A FASE MAGMÁTICA-MIGMATITÍCA EPIZONAL TAMBORIL DO

Propaganda
A FASE MAGMÁTICA-MIGMATITÍCA EPIZONAL TAMBORIL DO BATÓLITO
SANTA QUITÉRIA, CE: FATORES QUE CONTROLAM SUA ESTRUTURAÇÃO
Stefano Zincone1, Eberhard Wernick2, Ticiano Saraiva dos Santos1
1
2
Instituto de Geociências – UNICAMP, Campinas, SP; [email protected]
Instituto de Geociências- UNESP, Rio Claro, SP.
O batólito Santa Quitéria do Domínio Ceará Central da Província Borborema, com área
ao redor de 13.000 km2, estende-se com forma sinuosa, comprimento em torno de 250 km e
direção geral NNE-SSW desde alguns quilômetros ao norte da cidade de Itapipoca até pouco a
leste da cidade de Parambu onde o batólito é seccionado e deslocado pela zona de cisalhamento
transcorrente Senador Pompeu. Suas extremidades norte e sul são recobertas respectivamente por
sedimentos do grupo Barreiras e da bacia do Parnaíba. O batólito é formalmente subdividido em
4 segmento (norte, centro norte, centro sul e sul) separados pelas zonas de cisalhamento Caxitoré,
Groaíras e Tauá.
O batólito compreende 5 unidades magmáticas das quais as três primeiras são pré
colisionais, isto é são deformadas e deslocadas por falhas de cavalgamento e que compreendem a
fase magmática Santa Quitéria:

Unidade mesozonal ácida de hornblenda-biotita monzogranitos cálcio-alcalinos alto-K a
shoshoníticos, dominantemente megaporfirítico. Apresentam teores variáveis de enclaves com
composição diorítica, com afinidade shoshonítica, nos quais o clinopiroxênio é mineral ausente.

Unidade mesozonal intermediária de hornblenda monzodioritos e raros monzogranitos
dominantemente shoshoníticos, portadores de teores variáveis de clinopiroxênio, anfibólio,
biotita, quartzo e microclínio. São rochas equigranulares caracterizados pela presença de
anfibólio granular ou prismático. Contêm teores variáveis de enclaves microgranulares com
composição gabro-diorítica, afinidade shoshonítica e geralmente portadores de clinopiroxênio.

Unidade máfica precoce. Constitui raras intrusões de noritos, (olivina) gabros e dioritos.
São tanto intrusivas nas rochas ácidas plutônicas das unidades precedentes quanto estas são
intrusivas naquelas.

Unidade magmática-migmatítica epizonal sin-transcorrência. Reuni um conjunto de
plutons de rochas graníticas cálcio-alcalino equigranulares e porfirítica com diâmetros variáveis
entre poucas centenas de metros até poucos quilômetros. São intrusivos numa pilha de pacotes de
empurrão dominantemente compostos por hornblenda-biotita gnaisses e migmatitos ao lado de
anfibolitos e hornblenda-biotita gnaisses ocelares. Pela injeção de variáveis teores de material
granítico essencialmente rosado que se irradia dos plutons nas rochas encaixantes
dominantemente cinzentas, é formada uma extensa área de migmatitos de injeção bicolores com
estruturas muito variáveis. Os plutons e os migmatitos associados constituem a fase magmática
Tamboril do batólito. As rochas dos plutons e os neossomas injetados nas rochas encaixantes são
mais evoluídas e ácidas que as litologias granitóides das associações plutônicas mesozonais.

Uma unidade vulcano-plutônica rasa, bimodal, sin- a pós-transcorrência e de alta
temperatura. Trata-se de magmatismo que gera tanto plutons de largo espectro químico quanto
corpos essencialmente ácidos ou básicos. A colocação dos corpos ocorre em condições
extensionais e plutons podem apresentar, como no granito Taperuaba, espesso dique anelar. A
unidade reúne gabros, monzogabros, monzodioritos, monzonitos, quartzo sienitos, quartzo
monzonito e granitos; estes também incluem granitos rapakivi epizonais a subvulcânicos. Rochas
vulcânicas ocorrem tanto como xenólitos incorporados pelas rochas plutônicas de caldeiras
quanto formando diques que se irradiam dos plutons ou, ainda, expressivos diques isolados. Os
principais plutons representativos desta unidade magmática são os granitos Quixadá,
Quixeramobim, Senador Pompeu, Banabuiú, Barriga, Meruoca, Mucambo, Tauá, Mandacaru,
Pajé, Taperuaba, Varjota, Nova Russas, entre outros, com idade que transgridem o limite Pré
Cambriano Superior – Paleozóico Inferior.
A unidade magmática-migmatítica epizonal já foi, outrora, considerada como fruto da
anatexia de uma sequência essencialmente metassedimentar apesar da composição claramente
cálcio-alcalina do neossoma injetado e da ausência de granada, sillimanita e cianita nos
migmatitos pseudo-anatéticos. A natureza dos migmatitos de injeção é expressa por um conjunto
de feições que incluem, entre outros:

Contatos intrusivos. Os diques, veios, apófises, etc, injetados e infiltrados nos metatexitos
e diatexitos apresentam contatos nítidos com desenvolvimento local de zona de resfriamento.
Falta a típica película de melanossoma que delimitam mobilizados de segregação anatética; esta
feição restringe-se aos metatexitos e diatexitos injetadas.

Brechação. As rochas injetadas, como um todo, apresentam feições de brechação mais ou
menos intensa com a geração de fragmentos com formas e dimensões variáveis desde poucos
centímetros até dezenas de metros.

Reação. O magma invasor reage com as bordas dos fragmentos da brechação provocando
a biotitização (potassificação) das hornblendas das rochas injetadas.

Infiltração. A partir dos canais de injeção maiores, concordantes ou discordantes em
relação à foliação das rochas encaixantes, irradiam-se ramos de infiltração menores
dominantemente paralelos à foliação dos gnaisses e migmatitos invadidos. A infiltração é mais
intensa quando o magma invasor é mais rico em fluídos, feição retratada por material granítico
mais pegmatítico.

Recristalização. Sob o efeito do magma invasor os fragmentos das rochas encaixantes
brechadas desenvolvem com maior ou menor intensidade estruturas estictolíticas dadas por
hornblendas euhedrais até centimétricas recristalizadas ou, mais raramente, por prismas de
turmalina. Nos dois casos os minerais máficos são circundados por mancha de cristais félsicos
também recristalizados que se destacam nitidamente do resto da rocha encaixante de granulação
mais fina e cor mais escura.

Blastese. É o desenvolvimento local de megacristais isolados ou agrupados de microclínio
com dimensões centimétricas nas imediações do contato magma infiltrado/rocha invadida. A
microclinização é mais intensa quando o magma infiltrado é mais rico em fluídos.

Assimilação. Em certos casos os fragmentos da rocha encaixante brechada,
principalmente no caso de diatexitos e rochas embrechíticas, são tão infiltrados pelo magma que
ocorre uma homogeneização mais ou menos intensa entre ambos com a formação de porções
homogêneas híbridas com frequências e dimensões variáveis.
Em termos gerais diferentes tipos estruturais de migmatitos de injeção (dictoníticos,
agmatíticos, schollen, acamados, dobrados, flebíticos, schlierícos, nebulíticos e homofânicos)
tanto ocupam áreas relativamente homogêneas maiores quando transicionam de um tipo
estrutural para outro mesmo em pequenas áreas. Neste caso num afloramento coexistem vários
tipos estruturais de migmatitos.
Os diferentes tipos estruturais de migmatitos da fase magmática Tamboril são controlados
principalmente por três fatores:

A estrutura da rocha metamórfica encaixante invadida pelo magma granítico. Metatexitos
invadidos pelo magma granítico originam geralmente migmatitos bandados ou lit-par-lit e,
subordinadamente, migmatitos dictoníticos. Diatexitos infiltrados geram migmatitos cinzarosados dobrados, flebíticos, schliericos e nebulíticos. Estes evoluem para migmatitos fantasma
(migmatitos homofânicos) nos quais a rocha invadida apenas sobrevive como sombras algo mais
ricas em hornblenda e/ou biotita. Hornblenda gnaisses mesocráticos, anfibolitos e gnaisses
ocelares injetados geram migmatitos agmatíticos e, no caso de grande volume de material
granítico invasor, migmatitos schollen.

A distância do migmatitos do pluton granítico fonte do magma injetado. Os plutons fontes
do magma gerador dos migmatitos de injeção situam-se tanto lateralmente (e expostos) quanto
subjacente (e ocultos) em relação à auréola migmatítica que os envolve. Decorre que a relação
magma injetado/rocha encaixante tende a aumentar com a proximidade do contato migmatito
/pluton. A mudança desta relação implica na geração de migmatitos dictonítico distais via
migmatitos agmatíticos para migmatitos schollen proximais a partir de diatexitos. Estas rochas
também resultam em migmatitos de injeção dobrados distais que passam via migmatitos
flebíticos para migmatitos schliericos, nebulíticos e homofânicos proximais. Em metatexitos a
passagem é de migmatitos bandados distais para migmatitos schollen proximais nos quais os
schollen são migmatitos bandados.

O número de etapas de injeção. A fase magmática Tamboril resulta da coalescência de
vários plutons epizonais com composição, textura e estrutura pouco variável e com colocação
sucessiva. Esta feição resulta em migmatitos de injeção múltiplas. É o caso de migmatitos
flebíticos formados numa fase de injeção inicial e posteriormente transformados em migmatitos
agmatíticos ou schollen por nova etapa de injeção. Em alguns casos as fases sucessivas de injeção
são claramente distinguidas por sua natureza mais ou menos pegmatítica.
Finalmente cabe mencionar um migmatito de injeção muito complexo da fase magmática
Tamboril. Trata-se de migmatitos diatexiticos laminados e transpostos em zonas de cisalhamento
mesozonais. Pelo influxo de fluídos concomitantes à deformação parte das rochas sofrem
anatexia e recristalização intensa com a geração de manchas de granitos isotrópicos com
frequência e dimensões variáveis. Quando estas rochas são infiltradas por material granítico
alóctone epizonal, resultam migmatitos de rara complexidade e objeto de acalorados debates
genéticos.
Download