Capítulo 3 Maria da Glória Gimenes Maria Margarida M. J de Carvalho - Magui Vicente Augusto de Carvalho Quando uma história é escrita, quase sempre são cometidas injustiças, algumas vezes por esquecimento de nomes e fatos e outras por desconhecimento de que em diferentes lugares algumas pessoas estavam fazendo o mesmo que outras. Por toda a história da humanidade, temos relatos de pensamentos, descobertas, inventos ocorrendo simultaneamente em diferentes partes do mundo, sem que uns soubessem da existência dos outros. E, ainda, em outras vezes, o historiador tem uma posição tomada por valores e crenças pessoais e intencionalmente omite ou distorce os dados da história. Assim, nós os autores desse capítulo, profissionais já há longo tempo na área da psico-oncologia, quando convidados a fazer parte desse livro, aceitamos contar o que sabemos, sem a pretensão de esgotar o assunto. Certamente alguém, de alguma cidade, em algum Estado, poderá se sentir excluído. Desde já, assumimos o nosso desconhecimento de toda a realidade brasileira e o nosso possível esquecimento de alguns dados, mas afirmamos a nossa atitude isenta de parcialidade ou preconceito. Queremos aqui apenas contar como ocorreram os episódios nos quais participamos e relatar informações das quais dispomos. Sabemos que somos parte de um grupo de pioneiros e acreditamos que outros pioneiros também tenham suas histórias para contar. Esperamos que em algum momento todos estes relatos possam ser reunidos através de um trabalho de pesquisa histórica e fornecer um panorama completo da psicooncologia no Brasil. Nossa proposta é oferecer ao leitor colega ou iniciante na área, ou mesmo ao leitor apenas curioso, um pouco da nossa história através da nossa memória. Somos observadores participantes e o nosso objeto d.e reflexão nesse texto está impregnado pelo nosso envolvimento afetivo com a psico-oncologia. Segundo Eclea Bosi (1979), a memória pessoal é sempre também a memória social e grupal e os modos de ser do indivíduo refletem a sua cultura. Assim, Psicologia da Saúde somos portadores de informações de um passado recente que norteia nossa percepção, nossa atividade e esclarece o nosso presente. E acreditamos na importância de compartilhar. Ainda, segundo Bosi, à p. 336. "(...) as lembranças grupais se apoiam umas nas outras, formando um sistema que subsiste enquanto puder sobreviver a memória grupaI. Se por acaso esquecermos, não basta que os outros testemunhem o que vivemos. É preciso mais: é preciso estar sempre confrontando, comunicando e recebendo impressões para que nossas lembranças ganhem consistência." Dividimos nosso texto em três partes: A história dos congressos de psico-oncologia e da criação da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. A história dos serviços particulares de atendimento psicossocial ao paciente e seus familiares. c. A formação em psico-oncologia no Brasil. Algumas informações são específicas, outras aparecem entrelaçadas em todas as partes, formando o conjunto de uma área única de estudo e trabalho. a. b. 3.1 o Começo da Psico-Oncologia Segundo Holland (1990), até o início do século XX, o diagnóstico de câncer era uma sentença de morte e levava o doente à estigmatização,-aCLisolamento e à humilhação. Os tumores provocavam dores, deformações e secreções malcheirosas, levando ao medo do contágio. A falta de conhecimento das causas e a visibilidade do câncer de mama e dos órgãos genitais levavam à comparação com os efeitos de doenças venéreas e à conclusão errônea da transmissão sexual, provocando vergonha e culpa, além do sofrimento inerente à própria doença. Sontag (1984) mostrou como a palavra câncer foi usada como metáfora para condições sociais de destruição inexorável. O medo, a destruição física, a auto-imagem danificada, a perda da função sexual e tantos outros aspectos negativos levavam a uma desestruturação da personalidade. No início desse século, a introdução da anestesia abriu caminho para as primeiras cirurgias de remoção de tumores, permitindo algumas curas de câncer, caso este estivesse no começo e sem ramificações. Nesse momento, passou a ser importante a educação do público para a possibilidade de cura, desde que o diagnóstico fosse realizado no estágio inicial da doença. E começav~ também a ser modificada a visão negativa em relação ao câncer. Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil 49 Um melhor conhecimento das causas da doença e de seus processos, o desenvolvimento das cirurgias, da radioterapia, da quimioterapia, da hormonoterapia, da imunoterapia e outros avanços da Medicina no combate ao câncer, bem como o progresso da psiquiatria e da psicologia no auxílio aos aspectos psicossociais envolvidos na doença têm mudado significativamente o panorama do câncer. Hoje, a palavra câncer é utilizada para descrever um grupo de doenças que se caracterizam pela anormalidade das células e pela sua divisão excessiva. Sabe-se que existe uma grande variedade de tipos de câncer provavelmente com uma etiologia multifatorial. Para que a doença se manifeste, parece ser necessária uma operação conjunta de vários fatores, tais como: a predisposição genética, a exposição a fatores ambientais de risco, determinados vírus, algumas substâncias alimentícias e outros. Acredita-se também na possibilidade de contribuições psicológicas no crescimento do câncer. Inúmeros pesquisadores vêm estudando possíveis efeitos de estados emocionais na modificação hormonal e desta na alteração do sistema imunológico (Bovbjerg, 1990). O progresso da Medicina, a mudança na opinião pública, o desenvolvimento dos conhecimentos e das técnicas de intervenção psicológicas nos últimos 50 anos e, em especial, nos últimos 20 anos, levaram ao surgimento da área de interface denominada psico-oncologia, a qual busca estudar, segundo Holland, as duas dimensões psicológicas do câncer: a. O impacto do câncer na função psicológica do paciente, na sua família e nos profissionais de saúde que o cuidam. O papel que as variáveis psicológicas e comportamentais possam ter no risco do câncer e na sobrevivência a este. b. Através do modelo dos serviços de psico-oncologia existentes nos Estados Unidos e em outros países, surgiram no Brasil os primeiros esforços nesse sentido. 3.2 A História dos Congressos de Psico-Oncologia e a Criação da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) ti' O destaque dado à importância da identificação de fatores psicossociais envolvidos na prevenção do câncer, na reabilitação e na qualidade de vida em sua fase final exigiam a sistematização de um corpo de conhecimento - o da psico-oncologia - que pudesse oferecer subsídios tanto à assistência integral do paciente oncológico e de sua família como também à formação de profissi 50 Psicologia do Saúde onais da área de saúde envolvidos com o tratamento oncológic:o (Gimenes, 1994 ). Além disso, era essencial que se formulasse uma definição de psicooncologia compatível com as características de nossa cultura e do sistema de saúde, para que orientasse o delineamento dos focos de pesquisa e intervenção dessa área, até então ainda emergente em nosso país. Tornou-se, portanto, imprescindível a reunião de profissionais da área de saúde envolvidos com os diferentes níveis de intervenção e realizados em diversos contextos onde a prevenção e o tratamento do câncer ocorriam. Assim, era importante dar voz tanto aos psicólogos que ofereciam atendimento em seus consultórios particulares ou em grupos específicos - como o Centro Alfa, Cora e Re- Vida, cujas características serão detalhadas a seguir -, como também aos profissionais que trabalhavam em hospitais públicos, particulares e universitários. Estes últimos acrescentaram uma particularidade importante à prática da psico-oncologia, uma vez que, introduzindo o desenvolvimento de pesquisas aliadas à prática, contribuíram para o esclarecimento das relações dos aspectos psicossociais e o câncer, considerando sua etiologia e seu desenvolvimento. Em 1989, o dr. Luiz Pedro Pizzatto presidiu, em Curitiba, a realização do I Encontro Brasileiro de Psico-Oncologia, que reuniu aproximadamente 150 pessoas, entre elas profissionais e estudantes da área da saúde e outros, envolvidos com a atenção ao paciente oncológico e sua família. Uma análise da programação deste evento já apontou para alguns temas que deveriam ser considerados na área, tais como: a multidisplinaridade, a etiologia e os aspectos psicossociais de diferentes tipos de câncer (Pizzatto, 1989). Foi inegável a contribuição do I Encontro para introduzir a psico-oncologia no Brasil como ampla área de estudo e intervenção a ser organizada a partir da experiência da atuação e da pesquisa realizada por profissionais da área de saúde com formações distintas; participaram, portanto, profissionais e professores universitários de diversas partes do País. A discussão acerca da lacuna existente entre formação e prática já surgiu nesse Encontro. Nenhuma disciplina específica que abordasse os aspectos psicossociais do câncer era ministrada nos cursos de graduação. Em pouquíssimas universidades, algumas informações eram transmitidas no transcorrer dos semestres, quando eram oferecidas disciplinas como: Psicologia da Saúde, Psicologia Hospitalar e Psicologia da Reabilitação. o próprio nome psico-oncologia não era amplamente usado no País para referir-se ao estudo e à intervenção psicossocial em oncologia até a realização dos dois primeiros Encontros. Psicologia da Saúde foram consideradas, a saber: manter o nome psico-oncologia, como vinha sendo usado nos Estados Unidos, adotado inclusive pela dra. Jimmie Holland, fundadora da lnternational Psycho-Oncology Society (IPOS), ou adotar o nome psicologia oncológica, como vem sendo usado em vários países da Europa. O professor-doutor Ramon Bayés, da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos convidados internacionais do U Encontro, sempre usou o termo psicologia oncológica, preferiu esta denominação para referir-se à aplicação de princípios psicológicos à oncologia. É importante esclarecer que as duas denominações contemplam a possibilidade da utilização de princípios psicológicos por toda a equipe multidisciplinar. Por outro lado, tanto os profissionais que optaram por adotar o termo psico-oncologia quanto os que adotaram psicologia oncológica defendem a posição que a realização de terapias psicológicas deveria ser somente de responsabilidade de psicólogos e de psiquiatras comprovadamente capacitados para conduzirem processos psicoterápicos. Na prática, não seriam diferentes os motivos que levaram alguns estudiosos a adotarem um termo em detrimento do outro. O segundo fato importante diz respeito à discussão sobre a fundação da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia (SBPO). Após longos debates realizados em assembléia-geral, ficou decidido que este ato deveria ser adiado até o lU Encontro, porque foi considerada prematura tal fundação. Era ainda preciso difundir mais a psicooncologia, como também definir os princípios que norteariam o funcionamento da SBPO. b. o lU Encontro Brasileiro foi realizado em 1994, mantendo a tradição de eventos bienais, sob a presidência da professora-doutora Maria Júlia Kovács. Dado ao interesse gerado nos dois primeiros Encontros e ao reconhecimento da importância dos mesmos, o lU Encontro, como aconteceu no I e no U, dobrou o número de participantes. . A inscrição de 450 pessoas justificou sua divulgação como lU Encontro e I Congresso de PsicoOncologia. A partir de então, os eventos subseqüentes deveriam manter tanto o termo Encontro como Congresso com seus respectivos números. Durante a preparação desse Congresso, o comitê organizador, acreditando ser necessário divulgar melhor a psico-oncologia para atrair um maior número de participantes, acreditou que a realização de conferências, entrevistas na mídia e cursos seria muito importante. Assim, a professora-doutora Maria Margarida M. J. de Carvalho criou, em 1993, o curso de Psico-Oncologia, Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil em nível de extensão, no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Este curso seria posteriormente transformado em curso de especialização e o seu detaIhamento será apresentado a seguir. Uma particularidade importante que ocorreu ainda durante a preparação desse evento foi a produção do livro Introdução à Psico-Oncologia, organizado pela professora doutora Maria Margarida M. J. de Carvalho (1994). O conteúdo de cada um dos capítulos escritos por profissionais já experientes na área refletia os assuntos abordados no curso de extensão. Este livro, lançado em 1994 durante o Congresso, representou a primeira referência em língua portuguesa que abordava temas centrais em psicooncologia e que estava disponível a todos os interessados na área. Tornou-se, então, importante a apresentação de uma definição formal de psico-oncologia para que esta pudesse ser o ponto de partida para orientar seu campo de estudo e intervenção de forma sistematizada. Tomando por base a análise dos conteúdos apresentados nos dois primeiros Encontros Brasileiros mencionados (Gimenes, 1993; Pizzatto, 1989), foi proposta pela professora-doutora Maria da Glória Gimenes (1994, pp. 46 e 47) a seguinte definição: "A Psico-Oncologia representa a área de interface entre a Psicologia e a Oncologia e utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico provenientes da Psicologia da Saúde para aplicá-Io: 1° na assistência ao paciente oncológico, à sua família a aos profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença; 2° na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer; na organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral ao paciente (físico e psicológico), enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais de Saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamen 3° to." Em síntese, a Comissão Organizadora do lU Encontro e I Congresso, preocupada em divulgá-lo, acabou por realizar uma série de ações importantes, ou seja, a criação do primeiro curso de psico-oncologia no País, onde, entre outros temas, apresentou pela primeira vez uma definição da área. Portanto, a preparação desse evento por si só já acarretou um grande benefício para o desenvolvimento da área no Brasil. 53 54 Psicologio da Saúde No transcorrer desse III Encontro e I Congresso ocorreu a fundação da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia e a escolha, em assembléia-geral, de sua diretoria. A dra. Maria Teresa Barreto de Botelho Monteiro, médica hematologista de Aracaju, também uma das pioneiras da área no País, foi eleita a primeira presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, criada com os seguintes objetivos: propor diretrizes da área, agregar profissionais comprometidos com o atendimento ao paciente oncológico, sua família e equipe envolvida com o seu tratamento e promover pesquisas e aperfeiçoamento técnico-científico de seus associados. Além disso, foi também decidido em assembléia-geral que o IV Encontro e II Congresso seria organizado em 1996 na cidade de Salvador e teria como sua presidente a psicóloga Aida Gláucia Baruch. Em Salvador, 600 profissionais e alunos da área da saúde participaram do evento que inovou introduzindo um curso sobre câncer para leigos. Participaram desse curso 600 pessoas da comunidade geral, buscando informações sobre o câncer, sua detecção e tratamentos, bem como sobre os seus aspectos . . . pSICOSSOCtaIS. o IV Encontro e II Congresso não só reuniu um grande número de participantes e manteve o alto nível científico dos Encontros anteriores, mas inovou, mais uma vez, ao proporcionar a todos a possibilidade real de integração entre trabalho e lazer. A descontração vivenciada pelos participantes foi possível em função da programação artística especialmente preparada pela comissão organizadora. Esta vivência comprovou a importância e viabilidade da equipe de cuidar de SI mesma. Durante a assembléia-geral foi eleito o próximo presidente da SBPO, o psicólogo Paulo Y. Cyrillo, iniciando, portanto, a segunda gestão da Sociedade. O evento seguinte, o V Encontro e III Congresso Brasileiro de PsicoOncologia, foi realizado em 1998, na cidade de Goiânia, tendo como sua presidente a psicóloga Edirrah Gorett Bucar Soares. A expansão e a consolidação da psico-oncologia no Brasil podem ser identificadas nesse evento considerando o seu número de participantes e o nível de sua programação científica. Em Goiânia, pôde ser observado que temas centrais da psico-oncologia foram abordados nos simpósios e mesas-redondas, com muito mais detalhamento e puderam ser fundamentados com o maior número de dados, o que demonstrou que o conhecimento da área, de fato, cresceu desde 1989, data do I Encontro. A inclusão de um fórum de ex-pacientes oncológicos apresentando sua trajetória de luta contra o câncer e relatando suas experiências com o diagnós Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil tico, tratamentos e reabilitações física e psicossocial foi muito emocionante. Assim, permitiu que os profissionais de Saúde ali presentes não tivessem somente a compreensão intelectual da doença e suas conseqüências, mas também entrassem profundamente em contato com a experiência dos pacientes cuidados por eles. Este V Encontro e II Congresso também abriu espaço para o tema espiritual idade e câncer, que já vinha emergindo na área e precisava ser abordado ampla e criteriosamente num evento nacional. Em assembléia-geral realizada em Goiânia, seguindo a tradição de eleger a próxima diretoria da SBPO a cada dois anos, durante os congressos brasileiros, foi eleita a chapa tendo como presidente a professora-doutora Maria da Glória G. Gimenes. Simultaneamente, foi decidido que o próximo evento nacional - O VI Encontro e IV Congresso - seria no ano 2000, na cidade de Gramado, Rio Grande do Sul e presidido pela enfermeira Eliane Rabin. Posteriormente, em reunião da diretoria da SBPO, ficou decidido que a denominação "Encontro", com o respectivo número, precedendo a especificação do número do Congresso, deveria ser omitida. Para demonstrar a contribuição e a importância de todos os eventos para o desenvolvimento da psicooncologia no País, como também a continuidade da realização dos mesmos desde 1989, optou-se por adotar a denominação "Congresso" para todos. Portanto, considerando o I Encontro (Curitiba) e o II Encontro (Brasília) também como congressos, por terem marcado o início do movimento psico-oncológico no País e não podendo, assim, reunir um grande número de participantes como os demais, decidiu-se que o evento no ano 2000 já seria divulgado como VI Congresso Brasileiro de Psico-Oncologia. 3.3 Serviços Particulares de Atendimento Psicossocial ao Paciente com Câncer Os serviços particulares de atendimento psicossocial ao paciente com câncer e seus familiares, não vinculados a instituições, começaram na cidade de São Paulo, com a criação do Centro Alfa, em 1984, por um grupo de profissionais da área de saúde liderados pela psicóloga M. Margarida M. J. de Carvalho. Este trabalho teve origem no conhecimento adquirido por esta em Menlo Park, na Califórnia, no Cancer Support and Education Center, dirigido por Maggie Creighton e seu marido James Creighton e inspirado no programa Simonton. O Cancer Support and Education Center, por sua vez, foi criado sob os auspícios do Health Education Programs e é uma organização sem fins lucra 55 Psicologia da Saúde tivos, fundada em 1982, e representa a continuidade de um trabalho anterior, também de Maggie Creighton, denominado Cancer Self Help Education Program, de 1976. O Conselho Administrativo do CSEC é formado por médicos, psicólogos e religiosos, fazendo parte do primeiro grupo de conselheiros, expressivo, como Virgínia Satir e Kenneth Pelletier. E o programa desenvolvido por M. Creighton foi elaborado a partir das idéias do casal Simonton - ele médico e ela psicóloga -, que organizou um programa grupal pioneiro em 1969, no Cancer Counseling and Research Center, em Forth Worth, Dalas, no qual M. Creighton foi consultora. O Programa Simonton visa ajudar o paciente com câncer a lidar com suas emoções, identificar suas necessidades existenciais, expressar seus sentimentos, comunicar-se e ter uma atitude ativa e participativa em relação à sua enfermidade, ou seja, levar à melhor forma de enfrentamento do câncer, permitindo uma boa qualidade de vida. Segundo várias pesquisas, comparando com pacientes que não participaram do Programa, estes pacientes tiveram uma sobrevida mais longa e, em conjunto com o tratamento médico, foram registrados surpreendentes casos de cura, mostrando a importância da relação mente-corpo. Para organizar este Programa, o casal Simonton buscou técnicas psicológicas que pudessem vir a complementar os tratamentos médicos. As técnicas de relaxamento e visualização formam um instrumental básico, enquanto as sessões são temáticas, buscando levar o grupo a discutir tópicos de importância na sua problemática, tais como: ganhos secundários da doença, ressentimentos, objetivos para o futuro, relacionamento com familiares, recidivas, a morte e o morrer e outros. Na dinâmica grupal, participam familiares dos pacientes, com o propósito de ajudá-Ios e de ajudar o relacionamento familiar, transtornado pela presença da enfermidade. O tempo de duração do Programa. é de nove semanas ou nove dias consecutivos (formas extensiva e intensiva). Na forma extensiva, o grupo reúne-se uma vez por semana e todas as sessões começam às 9 horas da manhã e terminam às 18 horas. O grupo é dirigido por um coordenador e um coordenador auxiliar, psicólogos ou psiquiatras e monitores, que são ex-pacientes do Programa, treinados posteriormente para trabalhar junto aos novos pacientes. A participação no Programa Simonton, a leitura do livro escrito por eles - CarI e Stephanie Simonton -, com a colaboração de James Creighton, denominado Getting well again (1978), a leitura de uma bibliografia complementar, em especial os livros de Lawrence Le Shan, levaram M. Margarida a proferir uma série de palestras, a dirigir grupos de estudo e a iniciar um treinamento junto aos profissionais de saúde interessados em efetuar um atendimento psicossocial ao paciente de câncer. Estes profissionais, na sua maioria, Um Pouco do História da Psico-Oncologia no Brasil 57 haviam tido um contato prévio com o câncer, pelo surgimento da doença na família ou em si próprios. Impressionados todos com a importância e a eficiência do Programa Simonton e a fim de compartilhar de informações e interesses, foi lhes surgindo a idéia da formação de um grupo de trabalho, com a colaboração especial de M. Maura Camargo, psicóloga com grande força de vida e de luta. O grupo acabou por se organizar e recebeu o nome de "Centro Alfa"; iniciou-se a elaboração de estatutos, a definição de funções e o atendimento aos pacientes, familiares e profissionais de saúde, estes para informações e treinamento, em 1984. O trabalho ocorria no espaço cedido de um consultório particular. Não havia na época uma infra-estrutura que permitisse a formação de um arquivo de dados dos treinamentos de profissionais e dos atendimentos efetuados, o que impossibilita a reconstituição exata de nomes e números, no período de trabalho ocorrido entre os anos de 1984 a 1986. Em 1987, através do convite feito a um de seus diretores, Edmundo Barbosa, e por ele estendido a todo o corpo técnico do Centro Alfa, este grupo juntou-se ao Centro Oncológico de Recuperação e Apoio (Cora), sociedade civil sem fins lucrativos e de âmbito nacional. As dificuldades estruturais e econômicas do Centro Alfa, por um lado, e a idéia de congregar esforços com o Cora, por outro, levaram a um trabalho conjunto subordinado ao Cora. O Cora havia tido início em uma reunião no dia 29 de maio de 1986, na sede do Centro de Pesquisa de Oncologia, cedida pelo dr. Sampaio Goes, então presidente dessa entidade. A iniciativa partiu de um grupo liderado por Edith Elek, jornalista, e Egydio Bianchi, engenheiro, e formado na sua maioria por pacientes e expacientes de câncer e amigos interessados, incentivados nessa iniciativa pelo dr. Sérgio Simon, oncologista. A sua criação contou com a participação do psicólogo Paulo L Cyrillo, que já trabalhava naquela época em instituições ligadas ao câncer, no apoio psicossocial ao paciente. Nessa reunião, foram comentadas as necessidades específicas do paciente oncológico e a importância das divulgações corretas sobre tratamentos e demais informações de valor. E foi proposta a criação de uma associação que atendesse essas finalidades. O estatuto inicial do Cora elaborado então passou a fornecer a base para o estatuto definitivo. A partir de 1987, unindo forças, o Cora levou em frente a idéia de um atendimento psicossocial a seus próprios membros e à população de pacientes com câncer e seus familiares. Com a intenção de aprimorar e aprofundar o conhecimento do Programa Simonton, estabeleceu um convênio com o Cancer Support and Education Center, trazendo Maggie Creighton a São Paulo. O treinamento dado por esta aos profissionais de saúde, pacientes e ex-pacientes da nova equipe do Cora oficializou esta instituição como representante no Brasil da instituição norte-americana. 58 Psicologia da Saúde o Cora passou então a desenvolver um trabalho amplo, abrangendo, segundo Vicente A. de Carvalho (1992), um de seus diretores técnicos, as seguintes atividades: ~Divulgação e esclarecimento da opinião pública a respeito do câncer, tendo participado da tradução e edição no Brasil do livro dos Simonton, aqui denominado Com a vida de novo. ~Promoção de reuniões abertas, semanais para atender a todos aqueles que queriam alguma ajuda ou informação sobre o câncer, o próprio Cora, os tratamentos e demais dados relacionados ao tema da doença. Estas são também reuniões de apoio mútuo, onde pacientes encontram-se com expacientes recebendo acolhida para a expressão de suas emoções. Estas reuniões foram criadas e são coordenadas por M. Maura Camargo. Elaboração, pelo corpo de voluntários, de um cadastro de serviços de atendimento na área da oncologia para encaminhamentos solicitados. ~~Treinamento a profissionais da área de saúde. Realização do Programa Simonton, na modalidade desenvolvida no Câncer Support and Education Center e denominado no Cora de Programa Avançado de Auto-Ajuda. :> o Cora vem lutando desde a sua formação com algumas dificuldades: Desconhecimento do público em geral em relação às possibilidades de intervenção psicossocial como auxílio ao paciente de câncer. ~Falta de verbas para manutenção, levando a dificuldades econômicas. Desconhecimento dos oncologistas e, muitas vezes, desconfiança, pensando tratar-se de um programa alternativo de saúde. Na verdade, o Programa Simonton visa complementar e não substituir os tratamentos médicos. ~Um fato importante e significativo a ser registrado na história do Cora é a origem da sua sede própria. Terese Tellegen, psicóloga, desenvolveu um câncer e procurou o Cora, onde participou do Programa Simonton. Ao término deste, tendo se dado conta do valor deste tipo de auxílio ao paciente oncológico, decidiu passar a ser uma monitora do Programa. Seu estado físico, em função do estágio já avançado de sua enfermidade, não permitiu que ela realizasse seu intento, mas ela deu uma colaboração efetiva deixando após sua morte, em seu testamento, a casa onde morava para o Cora. A formalização da entrega do imóvel deu-se no dia 18 de abril de 1991, marcando o início de uma fase de maior estabilidade e segurança para esta instituição. Em 1989, o corpo técnico do Cora subdividiu-se e se formou também em São Paulo o Re- Vida - Grupo de Apoio Psicoterápico para pacientes de Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil 59 câncer, o qual surgiu em função da formação profissional de seus integrantes, da prática com grupos congêneres e/ou de suas vivências pessoais com a doença. Assim como o Programa Simonton, seu programa de trabalho parte do princípio de que os tratamentos médicos convencionais concentram-se nos aspectos físicos, enquanto os fatores emocionais afetados pela doença são muitas vezes negligenciados, precisando, portanto, ser levados em conta. O paciente passa por uma sessão semanal, durante quatro meses, onde é encorajado a mobilizar suas forças internas para participar ativamente de seu tratamento e possível recuperação. O programa do Re- Vida segue uma dinâmica específica, baseada na soma de diferentes abordagens, como, por exemplo, a do Programa Intensivo do "Commonveal Câncer Help Retreat" do Institute for Study of Health and Ilness, da Califórnia. O resultado é uma terapia que oferece apoio nos momentos difíceis, ao mesmo tempo que prepara seus participantes para mudanças e transformações profundas. Com o desenvolvimento e a divulgação destes primeiros centros de atendimento psicossocial teve início um movimento de expansão. Pacientes e profissionais de saúde de outros Estados interessados em participar dos grupos vinham a São Paulo, ou mandavam convites para que palestras e treinamentos fossem realizados em suas cidades. Assim, foram surgindo diversos núcleos estruturados de atendimento, como, por exemplo, em Recife, Salvador, Belo Horizonte, Goiânia e Porto Alegre. Estes grupos surgiram sob a inspiração inicial do Programa Simonton, mas foram sofrendo adaptações para atender as necessidades dos pacientes de cada região, bem como para aproveitar os recursos de suas equipes de trabalhos. O livro Resgatando o viver: Psico-Oncologia no Brasil, de Maria Margarida M. J. de Carvalho (1998), que buscou mostrar, através de alguns exemplos, o que se está fazendo no nosso país quanto a atendimentos hospitalares e particulares, pesquisas e cursos em psico-oncologia, traz dois relatos pormenorizados da implantação e funcionamento dos trabalhos por dois ex-pacientes de câncer. O médico Eurico T. Macedo e a enfermeira Edna Bispo, que passaram pela experiência inicial do Programa Simonton e sentiram os benefícios desse processo, quanto a um melhor enfrentamento da doença e melhor qualidade de vida, decidiram implantáIo em suas cidades de origem. Ambos eram, naquele momento, um exemplo de que o câncer não é necessariamente uma sentença de morte; ao contrário, ele pode ser o início de uma nova vida, muito mais plena, significativa e harmoniosa, seja pelo tempo que a vida durar. Paralelamente aos programas inspirados em Simonton, surgiram outros atendimentos às necessidades psicológicas decorrentes do diagnóstico de câncer, que tão freqüentemente provoca um grande abalo emocional. A sensibilidade da médica Maria Teresa Barreto de Botelho Monteiro levou-a a organi 60 Psicologia da Saúde zar um grupo de atendimento psicossocial na Fundação São Lucas, em Aracaju, Sergipe, em 1987, composto por uma assistente social, uma psicóloga e uma educadora; utilizando técnicas de aconselhamento psicológico, relaxamento e visualização, entre outras, buscou atingir o objetivo de desmistificar o câncer como doença mortal, mostrar a importância da relação corpo-mente, ajudar os pacientes a lidarem com os efeitos colaterais dos tratamentos e a levar a pessoa a utilizar a crise como forma de crescimento pessoal. Seu trabalho pioneiro no Nordeste teve grande importância e influência no desenvolvimento da psico-oncologia no Brasil. Acreditamos que, assim como Maria Teresa, outros médicos por este vasto país tenham se dado conta dos componentes psicológicos presentes no processo da doença. Atualmente, muitas pesquisas mostram: :> a presença, entre outras causas, de distúrbios emocionais predispondo ao câncer; :> o peso negativo da presença destes distúrbios durante a enfermidade; a diferença na recuperação e nos casos de sobrevida longa, e mesmo cura, quando o psicológico é valorizado e cuidado. :> Esta realidade, com certeza, tem levado muitos outros profissionais da área de saúde a tratarem os seus pacientes como pessoas na sua integridade e não apenas como partes enfermas. Mas infelizmente, não dispomos de informações quanto a outros serviços organizados e estruturados de psico-oncologia. 3.4 A Formação em Psico-Oncologia no Brasil Gradualmente, ficava clara a necessidade de uma formação ampla e abrangente de profissionais de saúde mental que atendessem à crescente demanda de acompanhamento psicológico dos pacientes de câncer, suas famílias e também dos profissionais de saúde envolvidos nos tratamentos destes doentes. Caracterizou-se a necessidade de uma formação mais abrangente, que possibilitasse ao profissional de saúde mental não só o domínio de técnicas, como também a possibilidade de reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos neste tipo de atendimento, compreendidas aqui as particularidades médicas, psicológicas, éticas, etc. Assim, em 1993, realizou-se no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, o nosso primeiro curso de psico-oncologia, organizado e coordenado pela professora-doutora Maria Margarida M. J. de Carvalho. Era um curso de Expansão Cultural com a duração de seis meses. Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil 61 o curso de então forneceu o material para o livro Introdução à Psicaancalagia, também coordenado pela professora-doutora Maria Margarida de Carvalho (1994). O sucesso desta primeira experiência nos animou a manter o curso. Nesse momento, a coordenação passou a ser feita pelo dr. Vicente A. de Carvalho, que optou por transformá-Io em um curso a ser dado pelo período de um ano e contou com a participação da dra. Maria Margarida. Foi possível, assim, aprofundar os assuntos abordados e acrescentar outros tópicos que nos pareciam importantes. Estes três anos de experiência apontaram-nos a possibilidade e necessidade de ampliarmos mais uma vez o curso. O dr. Vicente A. de Carvalho, ao perceber que o momento já era oportuno para a criação de um curso de especialização, visto que o crescimento científico acumulado na área permitia que esse passo fosse dado, propôs à dra. Maria Margarida de Carvalho que fosse elaborado um plano para realização de um curso com tal característica. Planejamos, então, um curso com dois anos de duração e 360 horas/aula, conforme regras estabeleci das pelo Ministério de Educação e Cultura para cursos de pós-graduação lato sensu. Ficara clara a necessidade de formação e informação de profissionais de saúde para atuarem em psicooncologia. Parecia-nos importante considerar as características das diferentes etapas da trajetória do câncer, ou seja, desde a sua prevenção até a reabilitação do paciente ou a fase terminal da doença e morte, levando-se em conta a especificidade da área. Tal projeto tinha por fim capacitar estes profissionais a lidarem com a família e a atuarem enquanto membros de uma equipe multidisciplinar. Assim sendo, pareceu-nos adequado que as informações teórica e prática deveriam contemplar diferentes modelos de intervenção que permitissem uma atuação eficiente. A nosso ver, ela compreende: ~ fornecer uma visão geral de várias teorias e técnicas psicológicas que podem ser utilizadas na prática de psico-oncologia. No entanto, tal informação não autoriza o profissional a atuar como psicoterapeuta, exceto psicólogos e psiquiatras que já tenham comprovada formação para isso; ~fornecer fundamentação que capacite os profissionais para compreender estratégias de pesquisa; avaliar a implicação de estudos na área para sua prática profissional; ~fornecer subsídios teóricos para atuação do profissional em equipe multi e interdisciplinar. A formação implica no desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre informações, crenças e atitudes do profissional que vão influenciar diretamente o sucesso de sua atuação. Ela abrange: ~ 62 Psicologia da Saúde :> percepção do estigma que envolve o câncer; significado da experiência pessoal com o câncer; percepção da especificidade do câncer e do paciente com câncer; percepção e compreensão do mundo interno do outro; habilidade de comunicação; habilidade de se tornar continente do sofrimento do outro sem se distan ciar do contexto de sua atuação profissional; limites de sua atuação profissional; habilidade de lidar com suas próprias frustrações; habilidade de lidar com dor, sofrimento e morte, mantendo permanente a disponibilidade de atender ao outro; reflexão sobre aspectos éticos; reflexo sobre parâmetros de avaliação de sucesso de intervenção, tendo em vista a qualidade de vida do outro e o cumprimento dos valores éticos. :> :> :> :> :> :> :> :> :> :> E os objetivos centrais são: :> oferecer aos profissionais de saúde uma fundamentação teórico conceitual para o preparo da compreensão de estratégias de pesquisa relevantes para a área; :> capacitar estes profissionais para a avaliação das implicações dos resulta dos desses estudos e para a integração destes na sua prática profissional. Já no final de 1998, foi publicada uma Portaria do Ministério da Saúde que mostrava estarmos em sintonia com as necessidades do País, reconhecidas também pelo governo federal. A Portaria a que nos referimos é a de n° 3.535 do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União de 14/10/98 e que determina a presença obrigatória de profissionais especialistas em Psicologia Clínica nos serviços de suporte como um dos critérios de cadastramento de centros de atendimento em oncologiajunto aos SUS. Em 1997, a professora-doutora Maria Margarida de Carvalho apresentou no Congresso Internacional de Psicossomática, realizado na Austrália, nosso projeto de Curso de Especialização em Psico-Oncologia. Este trabalho despertou bastante interesse e suscitou debates enriquecedores. Iniciamos o nosso curso de Especialização no ano de 1998 no mesmo Instituto Sedes Sapientiae. Tínhamos vagas para 30 alunos. O curso foi planejado para que houvesse 270 horas de aulas teóricas e 90 horas de estágios supervisionados, nos quais nossos alunos poderiam de Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil 63 senvolver habilidades no atendimento dos pacientes oncológicos e de suas famílias, além do trabalho junto à própria equipe de saúde. Planejamos também dar ênfase à pesquisa de forma que os alunos pudessem, após dois anos de experiência, estar familiarizados com esta questão. Para atingir estes objetivos, foi necessário aumentar a equipe de professores. Assim nosso pequeno grupo foi enriquecido por três novos coordenadores: a professora-doutora Maria da Glória Gonçalves Gimenes, a professora-doutora Maria Helena Pereira Franco Bromberg e a dra. Marisa Terra do Amaral, esta coordenando a área de Psico-Oncologia Infantil durante o primeiro ano do curso, tendo posteriormente mudado de São Paulo e sido substituída pela dra. Miriam Aidar Ramalho. o programa ficou assim organizado: Primeiro Semestre de 1998 (Primeiro ano) :> Conceitos Básicos de Oncologia Clínica. Modalidades de Tratamentos Médicos em Oncologia. :> :> Teorias Psicológicas Aplicadas à Oncologia. Teorias e Técnicas Psicoterápicas, Individuais e Grupais Aplicadas à Psico Oncologia (visualização, Programa Simonton, etc.). :> :> Dor: Aspectos Médicos e Psicológicos. Pesquisa em Psico-Oncologia. :> :> Segundo Semestre de 1998 Tratamentos Médico e Psicológico da Dor. :> Aspectos Médicos e Psicológicos da Criança com Câncer. Aspectos Psicológicos do Adolescente com Câncer. :> :> Aspectos Psiquiátricos do Paciente com Câncer. Teoria e Prática de Enfrentamento do Paciente Oncológico. :> :> Aspectos Psicossociais da Família do Paciente com Câncer. Viver e Morrer com Dignidade. :> :> Pesquisa em Psico-Oncologia. Supervisão de Pesquisa. :> :> Primeiro Semestre de 1999 (Segundo ano) Conceituação da Psicologia Hospitalar e sua Aplicabilidade em Psico Oncologia. psicologia da Saúde :> Modalidades Especiais de Terapia de Grupo: . grupo informativo; . grupo de relaxamento, etc. Prática do Atendimento Familiar. :> :> Técnicas Especiais no Atendimento do Paciente Oncológico: . escuta ativa; . resolução de problemas; . estratégias de enfrentamento, etc. :> Aspectos Psiquiátricos do Paciente com Câncer II. Teoria e Prática de Enfrentamento do Paciente Oncológico II. :> :> Modalidades de Tratamentos Médicos em Oncologia II: . cIrurgIa; . radioterapia; . quimioterapia; . imunoterapia. :> Cirurgia Plástica Reparadora como Contribuição à Reabilitação. Supervisão de Pesquisa II. :> :> Supervisão de Atendimentos em Psico-Oncologia. :> Segundo Semestre de 1999 Teorias e Técnicas Psicoterápicas Individuais e Grupais Aplicadas à PsicoOncologia II: . Terapia breve: - psicodramática; - psicanalítica; - existencial; - cognitiva; - sistêmica. . Hipnoterapia de Miltop Erickson. . Abordagem fenomenológica. :> Abordagem Transpessoal. Tópicos Especiais em Psico-Oncologia: :> . aspectos genéticos do câncer; Um Pouco do História do Psico-Oncologia no Brasil 6S . aconselhamento genético; . câncer e aids; . voluntariado; . espiritual idade como elemento de qualidade de vida. Multidisciplinaridade em Psico-Oncologia. ~~Cuidados Paliativos. ~Luto. ~Bioética e Direitos do Paciente. ~Supervisão de Pesquisa. Supervisão de Atendimentos em Psico-Oncologia. ~Os estágios têm sido feitos na Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae, no Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho, no Hospital Pérola Byighton e na Casa Hope de Apoio à Criança com Câncer. No entanto, não foi possível nos mantermos dentro das 360 horas inicialmente planejadas. O curso acabou contando com 544 horas/aula. Este aumento significativo da carga horária deveu-se às necessidades surgidas ao longo do curso, de forma que nos vimos obrigados a atender a demanda de mais informação. Já para a segunda turma, o curso tem programadas 544 horas/aula e a duração será de dois anos e meio, isto como forma de atender à necessidade dos estágios. Teremos então dois anos de aulas teóricas e dois anos de estágios, sendo que estes terão início no segundo semestre do primeiro ano do curso. Em 1998, tivemos a oportunidade de apresentar no 4° Congresso Internacional de psico-oncologia, realizado em Hamburgo, Alemanha, a experiência que agora já tínhamos com o nosso Curso de Especialização. Pudemos nesta ocasião debater com colegas de outros países questões ligadas à formação em psico-oncologia, considerando as particularidades da área, tendo em vista, sobretudo, os aspectos existentes em função da multidisciplinaridade. Neste mesmo Congresso, a Sociedade Internacional de Psico-Oncologia (Ipos) deu a público um trabalho no qual sugeria linhas mestras para a formação de profissionais na área. Este trabalho, elaborado por equipe chefiada pela dra. Lea Baider, então presidente da Ipos, apresentava linhas gerais bastante próximas das adotadas por nós e já em prática no Brasil. Em dezembro de 1999 formamos nossa primeira turma de alunos. Na última avaliação, constatamos bons resultados obtidos, o que nos levou a con Psicologia da Saúde siderar atingidos nossos objetivos no que diz respeito à informação e formação. Entretanto, muitos dos depoimentos dos alunos falavam de algo a mais, ou seja, de como o curso foi importante também sob o ponto de vista pessoal, trazendo a possibilidade de desenvolvimento de aspectos pessoais, fato este que não havia sido previsto nem por eles e nem por nós, coordenadores do curso. Tais constatações nos foram muito gratificantes. Frente aos resultados que vimos obtendo, a atual diretoria (1998-2000) da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia decidiu encampar este projeto e ministrá-Io, formatado em módulos pelas várias regiões do Brasil e passando a ser considerado o seu curso oficial. Tal projeto terá por duração 360 horas, sendo que destas, 270 horas compreendem a fundamentação teórica da área, enquanto que 90 horas são destinadas à prática da pesquisa e intervenção junto a pacientes oncológicos. o curso está dividido em módulos, um por mês e apresentados por dois professores-coordenadores pelo período de dois anos. Embora todos sejam responsáveis pelo programa, temas distintos são desenvolvidos e distribuídos por eles, respeitadas suas competências específicas. A prática da pesquisa e de intervenção junto a pacientes oncológicos será diretamente supervisionada por profissionais competentes na área e credenciados pela equipe de professores-coordenadores. Portanto, o curso contará com a colaboração direta de profissionais que vêm atuando em psicooncologia no local onde ele é ministrado. PROGRAMA GERAL ~Oncologia: . . tipos de câncer; . diferentes formas de tratamento; . a prevenção do câncer. bases teóricas; ~Psico-Oncologia. ~A Bases Teóricas. Campo de Estudo e Intervenção. Pesquisa em Psico-Oncologia: . conceituação básica de pesquisa; . discussão de métodos distintos; . participação em equipes de pesquisa credenciadas pelos coordenado res do curso; . ética e pesquisa em psico-oncologia. Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil ~A . Pessoa com Câncer: a pessoa com câncer nas diferentes etapas de vida; . a pessoa com câncer nas diferentes etapas da doença; . características de personalidade, etiologia e prognóstico. Resgatando o Viver: . delineando metas de trabalho; . identificando os agentes facilitadores e dificultadores; . plano de atendimento; . definindo critério de sucesso e insucesso. ~~Qualidade de Vida em Psico-Oncologia: . a avaliação da qualidade de vida; . tópicos especiais (dor, sexualidade, reinserção social e terminalidade); . estratégias especiais de intervenção. Estratégias de Enfrentamento em Psico-Oncologia: . fundamentação teórica; . temas centrais (diagnóstico, tratamentos quimioterápico e radioterá pico, cura e terminalidade); . estratégias de intervenção; . métodos de investigação. O Sofrimento da Dor do Câncer: ~~~ . . conceituação teórica; temas centrais (tipos de dor, impacto da dor no cotidiano e a prepara ção do profissional para lidar com a dor); . avaliação da dor; . estratégias de intervenção; . métodos de investigação. A Família em Psico-Oncologia: . conceituação teórica; . temas centrais (relações familiares frente ao câncer, mudanças de pa péis, dependência, comunicação na família); . estratégias de intervenção; . método de investigação. A Pessoa na Fase Final da Doença: . conceituação teórica; . temas centrais (perdas, luto, fase terminal, a preparação para a passagem, trabalhando a imortalidade); ~ Psicologia da Saúde .estratégias de intervenção; métodos de investigação. . A Implantação e Consolidação do Serviço de Psico-Oncologia: ~ . fluxo geral; . temas centrais (a relação médico-paciente-equipe, a equipe multipro fissional, a informação e a formação da equipe); . estratégias de intervenção; . método de avaliação de eficiência do serviço. Integrando a Reflexão com a Ação em Psico-Oncologia: . revisão final do conteúdo de todos os módulos; . reflexão acerca das práticas realizadas (pesquisa e intervenção); . inserindo o conhecimento em psico-oncologia às experiências pesso al e profissional na área de atuação; . avaliação final do curso. ~Como já dito, em outubro de 1998, no Congresso Mundial de PsicoOncologia, patrocinado pela International Psycho-Oncology Society, realizado na cidade de Hamburgo, Alemanha, foram publicadas por esta Sociedade as seguintes recomendações para eventuais cursos de Especialização na área: Primeiro Ano ~Epidemiologia do Câncer: . características sociodemográficas e culturais da população do mun do afetada pelo câncer; . incidência, sobrevivência, mortalidade e dados epidemiológicos com parativos da localização do câncer em diferentes e específicas popu lações do mundo. Aspectos Médicos do Câncer: . estado clínico da doença - prognóstico -, sintomas físicos da doença e estadiamento, conceitos básicos da biologia do câncer, conceitos básicos do tratamento do câncer; . conceitos a respeito dos locais dos tumores, estadiamento e canceres familiares; . tratamentos médicos, incluindo quimioterapia, radioterapia, cirurgia, intervenções hormonais e transplantes. Aspectos Psicossociais Fundamentais do Câncer: apoio social; ~~ . necessidades dos encontros de pacientes e de cuidadores; . Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil :> . família como sistema social; . desenvolvimento dos estágios de vida do paciente/família; . diferenças de gêneros - sexualidade; . qualidade de vida; . estágios psicossociais da doença; . enlutamento como estágio único; . mecanismos de enfrentamento e adaptação ao processo de doença. Distúrbios Psiquiátricos: . avaliação de condições mentais, psicológicas e cognitivas e sinto mas; :> . relacionados a pacientes ambulatoriais; . relacionados a pacientes hospitalares; . relacionados a pacientes transplantados; . relacionados a pacientes terminais; . relacionados a procedimentos específicos. Modalidades de Intervenções e Tratamentos: . projetos abrangentes para avaliar a dimensão das modalidades de cuidados da família do paciente, uso de instrumentos estandardizados, psicofarmacológico grupo, família, casal, cônjuges e cuidadores; . aconselhamento genético; . sexualidade humana; . cuidados paliativos, a morte e o morrer; . espiritualidade e crenças religiosas e existenciais. Assuntos Genéricos: :> psicológico (apoio, dinâmico), comportamental, .comunicação entre equipe, família e paciente; genética do câncer; métodos fundamentais de pesquisa em psico-oncologia; fundamentos de prevenção do câncer; aspectos culturais do cuidar; terapias complementares e alternativas. ..... Segundo Ano (Programa de Especialização segundo aIpos) Será projetado segundo necessidades específicas da população, bem como dos requisitos de treinamento profissional :> Psico-Oncologia da Criança e do Adolescente. 70 Psicologia da Saúde :> Psico-Oncologia do Adulto e Psiconeuroimunologia. Psico-Oncologia Geriátrica. :> :> Pesquisa e Metodologia com Ênfase em Qualidade de Vida. Pesquisa e Metodologia com Ênfase em Intervenções e Pesquisa Clínica. Psicoimunologia e Endocrinologia. :> :> :> Cuidados Paliativos e Luto. :> Prevenção e Educação. Características das Diferentes Localizações do Câncer (por exemplo, prós tata, mama, etc.) :> 3.5 Conclusão Podemos concluir que o trabalho com o paciente oncológico e sua família já vinha sendo realizado de forma assistemática tanto em hospitais gerais, como também em consultórios, onde aconteciam atendimentos individuais ou grupais. Por outro lado, nas universidades já eram desenvolvidas pesquisas visando a compreensão da relação entre os aspectos psicossociais e a etiologia e o desenvolvimento da doença. Entretanto, todos estes trabalhos eram realizados de forma desarticulada e inclusive o próprio nome psico-oncologia só passou a s~ amplamente utilizado no Brasil a partir da realização dos congressos. A partir desses eventos, que propiciaram o encontro de profissionais que desenvolviam trabalhos distintos na área oncológica, começou a discussão acerca das bases teóricas da psico-oncologia, assim como de seus métodos de pesquisa e intervenção. A partir da articulação e da integração de experiências distintas, vêm se delineando os parâmetros para avaliação da efetividade das intervenções realizadas, como também dos requisitos básicos para atuação profissional e para o desenvolvimento de serviços psico-oncológicos nas unidades de saúde. Com a expansão e a consolidação da área no País, começou a existir a demanda de uma formação específica que preparasse os profissionais para atuarem com segurança na área. A criação do Curso de Especialização reflete a preocupação da atual gestão da SBPO em responder a essa demanda. Esta Sociedade, contando com Um Pouco da História da Psico-Oncologia no Brasil a colaboração de profissionais pioneiros na área, vem dando continuidade à sua consolidação no Brasil, com a mesma seriedade que foi iniciada e se de senvolveu. Finalmente, acreditamos que as bases teóricas da psico-oncologia, ou, até mesmo, talvez, a elaboração de um corpo teórico-metodológico específico ao seu estudo e à avaliação de suas modalidades de intervenção poderá ser desenvolvida nos próximos anos, contribuindo, assim, para o reconhecimento da psico-oncologia não somente como área de atuação, mas também como área de conhecimento. Bibliografia BORBJERG, o. Psychoneuroimmunology and cancer. In: Holland, J. e Rowland J. - Nova York: University, 1990. BOSI, E. Memória e sociedade: memórias de velhos. São Paulo: T. A. Queirós, 1979. CARVALHO, M. M. M. J. Introdução à Psico-Oncologia. Campinas: Ed. Psy, 1994. . Resgatando o viver: Psico-Oncologia no Brasil. São Paulo: Editora Summus, 1998. CARVALHO, V. A. Atendimento psicossocial a pacientes de cancer. In: Kovacs, J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. GIMENES, M. G. G. (Org.) Anais do II Encontro Brasileiro de Psico-Oncologia. Brasília. 71 pp., 1993. . Definição, foco de estudo e intervenção. Em: Maria Margarida M. J. de Carvalho (Org). Campinas: Editorial Psy, 1994. . (Org.) A Mulher e o Câncer. Campinas: Editorial Psy, 1997. HOLLAND, J. Historical overview. In: Holland, 1. e Rowland, J. Handhook in Psychoon cology. Oxford, Nova York: University Press, 1990. PIZZATTO, L.p. (Org.) Anais do I Encontro Brasileiro de P.I'ico-Oncologia. Curitiba, 1989. SIMONTON, c., SIMONTON, S. e CREIGHTON, 1. Getting well again Bantam Books. Nova York, 1978. SONTAG, S. A doença como metáfora. São Paulo: Editora Graal, 1984.