ESCOLA BÍBLICA (Escola da Fé) EVANGELHO SEGUNDO MATEUS EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A JUSTIÇA TRAZ VIDA PARA TODOS (Mateus 15,29-39) Depois da briga com as autoridades religiosas do seu povo, Jesus se retirou para terras pagãs (15,21). A boa notícia não deve ficar confinada ao povo de Deus, nem fechada em nossa comunidade. Tudo o que é bom não pode ser retido, mas deve ser distribuído entre todos. Se alguns não aceitam, paciência. Vamos aos outros. Jesus repete agora o milagre dos pães (reveja Mt 14,1321, é o comentário que fizemos atrás, no capítulo 22). O milagre não estava na multiplicação dos pães, como EVANGELHO SEGUNDO MATEUS costumamos ver, mas na partilha entre todos daquilo que cada um de nós possui. O que está sobrando para nós falta para muitos. O milagre se repete em terras pagãs. Por quê? Porque todos, independentemente de nação, raça e religião, são filhos de Deus, e o Pai quer que todos os seus filhos tenham liberdade e vida. A comunidade que acompanha Jesus precisa abrir-se e pôr-se em ação, pois é através dela que esse projeto do Pai se torna realidade em nossa história. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O povo está muito doente De Tiro e Sidônia Jesus se desloca para a margem do mar da Galileia, mas ainda continua em terras pagãs (15,29-31). Senta-se num lugar elevado e as multidões se aproximam dele. E como se Jesus fosse um farol. Já vimos essa cena neste evangelho (veja Mt 5,1-2). Só que agora Jesus não começa por ensinar, mas pela atividade muito concreta de curar. Sim, quem está doente quer cura e não palavras de consolo, que nem sempre libertam. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O povo está doente, e isso é consequência da injustiça que não permite que o povo caminhe livremente (coxos e aleijados), enxergue a realidade (cegos), diga a sua palavra para mudar as situações (mudos) e muitas outras coisas. O que fazer? As multidões põem os seus doentes aos pés de Jesus, e ele cura a todos. Não que ele estivesse usando um poder mágico especial. Não. O poder de Jesus está em compreender o que o Pai quer, e colocar isso em prática. Qualquer um de nós poderá fazer os mesmos milagres, se compreender que Deus quer justiça, e se for capaz de se colocar a serviço dela. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS As multidões ficam admiradas, vendo que o povo que não conseguia andar direito, nem enxergar ou falar, agora está liberto. "E glorificavam o Deus de Israel". Não há ninguém que não se maravilhe com isso. O importante é que todos cheguem ao centro da questão: quem liberta da escravidão para a vida é o Deus verdadeiro. As multidões louvam e agradecem a Deus, e não a Jesus. Um ponto muito importante para a comunidade dos seguidores de Jesus: o importante é reconhecer que o autor da libertação é Deus (reveja 5,16). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O povo tem fome Na outra partilha dos pães os discípulos tomaram a iniciativa, chamando a atenção de Jesus (14,15). Agora é Jesus quem se adianta, chamando a atenção dos discípulos. A multidão já o acompanha há três dias, e não tem nada para comer (15,32-39). Aqui há muita coisa. O profeta Oséias já dizia que no terceiro dia Deus iria levantar o seu povo (confira Oséias 6,2). Os primeiros cristãos já reliam essa passagem do profeta aplicando-a a ressurreição de Jesus, três dias depois da sua morte. Agora isso é aplicado ao povo pagão. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Também ele está morto e vai ressuscitar. Um povo morto de fome não pode caminhar; corre o risco de desmaiar pelo caminho da vida. E então descobrimos um ponto importante. As maiores necessidades são estar com saúde (curas), e comer, para manter a saúde. O principal não é em primeiro lugar ensinar e doutrinar, mas atender as necessidades básicas do povo. Depois ele descobrirá como isso foi feito, e glorificara a Deus. Antes a ação, depois o ensinamento. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os sete pães aludem aos setenta povos que, segundo os antigos, eram todos os povos do mundo. Em outras palavras, Deus quer saciar a fome de todos. E note-se: quem tem os pães são os discípulos, os seguidores de Jesus. E com esse pão que todos vão ficar saciados. O pão da comunidade cristã é o ensinamento de que através da partilha todos poderão ficar saciados. Todos os pobres ficarão saciados Sentar-se era a posição em que os ricos comiam. Naquele tempo, os pobres comiam de pé. O chão ou EVANGELHO SEGUNDO MATEUS terra relembra a segunda bem-aventurança: os pobres vão possuir a terra (5,5). A promessa de Deus é que os pobres são libertos e terão direito ao seu chão próprio. Pertencer ao povo de Deus já não é mais questão de raça ou religião, mas de fidelidade ao projeto de Deus, para todos aqueles que estão dispostos a partilhar com todos aquilo que tem e são. Através de nós Ponto importantíssimo é que Jesus sacia a fome do povo através dos discípulos, ou seja, através da EVANGELHO SEGUNDO MATEUS comunidade daqueles que o seguem. O milagre é feito através deles, e de nós. Impossível? Sem dúvida, se continuarmos pensando que quem pode pode, e quem não pode que se vire. Como dissemos antes, o milagre está na partilha, e não na multiplicação. Se repartirmos e ensinarmos a repartir, todos terão a fome saciada. Mas, se retivermos para nós tudo aquilo que nos sobra, muitos ficarão na necessidade, na penúria, na fome e miséria. O milagre já foi feito pelo Pai desde a eternidade. Ele criou o mundo para satisfazer todas as nossas necessidades. Jesus nos ensinou como agir com EVANGELHO SEGUNDO MATEUS justiça para que todos tenham vida. Agora só resta a nós aprender com ele a criar uma relação justa, onde os dons do Pai sejam repartidos entre todos. O problema fica para nós. Deus já deu tudo. Cabe a nós, segundo o nosso amor ou egoísmo, repartirmos ou retermos os dons de Deus. E não há limites para a partilha: o amor não conhece número nem qualificações. Ou ele é para todos, ou não é amor. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Por que a segunda partilha dos pães foi feita em terras pagas? 2. Por que o milagre dos pães não foi a multiplicação, mas a partilha? 3. Antes de ensinar é preciso agir. Por quê? 4. A comunidade cristã deve esquecer os limites de nação, raça e religião. Por quê? 5. Jesus realizou o milagre através dos discípulos. O que significa isso para a nossa comunidade? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O MAIOR SINAL É A JUSTIÇA (Mateus 16,1-12) Os adversários de Jesus aparecem a cada momento, como se estivessem à espreita, vigiando para pegá-lo em qualquer flagrante. E agora chega o momento da segunda tentação (reveja 4,5-7): Quem é Jesus? Sob autoridade de quem ele está agindo assim? Será que ele veio de Deus, ou está agindo por conta própria? A confusão pode ser grande, principalmente quando não se está sintonizado com o projeto de Deus. E aí vem a busca das provas. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Queremos um sinal prodigioso Gostamos das transformações quando elas não mexem em nosso bolso e em nossas ideias. Assim eram os fariseus e os saduceus. Os primeiros se julgavam perfeitos observadores da vontade de Deus, embora curiosamente não a colocassem em prática. Gostavam de pregar para os outros, mas pessoalmente viviam a sua própria vida. Já os saduceus, grandes proprietários de terra, dominavam não só a organização da sociedade, mas também a economia, a política e a jurisprudência, pois eram a maioria no tribunal. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Donos do poder, estavam muito incomodados com Jesus, pois este, com sua ação e ensinamento, estava pondo abaixo a "religião" e a "ordem social". E fazem o desafio: querem um sinal maravilhoso que demonstre que Jesus vem de Deus e está realizando a vontade dele. Não que estivessem interessados na transformação das situações. Queriam apenas continuar garantindo a sua influência sobre a religião e a sociedade. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Jesus não dá o sinal pedido. É a segunda tentação (4,57). O diabo agora são os chefes religiosos, que pedem um sinal maravilhoso, com o qual Jesus comprove que ele é o enviado de Deus que todos esperavam (16,1-4). Jesus apenas devolve o desafio: "Vocês sabem quando vai fazer tempo bom ou quando vai chover. Não sabem distinguir que o Reino de Deus chega quando se faz justiça?“ E Jesus é duro: "uma geração má e adúltera" significa que os próprios chefes religiosos apostataram a tal ponto que já não acreditam mais que a justiça é que traz EVANGELHO SEGUNDO MATEUS o tão esperado Reino de Deus. Agora só pensam em seus interesses, aproveitando a situação. O "sinal de Jonas" se refere ao profeta que pregou a conversão a uma nação pagã, e ela se converteu. Também foi o profeta que ficou três dias no ventre da baleia, e de lá saiu, são e salvo (leia o livro de Jonas). Tudo isso vai acontecer com Jesus. Por lutar pela justiça, ele também vai ficar três dias em poder da morte, mas depois ressuscitará e todos irão acolher a boa nova que ele anunciou: o sinal do Reino de Deus é a justiça que cria a liberdade e a vida para todos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS E nós também não podemos nos orgulhar. Podemos estar sempre a busca de sinais maravilhosos que provem que Deus está entre nós. Ora, o sinal prodigioso é o da justiça, que cura as doenças e a fome do povo. Onde houver essa justiça Deus aí está presente. Buscar outros sinais é tentar a Deus e viver na ilusão, perigosamente, pois a injustiça cria fantasias que só levam a escravidão e a morte. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Cuidado com esse fermento! Mais uma vez aparece a palavra "pão" neste evangelho, recordando os dois episódios da partilha dos pães (16,513). Agora os discípulos com Jesus estão de viagem, e se esqueceram de levar pão. Ficam preocupados, sinal de que não haviam entendido nada do que acontecera antes. Ensinando a repartir o que cada um possuía, Jesus tinha mostrado que no Reino de Deus, o reino da justiça, todo mundo pode confiar na partilha: "Hoje eu reparto com você, amanhã você reparte comigo". Isso gera o compromisso e a responsabilidade que produzem a confiança no viver juntos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Jesus faz um desafio aos discípulos: "Cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus!" O que é esse fermento? Sabemos que o fermento influencia a massa, produzindo o pão. Jesus está advertindo sobre a influência da doutrina dos fariseus e saduceus, que manipulam o povo, fazendo-o acreditar em coisas que não prejudiquem o seu poder, isto é, o seu bolso e as suas ideias. Fariseus e saduceus também esperavam o Messias, mas ele seria um chefe que iria dominar pelo poder e pela violência, exatamente o que eles faziam. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS As palavras de Jesus trazem o discernimento da verdadeira religião, aquela que leva ao Reino de Deus. A religião verdadeira não explora o bolso do povo e nem oprime a sua liberdade e consciência. Pelo contrário. Se é verdadeira, a religião dá mais ainda e promove mais ainda a liberdade que já se tem. Explorar a miséria do povo sob pretexto da religião é o maior dos crimes, pois vai contra o segundo mandamento: "Não usar o nome de Deus em vão". Usar o nome do Deus libertador para oprimir, ou o nome do Deus da vida para fabricar a morte é ousadia demais, que não ficará sem castigo (veja Êxodo 20,7). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O aviso de Jesus é importante: religião que não liberta e não traz vida não serve para nada. Perda de tempo ficar procurando solução onde só se criam mais problemas. E entre esses discípulos preocupados podemos estar também nós, tributários do fermento dos fariseus e saduceus, todos aqueles que defendem seus interesses e não estão minimamente interessados em nossa liberdade e vida. Até quando vamos suportar o peso dessa escravidão e morte? Até quando o povo irá gemer sob o peso da exploração e opressão, sem dizer a sua palavra, sem gritar o seu não? O Messias anunciado EVANGELHO SEGUNDO MATEUS pelo Antigo Testamento iria trazer a paz para o povo, através do exercício da justiça (veja Isaías 11,1-9). Jesus é esse Messias esperado. Quando é que vamos acreditar nele, desacreditando todos os outros que constroem o seu poder e riqueza à custa da exploração e opressão do povo? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Qual é o sinal de que Jesus é o Messias e o Reino de Deus chegou? 2. O que está por trás do pedido de sinais? Costumamos pedi-los? Que sinal gostaríamos de ver? 3. Por que o fermento dos fariseus e saduceus é perigoso? 4. Por que uma religião que não liberta e não traz mais vida não serve para nada? 5. A religião que estamos vivendo liberta e traz mais vida para todos? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS QUEM É JESUS? (Mateus 16,13-28) Vivemos esperando por alguém que nos salve e liberte, tanto pessoal como coletivamente, encaminhando-nos para mais vida. Pode ser um político, um chefe religioso ou um reformador social. Mas parece que até hoje ele ainda não chegou. Quando chegará, e como vamos reconhecê-lo? O povo judeu também o esperava nervosamente, inclusive imaginando que ele seria um grande chefe EVANGELHO SEGUNDO MATEUS que, através da força e violência, libertaria o povo dominado e governaria com cetro de ferro, tomando Israel a maior das nações. Chegou Jesus, e sua palavra e ação tem muitas consequências econômicas, políticas e sociais, mas nada da aparência de um grande chefe. Seria ele o esperado? Seria ele o Messias prometido? Afinal, quem é Jesus? "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo" Jesus vai com os discípulos para Cesareia de Filipe, uma região pagã, longe da espera nacionalista e triunfalista do seu povo (16,13-16). E aí pergunta EVANGELHO SEGUNDO MATEUS livremente aos que o seguem: "O que é que o povo pensa de mim?" Os discípulos contam-lhe os comentários que correm. João Batista, Elias, Jeremias ou qualquer outro profeta eram grandes figuras, também enviadas por Deus, mas todas pertenciam ao Antigo Testamento ou Antiga Aliança, o tempo da espera. "E vocês, o que pensam que eu sou?" - pergunta Jesus. Ora, os discípulos e todos nós vimos até agora tudo o que Jesus disse e fez. Quem será ele? Em nome de todos, Pedro se adianta e faz a grande confissão de fé: EVANGELHO SEGUNDO MATEUS "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". No evangelho de Mateus isso equivale ao nome de Jesus: Emanuel = Deus conosco. Em outras palavras, Jesus é a presença e ação de Deus entre nós. Elas se manifestam como busca e realização da justiça. Por isso Jesus é o Messias esperado (veja Isaias 11,1-9) e o Filho do próprio Deus que quer liberdade e vida para todos. Você é Pedro, e sobre essa pedra... Em troca da sua confissão, Pedro ganha o maior elogio (16,17-20), e também a maior responsabilidade: do seu reconhecimento vai nascer a Igreja, a comunidade de EVANGELHO SEGUNDO MATEUS todos aqueles que reconhecem em Jesus, na sua palavra e ação, o germe de uma nova humanidade, liberta para mais vida. Graças a sua confissão de fé, Pedro será o chefe dessa comunidade, e terá mais poder sobre ela. Não o poder de dominar, como os outros chefes, mas o poder de discernir quem de fato pertence à comunidade comprometida com a justiça e quem dela se afasta, traindo a causa da justiça, que é a causa de Deus. A tarefa não é fácil. Ela significa que o chefe da comunidade carrega a grande responsabilidade de vigiar pelo cumprimento da justiça que Deus quer: não tem direito de participar da comunidade EVANGELHO SEGUNDO MATEUS quem não estiver comprometido, em pensamento, palavra e ação, com a causa da justiça. Ligar ou desligar significam, neste contexto, preservar a causa da justiça. Quem é injusto ou não luta pela justiça não tem nada a ver com a comunidade de Jesus, porque a luta pela justiça é a alma dessa comunidade. De chefe a Satanás? Diante da confissão de Pedro, que é o reconhecimento de todos nós, Jesus dá mais um passo. Revela aos discípulos o que vai acontecer pela frente. Chegando a Jerusalém, capital dos judeus, onde estão EVANGELHO SEGUNDO MATEUS concentrados o poder econômico, político, social e religioso, ele vai ser preso, torturado e morto, mas depois de três dias ressuscitará (16,21). Pedro não se conforma. Puxa Jesus para o lado e o repreende (16,22-23). Onde já se viu? Depois de tudo, acabar morto? No fundo, Pedro estava com a mesma ilusão que todos nos imaginamos. Pensamos que a luta pela justiça vai ser coroada pelo triunfo... Não, a luta pela justiça acaba no sacrifício da própria vida, e através disso é que vem a vitória, não pessoal, mas da justiça e do projeto de Deus. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Jesus é duro com Pedro, e com todos nós, que pensamos servir a Deus e, ao mesmo tempo, satisfazer os nossos caprichos: "Fique longe de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!" Ora, se isso foi dito ao chefe da Igreja, que havia confessado há pouco a maior verdade, o que não será dito de nós, que traímos a causa da justiça a cada momento que nos oferecem uma pequena regalia? É tão fácil esquecer a causa pela qual lutamos em troca de qualquer satisfação para os nossos caprichos... É duro? Claro que é. Não podemos ficar com os pés em EVANGELHO SEGUNDO MATEUS duas canoas, lutando pela justiça e usufruindo da injustiça... Não tenham ilusões! A resistência de Pedro dá ocasião para Jesus esclarecer de uma vez por todas qual será o caminho do discípulo (16,24-28). A luta pela justiça leva ao sacrifício, pois ela acaba revelando que a desigualdade e a miséria existem por causa da má distribuição dos bens e da participação política e social. Os privilegiados não vão aceitar isso. Sempre é mais fácil acabar com os que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS atrapalham do que ver o fim das próprias mordomias. Aliás, deve-se perder até a própria honra, pois o suplício da cruz era reservado para os "criminosos" políticos, que não buscavam mais do que a justiça... Espantoso? É. E as coisas ficam por aqui? Não. A última palavra é de Deus. Ele é o autor da liberdade e da vida, e da justiça que produz ambas. O Deus da liberdade e da vida não se cala diante do que acontece, e pronuncia o seu veredicto final. Cada um recebe segundo o que produz, e acaba sofrendo as consequências de seu próprio EVANGELHO SEGUNDO MATEUS comportamento. Mas os que seguirem Jesus até o fim experimentarão a vitória através da derrota, não como conquista sua, mas como dom de Deus. Através de todas as nossas derrotas pouco a pouco vai-se construindo a vitória de Deus. Contra o nosso orgulho e contra todos os ídolos que esse orgulho criou. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Quem é Jesus? O que nossa comunidade pensa? Um Deus-Homem, um Homem-Deus, ou um Deus-eHomem? 2. O Filho de Deus apareceu entre os homens sem glória nenhuma. O que achamos disso? 3. Qual é o maior sinal de que Jesus era o Messias pelo qual todos nos esperamos? 4. De santo se pode passar a Satanás. Por quê? 5. A luta pela justiça não leva a glória nenhuma. Leva a morte. Por quê? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A VITÓRIA DA JUSTIÇA (Mateus 17,1-13) O ponto mais difícil de compreender e aceitar na boa notícia do Evangelho é o de que o triunfo acontece através do aparente fracasso, de que a justiça e vitoriosa através da aparente vitória da injustiça, de que a vida triunfa através do aparente triunfo da morte. Nós gostamos de coisas claras e lógicas, e ficamos atrapalhados com tudo isso. E que a lógica de Deus é diferente da nossa. Ele vê tudo e nós apenas uma parte. Resta-nos, portanto, crer, admitindo que a nossa visão é curta. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Jesus é o Messias esperado, mas um Messias que vai realizar a vontade do Pai através do aparente fracasso e derrota, julgado, condenado e morto como criminoso, subversivo da "ordem social" (reveja 16,21). Somos então seguidores de um bandido? Assim pensam aqueles que vivem da injustiça. O presente texto mostra que, do lado de Deus, as coisas são muito diferentes. Em Jesus a criação de Deus chegou a sua realização final. Ele é o modelo da humanidade realizada. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O reverso da tentação Jesus recusará a proposta do diabo na última tentação dominar o mundo através do poder e da riqueza (reveja Mt 4,8-10). Agora ele está novamente num alto monte, acompanhado dos discípulos mais próximos, exatamente seis dias depois - o que nos lembra o sexto dia da criação, quando Deus criou a humanidade (17,1). E a revelação do destino final de todos nós, se nos comprometermos com o projeto de Deus, profundamente desejado no Antigo Testamento, e finalmente revelado e realizado em Jesus é através dele. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O segredo e a justiça, a vontade de Deus que cria liberdade e vida para todos. O que acontecerá se nos comprometermos com ela? O mesmo que acontece com Jesus nesta cena. O homem glorioso Jesus acabara de anunciar a sua morte, e Pedro, o chefe da comunidade, resistirá. Como lutar tanto, e acabar derrotado? Era necessário mostrar o resultado final da luta. A luta de Jesus e dos seus seguidores não vai acabar na derrota da morte, mas na glória da ressurreição (17,2), porque a verdade, uma vez entrevista, jamais se EVANGELHO SEGUNDO MATEUS apagará. É bom nos lembrarmos de que já faz vinte séculos que Jesus foi morto, mas até hoje a lembrança da sua palavra e ação continua a mover o mundo. E como ele tantos outros, discípulos seus, declarados ou anônimos. Coisa que o salmo 112 já dizia: "a memória do justo é para sempre!" (Salmo 112,6). Em Jesus está a Bíblia inteira Moisés e Elias são um modo de falar de todo o Antigo Testamento (17,3-5). Moisés personifica a Lei e Elias o profetismo. Lei e Profetas era o modo como os judeus chamavam a Bíblia. E o conteúdo da Bíblia toda é o EVANGELHO SEGUNDO MATEUS anúncio e a busca da justiça, vontade de Deus e desejo da humanidade. Moisés e Elias conversam com Jesus. Sinal de que, se quisermos agora entender a Bíblia, temos que conversar com Jesus. Ele é quem pode explicar, através da sua palavra e ação, o que Deus quer e o que nós mesmos desejamos. Isso fica ainda mais claro com a voz do Pai que declara: "Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que diz". Daqui para frente é Jesus quem vai ensinar tudo o que Deus quer, em resposta ao nosso mais profundo desejo. Os discípulos que aí estavam ficaram com medo. Quem é que não teme EVANGELHO SEGUNDO MATEUS diante da vontade de Deus e do seu próprio desejo profundo, embora fosse justamente por isso que andava a procura? Ficar por aqui mesmo? Pedro é uma pessoa extraordinária, porque expressa a nossa espontaneidade e, talvez, a nossa ingenuidade. Ele quer reter aquele Jesus glorioso, junto com Moisés e Elias (17,4). As tendas são uma referência a Festa das Tendas, de caráter nacionalista e triunfalista. Seria tão bom ficar com esse Jesus glorioso. Esse é o nosso sonho de criança: a glória fácil. Não. A glória virá depois da EVANGELHO SEGUNDO MATEUS luta, o triunfo virá através da derrota, e a vida surgirá das cinzas da morte. A lógica de Deus é diferente da dos homens... Somente Jesus A visão maravilhosa se desfaz, e resta apenas Jesus com os discípulos (17,7-9). Fora apenas a antevisão do futuro. Agora é preciso lutar até o fim. A visão do triunfo não é para afastar da luta, mas para dar ânimo, a fim de que não desistamos da luta no meio do caminho. E aqui que está o grande segredo dos cristãos: eles não devem EVANGELHO SEGUNDO MATEUS contar a ninguém que viram o Jesus glorioso, antes que ele realmente esteja na glória, depois de toda a luta. Antes as pessoas não acreditariam. Quem acredita que a vitória de Deus vem através do nosso fracasso? A lógica de Deus é diferente da nossa... Primeiro o fracasso, depois a vitória Os judeus esperavam a volta de Elias, o pai dos profetas, que iria arranjar tudo para o Reino de Deus. Os discípulos consultavam Jesus sobre isso (17,1O-13). Era uma forma de saber algo de Jesus. Seria ele mesmo quem iria trazer o Reino de Deus? Jesus confirma: Elias EVANGELHO SEGUNDO MATEUS já tinha vindo, na pessoa de João Batista, que pedia conversão de vida e transformação das situações. Mas, o que a sociedade fez? Matou-o. Em geral, preferimos acabar com as pessoas em vez de mudar o nosso modo de viver. E é o que aconteceu com Jesus. Ele provocava mudanças tão profundas que preferiram acabar com ele, para não ter que deixar os próprios caprichos. Será que hoje as coisas mudaram? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. O que acontece se renunciamos a tentação do poder e da riqueza? 2. Por que Jesus é a revelação do que seremos? 3. Toda a Bíblia está resumida em Jesus. Comente isso. 4. Às vezes temos a tentação de parar a luta pela justiça e nos acomodarmos no meio do caminho. Já aconteceu isso na comunidade? Por quê? 5. A vitória vem através da derrota. A comunidade já experimentou isso? Relembrem essas derrotas e vejam agora qual foi à vitória. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A FÉ SUSTENTA A LUTA (Mateus 17,14-27) A cena da transfiguração revela o destino final de Jesus, e também o destino de todos aqueles que se comprometem com a justiça que leva a realização do projeto de Deus. Daí nasce à humanidade nova, o homem glorioso que realmente é "imagem e semelhança" de Deus (cf. Genesis 1,26-27). Como consequência, a renovação de todas as relações econômicas, políticas e sociais que constroem o destino da sociedade e da história, voltadas agora para a liberdade e a vida de todos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O panorama descortinado pela fé é grandioso e belo. Mas, na prática, as coisas não parecem tão fáceis. Primeiro é preciso desalienar o povo. Por que é que os discípulos não conseguiram realizar isso? Depois é preciso não esquecer que a vitória sai do ventre da derrota, que o que se vê em primeiro lugar é o triunfo da injustiça, e não da justiça. Como entender e aceitar? E, finalmente, enquanto as coisas não mudam, é preciso não provocar escândalo gratuito, que só atrapalharia a luta pela justiça. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Como realizar tudo isso? O ponto fundamental é a fé que, ao mesmo tempo, é um passo no escuro, esperar contra toda dificuldade e entregar-se ao compromisso com Deus e com Jesus, tentando, a cada momento, descobrir o que o projeto de justiça exige. Como vencer esse demônio? O menino epilético é figura do povo (17,14-21). Epilepsia é doença com ataques de vez em quando, durante os quais a pessoa fica temporariamente alienada, fora de si. Nesses momentos surgem reações extremamente violentas, como jogar-se no fogo ou na água. E o povo EVANGELHO SEGUNDO MATEUS tentando se libertar. O pai suplica a Jesus, e o seu gesto (ajoelhar-se) demonstra que ele tem fé. Mas aquele homem recorre agora a Jesus, depois de ter procurado antes os discípulos. Estes não conseguiram expulsar o demônio. Como assim, já que haviam recebido o poder para isso? (reveja 10,1). A censura de Jesus não se dirige ao povo, mas aos discípulos. Estes ainda não acreditam, isto é, ainda não descobriram que ter fé e entregar-se ao próprio Deus, para que ele aja através de nós, com a sua visão e ação. Pensar que a libertação depende da nossa capacidade ou EVANGELHO SEGUNDO MATEUS esforço é, no mínimo, ingenuidade e, no máximo, uma grande pretensão. O Reino da justiça é dom de Deus que se realiza através da nossa disponibilidade para com os interesses dele, e não os nossos. Por que é que os discípulos não conseguiram? A resposta de Jesus deixa bem claro que é a fé que transforma as situações. Ela é capaz de vencer todas as barreiras, inclusive transportar uma montanha. Certamente uma referência a montanha de Jerusalém, onde se reúnem os poderes econômico, político e ideológico que oprimem e exploram o povo, reduzindo-o a alienação. Mas, EVANGELHO SEGUNDO MATEUS finalmente, para realizar a ação libertadora é preciso oração e jejum, exatamente aquilo que Jesus fez antes de começar a sua atividade (reveja 4,1-11). Não adianta querer andar com os pés em duas canoas. É preciso decidir entre o projeto de Deus e o projeto do diabo. A oração nos mantém conscientes do projeto de Deus. O jejum leva-nos a romper com o mundo da injustiça, a fim de construir o mundo da justiça. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Mais um lembrete difícil Jesus torna a falar, agora de modo simples e rápido, do destino que o espera. Ele, o verdadeiro homem revelado na transfiguração, vai ser entregue nas mãos dos homens. Será morto por eles, mas no terceiro dia ressuscitará (17,22-23). Se compararmos com o primeiro anúncio de sua morte (16,21-23), perceberemos que já não se fala mais dos chefes do povo, mas simplesmente de "homens". Quem são eles? Não seria o próprio povo, que está sedento de libertação, mas na hora "h" rejeita a justiça como caminho para satisfazer a sua própria fome e sede? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Não se trata apenas do povo daquele tempo. E também o povo de hoje, e no meio dele nós, que em geral desejamos transformações, mas contanto que ninguém mexa com a nossa vida. Os discípulos ficaram tristes com o que Jesus dizia. E tristes ficamos nós, quando não compreendemos que a luta pela justiça não leva em primeiro lugar a glória, mas a desonra, perseguição, todo tipo de condenação e até a morte. Cuidado com o diabo das tentações! O sucesso e o triunfo podem indicar que não estamos realizando o caminho da justiça. A justiça sempre irá se chocar contra EVANGELHO SEGUNDO MATEUS a injustiça. A luta e tão grande que a vitória só pode vir de Deus. O horizonte da liberdade e da vida A questão do imposto é uma espécie de desafio (17,2427). Os fiscais perguntam se o Mestre Jesus não paga o imposto ao Templo. Ora, naquele tempo o Templo havia se tornado a sede de todos os poderes, mas era principalmente o lugar do tesouro nacional, uma espécie de "banco central". Por outro lado, os sacerdotes e muitos rabinos ou mestres estavam isentos de pagar esse EVANGELHO SEGUNDO MATEUS imposto. Os fiscais querem saber se Jesus, que é chamado Mestre, está gozando a mesma "mordomia". O fato de Jesus pagar mostra que ele já rompeu com essa sociedade injusta, onde os grandes tem privilégios à custa dos pobres. A conversa entre Jesus e Pedro é provocadora. Agora Jesus já fala do imposto cobrado pelos reis, isto é, o imposto e as taxas cobradas pelos estrangeiros. Ele denuncia, assim, a exploração internacional que empobrece os povos dominados e os faz viver na miséria. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Abre-se, portanto, o horizonte novo que um dia sê realizará: o autodesenvolvimento de cada povo que, liberto da exploração e opressão, poderá encontrar o seu lugar no mundo e o seu caminho na história. Mas voltemos ao imposto interno. Jesus paga para não provocar escândalo. Ainda não chegou o momento da tão esperada liberdade. Mas o curioso e que o dinheiro do imposto não sai da caixa comum do grupo, e sim, miraculosamente, da boca de um peixe. Por quê? Porque Deus atende, desde já, todas as necessidades dos seus filhos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Por que muitas vezes falhamos ao tentar curar a alienação das pessoas? Quais são essas alienações? 2. Ter fé é o ponto fundamental para a comunidade. Mas, como é que a comunidade compreende a fé? 3. Por que a luta pela justiça primeiro parece fracassar? Deverá ser sempre assim? 4. O povo paga impostos. E o que recebe em troca? No lugar em que moramos, do que é que o povo tem mais necessidade? 5. Deus atende as necessidades dos seus filhos. Como isso acontece? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A COMUNIDADE E A JUSTIÇA (I) (Mateus 18,1-20) O seguimento de Jesus acaba reunindo num mesmo caminho todos aqueles que se comprometem com a justiça. Forma-se então a comunidade cristã, continuação e presença da pessoa e da ação de Jesus. Por isso ela é muito importante, e grande é a sua responsabilidade. Como deverá se comportar, e com que mística deverá viver? Todo o capítulo 18 é uma resposta. Aqui Mateus traça as linhas fundamentais que deverão nortear a vida inteira da comunidade. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Quais são os maiores problemas daqueles que escolheram seguir a Jesus, e juntos formar a comunidade-germe de uma sociedade que pratica a justiça? ACOLHER SEM LIMITES Quem é o maior na comunidade? Primeiro temos a competição: quem é o maior? (18,1-5). Aqui, o Reino do céu é a comunidade que pratica a justiça. Será que, no fim, depois de lutar ativamente pela justiça, ela vai acabar copiando o comportamento de EVANGELHO SEGUNDO MATEUS uma sociedade onde todos competem pela abundância e prestígio, poder e riqueza, justamente as tentações da injustiça que Jesus venceu? (reveja 4,1-11). Jesus responde com uma parábola viva. A palavra usada para "criança" pode significar tanto "criancinha" como "servo, empregado". Naquele tempo, a criança de menos de doze anos não era considerada socialmente, e muito menos o empregado. Ela é símbolo dos fracos, pobres e humildes, aquelas pessoas que não tem importância ou pretensão - aqueles que são continuamente esmagados pela sociedade injusta. Pois bem, diz Jesus, o maior na comunidade é aquele que deixa todas as ambições, para ser apenas alguém que serve despretensiosamente. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Cuidado com o escândalo! Agora os fracos, pobres e humildes são chamados de pequeninos (18,6-9; reveja 11,25-30), aqueles que, na sua sede de justiça, se comprometeram com Jesus e começaram a fazer parte da comunidade cristã. Qual o escândalo para eles? Certamente ver que a comunidade os oprime com a mesma injustiça que impera na sociedade. Ou seja, a busca de abundância e prestígio, poder e riqueza. O maior escândalo é ver alguém pregar a justiça e depois viver na injustiça. Quem é que não se escandaliza com isso? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Remédio? Jesus é extremamente duro: corte o mal pela raiz! Ou seja, mude o seu modo de ver (olho), o seu modo de agir (mão) e de caminhar (pé). Não há meiotermo. Sem mudança radical, a comunidade cai na maior das hipocrisias: falar uma coisa e fazer outra. E então, onde fica a luta pela justiça? Exigir dos outros o que não se vive? Não. Primeiro é preciso viver e praticar a justiça. Só depois temos o direito de anunciá-la e exigi-la. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Por que alguém se afasta da comunidade? Mateus mudou a situação original da parábola da ovelha perdida (18,1O-14; confira com Lucas 15). Agora a parábola é dirigida a comunidade cristã: por que alguém se afastaria ou se perderia, saindo da comunidaderebanho que segue a Jesus? Certamente por causa do escândalo, ao ver que a comunidade está repetindo a mesma dose de injustiça que existe na sociedade injusta. A parábola, então, se torna um julgamento para a comunidade. Escandalizados com a hipocrisia, os fracos, EVANGELHO SEGUNDO MATEUS os pobres e humildes vão embora. Como fica a situação? Jesus deixa a comunidade (99 ovelhas) e vai procurar a ovelha que se perdeu, ou melhor, que foi perdida pela comunidade. E o julgamento é duro: Jesus fica mais contente ao encontrar a ovelha que se perdera, do que com as 99 que não se tinham perdido. Essa é a vontade do Pai: ele justamente mandou seu Filho ao mundo para salvar o que nós pensávamos estar irremediavelmente perdido. E mais: o que pensávamos estar perdido estava justamente junto do Pai... (18,10). Depois disso tudo, ficamos pensando: quem é que, afinal, está perdido? Os outros? Ou nós? Só a justiça de Deus pode nos fazer enxergar as coisas. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS E quando o irmão erra? Ninguém de nós é perfeito, e não é porque seguimos a Jesus que estamos livres de cometer erros. Antes Mateus falou daquele que se afasta da comunidade por causa do escândalo. Agora fala daquele que provocou o escândalo, do irmão que errou (18,15-20). O que fazer com ele? O procedimento conforme a justiça procura evitar a arbitrariedade, levando em conta que todo mundo tem direito a boa fama. Primeiro não se deve espalhar o erro do irmão para todo mundo, mas corrigi-lo a sós. Ele EVANGELHO SEGUNDO MATEUS pode não acreditar no que você está falando, ou não aceitar. Direito dele. Então arranje uma testemunha. Se ele não aceitar, então, e só então, comunicar a toda a comunidade. Questão grave, e agora é a comunidade que vai decidir. Se o irmão não aceitar nem a palavra da comunidade, então ficará excluído dela, como um pagão ou cobrador de impostos. E daí? Tudo encerrado? Não. Agora a comunidade deve procurar o irmão, assim como o pastor procura a ovelha perdida. Jesus tinha predileção pelos perdidos, porque "ele veio para salvar o que estava perdido" (18,11). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Notar que a comunidade recebe o mesmo poder que Pedro, o chefe da Igreja (conferir o v. 18 com 16,19). Em sua vida, a comunidade terá que tomar decisões importantes, como a de expulsar o irmão do seu meio. Mas ela não poderá agir com leviandade. Não. Precisará estar profundamente sintonizada com todos os irmãos e, acima de tudo, sintonizada com o espírito de Jesus, que é o espírito da justiça. Só então ela poderá estar certa de que a sua palavra e a palavra de Jesus. E depois? Agir como Jesus, procurando e recuperando aquilo que se perdeu. A regra é o Pai, que não quer que ninguém se perca (leia Ezequiel 18,23.32). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Por que o espírito de competição introduz a injustiça na comunidade? 2. Que escândalos podem acontecer na comunidade? Por que eles são graves? 3. Alguém já se afastou da comunidade? Por quê? O que a comunidade fez depois em relação a essa pessoa? 4. O que as pessoas da comunidade fazem em relação a um irmão que cometeu um erro? 5. O que significa "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles" (v. 20)? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A COMUNIDADE E A JUSTIÇA (II) (Mateus 18,21-35) PERDOAR SEM LIMITES Mateus é muito realista a respeito da comunidade cristã. Ele sabe que viver sozinho não é bom, mas sabe também que viver junto não é fácil. Em 18,1-20 ele falava das tentações humanas (busca de abundância, prestígio, poder, riqueza, e as consequências do escândalo, desprezo, abandono, expulsão fácil da convivência). Agora ele aborda a fraqueza humana, a convivência EVANGELHO SEGUNDO MATEUS machucada pelos conflitos, atritos e ofensas. Na verdade, a comunidade cristã é um grupo de pessoas que se ofendem, e a vida em comum só é possível quando os irmãos repartem entre si o perdão que cada um recebeu de Deus. Quantas vezes devo perdoar? Agora não se trata de escândalo ou pecado público, mas de uma ofensa pessoal, dirigida contra um irmão. Como o irmão ofendido deve reagir? Os judeus diziam que o máximo de vezes a perdoar era quatro. Pedro é generoso: EVANGELHO SEGUNDO MATEUS elevando o número para sete (simbolicamente "muitas vezes"), ele pensa chegar ao pensamento de Jesus. No fundo, tanto ele como os judeus estão preocupados com os limites, preocupação egoísta de quem não quer se entregar totalmente a misericórdia. Sem limites! Na resposta de Jesus está implícita uma questão fundamental: é o perdão que possibilita a própria existência e continuação da comunidade. Ela se constrói no amor que é fruto da justiça, mas é amor entre pessoas EVANGELHO SEGUNDO MATEUS frágeis que sofrem todas as consequências do egoísmo das tentações. A outra face do amor deve ser o perdão, que testemunha e assegura a justiça do verdadeiro amor. A resposta de Jesus é dada em dois passos: Perdão proporcional ao desejo de vingança Jesus retoma o canto de vingança de Lamec (Gênesis 4,24: "Se a vingança de Caim valia por 7, a de Lamec Valerá por 77"), mas aplica-o ao perdão. O texto do evangelho permite ler 77 vezes ou 70 vezes 7, sendo que o significado é o mesmo: o perdão não tem limites, ou EVANGELHO SEGUNDO MATEUS melhor, deve ser proporcional ao desejo de vingança. Só o perdão pode salvar e cimentar a vida da comunidade que se comprometeu com a justiça. Ela é constituída de homens ao mesmo tempo santos e pecadores (leia Romanos 7), que só continuam vivos porque Deus renuncia a vingança. O perdão não compartilhado A parábola de 18,23-35 explica por que o perdão entre as pessoas da comunidade não pode ter limites: a exigência do perdão fraterno decorre do perdão que cada um já EVANGELHO SEGUNDO MATEUS recebeu de Deus em Jesus. Trata-se de lembrar a própria situação diante de Deus: a misericórdia do Pai tirou cada um da morte e da escravidão para o devolver a liberdade e a vida (confira Lucas 15). E em nome do perdão que Deus nos concedeu que devemos perdoar. O ambiente da parábola evoca o de uma corte oriental, e a história tem o aspecto de um drama em que todos os elementos são fantásticos, apontando para um significado maior. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O início mostra que o Reino, ou a comunidade, é semelhante não ao Rei, mas a situação que o descrita na parábola. A soma que o empregado deve é fantástica: cada talento equivalia mais ou menos a 34 quilos de ouro! Tentemos imaginar 340.000 quilos de ouro... Aquele homem estava perdido e, mesmo que fosse vendido com a família, jamais conseguiria pagar a divida. E o empregado suplica, não para que a dívida seja perdoada, mas para que lhe seja dado um prazo. Outro aspecto fantástico: de que modo ele pensava pagar uma divida tão grande? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O mais fantástico vem agora: o Rei se compadece dele e concede, não o prazo pedido, mas o perdão de toda a divida! Somos então levados a perguntar quem é esse Rei. A seguir, o comportamento daquele empregado com o seu companheiro é igualmente espantoso. Ele já esqueceu a sua situação diante do Rei (a falta de memória é a raiz de todas as infidelidades). A soma que o companheiro lhe deve é irrisória (algo como o salário por cem dias de trabalho). O companheiro também lhe pede um prazo, mas o outro nem isso lhe concede. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A reação dos outros companheiros talvez retrate o espanto dos cristãos ao verem os conflitos que existem nas comunidades. A repreensão do Rei traz o centro da questão: o empregado devia ter aprendido a ter compaixão (sofrer junto, ser sensível ao outro), assim como é pelo próprio fato de o Rei ter tido compaixão dele. O v. 34 mostra a sorte de quem não aprende a ser compassivo: a pessoa é excluída da graça que antes lhe fora concedida. O v.35 conclui não só a parábola, mas o capítulo inteiro. O evangelho salienta a gratuidade do perdão de Deus que possibilita a cada um entrar e fazer parte do povo de EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Deus, que se comprometeu com a justiça e herdou a liberdade e a vida. Acolhida e perdão fraternos não são condições para se ter a salvação, mas sim a consequência de se ter entrado para o povo de Deus, e também a coerência exigida para construir e cimentar a vida em comunidade. Por isso o perdão deve ser interiorizado "de coração" - isto é, abranger o homem inteiro, no fundo da sua consciência. O homem perdoa porque Deus o perdoou (leia Colossenses 3,12-13). A medida do perdão é o perdão de Deus, ou seja, não tem medida. Aliás, isso é perenizado no Pai-nosso. Toda vez que dizemos "Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como nós EVANGELHO SEGUNDO MATEUS perdoamos aos nossos devedores" (6,12), estamos, no fundo, pedindo nossa própria salvação, ou condenação. Para refletir em grupos 1. A outra face da moeda do amor é o perdão. Comente isso. 2. Até onde estamos dispostos a perdoar? Quais os motivos que nos impedem de ir além disso? 3. Ler a parábola. Colocar-se dentro de cada uma das personagens da história, e depois comentar o que sentiu. 4. Perdoar não é fácil. Como interiorizar o perdão, para que ele seja uma atitude constante em nossa vida? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A JUSTIÇA E O HORIZONTE DO REINO (Mateus 19) A partir deste capítulo Mateus começa a projetar o futuro do Reino de Deus, construído através da luta pela justiça. A partir da chegada da justiça as coisas mudam, e a maior surpresa para nós e que elas agora podem se tornar exatamente aquilo que Deus havia projetado e, curioso, também aquilo que nós mais havíamos desejado. E que Deus revela o seu projeto no mais íntimo de nós mesmos. Aceitar esse projeto, portanto, não é apenas ser fiel a Deus, mas em primeiro lugar a nós mesmos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Matrimônio é amor para sempre Casamento é questão central na vida humana (19,1-9). No projeto de Deus a vida humana nasce e cresce dentro de um ninho de amor. Para as pessoas, porém, as coisas não são fáceis. Ninguém quer viver sozinho. E como é difícil viver junto! Aí vêm os conflitos, os desentendimentos e, por fim, as separações. E a justiça, como vê isso? A pergunta dos fariseus e um desafio. Naquele tempo havia duas tendências: uma bastante permissiva (bastava qualquer motivo para o marido se divorciar da EVANGELHO SEGUNDO MATEUS mulher), outra mais rigorosa, precisava um motivo sério (...). Note-Se que a mulher aqui ficava reduzida a vítima. Mas de que lado está Jesus? Jesus não responde sim ou não. Ao contrário, lembra o texto do Gênesis 2,24, onde está o fundamento do matrimônio indissolúvel. O casamento baseia-se num amor tão forte que rompe os laços com os pais e deixa o casal inteiramente livre para constituir nova família, para si e para a humanidade. Ora, como substituir a sabedoria de Deus pelo mesquinho capricho dos homens? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os fariseus voltam a carga, lembrando a lei do Deuteronômio 24,1, que permitia o divórcio. Mas Jesus salienta que essa lei era apenas um remendo no projeto original de Deus, e que a separação era permitida por causa da dureza do coração, da insensibilidade humana ao amor, que sempre nasce com a vocação de eternidade. Diante dos homens o amor pode acabar, mas diante de Deus ele é para sempre. Daí o sério da questão: quem se divorcia e se casa de novo comete adultério, isto é, trai a esposa a quem antes estava ligado... EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Então é melhor não se casar? Até os discípulos, acostumados já com Jesus, ficam admirados e dizem: se é assim, melhor não se casar (19,1O-12). Sim, não se casar é outra opção. Mas ela só se justifica quando o motivo é ainda mais sério do que o casamento. Os que não se casam por causa do Reino, isto é, para se comprometer com o projeto de Deus e de Jesus, são todos aqueles que compreendem que o compromisso radical com a justiça pode ser tão total e ardente que passa a frente de qualquer outro compromisso. Então se dedicam completamente a causa da justiça. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Mas celibato é coisa séria. Não adianta oferecer-se inteiramente a Deus, e depois, de pouquinho em pouquinho, ficar beliscando a oferta que antes se fez. Não é fácil. O casamento é difícil, certo, mas o celibato o é também. Ele não pode ser acomodação egoísta. Só se justifica porque é dom de Deus, pois somente a graça de Deus poderá sustentar tal opção. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O Reino pertence aos pequenos A cena de Jesus com as crianças é sintomática (19,13-15). Levam crianças a Jesus, para que este as abençoe. Os discípulos não gostam. É que naquele tempo a criança com menos de doze anos não tinha qualquer consideração social. Em outras palavras, podia atrapalhar. Jesus censura a atitude dos discípulos e diz que o Reino pertence as crianças. Não porque as crianças sejam perfeitas ou inocentes. Não. É porque elas não têm EVANGELHO SEGUNDO MATEUS pretensões nem ambições, isto é, ainda não conhecem as tentações que provocam a injustiça (busca da abundância, prestígio, poder e riqueza, sempre as custas dos outros). A criança, portanto, é um símbolo do pobre e do fraco que se abrem para a justiça que o Reino lhes trará. Quanto a nós, devemos nos converter, para conquistarmos de novo essa abertura para Deus e seu projeto (leia 18,3). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O Reino é dom e partilha Como o jovem do texto, todo jovem tem boa vontade e anseia por experimentar plenamente a vida (19,16-30). Ora, este quer exatamente isso: a vida em plenitude, que é a vida eterna ou vida de Deus em nós. Que deve fazer? Jesus lembra que deve observar os mandamentos e dá especial atenção àqueles que tratam da relação com o próximo, porque a nossa relação com Deus depende da nossa relação com o próximo. Ora, o jovem já cumpria tudo isso, e quer mais. Então vem o supremo desafio: vender tudo o que possui, dar o dinheiro aos pobres, e EVANGELHO SEGUNDO MATEUS depois colocar-se no seguimento de Jesus, isto é, na busca da justiça. Nada mais que escolher radicalmente a pobreza. O jovem resiste ao desafio: vai embora triste, porque era muito rico. De fato, qual é o rico que queira se tornar radicalmente pobre, para se unir aos pobres e lutar pela justiça? Como diz Jesus, mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha... O espanto dos discípulos leva Jesus a explicar: só a compreensão do projeto de Deus, que é a justiça que traz liberdade e vida para todos, pode levar alguém a EVANGELHO SEGUNDO MATEUS escolher ser pobre com os pobres, com os quais o projeto de Deus triunfará, e todos poderão finalmente ser felizes. Esse é o caso dos discípulos: deixaram tudo para seguir a Jesus. O que vão ganhar? Por enquanto apenas a alegria de se entregar a causa da justiça. Mas, quando o Reino chegar, eles se sentarão no tribunal para julgar toda a injustiça, e então virá o Reino, onde todos terão abundantemente tudo o que necessitam. Então o sentido da vida será pleno, pois a experiência da fraternidade e da partilha fará descobrir o que é, afinal, a própria vida de Deus. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Por que a justiça faz ver de modo diferente o casamento? Quais os problemas que os casais enfrentam? Quando eles começam? 2. O celibato é coisa séria e empenhativa. Que sentido ele tem? É melhor não se casar? 3. Por que a criança é figura do pobre e do fraco? 4. Jesus pediu ao jovem rico para se tornar pobre. Ele tinha direito de fazer isso? Será que o mesmo se aplica para nós hoje? O que significa hoje vender tudo, distribuir o dinheiro aos pobres, e depois seguir a Jesus? 5. O v.30 lembra o nosso provérbio: "Ri melhor quem ri por último". Comente. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O TRABALHO E A JUSTIÇA DO REINO (Mateus 20,1-16) Entre outras coisas, a parábola dos trabalhadores na vinha trata do tema do trabalho, questão importante, pois é no trabalho que passamos a maior parte das nossas vidas. Também é pelo trabalho que podemos multiplicar a vida que recebemos, para produzir mais vida e sustentar a vida que já existe. Todavia, o trabalho e a sua remuneração também são fonte de desigualdade. O que é que o trabalhador recebe em troca do seu trabalho? Que proveito ele pode tirar de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? (leia o livro do Eclesiastes). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O Reino de Deus, que é o reinado da justiça, ilumina a questão do trabalho e traz uma nova proposta. Talvez não agrade a todos, mas propõe um desafio: como ser justo com o trabalhador, de modo que o trabalho seja fonte de igualdade e não de injustiça? Primeiros e últimos A parábola está encaixada na moldura formada por 19,30 e 20,16. Deve ser lida nessa direção. E, ponto importante, os estudiosos nos avisam que a frase pode ser traduzida assim: "Todos, mesmo que sejam EVANGELHO SEGUNDO MATEUS primeiros, serão últimos, e mesmo que sejam últimos, serão primeiros". E isso traz o grande desafio: transformar o mundo do trabalho em fonte de igualdade, primeiro fruto da justiça. Contudo, será que os primeiros vão aceitar essa justiça? A vinha Desde o Antigo Testamento, avinha era símbolo do povo de Deus (leia Isaias 5,7). No Novo Testamento tornou-se figura do novo povo de Deus, isto é, o povo comprometido com Jesus e o seu projeto de justiça. Em EVANGELHO SEGUNDO MATEUS outras palavras, o povo de Deus tornou-se o lugar do trabalho e da justiça. Daí nasce o exemplo que irá contaminar e transformar a sociedade. A contratação para o trabalho Todos nós precisamos do trabalho de todos e de cada um, para sobrevivermos neste mundo que Deus e nós criamos. Há, portanto, muitíssimo trabalho a fazer. E aí temos o dono e patrão da vinha, saindo para contratar diaristas para o trabalho. Ele sai as seis da manhã, as nove, ao meio-dia, as três da tarde e, finalmente, as cinco EVANGELHO SEGUNDO MATEUS da tarde. O lugar de contrato é a praça, onde se faz a oferta de trabalho. O curioso é que muitos ficam esperando muito tempo, e que alguém os contrate. Eles não são vagabundos ou preguiçosos, como poderíamos pensar; apenas ainda não tiveram chance. O pagamento Quando contrata a primeira turma, o patrão acerta uma moeda de prata, o que naquele tempo dava para um chefe de família sustentar a sua casa por um dia, atendendo a todas as necessidades suas, da mulher e dos EVANGELHO SEGUNDO MATEUS filhos. Na turma seguinte ele diz que vai pagar o que é justo, mas não diz quanto. Depois já não diz o que vai pagar. No fim do dia, porém, ficamos sabendo que o pagamento é o mesmo para todos. E aqui entra a justiça: todos têm o direito de receber o necessário e suficiente para todas as suas necessidades. O comportamento do patrão é igualitário. E aqui vem o choque, para nós que estamos acostumados com a injustiça e a desigualdade. Costumamos pensar que há trabalho mais nobre e menos nobre, mais importante e menos importante, de maior e menor valor. Afinal, por que uma empregada doméstica vale menos que um professor? Sua EVANGELHO SEGUNDO MATEUS responsabilidade também não é grande? Por que o engenheiro tem que ganhar mais que o pedreiro? Suas famílias têm necessidades diferentes? A hora do pagamento Imaginemos como foi: os últimos contratados na frente, os primeiros lá atrás. E conforme o pagamento ia saindo, o clima de suspense e expectativa ia aumentando, os primeiros pensando que iriam ganhar muito mais... E a decepção, vendo que todos acabaram recebendo o mesmo. Aqui nós voltamos para a situação original da EVANGELHO SEGUNDO MATEUS parábola. Ela é sobre o Reino de Deus, o reino da justiça. Nesse Reino ninguém é primeiro e nem último. Todos são iguais. Não é porque eu me converti há muito tempo que mereço mais do que aquele que se converteu apenas ontem. E fácil engolir isso? Claro que não e. Ate parece que estamos arrependidos por "não ter aproveitado mais". Todavia, aproveitado o que? Isso tudo nos lembra o rancor do irmão mais velho pelo fato de o pai ter acolhido o irmão que farreara a vida inteira (leia Lucas 15,11-32). Como ele, será que também nós vamos ficar magoados e emburrados, só porque a justiça de Deus quer liberdade e vida para todos? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O desenlace O patrão, que a essa altura já adivinhamos ser o próprio Deus, vê toda a reação. Eles, no fundo, o estão acusando de injusto. Então diz, não a todos, mas a um dos descontentes, que pode ser eu, você, ou a dona Maria: "Eu não fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você". Em outras palavras, não queira a diferença. Fique contente com a igualdade. E continua: "Por acaso não tenho o direito de fazer o que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS eu quero com aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?" Sim, ciúme, inveja, a arma de todos aqueles que vivem a competição da desigualdade. E aqui vem a pergunta principal: estamos dispostos a assinar o projeto de justiça de Deus? Estamos prontos para deixar o projeto de "justiça" da sociedade injusta para aceitar o projeto da verdadeira justiça, que trará liberdade e vida para todos? Ou vamos ficar decepcionados, ressentidos e emburrados para sempre? A pergunta fica em aberto, esperando a nossa resposta... EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Somos os primeiros ou os últimos no Reino de Deus, que é o seguimento de Jesus para criar o mundo da justiça? Você acha que tem méritos por causa disso? 2. Se somos todos iguais, temos os mesmos direitos. Por que resistimos a isso e ficamos emburrados? 4. Como é que o mundo do trabalho poderia ser mais justo? 5. Como fica o problema do desemprego a luz dessa parábola?