Texto internet e cérebro

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Internet "reprograma" cérebro, mas dificulta concentração dos jovens.
Estudo revela que a revolução digital está mudando o comportamento e o
jeito de pensar
Do R7, com agências internacionais.
Foto por Getty
Pesquisadores descobriram que internet e outras tecnologias ajudam na
realização de várias tarefas ao mesmo tempo, mas atrapalham a
concentração.
A revolução digital pode estar “reprogramando” o cérebro de crianças e
de adolescentes – facilitando a realização de várias tarefas ao mesmo
tempo, mas tornando difícil a concentração por muito tempo.
A conclusão será revelada em um documentário da BBC, chamado A
Revolução Virtual, que será exibido no próximo sábado (13) na Inglaterra.
A descoberta ajuda a aumentar a preocupação em torno da internet e dos
dispositivos eletrônicos de que eles não estejam mudando só o
comportamento das pessoas, como também o jeito de pensar.
O professor David Nicholas da Universidade College London testou a
habilidade de cem voluntários para responder a uma série de perguntas
ao navegar na internet.
Resultados preliminares revelaram que jovens de 12 a 18 anos passaram
menos tempo buscando informações antes de responder as perguntas do
que os voluntários mais velhos.
Em média, eles responderam cada pergunta depois de acessar a metade
do número de páginas na web – gastando só um sexto do tempo lendo a
informação – visitadas pelos mais velhos.
Os adolescentes que cresceram junto com a web se saíram melhor em
atividades multitarefa, isto é, ao realizar vários trabalhos mentais de uma
vez só.
Os mais jovens – nascidos depois de 1993, um ano antes do lançamento
da internet comercial no mundo – também tendiam mais a conseguir
respostas com os amigos do que usar fontes confiáveis de informação.
Uma pesquisa anterior do professor Nicholas descobriu que pessoas mais
jovens usam a internet de um jeito diferente dos mais velhos, pulando de
site em site e raramente voltando à mesma página duas vezes.
Alguns psicólogos dizem que não existem evidências de que a internet
esteja mudando o cérebro e de que as pessoas mais jovens sempre
tenham se esforçado para se concentrar.
Mas outros especialistas afirmaram que a internet encoraja o usuário
“zapear” por várias páginas em vez de se concentrar em uma fonte como
o livro, o item de pesquisa mais importante na vida de um estudante.
Esse novo tipo de pensamento associativo deixa a maioria das pessoas
incapaz de lidar com disciplinas “lineares”, como a leitura e a escrita, por
bastante tempo porque a mente deles foi moldada para funcionar de
forma diferente.
Outros pesquisadores dizem no documentário que que as pessoas mais
jovens estão perdendo a capacidade de ler e estudar usando livros.
A neurocientista Susan Greenfield, que é professora da Universidade de
Oxford, na Inglaterra, disse que "a web e as redes sociais estão
‘infantilizando’ a cabeça das crianças e as distanciando da realidade".
Não culpe a internet
4 de julho de 2010|
Por Redação Link
Por Steven Pinker* – Especial para o ‘The New York Times’
Novas mídias sempre causam pânico moral: imprensa, jornais, e a TV
foram outrora denunciados como ameaças ao cérebro e à fibra moral dos
consumidores.
O mesmo ocorre com o digital. Fala-se que o PowerPoint está reduzindo o
discurso a meros tópicos; que os sites de busca nos estimulam a deslizar
pela superfície do conhecimento em vez de mergulhar em suas
profundezas; e que o Twitter reduziria nossos períodos de atenção.
Mas esse pânico sempre se revela exagerado quando confrontado com a
realidade. Quando os quadrinhos foram acusados de incitar a delinquência
juvenil na década de 50, o crime baixava a níveis recorde; como as
denúncias contra os games na década de 90 coincidiram com o declínio da
criminalidade nos EUA. As décadas da TV, do rádio e dos clipes também
foram décadas em que os níveis de QI não pararam de subir.
A título de comparação, consideremos a situação das ciências, que exigem
elevados níveis de trabalho mental – o qual por sua vez é medido por
claros pontos de referência representados pelas descobertas. Atualmente
cientistas nunca se separam do seu e-mail, raramente tocam em papel e
não conseguem dar aula sem o PowerPoint. Se a mídia eletrônica fosse
perniciosa para a inteligência, a qualidade da ciência estaria decaindo.
Entretanto, as descobertas estão se multiplicando, e o progresso é
espantoso. Outras atividades da vida da mente, como filosofia, história e
crítica cultural, estão igualmente florescendo, como poderá atestar
alguém que perca uma manhã de trabalho consultando o site Arts &
Letters Daily.
Críticos das novas mídias usam a própria ciência para divulgar seus pontos
de vista, citando pesquisas que mostram que “a experiência pode
modificar o cérebro”. Mas os neurocientistas que estudam o processo
cognitivo menosprezam esse discurso. De fato, toda vez que nos
inteiramos de um fato ou aprendemos uma habilidade, as conexões do
nosso cérebro mudam; não é como se a informação estivesse armazenada
no pâncreas.
Entretanto, a existência da plasticidade neural não significa que o cérebro
seja uma bola de argila moldada pela experiência. Ela não moderniza a
capacidade do cérebro de processar as informações. A realização de
múltiplas tarefas também foi apresentada como um mito, e não por
estudos de laboratório, mas pela visão familiar de um carro grande
andando em ziguezague pela rua enquanto o motorista trata de negócios
pelo celular.
Além disso, como os psicólogos Christopher Chabris e Daniel Simons
mostram em seu novo livro The Invisible Gorilla: And Other Ways Our
Institutions Deceive Us (O gorila invisível, e outras maneiras de as nossas
instituições nos enganarem), os efeitos da experiência são extremamente
específicos em relação às próprias experiências.
Se você treina pessoas para fazer determinada coisa (reconhecer formas,
resolver problemas de matemática, achar palavras escondidas), elas se
aperfeiçoarão nessas tarefas, mas em quase nada mais. A música não faz
que a gente seja melhor em matemática; conjugar o latim não nos torna
mais lógicos; os jogos que treinam o cérebro não nos fazem mais
inteligentes. As pessoas que têm formação sólida não abarrotam seus
cérebros com malabarismos intelectuais; elas mergulham nos seus
respectivos campos. Escritores leem muitos romances, cientistas leem
muito sobre ciência.
Os efeitos do consumo de informações eletrônicas provavelmente são
muito mais limitados do que se tem dito. Os críticos de mídia escrevem
como se o cérebro absorvesse as qualidades de tudo o que consome, o
equivalente a “você é o que você come” em termos de informação. Assim
como os povos primitivos acreditavam que comer animais selvagens os
tornariam ferozes, eles pressupõem que assistir a clipes transforma nossa
vida mental em clipes ou que postar no Twitter transforma nossos
pensamentos em tweets.
É claro, a entrada constante de pacotes de informações pode distrair ou
viciar, principalmente no caso de pessoas que têm problemas de falta de
atenção. Mas a distração não é um fenômeno novo. A solução não é
culpar a tecnologia, mas criar estratégias para adquirir autocontrole, como
fazemos com todas as tentações na vida. Desligue o e-mail ou o Twitter
quando você trabalha, guarde o Blackberry na hora do jantar e peça à sua
esposa que o chame para ir dormir a uma determinada hora.
E para estimular a profundidade intelectual, não xingue o PowerPoint ou o
Google. O hábito da profunda reflexão, da pesquisa cuidadosa e do
raciocínio rigoroso nunca surgiu naturalmente nas pessoas. Ele deve ser
adquirido em instituições especiais, a que chamamos de universidades, e
mantidos por meio de uma atualização constante, a que chamamos de
análise, crítica e debate. A capacidade de reflexão não é adquirida apenas
ao segurarmos uma pesada enciclopédia no colo; e nem é tirada porque
temos um acesso eficiente à informação na internet.
Os novos meios de comunicação vieram para ficar por uma razão. O
conhecimento está crescendo exponencialmente; o poder do cérebro
humano e as horas que ficamos acordados, não.
Felizmente, a internet e as tecnologias da informação estão nos ajudando
a administrar, buscar e recuperar nossa produção intelectual coletiva em
diferentes escalas, do Twitter aos e-books e às enciclopédias online. Longe
de nos tornarem burros, essas tecnologias são as únicas coisas que
contribuirão para nos manter inteligentes.
(TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA)
ARTE: JOSÉ CARLOS LOLLO FOTO: GIACOMO FAVRETTO
* Steven Pinker é professor de psicologia em Harvard, cientista cognitivo e
linguista. Seu livro ‘Como a Mente Funciona’ (1999) foi importante para
popularizar conceitos recentes da neurociência. Sua obra mais recente é
‘Do Que é Feito o Pensamento’ (2008, ambos da Cia. das Letras).
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