RELIGIÃO DO ESTADO ROMANO ÍNDICE • Introdução • Os santuários • Localização dos santuários • Os sacerdotes • O culto • Carácter pragmático da religião romana • Cultos estrangeiros; o cristianismo • Bibliografia INTRODUÇÃO • Os sacra familiaria ou cultos domésticos eram celebrados no âmbito de um lar doméstico romano. O sacerdote deste culto é o paterfamilias e todos os elementos da casa são providenciados por uma divindade: Penates (deuses da casa, das provisões), Lares (deus do campo), Ianus (deus da porta) e Manes (as almas dos antepassados). Mas mais importante era a religião do Estado, dirigida à custa do erário público, por sacerdotes e pessoal especializado. Este culto público realiza-se em benefício de todo o povo, em lugares consagrados, segundo um calendário fixado pelo Pontifex Maximus e mediante rituais préestabelecidos, que têm como ponto mais alto o sacrifício. Como os romanos eram essencialmente um povo de camponeses e soldados, o culto público visava sobretudo as suas principais preocupações: a fecundidade e a vitória. OS SANTUÁRIOS • A maior parte das cerimónias eram realizadas nos sítios onde se acreditava ter sido revelada a presença da divindade, como por exemplo, nos bosques sagrados e nas fontes. Por influência etrusca e grega construíram-se mais tarde edifícios chamados, consoante a importância: • Aedes; Templum; Fanum; Delubrum; Sacellum. • Nas paredes dos templos havia quase sempre lápides gravadas com as normas dos ritos a celebrar – leges templorum. • Apenas as cerimónias mais pequenas se celebravam no interior dos templos; as mais importantes, como os sacrifícios, eram celebradas num altar ao ar livre, em frente do templo da divindade – os templos romanos eram apenas a casa da divindade. AEDES • Pequeno edifício que abrangia a estátua de uma divindade, sobre um pedestal, e que continha também um altar. As cerimónias eram assistidas de fora. TEMPLUM • Passou por várias alterações a respeito da sua designação; • É o templo onde se encontra a estátua da divindade. • Podem ser redondos ou quadrangulares, solenizados na frente com duas fiadas de colunas. FANUM • Primeiramente era um lugar sagrado, passando, depois, a designar também o templo, ou habitação de um deus. DELEBRUM • Primeiramente designava um santuário destinado às purificações, passando mais tarde a ser também a habitação da divindade – templo. SACELLUM • Primeiramente era um recinto sagrado vedado por um muro; acabou igualmente por designar um templo pequeno. LOCALIZAÇÃO DOS SANTUÁRIOS • A implantação dos santuários não deixava de se enquadrar na urbanização da cidade; vários santuários se localizavam no Forum. • Motivos nacionais e religiosos podiam influenciar a localização dos santuários - enquanto os deuses nacionais se introduziam na cidade, no Pomerium, os deuses estrangeiros ficavam geralmente fora deste limite sagrado, como aconteceu a Apolo e a Esculápio, que eram gregos. • Os principais deuses do Estado Romano eram : • Iuppiter, grande protector de Roma; 1 • Mars, deus das colheitas e da guerra; 2 • Saturnus, deus das sementeiras; 3 • Vesta, que mantinha a chama do lar nacional. 4 2 3 4 1 OS SACERDOTES • Ao serviço das divindades romanas havia numerosos sacerdotes, pagos pelo Estado, os Pontífices, cujo chefe, o Pontifex Maximus, presidia aos sacrifícios oficiais, fixava os dias fastos e nesfastos e organizava o calendário das festas nacionais. • Estabeleceu-se uma hierarquia entre as categorias sacerdotais mais importantes, no cimo da qual estava o Rex Sacrorum, seguido dos três flamines, embora fosse o Pontifex Maximus que, na prática, tinha mais importância; • Aos deuses estrangeiros atribuíam-se sacerdotes da sua nacionalidade; • Durante a realeza, o rei era sempre o Rex Sacrorum; • No tempo da República, é um sacerdote de ascendência patrícia que exerce esse papel. • Sacerdotes do Estado Romano: FLAMINES • Sacerdotes da mais antiga tradição romana, votados a uma divindade particular, em número de quinze: três maiores e doze menores. • Os três flâmines maiores: Flamen Dialis (de Júpiter), Flamen Martialis (de Marte) e Flamen Quirinalis (de Quirino); Os flâmines menores eram votados a divindades secundárias. • Os flâmines eram sobretudo sacrificadores. PONTÍFICES E ÁUGURES • Sacerdotes organizados em colégios, com mais finalidades linguísticas do que culturais; • Os pontífices eram sacerdotes a quem competia cuidar de todos os cultos que tinham sacerdotes particulares; competia-lhes também indicar as datas das festas móveis; • Os áugures assistem os chefes políticos que têm o ius auspicii, proporcionando-lhes normas seguras de tomarem os auspícios pela observação do voo das aves e do apetite dos frangos sagrados. VESTAIS • As virgines vestales eram um colégio de sacerdotisas destinadas essencialmente ao culto da deusa Vesta; • As vestais eram escolhidas pelo Pontifex Maximus, nas famílias da mais alta nobilitas, entre as jovens de seis a dez anos e exerciam o sacerdócio durante trinta anos (dez de aprendizagem, dez de prática e dez de ensino); • O atrium vestae, seu convento ficava ao lado do templo da deusa; no interior desse templo as vestais deviam conservar aceso o fogo sagrado da pátria; a vestal que o deixasse apagar era chicoteada pelo Pontifex Maximus; • As vestais eram muito respeitadas e eram facilmente identificáveis pela veste branca e pelos cabelos enrolados em trança no cimo da cabeça; •Faziam voto de castidade, válido enquanto fossem sacerdotisas; o não cumprimento desse voto implicava um impiedoso castigo: eram enterradas vivas; •Ao fim dos trinta anos, as vestais podiam retomar uma vida normal, inclusive casar. O CULTO (SACRIFÍCIOS; PRECES E FESTIVIDADES) • Os Romanos dirigiam preces aos deuses e ofereciamlhes sacrifícios de vítimas; • O fim das preces e dos sacrifícios era sempre o de atrair a ajuda dos deuses e evitar que a pax deorum se rompesse. CARÁCTER PRAGMÁTICO DA RELIGIÃO ROMANA • Embora os Romanos tenham manifestado um vivo sentido do sagrado, não podemos deixar de reconhecer neles uma certa falta de imaginação mítica e de gosto pela especulação metafísica. • Desde o início da sua história que os Romanos implantaram em Roma cultos de outras cidades e povos latinos, abrindo-se ainda largamente a ritos e deuses helénicos; nos últimos tempos da República e durante o Império, são as religiões orientais, originárias da Ásia Menor e do Egipto, que invadem a Itália, infiltrando-se mesmo na liturgia oficial de Roma. • Havia mesmo um rito específico para atrair a divindade protectora de uma cidade inimiga de modo a passá-la para o lado romano (a evocatio) e uma estrutura de acolhimento assegurada por um colégio sacerdotal, os decemuiri, que controlavam a sua inserção na religião romana. • O mesmo espírito pragmático que levava os Romanos a conceder o direito de cidade (a cidadania) aos povos conquistados, fazia com que introduzissem no seu panteão os deuses estrangeiros. CULTOS ESTRANGEIROS; O CRISTIANISMO • A Grécia forneceu à religião romana muitos deuses e ritos, mas lançou também sobre ela as dúvidas de filósofos e poetas materialistas gregos: Epicuro acusa os deuses de não se ocuparem dos homens e a alta sociedade cai no cepticismo e considera que a religião é apenas boa para a plebe; o próprio povo abandona progressivamente os cultos tradicionais; os templos caem em ruínas, os bens dos deuses são pilhados, muitas festas tradicionais deixam de ser celebradas e os sacerdotes ficam sem ocupação. • Augusto resolve restaurar os cultos tradicionais e os templos abandonados nos últimos anos da República. • Mas esta restauração religiosa orienta-se à sua própria divinização; toma para si o nome de Augusto, até aí aplicado aos templos consagrados aos ritos nacionais; o culto dos deuses, de Roma e de Augusto confundem-se, obedecendo a fins políticos; • Grande avanço dos cultos orientais, apesar do esforço do Imperador para o travar; • Nestas circunstancias surge o Cristianismo, afirmando a existência de um só Deus e a necessidade de reforma interior do homem, segundo o modelo de Jesus Cristo. BIBLIOGRAFIA • BORREGANA, António Afonso; Novo método de Latim 11º; Lisboa Editora, Lisboa, 1997.