GT 14 - METAFÍSICA E TRADIÇÃO Coordenador: Prof. Dr. Markus Figueira (Departamento de Filosofia) Email: [email protected] Local/horário: Setor de Aulas II, Bloco A, sala 5 (45 lugares), Terça e Quarta, 20 e 21 de maio, 14:00-18:00h. A discussão em torno da metafísica atravessa a história da filosofia e chega aos dias atuais motivada pela produção de trabalhos que visam problematizar a história da metafísica. A metafísica pode ser definida como uma área da filosofia ou como a própria filosofia. O exercício de interpretação dos textos que apresentam a tecitura argumentativa em torno dos conceitos de ser, realidade, deus, alma, espírito, unidade, multiplicidade, etc. É o caminho para a realização da própria filosofia estrito senso. PRIMEIRO DIA 1. A crítica epicurista ao mito Prof. M.Sc. Edrisi Fernandes (UFRN) O Epicurista Filodemo de Gádara e seus contemporâneos entenderam o método Epicúreo em oposição a um método contrário (que pode ou não ser independente do método de Epicuro, que Bignone considerou como parte da crítica metódica ao ceticismo do “primeiro Aristóteles” [o “Aristóteles Perdido” de que trata a obra homônima de Bignone] e da escola platônico-peripatética), possivelmente Estóico, o qual Allen chama de anaskeué (“eliminação”; “refutação”), referindo-se ao questionamento lógico do que há de desarrazoado no mito. Epicuro via este como obstáculo ao estabelecimento dos critérios de verdade necessários “àquele conhecimento exato e detalhado, necessário à nossa impertubabilidade e à nossa felicidade”, capaz de assegurar-nos “a paz de espírito e a convicção firme” (Epístola a Heródoto, X, 79 e 85). Analisamos o papel da anaskeué epicúrea como complemento ao método da kataskeué (“confirmação”, p. ex., pelo “método das explicações mútuas” ou “método da possibilidade”). 2. Relatividade dos valores Maíra Bezerra da Costa [email protected] Trata-se da problemática acerca do relativismo cético em Pirro, e por tal motivo sugere um caráter prático e questionador a respeito da conduta humana, criticando “as verdades ditas incontestáveis”, de forma a não serem superadas. Serão colocados em questão os limites do homem, a estrutura frágil de suas teorias e concepções, aqui tanto a razão como os sentidos não terão credibilidade total. Não se tornará possível assegurar um critério para encontrar a verdade, já que esta não será essencialmente uma, intrínseca a coisa, mas circunstancial, o que em um momento é bom e satisfatório em outro não o é. Procura-se com isso, uma melhor maneira de resolver um problema, não se preocupando em classificar-lo e prende-lo em um dogma, permitindo uma constante dúvida. Essa imparcialidade na valoração das coisas estará na suspensão do juízo, em não assentir precipitadamente, com o objetivo único de se chegar à imperturbabilidade como fim, e isso acorrerá através do exercício argumentativo constante, não preferindo uma opinião em detrimento de outra. O homem nessa perspectiva conhece mesmo não sabendo qual é a verdadeira essência das coisas, este assim, não se perturbará pela busca de uma “certeza absolutizada”. 3. Filosofia da indiferença Marcos Antonio Cassiano da Silva Representa uma abordagem sobre a filosofia de Lúcio Aneu Sêneca – estoico, no concernente a posição de indiferença defendida por ele. 4. O górgias e a busca pela justiça Luiz Roberto Alves dos Santos (Aluno do Mestrado em Filosofia – UFRN) O presente trabalho tomará como ponto principal apenas o debate travado entre Górgias e Sócrates, que trata como pode-se observar durante a conversa entre ambos, basicamente, de qual objeto da retórica, e a admissão de Górgias ao final do debate de que o orador conhece o justo e o injusto. Como foco central, estas duas questões são permeadas continuamente pelo método dialético de Platão, lançado nas mãos de Sócrates, visando uma pesquisa mais aprofundada sobre as definições concebidas. Qual a relação da filosofia com a construção de uma sociedade mais igualitária? Para os modernos estudiosos, provavelmente, a discussão a respeito de um destes dois pontos não leva obrigatoriamente a se discutir o outro, mas, em se tratando de Platão, esta é uma discussão que está imbricada não só por estes dois tópicos, como também por diversas outras áreas, tais como: a teoria do conhecimento, a história e a antropologia, entre muitas outras. Pode-se afirmar que, para Platão, a construção de uma sociedade justa é sem sombra de dúvidas a maior motivação quando da produção do Górgias, já que o poder que uma organização política exerce não tem nenhum valor se não for justo. 5. O viver de acordo com a natureza: A essência do determinismo Maurílio Gadelha Aires Falar sobre a obra de Marco Aurélio é, ao mesmo tempo, falar em um determinismo que, em muitas vezes, toma uma nuance de religiosidade. O sentimento de fazer parte de um todo, o conformismo ante aos acontecimentos, o credo em um poder divino e providente, pairam sobre toda a obra do Imperador-Filósofo. “As obras dos Deuses são plenas de providência; as da fortuna dependem na natureza, ou da urdidura e entretecimento do que a providência dispôs. Tudo dela dimana” (Marco Aurélio, p. 267). Marco Aurélio pensava que a maneira mais adequada de dar cabo dessa função dada pela providência divina seria executando cada ação de sua vida como se fosse a última. Essas ações deveriam estar livres de toda a leviandade, fingimento, egoísmo, pautado na razão e em conformidade com o destino. Assim, se fosse possível resumir-se em uma frase o que a razão capta como chamamento da providência divina, certamente, podería-se acrescentar a seguinte citação: “em todos os teus atos, ditos e pensamentos, procede como se houvesse de deixar a vida dentro de pouco” (ibid., p.267). Em cada fragmento, em cada livro, vê-se um Marco Aurélio cônscio numa divina providência, em um mundo dotado de ordem e razão universais, tornando a sua filosofia um convite à aceitação do determinismo, do desenrolar natural dos acontecimentos segundo uma inteligência superior. E, mais ainda, vê-se uma justificação para tal pensamento, pois, muitas vezes descamba para uma ética que coloca a necessidade da existência de uma providência divina, sob pena da vida não ter sentido. 6. Desde o Ereignis: o último deus Oscar Federico Bauchwitz (GEMT-UFRN) Procura-se pensar na sentença enigmática da entrevista póstuma “Só um Deus pode ainda nos salvar”(Spiegel,1976), evidenciando a força condutiva do Ereignis no desdobramento do pensamento heideggeriano e como a partir dessa palavra-guia se apresenta a concepção do último deus. A salvação contemporânea indicada com o último deus, funda-se na superação da constituição ontoteológica da metafísica e na possibilidade de um salto, possibilidade aberta àqueles que anunciam a sua chegada. 7. O estoicismo e as afecções Autor: Thiago Barbalho (Bolsista PIBIC-CNPq) Orientador: Prof. Dr. Markus Figueira As afecções – alterações emocionais humanas – situam-se no eixo de estudo do filósofo estóico. A doutrina do estoicismo sempre se questionou sobre o que são as variações na alma humana e como esta poderia se libertar disso (e chegar à tranqüilidade). Mas o estóico sabe, como homem que é, que jamais estará livre de algum grau de afeto. Assim sendo, o que é possível ao homem fazer para diminuir as maléficas paixões? O estoicismo condena até as inescapáveis emoções; condenando, assim, a natureza humana? Como funciona a convivência de um estóico com esses problemas? Eis o que este trabalho pretende esclarecer: aparentes contradições, apontadas pelos críticos, acerca da doutrina estóica, em especial ao que os filósofos estóicos entendiam por afetos da alma. Para isso é necessário saber de que forma as chamadas paixões são aqui entendidas, já que, pelos conceitos adotados e pela análise costumeira, normalmente chegam-se a dados suspeitos de precipitações. Há dúvidas dentro do estoicismo, e aquelas que correspondem a apathés, páthe e suas compreensões constituem o alvo do estudo aqui proposto. 8. Epistemologia epicúrea: Em busca do critério de verdade. Rodrigo Vidal do Nascimento (Mestrando do Programa de Pós-graduação em Filosofia UFRN) [email protected] A discussão acerca da epistemologia no pensamento de Epicuro, freqüentemente suscita controvérsias entre os estudiosos do período helenístico. Um dos impasses encontrados nesta parte do pensamento epicúreo é a discordância em relação a determinação de um critério para o conhecimento. As evidências contidas nos textos de Diógenes Laércio, principal doxógrafo do epicurismo, parecem apontar para uma valorização da sensação enquanto o único meio pelo qual se permite ter acesso ao conhecimento da realidade. É com o intuito de esclarecer como se fundamenta uma epistemologia que possui a sensação como ponto de partida para o processo de conhecimento, que o presente trabalho buscará mediar uma investigação que levará em consideração o relacionamento tanto da física atomista quanto da ética, para a compreensão de todo o projeto metafísico contido no pensamento de Epicuro. Para tanto, será preciso abordar o conteúdo da Carta a Heródoto e refletir acerca das implicações que se colocam a partir do reconhecimento da sensação como critério de verdade, e ainda, recorrer as críticas e posicionamentos de outras escolas do período helenístico, como forma de preencher as lacunas deixadas pela quantidade insuficiente de textos sobre o tema. 9. Quando a metafísica é física. Markus Figueira da Silva (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) Trata-se de perguntar pela relação entre a physiologia e a ontologia no pensamento antigo, buscando provocar a reflexão sobre o que é a metafísica. A análise tende a confrontar o pensamento originário – pré-socrático – com a reincidência da physiología no Aristóteles lido por Epicuro, ou o Aristóteles “perdido”, que não foi apropriado pela “ tradição metafísica”, iniciada com a escolástica. A hipótese resume-se na não diferenciação entre physiologia ( physiká) e metafísica. SEGUNDO DIA 10. Kant: Sobre espaço, tempo e coisas em si mesmas. Autor: Evelyse Monteiro Hermínio.(Bolsista PPPG) [email protected] Orientador: Juan A. Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) As críticas sobre a teoria kantiana do espaço e do tempo na Estética Transcendental da Crítica da Razão Pura foram sustentadas inicialmente pelos contemporâneos de Kant , principalmente no que concerne a exposição transcendental. O ponto em questão se refere ao fato de Kant ter estabelecido o espaço e o tempo como condições subjetivas da sensibilidade (A26/B42), constituindo, portanto, as formas da nossa condição subjetiva que possibilitam a representação dos objetos. Esta tese (idealidade transcendental), sustenta a nãoespaciotemporalidade das coisas em si; Kant nega que espaço e tempo possam ser dados como coisas em si mesmas ou formas de coisas em si mesmas e conseqüentemente nega as teorias de Newton (absolutista) e de Leibniz (relativista). Todas essas críticas que envolvem a tese do idealismo transcendental não foram suficientes para se chegar a um consenso sobre a teoria kantiana do espaço e do tempo. Atualmente a análise desse problema foi retomada por comentadores que a questionam comparando os argumentos entre as exposições metafísicas e transcendentais. Com esse objetivo destacaremos no presente trabalho a abordagem de Paul Guyer no seu tratado “Kant and claims of knowledge”, onde ele reafirma a condição subjetiva do espaço e do tempo e sua relevância para a tese do idealismo transcendental. 11. Interpretações preliminares do livro “assim falava Zaratustra” de Friedrich Wilhelm Nietzsche com ênfase aos textos: Dos desprezadores do corpo, de mil e um fitos, do caminho do criador, e do superar a si mesmo. Autor: Nilton Luiz da Rocha (Aluno da disciplina da História da Metafísica III Orientador: Juan Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) Um rebanho anda pela terra com cabeça levantada, olhando para o céu, cheio de estrelas. Vozes ao fundo anunciavam a chegada de algo que não se via com os olhos e que irá promover vida melhor, após a morte. O que sentem e o que fazem neste mundo, são produtos oriundos do homem que não acredita em outra vida. Assim, pronuncia “os pregadores da morte”, capítulo em que Zaratustra sintoniza a freqüência das vozes, que guiam o rebanho. Em “de mil e um fitos”, rastrea esse rebanho, localizando-o pelo silêncio e pelo descaso, aos movimentos que ocorriam na terra. Nietzsche observa atentamente, com o olhar sinóptico os artifícios utilizados na manipulação das massas. Para inverter a trajetória do rebanho, Zaratustra mostra na parte “do caminho do criador”, qual é o verdadeiro caminho de redenção do homem. Para isso, é preciso transformar a angústia, como sentimento de sofrimento ao encontro consigo mesmo. Em “do superar a si mesmo”, está a chave da porta ou a corda que conduzirá ao super-homem, metáforas utilizadas no desenvolvimento do texto. 12. Análise hegeliana acerca da consciência-de-si: estoicismo, ceticismo e consciência infeliz Autor: Inácio Gomes de Abreu Neto (Bolsista PPPg) [email protected] Orientador: Juan Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) Hegel, na Fenomenologia do Espírito, trata de expor o processo típico da formação da consciência. Através de um discurso científico, ele visa articular as figuras da consciência do homem na perspectiva do seu afrontamento com o mundo objetivo. A partir daí podemos compreender a passagem da consciência de um espírito finito ao saber absoluto, à verdade. No capítulo IV-B, a dialética do Senhor e do Escravo conduz o homem a ter consciência de sua oposição ao mundo, conseqüentemente, torna-se consciente-de-si numa “independência ilusória”. Nessa oposição com o mundo tem-se o solipsismo moral do: estoicismo (a liberdade do homem pelo pensamento) e do ceticismo (realização do ideal estóico / liberdade abstrata do pensamento [Verstand] com a negação da existência do mundo exterior). E na oposição a Deus mostra-se o desdobramento da consciência infeliz, na qual o homem, segundo Hegel, vive e age crendo num Deus transcendental da teologia, reconhecendo a impotência e a ineficiência do seu Ser, ou seja, o homem reconhece e aceita a própria infelicidade. Não era possível pensar no paradigma da consciência, até Hegel, sem tratar do ceticismo que nega ou aniquila, mentalmente o Ser do mundo exterior, realizando o ideal estóico. Para Hegel, “o homem não é apenas o que ele é, mas o que ele pode ser, ao negar o que é”. É assim que a liberdade se encontra nesta filosofia, que se apresenta ainda unilateral. 13. Razão subjetiva e objetiva em Kant. Telêmaco César de Oliveira Jucá (Aluno do Mestrado em Filosofia – UFRN) [email protected] Na história da filosofia, dois conceitos de razão têm se confrontado. De um lado, temos uma compreensão da razão derivado do logos, estruturando a mente para exercer suas funções (cognitiva, estética, prática e técnica) na realidade. Essa razão seria universal, podendo ser chamada de ontológica. De outro lado, a partir da modernidade, surgiu e se consolidou uma compreensão da razão como fundamentalmente a capacidade de raciocinar e processar informações, sendo atribuído à filosofia de Kant uma das origens dessa limitação. O problema que se analisa nesse trabalho é se, de fato, podemos justificar essa imputação ao filósofo alemão. A estratégia utilizada consistirá de analisar, principalmente, a Crítica da Razão Pura, especialmente a Dialética Transcendental na qual ele submete a uma avaliação a faculdade da razão, perguntando se a razão consiste apenas em uma estrutura lógica necessária para fazer progredir o conhecimento humano (subjetiva) ou se ela de fato se refere a objetos (objetiva), constituindo-se em uma das fontes válida de conhecimentos. Esse problema possui uma relevância singular, já que toca num ponto crucial para a filosofia. Ademais, constitui uma oportunidade para se desfazer ou minimizar um visão de Kant como o justificador de uma razão técnica. Por fim, a relevância também aparece, quando se retoma o problema da relação entre pensar e ser, crucial para a tradição metafísica e para o debate referente à crise da razão. 14. A matemática como propedêutica filosófica em Kant e Platão. Túlio Sales Lima (Mestrado em Filosofia) Este ensaio é uma tentativa de tematizar duas atitudes que se aproximam na filosofia quando o tema diz respeito ao caráter propedêutico da matemática em relação a filosofia: Kant e Platão. Neste sentido e ancorados principalmente nas Crítica da Razão Pura e no Teeteto abordamos questões como a impossibilidade da definição de epistéme; a inserção do matemático no campo da reflexão filosófica; e, por último, a possibilidade de apreensão da “coisa” que julgamos estar subjacentes as obras retrocitadas, qual seja, entre as perspectivas de definição de ciência efetuadas por Platão e aquela que Kant vai buscar ao constituir e regular os limites da possibilidade do conhecimento. 15. A precursora teoria atômica de Leucipo e Demócrito Gleba Coelli Luna da Silveira (Aluna da Graduação em Filosofia) A filosofia atomista encontra-se em sua origem no desenvolvimento lógico da filosofia de Parmênides e Melisso, recebendo contribuições de Empédocles e Anaxágoras. A filosofia atomista parte do fato de existirem partículas invisíveis e indivisíveis, que estão em constante movimento num vazio, e em acordo com os eleatas acreditam que as partículas não nascem nem morrem, mas ao contrario são eternas, e são denominadas de átomos. Leucipo parece ter pensado no princípio da realidade como um número incontável de átomos, sendo considerados unidades pequenas e também indivisíveis, além de serem responsáveis pela formação de todas as coisas (no grego o termo átomo quer dizer sem divisão), residindo num vazio onde se encontram em constante movimento. Continuando os estudos de Leucipo, Demócrito desenvolveu a idéia de que tudo era composto por partículas minúsculas, indivisíveis e invisíveis a olho nu, inclusive a alma que se desintegraria na hora da morte, com isto mostrava não crer na imortalidade da alma. 16. Título: O papel das percepções na formação da idéia de objeto externo Autor: Lia Maria Alcoforado de Melo Orientador: Juan Adolfo Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) A idéia de existência dos objetos se relaciona à questão da percepção como produtora da experiência cognitiva. A tese humeana sobre a dupla existência dos objetos em seus elementos constitutivos, apresenta-se como fundamento para sua teoria que questiona as verdadeiras causas que induzem a se acreditar na existência externa ou a mostrar que não se pode provar a existência externa através da razão ou dos sentidos. Conforme essa teoria, em princípio os sentidos são incapazes de dar origem à idéia de existência dos objetos, pois as percepções são inconstantes e distintas, o que torna impossível justificar a identidade dos corpos. Porém, a mente atribui uma existência corpórea às impressões dos objetos tomando as percepções do mundo como a própria existência do mundo externo. No entanto, o que fundamenta essa crença na existência externa não é a razão, mas a necessidade por parte da mente de evitar a contradição existente entre a suposta noção de identidade dos objetos e a real intermitência das diferentes percepções. Trata-se de uma confusão entre a sucessão de percepções semelhantes e um objeto que ao ser observado parece permanecer idêntico através da sucessão das percepções que se passam enquanto o fitamos, sendo essa suposição reforçada pela memória das impressões semelhantes passadas com base na constância e coerência da aparição dessas impressões, aumentando a propensão natural para atribuir uma suposta identidade aos corpos. Portanto, a análise da teoria de Hume permite ver que não existe nenhuma razão objetiva que fundamente a nossa crença nos objetos que percebemos enquanto existentes para além de nossas percepções, mas que não obstante existiriam certos mecanismos mentais que à luz da experiência permitiriam compreender como chegamos à noção de existência "externa", isto é, extramental. 17. Estudo acerca da estética transcendental Autor: Ismael Rodrigues da Cruz (Aluno da Especialização em Filosofia / Metafísica) [email protected] Orientador: Juan Adolfo Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) Tomando por base a Estética Transcendental da CRP, traçamos um estudo, com a finalidade de analisar e da mesma forma estabelecer quais as teses defendidas por Kant na mesma. Dessa forma queremos saber o que Kant propõe com a elaboração da Estética Transcendental Neste sentido, optamos por fazer um estudo mais aprofundado e pormenorizado do § 8 da Estética Transcendental de modo que a nossa análise nos permita identificar e explicar os argumentos usados por Kant. Já que é neste parágrafo que Kant faz as suas principais observações sobre a estética transcendental de forma geral. Como resultado da análise, apresentamos as principais teses sustentadas por Kant. Por fim expomos os resultados obtidos. 18.heidegger e a diferença ontológica: A constituição da metafísica como onto-teo-logia Flávio Macêdo Freire (Programa de Pós-Graduação em Filosofia – Mestrado) [email protected] Não se pode compreender a interrogação heideggeriana senão penetrando naquilo que se constituiu como uma intuição fundamentalmente originária do fenômeno do vocábulo alétheia. Esta tem sido a fonte do pensamento e da interrogação de Heidegger. A filosofia, desde a antiguidade, pretendeu unir verdade e ser, tal como em Aristóteles a filsofia está no patamar de uma ciência da verdade ao mesmo tempo em que significa o estudo do ente enquanto ente. Se, consequentemente, verdade e ser se acham numa relação de copertencimento, então tais fenômenos encontram-se no seio de uma ontologia fundamental. A interrogação pelo ser e pela verdade permanece, desse modo, aquém das exigências da tradição. Em Ser e Tempo, ao afirmar que somente há verdade enquanto há ser-aí(§ 44), Heidegger acaba por promover um escândalo contra a tradição filosófica ocidental, mais especificamente contra a metafísica da subjetiidade. Nesse viés, a teologia natural como possibilidade filosófica e as verdades eternas não podem, em hipótese alguma, afirmarem-se como objeto do filosofar. O ensaio Sobre a Essência do Fundamento é a primeira meditação de Heidegger sobre a diferença ontológica. Essa referência designa o fundamento, nos diz o filósofo, de toda a ontologia, de toda a metafísica. A distinção entre ser e ente, de que se trata na diferença ontológica, não surge para resolver a problemática da ontologia, mas para apontar para aquilo que permanece não-problematizado, e que, em seus fundamentos, acaba por problematizar toda a metafísica. A diferença ontológica prenuncia o momento em que se torna necessário interrogar pelo fundamento da onto-logia. É o que se vê em Ser e Tempo, ao falar-se de ontologia fundamental. 19. Três problemas para a filosofia moral? Juan Bonaccini (Prof. Dr. do Departamento de Filosofia-UFRN) [email protected] Se se pode dizer que filosofia e moral não são a mesma coisa, ainda que a primeira bem possa pensar os fundamentos e o modo de ser da segunda, então também se pode dizer que a filosofia moral reflete sobre a moralidade e os problemas morais. A Filosofia moral, assim, na tentativa de encontrar uma teoria moral capaz de satisfazer as exigências e características próprias do fenômeno moral, sempre encontra empecilhos que não são de pouca monta e que alimentam um debate duas vezes milenar. Eu não pretendo aqui reconstruílo, nem falar da filosofia moral de Platão, Aristóteles, Kant ou qualquer outro filósofo. O que sim pretendo é destacar três problemas que me parece toda boa teoria moral deveria resolver: a) o de que toda teoria moral é uma reflexão teórica que do ponto de vista prático pode ser considerada moralmente correta ou não; b) o de definir um critério do que é moralmente correto; c) o de determinar a tarefa precisa da filosofia moral: se ela é meramente descritiva ou normativa.