AULA 3 BIOMETEOROLOGIA ESPACIAL E CÓSMICA Ambos estudos acima verificam a adaptabilidade dos seres vivos terrestres às influências extraterrestres. Diferentemente da Exobiologia, cujo significado baseia-se no estudo da vida extraterrestre. A cósmica, por sua vez, estuda a influência de fatores extraterrestres (tais como os raios cósmicos) nas nossas formas de vida e a espacial, a adaptabilidade destas à ambientes extraterrestres (naves interplanetárias, outros planetas, etc.). 3.1 ECOSFERA E AS PROPRIEDADES ATMOSFÉRICAS DE OUTROS PLANETAS. Desde o começo da pesquisa científica extraterrestre nosso conhecimento da atmosfera de outros planetas cresceu enormemente e a possibilidade de aterrissagem de naves em alguns deles acrescentou mais informações. Em 1976, as espaço-naves Vikings 1 e 2 (EUA) pousaram em Marte, um ano antes foi a vez da espaço-nave Venera (da ex-URSS) em Vênus. As Pioneers e Voyagers passaram pelos planetas jovianos ou gigantes, estas últimas em 1979 (Júpiter), 1980 (Saturno), 1986 (Urano) e 1989 (Netuno). Serão adicionadas mais informações em 1996 com a Galileo, levada pela sonda Magalhães, em Júpiter. Marte e o maior satélite do Sistema Solar, Titan (de Saturno), possuem condições atmosféricas mais próximas à da Terra e satisfazem uma possível colonização das nossas formas biológicas. Nos demais planetas, isto se torna mais complexo, especialmente nos gasosos ou jovianos, pois não possuem crosta sólida.(fig. 2.1). Vênus, Terra e Marte se situam no que denominamos ECOSFERA, ou seja, a esfera (ao redor do Sol) na qual é possível desenvolver a nossa forma de vida em planetas aí situados; estando os dois planetas (Vênus e Marte) no limite desta. Estrelas do tipo espectral G, como nosso Sol, possui uma ECOSFERA entre 100 a 200 milhões de km de raio. Se a estrela fosse mais quente (classes espectrais O, B, A e F), i.e., temperatura superficial acima de 6000 K, a ECOSFERA seria mais afastada, conforme o tamanho e a temperatura superficial destas, como no caso de Sirius, Canopus, Vega e Rigel , etc. As estrelas mais comuns ( classes espectrais K, M e N), com temperatura superficial abaixo de 6000 K, possuem a ECOSFERA mais próxima, porque são mais frias e menores do que nosso sol, como exemplos temos Tau Ceti, Epsilon Eridani, Estrela Barnard, etc. 1 Para nosso tipo de vida sobreviver, o planeta tem que estar dentro da ECOSFERA, geralmente, além de possuir crosta sólida e não possuir órbita muito irregular (que o sujeitasse a uma grande oscilação na constante solar). Foi verificado recentemente que recentemente que sistemas estelares duplos ou triplos podem possuir planetas em órbitas estáveis o suficiente para nossa adaptação, como no caso de -Centauri, embora este fato acarreta em redução drástica no tamanho da ecosfera. Haverá necessidade de grandes oceanos para minimizar o aquecimento/resfriamento do planeta nesta situação. Como conseqüência, sistemas estelares simples são os mais adequados a terraformação (termo cunhado por Isaac Asimov, autor de diversos livros de ficção científica, significando adaptação do planeta às nossas formas de vida). Os planetas que não possuem atmosfera como a nossa, podem, também serem "terraformados". Há toda uma sorte de bactérias e fungos sintetizando uma enorme gama de gases (muitas delas tóxicas à maioria dos animais, como o metano nos planetas Jovianos). Estes organismos poderiam ser utilizados para alterar a atmosfera de outros corpos celestes para futura colonização. 3.2 Adaptação da vida terrestre a ambientes extraterrestre. De todos os planetas do sistema solar, Marte é o mais capaz de tolerar as nossas formas de vida. Experimentos na década de 60, nos quais se supunha que a atmosfera marciana apresentasse uma pressão de 100 hPa, verificaram uma grande adaptabilidade de muitos seres vivos, inclusive de plantas cultivadas. Alguns vermes, como a Artemia salina, resistiram por muito tempo a esta atmosfera. No entanto, sabemos que a pressão atmosférica média de Marte não passa de 6 hPa (~ à terra a 22 km de altura), com temperaturas chegando a -195C nos pólos e variando de 20 a -85C no Equador, diminuindo a possibilidade de adaptação de muitos seres pluricelulares. Mesmo assim, algumas bactérias resistiram a ambientes artificiais, imitando o marciano, chegando mesmo a se multiplicar, quando imposto um filme de água. Elas sobreviveram do bombardeio de UV, sobre os grãos arenosos. O TiO presente na estratosfera marciana, faz o papel do O3 na Terra, ainda que mais fraco. Recentemente foram encontrados indícios de vida bacteriana em fragmentos rochosos de origem marciana. São restos de membranas plasmáticas fossilizadas, menores que uma micra, portanto, menores que a maioria das bactérias terrestres. Estas formas poderiam ter existido nos períodos interglaciais marcianos, quando havia água em estado líquido. 2 Há bactérias capazes de sobreviver à alta atmosfera de Vênus e dos planetas jovianos, e talvez na lua Europa de Júpiter. Esta lua é formada por uma crosta de 100 km de gelo, com possibilidades de atividade vulcânica interna, devido às inúmeras rachaduras em sua superfície. Onde há atividade vulcânica há calor, e, portanto, poderia haver um oceano líquido abaixo do gelo, podendo, neste caso abrigar formas de vida. Outro problema de adaptabilidade é a aceleração da gravidade, todas as (nossas) formas de vida estão adaptadas a um g (terrestre), mas isto não as impede de tolerar uma grande variação desta. A despeito de sua importância, especialmente para os vôos espaciais, não há muitos trabalhos neste campo. A exposição de diferentes organismos à aceleração em centrífugas, aumentou o nosso conhecimento dos efeitos gravitacionais. A bactéria Escherichia coli, muito utilizada em genética, foi exposta a 110 000 g, onde teve suas organelas esticadas, ficando a célula mais comprida que as demais. Experimentos com as larvas de Drosophila melanogaster mostraram diminuição da taxa de crescimento e no tamanho final, em acelerações da ordem de 1630 a 4000 g. Acelerações da ordem de 2 g afetaram o potencial elétrico das células vegetais. O rato branco, Mus musculus, exposto a 4 g por 4 semanas, apresentou uma diminuição da massa corpórea e alterações no esqueleto. Hamsters, a 4-5 g, também por 4 semanas, obtiveram um aumento da massa do coração, diafragma, músculos gastrointestinais, pulmões e cabeça, e especialmente do fêmur. Seres humanos, expostos a 2 g, por algumas horas, mostraram diminuição da diurese e aumento dos glóbulos vermelhos. Em pesquisas mais recentes, feitas majoritariamente pelos russos, mostraram uma intensa perda de cálcio e nitrogênio pelos ossos, especialmente das pernas, na ausência de gravidade. Além da síndrome da ausência da gravidade, como desorientação, enjôos e problemas cardiovasculares, que afetam 1 em 3 astronautas. Não se sabe exatamente como contrabalançar estes problemas. 3.3 Efeitos da radiação cósmica. A biometeorologia cósmica se divide nos efeitos da radiação solar e cósmica, sendo que a primeira será vista posteriormente, em biometeorologia. vegetal. Os raios cósmicos foram descobertos em 1908 por Dr. Hess, na Suiça, sendo que posteriormente, descobriu-se que se tratavam de prótons e elétrons acelerados (de 100 a 200 000 km/s) por campos gravitacionais de estrelas ou do Sol, penetrando na atmosfera terrestre até a superfície. Eles são provenientes de todas as direções. 3 A radiação cósmica comum é chamada de galáctica, com um fluxo primário de 85% de núcleos de hidrogênio e 14% de hélio. A sua origem não está muito bem estabelecida, sendo provavelmente remanescentes de explosão de supernovas, sendo acelerados depois. Com exceção do vento solar, que oscila, os raios galácticos são bastante constantes (6x109 eV), sendo a atmosfera terrestre e seu campo magnético, um escudo parcial a estes raios. Os EUA e a ex-URSS fizeram muitos estudos com animais e plantas a bordo de naves expostos aos efeitos dos raios cósmicos, e também em seres humanos. A gama globulina aumenta a sua atividade quando. exposta a estes raios, afetando a coagulação. Houve estudos com as bactérias Clostridium sporogenes, E.coli, com o fungo Neurospora conidia e com o protoza Paramecium caldatum, todos apresentando alterações nos ciclos celulares. Figge verificou a influência dos raios cósmicos aqui na Terra, sobre o Câncer, em 148 ratos. Estes ratos foram injetados 0.25 mg de metilcolantreno (um agente cancerígeno) e foram colocados em duas gaiolas, em um local alto. Uma coberta fina chapa metálica ( 0.6 mm) de modo a produzir uma "chuva” de radiação ionizante, intensificando assim o efeito dos raios, como radiação secundária. A outra gaiola foi colocada com espessura normal. Após 10 semanas, dos 111 ratos injetados expostos à radiação, 84 desenvolveram tumores contra 22, dos 67 expostos à radiação normal. 3.4. Efeitos dos campos magnéticos Muitos animais mostram tropismos magnéticos, mesmo com um campo muito fraco, como pássaros migratórios, platielmintes (planarias), caramujos e até plantas. Nos seres humanos a sensibilidade é existente, embora muito fraca para ser consciente. 4 AULA 4 PALEO-BIOMETEOROLOGIA Um dos objetivos principais da paleo-biometeorologia é a reconstrução de climas do passado. Para reconstruí-los é necessário estudar diversos campos das Ciências. As Ciências biológicas fizeram e fazem grandes contribuições, sendo que através destas, acrescidas das áreas de física e química, podemos obter uma visão dos climas do passado, gerando estudos paleo-biometeorológicos. Tendo-se isto em mente, para reconstruirmos uma visão do clima no passado, devemos estabelecer as características principais para se obter seqüências climáticas, contanto que: 1) as distribuições observadas das espécies biológicas utilizadas realmente foram uma conseqüência de diferenças climáticas, 2) os valores observados dos elementos climáticos são baseados em a) uma compreensão de todo o conjunto de fatores, nem todos climáticos, que governam as alterações (ocorrências) biológicas, b) o conhecimento de limiar climático no qual delimita estas alterações e este limiar deve ser mantido constante, i.e., as espécies não tenham se adaptado (mutação/seleção) a estas mudanças climáticas, alterando este limiar (aumento da tolerância climática). De modo geral, os seres humanos e os animais de grande porte são adaptáveis a diferentes climas ao se moverem durante suas vidas individuais a grandes distâncias. Entretanto, há exceções, tais como barreiras quase intransponíveis, como os glaciares. Por outro lado, há espécies adaptadas a habitats (nichos ecológicos) muito estreitos ( ex.; estenotérmicos ou esteno-hídricos). Estas espécies são, portanto, de grande utilidade, contanto que: i) o limite de sua distribuição (observável no tempo) é controlado pelo tempo/clima ou já foram controlados, ii) as condições climáticas, que são limitantes para as espécies, hoje são conhecidas, iii) esta limitação climática não tenha mudado no curso do tempo, através da adaptação (aclimatização) ou evolução das espécies. A paleo-biometeorologia pode ser subdividida em 4 principais tópicos, de acordo com sua contribuição a paleo-climatologia, em: 4.1 Dendroclimatologia, 5 4.2 Palinologia ou estudo dos grãos-de-pólen, 4.3 Distribuição da vegetação global e de animais no passado, 4.4 Climatologia histórica. 4.1 DENDROCLIMATOLOGIA O interesse pelo estudo dos anéis de árvores remonta a Leonardo da Vinci, mas o estudo sistemático iniciou-se com A.E.Douglass, em 1901, fazendo associações entre manchas solares, a meteorologia e os anéis de crescimento de árvores. Mais recentemente, Fritts (1971 a 1976) tem-se aperfeiçoado nos estudos, incluindo técnicas computadorizadas. O crescimento dos anéis, no qual são predominantemente anéis anuais, mostram uma "resposta" da árvore a variações do seu ambiente, particularmente devido ao tempo, embora ataques de insetos e outras pragas também os afetem (bem como alterações no solo). Devido a estes fatores, falsos anéis podem surgir. O estudo dos anéis é fácil nos seguintes casos: i) árvores crescendo no limite polar das florestas (taigas), aonde as variações são devidas principalmente às diferenças de temperatura no verão (quando se processa o crescimento da árvore e a formação do anel). ii) árvores de regiões montanhosas próximas ao limite superior máximo (linha da floresta) nas mesmas condições, iii) árvores crescendo em regiões marginais de desertos, ou regiões semi-áridas, onde as variações são devidas às estações secas e chuvosas. Árvores de climas tropicais também podem ser usadas, como no caso de estudos como para a floresta amazônica, onde há uma estação chuvosa com alagamento bem definida. Há, também, o estudo da largura do anel, variando com a idade da árvore. Por exemplo: a largura do anel da Sequoia washingtoniana é cerca de 2,5 cm nos seus primeiros 10 anos de idade, após 200 anos é de 90% do anel "jovem", após 500 anos é de 60% e após 1700 anos é de 30%. Em 1971, Fritts desenvolveu os principais métodos aplicados a dendroclimatologia, que se seguem abaixo alguns deles: 1) a escolha de árvores e lugares na qual a largura dos anéis é limitada, diretamente ou indiretamente, pelo estresse causado pelo tempo. O mais importante aqui é encontrar a máxima variação na largura do anel, para, também, maximizar a variação comum em muitas árvores e ao mesmo tempo, minimizar os efeitos não climáticos. 6 2) cada série de anéis deve ser ajustada de acordo com as idades das árvores. Este ajustamento é feito considerando a largura do anel individualmente em relação à curva exponencial da média de crescimento plotado contra a idade. A largura do anel esperada, y, é aproximadamente feita pela curva da expressão y= a.e-bx, onde x é o número de anos depois do período de crescimento máximo na sua juventude e a e b são constantes (ver fig. 4.1). Figura 4.1. Curva de crescimento da largura do anel do abeto negro em Manitoba (Canadá).Observar que somente a curva descendente é utilizada. 3) há evidências que mudanças no clima de longo período são menos fielmente registrados nas séries de anéis em regiões semi-áridas, talvez porque a competição entre as árvores no local se acelera com um ligeiro aumento na umidade e altera a série. Nestes locais é melhor utilizar árvores dos lugares mais secos. E em regiões polares é melhor utilizar as árvores até o limite de 100 metros do final da taiga. 4.2 PALINOLOGIA Palinologia é o estudo dos grãos de pólen, incluindo os esporos das plantas inferiores, partes microscópicas das próprias plantas e materiais fósseis. É um dos ramos que mais tem contribuído para a Paleoclimatologia. A estratifigrafia feita nos pântanos (e/ou em turfas) é a análise principal para se obter os perfis verticais de pólens e esporos sedimentados há séculos. As datações servem para se estimar a idade de cada camada, enquanto que as espécies encontradas identificam o ecossistema desta camada (ou período), vide figura 4.2. 7 Figura 4.2. Diagrama de estratificação de pólens de pântano de turfa no centro-norte da Escócia. Porcentagens de pólen de diversas espécies, especialmente Betula e Pinus (vidoeiro, próximo ao carvalho, e pinheiro). Como exemplo, na Europa, a planta ornamental mais usada foi à hera, embora sendo esta bastante afetada, na sua distribuição, pela atividade humana. A hera não tolera, no mês mais frio, médias abaixo de -2C, nem no mês mais quente menos que 13C. Estudando-se 8 seu grão-de-pólen temos uma visão de sua distribuição no passado, notadamente durante o Império Romano. Deve-se levar em conta, também, a capacidade de transporte do pólen, bem como o tipo de nicho em que se encontra. Os pólens podem ser dispersos por muitos meios, como veremos mais para frente em biometeorologia vegetal, não só pelo vento (anemocoria). Tauber (1965) considera a distribuição dos pólens em três categorias: 1) aqueles que ficam dentro da própria floresta ou por serem pesados demais para o transporte fora da floresta ou por possuírem outro meio de dispersão = f(1). 2) pólens carregados logo acima das copas das árvores =f(2). 3) pólens carregados por correntes convectivas para cima da camada limite e retornam através da precipitação da chuva =f(3). Para cada nicho ecológico (ex.: floresta, pântano ou um grande lago) há diferentes proporções de deposição destes três tipos de dispersão dos grãos. Por exemplo: para um pequeno lago ou pântano, f(1)= 0.8, f(2)= f(3)=0.1 e para um grande lago, f(1)=0.1, f(2)=0.7 e f(3)=0.2. A Palinologia, no entanto, não pode ser utilizada para a determinação de estrutura de fina escala nas flutuações climáticas. Devido ao carregamento pelo vento as grandes distâncias e a possível existência de microclimas favoráveis ao desenvolvimento de uma flora não compatível com as condições climáticas em geral, a palinologia pode estar, então, incorreta. Ainda assim o método é utilizado em efeitos de larga escala (macro e mesoescala) sobre intervalos maiores que 1000 anos até cerca de 50 000 anos. 4.3 DISTRIBUIÇÃO DA VEGETAÇÃO E ANIMAIS NO PASSADO. O estudo da distribuição de vegetais no mundo denomina-se fitogeografia e de animais, zoogeografia. Ambas são importantes para se definir ecossistemas e climas/sistemas meteorológicos de cada região. O seu estudo no passado pode nos fornecer o mesmo tipo de informação. i) Distribuição dos vegetais ou fitogeografia. Visto que o pólen é carregado a grandes distâncias, a descoberta de um tronco antigo ou pedaço grande de folha nos assegura uma identificação positiva da posição do vegetal. Este é o recurso mais utilizado para se verificar a distribuição dos vegetais no passado (vide figura 4.3). Durante o último período glacial, a Amazônia possuía um ecossistema semelhante ao cerrado, com pequenas "ilhas" de florestas, aonde houve uma grande 9 especialização de seres vivos aí presentes, criando, posteriormente, a sua grande diversidade de flora e fauna. Figura 4.3. Zoneamento do clima e vegetação na última idade do gelo e no presente para a Europa, setor 0-15 E. A rubiácea Declieuxia "assumiu" aspecto de gramínea para poder sobreviver ao rigoroso inverno na Serra do Cipó e da Mantiqueira (ambas em MG), onde segundo alguns autores esta última teve até glaciares acima de 2000 m durante a glaciação Würm (12 000 anos atrás). O musgo do gênero Polytrichum, na Grã-Bretanha, ficou atualmente restrito às altas montanhas da Escócia, enquanto que durante a última glaciação se espalhava por toda ilha. O gênero Sphagnum é agora o mais comum, sendo adaptado a climas mais amenos com folíolos mais largos. O estudo com os liquens ou liquenometria tem sido utilizado para determinar a retração de glaciares e do desaparecimento de bancos de neve perenes. Os esporos dos liquens alcançam a face rochosa recém exposta rapidamente e algumas espécies (p.ex.: Rhizocarpum geographicum) são conhecidas por serem os primeiros a crescer após a retração do gelo. O crescimento é vagaroso e contínuo por muito tempo. B) Distribuição de animais ou zoogeografia. 10 INSETOS: Estes são a mais prolífera fonte de informação da paleoclimatologia de toda fauna terrestre. Seu pequeno tamanho, a grande diversidade de espécies, a boa preservação de certas partes duras (ex.: abdômen) os fazem possível ser encontrados em um grande número nos depósitos sedimentares. Entre os insetos fósseis, os fragmentos mais identificáveis pertencem aos besouros (ordem Coleoptera) porque seu exoesqueleto é resistente e sua identificação por espécies é fácil, além de representar cerca de 70% das espécies da classe Insecta. Em depósitos lacustres, podemos encontrar dípteros (moscas e mosquitos) comuns a estas áreas. Há, também, trabalhos feitos em formigas (ordem Hymenoptera), devido a serem espécies muito antigas. PÁSSAROS: O alcance das espécies de pássaros, bem como seus ninhos, certamente mudam com alterações climáticas e meteorológicas, não somente em grandes modificações (eras glaciais) como também com pequenas flutuações alteram o hábito de muitas espécies. As espécies migratórias são grandemente afetadas pelas alterações climáticas, como no caso das aves que aportavam em ilhas, durante a última glaciação, hoje são cobertas pelo mar. ANIMAIS TERRESTRES: Tais como as aves , estas mudanças também afetam sua distribuição. Os mais óbvios casos, nos quais estas influíram na zoogeografia, incluem : i) a imigração dos animais e do próprio ser humano, da Ásia para a América, através do estreito de Behring, durante a glaciação Würm (cerca de 20 000 anos). Situação similar na Austrália e N.Zelândia, durante o Pleistoceno ( 500 000 anos). ii) a recolonização das ilhas Britânicas, durante a última glaciação com a diminuição do leito do mar (cerca de 100 m), deixando passar grandes mamíferos ( ex. ursos). iii) os movimentos de animais e homens através do Saara, na diminuição das chuvas no período pós-glacial, quando os níveis do lago Tchad e do Nilo começaram a baixar. Havia até antílopes, girafas e hipopótamos em 3000-2500 a.C. Os moluscos (caramujos, bivalves, etc.) também são interessantes para o estudo devido à sua abundância, facilitando assim, os métodos estatísticos. Suas conchas calcárias possuem boa preservação, especialmente em solos não ácidos. C) vida marinha A fauna e flora marinha nos indicam muitos fatores climáticos e físicos dos oceanos como temperatura, salinidade, poluição, etc. Há um ótimo de condições para cada espécie, no qual a produtividade é máxima e as condições limites onde a espécie( ou o espécime) padece. No caso do mar, as condições são mais estáveis, havendo um grande número de espécies adaptadas a nichos ecológicos bastante estreitos, por ex.: os corais de recifes, não 11 sobrevivem em águas inferiores a 18C, ou, alguns peixes antárticos vivem entre 4C e 4.5 C, qualquer oscilação para cima ou para baixo são fatais. Os foraminíferos estão entre as espécies mais estudadas em relação a paleoclimatologia, ( e obviamente paleo-biometeorologia), porque há espécies adaptadas a condições bastante específicas, especialmente de temperatura, por todo o globo. Por exemplo: i) grupo tropical : entre 30N e 30S, oeste do Atlântico, 10N e 10S, costa da África. Espécies: Globigerinoides ruber, G. sacculifer, Globorotalia menardii. ii) grupo-subtropical: entre 40 e 45N Espécies dominantes: Globorotalia truncatulinoides, G. falconensis, G.inflata. iii) grupo sub-polar: norte do Atlântico (até 66) e Antártida, Espécies dominantes: Globorotalia pachiderma, G. bulloides, Globigerinita glutinata. iv) grupo polar: mais de 70. Espécie: Globorotalia pachiderma 4.4 CLIMATOLOGIA HISTÓRICA 1783 Jun 8, In Iceland the Lakagicar volcano began erupting. Over the next 6 months it built a lava dam 40 miles long and 540 feet high in a month. The Laki volcano wiped out 75% of the crops which led to a severe famine that killed some 10,000 people, 20% of the population. This was described by Haraldur Sigurdson in an article titled Volcanic Pollution and Climate rench Revolution Laki, Iceland, 8th June 1783 to early February 1784 Very large eruption from a 30-km-long fissure preceded by a week of earthquakes, produced between 12.5 and 15.7 km3 of basaltic lava, the largest flow on Earth within historic time, sent large quantities ~122 Tg = 122 million tonnes (1 Tg = 1 teragram = 1012 g = 106 ton) of sulphur dioxide (SO2), which yielded 50 to 65 million tonnes of sulphuric acid aerosol (!), and of carbon dioxide (CO2) in the atmosphere “Famine winter” in Iceland 9,000 people (25% of population of Iceland) died, a few directly from the lava flows, most from various forms of lung and skin poisoning 12 75% of all livestock died of lung inflammation and of starvation in the following winter Benjamin Franklin, living in Paris at the time, attributed, in a 1789 scientific paper, the extremely cold years that followed throughout Europe to the emissions from that eruption that prevented sunlight from reaching Earth’s surface. (And since crop failures in Western Europe at the time have been alleged to be responsible for great popular discontent, and, in particular, for the onset of the French Revolution in 1789, it can be at least argued that the Laki eruption triggered that revolution The outbreak of the French Revolution in 1789 was explained by the gigantic eruption of Mt. Laki on Iceland in 1785 , which had caused quasi-atomic -winter and very bad crops over Europe Decline of the Roman Empire The impact of Quaternary climate (as a matter of geoscience) was a substantial geological factor for human life. The great migrations of people in Europe after the end of the Roman Empire were related to deteriorating climate conditions in Northeast Europe and northern Asia A flutuação climática afetou muitas as atividades humanas, tanto nos períodos préhistóricos como na própria História, onde há muitas evidências, sendo na sua maior parte, indiretas, já que os seres humanos constroem abrigos há muito tempo. Entre estas evidências podemos destacar perdas de safras agrícolas, guerras, epidemias, pressões econômicas, migrações, etc. Podemos dividir as evidências em pelo menos quatro tipos: i) relatos diretos, tais como (na Inglaterra, séc. XII) se houve sol, chuva, neve, etc. Relatos estes foram diários. ii) eventos incomuns, tais como a boa produção de vinhos, por volta de 1085, na mesma Inglaterra, indicando clima mais ameno do que de hoje. O mesmo ocorrendo até 750 m de altitude na Floresta Negra. iii) evidências culturais e econômicas determinando influências nas sociedades em diferentes períodos, tais como migrações, apogeu de determinadas culturas, vestimentas (toga romana de linho e seda até próxima à queda do Império), etc. Determinismo geográfico (no caso climático): a teoria do determinismo assegura que o clima tem profunda influência no curso da História, sendo este tema muito controverso, pois há teorias economistas, como o marxismo-leninismo, dizendo que este determinismo é 13 irrelevante. Exemplo de determinismo; o espessamento da capa de gelo na Groenlândia foi fatal para a colonização viking, explicação economista: o comércio para estas regiões remotas não compensava, devido a isto os vikings desistiram de tentar colonização neste local. Uma série de colheitas mal sucedidas afetaria a estabilidade política de uma determinada cultura, facilitando ser dominada por outra. Isto é difícil de se provar, pois o número de variáveis é astronômico, e também não como fazermos experimentação, seguindo as três metodologias apresentadas na Aula 1. Outros exemplos de determinismo podem citar os harapanos, no NW da Índia (Rajasthan), com pecuária extensiva, entre 3000 e 1700 a.C. Devido a este pastoreio e agricultura extensiva, o vale foi se desertificando, gerando hoje um deserto "artificial", chove 4 vezes mais que na maioria dos desertos, mas há uma cobertura permanente de areia no vale, afetando o balanço radiativo e a pedologia local. Nos quadros abaixo podemos verificar como clima pode afetar uma população humana, através de sua agropecuária, e afetando sua saúde, tabela 4.1 e figura 4.4. Tabela 4.1 Média da altura de jovens (masc.) na Islândia, feita por Bergthorson (1962) período média de altura em cm 874-1000 178.2 1000-1100 171.8 1100-1563 172.0 1700-1800 166.8 1952-1954 177.4 Figura 4.4 Variação do comprimento dos glaciares na Islândia e Noruega, desde 10000 a.C. (Ahlman, 1953). 14 15 EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR de humanos e animais, tanto efeitos psicológicos como fisiológicos. A pele humana parece ser um sensor rudimentar ao espectro visível. O efeito emocional das cores já foi relatado inúmeras vezes, sob o ponto de vista empírico, especialmente na França. Experimentos recentes mostram que o hipotálamo responde à todos o (luz monocromática). A retina dos seres humanos e primatas evoluídos possui 2 tipos de receptores : os cones, sensíveis a luz branca (pico de sensibilidade no amarelo, = 510 nm, comparar com o pico de emissão do Sol = 480 nm) e os bastonetes, sensíveis ao azul, ideal para a visão noturna. Os pássaros possuem visão colorida, também com o pico de sensibilidade no amarelo. Já os insetos (abelhas e borboletas) não enxergam o vermelho, mas vêem o UV. Quanto à duração da luz, ela afeta o ciclo circadiano de animais e homens. 3.3.3.3 Efeito do ultravioleta. As plantas terrestres e o plâncton são responsáveis por praticamente toda a manutenção dos ecossistemas da Terra. Exceção feita aos ecossistemas existentes nas fossas vulcânicas abissais (ex. Galápagos), no qual a luz solar não influi em nada, dependentes, portanto, dos nutrientes exalados por estas fossas e bactérias que se utilizam destes. Já o UV é danoso para os vegetais e plânctons devido à destruição que provoca na clorofila A e B, deixando a planta amarelada. Com a atual taxa de diminuição do ozônio, a produção mundial de alimentos pode cair em 5% ou mais. Os raios ultravioletas dividem-se em 3 categorias A (de 325 nm a 380 nm), B (de 290 a 315 nm) e C ( < que 290 nm). Nem todos UV causam eritemas e pigmentação (escurecimento da pele), somente UV-B e = 380 nm e causam, os demais são refletidas pela pele. A radiação UV induz a formação de vitamina D a partir do ergosterol e histamina no sangue, portanto, em pequenas doses, é benéfico. As pessoas mais fotossensíveis são as loiras, especialmente as ruivas; as crianças são menos fotossensíveis que adultos, os homens mais que as mulheres e os indivíduos são mais sensíveis no outono e primavera do que no inverno e verão. 16 A exposição à radiação UV nos seres humanos resulta em efeitos nos tratos gastrointestinais, no sistema circulatório, hipotálamo-pituitária e nas funções endócrinas. O UV-B é o maior causador de câncer de pele, este só se manifesta após longa exposição, por anos de banhos de Sol, na horas mais fortes do dia, em baixas latitudes ( < 45o). Há 3 tipos de câncer provenientes do UV-B ; o melanobastoma maligno (+ raro e pior) a célula de carcinoma e o carcinoma de célula esquamoso basal (+ comum na face e pescoço) . 17