os limites de emissão, uma blindagem pode se tornar necessária. Confiar totalmente na blindagem do invólucro do produto pode ser um método muito custoso. Por outro lodo, tornar imune os cartões de circuito impresso, cabeação, etc de tal modo que o produto satisfaça os limites de emissão sem qualquer blindagem externa, é factível, mas pode também se tornar custoso. Deve-se, também, observar que a equipe que projeta o invólucro nem sempre é a mesma (em geral não é, particularmente para fabricantes de médio e grande porte) que projeta os cartões e a cabeação. Para cumprir metas estabelecidas e prazos associados, frequentemente é necessário iniciar o projeto do invólucro quando ainda não se tem completamente definido o projeto dos cartões de circuito impresso. Diante disto, o ideal é fazer o melhor empacotamento possível especificar uma blindagem econômica, prevendo-se a possibilidade de reduções de custos posteriores. Uma blindagem pode também ser usada para manter a radiação eletromagnética fora de uma região. A lei da reciprocidade estabelece que para redes e dispositivo, lineares e bilaterais, o desempenho reverso será o mesmo quando operado sob condições idênticas. Portanto, a maioria dos componentes e técnicas de controle de emissão radiada discutidos, anteriormente, apresenta um desempenho idêntico quando 73 usados para o controle de suscetibilidade, Entretanto, a lei da reciprocidade é violada para muitas situações. Um exemplo envolve blindagens. O uso de diferentes distâncias da fonte de perturbação e do receptor com respeito a uma blindagem causará uma eficácia de blindagem diferente, pois a alteração das distâncias pode afetar a linearidade, como é o caso de blindagens permeáveis, nas quais pode ocorrer saturação. As regiões mais suscetíveis a campos eletromagnéticos transientes, em equipamentos de processamento de dados típico, são os circuitos de lógica digital, cabos de interconexão externos, sensores de periféricos, e sensores de sobrecorrente em fontes de alimentação. Os circuitos de vídeo são pouco suscetíveis. 4.6.1 Tipos de Blindagem Há uma forte tendência no sentido de substituir invólucros ou bastidores metálicos de equipamentos eletrônicos, em especial os de consumo popular, pelos correspondentes de material plástico. As razões são, baixo custo (quando a quantidade justifica o investimento numa ferramenta de injeção), menor peso, e maior flexibilidade de “design”, resultando em maior funcionalidade e melhor aspecto visual. Mas invólucros plásticos são transparentes para campos eletromagnéticos, e muitos projetistas esquecem isso. A maioria dos produtos eletrônicos usados atualmente nos países desenvolvidos é revestida com tinta condutiva. O revestimento consiste de um aglomerante (geralmente poliuretano ou acrílico) e um pigmento condutivo (prata, cobre, níquel ou grafite). Uma mistura típica pode conter até 80% de partículas metálicas em suspensão e somente 20% de aglomerante orgânico. Tintas condutivas fornecem boa condutividade. Este é o método mais fácil de usar para protótipos e produtos de baixo volume de produção. A espessura típica varia de 50 a 75 µm. A tinta condutiva a base de níquel apresenta uma resistividade superficial de 0,5 a 1 ohm por quadrado (segundo a norma NBR 5403) suficiente para a maioria das aplicações. No Brasil, o pigmento, 74 ainda, é importado e o custo deste método é cerca de cinco vezes maior do que o da metalização. A desvantagem deste método é que as peças devem ser processadas individualmente. Outra desvantagem é que a espessura varia de ponto a ponto do substrato, dependendo do tempo de aplicação. Dependendo do substrato, este método apresenta de baixa à mediana resistência à abrasão. 4.6.1.1 Dispositivos diversos para a blindagem Laminados de Folhas Metálicas / Filmes Existe família de materiais laminados em folhas metálicas e filmes plásticos para blindagem EMI. Esses laminados estão disponíveis em rolos a granel para convertê-los em peças sob encomenda, para aplicação como gaiola EMI, placas de aterramento, tiras de aterramento, proteção ESD (descarga eletrostática), e compartimento de componentes eletrônicos. Os laminados propiciam uma solução ecológica, pois eliminam processos que utilizam solventes de tintas ou galvanização. Figura 27- Laminados de folhas metálicas para cabos de par trançado Fonte: programacaobrasil, 2010. O grande número de soluções que está disponível em configurações padronizadas sob encomenda. O plástico metalizado ou tampas metálicas tem como característica a gaxeta sobre-moldada nas bordas e paredes internas. Os spacer gaskets são quadros de plásticos finos como gaxeta condutivas, moldadas para aplicação em blindagem e aterramento, tais como, em telefones celulares. As tampas são de material plástico com uma cobertura moldada em elastômero condutivo para blindagem EMI. Um sistema automatizado para deposição de gaxetas em elastômero condutivos com baixo custo e alta qualidade, promovendo blindagem de housings plásticos. As gaxetas são aplicadas diretamente sobre a peça com excepcional 75 precisão e forte aderência nos mais comuns substratos e revestimentos de housings. A escolha do material inclui a resistência à corrosão e a maciez da compressão. A linha de compostos eletricamente condutivos inclui: a) Adesivos Condutivos, Material para Calafetar e Selantes; b) Revestimentos Condutivos; c) Tintas e Revestimento Condutivos As empresas oferecem uma larga variedade de gaxetas EMI metálicas, incluindo cordoalhas em tramas trançadas, podendo ser fornecido com núcleo de elastômero (silicone ou neoprene), compactada, ou combinada com outro elastômero para vedação da água. Figura 28 - Gaxetas de EMI Metálicas Fonte: portuguese.alibaba, 2010. As gaxetas de cobre berílio combinam altos níveis de eficiência em blindagem EMI, com propriedades de auto limpeza e pequena resistência mecânica ao fechamento. O bom desempenho do cobre berílio, alta resistência à tensão mecânica, boa propriedade anticorrosiva e excelente condutividade elétrica, fazem desse material ideal para blindagem em uma enorme faixa de frequência. A necessidade atual para controle de EMI e controle térmico em compartimento e gabinetes com componentes eletrônicos demandam uma solução mais eficiente do que simples perfurações. Uma grande variedade de passagens de ventilação com blindagem de EMI possibilita a escolha de varias configurações e desempenho. A passagem de ventilação blindada é uma soluçai de baixo custo, leve e com bom 76 fluxo de ar combinado com excelente blindagem, tendo como opcional o revestimento para obstruir o fogo. Figura 29 - Passagem de Ventilação com Blindagem EMI Fonte: chomerics, 2010. As janelas blindadas de vidro e plástico com desempenho testado, são utilizadas para displays visuais que precisam de blindagem sendo suscetíveis à radiação EMI. Essas janelas são projetadas para proporcionar uma alta eficiência na blindagem eletromagnética, enquanto promovem excepcional clareza visual e resolução de imagem. Figura 30 - Janelas Blindadas Fonte: shielding, 2010. Os ferrites possuem com boa relação custos beneficio reduzem as emissões conduzidas em linhas de sinais sem afetar a transmissão dos dados e cabos de potência. Os ferrites atenuadores são feitos com formulação especial utilizando material ferrite macio. Os ferrites permitem a passagem de sinais desejados através dos cabos e circuitos absorvendo a energia indesejada. 77 Figura 31 - Ferrites para Absorção Fonte:rfi-shielding, 2010. A proteção de EMI adequada pode ser alcançada com a utilização de caminhos de aterramento com baixa impedância entre os elementos eletricamente condutivos do chassi e os componentes internos. Os tabletes condutivos promovem o caminho de aterramento a baixo custo, comparando-se com a modificação do projeto ou a instalação de blindagem por todo o gabinete. Dentro dos gabinetes, os tabletes reduzem os níveis de radiação EMI nos aterramentos saturados pelos sinais das placas de circuito impresso. As placas montadas com componentes blindados tais como estruturas metálicas, podem ser aterradas com tabletes condutivos inserindoos entre estrutura e a parede do gabinete. As empresas vêm desenvolvendo e aplicando sua tecnologia em materiais elastoméricos condutivos em toda sua extensão. Existem várias opções de materiais com vantajoso custo-desempenho atendendo as necessidades dos diversos níveis de atenuação desejada. Essas gaxetas EMI elastoméricas estão disponíveis em uma grande variedade de perfis e tamanhos estruturados, cortados e moldados. Figura 32 - Gaxetas de Elastômeros Condutivos Fonte:shielding, 2010. 78 4.6.2 Eficácia da Blindagem A eficácia da blindagem (atenuação) é geralmente especificada em decibéis (dB) e definida por: E.B = 10 Log Potência sem blindagem / Potência com blindagem (dB) Para uma blindagem no ar ou vácuo, isto se torna: E.B = 20 Log campo E sem blindagem / Log E com blindagem (dB) E.B = 20 Log campo H sem blindagem / Log H com blindagem (dB) A maioria dos problemas de interferência exige uma blindagem de 30-60 dB [CARR]. Acima de 100KHz , blindagens de camada única podem fornecer uma blindagem de 40-70 dB e blindagens de camada dupla podem fornecer uma blindagem de até 120 dB. Furos e fendas, geralmente, limitam a atenuação de campos elétricos e campos magnéticos de alta frequência, enquanto o material e a espessura da blindagem limitam a atenuação de campos magnéticos de baixa frequência. A fim de se atenuar campos magnéticos, a blindagem deve permanecer não saturada. 4.6.2.1 Usando blindagem em circuito impresso A blindagem ideal num circuito impresso é uma caixa blindada metálica, com conectores e filtros feedthrough montado em suas faces. Para CALOY, o resultado é frequentemente chamado de módulo blindado, o qual poderá prover uma alta blindagem, é frequentemente usado no mundo do rádio frequência e micro-ondas. O bom projeto de circuito impresso depende do uso de uma blindagem efetiva, sendo que, em um dos lados da blindagem é usado o próprio impresso, de tal forma que uma caixa metálica de cinco lados possa ser montada sobre o impresso, sendo assim, desenvolvemos uma gaiola de Faraday sobre esta área. Essas caixas são disponibilizadas como finas placas metálicas em rolos, que podem ser montadas como gaiola de Faraday pelo usuário. 79 Os pontos fracos deste método de blindagem, são obviamente, as aberturas criadas pelas frestas entre o plano de aterramento e os conectores soldados nos circuitos impressos. Os melhores filtros e mais baratos são os do tipo feedthrough montados em placas de circuitos impressos. Mesmo assim, os filtros feedthrough montados em placas de circuitos impressos são mais caros do que os ferrites e capacitores usados como filtros mencionados anteriormente. Para encontrarmos filtros de custo inferior durante o desenvolvimento do projeto, com relação à compatibilidade eletromagnética, devemos observar as seguintes características de configuração dos filtros: a) resistores e ferrites nos cabos de sinal, b) capacitores para o plano de aterramento, c) choques de modo comum, d) combinação de resistor, ferrite, capacitor (filtros do tipo T, ΙΙ e LC), e) capacitor feedthrough. 80 5 CASOS CURIOSOS ENVOLVENDO EMI 5.1 Nissan Conforme o site notícias.vrum, recentemente, a Nissan recebeu diversas reclamações de proprietários dos modelos Altima 2007 e Infinity G35 2007, nos Estados Unidos, que tiveram as memórias das chaves eletrônicas de seus veículos apagadas por telefones celulares. O problema levou a montadora japonesa a emitir comunicado prevenindo os donos e usuários para que evitem posicionar os dois objetos (a chave e o telefone) a menos de uma polegada (2,54 cm) de distância, o que provavelmente acontece dentro do bolso ou da bolsa. Ainda de acordo com a empresa, alguns modelos de celulares, quando estão ligados, podem alterar o código eletrônico das chaves, caso estejam muito próximos a elas. A Nissan também informou que está desenvolvendo novas versões dessas chaves, para resolver o problema. 5.2 Segunda Guerra Mundial No site super.abril diz que, nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill previu que os futuros conflitos passariam a ser travados principalmente entre engenheiros eletrônicos militares. Quarenta anos depois, os fatos lhe dão razão: o novo campo de batalha é efetivamente o espectro eletromagnético. Mas, ao contrário da distribuição organizada que existe entre os usuários dos serviços pacíficos, é justamente a confusão o que mais interessa aos guerreiros eletrônicos. Foi assim que os argentinos conseguiram pôr a pique o navio britânico Sheffield na Guerra das Malvinas, em 1982. Um caça supersônico argentino Etendard localizou o Sheffield utilizando um sinal de radar com ondas eletromagnéticas tão precisas e potentes que os 81 marinheiros ingleses o confundiram com os sinais de radar de seus próprios caças Harrier. Depois foi só lançar um missil Exocet também equipado com um sofisticado sistema de orientação eletrônica. O radar do Sheffield apenas percebeu seu engano segundos antes do impacto. Na guerra eletrônica as melhores armas são as que conseguem fazer o melhor uso de determinadas faixas de ondas. Como a informação rápida e exata é imprescindível até mesmo para a menor das unidades de combate, ganha quem possuir os equipamentos com os quais se possa comunicar sem que o inimigo interfira. 5.3 Recall Toyota No site g1.globo diz que a montadora Toyota teve problemas no modelo LEXUS ES350 que apresentou em alguns casos aceleração não intencional. A Academia Nacional Americana de Ciências, um organismo independente integrado pelos melhores especialistas científicos, examinará o caso das acelerações descontroladas e dos sistemas eletrônicos dos veículos em toda a indústria automobilística em um período de quinze meses. Paralelamente, a Agência Americana de Segurança nas Estradas (NHTSA), submetida ao Departamento dos Transportes, pediu a ajuda de engenheiros da Nasa – a agência espacial americana –, especializados principalmente em sistemas de controle eletrônico de computadores, interferências eletromagnéticas e softwares, para ajudá-la a desvendar o mistério específico das acelerações dos carros da Toyota. Nove engenheiros da Nasa estão atualmente ligados a essa investigação e outros poderão se juntar a essa equipe de especialistas caso seja necessário, indicou o comunicado. 5.4 Grua falante, Piloto automático desligado e robôs sem controle 82 Os casos abaixo foram tirados do site super.abril. No primeiro acontecimento o cineasta americano Steven Spielberg não faria melhor. Assim que os operários de um prédio em construção em São Paulo movimentaram o guindaste para iniciar mais um dia de trabalho, faíscas estalaram e um festival de raios começou a sair do equipamento. Assustados, os trabalhadores ainda teriam uma surpresa digna do filme Poltergeist. Vozes e sons apavorantes ecoaram, fazendo alguns acreditar que a construção estava realmente sobre solo mal-assombrado. Estavam enganados. Os próprios operários perceberam pouco depois que as vozes fantasmagóricas emitidas pelo guindaste eram nada mais que as dos locutores de uma estação de rádio paulistana. O episódio ocorrido em 1987 não viraria tema de cinema, mas sim de discussões sobre um fenômeno nada sobrenatural nas grandes cidades: a poluição eletromagnética. Não foi difícil descobrir a causa do fenômeno. O prédio estava sendo erguido ao lado da torre de transmissão da Rádio Bandeirantes, uma das mais potentes de São Paulo. A energia irradiada era tão grande nas proximidades, que a grua passou a funcionar como uma antena. O guindaste captava a energia e a descarregava para o solo assim que a caçamba se aproximava do chão. Isso explica as faíscas e o arco voltaico. Quanto às vozes, ocorreu o que se chama de alto-falante iônico. Num altofalante comum, uma tela faz o ar que está em volta vibrar proporcionalmente à música e às vozes dos locutores. O som nada mais é que o resultado dessa vibração das moléculas de ar. No caso da grua falante, o que fazia o papel da tela era a própria corrente elétrica que dela saía em direção ao chão. De tão intensa, ela fazia o ar vibrar, exatamente como faz um alto-falante comum. Intrusos ainda mais inesperados quase derrubaram alguns Boeings nos últimos tempos, nos Estados Unidos. As empresas de aviação mantêm segredo, mas diretores da Administração Federal de Aviação (FAA) revelaram que pelo menos dois 747 tiveram suas rotas “levemente” alteradas por causa de aparelhos eletrônicos utilizados pelos passageiros a bordo. Comenta-se que um dos casos foi mais sério. O piloto automático simplesmente se desligou, deixando o avião à mercê da sorte até que os pilotos percebessem. O comandante do Jumbo ordenou que as aeromoças fizessem uma investigação a bordo. Ficou constatado que a interferência estava sendo causada pelo computador portátil de um passageiro, que não quis esperar o pouso para começar a trabalhar. Por pouco não iria trabalhar nunca mais. 83 Como é possível um computador quase derrubar um avião? Afinal, ele não foi feito para transmitir ondas eletromagnéticas, como as emissoras de rádio. “Mas transmite”, diz Eduardo Berruezo, engenheiro eletrotécnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de São Paulo. “Para executar suas tarefas, sinais elétricos percorrem os circuitos da máquina e geram um campo eletromagnético”, explica Berruezo, que se desdobra para resolver os enigmas levados ao IPT por indústrias e particulares atordoados por interferências. “Se a frequência desse sinal for compatível com algum outro aparelho eletrônico, ela pode se transformar numa interferência”, afirma. Foi o que aconteceu no avião americano. O micro estava emitindo e o piloto automático, por sua vez, estava propício a funcionar como uma antena. Isso não quer dizer, no entanto, que todo computador portátil que for ligado dentro de um avião ocasionará problemas. “O micro transmite com baixíssima potência e certamente não em todas as direções”, explica Berruezo. Por isso, é preciso que haja uma grande coincidência na sua localização dentro da aeronave para que haja interferência. Mesmo assim, quase todas as companhias aéreas passaram a pedir aos passageiros que não utilizem microcomputadores ou aparelhos portáteis de CD a bordo. O Japão é conhecido por uma trágica história envolvendo EMI. Uma catastrófica epidemia de loucura robótica aconteceu lá, no final dos anos 80. Máquinas ensandecidas mataram dezenove operários e feriram vários outros com movimentos inesperados — na maior parte dos casos, verdadeiros golpes de caratê, que arremessavam os trabalhadores a vários metros de distância. Quando os peritos examinavam os robôs, no entanto, não achavam nada de errado. Não era para menos: o defeito era de nascença. Os projetistas não haviam previsto a enxurrada de sinais espúrios causada por computadores, equipamentos de telecomunicações e pelas próprias máquinas existentes no ambiente industrial. Para se ter idéia do tamanho dessa inundação, basta considerar as soldas para plástico, usadas em fábricas de brinquedos e eletroeletrônicos. A cada soldagem, elas emitem um sinal na frequência de 30 mega-hertz (bastante próxima àquela em que operam os microprocessadores dos robôs), com uma elevadíssima potência de 10 quilowatts. Por isso, a radiofrequência penetrava facilmente nos circuitos dos robôs e alterava as programações. “Uma simples blindagem, no entanto, poderia evitar essas interferências fatais”, diz Eduardo Berruezo, do IPT. 84 A poluição eletromagnética não é exclusividade do ambiente de trabalho. Embora bem menos perigosa, é dentro de casa que ela provoca os casos mais difíceis de resolver. Quem nunca teve seu aparelho de TV invadido por vozes de radioamadores? Ou o som do rádio distorcido por causa de um liquidificador ligado na cozinha? São problemas aparentemente insolúveis para os desavisados cidadãos. Afinal, não há sentido em instalar uma blindagem na televisão ou um fioterra no liquidificador. “Quando a interferência é causada por radioamadores, é possível minimizá-la instalando filtros no aparelho de TV”, explica Roberto Moraes, do Dentel. Mas nem sempre os incomodados se conformam em pagar para resolver um problema pelo qual não são responsáveis. Brigas e processos se sucedem e alguns até usam meios pouco ortodoxos para acabar com as interferências. “Recentemente, um inconformado telespectador abateu a tiros a antena de seu vizinho radioamador”, conta Moraes. 85 6 APLICAÇÃO PRÁTICA Com objetivo de exemplificar de maneira abrangente, mas de forma simples, o que foi abordado nesse trabalho, foi escolhido o projeto de um dimmer utilizado para comando de lâmpadas incandescentes. Ao decorrer desse capítulo será abordado o princípio de funcionamento do dimmer, exemplos de dimmer com e sem EMC, assim como formas de onda corresponde a senóide “pura”, senóide após o acionamento de um dimmer com proteção de EMC e um dimmer sem proteção alguma. 6.1 Principio de funcionamento de um dimmer O controle eficiente da luminosidade de uma lâmpada incandescente, da temperatura de uma estufa, secador de cabelos ou de algum eletrodoméstico e finalmente o controle de velocidade de uma ferramenta ou eletrodoméstico que tenha motor só pode ser feito com o uso de um bom dimmer. O princípio de funcionamento deste circuito é o controle do ângulo de condução de um Triac. Disparando-o em diversos pontos do sinal senoidal da rede de energia é possível aplicar a uma carga potências diferentes. Assim, se o disparo for feito no início do semiciclo todo ele pode ser conduzido para a carga e ela receberá maior potência. No entanto, se o disparo for feito no final do semiciclo pequena parcela da energia será conduzida até a carga que operará com potência reduzida, como pode ser visto na figura 33. 86 Figura 33 - Região de disparo do triac Fonte:.newtoncbraga, 2010. Para que o triac dispare em diferentes pontos dos semiciclos da senóide, utiliza-se uma rede RC de retardo onde o resistor é um potenciômetro, e portanto variável. Com R (Potenciômetro) na sua posição de valor máximo o tempo de carga do Capacitor até o disparo do diac é maior. Com isso consegue-se tempo para uma parcela maior do semiciclo da energia da rede passar e o disparo só ocorre no seu final. Com R na posição de mínimo a carga do capacitor é rápida e o disparo do diac ocorre no início do semiciclo e assim, tem-se a condição de máxima potência aplicada à carga. Entre os pontos de máximo e de mínimo pode-se variar linearmente a potência aplicada à carga com um controle total da mesma. Abaixo temos na figura 34 de um diagrama de dimmer. Figura 34 - Esquema elétrico dimmer comum Fonte:.newtoncbraga, 2010. 87 6.2 Projeto de dimmer considerando os conceitos de EMC 6.2.1 Esquema elétrico dimmer Pode ser visto neste sub capítulo detalhes do projeto de um dimmer considerando os conceitos de EMC. Primeiramente temos o esquema elétrico do dimmer, na figura 35, onde foi previsto o uso de indutor (L1) e também um capacitor X2 (TC1) usado como supressor de ruídos. Figura 35 - Esquema elétrico dimmer com EMC Fonte: Autoria própria, 2010. 6.2.2 Layout e estrutura da PCI Os seguintes aspectos foram considerados no layout da placa: a) distância de escoamento conforme a norma ABNT NBR IEC 60669-21:2005. Isto é, as partes sob tensão de polaridade diferente e não protegidas por um dispositivo-fusível devem respeitar a distância de escoamento de pelo menos 3mm; 88 b) espessura das trilhas dimensionadas para limitar a densidade de corrente máxima em 35A/mm²; c) placa FSR-4 dupla face de 1,6mm de espessura, fibra de vidro, vernizada. Na figura 36 é mostrado a estrutura da PCB utilizada para esse projeto, uma placa de FR4 de fibra de vidro dupla face com furos metalizados que são muito utilizadas para controle dos efeitos de EMI´s nos circuitos eletrônicos. Figura 36 - Camadas que formam a estrutura da PCB Fonte: Autoria própria, 2010. Nas figuras 37 e 38 a seguir é possível de se ver a disposição final dos componentes na PCI, e principalmente a presença do capacitor X2 (C1) e também do indutor (L1). 89 Figura 37 - Distribuição dos componentes na PCB Fonte: Autoria própria, 2010. Figura 38 - Serigrafia da placa mostrando posição do capacitor X2 e Indutor Fonte: Autoria própria, 2010. Na figura 39 abaixo temos uma visão do painel de PCI´s antes dos componentes serem inseridos e soldados. 90 Figura 39 - Painel Top Fonte: Autoria própria, 2010. 6.3 Rede elétrica e variações decorridas após o uso do dimmer 6.3.1 Senóide da rede elétrica Para que fosse possível demonstrar os efeitos que o dimmer causa na rede elétrica convencional 127 / 220 VAC, foram capturados sinais com o auxílio de um osciloscópio e são mostrados a seguir nas figuras 40 e 41. Figura 40 - Senóide pura com sua FFT a 1250 Hz / divisão Fonte: Autoria própria, 2010. 91 Figura 41 - Senóide pura com sua FFT a 125 Hz / divisão Fonte: Autoria própria, 2010. Nas figuras 40 e 41 acima podemos ver a FFT (Transformada de Fourier que é tipicamente utilizada para decompor um sinal nas suas componentes em frequência e suas amplitudes) do sinal original da rede elétrica onde serão ligados dois modelos de dimmer, com e sem proteção para EMI. Na figura 40 utilizou-se o osciloscópio setado para ter-se 1250 Hz por quadro, já na figura 41 esse ajuste foi alterado para 125 Hz por divisão, com isso é possível ver o sinal com mais detalhes. Mas em ambos pode-se ser observado que o sinal é completo próximo a frequência de 60 Hz e em frequências maiores não existe ruído irradiado ou induzido. Essa medição foi feita diretamente na rede elétrica e também diretamente em uma lâmpada incandescente de 60 Watts / 220 Vac e o resultado obtido foi exatamente o mesmo, ou seja, toda a perturbação que existe na rede elétrica quando usado um sistema de comando de luminosidade (dimmer), pode ser atribuído ao dimmer. 6.3.2 Dimmer sem proteção para EMI Na figura 42, abaixo, é mostrado um exemplo de dimmer sem proteção para EMI. Como pode ser visto, não são utilizadas as técnicas abordadas até então, como distância das trilhas, capacitores e indutores para filtro e nenhum tipo de blindagem. 92 Figura 42 - Dimmer sem proteção EMI Fonte: Autoria própria, 2010. Nas figuras 43 e 44, a seguir, é mostrado o que acontece com a senóide no momento em que a carga está recebendo 10% de sua capacidade máxima, isso sendo regulado pelo dimmer. Na figura 43 usa-se a escala de 125 Hz / divisão, mas na figura 44, onde é usada a escala de 1250 Hz / divisão, fica mais perceptível a emissão de espúrios do dimmer à rede elétrica. Essa ocorrência fica clara nas frequências de 2,5 kHz e 3,8kHz onde esse espúrio chega a 20 dB, e também na frequência de 6,250 kHz onde temos um ruído de 30 dB. Figura 43 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. 93 Figura 44 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Nas figuras 45 e 46 é mostrado o que acontece com a senóide no momento em que a carga está recebendo 50% de sua capacidade máxima, isso sendo regulado pelo dimmer. Na figura 45 usa-se a escala de 125 Hz / divisão, mas na figura 46, onde é usada a escala de 1250 Hz / divisão, fica mais perceptível a emissão de espúrios do dimmer à rede elétrica. Essa ocorrência fica clara nas frequências de 2,5kHz e 3,8 kHz onde esse espúrio chega a 15 dB. Figura 45 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. 94 Figura 46 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Abaixo pode ser observado, na figura 47 e 48, o que ocorre com a senóide no momento em que a carga está recebendo 100% de sua capacidade máxima, isso sendo regulado pelo dimmer. Duas características devem ser observadas nas próximas figuras, a primeira é que a lâmpada nunca estará com sua carga máxima quando regulada por um dimmer, pois não se pode esquecer que o dimmer está em série no circuito da carga e com isso tem uma perda (queda) de tensão nele. A outra característica a ser observada é que quanto mais o dimmer se aproxima da carga máxima, menos espúrios ele gera na senóide da rede elétrica. Figura 47 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. 95 Figura 48 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. 6.3.3 Dimmer com proteção para EMI O dimmer que será apresentado nesse sub item é o mesmo projetado no item 6.2, infelizmente pensando a nível de Brasil, onde os consumidores na sua grande maioria buscam apenas preço, é um produto que não pode ser considerado competitivo, pois, devido a conter diversos filtros e também um sistema de blindagem, acaba tendo um custo maior que o seu concorrente, o dimmer comum sem proteção alguma. Como estudado, o Brasil já mostra sinais de interesse quando o assunto é EMC / EMI, mas ainda está “engatinhando” quando comparado a países do primeiro mundo. O mercado brasileiro, e me incluo nesse, a menos que tenha sofrido sérios problemas com EMI, não dá a devida importância a esse tema e preferimos pagar por vezes alguns Reais mais barato num produto eletrônico do que poluirmos cada vez mais nossa rede elétrica. Abaixo podemos ver figuras(49 e 50) do dimmer projetado com filtros (capacitor X2 e Indutor) e sistema de blindagem. O projeto abaixo mostrado pertence a empresa Siemens Ltda – Iriel Ind. e Com. Sist. Elétricos Ltda. 96 Figura 49 - Dimmer com proteção EMI, blindagem e indutor Fonte: Autoria própria, 2010. Figura 50 - Dimmer com proteção EMI, capacitor X2 e indutor Fonte: Autoria própria, 2010. Observando se as figuras abaixo 51 e 52 podemos notar que não há geração de espúrios significativos até uma frequência de 9 kHz, mesmo nesse caso onde o dimmer está com 10 % da carga máxima e é considerado o pior caso na ocorrência de ruídos na rede. 97 Figura 51 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Figura 52 - Efeito na senóide com dimmer em 10% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Nas figuras 53 e 54, que seguem, pode ser visto o dimmer atuando com 50% e 100% da capacidade da carga, se for comparado com o dimmer que não oferece proteção contra EMI pode ser observado que a geração de espúrios na rede elétrica é consideravelmente menor. É possível de ser observado também que há uma diminuição nos ruídos gerados ao passo que o dimmer atua com carga próxima a capacidade máxima, ou senóide praticamente completa. 98 Figura 53 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Figura 54 - Efeito na senóide com dimmer em 50% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. A mesma observação do dimmer anterior pode ser feita, ou seja, mesmo chegando próximo a 100% da carga a senóide não mais torna a ser completa devido ao circuito do dimmer estar em série com a carga (lâmpada), conforme figuras 55 e 56. 99 Figura 55 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Figura 56 - Efeito na senóide com dimmer em 100% da potência máxima Fonte: Autoria própria, 2010. Para uma melhor visualização dos resultados obtidos, pode ser visualizado abaixo três tabelas, onde é mostrado os níveis de interferência que os aparelhos dimmer´s causam em determinadas frequências. As tabelas mostram uma comparação entre o dimmer com e sem EMC. Na tabela 5 podemos ver quanto a interferência do dimmer sem proteção contra EMI é forte, principalmente, em altas frequências, considerando que o gatilho do dimmer está em 10% da senóide. 100 Tabela 5 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 10% da senóide Frequência Interferência Dimmer sem EMC (Hz) (dB) 60 0 2500 20 3800 20 6250 30 Interferência Dimmer com EMC (dB) 0 5 5 10 Fonte: Autoria Própria, 2010. Na tabela 6 é mostrado o dimmer com gatilho em 50% da senóide. Tabela 6 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 50% da senóide Frequência Interferência Dimmer sem EMC (Hz) (dB) 60 0 2500 15 3800 15 6250 10 Interferência Dimmer com EMC (dB) 0 5 5 10 Fonte: Autoria Própria, 2010. Na tabela 7, onde o dimmer está com seu gatilho próximo do 100% da senóide, fica perceptível qua espúrios já não são mais significativos. Tabela 7 - Nível de interferência para dimmer´s atuando em 90% da senóide Frequência (Hz) 60 2500 3800 6250 Interferência Dimmer sem EMC (dB) 0 5 5 5 Fonte: Autoria Própria, 2010. Interferência Dimmer com EMC (dB) 0 5 5 5 101 6 CONCLUSÃO Quando se fala em interferência eletromagnética, tanto faz se o tema é: causas, efeitos ou dicas de redução, não deve se acreditar que uma lógica sempre existirá, ou seja, não se pode pensar que o problema de EMI será simplesmente eliminado. Na verdade, o que deve ser procurado é a compatibilidade eletromagnética entre circuitos e aparelhos eletroeletrônicos. Assim, um sistema eletroeletrônico deve operar sem interferir em outros sistemas, e também não deve sofrer interferência quando instalado em ambientes eletromagnéticos. Em muitos casos o problema de interferência eletromagnética é classificado como “magia negra”, isso na verdade ocorre por despreparo do corpo técnico da área de desenvolvimento das empresas. Dessa forma, a EMI não é tratada com a devida precaução tornando, as dificuldades de solução do problema, mais complexas e de custo maior, consequentemente. Como em muitas situações, principalmente em países subdesenvolvidos, a interferência eletromagnética quase sempre é tratada apenas no momento em que surge e causa algum dano, assim tornando a adequação do sistema mais complexa e com custo maior do que se tivesse sido estudado e planejado alguma técnica de redução de EMI no início do projeto. Com o estudo e pesquisa realizados para esta etapa do trabalho fica evidenciada a necessidade cada vez maior e urgente de sistemas compatíveis eletromagneticamente. São várias as áreas já afetadas por esses efeitos, por exemplo, ambientes domésticos, hospitalares e industriais. Infelizmente, no Brasil a EMC (Electromagnetic Compatibility), é pouco conhecida e sem nenhuma norma compulsória, em algumas empresas (multinacionais europeias instaladas no Brasil) esse tema já começou a ser tratado de forma mais séria devido às experiências negativas que tiveram num passado não muito longe. As normas brasileiras atuais apenas especificam os tipos e limites de perturbações eletromagnéticas, mas não descrevem os procedimentos de testes, para o seguimento do trabalho normas internacionais deverão ser pesquisadas e estudadas para que ensaios e testes possam ser feitos e a compatibilidade eletromagnética demonstrada. 102 A motivação para estudo e pesquisa nessa área de EMI/EMC ocorre-se devido ao que aqui já foi citado, ou seja, falta de conhecimento e aplicação desse tema no Brasil, a complexidade de entendimento de EMI e principalmente, a demanda por conhecimento nessa área, entendam por demanda a falta de artigos, livros, estudos, pesquisas e mão de obra técnica, pois cada vez mais com a introdução desenfreada de sistemas eletroeletrônicos haverá problemas com interferência eletromagnética. A operação correta de sistemas eletrônicos, e em particular no Brasil onde ainda não existe uma normalização abrangente em EMC, é bastante vulnerável a problemas de interferência eletromagnética pela própria topologia do sistema instalado, seus cabos de interconexão, configuração do sistema de aterramento, etc., podendo ser facilmente comprometida pela instalação de novos equipamentos nas imediações, pelo aparecimento de conexões acidentais, pela deterioração das instalações existentes, entre outros fatores. Para se garantir o desempenho adequado e um menor custo associado à operação de sistemas eletrônicos ao longo do tempo, nomeadamente àqueles de maior complexidade, como os de instrumentação, torna-se cada vez mais imprescindível a implantação de um tratamento sistemático da área da compatibilidade eletromagnética nos procedimentos de manutenção. Este estudo propõe um conjunto de procedimentos para a garantia da compatibilidade eletromagnética, procedimentos estes que tem se mostrado necessários e suficientes, e sugere a criação de um grupo de trabalho, denominado “Setor EMC”, com o objetivo de implantar a metodologia EMC. 103 REFERÊNCIAS AGHDASSI, N. An assessment of the use of PEDs on board of aircraft and their implications on flight safety. (MSc Thesis)-Cranfield University College of Aeronautics , Cranfield, 1999. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Limites e métodos de medição de radioperturbação em equipamento para a tecnologia da informação (ETI). NBR 12304, Rio de Janeiro, 1990. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Vocabulário eletrotécnico internacional – Capítulo 161: Compatibilidade Eletromagnética. Projeto 03:077.01-001, Rio de Janeiro, 1997. BENFICA, Juliano D’ornelas. Plataforma para desenvolvimento de SoC (Systemon-Chip) Robusto à interferência eletromagnética. 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