A CONSTRUÇÃO DO EU Para constituir o seu EU, o homem (sujeito) precisa de outros “EUS” (sujeitos). Essa constituição se dará numa trama de relações uns com os outros e sobre o mundo externo. A nossa identidade não é algo que cada um já possui ao nascer. A identidade é formada a partir do psíquico com o qual nascemos e da realidade externa da qual vivemos, com suas normas, práticas e instituições. Na situação face a face, o outro é apreendido por mim num vívido presente partilhado por nós dois. Sei que no mesmo vívido presente sou apreendido por ele. Meu aqui e agora e o dele colidem continuamente um com o outro enquanto dura a situação face a face.” (BERGER E LUCKMANN, 2004 p. 47) Assim, nossa identidade pessoal chega através do convívio que estabelecemos com outras pessoas. A identidade é constituída num processo de identificação, sendo esta um processo no qual resulta em nós a concepção de um eu, de uma parte nossa que vai nos parecer como sendo única, porque é apenas dela que temos consciência O indivíduo identifica-se com uma “generalidade” de outros – a sociedade. Esta identidade incorpora em si todos os vários papéis e atitudes interiorizados. E isto marca a fase decisiva na socialização. Implicando na interiorização da sociedade enquanto tal e da realidade objetiva nela estabelecida. O Eu é socialmente “construído”, no sentido de ser moldado através de interação com outras pessoas e por utilizar materiais sociais sob a forma de imagens e ideias culturais. O HOMEM, UM SER DA CULTURA O ser humano é social, na medida em que vive e sobrevive socialmente. Vive articulado com o conjunto dos seres humanos de gerações passadas, presente e futuras. Desse modo, sua constituição não se dá isoladamente. A sua prática é dimensionada por suas relações com os outros – no tempo e no espaço. Segundo Rego (2003), o ser humano sofre determinações do tempo histórico: seu corpo, seus sentidos, sua personalidade caracterizam-se pela historicidade. Quando dizemos que o homem é um ser histórico, estamos dizendo que ele é um ser em constante processo de formação. Vale ressaltar que ele não está congelado no tempo e nem no espaço. Do agir sobre o meio e das relações com os outros, exerce a sua criatividade, seu entendimento de mundo, tornando-se um ser subjetivo. O QUE É CULTURA? O conjunto de comportamentos e ideias característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra e que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua história (REGA apud NIDA, 1989) Podemos dizer que a existência humana, então, realiza-se pelo agir do homem sobre o meio que o cerca. O homem, dessa forma, é um ser social, histórico e cultural. Ele se constitui numa trama de relações sociais, na medida em que ele adquire o seu modo de ser, agindo no contexto das relações sociais nas quais vive, produz, consome e sobrevive. Numa forma geral, o ser humano é o conjunto das relações sociais das quais participa de forma ativa. É prático, ativo, uma vez que é pela ação que modifica o meio ambiente que o cerca, tornando-o satisfatório às suas necessidades e enquanto transforma a realidade, constrói a si mesmo no seio de relações sociais determinadas. É através dessa interação, que provoca transformações, que o homem se faz homem. Para compreendermos o homem, suas formas de pensar e agir é necessariamente importante a compreensão das condições da realidade em que vive. O homem é entendido, assim, como um ser em permanente construção, que vai se constituindo no espaço social e no tempo histórico. São as condições materiais que formam a base da sociedade, da sua construção, das suas instituições e regras, das suas ideias e valores. Nessa perspectiva, a realidade (natural e social) evolui por contradição e se constitui num processo histórico. São os conflitos internos desta realidade que provoca as mudanças que ocorrem de forma dialética. Esse processo é resultante das intervenções das práticas humanas. Já que a formação e transformação da sociedade humana ocorre de modo dinâmico, contraditório e através de conflitos, precisa ser compreendida como um processo em constante mudança e desenvolvimento. (REGO, 2003, p. 97) NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA O momento histórico que vivenciamos está nos influenciando e nem percebemos que é tudo tão sutil, fazendo parte de nós mesmos, de nossa subjetividade. Estamos nesse período de transformações que nos envolve e nos afeta na nossa forma de pensar, de sentir e de agir. Neste contexto em que vivemos, os princípios estabelecidos pela Palavra de Deus são minados e deturpados pela sociedade, de uma forma geral – principalmente pelos meios de comunicação – A Indústria Cultural (televisão, filmes, jornais, revistas). A nova geração tende a ser influenciada por estes, internalizando os seus valores, tornando-se um ser individualista, hedonista, relativista, superficial, mais amante dos prazeres carnais do que de Deus. Diante de tanta diversidade de opções, que este mundo mal oferece, afasta-se do próprio Criador, do corpo de Cristo e de si próprio. Percebe-se que a nova geração – criança, jovem e adolescente é bombardeada por imagens, conceitos e informações de toda espécie. O pior que tudo isso é desprovido de um senso crítico e acaba por construir uma realidade virtual, favorecendo uma atmosfera nociva à saúde emocional, física e espiritual. Essa influência negativa traz sérios efeitos devastadores na formação e conduta do sujeito. Há uma inversão de valores dentro do campo ético e moral: O que é bom passa a ser mau, e o mau torna-se bom. A televisão acompanha a criança durante o seu crescimento, influindo no seu desenvolvimento físico e mental. Aspectos que interferirão na formação bio-psico-social da criança-adolescente os quais, aliados a fatores econômicos, ambientais e sócio-culturais, favorecem e condicionam a constituição de valores estereotipados pela influência direta ou indireta da programação. No campo da moral individual, as pessoas começam a achar que é “normal” roubar, desfalcar, usar o seu semelhante, entre outros. O importante é sentir, usufruir e aproveitar ao máximo aquilo que está ao seu alcance para fazer. Seja lícito ou não. Os indivíduos não orientam mais suas ações pelos ideais de conduta moral e não sabem ou não conseguem propor respostas para os problemas atuais Devido à massividade mesma da audiência e à intensidade da atenção, o indivíduo se acha plena e verdadeiramente na presença de uma força que é superior a ele e diante da qual ele, o homem, se curva. A conduta cristã tem sofrido muito com as expressões dessa sociedade corrente, onde o ter e o fazer são mais importantes que o ser. E, é claro, que como “cristãos” não temos como nos isolar desse mundo caótico, fazemos parte deste, queiramos ou não, e por ele somos influenciados conscientes ou de forma inconsciente. a indústria cultural é um dos principais agentes na atual sociedade formadoras do homem. A indústria cultural surgiu a partir da tendência de valorização do capital. Ela se desenvolveu sob a lei de mercado, é ela que fixa e fortalece a consciência em suas formas existentes. Ela é peça chave para compor o pensamento pós-moderno. Por exemplo, o filme apresenta algo como sendo a realidade social e embora ilusória e enganadora é aceito por ser “experiência”. Sabemos que muitos dos padrões que marcam o nosso agir derivam de imposições que são de natureza sócio-cultural, ou seja, os próprios homens, vivendo em sociedade acabam impondo uns aos outros determinadas normas de comportamento e de ação. A experiência trazida pela mídia é parte importante de tudo isso. Os meios de comunicação de massa rotineiramente apresentam modos de vida dos mais prósperos, mostrados como dignos de imitação. A ideia é mostrar narrativas, personagens com os quais o expectador possa identificar-se. As telenovelas e outras formas de entretenimento na mídia são válvulas de escape – substitutas nas condições sociais e normais. Mas talvez o mais importante seja a própria forma narrativa que oferecem, sugerindo modelos para a construção das narrativas do eu. As telenovelas misturam previsibilidade e contingência por meio de fórmulas que, por serem bem conhecidas pela audiência, são ligeiramente perturbadoras, mas ao mesmo tempo tranqüilizadoras. Elas oferecem misturas de contingência, reflexibilidade e sina. A forma conta mais que o conteúdo; nessas estórias ganha-se uma sensação de controle reflexivo sobre as circunstâncias da vida, uma sensação de uma narrativa coerente que é um equilíbrio tranqüilizador para as dificuldades de sustentar a narrativa do eu em situações sociais reais. (GIDDENS, 2002, p. 184) Sujeitos Individualitas Sujeitos Relativistas Sujeitos Hedonistas