Coad. Antônio Baldi Colônia Sagrado Coração de Jesus, 22-10-1911 Caríssimos irmãos, Com profunda dor vos anuncio a prematura e repentina morte do nosso amadíssimo irmão professo perpétuo ANTONIO BALDI, acontecida no dia 19 de outubro do corrente ano 1911 nesta Colônia indígena do “Sagrado Coração de Jesus” aos 29 anos de idade. Este nosso caríssimo irmão, ainda jovem, ardendo de amor de Deus e de zelo pela salvação destes pobres filhos das florestas, era uma bela esperança para esta missão, tão necessitada de bons e zelosos operários. Foi Deus que no-lo deu e foi de grande auxílio para esta Missão e para esta casa em particular. Vendo nesse nosso caro irmão dotes tão belas e preciosos, demos graças a Deus, felizes por te-lo neste campo tão dificil e espinhoso; agora o Bom Deus no-lo tirou, e, todavia devemos abençoar a sua santa vontade que assim permitiu para a Sua glória. Nascido em AVIGLIANA d’ASTI, província de ALESSANDRIA (PiemonteItália), no dia 16 de novembro de 1882, perdeu ainda criança os pais, e caído na miséria, devia ganhar o pão com seus suores. Por sua sorte, a mão admirável da Divina Providência o guiou em meio a mil perigos e contrariedades, até encontrar entre os filhos do venerável Dom Bosco, na casa de IVREA, a paz do coração e a felicidade. Ele falava muitas vezes desta felicidade com tais expressões que bem demonstravam como realmente ser salesiano fosse para ele a coisa mais bela, o dom mais precioso que se possa imaginar. Ainda no tempo de prova, vendo os superiores a sua boa disponibilidade e sua firme vontade de tornar-se salesiano, enviaram-no às missões de Mato Grosso, aonde chegou em 22 de janeiro de 1905. Tendo transcorrido poucos meses na casa de Cuiabá, foi enviado pela obediência a esta Colônia indígena do Sagrado Coração, dos índios Bororos. Foi este o campo do seu trabalho por sete anos, durante os quais edificou sempre a todos com as suas virtudes, e em particular com a sua devoção sempre terna e filial para com Maria SS.ma, com o seu constante espírito de sacrifício, com uma obediência sempre pronta e alegre. Cumprir a santa vontade de Deus no modo mais perfeitamente possível, era o seu desejo e o seu constante esforço. Emitiu os votos trienais em 25 de julho de 1907 com grande alegria e satisfação, suspirando o dia feliz de poder-se unir sempre ao Senhor. Os seus ardentes desejos se realizaram na solenidade da festa do Coração SS.mo de Jesus, no dia 23 de junho deste ano. Com profunda comoção e júbilo do seu coração emitiu em tal dia os votos perpétuos nas mãos do nosso Rev.mo Inspetor, Dom Antônio Malan. Foi um dia feliz mais do que qualquer outro, e sempre o lembrava e exclamava frequentemente: ”Agora sim que sou feliz, não tenho mais medo de nada; pode vir também a morte que nada me assusta, antes seria contente se acontecesse” Não devia demorar muito o dia da sua união íntima e perfeita com o bom Deus. Embora não gozasse de boa saúde, todavia a sua robusta constituição fazia com que desprezasse certos leves distúrbios, de modo especial uma afecção cardíaca de que sofria desde tenra idade. Sempre com arrojo e entusiasmo se entregava ao cumprimento do seu dever, não se preocupando com canseiras, com o calor e o sol tropical, nem com as chuvas torrenciais; se era um dever a cumprir, para ele bastava. Dizia frequentemente nestes últimos dias:” Agora, graças a Deus, sinto-me bem e disposto. Estou com bom apetite e o calor não me enfraquece tanto como no passado,”. Teria sido isto verdade ou virtude? Só Deus sabe. Ele porem caiu vitima do seu dever como um valoroso soldado que pugna e tomba na brecha. Aprouve a Deus tirar-nos este bom irmão improvisamente como quem rouba algo belo e precioso; e na verdade o Divino Jardineiro colheu no nosso pobre jardim uma linda flor de um perfume delicado e de muita virtude para transplantá-la no Paraíso. Foi morte improvisa, porem não inesperada por ele, porque, principalmente após sua profissão perpétua esforçava-se de tal forma e vivia de tal modo, que poderia se apresentar diante de Deus em qualquer momento; era na verdade um bom religioso. Feliz é aquele que somente após poucos minutos de ter recebido e apertado a si o Bom Jesus, se apresentou a Ele Juiz Supremo!”Estote parati, quia qua hora non putatis, Filius hominis veniet”, disse um dia o Salvador e ele frequentemente lembrava tais palavras, e no seu modo de sentir, dizia para mim,”penso ser a coisa mais linda na religião o poder estar sempre prontos para a morte, o Senhor nos dá todos os meios para tal finalidade; sim, é muito bonito ser religioso! “ Com tais sentimentos certamente a morte não o encontrou despreparado. A nossa única consolação é pensar nas suas virtudes, nos seus santos desejos, na sua vida de bom religioso, na esperança que o bom Deus o tenha já recebido na pátria celeste. O caro irmão faleceu nos braços de dois sacerdotes, que naquela hora suprema, na tristeza do seu coração, ofereceram a Deus aquela flor de salesiano e missionário como vítima para o bem destas pobres e infelizes almas ainda escravas do demônio. Certamente o Divino Redentor aceitará esta nossa oferta, e o nosso irmão haverá de rezar por estes pobres indígenas, que tanto amava, e obter-nos assim graças e bênçãos. À sombra dos gigantes seculares da floresta descansa agora o nosso amado irmão, e nesta terra selvagem mais uma cruz é erguida, símbolo da nossa fé, que sempre dirá a estes pobres filhos da floresta que quem por eles se sacrifica e morre, acha descanso aos pés da cruz, e aí espera a recompensa eterna que o bom Deus prometeu aos servos fiéis. Orai por esta alma querida e bela, afim de que goze quanto antes da paz eterna e a perpétua luz dos santos. Orai também por esta Missão, por estes pobres filhos da selva e pelo vosso irmão in Corde Jesus, sacerdote Antônio Colbacchini Colônia Sagrado Coração de Jesus - 22-10-1911 Dados para o necrológio: Avigliano d´Asti-Piemonte-Itália-16-11-1882 Colônia S. C. de Jesus: 19 de outubro 1911 29 anos incompletos e 4 anos de profissão