PARLAMENTO EUROPEU 1999 2004 Documento de sessão 28 de Maio de 2002 B5-0320/2002 } B5-0324/2002 } RC1 PROPOSTA DE RESOLUÇÃO COMUM apresentada nos termos do nº 4 do artigo 37º do Regimento por – Monica Frassoni, Alain Lipietz, Miquel Mayol i Raynal e Camilo Nogueira Román, em nome do Grupo Verts/ALE – Francis Wurtz, Pedro Marset Campos, Giuseppe Di Lello Finuoli, Joaquim Miranda, Armando Cossutta, Herman Schmid, Pernille Frahm e Konstantinos Alyssandrakis, em nome do Grupo GUE/NGL em substituição das propostas de resolução apresentadas pelos seguintes Grupos: – Verts/ALE (B5-0324/2002), – GUE/NGL (B5-0324/2002), sobre os resultados da segunda Cimeira UE-América Latina RC\470226PT.doc PT PE 319.096} PE 319.100} RC1 PT Resolução do Parlamento Europeu sobre os resultados da segunda Cimeira UE-América Latina O Parlamento Europeu, – Tendo em conta a sua resolução sobre a Cimeira de Madrid de 15 de Maio de 2002, – Tendo em conta o Plano de Acção da Primeira Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo União Europeia, da América Latina e das Caraíbas de Junho de 1999, – Tendo em conta a Declaração feita perante a segunda Cimeira, adoptada pela Conferência da sociedade civil reunida em Alcobendas no início de Abril de 2002, intitulada “Por uma associação baseada na solidariedade”, A. Considerando a segunda Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia, da América Latina e das Caraíbas, reunidos em Madrid em 17 e 18 de Maio de 2002, e a declaração adoptada no quadro desta cimeira, B. Considerando os apelos lançados pelas organizações sindicais e pelas dezenas de milhares de manifestantes que protestaram na rua e se reuniram no seio do Fórum Social Transatlântico para reclamar que esta cimeira desse uma resposta concreta aos grandes problemas criados pela aplicação do modelo neoliberal e a repressão que o acompanha, C. Lamentando que a União Europeia se limite a propor aos países da região políticas neoliberais e acordos de comércio livre, em vez de os ajudar a construir uma verdadeira integração regional, independente dos Estados Unidos, D. Preocupado com a ausência de decisões concretas no que respeita à luta contra a constante deterioração da situação dos direitos humanos, incluindo os direitos sociais, económicos, culturais e ambientais, na maioria dos países da América Latina, bem como a discriminação de que são vítimas os cidadãos latino-americanos na Europa, e a ausência de medidas que contrariem a crescente militarização de vários países bem como a intensificação do comércio de armas recentemente constatada em ambas as regiões, E. Considerando a penalização e repressão crescentes com que se confronta o movimento social, em particular na Colômbia, na Guatemala, no Brasil e no México, ao exigir por meios pacíficos a redução das desigualdades e o abandono de políticas que geram a pobreza; F. Lamentando que a União Europeia exerça uma forte pressão junto das autoridades da Argentina para que este país aplique as fórmulas do FMI que, precisamente, contribuíram em grande medida para mergulhar este país na miséria, incluindo a adopção de políticas impostas pelo FMI, a aplicação de políticas de ajustamento estrutural, a privatização e a abertura do mercado a empresas multinacionais, sem ter em consideração a necessidade de manter um tecido industrial e social no plano nacional, G. Considerando que a questão dos povos autóctones e os seus direitos tem estado ausente do debate, quando o mesmo diz respeito à maioria da população de alguns dos países RC\470226PT.doc PT PE 319.096} PE 319.100} RC1 participantes, H. Lamentando a revogação, pelo Congresso argentino, por proposta do Governo, da chamada lei “de subversão económica”, que permitia proceder em justiça contra os organismos financeiros, nacionais e internacionais, responsáveis pela crise económica, I. Considerando a necessidade de adoptar uma estratégia comum de rejeição relativamente à política dos Estados Unidos que visa instaurara a Zona de Comércio Livre das Américas (ZCLA), excluir Cuba dos intercâmbios interregionais e extra-regionais, reforçada pela lei sobre o patriotismo (USA Patriot Act), recentemente adoptada, e prosseguir o Plano Colômbia, em flagrante contradição com a política de desenvolvimento levada a cabo pela União Europeia, 1. Lamenta que a União Europeia não tenha sido capaz, em Madrid, de propor aos países da América Latina e das Caraíbas uma verdadeira parceria estratégica, equacionada na busca da paz social, através da redução das desigualdades e da luta contra a pobreza, o respeito das minorias, a democratização e o reforço da justiça, claramente distinta da instauração de zonas de comércio livre, tais como as propostas pelos Estados Unidos (Acordo de Comércio Livre Norte-Americano (ACLNA), ZCLA, etc.), acompanhadas por políticas de repressão e de militarização; 2. Solicita à União Europeia que apoie os esforços de integração política, social, económica e cultural dos países da América Latina e das Caraíbas; solicita à União Europeia que instaure uma verdadeira cooperação orientada para a transferência de tecnologia, o reforço dos serviços públicos e a instauração de trocas comerciais leais que tenham em conta os diferentes níveis de desenvolvimento dos vários países; 3. Convida a Comissão a criar uma instância de diálogo União Europeia-América Latina sobre as respectivas políticas agrícolas, para a qual deveriam ser convidados os representantes dos Governos, mas também os representantes das organizações sociais, dos camponeses e das populações indígenas, destinada a abordar a questão dos subsídios e do dumping, da soberania alimentar e da garantia do respeito dos direitos dos agricultores e dos camponeses nos dois continentes; 4. Solicita que a União Europeia tenha em conta as alternativas económicas propostas aquando do Fórum Social de Porto Alegre, nomeadamente os pontos seguintes: democratização das instituições financeiras e comerciais internacionais; anulação da dívida externa; luta contra a especulação através da criação de um imposto sobre as transacções de capitais; e controlo do respeito, por parte das empresas multinacionais, dos direitos humanos e das minorias; 5. Congratula-se com o facto de a União Europeia e os países da América Latina terem reiterado o seu apoio ao Tribunal Penal Internacional no momento em que os Estados-Membros anunciaram que se desvinculavam do mesmo; 6. Toma nota da assinatura de um acordo comercial com o Chile, mas mostra a sua apreensão face à circunstância de o mesmo incluir a liberalização de sectores sensíveis, tais como os serviços, os mercados públicos e os investimentos e solicita que lhe sejam transmitidos os resultados do estudo de impacto de sustentabilidade (sustainability impact assessment), actualmente em fase de elaboração, para que o possa estudar circunstanciadamente e RC\470226PT.doc PE 319.096} PE 319.100} RC1 PT seguidamente pronunciar-se sobre o Acordo entre a União Europeia e o Chile; 7. Congratula-se com o fracasso do golpe de Estado na Venezuela, e felicita a rápida reacção de condenação por parte do Grupo do Rio, mas critica vivamente o comunicado da Presidência do Conselho Europeu, emitido inclusivamente mesmo antes do juramento do líder do golpe na Venezuela, aceitando de facto o governo golpista, e solicita uma explicação das razões de tal comportamento inaceitável por parte da Presidência; 8. Solicita à União Europeia que exprima um apoio inequívoco às instituições democráticas da Venezuela e apoie os esforços que o Governo deste país leva a cabo para reduzir as desigualdades sociais e a pobreza; 9. Reitera a sua rejeição expressa face ao Plano Colômbia e o seu alargamento através da Iniciativa Regional Andina; e solicita à União Europeia que persista na sua posição de procurar uma solução negociada e pacífica para o conflito armado na Colômbia e na região andina, insistindo sobre a importância da luta contra a impunidade das violações dos direitos humanos e sobre a importância das reformas sociais, em particular da reforma agrária; 10. Solicita à União Europeia que intensifique a sua luta contra o tráfico de droga, com base numa oferta de verdadeiras alternativas económicas aos pequenos agricultores e reforçando a luta contra o branqueamento e os paraísos fiscais; 11. Solicita à União Europeia que negoceie um vasto programa de apoio económico e social à Argentina, acompanhado da negociação da redução da dívida externa a nível bilateral e no âmbito dos organismos multilaterais; 12. Solicita à União Europeia e à América Latina que intensifiquem a sua cooperação para que os responsáveis pelas crises económicas e pela falência do Estado, como no caso da Argentina, tenham de prestar contas, eventualmente perante a justiça; 13. Regozija-se com o facto de a União Europeia e os países da América Latina e das Caraíbas terem reafirmado a sua oposição às leis extra-territoriais adoptadas pelos Estados Unidos; 14. Solicita à União Europeia que intensifique o seu diálogo político com Cuba e assine um acordo de cooperação com este país; 15. Insiste para que a tónica seja colocada nos direitos das minorias índias e negras da região; solicita nomeadamente que o Governo mexicano siga as recomendações da Comissão de Concórdia e de Pacificação (COCOPA) no que respeita aos direitos indígenas no México; 16. Insiste na necessidade de rever os acordos birregionais em vigor, em particular o Acordo com o México, para que sejam tomadas em conta as assimetrias económicas existentes, se concretize a cláusula referente aos direitos humanos e se permita o controlo parlamentar e a consulta dos cidadãos, e solicita que a cláusula dos direitos humanos, enquanto elemento obrigatório, seja revista para permitir a participação dos Parlamentos e para que as organizações da sociedade civil de interesse público de ambas as regiões sejam associadas ao controlo e seguimento desta cláusula; 17. Solicita uma revisão das modalidades e dos envelopes orçamentais dos acordos de RC\470226PT.doc PT PE 319.096} PE 319.100} RC1 cooperação, para que ao tema da luta contra a impunidade e a crescente militarização seja dado um lugar preferencial, em estreita cooperação com a Nações Unidas e as sua agencias nos respectivos países, em particular no que respeita à Colômbia; 18. Solicita que o Parlamento Europeu seja devidamente informado, no âmbito de todos os processos de acordo com os países da América Latina, designadamente, dos estudos sobre o respectivo impacto sobre o desenvolvimento sustentável e as desigualdades sociais, e que lhe seja restituído protagonismo no controlo da aplicação desses acordos; solicita ainda que as próprias organizações sociais possam escolher os representantes a enviar às instâncias de controlo desses acordos; 19. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução ao Conselho, à Comissão e aos Governos de todos os países que participaram na Cimeira de Madrid. RC\470226PT.doc PE 319.096} PE 319.100} RC1 PT