VERBOS ASPECTUAIS E O DEBATE ALÇAMENTO

Propaganda
VERBOS ASPECTUAIS E O DEBATE ALÇAMENTO-CONTROLE
Marcus Vinicius da Silva Lunguinho, Universidade de São Paulo, Brasil
A sintaxe dos verbos aspectuais tornou-se um tópico de intenso debate desde que
Perlmutter (1968, 1970) mostrou que os aspectuais do Inglês eram sintaticamente
ambíguos ora projetando uma estrutura de alçamento e ora uma de controle. Esses
trabalhos serviram de inspiração para o estudo da sintaxe dos verbos aspectuais de
outras línguas, entre as quais se citam: Alemão (Wurmbrand, 2001), Espanhol
(Schroten, 1986), Francês (Lamiroy, 1987), Grego (Alexiadou & Anagnostopoulou,
1999), Hebraico (Landau, 2003) e Italiano (Burzio,1986). O que todos esses trabalhos
mostram é que a ambigüidade sintática dos verbos aspectuais pode ser um fenômeno
translingüístico. Restringindo a atenção aos trabalhos que focalizam as línguas
românicas, vê-se que as línguas estudadas dão apoio a uma análise dos aspectuais em
termos da ambigüidade alçamento-controle. A partir desse fato, o objetivo deste
trabalho é analisar a sintaxe dos verbos aspectuais de uma outra língua românica, a
saber, o Português Brasileiro, e avaliar se os dados dessa língua também dão apoio a
uma tal análise. Para tanto, inicialmente apresento os dados que servirão de base para a
análise a ser desenvolvida. Esses dados se dividem em dois grupos: dados que dão apoio
a uma análise dos aspectuais como verbos de controle – dados com quantificadores
flutuantes (1) e dados em que se verifica compatibilidade com imperativo (2) – e dados
que dão suporte a um tratamento desses verbos como verbos de alçamento – fatos sobre
transparência de voz (3) e inexistência de restrições de seleção quanto ao sujeito (4).
Uma vez apresentados os dados, o próximo passo do trabalho é analisar se eles de fato
servem de evidência para o tratamento dos verbos aspectuais do Português Brasileiro
como verbos ambíguos. A análise que proponho é a de que a estrutura que os verbos
aspectuais do Português Brasileiro projetam é uma só: eles são verbos de alçamento.
Para implementar essa idéia, apresento e discuto os trabalhos de Raposo (1989),
Gonçalves (1996) e Boff (2003), que trazem derivações para as sentenças com verbos
aspectuais, e, por fim, apresento a derivação sintática desses verbos. Em termos gerais,
essa derivação envolve dois domínios temporais (o matriz e o encaixado), sendo o
domínio encaixado introduzido por uma preposição e caracterizado por ser defectivo em
termos de traços-, derivando daí a característica de alçamento dos verbos aspectuais.
Por sua importância, três aspectos da derivação de sentenças com verbos aspectuais são
discutidos. O primeiro deles é o papel das preposições no licenciamento dos domínios
encaixados (5). O segundo aspecto é a relação entre os traços da morfologia infinitiva e
a satisfação do EPP do T0 encaixado. O último aspecto a ser ressaltado é o papel crucial
que a noção de Fase (Chomsky, 2001, 2004, 2005) tem na derivação com verbos
aspectuais do Português Brasileiro.
Dados:
(1) a. Todos os alunos começaram a ler os livros.
b. Os alunos começaram todos a ler os livros.
c. *Os alunos começaram a todos ler os livros.
(2) a. Comece a cantar!
b. Continue a andar!
(3) a. João começou a ler o livro
c. Termine de fazer a tarefa!
(voz ativa)
b. O livro começou a ser lido por João
(4) a. As crianças começaram a nadar
b. A chuva começou a cair
c. pro começou a chover
(5) a. As crianças começaram a nadar.
(voz passiva)
sujeito [+animado]
sujeito [-animado]
sujeito expletivo
b. ?As crianças começaram nadar.
c. Os alunos continuam a pesquisar.
d. *Os alunos continuam pesquisar.
e. Todos terminaram de ler o poema.
f. Todos terminaram ler o poema.
Referências
Alexiadou, Artemis & Elena Anagnostopoulou (1999) Raising without infinitive
and the nature of agreement. In: S. Bird, A. Carnie, J. Haugen & P. Norquest
(eds) WCCFL 18 Proceedings, p.14-26.
Boff, Raquel (2003) Em Busca de uma Análise Sintático-Semântica para
Construções com o Verbo Começar no Português Brasileiro. Dissertação de
Mestrado: Universidade Federal do Paraná.
Burzio, Luigi (1986) Italian Syntax. Dordrecht: Reidel.
Chomsky, Noam (2001) Derivation by phase. In: M. Kenstowicz (ed.) Ken Hale:
a Life in Language. Cambridge, MA: MIT Press, p. 1-52.
Chomsky, Noam (2004) Beyond explanatory adequacy. In: A. Belletti (ed.)
Structures and Beyond – The Cartography of Syntactic Structure. Volume 3.
Oxford: Oxford University Press.
Chomsky, Noam (2005) On Phases. MIT, ms.
Gonçalves, Anabela (1996) Aspectos da sintaxe dos verbos auxiliares do
português europeu. In: A. Gonçalves, M. Colaço, M. Miguel, & T. Móia (eds.)
Quatro Estudos em Sintaxe do Português. Lisboa: Colibri, p. 7-51.
Lamiroy, Béatrice (1987) The complementation of aspectual verbs in French.
Language 63: 278-298.
Landau, Idan (2003) Movement out of Control. Linguistic Inquiry 34: 471-498.
Perlmutter, David. (1968). Deep and Surface Structure Constraints in Syntax.
Tese de Doutorado: MIT.
Perlmutter, David (1970) The two verbs begin. In: R. Jacobs & P. Rosenbaum
(eds.) Readings in English Transformational Grammar. Waltham, MA:
Blaisdell Publishing Company: 107-119.
Raposo, Eduardo (1989) Prepositional infinitival constructions in European
Portuguese. In: O. Jaeggli & K. Safir (eds.) The Null Subject Parameter.
Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, p. 277-305.
Schroten, Jan (1986) Ergativity, raising and restructuring in the syntax of
Spanish aspectual verbs. Linguisticae Investigationes 2: 439-465.
Wurmbrand, Susi (2001) Infinitives. Berlin: Mouton de Gruyter.
Download