Left Behind (Deixados Para Trás) é bíblico?

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Left Behind é bíblico?
Steve Wohlberg
Nada prendeu mais a imaginação do cristão em tempos recentes do que o Left Behind (Deixado Para Trás).
Esse é o título de uma novela dentre as mais vendidas e de uma série de grande sucesso e motivação para
uma seqüência de filmes de milhões de dólares. Left Behind alega estar baseada nas profecias bíblicas
escatológicas, no retorno secreto de Jesus, no desaparecimento instantâneo de cristãos e no anticristo que
assume o governo do mundo.
Left Behind surgiu primeiramente em 1995. De autoria de Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, o livro se tornou
logo um best-seller, por isso seus autores e editores (Tyndale Publishing) decidiram lançá-lo numa série de
12 fascículos. Dos 11 volumes impressos até agora, a maioria figurou nas listas de best-sellers do New York
Times, do Wall Street Journal, e da USA Today. Barnes & Noble até a considerou "a série mais vendida de
todos os tempos".
Em fevereiro de 2001, Left Behind: O Filme chegou aos cinemas de todos os Estados Unidos. O segundo
filme, Tribulation Force, baseado no livro número dois da série com o mesmo título, foi lançado em 2002.
Com mais um livro à frente, e pelo menos mais um filme planejado, a paixão por Left Behind continua
aumentando ao redor do mundo. Não é raro ver exposições de toda a série Left Behind nas lojas dos
aeroportos e lojas de departamentos. E isso não é apenas um fenômeno americano. As novelas foram já
traduzidas em muitos idiomas ao redor do mundo.
Teologia básica
A teologia básica da série é esta: em primeiro lugar, "o arrebatamento secreto" produz o desaparecimento
imediato de todos os verdadeiros cristãos, que são repentinamente tomados da Terra e levados ao céu. Esse
arrebatamento é seguido por um período de sete anos de tribulação que atinge todos os que foram "deixados
para trás". Um homem interiormente mau que parece o Sr. Bom Sujeito, mas que é realmente o Sr. Pecado,
isto é, o anticristo, surge rapidamente para pôr ordem no caos. Enquanto a saga prossegue, um grupo de
novos crentes que aceitaram Jesus Cristo após o arrebatamento, percebem claramente o disfarce do
anticristo e se tornam a Tribulation Force (Força da Tribulação) contra o homem do inferno. O sinistro
anticristo, chamado Nicolae Carpathia nas novelas e filmes, volta suas armas de guerra contra os judeus,
que são ainda considerados o povo escolhido de Deus. Ao término da tribulação, como clímax do drama,
Jesus Cristo retorna de forma visível para vencer Carpathia e sua rede global de partidários, salvando a
Força da Tribulação e libertando os judeus no Armagedom.
Embora a série Left Behind seja nitidamente uma ficção, suas idéias nucleares são agora aceitas por muitos
cristãos pelo mundo inteiro, tendo-lhes sido expostas através da mídia, revistas, livros, cursos, seminários e
Internet.
Suas "idéias centrais" podem ser resumidas como segue:
1. O arrebatamento secreto, que traslada a igreja de Deus da Terra para o Céu.
2. Uma tribulação de sete anos para todos os que ficarem para trás.
3. O surgimento do anticristo, que assume o governo do mundo.
4. A batalha final entre o anticristo e os judeus, que são libertados no Armagedom.
Será que esses ensinos são bíblicos?
O arrebatamento secreto
O arrebatamento secreto é a pedra de esquina de uma escola teológica conhecida como Futurismo
Dispensacional. Sua doutrina básica é que todas as promessas feitas por Deus no Velho Testamento à nação
de Israel ainda estão intatas, mas só podem ser cumpridas literalmente depois de a "atual dispensação da
Igreja" chegar ao seu final. Essa "dispensação da Igreja", que começou no Pentecostes, continua até o
arrebatamento, quando Cristo retornará secretamente para levar Sua igreja ao Céu. Assim que isso tiver
lugar, Deus pode então cumprir Suas promessas aos judeus.
Embora os defensores do arrebatamento secreto usem vários textos bíblicos para apoiar seus pontos de
vista, como Mateus 24:40 e 41, nós nos concentraremos em I Tessalonicenses 4:17, já que isso é que é
enfatizado freqüentemente pelos autores de Left Behind. Nesse texto, Paulo declara que quando Cristo
voltar, todos os crentes vivos serão "arrebatados". De acordo com Left Behind e os futuristas
dispensacionalistas, "arrebatados" aqui significa desaparecer sem deixar rastros. Esse acontecimento é
interpretado como algo que será obviamente notado, mas não compreendido pela maioria do mundo. Jesus
supostamente retornará silenciosamente, em secreto, de maneira invisível, não percebido pelo mundo, para
arrebatar Sua Igreja e levá-la da Terra para o Céu. Depois que todos os cristãos houverem desaparecido, o
mundo entrará num período cataclísmico de sete anos de tribulação.
Mas aqui está o problema: o contexto de I Tessalonicenses 4:17 revela que o retorno de Cristo é tudo,
menos secreto! No verso 16, Paulo diz claramente: "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar
da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus..." (NVI). Certamente essa descrição não pode
denotar sigilo ou silêncio, mas abertura e sonoridade. O verso 15 se refere à descida de Cristo como "a
vinda do Filho do homem". A palavra grega para "vinda" é parousia, que é também usada em Mateus 24:27
para descrever o visibilíssimo retorno de Jesus Cristo como o relâmpago que resplandece pelo céu. Pode o
relâmpago ser secreto e invisível?
Além disso, observe o contexto de I Tessalonicenses 4:17. Ele não ensina que aqueles que não forem
"arrebatados" serão conduzidos a um período de sete anos de tribulação. Mas explica que eles sofrerão
"repentina destruição" e que "não escaparão" (I Tessalonicenses 5:3). Um estudo cuidadoso de I
Tessalonicenses 4:15 até 5:3 revela claramente que a segunda vinda de Jesus não resulta em um
arrebatamento secreto conducente a uma tribulação de sete anos; mais exatamente, a Segunda Vinda é um
retorno visível, audível e glorioso de Jesus. Na vinda de Jesus, os santos são ressuscitados dentre os mortos
e, juntamente com os santos vivos, os redimidos de todas as eras encontrarão com o Senhor "nos ares".
A tribulação de sete anos
Os dispensacionalistas também ensinam que haverá uma tribulação de sete anos após o arrebatamento
secreto. Eles obtêm esse período septenal de uma interpretação especulativa de Daniel 9:27: "Com muitos
Ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana Ele dará fim ao sacrifício e à oferta"
(NVI).
Há dois problemas com a interpretação dispensacionalista dessa profecia. Primeiro, eles tomam a última
semana da profecia das 70 semanas de Daniel 9:24-27, e a colocam em um futuro distante, ocasião em que
o arrebatamento deve ocorrer e o anticristo se manifestar. Mas um estudo de Daniel 8 e 9 revela claramente
que as 70 semanas são um período ininterrupto a ser cumprido da primeira à 700 semana em uma linha de
tempo histórico. Interpretação profética correta e exegese coerente não permitem projetar a 700 semana a
algum período futuro.
O segundo problema é mais sério. De acordo com o princípio dia-ano em profecia (Ezequiel 4:6), "uma
semana" quer dizer sete anos literais. Durante esse período, diz Daniel: "Com muitos Ele fará uma aliança
que durará uma semana. No meio da semana Ele dará fim ao sacrifício e à oferta." Daniel 9:27, NVI.
A quem esse "ele" se refere? Os dispensacionalistas interpretam o "ele" como o anticristo que surgirá no
futuro, o "Nicolae Carpathia" dos autores de Left Behind -- um período futuro de sete anos que terá início
com o arrebatamento e continuará com a tribulação. Mas aqui há outro problema: Os eruditos bíblicos do
passado têm coerentemente interpretado o "ele" como Jesus Cristo, e o "concerto" firmado como o novo
concerto ratificado pela morte de nosso Salvador, 2.000 anos atrás (ver Mateus. 26:28), não como um
tratado de paz de sete anos feito pelo anticristo com os judeus após o arrebatamento.
Observe com atenção mais uma vez: Daniel 9:27 não pode se referir a um tratado de paz, mas ao novo
concerto que o Messias estabelecerá. Na Bíblia, o anticristo jamais confirma qualquer concerto. Esse é
papel exclusivo do Messias. Além disso, Daniel 9:27 diz: "Com muitos Ele fará uma aliança que durará
uma semana. No meio da semana Ele dará fim ao sacrifício e à oferta" (NVI). A "metade" seria três anos e
meio dos sete, duração exata do ministério de Cristo. Depois de três anos e meio, através de Sua morte na
cruz, Jesus fez cessar "o sacrifício". Ele é o sacrifício final e Sua morte cumpre Daniel 9:27 perfeitamente.
Ver Cristo como o "ele" em Daniel 9:27, o qual firmou o concerto e fez com que os sacrifícios judaicos
cessassem através de Sua morte sobre a cruz, é a única posição coerente com a interpretação e a escatologia
bíblicas.
O surgimento do anticristo
Os dispensacionalistas também ensinam que o anticristo é um indivíduo ímpio que aparecerá após o
arrebatamento. Mas observe, caro leitor, o que a Bíblia diz. O termo anticristo é usado apenas cinco vezes
na Bíblia, em I João 2:18 e 22; 4:3; e em II João 7. Todos esses versos mostram que não há apenas "um
homem" chamado anticristo, mas "muitos anticristos" (I João 2:18, NVI). João também diz: "Eles saíram do
nosso meio" (verso 19), indicando que esses anticristos surgiram dentro da igreja, não fora, e o apóstolo
indicou que eles já estavam atuando em seu tempo (I João 2:18). Por isso, de um modo geral, o anticristo
representa essas forças que assumem o nome de "cristãs", mas ensinam e praticam doutrinas que são
antibíblicas e contraditórias à posição e ao papel de Cristo, e que não hesitariam em perseguir aqueles que
permanecem leais e fiéis a Cristo e Seus ensinos.
A profecia bíblica também prediz o surgimento de um "pequeno chifre" misterioso (Daniel 7:8), que é
identificado por Paulo como "o homem do pecado" (II Tessalonicenses 2:3), e por João como "a besta"
(Apocalipse 13:1). A maioria dos eruditos aplica essas frases a uma só e a mesma entidade. Além disso,
Daniel 7:23 define claramente a besta como um reino, não um homem.
O "pequeno chifre" de Daniel também faz guerra contra os santos e prevalece contra eles na história cristã
(ver Daniel 7:21). Embora este breve artigo não possa dar provas exaustivas sobre a razão de nossos
antepassados protestantes estarem corretos em sua interpretação dessa profecia, é um fato histórico que por
mais de 400 anos -- até fins de 1800 -- a maioria dos eruditos batistas, metodistas, presbiterianos, luteranos
e menonitas aplicaram as profecias bíblicas sobre o anticristo, não ao futuro Sr. Pecado que se manifesta
depois de os fiéis haverem sido arrebatados, mas à organização da igreja de Roma perseguidora dos santos.
"Lutero provou, pelas revelações de Daniel e João, pelas epístolas de Paulo, Pedro e Judas, que o reino do
anticristo, predito e descrito na Bíblia, era o papado" (Merle D'Aubigné, History of the Reformation of the
Sixteenth Century, 1846, volume 2, cap. XII, p. 215).
A batalha final entre o anticristo e os judeus
O Futurismo Dispensacional considera os principais competidores terrenos no Armagedom como sendo o
anticristo e a nação de Israel, não a igreja. Na realidade, uma separação distinta entre Israel e a igreja de
Deus é absolutamente essencial ao enredo arrebatamento-anticristo-Israel. Se pudermos provar pelo Novo
Testamento que na era cristã o Israel de Deus é a própria Igreja de Deus, então poderemos atestar quão
equivocado e antibíblico é o dispensacionalismo.
Em primeiro lugar, o Novo Testamento fala sobre a realidade de dois Israéis -- "o Israel segundo a carne" (I
Coríntios 10:18) e "o Israel de Deus" centralizado em Jesus Cristo (ver Gálatas 6:14-16). Paulo escreveu:
"Nem todos os descendentes de Israel são Israel" (Romanos 9:6, NVI). O que ele quis dizer é que todos os
que pertencem à nação israelita não são o Israel de Deus na era pós-cruz. Em outras palavras, alguém pode
ser um judeu, um descendente literal de Abraão, mas pela incredulidade e uma vida segundo a carne, não
fazer parte do Israel de Deus. Aqueles que pertencem ao Israel de Deus conhecem a Deus por meio da fé
pessoal em Jesus Cristo. (Ver Gálatas 3:7 e 14; 6:14-16.)
No Velho Testamento, Israel é claramente mencionado como "a semente de Abraão" (Isaías 41:8). No
Novo Testamento, Paulo disse aos seus conversos gentios: "E, se vocês são de Cristo, são descendência de
Abraão e herdeiros segundo a promessa" (Gálatas 3:29, NVI). Assim os crentes gentios se tornaram parte do
Israel de Deus. Efésios 2 é muito claro: Jesus Cristo, na cruz, destruiu a barreira de separação entre crentes
judeus e crentes gentios, e os uniu misteriosamente em "um novo homem" e "em um corpo" (Efésios 2:1417, NVI). Portanto, toda essa posição dispensacional de separação do legítimo Israel de Deus de Sua
verdadeira Igreja é contrária à missão da cruz.
Além disso, em Apocalipse 16:12-16, onde o Armagedom é mencionado, nada é dito sobre uma batalha
entre o anticristo e os judeus; nem o texto diz que Cristo vem de forma secreta precedendo essa batalha para
arrebatar os santos. Ao invés disso, o texto descreve a "batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso" -entre os espíritos de demônios (incluindo o anticristo) e as forças do bem. A vitória divina na batalha é
garantida pela promessa: "Eis que venho como ladrão", referindo-se à segunda vinda de Cristo (Apocalipse
16:15, NVI; ver também I Tessalonicenses 5:2).
A mensagem da Bíblia é clara. O caminho da salvação está agora aberto a todos, inclusive aos judeus. Mas
na segunda vinda de Jesus, tanto os ressuscitados como os santos vivos encontrarão com o Senhor "nos
ares" (I Tessalonicenses 4:17, NVI), na mais gloriosa e pública manifestação do triunfo de Deus sobre o
pecado e a morte, sobre Satanás e seus agentes malignos. Depois da Segunda Vinda, não haverá segunda
oportunidade de salvação.
A saga do Left Behind pode ser popular e suas idéias propagarem-se pelo mundo. Todavia, o sólido ensino
bíblico é contra cada uma das quatro posições centrais sobre as quais o fenômeno de Left Behind está
apoiado. Left Behind realmente deixa para trás a verdade bíblica e confia na especulação humana e na
fantasia teológica.
Steve Wohlberg é o apresentador e diretor do programa Endtime Insights e autor do livro Truth Left
Behind e Exploring the Israel Deception, que pode ser visto em seu website:
http://www.endtimeinsights.com. O Pr. Wohlberg também pode ser contatado através de seu e-mail:
[email protected]
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