Norbert Elias

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O Processo Civilizador
Norbert Elias
Grupo 10
César Grusdat de Assis
Rodrigo G. Gobbi
Emerson W. Cazzo
1. Biografia
Norbert Elias nasceu em Breslau – Wroclaw (Polônia), em 22 de junho de 1897,
região que naquela época fazia parte do território germânico. Alemão de nascimento, Elias
era filho de judeus. Imediatamente após terminar a escola secundaria, em 1915, se alistou
no Exército alemão, servindo, na Primeira Guerra Mundial, nos frontes leste e oeste, nos
serviços de telegrafia. Em 1917, Elias retornou a Breslau, onde completou o serviço militar,
auxiliando, como estudante de medicina, nos atendimentos de enfermagem. No período
entre o final da Primeira Guerra Mundial (1918) e os primeiros anos da República de
Weimar (1924), torna-se operário em uma fabrica de produtos metálicos. Em 1925, quando
ocorre a melhora da situação econômica alemã, Elias volta para a Universidade de
Heidelberg inicia a preparação de sua tese de habilitation, sob a orientação de Alfred
Weber – irmão mais jovem de Max Weber –, sobre a vida na sociedade de corte francesa
dos séculos XVII e XVIII – O homem da corte. Uma contribuição para a sociologia da
corte, da sociedade da corte e da monarquia absolutista), publicada pela primeira vez só em
1969, mais de 35 anos depois de terminada, aogra sob o titulo de A sociedade da corte.
Em 1930, Karl Mannheim é nomeado professor de Sociologia da Universidade de
Frankfurt, convidando Elias para trabalhar como seu professor-assistente de habilitation, a
qual lhe daria acesso ao posto de assistente de cátedra de Mannheim. Porem, o concurso de
habilitation é interrompido, devido às novas leis nacional-socialistas que, entre outras
medidas, impediam a atuação profissional de judeus. A ascensão de Adolf Hitler ao poder
na Alemanha obrigou Elias a fugir para a França, em 1933 e, em seguida, para a Inglaterra,
em 1935, onde naturalizou-se.
Na Inglaterra, um fundo de refugiados judeus concedeu a Elias uma pequena bolsa
para que pudesse sobreviver, pesquisar e estudar, proporcionando as condições para que
escrevesse seu mais famoso trabalho, O processo civilizador, o qual, em termos de
concepções e influências teóricas, encontra-se tanto no contexto de uma ampla perspectiva
sociológica, na tradição de Max Weber, quanto no da teoria psicanalítica, desenvolvida por
Sigmund Freud.
Traduzido sob o titulo de O processo civilizador, a magnum opus de Elias teve sua
primeira edição brasileira em 1990. o livro foi divido em dois volumes: o primeiro tem
como tema central a discussão sobre o que Elias chama de Uma historia dos costumes, e o
segundo, a exposição das idéias de Elias sobre a Formação do Estado e civilização.
Podemos afirmar que essa obra corresponde à introdução ao estudo do pensamento de Elias
no Brasil, já que foi seu primeiro trabalho publicado entre nós, tornando-se, também, o
mais conhecido.
Na década de 1980, Elias tornou-se um dos maiores expoentes da sociologia alemã,
considerado dos derradeiros representantes da última geração de cientistas sociais da
República de Weimar, vindo a falecer em 1º de agosto de 1990, em Amsterdã. Foi nesse
período, em que sua contribuição teórica para as ciências sociais é reconhecida, que Elias
publicou a maioria de seus livros.1
Cronologia2
Norbert ELI AS - Dados biográficos e passagens de entrevista (publicada em 1984)
1897 – Nascimento de Norbert Elias em Breslau (Wroclaw), em 22 de junho, filho
de Hermann Elias, morto em 1940 em Breslau, e Sophie Elias, morta em 1941 (?) em
Auschwitz
1915 – Mobilização para a a guerra. Parte para o front ocidental.
1918 – Fez estudos de medicina e filosofia em Breslau, freqüentando dois semestres em
Heidelberg e Freiburg, respectivamente.
1924 – Defende sua tese de filosofia
1925 – Muda-se para Heidelberg para ingressar na carreira universitária; lá encontra Karl
Manheim e passa a se dedicar ao estudo da sociologia.
1930 – Instala-se em Frankfurt, onde se torna assistente de Karl Manheim.
1934 – Deixa a Alemanha e tenta encontrar, primeiro, um posto numa universidade da
Suíça, depois na França.
1935 - Vai à Inglaterra, passando pela Alemanha. Começa a redação de O processo
civilizador.
1935-75 – Temporada na Inglaterra, com algumas interrupções; depois da guerra,
trabalha no Adult Education Center.
1954 – Professor de Sociologia na Universidade de Leicester
1962-64 – Professor de Sociologia na Universidade de Gana, perto de Accra.
Pós-64 – Professor convidado na Holanda (Amsterdã, Haia) e na Alemanha (Münster,
Constanz, Aix-la-Chapelle, Frankfurt, Bochum, Bielefeld). Divide sua vida entre Amsterdã
(a partir de 1975) e o Centro de Pesquisas Interdisciplinares (ZIF) de Bielefeld (a partir de
1978).
1977 – Recebe o prêmio Adorno da cidade de Frankfurt pelo conjunto de sua obra.
1984–Instala-se definitivamente em Amsterdã
1990 – Morre em Amsterdã.
2. Apresentação da obra3
O Processo Civilizador (Über den Prozess der Zivilisation), foi publicado em 1939
em dois volumes, trata-se também da obra mais conhecida do autor. No primeiro volume
(Uma história dos costumes) Elias procura desenvolver uma análise da formação do habitus
europeu através da análise do indivíduo e de sua conformação através de atitudes sociais.
1
CARVALHO, Alonso B. BRANDÃO, Carlos F. (Orgs). Introdução à Sociologia da Cultura. Max Weber e
Norbert Elias. São Paulo: Avercamp, 2005.
2
ELI AS, N. (2001). Norbert Elias por ele mesmo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.
3
VIANNA, Alexandre Martins. A atualidade teórica de Norbert Elias para as ciências sociais. Espaço
Acadêmico, Maringá, n. 49, jun. 2005.
O autor procura ao longo do segundo volume (Formação do estado e civilização) da
obra estabelecer relações entre a formação dos Estados Nacionais com características
individuais, sendo estas modeladas socialmente, nessa proposta estruturas de personalidade
e estruturas sociais não são tomadas como elementos fixos, imutáveis, mas como estruturas
com aspectos interdependentes que se determinam em processos de longo prazo.
3. Estilo de pensamento
Uma das grandes influências no pensamento de Norbert Elias é o pensamento de
Max Weber. Dentro do pensamento destes dois autores notamos uma confluência entre suas
analises sobre a cultura ocidental, destacando questões sobre a religião e sobre o uso do
monopólio legitimo da força física. Outra grande influencia na obra de Elias é o
pensamento psicanalítico desenvolvida por Freud. Elias utiliza-se de conceitos da
psicanálise tais como ego, superego, pulsões, Id, etc., demonstrando claramente a influência
da psicanálise na obra de Elias. O autor também forja dois conceitos fundamentais em sua
obra, a psicogênese e a sociogênese, estas duas dimensões simbolizam a influência
recíproca entre indivíduo e sociedade. As alterações ocorridas na personalidade do
indivíduo (psicogênese) provocam mudanças na estrutura social, e as alterações na estrutura
social e também nas relações sociais (sociogênese) também acabam causando influências
sobre a personalidade do indivíduo.(BRANDÃO, 2000, pp.10-11, Apud BARBOSA,
2005)4. A grande inovação de Elias é que ele foi o precursor na elaboração da Sociologia
Figuracional (ou Configuracional). Sendo que a Sociologia Figuracional “estuda as relações
humanas de forma processual (micro e macro social). O sentido figuracional é usado para
ilustrar redes de interdependência entre indivíduos e a distribuição de poder nas mesmas”
(SILVA, et al, 2005)5.
4. As principais idéias da obra
Elias parte da análise de características individuais e sociais para apontar a dinâmica
e a direção do longo processo de formação dos Estados Nacionais. Utilizando-se de
recursos freudianos como “ego”, “superego” e “id”, o autor procura construir conceitos que
explicitem sua abordagem. Como o autocontrole decorrente de processos externos, em que
o controle é interiorizado, impulsos e desejos passam a serem contidos.
Por autocontrole e autolimitação entendemos o processo de regulação social do
medo, prazer e violência. Esses elementos são característicos do ser humano, mas a
4
BARBOSA, Sergio Servulo Ribeiro. A Psicogênese e a Sociogênese nas obras de Nobert Elias e a sua
Relação com a educação no Processo Civilizatório. IX SIMPÓSIO INTERNACIONAL PROCESSO
CIVILIZADOR. Tecnologia e Civilização. De 24 a 26 de Novembro de 2005. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
ISNB: 85-7014-030-4. Disponível em http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos.html. Acessado em
18/11/2010.
5
SILVA, Arquimedes S. PILATI, Luiz A. KOVALESKI, João L. Norbert Elias e Eric Dunning: Estudos
sociológicos acerca do desporto e do lazer. IX SIMPÓSIO INTERNACIONAL PROCESSO CIVILIZADOR.
Tecnologia e Civilização. De 24 a 26 de Novembro de 2005. Ponta Grossa, Paraná, Brasil. ISNB: 85-7014030-4. Disponível em http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos.html. Acessado em 18/11/2010.
sensibilidade que determina sua manifestação, varia ao longo tempo através da conduta
social estabelecida.
Nessa mesma lógica de desenvolvimento chegamos ao momento mais refinado do
processo civilizador, que consiste no comportamento da nobreza em criar elementos de
diferenciação da burguesia em ascensão com a finalidade de conservar seu local de
prestígio junto à corte.
Consideramos também de central importância na abordagem do autor, o processo de
pacificação decorrente da passagem da nobreza guerreira para a nobreza de corte, onde o
uso da espada na resolução de conflitos cede lugar para as intrigas, e a força física para a
conversa.
A pacificação, em conformidade com toda uma estrutura de interdependência entre
Estados, poderia desencadear um processo que levaria a paz mundial ao eliminar as tensões
entre seus elementos através do monopólio do uso da força física.
Assim, diante dos diversos elementos que compõem toda a transformação
decorrente do processo civilizador desde seu “surgimento”, é possível a partir da análise de
seus efeitos observados por longos períodos de tempo, determinarmos uma ordem lógica na
ordenação dos eventos e também um sentido definido, por mais que tais acontecimentos
não tenham ocorrido de forma intencional ou arquitetadas por um único sujeito.
5. Contemporaneidade
“A imagem do homem como ‘personalidade fechada’ é substituída aqui pela
‘personalidade aberta’, que possui um maior ou menor grau (mas nunca absoluto ou total)
de autonomia face a de outras pessoas e que, na realidade, durante toda a vida é
fundamentalmente orientada para outras pessoas e dependente delas. A rede de
interdependência entre os seres humanos é o que os liga. Elas formam o nexo do que é aqui
chamado configuração, ou seja, uma estrutura de pessoas mutuamente orientadas e
dependentes. Uma vez que as pessoas são mais ou menos dependentes entre si, inicialmente
por ação da natureza e mais tarde através da aprendizagem social, da educação,
socialização e necessidades recíprocas socialmente geradas, elas existem, poderíamos nos
arriscar a dizer, apenas como pluralidades, apenas como configurações. Este o motivo por
que, conforme afirmamos antes, não é particularmente frutífero conceber os homens à
imagem do homem individual. Muito mais apropriado será conjecturar a imagem de
numerosas pessoas interdependentes formando configurações (isto é, grupos ou sociedades
de tipos diferentes) entre si. Vista deste ponto de vista básica, desaparece a cisão na visão
tradicional do homem. O conceito de configuração foi introduzido exatamente porque
expressa mais clara e inequivocadamente o que chamamos de ‘sociedade’ que os atuais
instrumentos conceituais da sociologia, não sendo nem uma abstração de atributos de
indivíduos que existem sem uma sociedade, nem um ‘sistema’ ou ‘totalidade’ para além
dos indivíduos, mas a rede de interdependência por eles formada. Certamente, é possível
falar de um sistema social formado de indivíduos, mas as conotações associadas ao
conceito de sistema social na sociologia moderna fazem com que pareça forçada essa
expressão. Além do mais, o conceito de sistema é prejudicado pela idéia correlata de
imutabilidade.” (ELIAS, 1994, vol I, p. 249)
Diante disso, o as idéias contidas em “O Processo Civilizador”, nos leva a pensar,
em nossa época atual, como as condutas dos indivíduos são forjadas num continuum
movimento dentro da teia social. A formação desta conduta não apresenta uma
intencionalidade, porém, com o seu próprio desenvolvimento este processo vai ganhando
uma certa racionalidade. E com a divisão de funções (em outras palavras, divisão social do
trabalho) a interdependência dos indivíduos, uns em relação aos outros, se tornam mais
complexas e com isso exige-se uma maior (auto)regulação e (auto)limitação de suas
emoções – uma maior “economia de emoções”. Lembrando que esta autoregulação e
autolimitação é conseqüência do monopólio do uso da força (ou da violência física). Com
isso, o homem perde o medo de ataques violentos de outros homem, entretanto, é inculcado
no individuo níveis de autocontrole e autoregulação, que os impedem de satisfazer de
imediato prazeres e outras necessidades.. As idéias contidas na obras nos faz ver que a
sociedade esta sempre em mudança estrutural e que estas mudanças interfere nas condutas
dos indivíduos. A atualidade da obra de Norbert Elias demonstra que o processo
civilizador, nas palavras de Jessé de Souza, serve para “expressar a autoconsciência do
Ocidente e legitimar sua superioridade em relação a outras culturas” e também que
“civilização caracteriza tudo aquilo em relação a que a sociedade ocidental explicita sua
autenticidade e singularidade e, acima de tudo, tudo aquilo em relação a que o Ocidente se
orgulha” (SOUZA, 2000). Mas também, e o que é bem atual, é que o individuo é forçado
por mecanismos, de formas conscientes e inconscientes a se movimentar dentro dos
padrões socialmente aceitos. E que, quanto mais a teia de relações sociais se torna mais
complexa impondo uma maior interdependência entre eles, que é resultado da divisão de
funções, mais intenso se torna este automatismo, ou seja, este autocontrole. Outro fator que
contribui para isso é o poder que o habito impõe. Isso resulta, também, muitas vezes, que
esta padronização se choque com a realidade. E que no final esse processo se configura
como uma transformação na conduta. Esta formas de condutas é determinada pelo processo
de diferenciação social, causa também, da divisão de funções.
Resumindo, a atualidade da obra, é que pelo monopólio do uso da força, criando
uma interdependência dos indivíduos, estando a violência física ausente (pois a violência é
despersonifica), gera mecanismos sociais de limitação entre os indivíduos, os quais se
baseiam em autolimitação, que é função das visões retrospectiva e prospectiva, que por sua
vez, gera um autocontrole, sendo este tanto consciente como pelo habito automatizado. Isso
faz nascer um autocontrole mais exato dos sentimentos e emoções de acordo com um
padrão que se baseia na diferenciação no entrelaçamento social.
6. Bibliografia
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador: uma história dos costumes. 2 ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994. 1 v.
______. O Processo Civilizador: formação do estado e civilização. 2 ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1994. v1 e v2.
______. “Mudanças na balança nós-eu” In: A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro:
Zahar, 1994. pp. 127-194.
SOUZA, Jessé. Norbert Elias e a seletividade do processo civilizatório ocidental. In: A
modernização seletiva. Uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: UNB, 2000, pp.
43-57.
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