Instituto Gaylussac TSE – Língua Portuguesa e Literatura Professora: Aline Bernar Data de Aplicação: 12/02/15 (quinta-feira) Valor Máximo: 21 pontos (14 itens de resposta) - cada questão vale 1,5 Texto I – Escrever, por quê? – Lya Luft Por que escrevo: como encontrar algo de original para dizer na décima, na quinquagésima ou centésima vez, sendo atenciosa como qualquer pessoa merece, sobretudo um estudante ou profissional das perguntas? A resposta direta seria: escrevo porque sou ambivalente, insegura e desejosa de cumplicidade. Mas, com uma pontinha de malícia, às vezes dou uma resposta torta: a questão não é por que, mas “sobre o que escrevo”. De que falo, então, ao fazer minha literatura? Um dos rótulos usados em relação a isso é “ela escreve sobre mulheres”. Constatação falhada, pois mulheres não são meus personagens exclusivos, nem mesmo os mais elaborados: são homens e crianças, casas com sótão e porões, dramas ou banalidade. Falo também do estranho atrás de portas, mortos que vagam e vivos que amam ou esperam. Escrevo sobre o que me assombra, às vezes desde a infância. Escrever para mim é sobretudo indagar: continuo a menina perguntadeira que perturbava os almoços familiares querendo saber tudo, qualquer coisa, o tempo todo. Portanto, escrevo para obter respostas que – eu sei – não existem... por isso continuo escrevendo. E escrevo sobre possibilidades de ser mais feliz – isso, eu sei também, depende um pouco de cada um de nós, de nossa honradez interior, nossa fé no ser humano, nosso compromisso com a dignidade. De sorte, e de decisões que muitas vezes só anos depois poderemos avaliar. Falo do que somos: nobres e vulgares, sonhadores e consumidores, soprados de esperança e corroídos de terror, generosos e tantas vezes mesquinhos. Invento para minhas criaturas muito mais do que expresso em linhas ou silêncios – sempre o mais importante de um texto meu. Mesmo que nem mencione, sei se aquela mulher usa algodão ou seda, se a escada range quando ela caminha – ainda que nenhum desses detalhes apareça no romance. Conheço a solidão daquele homem, se cultiva medos secretos, se pensa na morte, se desejaria ser mais amado. E quando começo a “ser” essa pessoa, quando o clima da obra me envolve e arrasta, chegou o momento em que o livro quer ser escrito. Então estarei aberta a ele, escutando o que se passa no meu interior. Boa parte do que eu escrevo brota desse caldeirão de bruxas que é inconsciente e lucidez, memória e invenção, susto e amadurecimento. São meus e não são, esses vultos com seus destinos e desatinos – que armo e desarmo. De repente aí estão meus personagens: um olho, um contorno de um perfil, um gesto, um riso ou uma tragédia, um silêncio e uma solidão. Persigo a sua busca de significados. Escrevo porque tenho prazer em elaborar com palavras tantos destinos cujo fio nasce em mim, produzindo novelos para que eu trabalhe minhas tapeçarias. Escrevo para seduzir leitores: venham ser cúmplices da minha perplexidade fundamental, essa que me move. (...) O escritor fala pelos outros. Trabalha para que os outros sonhem ou enxerguem melhor coisas que ele próprio adivinha – estão além de sua visão, mas dentro de seu pressentimento. Talvez seja essa a função de toda a arte (se é que ela tem alguma): a libertação e o crescimento de quem a exerce e de quem a vai contemplar. In: LUFT, Lya. Pensar é Transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. (p.179-181) 1. Segundo Lya Luft (Texto1), ela escreve porque é ambivalente, insegura e desejosa de cumplicidade. Explique o que essas três características podem dizer sobre uma pessoa: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Gabarito: Resposta Pessoal. Ainda no texto 1 encontramos uma passagem em que a cronista parece não falar do leitor, mas com o leitor. Encontre essa passagem no texto, transcreva-a e explique: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: venham ser cúmplices da minha perplexidade fundamental, essa que me move. 2. Observe as duas passagens abaixo e explique, com base nas palavras em negrito, a diferença semântica entre elas: Escrevo porque tenho prazer em elaborar com palavras tantos destinos. Escrevo para seduzir leitores _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ____________________________________________________________ Gabarito: causa/ explicação e finalidade. 3. Na passagem “São meus e não são” (Texto 1) podemos perceber a existência de uma palavra que não foi grafada. Caso que a Gramática chama de “elipse”. Explique o motivo: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ____________________________________________________________ Gabarito: (meus) para evitar repetição desnecessária. O termo é facilmente identificado apesar de estar subentendido. 4. Analise a passagem abaixo e apresente o valor semântico do termo sublinhado: (...) estão além de sua visão, mas dentro do seu pressentimento. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ____________________________________________________________ Gabarito: adversidade/oposição Texto II – O Narrador – Walter Benjamin (...) O narrador é sempre alguém que sabe dar conselhos ao ouvinte. Se, no entanto, “dar conselhos” começa hoje a soar-nos como uma coisa antiquada, isso se deve ao fato de a comunicação da experiência ser cada vez menor. Em consequência disso, não sabemos dar conselhos, nem a nós nem aos outros. Conselho é mais uma proposta do que a resposta a uma pergunta, é a continuação de uma história começada (ainda que esteja a desenrolar-se). Para pedirmos um conselho deveríamos antes de mais, saber narrar a história. (Já sem contar que alguém só está receptivo a um conselho quando for capaz de expor abertamente a situação.) O conselho, que é tecido na substancia da vida vivida, é sabedoria. A arte de narrar tende a acabar porque o lado épico da verdade – a sabedoria – está a morrer. In: Benjamin, Walter. Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política. Lisboa: Relógio d’ agua, 1992. 5. No texto “O Narrador”, Walter Benjamin afirma que a verdadeira arte de narrar está em extinção. De acordo com essa afirmação, explique as questões apresentadas por Benjamin a partir de suas palavras: a) “O narrador é sempre alguém que sabe dar conselhos ao ouvinte.” De que tipo de narrador Benjamin está falando? ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __________________________________________________________ Gabarito: O Narrador da tradição oral b) “A arte de narrar tende a acabar porque o lado épico da verdade – a sabedoria – está a morrer.” Com tal afirmação, Benjamin está apoiado em um tipo de tradição. Explique: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________ Gabarito> Na tradição oral. 6. Apresente a classificação sintática e semântica dos vocábulos sublinhados nos períodos abaixo: a) “Em consequência disso, não sabemos dar conselhos, nem a nós nem aos outros.” ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ Gabarito> conjunções /Adititva b) “A arte de narrar tende a acabar porque o lado épico da verdade – a sabedoria – está a morrer.” ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Gabarito> conjunção / explicação Texto III – Capitães da Areia – Jorge Amado (Capítulo “O Trapiche”) Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem. Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nessa ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar á noite. 7. O primeiro capítulo da obra Capitães da Areia, de Jorge Amado, apresenta o local onde as ações transcorrerão. Um trapiche à beira do mar, que no passado fora um local movimentado e agora está sujo e infestado de ratos. Explique: a) Qual é o significado simbólico do trapiche para os meninos chamados de Capitães da Areia? (a) Local de trabalho (b) Casa dos pais (c) Casa e Família (d) Abrigo público (e) Esconderijo b) Qual é a importância do mesmo trapiche para o estudo dos elementos da narrativa? (a) Tempo psicológico (b) Espaço diegético (c) Tempo interno (d) Espaço interno (e) Tempo cronológico Texto IV - Pronominais (Oswald de Andrade) Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro 8. Na questão da variedade linguística, sabemos que nem o padrão nem, principalmente, o coloquial são totalmente homogêneos. Segundo o gramático Mário A. Perini: “Existe uma imensa gama de variedades de língua, que vão desde as mais informais até as mais formais e estereotipadas.” in: Gramática Descritiva do Português. São Paulo: Ática, 1999. (p. 24) Dessa forma, explique como Oswald de Andrade, no poema Pronominais, tenta fugir ao estereótipo atribuído pela sociedade e pela norma dita “padrão da língua”: (a) Ao dizer o bom negro e bom branco, tenta fugir ao esteriótipo de que apenas uma parcela da sociedade usa de forma equivocada a língua. (b) Ao dizer que o negro, apesar de ser bom, fala de forma estereotipada. (c) Quando menciona que o negro fala mais errado que o branco. (d) Quando chama o negro e o branco de homens bons, ele tenta desfazer o preconceito étnico. (e) Ao dizer que o negro é bom, tenta igualar esse falante ao falante branco que fala corretamente. 10. As diferentes variedades da língua são utilizadas em situações também diferentes. Assim, percebemos a adequação linguística de um falante quando encontra um amigo na escola ou quando está diante de seu padrão no trabalho. De modo geral, como podemos situar o conjunto de variedades que chamamos “coloquiais” e a variedade padrão quando pensamos nas modalidades oralidade e escrita? (a) (b) (c) (d) (e) A forma coloquial é mais facilmente encontrada na modalidade escrita. Podemos encontrar apenas a forma coloquial na modalidade falada. A modalidade escrita é estritamente a forma padrão da língua. A modalidade coloquial é mais encontrada no nordeste do Brasil. A modalidade escrita requer quase sempre a norma dita padrão em seu uso. 11. O que o gramático Mario A. Perini sugere quando chama algumas variedades de “formas esteriotipadas”? (a) Perini aponta para as formas vítimas do preconceito linguístico. (b) O gramático faz referência ao modelo padrão da língua. (c) Ele sugere que apenas o nordeste sofre preconceito linguístico. (d) Perini sugere que a modalidade vai depender a etnia do falante. (e) O gramático tenta abolir o preconceito linguístico.