OS LIMITES E AS PERSPECTIVAS DA VITÓRIA DA FMLN EM EL SALVADOR Rodrigo Lima O povo salvadorenho construiu uma significativa vitória no último dia 15 de março. A eleição do candidato Mauricio Funes, pela Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN), com mais de 51% dos votos, representa uma ruptura com mais de vinte anos de governos conservadores dirigidos pela Aliança Republicana Nacionalista (ARENA) partido que representa os interesses da burguesia salvadorenha e dos Estados Unidos na República de El Salvador. A vitória de Funes é sem dúvida um avanço no cenário político salvadorenho, e centro-americano. Com mais de 7 milhões de habitantes El Salvador é o país com menor extensão territorial da América Central, mas o mais dinâmico economicamente. Isso se deve ao numero significativo de fábricas maquiladoras, também chamadas de processadoras para exportação (que consistem em fábricas transnacionais, instaladas em El Salvador, que importam componentes industriais dos EUA, produzem com custos mais baixos, devido à superexploração da mão de obra e exportam sua produção de mercadorias para os mesmos Estados Unidos), além deste elemento movimenta a economia o significativo número de remessas de dólares para o país que representa 16% do PIB, enviados por salvadorenhos que residem nos Estados Unidos que significam 25% da população salvadorenha. O quadro de El Salvador, com o qual se depara o futuro presidente é o de uma economia dolarizada, dependente ao extremo dos Estados Unidos ao qual está submetida pelo nefasto Tratado de Livre Comércio (TLC), além de contar com uma agricultura arrasada pela importação de insumos e grãos de produtores estadunidenses. No cenário social o quadro também é desolador, a renda média do trabalhador salvadorenho não alcança o valor de uma cesta básica, os índices de pobreza atingem a 37% da população, os analfabetos chegam a 20% dos salvadorenhos, além de El Salvador contar com os mais altos níveis de morte violenta em toda América Latina, o que afeta sobremaneira os jovens. A campanha de Maurício Funes, vitoriosa em um contexto tão adverso para o povo salvadorenho, e que vem se agravando pela crise econômica mundial, adotou uma linha de conciliação de classe e pragmatismo político. Funes se posicionou entre outras coisas a favor da manutenção do TLC e da Cafta (acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a América Central), o candidato apresentou como uma de suas preocupações o bom funcionamento do mercado, o respeito a livre concorrência e a propriedade privada e afirmou que não pretende a intervenção do Estado na economia. Neste sentido, o futuro presidente salvadorenho, refutou qualquer possibilidade de construção do socialismo em seu país, segundo suas palavras: “meu objetivo não é construir o socialismo, mas fazer a sociedade salvadorenha funcionar de modo a garantir o gozo das plenas liberdades e de melhor qualidade de vida.” Dentro deste cenário complexo que está expresso na vitória da FMLN em El Salvador, podemos afirmar que os desafios que se colocam para os trabalhadores e trabalhadoras e o povo salvadorenho são imensos, pois o candidato Mauricio Funes que representa os setores da social-democracia dentro da Frente só conseguirá manter esse discurso de bom gestor do capital, que serviu como base de sua campanha, enquanto os setores populares e a classe trabalhadora mantiverem-se no contexto de imobilidade no qual se encontram, que se evidencia pela baixa mobilização dos movimentos sociais progressistas no país. Os avanços possíveis para a construção de uma sociedade mais justa em El Salvador estão na retomada de um programa socialista pela FMLN e na retomada da organização e da mobilização pelos trabalhadores e pelo povo salvadorenho, dois aspectos que devem se fortalecer reciprocamente. Atualizando as palavras do líder comunista histórico Schafik Handal falecido em 2005, sobre o momento que vive El Salvador: “Queremos que a mudança de governo, a alternância democrática, decorra tranqüila e harmoniosamente, mas ao mesmo tempo queremos deixar claro que nada nem ninguém, seja quem for, distorcera, comprara, domesticara ou corrompera a nossa vontade de cumprir perante o povo salvadorenho o nosso histórico compromisso de encabeçar a sua luta para mudar esta injusta realidade e construir um porvir assente no postulado constitucional que diz: "El Salvador reconhece a pessoa humana como a origem e o fim da atividade do Estado", cuja obrigação é "assegurar aos habitantes da República o gozo da liberdade, a saúde, a cultura, o bem-estar econômico e a justiça social”. E essas transformações tão almejadas pelo povo salvadorenho só poderão desenvolver-se plenamente dentro de uma perspectiva socialista de construção de uma nova sociedade salvadorenha.