O céu da bandeira

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O céu da bandeira
bandeira do Brasil, uma das mais belas e sugestivas do mundo, é também
a única a possuir uma esfera celeste. Adotada em 19 de novembro de
1889, seu círculo interno, em azul, corresponde a uma imagem dessa
esfera, inclinada segundo a latitude da cidade do Rio de Janeiro às 12 horas
siderais (8 h e 37 min) do dia 15 de novembro de 1889 (Proclamação da
República) e cada estrela representa um Estado da federação. Trata-se da mais
completa ilustração celeste já imaginada para uma bandeira nacional.
Não devemos entender as estrelas representadas na
bandeira como um "aspecto do céu". Na verdade é como se
estivéssemos com uma esfera celeste em nossas mãos: as
constelações ficam invertidas.
Pálida
3
Minas Gerais
Intrometida
4
Espírito Santo
Cruzeiro do Sul é uma das mais significativas constelações do
céu meridional. Sua estrela alfa, também chamada Estrela de
Magalhães, passa no meridiano da cidade do Rio de Janeiro no
início da manhã de 15 de novembro. A constelação é uma
referência para se localizar o ponto cardeal Sul, basta prolongar o
eixo maior da cruz cerca de quatro vezes, na direção da sua
base, e então imaginar uma vertical até um ponto do horizonte:
ali será o Sul.
Escorpião (Sco)
Cada vez que um Estado é extinto retira-se sua estrela. Quando
ocorre uma fusão, apenas uma permanece para representar o novo Estado. Novas
estrelas podem ser acrescentadas, na medida da criação de novos Estados, sempre
obedecendo a configuração original. A capital federal é representada pela estrela
polar do sul, em torno da qual todas as demais tem um movimento aparente. A
seguir, uma descrição mais detalhada da relação entre as estrelas da bandeira e os
Estados brasileiros.
Cruzeiro do Sul (Cru)
Estrela
Estrela
Nome
Magnitude
Estado
Acrux
1
São Paulo
Mimosa
2
Rio de Janeiro
Gacrux
2
Bahia
Nome
Magnitude
Estado
Antares
1
Piauí
Graffias
3
Maranhão
Wei
2
Ceará
Sargas
2
Alagoas
-
3
Sergipe
Girtab
3
Paraíba
Shaula
2
Rio Grande do Norte
-
3
Pernambuco
Escorpião é uma belíssima constelação zodiacal facilmente
reconhecível no céu. Sua estrela mais brilhante é Antares, uma
gigante vermelha, na verdade um sistema duplo, a 604 anos-luz
do Sol. Escorpião fica numa região do céu rica em objetos
celestes observáveis com pequenos instrumentos.
Cão Maior e Triângulo Austral (CMa e TrA)
Estrela
Estrela
Nome
Magnitude
Estado
Prócion
1
Amazonas
Alphard
2
Mato Grosso do Sul
Canopus
1
Goiás
Nome
Magnitude
Estado
Spica
1
Pará
Sírius
1
Mato Grosso
-
3
Acre
Mirzam
2
Amapá
-
5
Distrito Federal
Muliphem
3
Rondônia
Wezen
2
Roraima
Adhara
3
Tocantins
Atria
2
Rio Grande do Sul
-
3
Santa Catarina
-
3
Paraná
Cão Maior possui a estrela mais brilhante do firmamento: Sírius
é branco azulada e está a 8,7 anos-luz do Sol. Quatro estrelas do
Cão Maior estão atualmente na bandeira; representam Mato
Grosso, Tocantins (criado em 1988), Rondônia (que se tornou
Estado em 1981) e Amapá (1988).
Triângulo Austral é uma constelação um pouco maior que sua
irmã dos céus do norte, a constelação do Triângulo. Suas três
estrelas principais representam os Estados da Região Sul.
Cão Menor, Hidra Fêmea, Virgem, Carina e Oitante (CMi, Hya, Vir, Car
e Oct)
Cão Menor é um pequena constelação próxima de Orion,
localizada facilmente graças a sua estrela mais brilhante, Prócion,
a 11,3 anos-luz de distância. Sendo a única estrela que pertence
ao hemisfério celeste Norte, Prócion foi designada para significar
que o país também possui parte de seu território no hemisfério
Norte.
Hidra Fêmea, ou simplesmente Hidra, é uma ampla constelação
cuja estrela mais brilhante é Alphard, a 148 anos-luz. Hidra
Fêmea tem apenas duas estrelas na bandeira, representando os
Estados do Mato Grosso do Sul (criado em 1979) e Acre (que se
tornou Estado em 1962).
Virgem é uma bela constelação zodical, ligada a figura feminina
e à agricultura. Na bandeira, apenas a estrela mais brilhante de
Virgem, Spica, está representada, solitária, acima da faixa
"Ordem e Progresso".
Carina é o casco do navio Argus, figurada na bandeira em
memória da navegação. Apenas Canopus está representada, a
segunda mais brilhante em todo o firmamento.
Oitante é uma constelação circumpolar de brilho fraco. Sua
estrela sigma indica, aproximadamente, o pólo celeste Sul. Do
nosso ponto de vista, é em torno dela que giram todas as demais
estrelas do firmamento. Por causa desta posição de destaque,
Sigma do Oitante foi escolhida para representar o Município
Neutro da União (Brasília) na bandeira.
Perguntas & Respostas
esde a sua implantação, esta seção sobre a Bandeira do Brasil tem sido
uma das mais requisitadas do Zênite, perdendo em número de visitantes
apenas para Novidades do Espaço Exterior. No intuito de enriquecê-la ainda mais,
bem como responder algumas questões freqüentes dos visitantes, elaboramos mais
está página, que de certo modo resume na forma de perguntas e respostas (o
popular FAQ) alguns dos aspectos mais relevantes sobre a Bandeira do Brasil. E
para os que ainda não sabem, é possível acessar esta seção diretamente, através do
endereço www.zenite.nu/brasil.
Quando foi criada a bandeira republicana? E quem foi o
autor?Foi no ano de 1889. O projeto é de autoria de
Raimundo Teixeira Mendes, com a colaboração de Miguel
Lemos. O professor Manuel Pereira Reis, catedrático em
Astronomia da Escola Politécnica tratou da posição das estrelas e
o desenho foi executado por Décio Vilares.
O que representam as formas geométricas e as cores da
Bandeira?O retângulo e o losango estão presentes com as
mesmas tonalidades na bandeira imperial, mostrando que a
bandeira republicana não rompeu definitivamente com o Império.
O losango, em particular, é a representação da mulher na
posição de mãe, esposa, irmã e filha. A esfera é o antigo
símbolo do mundo, unindo o Brasil a Portugal através de D.
Manuel, em cujo reinado se deu o descobrimento. Ela é também
um antigo emblema romano, presente na bandeira do Principado
do Brasil instituída por D. João IV, onde já constava a faixa
branca.
O verde da bandeira tem muitos significados, pois remonta o
primeiro objeto que provavelmente funcionou como bandeira:
ramos de árvores arrancados em instantes de alegria
espontânea. No Bandeira do Brasil o verde tem outros
significados históricos, como a Casa de Bragança, a filiação com a
França e o estandarte dos Bandeirantes.
O amarelo recorda o período imperial e, poeticamente, é a
representação do Sol. Essa cor recorda à Casa dos Habsburgos e
também à Casa de Castela e a Casa de Lorena, a que pertencia
D. Leopoldina, esposa de D. Pedro I. Combinado ao verde o
amarelo irmaniza-nos com os povos africanos.
O azul, juntamente com o branco também remonta a
nacionalidade lusitana, bem como homenageia a história do
Cristianismo e a mãe de Jesus, padroeira de Portugal e do Brasil.
O branco, plenitude das cores, traduz os desejos de paz. Vale
destacar também a ausência do vermelho e do preto,
excluindo da Bandeira lembranças as guerras, ameaças e
agressões. A Bandeira do Brasil é um pendão idealista e limpo,
estando bem mais próxima dos antigos estandartes, erguidos
apenas para coreografar o bem-estar e o jubilo aos deuses.
Por que o lema "Ordem e Progresso"?Esta é a síntese de um
sistema filosófico que por algum tempo foi muito bem aceito em
certas regiões da Europa e da América (influenciando inclusive a
independência dos EUA) e especialmente no Brasil. O lema não
reflete um estado temporal do país, mas é uma convocação ao
desenvolvimento, indica uma meta, valores a serem buscados. A
divisa "Ordem e Progresso" recorda diretamente a França, sendo
originária do lema positivista de Auguste Comte: "o amor por
princípio e a ordem por base; o progresso por fim".
Por que cada estrela representa um estado do país?
E qual foi o critério usado nessa correspondência.No
decreto que criou a bandeira, de 19 de novembro de 1889, diz-se
expressamente que as estrelas simbolizam os estados e o
Município Neutro do Brasil. Mas não houve, originalmente, uma
discriminação entre as estrelas sobre qual representa este ou
aquele estado da União. Essa atribuição foi estabelecida
posteriormente, observando apenas uma certa coerência entre as
posições das estrelas no céu e a seqüência geográfica do
Estados. Assim, Estados no centro do Brasil são representados
por estrelas do Cruzeiro do Sul, Estados a oeste por estrelas do
Cão Maior e assim por diante.
Por que existe uma estrela isolada na bandeira?Seu nome é
Spica, a principal estrela (estrela alfa) da constelação de Virgem.
Spica faz referência a deusa da agricultura Deméter, geralmente
representada com uma espiga de cereal, que na constelação é
exatamente a estrela Spica (cujo nome significa espiga). A
observação de Spica está ligada à descoberta da precessão dos
equinócios por Hiparco (190-120 a.C.), um dos acontecimentos
mais significativos da Astronomia antiga.
Na Bandeira do Brasil, Spica tornou-se a representação do
Estado do Pará, pois este era o Estado da União com maior
parte de seu território acima da linha do equador (Amapá e
Roraima tornaram-se Estados somente em 1988). Sua posição na
bandeira revela a extensão territorial do Brasil: nenhum outro
país do mundo, com dimensão geográfica semelhante, ocupa
parte dos dois hemisférios da Terra.
Por que a estrela isolada não representa o Distrito
Federal?Porque o Distrito Federal já é representado por uma
estrela mais significativa do ponto de vista simbólico: Sigma do
Oitante. Sigma possui um brilho aparente muito inferior ao de
Spica, estando quase no limite da percepção a olho nu, apesar de
ser uma estrela com 4,8 vezes o diâmetro do Sol. Porém, Sigma
do Oitante está numa região do firmamento bem próxima do pólo
celeste sul (que é a projeção do pólo sul terrestre na esfera
celeste). Dessa posição singular resulta que todas as estrelas
visíveis nos céus do Brasil descrevem arcos em torno de Sigma
do Oitante.
Assim, Sigma do Oitante pode ser observada de praticamente
todo o território brasileiro, a diferentes alturas do horizonte, sem
nunca nascer ou se pôr — está sempre no céu, em qualquer dia e
horário. Este é, sem dúvida, um significado bastante apropriado,
seja para Brasília, Rio de Janeiro ou qualquer outra localidade
que por ventura venha a representar o Município Neutro da
União.
É verdade que a disposição das estrelas representa o
aspecto do céu em dia e hora pré-determinados?
Não exatamente. As estrelas na Bandeira do Brasil reproduzem
parte de uma esfera celeste vista como se estivesse nas mãos de
um artista, que a inclinou segundo a latitude da cidade do Rio de
Janeiro no dia 15 de novembro de 1889, às 12 horas siderais,
instante em que a constelação do Cruzeiro do Sul tem sem eixo
maior na vertical.
Doze horas siderais correspondem às 08 h e 37 min da manhã. É
portanto um céu diurno! O Sol já está acima do horizonte e não é
possível observar estrela alguma no céu. Ainda que fosse, suas
posições estariam invertidas, uma vez que observar o modelo de
uma esfera celeste é como ver o firmamento refletido.
Quais as medidas da bandeira?A Bandeira do Brasil deve ser
desenhada na proporção de vinte por quatorze unidades. Sendo
que a posição correta e dimensões do losango, esfera, estrelas e
da faixa branca é dada pelo desenho modular da bandeira,
disponível na página do Exército Brasileiro juntamente com
informações sobre seu uso em cerimônias civis e militares.
A Bandeira Oficial
A maioria dos brasileiros desconhece que a fabricação da Bandeira Nacional
obedece a rígidos critérios em relação às dimensões das figuras geométricas
(retângulo, losango e círculo), das letras e das estrelas. Em junho de 1998, o
INMETRO concluiu a análise de conformidade a bandeira do Brasil. Todas as
marcas de bandeiras analisadas na época apresentaram erros acima do tolerado
pelo INMETRO (± 10%) e em vários itens dimensionais, sendo todas consideradas
fora dos requisitos dimensionais (reprovadas).
Ao contrário da bandeira de outros países (como os Estados Unidos, com 50
estrelas dispostas em linhas alternadas de 6 e 5 estrelas) a bandeira do Brasil tem
posições muito bem definidas para suas 27 estrelas, que de fato reproduzem suas
posições aproximadas na esfera celeste. Essa característica torna comum
encontrarmos cópias incorretas à venda. A propósito, a bandeira que você tem em
casa está correta?
Esfera da bandeira republicana de 19 de novembro
de 1889.
Consierações finais
Muito além de uma simples questão de civismo, conhecer bem a bandeira do
Brasil e o seu simbolismo é um mergulho na história. O círculo central em azul,
que representa a esfera celeste, é herança do culto português pela esfera
manuelina, simbolizando as grandes viagens de exploração marítimas. Neste globo
celeste, porém, uma faixa branca sintetiza um mote positivista de Auguste Comte:
"o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim; famoso à época e
através do qual muitos republicanos se reviam. A faixa já foi interpretada como
simbolizando o rio Amazonas. Contudo, tal como na faixa equivalente da esfera
manuelina, ela aparece representando o zodíaco, a região do céu percorrida pelo
Sol em seu movimento anual aparente.
Os povos antigos pensavam que todas as estrelas estavam
fixas numa mesma esfera cristalina e à mesma distância
da Terra. Dessa forma, seguindo a tradição dos globos
celestes, a esfera é representada como que vista do lado
externo, isto é, do infinito. Somos levados "para trás" das
estrelas. E não há outra maneira de representar os astros
numa esfera que respeite as suas posições relativas.
Grandezas
As estrelas da bandeira do Brasil aparecem com cinco pontas, como é costume
heráldico, e com cinco dimensões diferentes, procurando representar o brilho
aparente das estrelas (magnitude), embora sem correpondência direta com as
magnitudes astronômicas. Foram consideradas cinco escalas de magnitude: 0,30,
0,25, 0,20, 0,14 e 0,10 vezes 1/14 da largura da bandeira, que foi concebida na
proporção 14 x 20.
Elas são classificadas em ordem crescente de luminosidade: as mais brilhantes são
chamadas de primeira grandeza (aquelas que primeiro se vêem após o pôr do Sol),
seguidas pelas estrelas de segunda grandeza e assim sucessivamente, até a sexta
grandeza, no limiar da visibilidade. A bandeira do Brasil mostra estrelas de cinco
diferentes grandezas, visíveis a olho nu de qualquer local do país (embora em
diferentes épocas do ano).
As cinco "grandezas estelares"
presentes na bandeira
(mostradas entre parêntesis)
podem ser verificadas
observando apenas a
constelação do Cruzeiro do Sul e
a estrela Sigma do Oitante.
As estrelas e seus significados
Ao contrário do que muitos pensam, a estrela alfa da constelação de Virgem,
chamada Spica, aquela que aparece solitária sobre a faixa "Ordem e Progresso",
não representa o Distrito Federal. Spica, que no céu se encontra bem ao norte,
representa o Estado do Pará e o Distrito Federal é representado por sigma do
Oitante, uma estrela que na prática está no limiar da visibilidade a olho nu.
Contudo, a escolha se justifica plenamente ao verificarmos
sua posição bem próxima ao pólo celeste Sul. Desse modo,
ela nunca nasce ou se põe vista do território brasileiro (está
sempre no céu, em qualquer dia e horário), e além disso,
durante uma noite, todas as demais estrelas descrevem
arcos, movendo-se em torno de Sigma Octantis.
Na bandeira, três constelações são facilmente
reconhecíveis: o Cruzeiro do Sul, o Triângulo Austral e o
Escorpião. Algumas estrelas têm uma história ilustre e a sua presença está
carregada de simbolismo. A estrela Spica, por exemplo, é a única que aparece ao
norte da faixa branca e sua presença indica que o país tem parte de seu território no
hemisfério norte (ao norte do equador). Essa estrela aparece deslocada para norte
da faixa, na bandeira, mas na realidade está ao sul da linha central do zodíaco (a
eclíptica). Tal fato distorce conscientemente a sua posição celeste, revelando a
extensão territorial do Brasil. Nenhum outro país com dimensão geográfica
semelhante ocupa parte dos dois hemisférios.
Deusa Deméter (Ceres).
Para os republicanos, a agricultura era uma ferramenta
essencial de desenvolvimento e Spica faz referência a
deusa Deméter (ou Ceres, para os romanos), deusa da
agricultura, geralmente representada com uma espiga de
cereal, exatamente a estrela Spica (espiga). Mas os
criadores da bandeira insistiram, sobretudo, no
significado desta estrela na história da ciência. De fato, a
observação de Spica está ligada à descoberta da
precessão dos equinócios por Hiparco (190-120 a.C.), um dos acontecimentos mais
significativos da Astronomia antiga.
Um pouco mais abaixo aparece a estrela Canopus, da antiga constelação de Argus
(atualmente Carina). Canopus recorda à lenda dos argonautas, que empreenderam
a viagem à Cólquida para se apoderarem do velo de ouro, a pele dourada do
carneiro possuidor da Razão. Segundo os criadores da bandeira, esta estrela
representa as viagens dos navegadores portugueses, que chegaram à América do
Sul à procura de um moderno velo dourado.
No centro da bandeira está representada, em destaque, a constelação do Cruzeiro
do Sul, que no momento histórico de proclamação da república passava sobre o
meridiano da cidade do Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil. A primeira
referência segura sobre o Cruzeiro do Sul é também um dos primeiros documentos
escritos no que viria a ser o solo brasileiro, redigido por um fidalgo de origem
espanhola chamado João Emeneslau, ou simplesmente Mestre João, "físico e
cirurgião", principal investigador da expedição de Pedro Álvares Cabral.
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