PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NO PORTUGUÊS: DERIVAÇÃO PREFIXAL E SUFIXAL Viviane Schier Martins (UNICENTRO), Solange Seling (UNICENTRO), Avanilde Polak (Orientadora – Dep. de Letras/ UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: derivação, prefixação, sufixação. Resumo Tanto os sufixos como os prefixos formam novas palavras que mantém uma relação de sentido com o radical derivante. Temos assim, duas formas de derivação. Sendo estas, prefixal, dada pelo emprego de afixos a esquerda da base, e derivação sufixal, dada pela junção de um afixo a direita da base. Trataremos aqui as diferenças entre derivação prefixal e derivação sufixal mostrando assim, como se dão tais processos na língua portuguesa. Introdução Partindo do pressuposto que “os prefixos são mais independentes que os sufixos, pois se originam em geral, de advérbios ou preposições que tem ou tiveram vida autônoma na língua”, (CUNHA, 1984, p.103) pode observar-se que tanto os sufixos como os prefixos formam novas palavras que conservam de regra uma relação de sentido como o radical derivante, assim, podemos estabelecer duas formas de derivação: a) prefixal: oriunda do emprego de prefixos; b) derivação sufixal: dada pela junção do radical a um sufixo. O que propomos neste trabalho é estabelecer as diferenças entre ambas e mostrar como se dão tais processos na língua portuguesa. Materiais e métodos O presente trabalho resulta do estudo comparativo entre a derivação prefixal e a derivação por sufixação, com base nos referenciais teóricos de Cunha (1984), Kehdi (1992), Macambira (1993), Monteiro (1991) e Silva (1994). Derivação: prefixos e sufixos Derivação, segundo Valter Kehdi (1992), é “o processo geral de formação vocabular em que a uma base se agregam formas presas denominadas afixos: prefixos (formas presas à esquerda da base) e sufixos (formas presas à direita da base). Por exemplo em deslealdade, à base leal se anexam o prefixo des- e o sufixo –dade.” Segundo Valter Kehdi (1992, p. 8), a sufixação pode ser considerada um tipo de derivação e nos prova a opinião com o curioso caso do elemento “avos” que figura a designação dos dominadores superiores a dez nas frações ordinárias 1/15. Para ele, avos é sufixo do numeral oitavo que neste contexto adquire uso autônomo. Quanto aos prefixos “não contribuem para a mudança de classe gramatical do radical a que se ligam: rever é verbo como ver; desigual é adjetivo como igual”. A diferença entre prefixos e sufixos contudo não é meramente distribucional. Os prefixos ao contrário dos sufixos só se agregam a verbos e a adjetivos que são uma espécie de vocábulo, associado ao verbo” (KEHDI, 1992). Com base nos dados fornecidos por Cunha (1984), algumas considerações devem ser feitas acerca das distinções entre derivação prefixal e sufixal. Tomemos por exemplo a palavra vagar, que se adiciona a um prefixo (circunvagar), ou a um sufixo (vagamente), continuará dando ênfase na noção de vagar, enquanto na forma composta, vaga-lume, a idéia enfática enfraquece. Feitas essas considerações, passemos agora a análise dos prefixos existentes em palavras da língua portuguesa. Partindo da idéia de que eles são de origem latina ou grega, percebemos que alguns sofrem consideráveis alterações quando em contato com a vogal e principalmente com a consoante inicial da palavra derivante. Deste modo, o prefixo grego -an indica “privação”, como em analfabeto, assume a forma de consoante: a-teu -in, já que o prefixo latino toma a forma –i antes de l e m: infiel, inação, mas ilegítimo, imóvel. Como se pode observar, os prefixos sofrem alterações que consistem na absorção das características de um fonema por outro que lhe está contíguo, tais alterações são provocadas quase sempre pelo fenômeno chamado assimilação, com a identificação de dois fonemas, é comum o desaparecimento do primeiro deles, como exemplo citamos a palavra ilegal, que seria então in-legal ou il-legal. Quanto aos prefixos de origem grega, vemos que muitos deles assumem formas em português; prefixos como na-, a-, anti-, dis-, ocorrem em formas como anarquia, ateu, antídoto e disenteria. Por outro lado, pela derivação sufixal, Cunha (1984) afirma a formação de novos substantivos, adjetivos, verbos e até advérbios. Partindo dessa idéia é possível classificá-los em: a) pronominal, b) verbal e c) adverbial. Quando o sufixo se aglutina a um radical para dar origem a um substantivo ou adjetivo, o chamamos de nominal. O segundo caso, ocorre com o surgimento de um verbo a partir da união de um sufixo a um radical. O sufixo adverbial (-mente) compreende no resultado da junção do sufixo à forma feminina de um adjetivo, como em lindamente. A partir disso, estudemos os sufixos de forma mais aprofundada. Os sufixos nominais são separados sob aumentativos e diminutivos. Vejamos agora os sufixos aumentativos mais usados no português: -aréu (fogaréu), -ão (caldeirão), alhão (grandalhão), -uça (dentuça), -aço (ricaço) entre outros. Diante disso, devem ser feitas algumas considerações. O sufixo -aréu, de origem obscura nem sempre é aumentativo como em mastaréu (pequeno mastro suplementar), em fogaréu o aumentativo está associado ao coletivo, como também o sufixo -ão que pode-se juntar diretamente ao radical ou admitir a inserção de uma consoante eufônica ou de outros sufixos, com os quais pode formar compostos. Quanto aos sufixos nominais diminutivos, são encontrados no português alguns como –inho (toquinho), -zinho (cãozinho), -ebre (casebre), -ete (lembrete), ote (velhote), -ino (pequenino). Tratando-se dos sufixos verbais, percebemos que os verbos novos da língua formam-se em geral, pelo acréscimo da terminação –ar à substantivos e adjetivos. Assim, temos rotul-ar, telefon-ar. Tendo em vista que a terminação –ar é constituída da vogal temática –a – , característica dos verbos da primeira conjugação e do sufixo –r do infinitivo impessoal, percebemos que por vezes a vogal temática –a liga-se não ao radical, mas a uma forma dele derivada. É o caso por exemplo dos verbos esbravejar, saltitar, onde os sufixos são ej(o) e it(o), respectivamente. Sob outros aspectos, se analisarmos o sufixo adverbial, veremos que no português ele só ocorre como –mente, oriundo do substantivo latino -mens, mentis “a mente, o espírito, intento” (CUNHA, 1984) e apresenta o sentido de intenção, maneira e passou a aglutinar-se a adjetivos para indicar circunstâncias, especialmente a de modo. Desta forma, temos como exemplo a expressão boamente = com boa intenção, de maneira boa. Porém, como o substantivo -mens do latino era feminino, junta-se o sufixo à forma feminina do adjetivo: francamente, luxuosamente, estreitamente. Desta norma executam-se os advérbios que se derivam de adjetivos terminados em –ês: burguês-mente, portugues-mente. Isso se dá pelo fato de que tais adjetivos eram uniformes, uniformidade conservada até hoje em pedrês, montês. Conclusão A diferença entre prefixos e sufixos contudo não é apenas de classificação. Os prefixos ao contrário dos sufixos só se agregam a verbos e a adjetivos que são uma espécie de vocábulo, associado ao verbo. Através de uma análise teórica, é possível perceber como se dá tal processo na língua portuguesa. O que propusemos neste trabalho foi estabelecer as distinções entre a derivação prefixal e a sufixal. Referências CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Fename: 1984. KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. São Paulo: Ática, 1992. MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfo-sintática do português. 7ª ed. São Paulo: Pioneira, 1993. MONTEIRO, José Lemos. Morfologia portuguesa. 3ª ed. São Paulo: Pontes, 1991. SILVA, Maria Cecília Pérez de Souza; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Lingüística aplicada ao português: morfologia. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.