Segunda-feira Mesa 01 - FILOSOFIA FRANCESA CONTEMPORÂNEA I – 9h às 12h30 Sala 600 Mediador: Lucas Axt André Dias de Andrade UFSCar – Pós-Graduação Orientador: Luiz Damon Santos Moutinho Título: Espectros do outro em Merleau-Ponty e Lévinas O elemento comum e que servirá de base para o diálogo entre os autores se encontra na noção de “transcendência”, já que tal noção situa o lugar que a relação com o outro ocupa em suas filosofias. Deve-se compreender primeiro como a transcendência é o movimento próprio em direção a uma dimensão intersubjetiva em que toma forma a relação social. Esse movimento e território comum se evidenciam na fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty, uma vez que ali a percepção não é compreendida como uma dentre as faculdades do sujeito, mas como abertura originária ao sentido e, portanto, a outrem. A noção de transcendência é então aquela da percepção, que se orienta sempre ao mundo e a um percebido como objeto transcendente, já que não há algo como um espírito a ser encontrado aquém do corpo como sujeito percipiente e para além do corpo do outro enquanto percebido. Na perspectiva de Lévinas temos que a transcendência possui um sentido para além daquele descrito por Merleau-Ponty. Pois se, para este, não se pode afirmar a existência de um objeto em-si ou de uma alteridade para além do percebido, o deslocamento que tal questão sofre em Lévinas nos permite coloca-los em diálogo. Já não se trata de pensar a transcendência em um sentido real ou ontológico, mas em um sentido ético, de modo que se acuse toda perspectiva estritamente fenomenológica de comprometer o sentido possível à alteridade: do ponto de vista de uma investigação sobre uma dimensão comum, uma arché ou um elo que une os termos em relação, a questão não encontra resolução e todo “outro” se reduz ao “mesmo”. A proposta de Lévinas, portanto, visa substituir a ética à ontologia, incorrendo numa noção radical de transcendência. Benito Eduardo Araujo Maeso UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Paulo Vieira Neto/Profª Marilena de Souza Chauí Título: Psicopolítica e capitalismo das emoções: da teoria crítica a Byung-Chul Han "As transformações pelas quais a sociedade e o pensamento passam na contemporaneidade apontam para a constatação de que os conceitos de sociedade disciplinar e de biopolítica, considerados até agora cruciais para permitir a leitura do presente, não dão mais conta de permitirem uma análise segura da atual conformação política e social do capitalismo. Da biopolitica e da exploração dos corpos,, o capitalismo hoje explora predominantemente a psique humana; de modelos verticais de aplicação de poder, hoje temos uma sociedade em rede na qual a dominação se dá em fluxos horizontais de controle e vigilância contínuos. Tais novas técnicas de poder – mais inteligentes do que as baseadas na coerção e na repetição - se coadunam com o avanço e a crise do neoliberalismo, não apenas mais uma simples modalidade do capitalismo, mas também um novo modo de pensar deste, concretizado na ideia de que hoje o indivíduo é o “empresário de si”, o trabalhador que explora a si mesmo. Esta comunicação tem como objeto apresentar alguns conceitos do pensador sul-coreano Byung-Chul Han, criador dos conceitos de “sociedade do cansaço” e de “psicopolítica”, como uma forma de realizar certo mapeamento destas transformações no tecido da sociedade e suas implicações nos campos da política e da economia. Ao pensamento de Han, serão estabelecidas pontes conceituais com elementos apresentados inicialmente pelos pensadores da Teoria Crítica, passando também pelo tema deleuziano das sociedades de controle. Palavras-chave: controle, Big Data, desejo, transparência, liberdade" Daniel Verginelli Galantin Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. André de Macedo Duarte Título: Foucault e Blanchot: um diálogo possível a partir das figuras da ausência de obra e do esquecimento Após uma análise da última parte de História da loucura, propomos uma leitura do artigo de Blanchot sobre História da loucura de Foucault com o objetivo de explorar um diálogo possível entre ambos os autores. Defendemos que o tema de fundo deste diálogo, tal como ele é proposto por Blanchot, é a relação entre pensamento e esquecimento. Mais precisamente, a questão que guia este diálogo concerne a possibilidade da construção de um pensamento que caminharia em direção a um tipo de esquecimento ativo e não de uma falta da memória, mesmo (ou mesmo especialmente) se tal pensamento se estrutura numa vasta documentação histórica como é o caso de Foucault. Nós defendemos a hipótese segundo a qual a reflexão blanchotiana sobre o esquecimento, ainda que situada num espaço de pensamento diferente daquele de Foucault quanto a conceitos e objetos, pode ajudar a compreender a figura da ausência de obra que aparece ao final de História da loucura; da mesma maneira, ela ainda poderá ter repercussões mais vastas na obra foucaultiana, mesmo que não seja um conceito retomado posteriormente. Tal repercussão concerne especialmente a questão da relação entre o trabalho de Foucault e o presente. Fazendo genealogias que nos mostram como viemos a ser aquilo que nós somos hoje (a partir dos eixos do saber, poder e ética), o pensamento foucaultiano trabalhará sempre para que não o sejamos mais; para que nos desviemos de nós mesmos ou que esqueçamos de nós mesmos. Em outras palavras, tratarse-á de esquecer nosso presente ou de alguns de seus aspectos, ao menos se isso significa desviarmo-nos dele ou fabricarmos diferença com relação mesmo. Flavio Nunes De Paula UFPR – Graduação Título: Foucault e negri: alguns panoramas O seguinte texto, de caráter experimental pretende comentar sobre as análises contemporâneas a partir dos conceitos de biopoder, de Foucault e da obra Império, de Antônio Negri. Uma primeira pergunta para Foucault seria: quais outras formas de manifestação do biopoder se originam para além dos limites do Estado. Por outro lado, para as teses de Negri, perguntamos de que modo o Império se manifesta sob formas mais ínfimas na sociedade. Nesta primeira fase de investigação, portanto, estamos mais preocupados em mostrar como estas duas formas possíveis de análise, poderiam ser, a princípio complementares, do que em procurar conciliá-las de forma definitiva ou em resolver grandes contradições entre os métodos. Leila Rosibeli Klaus Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Título: A relação entre o elã original e o homem espiritual: a metafísica de Bergson e de Scheler A metafísica de Bergson presente na obra de 1907 – A Evolução Criadora – se destaca pela emergência ante as ciências naturais. Na segunda metade do século XVIII filósofos buscavam encontrar o lugar do ser humano através de métodos. Isso significa que eles pretendiam sair da esfera da ciência como a única capaz de estudar o ser humano. Assim, o novo método filosófico proposto era uma reação às teses sensualistas, isto é, uma reação contra aquelas pretensões de reduzir a vida humana à base fisiológica. O ser humano ultrapassa as determinações psicofísicas e alcança um fundamento metafísico para além da mera ciência. Como resultado, a filosofia do final do século XVIII e início do século XIX resiste ao pensamento naturalista e cientificista recorrendo a uma filosofia reflexiva do tipo espiritualista. Bergson propôs reanimar uma metafísica a fim de fundamentar um método não cientificista para o ser humano. No entanto, no ano de 1928, o filósofo Scheler mergulha a sua ideia de ser humano também no âmbito da metafísica. Assim, ambos os autores investigam a natureza do homem e de todos os seres vivos recorrendo a estudos biológicos e psicológicos para, por fim, distanciar-se das ciências da natureza e aproximar-se da metafísica. Na investigação da vida, o salto conceitual na teoria de ambos é metafísico do tipo espiritual. Nos perguntemos agora, se é possível reconhecer semelhanças entre a obra de Bergson e a obra A Posição do Homem no Cosmos (1928) de Scheler? O que foi dito até aqui parece nos apontar uma resposta positiva. O objetivo aqui proposto baseia-se na análise das obras supracitadas a fim de verificar algum tipo de herança conceitual bergsoniana presente na teoria scheleriana de homem. Tâmmilys Rafaely Soares da Silva Universidade Federal do Para – Graduação Orientador: Prof. Dr. Ernani Chaves Título: Foucault e a análise da retórica no diálogo Górgias Trata-se de uma análise de Michel Foucault do diálogo de Platão Górgias no que tange a retórica, que se encontra na aula de 9 de março (segunda hora). Abordaremos sobre os problemas da retórica como uma identidade da paressía (coragem de dizer tudo o que se pensa),bem como a sua manifestação. Nessa formulação, a crítica socrática coloca que a retórica é uma arte da lisonja, a qual não é nada, na qual a não alcança a finalidade do bem, apenas o substitui pela aparência que é a do prazer. A episteme, a eunoia e a parresía o autor coloca como condições equivalentes para se desempenhar sua função (verdade). Nesse sentido, são condições que constituem operadores de verdade. È apontado também a retórica como outra experiência, se coloca como processo de condução de almas, para uma prática da parresía, onde considera importante esse levantamento histórico para analisar as relações entre subjetividade e verdade e as relações entre governo de si e governo dos outros. Mesa 02 – FILOSOFIA ANALÍTICA – 9h às 12h30 Sala 605* Mediador: Luiz Fernando Aline da Silva Dias UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Alexandre Noronha Machado Título: Sobre a inviabilidade do platonismo naturalizado Em um artigo de 1973, Paul Benacerraf apresentou uma forte objeção ao platonismo matemático. Ele sustentou que há um problema relacionado ao acesso epistêmico aos objetos matemáticos, caso seja aceito o argumento platonista sobre existência desses objetos. Benacerraf faz isso mostrando que a semântica platonista é incompatível com o que ele considera ser a melhor teoria do conhecimento. De acordo com ele, se aceitamos essa teoria do conhecimento, segue-se que: ou existem objetos matemáticos abstratos e não temos qualquer conhecimento a respeito deles ou não existem objetos matemáticos abstratos. Algumas tentativas de contornar esse problema epistêmico surgiram ao longo do tempo. A tentativa de resposta que apresentaremos aqui é a desenvolvida por Penelope Maddy, que defendeu haver conhecimento matemático via percepção sensível. De acordo com essa proposta de Maddy, devemos adotar uma concepção naturalista de objetos matemáticos abstratos e afirmar que eles estão localizados no espaço-tempo e que, portanto, seríamos capazes conhece-los por meio de nossa percepção sensível. Ela tenta, assim, naturalizar o platonismo. Essa concepção é engenhosa, porém problemática. Como entender essa abstração dos objetos? Uma vez que Maddy oferece uma definição diferente de “objeto abstrato”, é possível considerar sua posição como platonista? Essas são algumas das questões que podem ser suscitadas já de início. Tendo em vista isso, o que pretendemos fazer nesse trabalho é expor a concepção platonista de Maddy, explicitando suas influências e pressupostos, com vistas a mostrar as razões pelas quais acreditamos que, embora interessante, ela não é uma alternativa viável para se lidar com o problema epistemológico levantado por Benacerraf. Andressa Alves Souto UFSCar – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Bento Prado Neto Título: Husserl, Wittgenstein e o problema da referencialidade da representação Meu objetivo no presente trabalho é mostrar o modo como Husserl e Wittgenstein, embora com projetos filosóficos bem distintos, são motivados em suas filosofias pelo enfrentamento de um mesmo problema. Trata-se do clássico problema da representação, formulado sob diferentes contextos e aspectos ao longo da história da filosofia. Por "problema da representação" entendo a questão da correlação entre pensamento e realidade, isto é, a questão de como é possível a correlação entre pensamento - atividade de um sujeito racional - e conteúdo representado - objeto a que esta atividade se refere. Dada a referencialidade pressuposta na própria noção de representação, o que dizer quando seu conteúdo diz respeito a algo que não é? É esta mesma dificuldade que, no diálogo Sofista, de Platão, irá constituir o chamado paradoxo do discurso falso e que, na filosofia de Wittgenstein, assim como na de Husserl, irá motivar a busca pelas condições lógicas e ontológicas de significação de uma representação simbólica ou, no caso do último, de toda representação em geral. Tendo em vista estes aspectos, procurarei mostrar que, apesar da distância de estratégias que separa ambos os autores, este problema - que podemos chamar de "problema da referencialidade da representação" - será o propulsor tanto da teoria da figuração que Wittgenstein desenvolverá no 'Tractatus', como da teoria da intencionalidade desenvolvida por Husserl nas 'Investigações Lógicas'. Eduarda Calado Barbosa Abath UFMG – Pós-Graduação Orientador: Ernesto Perini Frizzera da Mota Santos Título: "Expressividade e nomes fictícios Expressividade (vero-condicional) é a propriedade que sentenças asseridas possuem de veicular material interpretável em termos de condições de sucesso. Intuitivamente, a expressividade de um termo pode ser entendida como sua contribuição para o processo de “geração de sentido” (making sense of) de uma sentença da qual é constituinte. Assumiremos que nomes próprios contribuem para o conteúdo expresso com os próprios indivíduos designados. Assim, em (2), (2) Virginia é culta. ‘Virginia’ contribui composicionalmente com o indivíduo Virginia para o conteúdo expresso por (2). Essa estratégia explicativa, contudo, esbarra no já clássico problema da não-referência: como explicar expressões como os nomes fictícios? Como eles contribuem para o conteúdo? Segundo argumentaremos, apenas a noção de conteúdo em seu nível mais elevado de expressividade, a proposição, é afetado por essa objeção. De acordo com essa solução, um nome fictício contribui para o conteúdo expresso com uma convenção fictícia de nomeação, na qual não há relação causal entre a convenção e o referente, mas que é funcional em jogos não-verídicos de linguagem. Dizemos que, nesses casos, a pressuposição de que o referente do nome existe sequer parece entrar em jogo. Tipicamente, a sentença é avaliada com relação a uma situação ficcional, em um rápido “movimento” de acomodação, sendo bloqueada pelo engajamento do falante/intérprete com o reconhecimento do tipo de jogo de linguagem em ação. Tecnicamente falando, asserções sobre-a-ficção não expressam, contudo, proposições. Suas condições de verdade são incrementadas pela convenção, mas, na ausência de um indivíduo como referente, não poderão atingir seu nível máximo de expressividade." Fernanda Belo Gontijo UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina – Pós-Graduação Título: Por que o consequencialismo satisfacionista não evita a objeção da exigência excessiva O consequencialismo é a teoria ética que afirma que a ação correta consiste em maximizar imparcialmente o bem. Quando maximizamos imparcialmente o bem, agimos da forma moralmente correta, caso contrário, agimos de modo imoral. Essa teoria enfrenta a acusação de ser excessivamente exigente. Isso ocorre porque como a correção moral está diretamente associada à maximização do bem, o consequencialismo não distingue entre atos corretos obrigatórios, supererrogatórios ou neutros. Para o consequencialista, todos os atos corretos são obrigatórios. Assim, alguém que deseje ser um agente moral consciencioso, terá que se preocupar continuamente em maximizar imparcialmente o bem. Considerando que não vivemos em função apenas da moralidade, tal implicação parece ser implausível. Na tentativa de corrigir essa falha, alguns consequencialistas defendem o chamado “consequencialismo satisfacionista”, afirmando que a ação correta é a que promove imparcialmente o bem em nível satisfatório (bom o bastante). O que pretendo mostrar é que a solução satisfacionista não resolve o problema. Isso porque o nível de exigência moral é diminuído, mas nem tanto. Uma ação só será correta se promover imparcialmente o bem em nível satisfatório. Assim, qualquer ação que promova o bem abaixo desse nível, mesmo aquelas notadamente destituídas de relevância moral (usar cotonete ou saltar em uma perna), serão imorais. Logo, o satisfacionismo também é excessivamente exigente. Terça-feira Mesa 03 – FILOSOFIA MODERNA – 9h às 12h30 Sala 409 Mediador: Luan Silveira Débora Corrêa Gomes UFRGS – Pós-Graduação Orientadora: Lia Levy Título: O sumo bem como fundamento das ciências no Tratado Teológico Político de Spinoza Dados os propósitos centrais de Spinoza no "Tratado Teológico-Político", quais sejam, a afirmação da utilidade social da liberdade de expressão e da autonomia do Poder Soberano em relação aos credos religiosos, o capítulo quatro da obra em questão, que trata do aspecto da normatividade, poderia encerrar com a conclusão que as leis humanas distinguem-se da lei divina em razão de sua procedência última. Entretanto, além do aspecto da normatividade, há também o interesse puramente epistêmico de provar que a lei divina, ou o Sumo Bem, é o fundamento mesmo do conhecimento. É sobre este último aspecto que versará a nossa investigação. Fernando Trindade Santana UFPR – Graduação Título: A possiblidade de Convergência entre a Moral Cartesiana e o O Cid de Corneille. "Neste artigo iremos investigar a possível ligação entre a Filosofia de Descartes e uma obra do teatro francês do Sec. XVII, O Cid, escrita por Pierre Corneille. O Cid, ao revelar o sentido trágico e elevado de seus personagens, conduz o leitor a uma reflexão moral acerca da condição humana, a partir da qual, segundo é a hipótese do presente estudo, parece ser possível traçar um paralelo com as noções contidas na obra As Paixões da Alma de Descartes. O Cid exprime de forma intensa questões como honra, paixão, dor e pesar, temas que evidenciam uma dinâmica na qual os personagens lidam com intensas emoções, exibindo uma dualidade entre o desejo e o dever. Neste sentido, parece clara a conexão dessa obra – O Cid – com a moral cartesiana, sobretudo no que ela se refere ao caráter ordenado das paixões, com o primado da razão diante das emoções. É este o tema de Paixões da Alma, obra na qual Descartes, afim de sustentar que a razão exerce o domínio das paixões, mostra que o indivíduo tem a possibilidade de estruturar seu pensamento e encontrar meios para controlar e conhecer seus impulsos. Assim, a aproximação de Corneille a Descartes se dá quando destacamos individualmente os personagens; quando podemos observar que no ato de experimentar, viver a dor e o sofrimento, eles conseguem impor um equilíbrio moderador sobre si mesmo, o que lhes dá autonomia diante de suas próprias paixões." Fran de Oliveira Alavina USP, Universidade de São Paulo – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Luís César Guimarães Oliva Título: A Busca da Verdade, ou a crise da tradição renascentista: Descartes e o fim do vínculo entre filosofia e erudição Em sua obra A Busca da Verdade, inacabada, porém expressiva em relação aos aspectos críticos que precedem o estabelecimento do método, Descartes expõe, utilizando-se do diálogo como meio estilístico-argumentativo, a possibilidade de alcance da verdade, valendo-se apenas da luz natural. Sustenta, com efeito, a argumentação cartesiana, que a pureza da lumière naturelle é a condição primeira de uma busca segura da verdade. Esta condição primaz em conformidade: quer com o Discurso do Método, quer com as Regras para Direção do Espírito, não se trata apenas de elemento concernente ao método, porém trata-se também de recusa da tradição filosófica renascentista. Ou seja, a negação do vínculo douto estabelecido pela tradição humanista entre filosofia e erudição: tal é a hipótese interpretativa adotada. Há, assim, uma negação do ethos filosófico próprio do ideal renascentista fundamentado nos studia humanitatis. Se neste último âmbito, a busca e o estabelecimento da verdade se fazem sempre no interior da erudição filosófica, isto é, no reconhecimento da multiplicidade das vias e convergências de tradições; com o advento do problema do método, à tradição erudita será imputado o erro. Algo próprio daqueles que abandonando a luz natural deixam-se guiar pela imaginação e pela memória. No caso da Recherche de la Vérité, não identificar-se-ia, todavia, certa ambiguidade na recusa cartesiana de uma filosofia erudita? Ora, Descartes não dissimularia ao seu leitor que a forma dialógica adotada exige a cultura das letras, o domínio de uma presteza estilístico-argumentativa adquirida justamente na cultura livresca, ou seja, sustentada naquilo que é alvo de recusa? As resoluções de tais indagações constituem o ponto de chegada desta proposta de reflexão. Kele Conceição Alves Vilaça Amaral Universidade do Estado de Minas Gerais – Graduação Orientador: Andrelino Ferreira dos Santos Filho Título: Implicações antissemitas na formulação do pacto social no Tratado TeológicoPolítico de Espinosa A discussão pretende explicitar as implicações antissemitas apontadas por Espinosa na formulação do pacto social no Tratado Teológico-Político. Concepções que, segundo o filósofo, ancoram-se na representação imaginária de Deus, na visão finalista do mundo e na liberdade humana como livre-arbítrio. Reafirmando o imanentismo ele recusa a política fundada em um poder transcendente e exige o estabelecimento do fundamento natural para o campo político, a saber, o direito natural. Defende que a eleição dos judeus se deu em função de um Estado particular e que se a ideia de nação hebraica, ou o sentimento de nação, permanecem é por que a identidade e sobrevivência dos judeus foi mantida às expensas do ódio por eles granjeados entre as nações. O princípio da igualdade – tão caro à democracia – precisa ser natural, para a partir dele se pensar a diferenciação, porém, no judaísmo essa diferença é reivindicada a partir de uma visão legal de mundo, o que o torna ameaçador à democracia, na medida em que a ideia de nação eleita fundase num princípio legal no qual está implicada a liberdade humana em face à natureza. A sombra do Estado hebreu velada sob uma identidade marcada simbólica e fisicamente – como é o caso da circuncisão – reivindica a exclusividade de um imperium dentro de um imperium, o oposto da liberdade de expressão esperada na democracia. O que Espinosa propõe em defesa do pacto social e da democracia é que a religião e a moral migrem para o lugar de onde elas nasceram, isto é, da particularidade de uma configuração cultural circunstancial. No caso específico dos hebreus, o filósofo aponta como saída a assimilação, uma das implicações antissemitas que o fizeram ser visto como legitimador da perseguição aos judeus, na defesa da democracia como o mais natural dos regimes. Raphael Zdebsky da Silva Pinto UFPR – Pós-Graduação Título: Incompossibilidade das relações em Leibniz Na Filosofia leibniziana, a incompossibilidade pode ser descrita como a impossibilidade de dois indivíduos existirem em um mesmo mundo possível. Embora Leibniz não forneça, até onde sei, uma razão explícita para a incompossibilidade, alguns intérpretes (Jaakko Hintikka, 1972; Edgar Marques, 2004) oferecem uma interpretação baseada na inconsistência entre certos tipos de predicado quando aplicados a um mesmo conjunto de indivíduos, mesmo que formados por elementos simples e pensados através de conceitos simples compatíveis entre si: predicados relacionais assimetricos. Como exemplo desse tipo de incompossibilidade pode-se fornecer relações de paternidade, tais como: (P1) ‘João é filho de Pedro’ e (P2) ‘Pedro é filho de João’, de tal maneira que não haja um mundo possível no qual ambas as proposições possam ser consideradas verdadeiras a um só tempo. Em suma, essa solução consiste em ampliar o foco da discussão englobando a noção de relação ao escopo do problema da incompossibilidade. Minha hipótese geral para tratar do problema será a de que as relações possuem um fundamentum in re, de maneira que uma inconsistência entre as relações pode evidenciar um mal grupamentos de indivíduos formados por conceitos simples ou um mal grupamento de conceitos simples em indivíduos em um mundo (no caso, impossível), forçando com que estes conceitos simples e indivíduos não possam ser agrupados da mesma maneira em mais de um mundo possível. Mesa 04 - FILOSOFIA FRANCESA CONTEMPORÂNEA II – 9h às 12h30 Sala 405 Mediador: Isabela José Geraldo da Silva Junior Universidade Federal do Paraná – Graduação Título: Deleuze e o romantismo kantiano Deleuze, entre 1953 e 1967, publicou uma série de obras de caráter monográfico: “Empirismo e Subjetividade” (1953), “Nietzsche e a Filosofia” (1962), “A Filosofia Crítica de Kant” (1963), “Proust e os Signos” (1964), “Nietzsche” (1965), “O Bergsonismo” (1966) e “Apresentação de Sacher-Masoch” (1967), trabalhos estes que não se limitam a uma atividade de reprodução ou de explicação de conceitos. Na verdade, estas incursões na história da filosofia são feitas em função de uma problemática filosófica singular, cujo amálgama, culminaria na própria filosofia da diferença de Deleuze. Neste artigo enfocaremos o texto sobre Kant, especialmente seu capítulo três, no qual Deleuze, com base na Crítica do Juízo, fala de um “romantismo kantiano”. Segundo Deleuze, à estética formal do gosto, Kant acrescenta uma meta-estética material. Essa meta-estética material que revela um “kant romântico”, estariam presentes, segundo Deleuze, principalmente nos capítulos em que o filósofo alemão discute o belo e o gênio. O que seria este "romantismo kantiano" e suas implicações no pensamento deleuziano são algumas das questões que discutiremos em nosso trabalho. Maria Fernanda Novo dos Santos UNICAMP – Pós-Graduação Orientador: Luiz Orlandi Título: Do dever-ser ser ao devir: um estudo sobre os modelos do vivo Os modelos de representação do vivo passam por diferentes reformulações ao longo dos diversos discursos e teorias, que sedimentam suas propostas de acordo com os referenciais científicos em vigor. A rigor, é a ciência que instaura o modelo de representação do vivo. Em especial, o modelo biológico impulsionou na virada no século XIX a construção de discursos não científicos que se dedicaram reelaborar o modelo do vivo a partir de perspectivas filosóficas inspiradas na formulação de problemáticas que compartilhavam o interesse sobre a individuação. Situados nesta perspectiva, vemos a construção de pulsantes proposições filosóficas que surpreendem modelos do vivo filiados às noções de ordem e estabilidade ao apresentarem novos modelos organizados a partir de noções como imprevisibilidade, indeterminação e criação. Especificamente, nosso trabalho pretende apresentar de que maneira a noção de individuação presente na filosofia de Bergson contribui para reformular um modelo do vivo que viria influenciar os debates sobre a individuação até o pós-estruturalismo. Perseguiremos a hipótese que consiste em encontrar nas proposições na filosofia bergsoniana uma radical mudança de perspectivas a qual contribui para formulações sobre a individuação que questionam sistematicamente os modelos antropocêntricos, como vemos nas filosofias de Simondon e Deleuze. Patrícia Gonçalves UFPR – Graduação Orientadora: Maria Adriana Cappello Título: A inteligência em Bergson "O presente estudo visa compreende como o filósofo Henri Bergson, em seu livro, “A evolução Criadora”. Bergson remete a inteligência humana à data em que os primeiros utensílios e as primeiras armas foram fabricadas. É neste sentido, de caracterizar a inteligência humana pelo poder de fabricação, que nortearemos as definições de inteligência na leitura de Bergson, no presente estudo. No pensamento Bergsoniano, a inteligência humana seria bem sucedida, do ponto de vista estritamente prático, na medida em que, por ela, não apenas a manutenção e reprodução da espécie estivessem garantidas, como também a conquista de maiores espaços de ocupação. Para tal conquista, o ser humano realiza alterações no espaço em que vive através da fabricação de utensílios. De acordo com ele, o ser humano definido cientificamente como homo sapiens, talvez devesse se chamar homo faber, por sua capacidade de fabricar utensílios e variar infinitamente suas fabricações. Esta definição é apresentada no sentido não apenas de indicar uma de suas faculdades, mas aquela que, originariamente, o distingue dos demais seres vivos, ou seja, justamente esta capacidade de inventar e fabricar utensílios/ferramentas que facilitem/possibilitem sua ação no mundo – capacidade de invenção que abre todo um novo campo de ideias e sentimentos que acompanham a invenção desses novos instrumentos. Para Bergson, no momento em que o homem passa a utilizar não apenas seu corpo, mas outros objetos criados por ele, ou por ele adaptados para facilitar sua sobrevivência, tal atitude se desenvolve em um pensamento de fabricação. E a percepção de uma nova necessidade, que surge pela fabricação de um objeto, está diretamente associada à evolução. É neste sentido que nortearemos este estudo fundamentado no pensamento Bergsoniano." Pedro Mateo Baez Kritski UTFPR – Graduação Título: Os conceitos de tecnicidade e concretização simondonianos através dos seus exemplos técnicos Na sua tese complementar de doutorado em filosofia publicada em 1958, Gilbert Simondon, engenheiro francês, busca as bases do que se tornaria a sua filosofia da técnica em exemplos da tecnologia da época em que estava inserido. Analisando tecnicamente o desenvolvimento das válvulas diodo, tríodo, tetrodo e pêntodo, assim como os tubos de Coolidge e os motores à combustão, Simondon tece um conceito de objeto técnico e explicita o modo como ele se relaciona nos sistemas em que está inserido. Explicita, também, os conflitos internos e externos dos objetos técnicos, de maneira a buscar uma gênese comum que dê conta do seu progresso e contínuo aperfeiçoamento, bem como da sua relação com o homem. Esse processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento é visto por Simondon como a passagem da essência abstrata do objeto técnico (imperfeita, conflitante e problemática) para uma essência ou existência concreta (una, coesa, adaptada). A concretização do objeto técnico só é possível através da tecnicidade que, assim como a religião e a estética, se apresenta como uma das formas básicas que o homem criou para se relacionar com a natureza e que se faz presente na genealogia e na essência do próprio artefato ou objeto técnico. Nas palavras do filósofo: “A evolução passada de um ser técnico continua existindo, essencialmente, nesse ser, na forma de tecnicidade”. Simondon supõe o encadeamento de descobertas e desenvolvimentos tecnocientíficos que influenciam os objetos técnicos de maneira a determinar a sua existência e a sua constituição. Assim, o presente trabalho pretende esclarecer de que modo os exemplos técnicos apresentados pelo autor são articulados com vistas a fundamentar os conceitos simondonianos de concretização e tecnicidade. Tiago Rickli UFPR – Pós-Graduação Título: Da afirmação paradoxal como o sentido da diferença de intensidade na filosofia de Deleuze É sabido que o problema da afirmação da diferença preenche um papel diretor na construção do pensamento deleuzeano. Com efeito, tanto a recusa de Deleuze ao valor de fim ou de essência atribuído àquilo que é Igual a si mesmo quanto a sua crítica ao negativo jamais serão compreendidas em sua radicalidade enquanto não se houver propriamente analisado a relação paradoxal que a diferença de intensidade exprime na sua afirmação. É que, enquanto o negativo pretende definir para a intensidade exclusivamente um único sentido ou uma flecha do tempo unidirecional segundo a qual a diferença de intensidade deve ir do diferenciado ao indiferenciado, do potencial à sua dissolução, do princípio rico em heterogeneidade ao efeito degradado e homogêneo, a afirmação na diferença de intensidade exprime-se, por sua vez, como um duplo sentido recíproco e simultâneo que avança segundo direções divergentes. À afirmação que se lança em dois sentidos ao mesmo tempo, relação ou síntese disjuntiva que acopla os desiguais sem ter como fim a supressão da sua diferença, Deleuze dá o nome de paradoxo. Nossa comunicação pretende apresentar como a afirmação na diferença de intensidade abre a filosofia de Deleuze para uma crítica na qual é contestada a pretensão do negativo de valer como princípio condutor nos processos de produção, libertando a diferença de qualquer confusão com uma tendência a algo uniforme ou homogêneo. Quarta-feira Mesa 05 – ESTÉTICA I – 9h às 12h30 Sala 409 Mediador: Eduardo Lacerda Ana Carolina Requião Soares Universidade Federal do Paraná – Graduação Nícolas Germano Lemos Liotto UFPR – Pós-Graduação Orientador: Antonio Edmilson Paschoal Título: Medea de Pasolini e a dualidade dionisíaco-apolíneo "TRABALHO EM COAUTORIA COM NÍCOLAS GERMANO LEMOS LIOTTO. (não incluir esta frase no resumo) A proposta desta comunicação é fazer uma análise do filme Medea (1969), de Pier Paolo Pasolini, sob a ótica do Nascimento da Tragédia de Nietzsche. A tese desenvolvida pelo autor consiste em apresentar a espiritualidade trágica dos gregos como uma tensão entre o que ele virá a chamar de dionisíaco e apolíneo. Partindo deste viés serão apresentadas cenas do filme que exemplificam esta tese." Débora Soares de Araújo UFPR – Pós-Graduação Orientador: Paulo Astor Soethe Título: Imagens, memória e montagem "POESIA, IMAGENS, MEMÓRIA E MONTAGEM (PGLETRAS/UFPR) A memória é o elemento que descreve o movimento fundamental da criação poética do escritor brasileiro H.Dobal (1927-2008). Para o autor, memória e poesia têm certo organicismo e são capazes de se modificar incessantemente. Sob a perspectiva da constante transfiguração, a poesia de Dobal vai se configurando através de processos de montagem, estabelecidos pela criação e articulação de imagens dialéticas que instauram um entrelugar, espaço de mirada privilegiada e capaz de produzir constante inquietação, especialmente ao nos mostrar a construção e a desintegração de uma identidade marcadamente crítica e sua consequente dissolução (autobiotanatografia). Nesse sentido, o objetivo do trabalho aqui proposto é investigar os processos de construção da memória na obra poética de H.Dobal através das articulações das imagens dialéticas e de seu processo de montagem - estabelecido inicialmente a partir de arranjos oriundos das relações entre tempo e espaço. Para a tarefa de análise proposta na dissertação, e aqui apresentada de maneira simplificada, serão utilizados trabalhos desenvolvidos por Aristóteles e Henri Bergson (principalmente no tocante aos estudos sobre tempo, espaço e memória) e de Walter Benjamin (especialmente quanto à noção de imagem dialética)." Gustavo Jugend UFPR – Pós-Graduação Título: Biopolítica animal: Giorgio Agamben X Seth Brundle Desde a publicação de A linguagem e a morte a questão sobre a relação entre o sujeito e sua animalidade tem feito parte das considerações de Giorgio Agamben. Naquele texto Agamben colocou a linguagem humana em relação com a voz animal. Nas últimas linhas desse livro Agamben fez menção à possibilidade de reunir as linguagens humana e animail desde uma phoné impregnada de afeto, e, portanto, mais fundamental que a semântica de um lógos já estabelecido de antemão. Anos depois Agamben parece ter recuado de tal posição; em O aberto, o italiano, ao elaborar sua tese sobre a máquina antropológica, confia ao homem, e somente ao homem, a possibilidade de fazer experiência do ser, e, portanto, de poder expressá-lo na linguagem. Todavia, se só o homem pode experienciar o ser, então, somente ele pode ascender a política. Além de não reunir as duas formas de linguagem, Agamben termina por legar ao animal a biopolítica. Na comunicação a ser apresentada nos propomos a detalhar alguns conceitos envolvidos em ambos os textos, além de tentar entender como se dá essa tensão interna no pensamento de Agamben. Por fim levaremos o pensamento de Agamben a um choque com o filme A Mosca, de David Croenenberg, que traz uma consideração bastante distinta sobre o animal. Mariana Cabral Tomzhinski Scarpa Universidade Federal do Paraná – Pós-graduação Título: “A intimidade do sentido e do som” Orientador: Luiz Damon Santos Moutinho Resumo: A união do sentido e do som é dada naturalmente na linguagem ou ela se estabelece por pura contingência? Mantendo esse questionamento em seu horizonte, Merleau-Ponty, no curso ministrado em 1953, no Collège de France, investiga através da poesia de Valéry, como a linguagem literária opera na construção de sentido. Se o processo de criação de novos sentidos linguísticos fosse feito apenas por convenções históricas, de onde viria a necessidade de um certo som exigir um certo sentido do escritor ou do poeta? Esse problema de convergência entre a variabilidade fonética e a diversidade semântica se coloca desde que se considere esses universos como sendo completamente exteriores e distintos entre si. No entanto, o fenomenólogo francês, na esteira de Valéry, aponta para uma intimidade entre o sentido e o som que ultrapassa o sistema semântico e fonético tomados como se fossem formas puras (tomados em si mesmos). Problematizando a hipótese de que a relação entre tais estruturas seja completamente arbitrária, Merleau-Ponty tampouco irá pender para uma ligação estritamente necessária entre elas, como se a união entre um fenômeno sonoro e um conceito pré-dado (um sentido pré-concebido) simplesmente retomasse uma operação já estabelecida numa ordem natural. Não se trata de unir um conceito a um som, nem arbitrariamente, nem reduzi-los a uma sentença naturalizante, e sim, apenas de mostrar que há uma passagem possível do arbitrário ao necessário e do âmbito da necessidade a convenção. Tal passagem é visualizada por Merleau-Ponty na poesia de Valéry, a qual expressando uma linguagem em estado nascente, materializa a intimidade do som e do sentido. Mesa 06 – TEORIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS – 9h às 12h30 Sala 405 Mediador: Luiz Speltz Aline Vieira de Souza UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Valentim Título: Sobre Uma liminaridade rizomática "A pesquisa proposta consiste em investigar noção de liminaridade enquanto força rizomática, relacionando os conceitos de estrutura e antiestrutura de Victor Turner e os conceitos de árvore e rizoma de Gilles Deleuze e Félix Guatarri. À luz destes a análise proposta ira reler a obra daquele, com enfoque no conceito de liminaridade enquanto análogo ao conceito de linha de fuga/movimento de desterritorialização da estrutura social de acordo com a trajetória de elaboração de cada conceito tratado e suas consequências. Opta-se portanto, por considerar na leitura dos conceitos pesquisados a noção de que a filosofia é a arte de fabricar conceitos proposta por Deleuze em o “O que é a Filosofia?”. Dessa maneira, é preciso considerar na metodologia dessa pesquisa o levantamento da paisagem, dos personagens, das incógnitas, das condições, e mesmo da performance desses conceitos." Isaias Holowate Universidade Estadual de Ponta Grossa – Graduação Orientador: Dones Claudio Janz Junior Título: A Representação da História em Heródoto Conceituada na metade do século XX como a Ciência dos homens no tempo, o conceito de História possui uma historicidade própria, tendo sofrido diversas transformações nas forma com que foi significada nas diferentes culturas. Neste trabalho nós objetivamos realizar um estudo sobre a forma como a História foi representada pelo pensador Heródoto, no seu livro História, que lhe rendeu um espaço de primazia nas pesquisas sobre o pensamento historiográfico e a alcunha de “pai da história”. Partimos do pressuposto de que as representações sociais são intrínsecas à cultura da qual fazem parte, sendo portanto necessário, para uma análise do conceito de História presente na obra de Heródoto, um levantamento da forma com que as representações sociais de tempo e espaço eram realizadas na cultura grega, e buscando entrever na produção do autor especificidades do discurso que permitam uma análise da forma com que o presente e o passado são representados, especificamente no contexto entre a ascensão da cultura grega clássica em contraposição ao pensamento Arcaíco. Durante a análise também buscamos compreender as inovações na forma de escrita presente na obra de Heródoto, tanto na forma com que ele qualifica as suas fontes, e o tratamento utilizado na sua pragmática de produção historiográfica. Gustavo Henrique Fontes de Holanda UFPR – Pós-Graduação Orientador: Marco Antonio Valentim Título: O jaguar e o lobo: questões filosóficas acerca do imaginário antropológico e político "Esta apresentação se articula com um esforço coletivo para recuperar a figura do nativo ameríndio como elemento para o debate filosófico contemporâneo, a partir de suas próprias categorias de imanência, ambivalência e inconstância, capazes, supomos, de promover uma subversão dos conceitos de identidade e transcendência como propostos pela metafísica tradicional. Para esta tarefa, guiados pelo conceito de ‘antropofagia’ de Oswald de Andrade, elegemos como tema os Tupinambás que ocupavam a Costa brasileira quando do momento da Conquista, buscando assim pensar a antropofagia como praxis e como teoria. É neste sentido que nos propomos aqui investigar filosoficamente questões acerca do imaginário antropológico/político, ao analisá-lo com ênfase nas figuras do jaguar e do lobo. Com jaguar faz-se uma referência ao ‘eu jaguar’, tomada aqui enquanto arquétipo de uma subjetividade antropofágica (Tupinambá), a partir da célebre frase do lendário Cunhambebe. E o lobo, representa naturalmente o clássico argumento hobbesiano, acerca da necessidade de um poder capaz de manter a todos em respeito, e assim, conter o perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder que existe em cada homem, e que só terminaria com a morte. Para Hobbes, é através da constatação de tal cenário que valeria a pena “pela força ou pela astúcia, subjugar as pessoas de todos os homens que puder, durante o tempo necessário até chegar ao momento em que não veja qualquer outro poder suficientemente grande para ameaçá-lo” (HOBBES, 1997, p. 109). Para nos contrapor a esta visão, é que pretendemos trazer a figura do ‘eu jaguar’ ou ‘mau selvagem’ como expressão desta subjetividade antropofágica, enquanto alteridade desafiadora e irredutível." Luis Thiago Freire Dantas Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Dr. Marco Antônio Valentim Título: Crítica da Razão Negra: Achille Mbembe e o devir-negro da filosofia Esta comunicação é parte de uma pesquisa de doutorado que procura analisar as implicações ontológicas e políticas da categoria Negro para a filosofia contemporânea. Desse modo, as teses construídas pelo filósofo Achille Mbembe no livro "Crítica da Razão Negra", que problematizam justamente a relação entre o Negro e a África de maneira que ultrapassa qualquer determinação geográfica, serão detalhadas nessa comunicação. O intuito é apresentar como tal relação condiciona uma forma de colonização que aplica a grupos humanos o caráter de falta e de ausência. No entanto, Mbembe explica através do devir-negro do mundo que esta atitude colonizatória decai atualmente em um vazio epistêmico na medida que pretende responder as questões "o que é?" e "o que fazer?". Porque tal esvaziamento é efeito do ideal de humanidade não mais ter fundamento na fictícia divisão de humanos e animais, pois factualmente há aqueles que são “animais dos animais”. Dessa forma, as análises de Mbembe contribuem para uma discussão biopolítica a partir de uma interpretação africana da filosofia. Pedro Henrique Vieira UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Valentim Título: Antropocentrismo e perspectivismo entre duas concepções de sabedoria humana Este trabalho visa contrapor, no tocante à noção de sabedoria humana, a filosofia de Kant e a etnografia de Tânia Stolze Lima acerca dos índios Yudjá. Partindo de uma noção de ponto de vista, Lima interpreta o universo Yudjá como uma rede de disputas perspectivas que tornaria duplo todo ser ou acontecimento, inclusive as pessoas humanas, que não coincidiriam com sua própria alma, visível apenas ao olhar de outros seres. Não obstante, a perspectiva humana seria marcada por uma assimetria em relação às demais, visto que seria, na visão de todos os seres, invariavelmente humana, o que a dotaria de uma exclusiva sabedoria, de uma capacidade reflexiva de “perspectivar a si mesma”. Isso parece sugerir um vetor antropocêntrico que sobreporia a perspectiva humana às demais, a ponto de poder comprometer a própria noção de ponto de vista. Cremos, porém, que essa impressão deve se desfazer mediante uma comparação com um paradigma ocidental que também confere ao humano uma exclusiva sabedoria: a filosofia de Kant. Compreendendo o homem como pessoa, Kant o diferencia dos demais seres, tomados então como coisas, e faz da sabedoria humana um modo de submeter toda a natureza à promoção da humanidade. Contrastando com tal forma de pensamento, o universo Yudjá nos parece distante de um antropocentrismo, na medida em que se desenvolve numa relação constante com perspectivas não humanas, as quais, a despeito de qualquer assimetria, carregariam sempre a possibilidade de sua sobreposição ao humano. Sugerimos, por fim, numa inversão de pontos de vista, que a filosofia kantiana, conferindo ao humano a única perspectiva possível, deva aparecer aos Yudjá como uma negação da pessoa em relação à sua própria alma, que apenas em relação a outrem não humano se constituiria. Juliana Fausto PUC-Rio – Pós-Graduação Orientadora: Déborah Danowski Título: Filósofos sonham com ovelhas elétricas? Uma nota sobre bestas-máquinas no século XVII e hoje A partir de uma discussão sobre a importância da tese das bestas-máquinas de Descartes, que “revelava o caráter contra-intuitivo” de sua ontologia, e de sua recepção no século XVII, pretendo discutir o seu impacto tanto nas ciências naturais da época, tomando como referência principalmente alguns textos e cartas de Boyle e Hooke, como na filosofia ela mesma, sobretudo através das objeções e argumentos levantados, contra ela, por Pierre Bayle. Em seguida, será proposto um debate sobre como o mecanicismo atualmente ainda influencia nossas relações com os animais não-humanos, desde os modelos de criação pecuária até os laboratórios experimentais, em diálogo com as teses de Donna Haraway. Pretendo assim pensar os processos de mecanomorfose a que os animais têm sido sujeitados e maneiras de cultivar políticas não especistas, não salvacionistas e localizadas, com vistas a processos de mundificação multiespécie. Mesa 07 – FILOSOFIA POLÍTICA I – 9h às 12h30 Sala *** Mediador: Kauê Méndez Bruno Santos Alexandre Universidade de São Paulo – Pós-Graduação Orientador: Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros Título: A interpretação e a atualidade do republicanismo de Maquiavel, segundo John P. McCormick Falar de democracia nos dias atuais passa necessariamente por articular “povo” e “poder”, mais do que isso, um poder pertencente ao povo. Aqui, na presente comunicação, a intenção é de apresentar uma recente contribuição para esse tão propalado senso comum democrático do “poder popular”. Mas isso ocorrerá através da exposição de mais um capítulo do chamado republican revival (Skinner, Pocock, Lefort) – o qual advém, em grande medida, da preponderância de um Maquiavel republicano sobre o Maquiavel conselheiro de príncipes na recepção da obra desse autor florentino. Assim, o que eu proponho apresentar na corrente ocasião – em auxílio a uma melhor definição do pressuposto genérico do “poder popular” – é a recente interpretação de John P. McCormick acerca do republicanismo de Maquiavel, veiculada especialmente em seu livro Machiavellian Democracy, de 2011. Mais especificamente, trata-se de discutir a ideia segundo a qual o republicanismo de Maquiavel está mais próximo de uma democracia direta do que de um dos degraus históricos necessários para o que hoje entendemos como a democracia representativa. Para McCormick, trata-se mesmo de asseverar que, além de ser Maquiavel o primeiro republicano realmente popular, será apenas algo como um tribunatismo plebeu revisitado que fará com que nossas atuais instituições deixem de ser elitistas para se tornarem democráticas. Gustavo Hessmann Dalaqua USP – Pós-Graduação Orientador: Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros Título: Conflito, consenso e democracia em J. S. Mill O objetivo do trabalho é explicitar o papel do conflito e do consenso na teoria da democracia elaborada por J. S. Mill. De início, mostraremos que este tema recebeu interpretações divergentes na literatura secundária. Há autores que, à maneira de Marilena Chauí, estabelecem que a democracia pensada por Mill é incapaz de conceber espaço para o conflito. Por outro lado, comentadores de peso – tais quais Nadia Urbinati – não hesitam em identificar na filosofia de Mill um agonismo político radical, capaz de oferecer um modelo de democracia onde o conflito é enaltecido, e o consenso, esvanecido. Em um segundo momento de nossa explanação, procuraremos identificar as passagens que respaldam cada interpretação, evocando para tanto trechos do ensaio “Coleridge” e do livro "Considerations on Representative Government". A reconstrução destas obras em conjunto nos permitirá concluir que tanto a interpretação de Chauí quanto a de Urbinati são insuficientes. Enfatizando em demasia um aspecto da filosofia do autor em detrimento dos demais, ambas as autoras são incapazes de perceber a articulação entre conflito e consenso que é constitutiva da democracia representativa milliana. Embora seja inexato pensar, na esteira de Chauí, que a democracia milliana foca no consenso a fim de impedir o desenvolvimento do conflito, é igualmente inexato afirmar, tal qual Urbinati o faz, que o agonismo presente em "Representative Government" torna o consenso político dispensável. Ao mesmo tempo em que sublinha a vitalidade do conflito para a política, Mill afirma que a manutenção de um consenso sobre os princípios fulcrais do regime democrático é indispensável. O conflito que o filósofo estima, portanto, pressupõe o acordo mínimo sobre dois princípios formais de legitimidade. Nancy Nunes de Souza Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Bortolo Valle Título: O CONCEITO DE SOCIEDADE ABERTA COMO FUNDAMENTO PARA O NEOLIBERALISMO EM KARL POPPER "Com essa pesquisa pretendemos estabelecer um paralelo entre o conceito de sociedade aberta e o neoliberalismo político em Karl Popper. A principal tese desenvolvida na obra A sociedade aberta e seus inimigos é a análise crítica das três teorias consideradas como historicistas: a platônica, a hegeliana e a marxista, que segundo Popper fundamentam a sociedade mágica, tribal ou coletivista. A crítica do filósofo endereçada ao historicismo, tem como alvo sua crença no poder da razão humana em descobrir um sentido último para a história, em vista do qual os indivíduos deveriam empreender esforços pessoais e políticos para a conquista de um sentido teleológico. A sociedade aberta, por outro lado, tenderia a garantir que os indivíduos fossem confrontados pelas decisões pessoais, a responsabilidade de suas escolhas e a reflexão crítica. Popper em sua defesa da sociedade aberta defende que a história não se encontra determinada por leis do desenvolvimento, mas que depende, única e exclusivamente, dos indivíduos a escolha desse fim ou progresso histórico. Nesse sentido, o ser humano se torna artífice do seu próprio destino, pelo seu caráter autônomo perante suas escolhas e ações. A defesa de uma sociedade aberta, portanto, tem como objetivo o fortalecimento de instituições democráticas que reconheçam a liberdade crítica do indivíduo; o processo de troca de argumentos se torna fulcral, pois através da atitude de ouvir e retorquir argumentos o indivíduo passa a reconhecer suas falhas e erros. Somente através da troca de argumentos é que podemos aprender com os outros aquilo que ainda não conhecemos e encontrar as falhas do nosso ponto de vista. A mensagem política veiculada ao pensamento popperiano procura conciliar quatro ideias principais: a alteridade, a tolerância, a crítica e a democracia que garante essas três posições anteriores. Palavras-chave: Neoliberalismo. Tolerância. Sociedade Aberta. Karl Popper. Historicismo." Tiago Hercílio Baltazar UFPR – Pós-Graduação Orientador: Dr. André de Macedo Duarte Título: Freudo-marxismo e a historicidade do pensamento freudiano "Wilhelm Reich e Herbert Marcuse foram os mais importantes representantes de um movimento filosófico que articula o pensamento de Freud à sociologia marxista: o freudomarxismo. Tendo por objetivo revelar a interdependência entre a estrutura material das relações de produção e a estrutura pulsional, os freudo-marxistas posicionam-se criticamente diante das duas teorias que mobilizam: identificam os “desvios ideológicos” no pensamento de Freud para que, desse modo, a teoria psicanalítica das pulsões possa sanar uma carência do próprio marxismo, cujas análises fixaram-se no conhecido “economicismo”, já bastante criticado na primeira metade do século XX. Neste contexto, as críticas de Reich e Marcuse, feitas à psicanálise, estão relacionadas a uma ""negligência da dimensão histórica"" nos fenômenos analisados por Freud. Esta perda de historicidade teria implicado numa concepção de civilização incompatível com a sexualidade, que tem por efeito a legitimação da ordem social repressora vigente. Ao analisar as críticas feitas por Reich e Marcuse, sobre diversos pontos do pensamento de Freud (Édipo, pulsão de morte, princípio de realidade, etc.), conclui-se que o desenvolvimento da teoria freudiana dos instintos está em questão para os freudomarxistas a partir de uma ""proposta de historicização"" da psicanálise, em seus conceitos fundamentais. Interessa-nos aqui (a) examinar essas críticas e (b) como se esboça a partir delas uma proposta de historicização. Esse exame se prestará a (c) uma discussão dos possíveis pressupostos contidos nessa proposta, a saber, uma noção metafísica de história, ligada por sua vez a uma racionalidade dialética e a uma concepção antissexual de poder." Lucas Lipka Pedron UFPR – Graduação Título: O voto como mecanismo de destruição da política em Hannah Arendt "O voto é o sumo gozo do brasileiro em sua democracia. Ele é a verdadeira ascese deste povo cujo o próprio exercício da cidadania se realiza através de um aparato ideológico. Este povo é excluído de sua vida pública; sua participação é relegada a um aparelho eletrônico no qual deve conjurar seu voto, transmitindo seu poder a outrem. Assim sua vontade é expressa numa luta travada por baixo dos panos, e vencida por uma maioria sempre oculta. Em suma, o voto é um aparato ideológico. Hannah Arendt distingue dois espaços que cerceiam este aparato: a cabine de votação e os partidos políticos. Os dois espaços, por razões diferentes, são mecanismos de negação da vida política: o primeiro por promover a desassociação dos homens; o segundo por massifica-los, por unificar e padronizar as diferentes formas de ver, sentir e pensar o mundo. Aqui procuraremos nos aprofundar no movimento de ressignificação da ação política, através do mecanismo ideológico do voto e tudo que o cerca, como elaborado pela filosofa Hannah Arendt. Elencaremos quatro processos de alienação do agir humano através do processo eleitoral: a individualização do homem, que visa desestabilizar as bases do poder; o sigilo do voto, que retira a publicidade da ação; o universo fechado de possibilidades, que ataca o próprio conceito da ação (como poderia impor um novo começo, se precisa escolher entre opções dadas?); por último a massificação promovida pelos partidos, que introduzem um processo de doutrinamento e padronização do pensamento, que torna impossível a própria política." Josete Rockenbach Pesquisa independente – Pós-Graduação Título: Arendt e a perspectiva revoluciona sobre o homem A revolução é o momento em que se rompe o que era, mas se procura algo novo para fundar e iniciar um novo ciclo, uma perspectiva distinta sobre o homem para estabelecer um novo começo. Pode-se dizer que Arendt nos convida a romper com a concepção existente sobre o homem e sua natureza e a pensar o 'Novo Homem' em relação à Humanidade e o seu patrimônio a ser compartilhado. Suspende a perspectiva que trata da essência e do universal, de que a partir da essência primordial temos o modelo universal humano, como se eles fossem repetições intermináveis de um modelo, todos com a mesma natureza, e, portanto, tudo seria previsível , tudo estaria determinado, em favor da perspectiva da aparência e permanência , tal tese, vem analisar o domínio dos assuntos humanos, expondo a natalidade como condição deste novo domínio em que a pluralidade é aparente na história da humanidade. A perspectiva da aparência e da permanência, contemplam os elementos da estabilidade e durabilidade no que se refere aos homens e ao mundo, e também o espírito da novidade esta presente. Mesa 08 - ESTÉTICA II – 14h às 17h30 Sala 606 Mediador: Eloyluz de Souza Ana Catarina Souza Araujo UESPI – Graduação Título: Arte moderna como veículo de desvelamento da ação humana descrita por Hannah Arendt e como este elemento elucida a separação dos dois públicos e a desumanização descrita por Ortega y Gasset É possível fazer uma relação entre a obra de arte e a ação descrita por Hannah Arendt quando a obra explica a ação dando razão ao espectador entender a ação e o que ela faz. Podemos dizer que a obra de arte seria uma ação genuína por se desvincular da imitação e comportamento social. Por tal característica ela torna o espectador não só como uma pessoa que reconhece a ação como que também a prática. A desumanização que Ortega y Gasset ilustra transmite essa ação que podemos defender. Neste artigo quero defender a posição de que a obra de arte constitui uma ação elaborada por Hannah Arendt e que a ação contida na obra também torna o espectador um ser novo e livre ao reconhecer aspectos da ação contidos na arte. E defendo também que a desumanização da obra de arte comunica essa ação, e explica a separação dos dois públicos que Ortega y Gasset aponta em seu livro. A defesa sem dúvida exige alguma reelaboração, mas também não deixa de seguir as disposições atuais. Augusto Bach UNICENTRO – Pós-Graduação Título: A arqueologia da moda de Gilles Lipovetski "Posto que venha a ser uma das manifestações mais influentes na civilização ocidental desde o fim dos tempos medievais até nossos dias, poucos pensadores têm se ocupado de uma reflexão sobre o fenômeno moda em nossa cultura. Quando feita objeto de análises e abstrações, ela corriqueiramente foi relegada ao domínio do frívolo e da produção de alienações no campo da cultura. Com efeito, sempre fora um costume do pensamento filosófico encarar com desconfiança o distanciamento dos homens de suas tradições e seu desapego a valores históricos consagrados. A tarefa de domesticar e educar o homem através das belas artes e dos bons ofícios constituiu missão do pensamento filosóficolegislador até o aparecimento da sociedade de massas, na qual a paidea humana foi substituída pelo estabelecimento de uma cultura mass-midiática comandada pela lei da renovação acelerada. E da mesma forma em que nas sociedades antigas meios de comunicação tradicional como a escrita parecem ter perdido a batalha em sua função humanizadora perante meios comunitários mais bestializadores, é comum encontrarmos até hoje a repetição do lamento intelectual contra a moda. Mas afinal o que teria ocorrido em nossa história para que os homens se desencantassem com o passado e este deixado de iluminar o futuro? De onde teria surgido o culto estético do novo pelo novo e dele aparecido a moda? Esta apresentação pretende tratar dessas questões partindo das análises arqueológicas do filósofo Gilles Lipovetski em seus livros A Era do Vazio e O Império do Efêmero. Pois ao contrário das abordagens tradicionais que frequentemente enxergaram no reino da sedução a barbárie, sua postura iluminista lhe permite atribuir um papel ao fenômeno moda que não conduz à derrocada do cidadão livre e responsável, mas ao próprio avanço das Luzes no lento e subterrâneo trabalho da democratização das aparências." Eloiza Henequin UFPR – Pós-Graduação Orientador: Walter Romero Menon Júnior Título: Da transfiguração do “mundo da arte” de Arthur Danto à teoria institucional da arte de George Dickie: a natureza da arte a partir de uma análise comparada As reflexões geradas sobre a questão da natureza da arte são antigas. A partir do século XX, essa necessidade de conceituar a arte impôs-se em virtude das mais diversas formas de manifestações artísticas que se apresentaram no cenário cultural. Influenciado por essa atmosfera, o filósofo Arthur Danto, publicou o artigo “The Arttworld”, em 1964. Seu trabalho apresentou uma nova alternativa para a tarefa de definição da arte: o conceito de “Mundo da Arte” como instrumento de legitimação para objetos indiscerníveis. A tese de Danto inspirou o filósofo George Dickie que desenvolveu a “Teoria Institucional da Arte”, argumentando que a arte está inserida em um contexto social que a legitima e lhe fornece o atributo de candidato à apreciação. “O Mundo da Arte” ressalta a função social da arte e indica que a definição conceitual da arte necessita de uma dimensão suficientemente ampla e flexível capaz de abrigar exemplares inesperados e, ao mesmo tempo, atender aos quesitos e demandas de obras já existentes. Enquanto o “Mundo da Arte” para Danto compreende a teoria e a história da arte, Dickie faz uma abordagem mais sociológica e prática. De acordo com a Teoria Institucional da Arte, a arte é uma atividade guiada por regras e os membros do mundo da arte desempenham papéis prédeterminados que são convencionais e que devem ser apreendidos. O ponto crucial de divergência entre os dois filósofos parece ser a própria noção de “Mundo da Arte”. Para Dickie, o termo serviria para intitular “uma certa instituição social” na qual os “especialistas” agem em nome da mesma. Para Danto, é aquele que nos permite ver alguma coisa como arte, encerra também um caráter institucional, mas em decorrência da própria estrutura estabelecida e identificável que o constitui. Gabriel Gurae Guedes Paes UFSCar – Graduação Orientadora: Thelma Silveira da Mota Lessa da Fonseca Título: Sartre e o papel do real no projeto estético Os objetos perdem para Roquentin a qualidade de instrumentos, perdem toda e qualquer qualidade que deles se possa abstrair. Não é possível nem mesmo identificar e nomear as coisas. Em parte podemos dizer que isso ocorre pela perda do passado lamentada pelo personagem de A Náusea de Jean-Paul Sartre. Precisamos do passado para reconhecer um rosto familiar que já vimos e mesmo para utilizar um objeto que vai funcionar como já funcionou antes. Mas a espera que no futuro as coisas aconteçam previsivelmente conforme os acontecimentos passados não é obviamente um retorno ao passado, mas uma espera quanto ao futuro. Assim, é o projeto de retomar no futuro o que já se fez no passado que torna as coisas previsíveis. Notamos que o projeto futuro abstrai determinados elementos do mundo percebido em detrimento de outros que são eliminados. A abstração é como um perfilar de qualidades finitas no real em meio à infinidade transbordante das coisas existentes. Esse perfilar se dá de modo conveniente ao projeto. Roquentin tem dificuldades para abstrair do presente elementos que se relacionem a um porvir, porvir este que ao mesmo tempo daria sentido ao passado como aquilo que é retomado ou modificado. Desse modo o mundo aparece como um “transbordar”, tudo pode acontecer e as coisas não podem ser definidas ou utilizadas. Roquentin conclui que deve abandonar o real em favor do imaginário, “salvar-se” pela arte escrevendo um romance. Queremos mostrar em nosso trabalho que este projeto de “salvação” é impossível, pois a obra imaginária não pode se constituir sem articulação com um projeto real. Ana Carolina Mondini Universidade Federal do Paraná – pós-graduação Título: Montaigne leitor de Horácio Discussões sobre o parentesco entre a pintura e a poesia ocorrem, dentre outras épocas, no seio do Renascimento do século XVI. E, embora no corpo da filosofia montaigneana não haja discussões diretas com seus contemporâneos, praticamente toda a obra consiste em conversações com filósofos antecedentes e que se ocuparam do assunto. Inclusive, o Horácio, propriamente dito, seria um dos interlocutores prediletos de Montaigne. No ensaio “Da amizade” (Livro I, capítulo XXVI), o filósofo se considera um pintor, tanto quanto considera Horácio, em conversa com o mesmo. Distinguem-se, porém, na forma como pintam seus quadros. Horácio pinta com pinceladas poéticas e “de acordo com a arte” (I, XXV, p. 274), ou seja, a arte retórica; enquanto Montaigne pinta em forma de ensaio, que seria um estilo inventado por ele mesmo, derivado da prosa. Temos, neste momento, breve alusão sobre a relação: aquele que escreve formando imagens, simultaneamente, realiza uma pintura. Mesmo que varie a maneira como o faz: o resultado são estilos pictóricos distintos. Com vistas nessa conversação, examinaremos a possibilidade de Montaigne estar, de fato, posicionando-se acerca daquela discussão mencionada inicialmente. Vinícius Luís Thomazini Silveira Universidade Federal do Paraná – Graduação Orientador: Paulo Vieira Neto Título: Uma reconciliação da reprodutibilidade técnica com o conceito de aura em Walter Benjamin O presente trabalho trata-se de um capítulo em andamento de monografia e tem como objetivo analisar e problematizar o ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, escrito em 1935, de autoria de Walter Benjamin, focando sobretudo na questão da teoria técnica benjaminiana que, por sua vez, irá de encontro ao seu conceito de aura, visando discutir como e de que maneira a aura da obra de arte poderia ser resgatada e ser a força motriz e emancipatória do sujeito, uma vez que esta estaria deteriorada pela reprodutibilidade técnica no âmbito do sistema capitalista. Mesa 09 – PENSAMENTO DO SÉCULO XVIII – 14h às 17h30 Sala 600 Mediador: Guilherme Quinta Camila Sant'Ana Vieira Ferraz Milek UFPR – Pós-Graduação Orientador: Rodrigo Brandão Título: A crítica de Helvétius à Montaigne sobre a noção de virtude. Apresentaremos uma diferenciação das noções de virtude em Helvétius e Montaigne. Para isto, apresentaremos a virtude em Montaigne a partir do ensaio entitulado Da Virtude e as considerações sobre a virtude em De l’Esprit e De l’Homme de Helvétius. A partir da crítica feita por Helvétius a Montaigne, mostraremos como o distanciamento dos autores não se baseia em uma divergência principal e nem trata de um afastamento inatingível. Pelo contrário, ambos partiriam de posicionamentos metodológicos semelhantes, que priorizavam a análise dos fatos e atribuiam à dúvida um valor significativo. Os autores também compartilhavam de alguns objetivos semelhantes, como a relativização da noção de virtude e o desvendar de outras formas de organização social que punham em cheque ao menos sua própria sociedade e época. Sua distinção está centrada na continuidade ou na ruptura da metodologia aqui brevemente descrita: se há ou não a possibilidade de que ultrapassemos a dúvida sem chegar a uma verdade absoluta, mas ao menos com um conhecimento mínimalista de um princípio que funcionaria como um uníssono nos mais variáveis costumes considerados virtuosos. Sobre esta possibilidade é que se baseia a crítica de Helvétius à Montaigne, destacando uma suposta insuficiência do autor pirrônico, sem deixar de elogiá-lo por suas considerações que mostram a variabilidade da virtude. Felipe Aquino de Cordova UFPR – Pós-Graduação Orientador: Vinícius de Figueiredo Título: Diderot entre modernidade e classicismo Em fins da década de 1750 Denis Diderot empreende uma campanha de reforma da cena teatral francesa com a publicação de duas peças, seguidas de reflexões sobre a arte do poeta dramático, que lançariam as bases do que depois se denominou o drama burguês. Datam do mesmo período textos como o “Elogio a Richardson” e os primeiros Salões, que fazem o elogio de Greuze. Todos esses textos têm em comum o fato de operarem na chave de um dualismo moral, com consequências na maneira como o autor concebe o realismo na arte. É perceptível aí a busca de uma profundidade que se descola do que é, para voltar o olhar para o que pode ou deve ser, numa referência à ideia de natureza humana. A leitura de outros textos, porém, nos revela um outro Diderot. Em “Jacques, o Fatalista e seu Amo”, cuja redação data de 1771-78 e a publicação, para o restrito público da Correspondência Literária, de 1778; e em “O Sobrinho de Rameau”, redigido entre 1762 e 1773 e publicado apenas postumamente, já não vemos o didatismo moral que caracterizava o momento anterior, e sim personagens destituídos de um senso moral unívoco e a presença de expedientes formais que distanciam o leitor de qualquer tese que supostamente pudesse ser defendida, eliminando assim a estrutura dualista antes usada. Esta apresentação buscará elucidar os elementos que caracterizam essa mudança. João Carlos Lourenço Caputo UFPR – Pós-Graduação Orientador: Rodrigo Brandão Título: De Newton a Malebranche: a inversão proporcional de Voltaire "É inegável a influência que Newton e sua física exerceram na formação filosófica de Voltaire. A teoria da gravitação ecoa em vários dos textos do autor do Cândido e, além dos usos e consequências propriamente físicas, ela servirá de pano de fundo das teorias metafísicas de Voltaire, sobretudo em suas investigações sobre Deus. Será da física newtoniana que Voltaire extrairá vários pressupostos usados em suas investigações, permitindo-o formar uma imagem do Ser Supremo. No entanto, as consequências extraídas da teoria de Newton não são totalmente fiéis ao pensamento do inglês. Voltaire realiza nelas uma espécie de distorção ou deslocamento para que elas sirvam melhor ao seu propósito. Apesar da importância do autor dos Principia, o lugar privilegiado que Newton ocupara no pensamento de Voltaire não será mantido até a fim da vida do autor. Malebranche será o substituto do inglês e fará, com seu ocasionalismo, que Voltaire apresente sua ideia de Deus de uma forma toda nova em seus textos de velhice. Nesta transição efetuada por Voltaire podemos notar uma característica curiosa: quanto mais próximo Voltaire está da teoria de Newton, mais longe as consequências de suas próprias teorias metafísicas estão das do inglês e quanto mais próximo está do pensamento de Malebranche, mais suas conclusões se aproximam das de Newton. O objetivo do presente trabalho será, portanto, analisar esta inversão proporcional. Nossa análise não tem o intuito de apenas ilustrar um fato curioso na produção filosófica de Voltaire, mas ela nos dará oportunidade de ver como a imagem de Deus apresentada nos textos do Patriarca de Ferney se modifica através dos anos e como isso altera suas conclusões metafísicas." Kamila Cristina Babiuki UFPR – Graduação Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Brandão Título: Diderot contra o rococó ou o elogio a Greuze Tendo como base os Ensaios sobre a pintura (1765), de Denis Diderot, tentaremos entender quais são os princípios filosóficos norteadores do elogio feito pelo autor aos quadros de Jean-Baptiste Greuze, especialmente o Filho ingrato (1777). Tendo em vista esse objetivo, analisaremos um dos elementos centrais do elogio diderotiano, a saber, a narrativa moral apresentada pelo quadro. Essa narrativa se constrói a partir de dois elementos fundamentais, a unicidade e a centralidade que, como veremos, remetem ao classicismo. Pretendemos mostrar, então, como o elogio empreendido pelo filósofo se liga a um projeto moral que busca assimilar a grandiosidade heroica classicista às representações pictóricas com temática doméstica na atmosfera artística setecentista. Mariana Renata Schvenger Ribeiro PUC-PR – Graduação Título: Ilustrações do Materialismo Francês do Século XVIII nas obras de Marquês de Sade Donatien Alphonse-François, o marquês de Sade, apresenta em suas obras mais que sangue e esperma, antes há uma filosofia materialista de seu período que adota, sustenta e o leva às últimas consequências. Marques de Sade utiliza do materialismo, esse que nega a existência da alma, do mundo espiritual e admite apenas a meteria como realidade, instaurado no século XVII por filósofos como La Mettrie e Condillac, para calcar os valores da filosofia libertina. Visto isso, como interpretar a crítica social e a organização que Sade chamou de Orgia como ilustrações de teses materialistas em sua obra Filosofia na Alcova (1975)? Acusado de “imaginação demente”, Donatien Alponse François de Sade, passou 27 anos de sua vida em prisões e outros locais de isolamento, recebeu diversas sentenças de morte quais foram evitadas, e qual o motivo para tantos cárceres e acusações? Seus audaciosos textos e uma vida escandalosa. Seus textos podem causar, aos mais sensíveis, certo desconforto, no entanto, há muito mais do que sangue, esperma e atrocidades em suas obras. Para tanto, as seguintes bibliografias serão fundamentalmente tomadas para estudo:Filosofia na Alcova (1795) M. Sade;Justine, ou, as desgraças da virtude (1788) M. Sade;Discursos ímpios (1926) M. Sade;Ciranda dos libertinos (1988) M. Sade; La Mettrie, ou, a filosofia marginal (2013) F.Bocca e A. Verardi;Tratado das Sensações (1754) E. Condillac. Rafael de Araújo e Viana Leite UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Brandão Título: Terrível e agradável: sobre o paradoxo da experiência estética em três poéticas do século XVIII Tomando como base de nossa investigação a obra do Abade Dubos, 41 a saber, as Reflexões críticas sobre a poesia e a pintura (1740), veremos de que modo o autor percebe em nossa experiência estética ordinária um paradoxo digno de atenção. Proporemos, a partir do artigo recentemente publicado por Paisley Livingston (2013), uma interpretação alternativa em relação ao paradoxo mencionado, aproximando a perspectiva de Dubos com a de Boileau e Fontenelle, manifestada em suas respectivas poéticas. A ideia é, então, a de mostrar que, a despeito da diferença de vocabulário, esses autores diagnosticaram algo muito semelhante em relação ao modo como a representação artística de uma ação terrível (se fosse verdade) causa, ainda assim, a sensação de prazer no espectador de uma peça teatral. Mesa 10 – FILOSOFIA POLÍTICA II – 14h às 17h30 Sala 405 Mediador: Lucas Axt Benjamim Brum Neto UFPR – Pós-Graduação Orientador: André Duarte Título: Sobre o Estado de exceção: Agamben entre Carl Schmitt e Walter Benjamin Desde Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I (1995), Giorgio Agamben vem ocupando lugar de destaque nos debates de filosofia política, notadamente por sua particular leitura da biopolítica e da conjugação feita com a noção de Estado de exceção para a confecção de um diagnóstico da modernidade. Segundo o italiano, o estado de exceção se tornou uma técnica normal de governo. E é precisamente isso que caracterizará a modernidade biopolítica. Ou seja, a modernidade não se caracteriza por ser biopolítica (tal como pretende Foucault), mas pelo fato da exceção ter se tornado a regra. Para Agamben, biopolítica e soberania estão essencialmente conectados, e, por sua vez, o Estado de exceção representa o auge da manifestação do poder soberano em sua acepção biopolítica. Enquanto para Schmitt o objetivo é assegurar que a violência decorrente do poder soberano se restrinja ao Estado de exceção decidido pelo soberano, Benjamin pretende assegurar a possibilidade de uma violência que escape ao direito, e que seja inclusive capaz de depor o direito (Entsetzung de Rechts) aliado dessa soberania, o que representa ao direito uma ameaça a qual é impossível de se transigir. A fórmula desse debate é dada por Kafka: o Estado de exceção é quando a lei está vigente, mas sem significado. Isso significa que há força de lei sendo aplicada (decisões do executivo), sem que se preserve as garantias constitucionais. Diante disso, Agamben recorre à temática da desativação do direito, o que é feito mediante seu próprio estudo. Caio Souza do Nascimento PUC – Graduação Título: O surrealismo, em Walter Benjamin Este trabalho tem o intuito de desenvolver o valor político do movimento surrealista, através do texto de Walter Benjamin “O surrealismo: o ultimo instantâneo da inteligência europeia”. Esclarecendo suas passagens no qual o movimento que possui sua dialética, em um certo “truque” como Benjamin denomina: o olhar político. Este olhar que se direciona ao passado, e que possui este caráter de negação, do descobrimento, este caráter político seria a determinante na relação participativa do movimento com a revolução. A vida política seria um ato contra a ordem estabelecida, que a vigor dependeria da busca do novo, da inquietação do espírito. Essa liberdade é concedida a um ideal que segundo Benjamin, só os surrealistas dispunham na Europa. Porem a embriaguez da liberdade surrealista, questionada por ser insatisfatória a qualquer pratica de revolução, seria um dos fatores marcantes da saída do movimento do comunismo e sua entrada ao anarquismo. O interessante o conceito de liberdade surrealista, que se colocassemos no papel e doutrinassemos dizendo que foi de tal forma, já não seria mais liberdade. O uso da metáfora no surrealismo no sentido de falar de um objeto que, representará uma personagem, permite uma experiência estética mais profunda no contexto de uma determinada cena. Num primeiro momento, apresenta-se a importância de uma nova relação entre crítica, escrita e distância para a análise desse fenômeno feita pelo autor. Com base nisso, o texto que traz aspectos específicos de sua interpretação do movimento artístico francês, notadamente junto a concepção de experiência como iluminação profana e sua ligação com anarquista e a disciplina revolucionária. Também um olhar investigativo sobre o ser humano e a busca do “Eu” inconsciente, como o próprio autor retrata: “somos uma droga, que mergulhamos em nós mesmos quando estamos sós. Luigi Giuseppe Barbieri Ferrarini Instituto de Criminologia e Política Criminal Pós-Graduação Título: O conceito de sem Estado: a dinâmica do direito de ter direitos em Hannah Arendt Hannah Arendt concebe o direito de ter direitos como resposta a um quadro de total desconsideração dos direitos humanos, conjecturados, por uma convicção comum, como inalienáveis e inerentes a todos os indivíduos; em síntese, a autora identifica que de nada valeria ser dotado de tais direitos caso inexistente um Estado disposto a garanti-los, com o qual teriam um vínculo de nacionalidade. A máxima evidência desta conclusão foram os movimentos totalitários, que, nos campos de concentração e extermínio, destruíram fisicamente milhões de pessoas, tomando-as plenamente descartáveis e supérfluas. Assim, através da análise de obras de Hannah Arendt e comentadores, objetivou-se nesta pesquisa evidenciar como a perda da autoridade política – último estágio de uma crise já manifesta nas esferas da religião e tradição – tornou a nação nova fonte legitimadora da soberania dos Estados, no exato momento em que ocorria o reconhecimento legal dos direitos humanos para aqueles reputados como cidadãos. Entretanto, quando determinados grupos revelaram-se incômodos, aqui nominados como sem Estado – minorias, apátridas e posteriormente todos aqueles tidos como indesejáveis, mesmo que nacionais –, por serem desprovidos do vínculo de nacionalidade com um ente soberano que os protegeria, ou por terem este retirado de si, tornaram-se absolutamente descartáveis. Deste modo, ao identificar que a perda da nacionalidade seria o equivalente a perder a própria humanidade, Hannah Arendt conclui que os direitos humanos não poderiam ser cogitados como dados, mas construídos na esfera pública, sendo necessária, portanto, a possibilidade de participação ativa na comunidade política, onde os indivíduos seriam ouvidos e considerados pelos demais, em igualdade. Renato Alves Aleikseivz Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Orientador: André de Macedo Duarte Título: A questão do poder em Michel Foucault O tema desta comunicação são os deslocamentos na pesquisa foucaultiana sobre a sua analítica do poder que possibilitaram o surgimento do conceito de governamentalidade. Este conceito, na verdade um neologismo forjado pelo filósofo em finais da década de 1970, tem uma trajetória singular no interior da pesquisa foucaultiana sobre o poder. Busca-se, com efeito, percorrer e mapear o caminho que leva Foucault a introduzir tal conceito. Ao mesmo tempo, com o advento de tal noção, que aparece no curso de 1978, "Segurança, território, população", percebemos que os objetos de análise de Foucault se ampliam fazendo com que, no curso do Collège de France imediatamente posterior, a saber, "Nascimento da biopolítica" (1979), o filósofo faça sua primeira incursão na história contemporânea ao analisar o neoliberalismo alemão e norte-americano. Sendo assim, nossa intenção é buscar compreender de que modo os deslocamentos da pesquisa foucaultiana em torno do eixo do poder possibilitaram a abertura de um novo campo de investigação que, ao fim e ao cabo, iluminam o caminho que vai do governo dos outros para as primeiras formulações sobre o governo de si. Portanto, a questão do poder se mostra como sendo de suma importância para compreender, por exemplo, as relações entre poder e resistência, bem como a noção de filosofia que está subjacente, a saber, a filosofia como diagnóstico do presente. Robson Francisco da Costa UFPR – Graduação Orientadora: Maria Isabel Limongi Título: UMA ANÁLISE DA FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO PARA À SOCIEDADE – A RELAÇÃO ENTRE A CONSCIÊNCIA DA CIDADANIA E JUSTIÇA POLÍTICA OU INSTITUIÇÃO DE DIREITOS EM A LUTA POR RECONHECIMENTO. Dado que um dos aspectos culturais do ser humano mais evidente é o político e o convívio em sociedade os forma para esta modalidade, este trabalho a partir das contribuições de Axel Honneth e G. W. F. Hegel tem como tarefa uma análise do processo de formação do individuo para à sociedade, a transformação de um “sujeito” em um “cidadão”, como este deslocamento de consciência acontece e a relação que a participação efetiva deste sujeito tem com a justiça política ou instituição de seus direitos. Procurar-se-á demonstrar conceitualmente como essa movimentação particular ou coletiva é importante para a mudança das estruturas políticas, afim de garantir os direitos sociais e firmar novos direitos, em outras palavras, aquilo do qual os cidadãos passam como portadores de direitos do campo da vida privada, estabelecendo relações no campo público como protagonistas de suas trajetórias comunitárias, tocando no reconhecimento do sujeito como agente moral que é suscetível de realizar a ação dentro de circunstâncias particulares não abrangida pela lei jurídica, com vistas a forçar a estrutura das instituições sociais e públicas a instituir e garantir tais demandas frente aos componentes da sociedade que culmina no Estado. Andréa Bassin PUCPR – Pós-Graduação Orientador: Prof° Dr César Augusto Ramos Título: A liberdade no pensamento político de Hannah Arendt "A liberdade no pensamento político de Hannah Arendt (Andréa Bassin - Mestranda em Filosofia Política – PUCPR) Orientador prof. Dr. César Augusto Ramos Arendt afirma que o fazer político só pode existir a partir da liberdade. A autora visou defender a dignidade da política ao afirmar que “a raison d’être da política é a liberdade, e seu domínio de experiência é a ação”. A autora vê a dimensão política como resultado da ação do ser humano no aparecer para o outro, reafirmando sua singularidade. O espaço público se funda da diferença entre os cidadãos. O conceito de pluralidade provoca o exercício da liberdade e a capacidade para a vida em comum, que diz respeito à nossa capacidade de avaliar e julgar como membros de uma comunidade. A ação só pode ser pensada em um espaço republicano, um governo baseado no respeito às leis e que assegura que algo inteiramente novo e imprevisível possa acontecer. Para que a liberdade possa efetivar-se é necessário que haja instituições sociais de autogoverno e um sujeito humano que estabeleça prioridade de virtude sobre interesses. Hannah Arendt pode ser vista como teórica do republicanismo contemporâneo e herdeira de sua tradição. Tal republicanismo precisa ser compreendido no sentido de que determinados elementos como a liberdade, a ação, a pluralidade e o espaço público são necessários para um conceito de cidadania, sob a sua forma especificamente política possa constituir-se. É esse conceito eminentemente político de cidadania que permite inseri-lo no âmbito das preocupações teóricas do republicanismo, diante do qual a posição de Arendt é de aproximação e, também, de afastamento. PALAVRA-CHAVE: política; liberdade; ação; republicanismo." Quinta-feira Mesa 11 – IDEALISMO ALEMÃO I – 9h às 12h30 Sala 605 Mediador: Lucas Axt Bárbara Ferrario Lulli Unesp – Graduação Orientador: Márcio Benchimol Barros Título: O sublime em Kant Pode-se dizer, em suma, que a experiência sublime em Kant, é marcada fundamentalmente pelo seu caráter antagônico; caracterizado enquanto um desprazer causado pela ameaça à auto-conservação humana, que suscita, concomitantemente, o prazer pela libertação supra-sensível. Desse modo, em termos kantianos, esta representação nos causaria temor por conta da impossibilidade de ser encontrada em uma única imagem pelas intuições sensíveis. Sua multiplicidade lhe confere absoluta grandeza – característica ao sublime. Este caráter, o difere do belo justamente por não conferir em si, uma forma delimitada. Sua infinitude não o permite ser encontrado na natureza, por isso, para Kant, o ajuizamento do sublime somente pode ser feito em um plano préconceitual, isto é, supra-sensível. Assim, pretendemos analisar as características que circundam o sublime kantiano – e o difere, assim, do belo - juntamente com o modo que se dá seu ajuizamento, para apresentar, então, como este impulso pode se destoar em: sublime matemático e sublime dinâmico na estética de Kant. João Paulo Henrique Brito Universidade estadual do Pará – Graduação Título: Dor, sofirmento e morte em Arthur Schopenhauer Este artigo é fruto da pesquisa de monografia, de conclusão de curso em licenciatura plena em filosofia, da universidade estadual do Pará. Ele pretende analisar, compreender e refletir sobre a dor, o sofrimento e morte a partir do livro quatro do “O mundo como vontade e Representação” do filósofo Arthur Schopenhauer. Para ele, O mundo é vontade e também representação. O pensamento schopenhaueriano concebe a vontade como a força que move o mundo, bem como no homem, é a vontade de vida. À vontade em si é barreira para a vontade humana; pois as coisas do mundo estão em constantes conflitos, causando assim transtornos que venham causar e desencadear dor, sofrimento e consequentemente medo da morte. Todavia, segundo Schopenhauer, para o homem superar a dor, burlar o sofrimento e compreender o exercício orgânico da morte, é preciso negar a vontade do mundo, fortalecendo o prazer pela vida através da tolerância, paciência, piedade e amor ao próximo, ou seja, do conhecer- a sí mesmo, para se adequar ao mundo, e assim, ter uma vida bem equilibrada e feliz. Luana Oliveira Medeiros Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Paulo Vieira Neto Título: A compaixão como fundamento filosófico da moralidade em Schopenhaue No Sobre o Fundamento da Moral (1839), Arthur Schopenhauer, ao questionar o fundamento da moralidade, faz a pergunta sobre o que é que pode servir como incentivo para que os indivíduos superem as tendências egoístas. Segundo o filósofo, a resposta para essa questão não reside em mandamentos teístas ou em um imperativo categórico. Ele não admite que a moralidade tenha origem na racionalidade humana, a qual teria papel meramente instrumental e preocupa-se com o meio em direção a algum fim previamente pensado. A investigação empírica, argumenta Schopenhauer, mostra que, fundamentalmente, existem três incentivos que motivam as ações humanas: 1. O egoísmo: o desejo de seu próprio bem-estar, 2. A maldade: o desejo da desgraça do outro e 3. A compaixão: o desejo do bem-estar do outro. Ele acredita que todos nós temos uma mistura de egoísmo, de maldade e de compaixão, e que algumas pessoas têm uma grande dose de compaixão, algumas praticamente nenhuma e o resto de nós encontra-se em algum lugar no meio disso. Schopenhauer aceita que seremos egoístas, maldosos e até certo ponto compassivos, mas que a compaixão é o único motivo que possui valor moral. Pretendemos, em nossa apresentação, explorar o caminho percorrido por Schopenhauer até a formulação do problema, bem como o desdobramento da sua teoria, que coloca a compaixão como fundamento filosófico da moralidade. Pedro Augusto Pereira Gonçalves Universidade Federal do Paraná – Graduação Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Valentim Universalidade exclusiva: o racismo em Immanuel Kant Este trabalho pretende apresentar a noção do racismo filosófico em Immanuel Kant não como desvio ou preconceito de época, mas como parte fundamental de seu sistema filosófico. Através da análise de alguns de seus textos canônicos tais como À paz perpétua, Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita e Antropologia de um ponto de vista pragmático bem como outros não tão conhecidos, como Determinação do conceito de raça humana e Sobre o uso de princípios teleológicos na filosofia é possível perceber, à letra do filósofo alemão, a conexão sistemática entre sua famosa proposição de uma universalidade pela moral e o racismo evidente em seus escritos. Tomamos como hipótese interpretativa que esta universalidade não é senão exclusiva, ou seja, só pode existir na medida em que opera a exclusão dos outros seres humanos que não estão inscritos numa comunidade cosmopolita. Portanto, as condições universais ao reconhecimento da humanidade de outrem só se afirmam e se validam na medida em que esse outrem preencha os requisitos do que seja a tal humanidade forjada por Kant e pela tradição ocidental europeia moderna. Trata-se, então, de uma atitude kantiana que, para além do especismo que diferenciou humano do animal nas noções antropológicas, promoveu, através do racismo, a segunda separação excludente que opera por meio das raças inscrita na dimensão da possibilidade da história. Mesa 12 – FILOSOFIA ANTIGA I – 9h às 12h30 Sala 600 Mediador: Luiz Speltz Adriel Fonteles de Moura Universidade Federal do Paraná – Graduação Título: A Relação Substância Primeira-Substância Segunda para a constituição de conhecimento segundo Aristóteles e Porfírio Neste trabalho, vamos investigar o conceito aristotélico de substância a partir da obra Categorias. Aristóteles propõe dois graus de substância: substância primeira e substância segunda, cuja relação entre elas possibilita o conhecimento científico. Este conceito aristotélico de substância é abordado pelo filósofo neoplatônico Porfírio. No entanto, o foco da investigação de Porfírio centrase principalmente no segundo grau da substância. Este grau diz respeito ao gênero supremo, a saber, o gênero que contém todos os demais gêneros e espécies, mas não é contido por nenhum gênero superior. O primeiro grau da substância é o extremo oposto do segundo grau. A substância primeira se diz de um particular, mas este particular não é determinante para o surgimento de um universal. Por exemplo, Sócrates é um homem, mas Sócrates não define os indivíduos da espécie humana. Quando observamos o conjunto de homens, a relação muda, pois se trata dos indivíduos da espécie humana, delimitados pela diferença específica de ser racional. Nosso foco não é fazer uma investigação sobre o conceito aristotélico de substância, mas mostrar como esta relação entre os dois graus de substância constitui um conhecimento. Além disso, indicar o problema desta relação acerca dos universais e particulares. Coniã Costa Trevisan UFPR – Graduação Título: O Labirinto do Sofista "A ideia do trabalho é analisar a personagem Estrangeiro no diálogo O Sofista, de Platão. Nesse diálogo a personagem em questão busca responder parte de uma simples pergunta de Sócrates: o que aqueles do lugar do Estrangeiro pensam sobre o sofista, o politico e o filosofo? Eles são o mesmo? Ou são dois, ou até mesmo três? O estrangeiro responde facilmente que eles são três, mas que definir o que é cada um não é trabalho nem pequeno nem fácil. Assim, esse diálogo é a parte da resposta que define o sofista. Contudo, existem fortes motivos no próprio diálogo que levam a crer que o Estrangeiro pode ser também um sofista. Podemos citar a semelhança entre as diversas definições de sofista presentes no próprio diálogo com o que o Estrangeiro está fazendo e até mesmo o fato dele se referir à Parmênides de Eleia como pai. A referência em si não é completamente estranha, dado que o Estrangeiro é também de Eleia e que ele é até certo ponto seguidor do filosofo. Mas não podemos nos esquecer que em grande medida Parmênides também é pai dos sofistas, afinal foram as suas ideias que permitiram o surgimento deles; ou se preferirmos a forma como aparece no próprio diálogo: é atrás de suas ideias que os sofistas se escondem e se protegem – é impossível capturar e definir o sofista sem primeiro passar pelo que Parmênides disse. E caso o Estrangeiro se mostre como sendo também um sofista, o diálogo muda completamente. Se antes tínhamos um estrangeiro, falando de maneira aparentemente neutra e distanciada de seu alvo agora temos o próprio sofista sendo colocado no centro das atenções e desviando toda essa atenção para um lugar que não ele mesmo. Se o objetivo do diálogo é caçar e capturar o sofista, o que acontece se o caçador é o próprio sofista?" Danilo Pereira dos Santos Universidade Estadual de Maringá – Pós-Graduação Orientador: Vladimir Chaves dos Santos Título: O Relativismo de Protágoras A comunicação pretende apresentar a proposta de pesquisa de mestrado e alguns de seus resultados. O objetivo dessa pesquisa é identificar e analisar o sentido filosófico da proposição do sofista do século V a.C. Protágoras de Abdera: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são". Essa formulação foi criticada pelos filósofos da época, principalmente por Platão. Servindo-nos de fontes diversas, pretendemos reconstituir o pensamento de Protágoras e sua força filosófica. Pretendemos apresentar que, de certa forma, Protágoras, assim como o próprio movimento sofístico, contribui para o desenvolvimento filosófico da época e investigar se há argumentos relevantes para mostrar que as críticas dirigidas a ele por Platão não foram consistentes. Diego Fragoso Pereira UFRGS – Pós-Graduação Orientador: Alfredo Storck Título: Ainda sobre os verba in animo de Agostinho Nesta comunicação, investigamos a teoria do verbum interior de Agostinho de Hipona. Claude Panaccio propõe que no De Trinitate 8,6,9 há dois tipos de verbum interior: phantasia e phantasma. Verbum interior enquanto phantasia é aquele com o qual a mente diz para si sobre o que está ausente, mas do qual se teve uma percepção sensível direta. Trata-se de uma representação. Verbum interior enquanto phantasma é aquele com o qual a mente diz para si sobre o que está ausente, mas do qual se teve uma percepção sensível indireta. Trata-se de uma imagem. No entanto, pensamos que a interpretação de Panaccio acerca dessa passagem do De Trinitate 8,6,9 exclui outros dois tipos de verbum interior. Além de falar sobre phantasia e phantasma, Agostinho pretende resolver o seguinte problema: a partir de que sabemos que uma pessoa é justa se nós próprios não somos justos? Da discussão desse problema aparecem dois tipos de verba: (i) aquele com o qual a mente diz para si o que é justiça e (ii) aquele com o qual a mente diz para si o que é a própria mente. Por isso, ao verbum phantasia e ao verbum phantasma, acrescentamos: (a) o verbum interior que tem sua origem na iluminação divina e por meio do qual a mente diz para si os conceitos gerais, e (b) o verbum interior que tem sua origem na experiência de si enquanto mente ou alma racional (mens, animus). Chamamos ao primeiro verbum impressum. Ao segundo, verbum personale. Rafael Veiga da Costa PUCPR – Graduação Orientador: Ms Rodrigo Francisco Barbosa Título: O estatuto da sofística Após um longo processo de “dois milênios de negligência” (Jarrat) a sofística tem sido “restituída” por seus intérpretes como um importante objeto de estudo há mais ou menos três séculos. Desde Hegel, um “pioneiro” desta “revitalização”, cujo esforço retrata os sofistas perante a tradição filosófica e os reconsidera introduzindo uma leitura inédita da sofística como supostos “mestres da Grécia” ou ainda a sugestiva análise de Grote, identificando os “sofistas” como “iluministas” do seu tempo, essas tentativas de “retirada da sofística da obscuridade” (Jarrat), excogitam que nem sempre os sofistas tiveram recepções positivas (Poulakos), especialmente, pelos efeitos axiológicos negativos dos seus contemporâneos Platão e Aristóteles, a qual esses influenciaram em juízos/interpretações decisivas que corroboraram para a marginalização da sofística frente à tradição filosófica. Neste sentido, como parte do desenvolvimento de uma iniciação científica, o intuito desse trabalho consiste em caracterizar o estatuto da sofística como objeto de estudo atual, por meio de uma delineação dos seus processos de “regulação”, “confiscos” e “revitalização” na história da filosofia. Para tanto, apresentaremos um primeiro levantamento acerca desses processos em debate a partir das interpretações recentes dos intérpretes “Fundacionalistas” e “Neosofistas”. Como um primeiro resultado/esboço de uma pesquisa em desenvolvimento, o esforço desse trabalho se efetiva em apresentarmos as principais “expressões” dos debates e afins da proposta de “revitalização” da sofística, a fim de propormos, posteriormente, a partir de Cassin, uma tentativa de “genealogia” da sofística a qual permitamos seu “locus” e seu estatuto como objeto de estudo. Mesa 13 – IDEALISMO ALEMÃO II – 14h às 17h30 Sala 605 Mediador: André Penteado Bianca Rocha Machado Universidade de Brasília – UnB Orientador: Alexandre Hahn Título: Uma leitura da crítica Hegel ao idealismo transcendental de Kant na Fenomenologia do Espírito A relação que G. W. F. Hegel estabelece com o pensamento de Immanuel Kant, especialmente com sua Crítica da Razão Pura, exige um exame detido do leitor: por um lado, há de se considerar a recusa de Hegel às concepções do kantismo que, embora pretendam construir uma epistemologia que determine as condições de possibilidade do conhecimento objetivo, acabam por radicalizar um subjetivismo metodológico que, segundo Hegel, inviabiliza a realização das pretensões da moderna filosofia; por outro lado, se deve atentar para o fato de que a solução proposta por Hegel para as insuficiências do pensamento moderno contém uma perspicaz apropriação de aspectos centrais do pensamento kantiano. Por isso, a compreensão do projeto da Fenomenologia do Espírito como a proposta de Hegel pela superação da dualidade e unilateralidade característicos do subjetivismo moderno, exige um duplo esforço. Primeiramente, pela interpretação do diagnóstico hegeliano da impossibilidade de realização dos ideais modernos de emancipação e liberdade enquanto fundamentados em uma racionalidade que opera apenas por meio da cisão do pensamento em polos opostos. Em segundo lugar, pela delimitação das nuances da sua relação com Kant, uma vez que a lógica transcendental kantiana oferece, ao olhar de Hegel, tanto potenciais para o agravamento do problema acerca do conhecimento na modernidade quanto, contraditoriamente, para a sua solução. Nosso propósito, no presente trabalho, é apresentar uma breve leitura do projeto geral da Fenomenologia do Espírito, descrito por Hegel no Prefácio e Introdução dessa obra, sublinhando a tensão gerada pelo diálogo com Kant, para então analisar as consequências que Hegel acredita alcançar com sua própria filosofia, transformada em Dialética Hernandez Vivan Eichenberger UFPR – Pós-Graduação Orientador: Paulo Vieira Neto Título: Superprodução e Plebe na “Filosofia do Direito” de Hegel Na Filosofia do Direito, a certa altura da seção sobre a sociedade civil-burguesa, Hegel tematiza que esta produz, segundo sua própria dinâmica interna, contradições, ou, em suas palavras, concomitantemente riqueza e pobreza. Essa contradição desdobra-se e se aprofunda, de modo a produzir uma classe social originária da pobreza e anômica por natureza, na medida em que incapaz de firmar laços sociais. Essa classe Hegel a chama de plebe (Pöbel). Há toda uma sorte de questões sociais que resultam dessa dinâmica corrosiva da sociabilidade moderna, mas Hegel crê ter encontrado elementos que mitiguem essa marcha. Segundo Hegel, a exportação de produtos que as sociedades civisburguesas nacionais produzem em excesso contribui decisivamente para aplacar a contínua geração de riqueza-pobreza, na medida que oportuniza empregos. Além disso, e com mais relevância do ponto de vista da economia interna da obra, Hegel defenderá a ideia de que a formação de colônias também é um expediente necessário e viável. Nosso objetivo será, por um lado, reconstruir os termos com os quais Hegel pensou essa contradição da sociedade civil-burguesa e, igualmente, desenvolver as respostas com as quais ele se atinou. Por outro lado, buscaremos mostrar que, segundo uma leitura imanente da obra de Hegel, as suas respostas não se encontram à altura do problema que ele próprio formulou. Por fim, sugeriremos que nisso se encontra um limite de sua filosofia, mas um limite produtivo, porque toca em temas contemporâneos que ainda exigem um tratamento pormenorizado, temas os quais o filósofo suábio pode iluminar. Luana Pagno UFSM – Pós-Graduação Título: As possíveis relações entre a ética e o direito em Kant O objetivo do presente artigo, fruto de algumas investigações da relação entre ética e direito, é demonstrar quais são as possíveis relações entre a doutrina do direito e a ética na filosofia kantiana, a fim de apontar de que forma uma doutrina contribuí para a outra ao longo da filosofia de Kant. Sendo assim, no decorrer do artigo serão debatidas as noções de ação moralmente correta e ação legal, as diferenças entre o dever ético e o dever jurídico, bem como a ideia de liberdade presente em ambas as doutrinas com a perspectiva de demonstrar como essas distinções contribuem para afastar ou unificar a ética do direito. Assim sendo, ao final do trabalho, será abordado três situações na obra de Kant que nos permite ou afastar totalmente a ética do direito ou unir as doutrinas, com a intenção de demarcar quais os problemas dessas três situações e quais delas é melhor para defender a relação entre ambas sem perder o aspecto essencial de cada uma. Lucas Batista Axt UFPR – Graduação Orientador: Vinícius de Figueiredo Título: Kant e a metafísica como ilusão necessária da razão A presente pesquisa tem por objetivo investigar qual o destino reservado por Kant para a metafísica na Crítica da Razão Pura. Trata-se de verificar se a determinação dos limites do conhecimento humano, a primeira vista principal objetivo da Crítica, torna nulas as questões postas pela metafísica, ou se, de algum modo, elas encontrarão um papel legítimo no edifício crítico. Tomando sobretudo o Apêndice à Dialética Transcendental, procuraremos mostrar como, sob o titulo de “incondicionado”, a ideia de Deus é reabsorvida pela filosofia crítica: ela é uma ilusão inevitável, porém necessária enquanto ideia regulativa que torna possível satisfazer a exigência da própria razão por uma unidade sistemática de seus conhecimentos. Com isso, pretendemos mostrar que Kant, ao menos na primeira Crítica, está longe de romper com a metafísica, na medida em que a sistematização de todo conhecimento positivo dependerá da remissão à uma unidade sistemática que só pode ser encontrada no plano do supressensível. Mesa 14 – FILOSOFIA ANTIGA II – 14h às 17h30 Sala 600 Mediador: Coniã Trevisan André Luiz Braga da Silva Universidade de São Paulo – Pós-Graduação Orientador: Roberto Bolzani Filho Título: A dívida e o “calote” de Sócrates (Platão, República VI 504e-507a) "A compreensão de qual seja o papel, na filosofia de Platão, da Ideia de Bem, sempre foi assunto dos mais debatidos em toda a sua obra. Alguns pontos são pacíficos: p. ex., o Bem é o fundamento ontológico último de toda a ética e pensamento político do fundador da Academia. Outros, embora não pacíficos, são milenarmente aceitos como certos: a ontologia do Bem, exposta em República VI e VII (através dos três símiles: Sol, Linha Dividida e Caverna), é o coração do pensamento platônico. A questão, que eclodiu com mais força no final do último século (PRESS, 1993; GONZALEZ, 1995; etc), é acerca de que mudanças os elementos “dramáticos” dos diálogos podem imprimir sobre algumas destas certezas que sempre tivemos sobre o corpus. O presente artigo, voltando a atenção para algumas nuances dramáticas no livro VI da República, debruçar-se-á sobre tal questão. Nosso leit motiv será: o que pode significar, para a compreensão do papel do Bem no platonismo, toda a atmosfera de insegurança e tergiversação do personagem Sócrates na “introdução” que precede a narrativa dos símiles na obra (República VI 504e4-507a6)? Duas noções que aparecem nesse texto chamam especial atenção: i) a esquiva do “pagamento” da “dívida” de dizer o que o Bem é; e ii) o “discurso fraudulento” oferecido como alternativa ao pagamento. Além da análise do texto da passagem, serão avaliadas, no limite da oportunidade, as opiniões sobre ela de alguns estudiosos (ADAM, 1902; CORNFORD, 1967; SANTAS, 1983; ANNAS, 1997; BALTES, 1997; DIXSAUT, 2000; GUTIERREZ, 2003; SZLEZÁK, 2003; VEGETTI, 2003; TRABATTONI, 2003; FERRARI, 2003; SHIELDS, 2011). Nesse ínterim, será sugerida uma interpretação da narrativa sobre o Bem divergente da milernamente aceita. Palavras-chave: Platão; República; Bem; Drama; Sócrates." Luan Gonçalves da Silveira Universidade Federal do Paraná – UFPR – Graduação Título: A imagem da alma no Fedro de Platão. Em seu segundo discurso [244a-257b] no diálogo Fedro, Sócrates afirma que a natureza da alma é assunto de todo divino e que ele estava limitado a apresentar, em seu discurso, apenas uma imagem do que seria a alma. Na imagem de Sócrates, a alma é apresentada como uma carruagem composta por uma parelha de cavalos alados, sendo um branco e o outro negro, e um cocheiro. A apresentação propõe-se, nesse contexto, de explorar o termo “imagem” (idéa) usado por Sócrates para caracterizar sua apresentação da natureza da alma, determinando seu sentido e sua importância na economia do discurso de retratação socrático. Visto que a alma desempenha um papel central na defesa que Sócrates faz de Eros, tema considerado por muitos como central no diálogo, nos parece que qualquer tentativa de interpretação do discurso socrático deve necessariamente dar conta do dito ser dito como imagem. Luiz Alberto Thomé Speltz Filho UFPR – Graduação Título: O uso do termo "arché" entre os gregos. A ἀρχή, o princípio, sempre foi assunto entre as vozes da filosofia. Mas o que é a ἀρχή? Deparando-nos com essa questão, pretendemos investigar o modo de utilização do termo “ἀρχή” entre os antigos, para que, a partir do resultado obtido, possamos compreender a sua real função - e, em última instância, a importância da própria investigação filosófica em torno do termo. Pois, no contexto grego, ἀρχή não é o que fora apenas pretérito, o que é causa em termos de temporalidade, mas aquilo que está à frente. Ela é o comando, é o que começa, mas não o que começou e ficou para trás e tampouco o que dá o “empurrão” para que algo se inicie, e sim o que começa justamente por tomar a frente: é o que puxa a tudo e a todos com a iniciativa. O termo “ἀρχή” reflete a utilização do verbo “ἄρχω”, que nada mais é que “adiantar-se”. No primeiro canto da Ilíada de Homero, por exemplo, há uma cena em que é anunciado que os sempiternos deuses retornarão ao Olimpo e, junto à frase que indica esse retorno, canta-se “Ζεὺς δ' ἦρχε”, que se traduz por “e Zeus se adiantou”, isto é, Zeus foi à frente dos demais deuses para o Olimpo ; “ἦρχε” ali é o verbo “ἄρχω” exprimindo a ação da iniciativa de Zeus. É por esse modo de uso do termo, então, que os gregos chamaram os seus comandantes de “ἄρχοντες”: aqueles que, ao invés de enviarem os outros ao fronte, se adiantavam à batalha e mostravam como ela devia acontecer. Não obstante, ἀρχή não designa apenas a ação inicial de adiantamento, mas o estar adiantado sempre: o imperar constante. O que está à frente é sempre o que é ἀρχή. Mas o que esse modo de uso do termo tem com a filosofia? Pretendemos, então, através deste estudo, além de reforçarmos a investigação em torno da palavra “ἀρχή”, responder a essa questão. Philipe Hugo Fransozi UFPR – Graduação Título: Leitura e interpretação da passagem 37d.5-7 no diálogo Timeu de Platão Tempo é o assunto da nossa pesquisa. É o nosso assunto não apenas porque a tradição filosófica o reconhece como um assunto tradicionalmente filosófico, localizado no que a tradição identifica como o começo da filosofia, não apenas porque ainda é assunto dessa mesma tradição; tempo é o nosso assunto, também e sobretudo, porque ainda nós nos sentimos como Agostinho quando, ao responder “o que é o tempo?”, confessa que “se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei”. Com a presente pesquisa pretendemos investigar o que já se disse sobre tal assunto, e para tanto, seguindo a tradição, é reconhecido que no diálogo Timeu de Platão, na fala do personagem homônimo, nós temos uma das primeiras tentativas de se explicar o que é tempo (χρόνος). Nessa passagem Timeu explica a “formação” daquilo “que nós temos chamado de tempo” – em livre tradução –. Nosso esforço consiste em se deter precisamente sobre tal momento do texto, localizado na página 37d – de acordo com a paginação de Stephanus –, linhas 5 a 7, e promover uma leitura e interpretação de tal passagem, buscando compreender o que é “que nós temos chamado de tempo”. Para a realização dessa tarefa, nós nos serviremos do texto grego, matérias de apoio da língua grega e traduções. Rogério Lopes dos Santos Universidade Federal de Santa Maria – Pós-Graduação Orientador: Miguel Spinelli Título: Questões fundamentais do hedonismo cirenaico O presente trabalho aborda dois pontos fundamentais do hedonismo proposto por Aristipo de Cirene (435 a.C. – 356 a.C.), a saber: o prazer somático, sob os termos da hedoné (ἡδονή), e o controle dos desejos. No que diz respeito ao prazer somático, o objetivo aqui é colocar em crise a ideia de que, na Filosofia cirenaica, esse tipo de prazer seria o fim (télos – τέλος) da ação humana. Nesse sentido, seguimos na contramão daquilo que, em parte, o doxógrafo Diógenes Laércio relatou em sua obra Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres – uma das principais fontes do hedonismo cirenaico. Essa oposição a Diógenes Laércio tem por base obras como a Praeparatio Evangelica de Eusébio de Cesareia (263 d.C. – 339 d.C.) e Varia Historia de Cláudio Eliano (175 d.C. – 235 d.C.). Segundo Eusébio e Eliano, o prazer ao qual Aristipo se referia como fim da ação era, na verdade, o prazer retirado do estado de euthymía (εὐθυμία), ou seja, um estado de tranquilidade, firmeza ou imperturbabilidade da alma (da psyché – ψυχή). Com relação ao controle dos desejos, a proposta aqui é tornar claro que, no hedonismo cirenaico, não havia qualquer ‘apologia’ aos prazeres somáticos em excesso – tal como os adversários dessa corrente filosófica buscaram demonstrar. Sobre esse ponto, tanto Diógenes Laércio quanto Xenofonte (430 a.C. – 354 a.C.), em sua Memorabilia, contribuem para a defesa dos hedonistas de Cirene. Por fim, vale salientar que buscaremos também apresentar, ao longo do presente trabalho, questões e soluções elaboradas por pesquisadores contemporâneos, bem como apontar para as possíveis relações entre o hedonismo de Aristipo e o hedonismo do filósofo Epicuro de Samos (340 a.C. – 270 A.C.). Yasmin Tamara Jucksch Universidade Federal Fluminense – UFF – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Alexandre Costa Título: Deficiência e Saciedade em Platão (Górgias, Fédon e República IX) No Fédon, diálogo da fase média de Platão, encontramos a afirmação de que o maior dos males possíveis ao homem está, paradoxalmente, ligado ao prazer (Féd.,83c-d). Já no Górgias, a metáfora do apetite humano como um tonel furado concebe o desejo como uma inaplacável e aprisionadora carência (Gorg.,493b); a própria oposição entre éndeia (a deficiência intrínseca à condição dos homens) e a suficiência e plenitude própria dos deuses, no diálogo, busca expor a monotonia da eterna circularidade da epithymia humana. No entanto, a essa caracterização negativa do desejo e do prazer – que levaria a concluir erroneamente que Platão os recusa e despreza – contrapõe-se, na República, a indicação incisiva de um prazer "mais real e mais verdadeiro" (Rep.,585d-e). No próprio Górgias, em uma transposição metafórica dos anseios da alma para o plano fisiológico dos apetites corporais, o alimento puro opõe-se ao contaminado e equipara-se aos objetos capazes de propiciar prazeres inigualáveis ao filósofo; a estes Sócrates contrapõe, no Fédon, toda a classe de prazeres cuja ausência significaria a desvalorização e o esvaziamento da vida para a maior parte dos homens (Féd.,65a). A partir desta sua natureza ambígua e camaleônica, este artigo busca compreender, com base na diferenciação platônica entre realidade sensível e inteligível (cujos eixos são as formas participiais tò gignómenon e tò ón), desejo e prazer como puras medidas neutras que em si mesmas não são objeto de recusa ou de apologia para Platão: seu status qualitativo depende simplesmente da qualidade da fonte de saciedade em direção a qual a alma se inclina – tema que é, este sim, central para a discussão platônica do problema do desejo e do prazer. Mesa 15 – FENOMENOLOGIA – 14h às 17h30 Sala 606 Mediador: Marcos Daniel Edson Ribeiro de Lima UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Paulo Vieira Neto Título: Husserl e a herança cartesiana: do ego psicológico à subjetividade transcendental Dentre os muitos paralelismos que podemos afirmar entre o pai do Cogito e o fundador da Fenomenologia, certamente o problema do sujeito possui um papel fundamental. Afinal, se Husserl afirma que a “fenomenologia é o sonho secreto de toda a filosofia moderna”, é em Descartes que ele encontra o germe de uma filosofia verdadeiramente rigorosa. Mesmo o tema do transcendental teria aí sido vislumbrado pela primeira vez na história da filosofia: as sementes da filosofia transcendental remontariam historicamente à Descartes. Portanto, constatamos algo no mínimo inusitado ao percorrermos o tema do transcendental na fenomenologia: nas Investigações Lógicas observamos um Husserl efetivamente cartesiano em seus temas e, a partir de 1907, um Husserl que se refere com frequência ao pai do cogito, mas num nível de análise que lembra muito pouco os fundamentos cartesianos estritos, pois a redução – que possibilitaria o “verdadeiro transcendental” – não faz restar nada das oposições que ainda vigoravam nas Investigações de 1900. Mas por que razão, no momento em que a fenomenologia efetua a guinada transcendental ela se coloca como herdeira de Descartes, e não de Kant? Por outro lado, sabe-se também que, para Husserl, ao mesmo tempo em que Descartes vislumbra a possibilidade de uma filosofia verdadeiramente rigorosa, põe tudo a perder ao confundir o transcendental com o empírico. A comunicação consistirá em apresentar, sob o Leitmotiv do tema do transcendental, sob que aspectos pode-se falar em neocartesianismo acerca do problema do sujeito no interior de uma fenomenologia da razão. Lucas Piccinin Lazzaretti PUC-PR – Pós-Graduação Orientador: Federico Ferraguto Título: O amor é uma questão de consciência: aproximações fenomenológicas na abordagem kierkegaardiana do Amor As análise kierkegaardianas sobre o amor partem de uma premissa cristã expressa pelo mandamento “amaras ao próximo como a ti mesmo”. O dever implícito nessa consideração sobre o amor não esclarece a forma de doação em que o amor se manifesta para aqueles que com ele se relacionam. Sören Kierkegaard esforça-se por evidenciar uma distinção entre duas formas de manifestação do fenômeno do amor; a forma erótica (Elskov) e a forma cristã (Kjerlighed). O intento do filósofo dinamarquês é avançar em considerações sobre como o amor diz respeito ao Ser do homem em sua existência, isto é, qual forma de amor corresponderia à existência mesma de um Indivíduo. Para tanto, Kierkegaard precisa exercer uma suspensão da forma usualmente associada ao amor (amor-erótico), uma vez que essa tangencia à exterioridade, para então analisar o amor que também diz respeito à interioridade da existência dos indivíduos. O interesse kierkegaardiano pelo amor-cristão é marcado por uma disposição particular dessa manifestação do fenômeno do amor, ou seja, que o amor-cristão “tornou toda e qualquer relação humana entre dois indivíduos uma relação de consciência”. O presente trabalho busca analisar como os movimentos do pensamento kierkegaardiano sobre o amor conduzem a uma abordagem que se aproxima de um método fenomenológico, em que a redução à consciência é conduzida por uma suspensão do elemento erótico em prol de uma essência do fenômeno do amor. Por fim, pretende-se fazer uma análise comparada com a obra de Jean-Luc Marion, Le phénomène érotique, tentando com isso evidenciar o traço fenomenológico da concepção kierkegaardiana de amor. Marcos Sirineu Kondageski UFPR – Graduação Título: A Vida e a Origem do Mundo A apresentação tem como propósito o esclarecimento filosófico do sentido de mundo: mais especificamente, a elucidação do mundo na estrita medida de seu aparecimento originário à vida da consciência. A tarefa que se delimita, nesse sentido, é a da compreensão da relação entre mundo como campo ou horizonte de tudo o que é e a vida enquanto minha vida consciente interessada pelo mundo. Para essa reflexão, partirei de algumas considerações fenomenológicas de Edmund Husserl acerca do mundo e da consciência, principalmente as oferecidas no manuscrito "A Terra". Murilo Luiz Milek UFPR – Pós-Graduação Orientador: Marco Antonio Valentim Título: Liberdade e Ciência em Martin Heidegger: a tentativa de um pensamento outro. Em nossa comunicação tentaremos mostrar como questão da liberdade é relevante para o projeto heideggeriano, e como essa temática tem relação com a temática da ciência, para isso articularemos brevemente as obras Verdade e Liberdade em Martin Heidegger, de Carlos Morujão, e Heidegger e a Ética de Joanna Hodge. O projeto de uma analítica existencial é sustentado pela convicção de que nunca se fez, de fato, na história do pensamento ocidental, uma diferenciação radical entre os modos de ser do homem e dos entes intramundanos. Mesmo Dilthey, influência decisiva no projeto de Ser e Tempo, dissolve muito rapidamente em preocupações epistemológicas o ser histórico do homem. Heidegger procederá com relação à liberdade, também, por meio da destruição do conceito tradicional que vê a liberdade como propriedade exclusiva de um ente simplesmente dado que a pratica de acordo com a ideia de arbítrio. Para isso, mostraremos como a questão da liberdade aparece em alguns autores da modernidade filosófica, da qual Heidegger tenta se distanciar por identificar uma espécie de essência técnica, calculante, da ética e sua estreita ligação com a metafísica tradicional. Por fim, tentaremos ver como uma possível investigação ética marca o modo de Heidegger constituir seu pensamento a respeito da crise das ciências do começo do século XX, como um pensamento outro em relação ao modelo científico dominante da época. Thiago Vinicius Rodrigues de Vasconcelos Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Jelson Oliveira Título: O gnosticismo antigo e o existencialismo contemporâneo: duas versões do niilismo segundo Hans Jonas Hans Jonas não empregou seu trabalho inicial em filosofia diretamente acerca das questões que o fariam mundialmente conhecido: a urgência de análises filosóficas que forneçam questões a serem postas no âmbito da reinterpretação da vida e dos desafios impostos pelo avanço da técnica. Dedicou – incitado pelo teólogo e professor de Novo Testamento Rudolf Bultmann – sua tese doutoral ao tema da gnose. O estudo sobre o gnosticismo empreendido por Jonas não pode ser visto como uma obra marginal do filósofo. Ao contrário, seus escritos foram considerados um ponto culminante dos estudos gnósticos, o que se deve especialmente à sua apropriação da corrente do existencialismo heideggeriano e da crítica escriturística de Bultmann. A análise jonasiana vai além de mera descrição histórica. Apropriando-se da metodologia aprendida na escola existencialista heideggeriana, o autor volta-se à questão filosófica do niilismo. Afirmando que o dualismo está na base da construção do niilismo gnóstico, Jonas vê a possibilidade de que essa ideia seja um elo com a corrente existencialista. Os dois momentos – apesar de sua distância espaço-temporal – se encontrariam na base da situação existencial do homem ocidental, a saber, a do niilismo. Nossa pesquisa volta-se, portanto, para a questão do niilismo gnóstico e suas relações com o niilismo existencialista, objetivando determinar de que forma essa condição pode ser compreendida como uma das marcas principais da cultura ocidental. Desse modo, intentamos identificar as chaves de compreensão para a situação do homem no mundo – evidenciada pelo niilismo – a partir das ideias do movimento gnóstico e do dualismo radical que o caracteriza, e ainda suas possíveis relações com o movimento existencialista contemporâneo. Sexta-feira Mesa 16 – FILOSOFIA DA CIÊNCIA I – 9h às 12h30 Sala *** Mediador: Luís Felipe Miranda Bruna dos Santos Furtado PUC-PR – Graduação Título: Influências e divergências da cosmologia de Copérnico ao pensamento filosófico de Giordano Bruno A filosofia de Giordano Bruno possui elementos que confirmariam uma apreciação à cosmologia de Copérnico, principalmente no que se refere à compreensão dos fenômenos celestes. Copérnico propõe a teoria heliocêntrica em oposição ao geocentrismo defendido pelo pensamento aristotélico-ptolomaico, e além disso, afirma que a a ultima esfera das estrelas fixas, seria o limite do Universo. Quando tratamos das considerações cosmológicas defendidas por Bruno, é se poderíamos afirmar que ele teria sido um adepto do copernicanismo? Apesar dos inúmeros elogios e o profundo respeito à figura de Copérnico, Bruno o considera mais como um matemático do que um naturalista. Ao afirmar este viés, devemos apontar com base na cosmologia bruniana os pontos conflitantes e divergentes dos dois sistemas. Bruno promoveu um salto em relação ao copernicanismo, visto que, ele desenvolveu e ampliou a teoria de Copérnico, levando-nos a uma nova cosmologia. Nossa finalidade é demonstrar que as teorias copernicanas servem de base para metafísica do infinito de Bruno, procurando deixar claro, que o filosofo a entende, defende e a interpreta, colocando-a em outra dimensão, que é a de um Universo infinito, Uno e povoado por inumeráveis mundos. Dessa forma, Bruno não poderia ser considerado um copernicano, visto que apresenta uma proposta totalmente diferente, principalmente no quesito da infinidade do Universo. A base de seu sistema deu-se através da influencia da teoria copernicana, que liberta a Terra para o movimento e a coloca em posição conjunta aos dos demais planetas, assim, ampliando os seus horizontes, entretanto, a quebra da última esfera imaginária por Bruno, liberta o Universo e transforma-o em infinito, possibilitando a existência de infinitos mundos. David Velanes de Araújo Universidade Federal da Bahia – UFBA – Pós-Graduação Orientadora: Profª Drª Elyana Barbosa Título: Conhecimento comum e conhecimento científico pela análise epistemológica de G. Bachelard G. Bachelard apresenta um novo espírito científico que trouxe novas bases de explicações sobre o mundo. Escreveu que em sua vida tinha a impressão de estar em um universo de pensamentos que não existem mais devido ao surgimento de reorganizações do pensamento, onde emergiu uma nova realidade científica. Destacou esse novo momento das ciências como um conjunto de métodos racionais constituídos em alto grau de refinamento. Um fato científico tem agora sua constituição baseada em uma técnica coerente que racionaliza completamente toda a atividade científica. Assim, emerge na contemporaneidade fatos que rompem com ideias dogmáticas e imediatas e demarcam a atividade racionalista contemporânea. Trata-se de um racionalismo aberto que se desfaz das ideias ligadas ao conhecimento comum, que historicamente estiveram em continuidade com o saber científico. Mas, o novo espírito científico apresenta métodos, objetos e campos de estudos inovadores que devem ser caracterizados como uma descontinuidade entre o conhecimento comum e o conhecimento científico. Com efeito, a preocupação de G. Bachelard em demarcar esse momento histórico de ruptura é forte em sua epistemologia, cujo tema “Connaissance commune et connaissance scientifique” é analisado em Le Rationalisme Appliqué (1949) e em Le Matérialisme Rationnel (1953). A tese que corresponde à ideia de uma ruptura entre o saber comum e o saber científico compõe uma das principais correntes da epistemologia bachelardiana. Portanto, o objetivo deste trabalho é demonstrar a análise bachelardiana acerca do momento de ruptura entre o conhecimento comum e o conhecimento científico, que pode ser visto como um marco na história das ciências à qual traçou as características de uma nova episteme no século XX. Heley de Sá Teixeira Orientador: Ronei Clecio Mocelin Título: Imre Lakatos entre o vazio e a cegueira "Imre Lakatos formulou sua Metodologia dos Programas de Investigação Científica na tentativa de suprir e responder os problemas enfrentados pelo Falsificacionismo de Popper, como a não correspondência com a história real da ciência. Aliando normativismo filosófico com estudos históricos Lakatos propôs uma filosofia da ciência que não fosse vazia de história e uma história da ciência que não fosse cega, despossuída de uma filosofia norteadora. Analisamos sua Metodologia dos Programas de Investigação Historiográfica e a Metodologia de Investigação Científica, com o intuito de definir a relação de ambas: qual o papel de cada uma na filosofia da ciência e na historiografia de Lakatos. O resultado foi uma história da ciência diminuta e subordinada a uma filosofia da ciência. Lakatos falha em propor uma filosofia da ciência dotada de história da ciência relevante. A história da ciência vira paródia de sua filosofia da ciência, acarretando a derrocada de seu projeto tanto em satisfazer internamente seu projeto de unir filosofia da ciência e história da ciência, quanto na instância de escolha racional entre teorias/metodologias rivais." Renato Cesar Cani UFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Eduardo Salles de Oliveira Barra Título: Realismo sem milagres: algumas críticas ao raciocínio abdutivo em filosofia da ciência O sucesso preditivo das ciências tem sido largamente utilizado como argumento em defesa do realismo científico (RC), sendo este entendido como a tese de que nossas melhores teorias científicas fornecem relatos verdadeiros acerca do mundo. Dado o sucesso empírico exibido pelas ciências, seria inimaginável que nossas melhores teorias fossem falsas. Tal raciocínio pode ser encontrado no argumento do milagre, de Putnam (1975), e no da coincidência cósmica, de Smart (1963). Contudo, esses argumentos foram alvos de inúmeras objeções. Aparentemente, eles implicam a falácia lógica da afirmação do consequente. A fim de superar essa lacuna e salvar o argumento, alguns autores invocam o chamado raciocínio abdutivo (ou inferência da melhor explicação). Todavia, a abdução também sofreu severas críticas, sendo a de van Fraassen (1980) a mais famosa. Segundo o autor, o erro dos realistas está em considerar o sucesso preditivo das ciências como um fato que demanda explicação. Para ele, trata-se de um fato bruto, irredutível. No entanto, o argumento do milagre também encontra críticas entre defensores do RC, como Michel Ghins (2002). De acordo com Ghins, o erro de Putnam e Smart consiste em considerar o RC como uma hipótese científica, cuja fundamentação se daria pelos mesmos métodos empregados na ciência. Contudo, Ghins considera ser possível sustentar uma visão realista moderada sem o emprego do raciocínio abdutivo, mas baseada no argumento de analogia com a experiência sensível ordinária. Nessa comunicação, meu objetivo é discutir a crítica de Ghins ao argumento do milagre e apresentar sua proposta realista como resposta viável ao problema do sucesso da ciência. Rodrigo Trindade Nascimento UFPA – Graduação, Título: A Mecânica quântica como quebra de paradigma na Física clássica Resumo: Objetivamos nessa comunicação elucidar tópicos referentes a quebras de paradigmas no universo da física clássica, mediante o conceito de causalidade e o princípio de causalidade veremos que, tais termos, sofrem mudanças de significados com a ascensão da Mecânica quântica no século XIX e XX e não são mais utilizados no mesmo âmbito proposto pelo racionalismo filosófico. Para tal análise às concepções de Thomas Kuhn, circulo de Viena e Popper serão suscitadas como meio de diálogo entre a Física e a Filosofia. Willian dos Santos Godoi Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) – Graduação Título: Contribuições da Teoria dos Sistemas Complexos a epistemologia contemporânea A presente comunicação visa caracterizar com base na Teoria dos Sistemas Complexos (doravante, apenas TSC), uma epistemologia que seja capaz de compreender e responder sobre os problemas levantados pela complexidade emergente apresentada pelo pensamento científico contemporâneo. Os fenômenos estudados pelas diversas áreas do saber hodiernas apresentam-se de forma complexa, pelo fato de unirem em si diversas interações entre os elementos que os compõem e por estarem sujeitos as mudanças introduzidas pelo experimentador ou pelo ambiente de que fazem parte. A TSC parte da premissa de que as noções científicas são de natureza sistêmica, isto é, são objetos constituídos por agentes cuja interação culmina nas características apresentadas pelo “todo”, que por sua vez, retroage sobre os elementos de maneira “reguladora”. São caracterizados dois tipos de sistemas, os fechados, que não possuem troca de energia e matéria com o ambiente, e tendem a entropia máxima, e os sistemas abertos, que interagem com o meio-ambiente que o circundam, trocando energia e informação, onde permanecem em um estado longe do equilíbrio. Além da definição de sistemas, a TSC tem como objetivo encontrar uma lei geral que guie o estudo de sistemas nas mais variadas áreas do saber. A interdisciplinaridade é um estudo originado na analise sistêmica da realidade, em que diversas disciplinas se unem na tentativa de descrever de maneira mais completa o objeto observado. A epistemologia a partir da TSC deve levar em consideração que são as interações entre os seus componentes que formam a totalidade do sistema, e também, para que haja uma integração entre as mais variadas disciplinas, com o objetivo de estudar um fenômeno complexo, a noção de interação torna-se indispensável. Mesa 17 – ÉTICA – 9h às 12h30 Sala 409 Mediador: Gabriel Mateus Masiero Unicamp – Pós-Graduação Título: A tensão entre público e privado em Montaigne O objetivo da presente comunicação será discutir um aspecto fundamental do pensamento ético de Michel de Montaigne (1533 – 1592), a saber: a cisão existente entre homem público e homem privado. Segundo o pensador francês, aqueles que tomam parte nos negócios civis necessitam do emprego da máscara, ou seja, precisam interpretar um personagem que siga todos os preceitos do código de conduta estabelecido pela sociedade – o personagem faz isso para que o homem por debaixo da máscara não se obrigue a fazer e, assim, possa resguardar sua moral. Montaigne toma a si mesmo como exemplo dessa cisão, ao evocar o tempo em que fora prefeito de Bordeaux, e deixa claro o quanto os assuntos pessoais não devem se misturar com as funções públicas. Sobretudo quando se vive em uma sociedade corrompida (noção que Montaigne parece possuir acerca das sociedades europeias de então em geral) e em uma situação política adversa (como ocorria no período, devido às guerras de religião), tal cisão adquire especial relevo; ela passa a ser associada ao cálculo prudencial, um dos elementos basilares do realismo político renascentista. Assim, pretendemos analisar alguns dos aspectos do pensamento montaigniano que nos permitam compreender a maneira pela qual a cisão entre homem e máscara se articula com a discussão política mais abrangente do autor. Eloyluz de Souza Moreira Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Titulo: Mimesis como expressão do não-idêntico, em T.W. Adorno Na Dialética do esclarecimento, Adorno e Horkheimer apresentam a racionalidade como cindida, de modo que, cega quanto à sua contraparte excluída, apenas uma parte da razão acaba se afirmando como a racionalidade em si. A parte privilegiada é a da racionalidade técnica e pragmática, eficaz na dominação da natureza e na autoconservação do homem. Contudo, devido à sua mutilação, essa racionalização do mundo não conduz a humanidade a um estado mais humano, antes à barbárie e à autodestruição. Tal se deve, para Adorno, à repressão de uma dimensão essencial da razão, que lhe é constituinte, e sem a qual ela não é, de fato, plenamente racional: a mímesis. Isso já está esboçado no livro escrito com Horkheimer, mas é na Dialética negativa que Adorno retoma a mímesis como o outro da razão que precisa ser recuperado por ela mesma, um não-idêntico a ser alcançado pela identidade. Adorno pensa a mímesis de, pelo menos, três modos: um mimetismo: dimensão corporal e animal do homem, que assimila os organismos ao espaço circundante; uma mímesis da mímesis: uma desfiguração do homem que, ao mimetizar o horror e o medo, é reduzido à desumanidade, ao mais básico nível de sobrevivência; um impulso mimético: a dimensão imanente à racionalidade que foi reprimida e precisa ser rememorada pela razão. A intenção aqui é apresentar este último sentido de mímesis como uma dimensão ética da razão, a partir da qual o outro não é excluído e nem dominado, mas incluído, sem dominação, na sua diferença. Letícia Olano Morgantti Salustiano Botelho Universidade de São Paulo – Pós-Graduação Orientador: Ricardo Nascimento Fabbrini Título: Parábola e "teatro gestual": um debate entre Benjamin e Brecht Esta comunicação pretende levantar algumas problematizações envolvendo o diálogo entre Walter Benjamin e Bertolt Brecht, durante a década de 1930, acerca da relação entre engajamento político e inovações formais no teatro épico de Brecht. O diálogo entre os autores ocorre em um contexto de problematização da relação dos movimentos artísticos modernos com a tradição, em que diversos fenômenos artísticos buscam novas possibilidades formais juntamente com um ataque à arte enquanto instituição na sociedade burguesa: algo realizado pelo dramaturgo com suas experimentações formais articuladas pelo efeito de “distanciamento” ou “estranhamento”, inseridas em seu projeto de “refuncionalização” social do teatro, visando dotá-lo de uma função de crítica social, torná-lo um instrumento para o engajamento político. Neste contexto, Benjamin valoriza, no teatro épico de Brecht, o uso dos procedimentos de interrupção da narrativa e da ação pelas técnicas de montagem, visando gerar um efeito de choque perceptivo no espectador, destinado a desnaturalizar suas formas de percepção do cotidiano, e o trabalho experimental com os elementos gestuais. Buscaremos confrontar a interpretação benjaminiana do teatro épico como um “teatro gestual” com a perspectiva do próprio dramaturgo, na qual tal primazia da esfera gestual concedida por Benjamin parece entrar em tensão com a importância do elemento da fábula ou da parábola política. Este parece ser um cerne em torno do qual irão girar as tensões de suas interpretações sobre as potencialidades de crítica social e atuação política deste teatro. Renan Bird Ricieri UFPR Pós-Graduação Orientador: Vinicius Berlendis de Figueiredo Título: Butler e a vida precária: reflexões éticas sobre o outro. "O mote da apresentação é sobre o caráter de obrigações morais que aparecem em relações de proximidade e distância. Dois questionamentos surgem desse mote: a)temos a capacidade ou inclinação à reação ética, e o que torna essa possibilidade possível quando se dá essa inclinação e b) o que significa para nossas obrigações éticas quando estamos contra uma pessoa ou grupo e nos encontramos invariavelmente unidos a estes que nós nunca escolhemos. Os exemplos dados desse fenômeno de “adjacência não quista” são populações que vivem em territórios em disputa, imigrações forçadas, redefinição de fronteiras de estados. Butler cita como exemplo comunitaristas que valorizam a proximidade das pessoas em sua comunidade para se sentirem ligados eticamente, outros se sentem ligados através de uma cultura particular. Porém, se nosso sentimento de obrigação moral é somente para com aqueles que nos sentimos ligados de algum modo comunitário, como explicar quando, como diz Butler, uma parte do globo se levanta violentamente contra atitudes tomadas como imorais que se dão em outra parte do globo que não compartilha de sua língua ou de sua cultura ou de uma proximidade física? Pretendo explorar as reflexões de Judith Butler a respeito de nossas inclinações morais desenvolvido no artigo Precarious life and the Obligations of Cohabitation de 2011." Roberta Crivorncica Universidade de São Paulo – Pós-Graduação Orientador: José Sérgio Fonseca de Carvalho Título: Conceito de Amor em Hannah Arendt "Em 26 de novembro de 1928 Hannah Arendt defendeu sua tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia da Universidade de Heidelberg sob a orientação de Karl Jaspers, com o título “O Conceito de Amor em Santo Agostinho” (Der Liebesbegriff bei Augustin). Nela encontramos alguns temas recorrentes em seu pensamento que serão desenvolvidos em suas reflexões sobre política, ética e educação, tais como as noções de “amor mundi”, “natalidade”, “vontade”, “memória” e “liberdade”. No início dos anos sessenta, após a publicação de A Condição Humana, obra que tem Agostinho como uma das referências centrais, Arendt retoma sua tese de doutorado, revisando e acrescentando alguns comentários, os quais foram organizados pelas editoras americanas Joanna Vecchiarelli Scot e Judith Chellius Stark. A revisão feita por Arendt também coincidiu com o julgamento de Eichmann, segundo Joanna Vecchiarelli Scot e Judith Chellius Stark a proximidade da data da revisão da tese com o acompanhamento de Eichmann levou Arendt a utilizar os conceitos de caritas e cupiditas de Agostinho para sua análise do caso de Eichmann sobre a questão do mal, que não é “radical”, mas, supérfluo e aparente. O conceito de caritas de Agostinho não é apenas retomado na análise do julgamento de Eichmann, mas, veremos que Arendt ao elaborar este conceito em sua tese de 1929 como a fundação da nova comunidade para um julgamento moral num terreno comum, faz uso recorrente em seus escritos políticos posteriores. Segundo as editoras Joanna Vecchiarelli Scot e Judith Chellius Stark o conceito de caritas é mantido por Arendt na revisão da década de 1960. Em seus textos de teoria política do mesmo período, ela iria insistir em que é precisamente esse terreno comum de ""pluralidade"" na experiência humana e social, no qual ocorre a ""natalidade"" da vida pública. Nas três partes que constituem a tese sobre o conceito de Amor em Agostinho, Arendt trata de conceitos nos quais o problema do amor desempenha um papel decisivo, principalmente quando relacionado com o sentido e a significação do amor ao próximo. Sentido e significação que serão determinantes para as questões políticas e morais que irão surgir em suas obras, encontrando em Agostinho uma linguagem e conceitos próprios para a filosofia que irá desenvolver. A proposta de apresentação do trabalho consiste em analisar o conceito de amor que Arendt toma de Agostinho e como a pensadora passa este conceito da ontologia para a política." Mesa 18 – FILOSOFIA DA CIÊNCIA II – 14h às 17h30 Sala 605 Mediador: Philipe Franson Dayani Cris de Aquino Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Domingos Leite Lima Filho Título: Abstração Real e Abstração do Pensamento: Reflexões a Partir de Alfred SohnRethel Este trabalho analisa as implicações e desdobramentos da teoria de Alfred Sohn-Rethel acerca do desenvolvimento da capacidade de abstração do ser humano. Para ele, uma vez que trabalho intelectual e trabalho manual separaram-se nas sociedades mercantis, a capacidade de abstração passa a se desenvolver com base no efeito que a troca mercantil produz sobre a consciência dos indivíduos. Segundo Sohn-Rethel a troca de mercadorias produz um fenômeno denominado por ele de “abstração real” e é esta abstração real que possibilita a “abstração do pensamento” ou o desenvolvimento do caráter abstrato e aparentemente autônomo da consciência. É na separação física e temporal dos elementos envolvidos na troca, isto é, da separação, no tempo e no espaço, entre produção e consumo, que Sohn-Rethel busca a origem da capacidade do ser humano abstrair e criar conceitos separados do “fazer”. É precisamente esta abstração física do ato de consumo com relação ao ato de troca que Sohn-Rethel chama de abstração real. Portanto, para Sohn-Rethel entre abstração real e abstração do pensamento não existe apenas um paralelismo, mas sim uma conexão de fundamentação. Tomando esta teoria como objeto de análise investiga-se em que medida ela é capaz de explicar o surgimento do pensamento racional grego e da ciência moderna, destacando-se seus pontos fortes, assim como, suas incoerências. Douglas Borges Candido PUCP – Pós-Graduação Título: A concepção anti-essencialista da ciência segundo Karl Popper O desenvolvimento das ciências empíricas, que teve seu ponto fulcral na modernidade e, com o passar dos séculos foi aumentando exponencialmente, parece ter carregado um forte ranço essencialista acerca da ciência. Tomando a palavra ‘essencialismo’ e aplicando-a às teorias das ciências empíricas nos referimos, com isso, que a concepção que se tinha a respeito das teorias sobre a realidade era de que expressavam ou exprimiam a essência do fenômeno, isto é, como se as teorias criadas pelos cientistas dessem conta de dizer exatamente o que a realidade realmente era. O que servira como fundamento à essa concepção essencialista era a ideia de que o universo não passava de uma grande máquina com movimentos constantes, defendida por Newton. Até antes mesmo de Newton, Descartes e também Galileu já haviam afirmado a concepção mecanicista da natureza e sua especificidade matemática. Toda essa ideologia projetada sobre as ciências empíricas, graças aos avanços que havia alcançado, acarretou na concepção de infalibilidade da ciência e na teoria da causalidade, à qual Hume fora um crítico ferrenho, mas que não fora ouvido pela sociedade científica da época. Com o advento do século XX, alguns físicos iniciaram uma nova forma de pensar as ciências empíricas em vista das refutações de grandes teorias, como a teoria newtoniana, por exemplo. Não somente Einstein, mas também Heisenberg com o ‘princípio da incerteza’ iniciaram essa nova fase na ciência. Ao abordar o enfrentamento entre posições essencialistas e anti-essencialistas das ciências empíricas, tomamos a tese do mundo 3 de Karl Popper para analisar como uma abordagem não essencialista da ciência é o um dos critérios para o seu desenvolvimento." Jéssica Lopes Carvalho UNESP – Graduação Orientadora: Maria Eunice Quilici Gonzalez Título: A relevância do Método Científico peirceano para a compreensão da realidade (ou do conhecimento objetivo). A proposta desse trabalho é analisar o texto “A Fixação da Crença” (1877), de Charles Sanders Peirce. Nesse texto o objetivo do autor é compreender como podemos descobrir algo novo a partir do que já conhecemos, sendo esse um raciocínio bom caso produza conclusões verdadeiras a partir de premissas também verdadeiras. Entretanto há quem seja mais esperançoso que lógico, e Peirce explica que a tendência de inferir um resultado é um hábito da mente, mas o hábito só é considerado bom se produzir um raciocínio válido. O processo de mudança de hábito se dá quando duvidamos da crença que temos, e então saímos da estabilidade, ficamos desconfortáveis, procuramos uma solução, na ânsia de retornar ao estado de crença, estável e calmo. A dúvida permanece até estabelecermos uma opinião verdadeira, ou seja, uma crença da qual julgamos ser verdadeira. Por fim, Peirce apresenta quatro métodos de fixação de crença (Tenacidade, Autoridade, A Priori, Científico), contrapondo-se aos três primeiro métodos, explicitando suas falhas, embasado no Método Científico, defende a existência de um conhecimento objetivo (real), que pode ser alcançado por todos através do raciocínio, mesmo que incorreto, pois o erro tem papel fundamental para a análise e verificação das hipóteses, buscando melhor captar do conhecimento real. Luiz Felipe Sigwalt de Miranda Universidade Federal do Paraná – Pós-Graduação Orientador: Prof. Dr. Eduardo Salles de Oliveira Barra Título: Post Mathematicae scientiam deletam: crise e intrigas na Matemática dos séc. XVI-XVII A tradição aristotélica (desenvolvida principalmente por Averróis) na matemática, durante o início do período renascentista, enquanto critério último para justificar o conhecimento como ciência -- scientia -- (pois aproximava o efeito a causa por meio do silogismo científico ou de primeira figura), sofreu duras críticas de Alessandro Piccolomini. Tem-se, com efeito, mais que uma crise epistemológica na matemática, como também, uma crise institucional. Pois, alguns membros da Ordem de Jesus foram também professores de Universidades (muitas delas abertas pela Igreja Católica por volta do séc. XII). Dentre as Universidades Católicas, destacaram-se, nesse contexto, o Collegium Romanum e a Università de Padova. Porque essa crise na matemática tem como protagonistas, além de Piccolomini -- professor jesuíta de matemática da Universidade de Pádua --, de um lado Giuseppe Biancanni e Christopher Clavius, pupilo e mentor, ambos professores jesuítas de matemática, defensores de uma matemática causal aos moldes de Aristóteles, imbuída na Ratio Studiorum (cartilha de estudos jesuíticos), e de outro lado, Benedicto Pereyra, outro professor jesuíta de matemática, simpatizante de Piccolomini, defensor de uma prática matemática em detrimento de uma já deteriorada matemática das causas. São todos eles, Clavius, Biancanni e Pereyra, colegas do Collegium Romanum. Esse é, portanto, o cenário histórico no qual se desenrola o objeto de meu estudo: critérios de certeza na matemática renascentista. Tiago Mathyas Ferrador USP – Pós-Graduação Orientador: Caetano Ernesto Plastino Título: A discussão acerca da noção de experiência em Bas van Fraassen "De início, nossa proposta de comunicação visa reconstruir a concepção de experiência elaborada por van Fraassen, bem como debater e avaliar criticamente a viabilidade de tal conceito à luz das críticas feitas por Jennifer Nagel e James Ladyman. Posto isso, van Fraassen, em “The Empirical Stance” (2002), chamou a atenção da comunidade filosófica - para além da filosofia da ciência, em cuja área as contribuições do referido autor já são consagradas: o empirismo construtivo - ao formular uma nova forma de empirismo – o chamado ‘empirismo como atitude’. Assim, van Fraassen retoma a célebre crítica feita por Feyerabend ao empirismo moderno, isto é, a ideia de que a “a experiência é a nossa única fonte de informação”. No mais, o primeiro argumenta que tal conceito de experiência estava fadado ao fracasso, em virtude de pressupor uma visão fundacionista do conhecimento e cair num regresso infinito. Então, aquele propõe um conceito falibilista de experiência, que considera os casos das revoluções científicas, bem como a inevitável ambiguidade das linguagens naturais, além de levar em conta o papel das emoções nos ‘traumas epistêmicos’. Por outro lado, Nagel, no artigo “The Empiricist Conception of Experience” (2000), e depois Ladyman, em “Epistemology of Constructive Empiricism” (2007), tecem uma crítica vital à noção proposta por van Fraassen. Com efeito, o elemento a priori seria ineliminável em qualquer concepção de experiência – algo que van Fraassen procura evitar a todo custo, para não sucumbir num ‘empirismo transcendental’. Enfim, em nossa comunicação exporemos o conceito de experiência em van Fraassen e discutiremos as limitações desse, considerando as críticas de Nagel e de Ladyman." Ivo José Both Centro Universitário Internacional – UNINTER – Pós-Graduação Título: Filosofia e pesquisa: similitude metodológica e científica. O trabalho visa a apontar as principais similitudes que se apresentam na relação da filosofia com a pesquisa em termos metodológicos e científicos. Ele decorre de atividade de pesquisa empírica e de campo, tendo como pressupostos identificar a metodologia com que cada uma é desenvolvida. Sabe-se ser o filósofo um indivíduo que busca o conhecimento de si mesmo, movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da realidade. Ele foca questões da existência humana sem se basear na revelação divina ou na fé, mas na razão. Por outro lado, o pesquisador desenvolve processo sistemático para a construção do conhecimento humano, gerando novos conhecimentos. O pesquisador objetiva testar hipóteses que dizem respeito a relações de causa e efeito. Para ele a pesquisa de campo procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, procedendo à análise e interpretação das informações mediante fundamentação teórica consistente. Assim sendo, o pesquisador objetiva compreender e explicar o problema detectado. Alguns dos resultados que podem ser apontados e que aproximam metodologicamente filosofia e pesquisa relacionam-se à aguda curiosidade com que cada uma trabalha. A razão é ponto convergente entre filosofia e pesquisa, uma vez que conhecimento de causa constitui esforço metodológico que fundamenta e dá sustentação tanto à filosofia quanto à pesquisa. A pesquisa como atividade regular também pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejadas pela busca de um conhecimento, sendo que metodologicamente a filosofia também pode transitar por este caminho para a sustentação da explicação a ser dada ao problema que objetiva esclarecer. Palavras-chave: filosofia; pesquisa; metodologia de desenvolvimento." Mesa 19 – NIETZSCHE – 14h às 17h30 Sala 600 Mediador: Eduardo Lacerda Allan Diego de Araujo Universidade Federal do Pará – Pós-Graduação Orientador: Roberto de Almeida Pereira de Barros Título: Antagonismos e proximidades entre a filosofia de Nietzsche e a filosofia de Platão Este trabalho procura apontar, dentre inúmeras, algumas proximidades existentes entre Nietzsche e Platão por meio dos seus personagens centrais, Zaratustra e Sócrates. Apesar dos antagonismos existentes, podemos encontrar na interlocução Nietzsche/Platão algumas semelhanças. Voltado contra a metafísica europeia, Nietzsche descobre cada vez mais a filosofia platônica para além das dicotomias socráticas, ou seja, Platão para além do platonismo. A fim de compreender a relação Nietzsche/Platão na sua face crítica — a “transvaloração de todos os valores” como “inversão do platonismo” — este trabalho mostra, através da crítica ao igualitarismo e da crítica à democracia, o quanto Platão é, para Nietzsche, uma fonte contínua de inspiração em seu combate ao platonismo vulgar da tradição ocidental. Ítalo Kiyomi Ishikawa UFPR – Pós-Graduação Orientador: Antonio Edmilson Paschoal Título: Formas de subjetivação pela cultura nas duas primeiras dissertações da Genealogia da Moral de Nietzsche O presente trabalho visa demonstrar como filósofo Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), nas duas primeiras dissertações de sua obra Genealogia da moral (1887), concebe o processo de subjetivação do homem através da história. Para ele, a história é o longo processo que forma e molda os homens, e a moral, nesse sentido, possui um papel privilegiado porque se torna a matriz perpetuadora de comportamentos e avaliações, seja na relação dos homens entre si ou do humano perante si mesmo. Na primeira dissertação da Genealogia, Nietzsche opera uma incursão histórica-filológica para investigar como os conceitos morais não possuem sua proveniência em si mesmos, o filósofo afirma que os valores morais são produzidos historicamente e seus sentidos se tornam impostos, e tal processo de moralização termina na perpetuação histórica de si mesma sob as rubricas dos costumes e da moral cristã. Na segunda dissertação, Nietzsche opera uma mudança em sua investigação genealógica, que passa a fazer uso uma hipótese psicológica para pensar como é formada a memória no homem que emprega sua palavra nos juízos morais. O diagnóstico nietzschiano sobre o processo de moralização do homem é essencial não apenas para compreender a crítica que o filósofo empreende contra essa moral, mas o filósofo oferece indicativos que permitem pensar a emergência de tipos humanos que emergem do processo de moralização não apenas como produtos, mas como artífices de si mesmos. Luan José Silva Remígio UFPA – Pós-Graduação Orientador: Ernani Pinheiro Chaves Título: Filosofia histórica: um novo método filosófico. No ano de 1878 o filósofo alemão Friedrich Nietzsche publica sua segunda obra filosófica intitulada Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. Nesta o filósofo propõe uma nova maneira de realizar as pesquisas no âmbito filosófico, a saber: a filosofia histórica, que terá o auxílio da história e da psicologia. Tal empreendimento surge como substituto para a “metafísica de artista”, esboçada alguns anos antes e que teve como ápice a publicação d’O nascimento da tragédia, influenciada, entre outras, pela filosofia pessimista de Schopenhauer e a música romântica de Wagner. A filosofia histórica surge com o objetivo de aproximar a reflexão filosófica do pensamento cientifico, e para tanto, faz-se necessário distanciar-se do conhecimento metafísico. Sendo assim, o segundo livro de Nietzsche marcará o rompimento com Wagner e Schopenhauer, já que o pensamento de ambos ajudou a formular as reflexões de outrora. Desse modo, objetivo do presente trabalho é: 1) tentar, mesmo que em linhas gerais, mostrar quais motivos que levaram Nietzsche a romper com Wagner e Schopenhauer; 2) as diferenças metodológicas entre a “metafísica de artista” e a “filosofia histórica”; 3) as características fundamentais do novo empreendimento filosófico nietzscheano. Natália Santos Lima Buenos Aires UNICAP – Graduação Orientador: Stéfano Gonçalves Régis Toscano Título: Virtude e justiça numa perspectiva sintomatológica em Nietzsche A ideia de justiça, ligada à virtude, remete à tradição socrático-platônica e encontra ressonâncias nos discursos jurídicos contemporâneos. A justiça, nessa perspectiva, parte de vários pressupostos, como o do livre arbítrio, da responsabilidade inerente ao sujeito causador da ação e da ideia de que o homem virtuoso deve, por meio da razão, chegar ao bem. O problema dessa perspectiva é que todo e qualquer indivíduo que não se enquadre na equação razão, moral e felicidade é excluído e estigmatizado. A crença numa ordem moral no mundo aponta para a doutrina do juízo e para a necessidade de o homem ressentido de julgar, por acreditar ser virtuoso. A filosofia de Nietzsche põe em xeque os valores e as avaliações dos valores que estão na política, na religião, na justiça e, a partir de uma análise sintomatológica, mostra o que está por trás dessas perspectivas que se impõem como únicas e verdadeiras. A partir do que intitula por psicofisiologia, Nietzsche diagnostica os valores decadentes na modernidade, que se refletem principalmente na sua constituição política e jurídica, além de conceber o homem moderno como um ser que procura comodidade, segurança e soluções rápidas para os problemas. Daí a importância da problematização da Justiça a fim de liberá-la dessa ideia petrificada de coisa em si. Nietzsche abre a possibilidade de entendermos a justiça como extramoral, que, portanto, não se funda na vingança, apontando para uma nova forma de virtude que possibilite a ascensão de uma justiça trágica. Rodrigo Francisco Barbosa PUCPR – Pós-Graduação Título: Retórica e crítica da linguagem em Nietzsche "O objetivo deste artigo é identificar como o reconhecimento de uma “virada retórica” em Nietzsche resulta em uma demarcada “tensão” que caracteriza certa ambiguidade acerca da linguagem em seu pensamento. Deste modo, no âmbito de apresentar essa mobilização em Nietzsche no interior da discussão sobre a linguagem, examinamos três aspectos fundamentais desse direcionamento àquilo que constitui uma impossibilidade semântica: primeiro, identificamos a chamada “virada retórica”; em segundo lugar, aprofundamos o tema a partir da análise da adesão de Nietzsche à tese de Gustav Gerber de que a retórica é a “essência” da linguagem; e, em terceiro lugar, perscrutamos a legitimidade da distinção entre linguagem própria (natural) e linguagem imprópria (retórica). Portanto, essa radical problematização da linguagem realizada por Nietzsche aparece desdobrada ao longo de sua obra e pode ser observada a partir da heterogeneidade da discursividade que os escritos tardios contemplam. Palavras-chave: Nietzsche. Retórica. Virada retórica. Linguagem." Sidnei Almeida Pestano UFPR – Pós-Graduação Orientador: Antonio Edmilson Paschoal Título: Nietzsche e a virtù renascentista A pesquisa em questão visa a estudar o conceito de virtude no chamado terceiro período de Nietzsche. Para tanto, pretende-se analisar em que medida tal conceito pode ser associado à noção de virtù renascentista e apresentar a hipótese de que afirmar uma virtude livre de moralina é vinculá-la a uma capacidade, a saber: de lidar com o conflito antagônico dos impulsos. A forma como Nietzsche interpreta o renascentista Cesar Bórgia ajuda a compreender essa noção de virtude. É possível observar tal hipótese na interpretação de Aldo Ventureli e Francesca Puccini. Ventureli afirma que Bórgia é o possuidor de um instinto sem falsificação moral, forte o bastante para lidar com o conflito interior e para realizar um processo cruel contra si próprio. Puccini defende que a Renascença simboliza a relação do indivíduo com seus impulsos terríveis na tentativa de alcançar uma disciplina interior. A comentadora defende que o “criminoso” renascentista teria a possibilidade de trabalhar os seus impulsos autodestrutivos e, com sua força plástica, domar o conflito interior e torná-lo algo superior. Levando em consideração a interpretação dos comentadores, sugerimos que o conceito de virtude pode ser entendido como uma capacidade de lidar, ordenar, hierarquizar os próprios impulsos de tal forma que desse “trato” ocorra a sublimação de um impulso primário. Assim, não teríamos necessariamente um quadro de virtudes específicas do homem destacado, mas uma força plástica que em último caso chamaríamos de virtude. De acordo com a hipótese apresentada, o que distinguiria o homem destacado e virtuoso seria o grau de asseio no trato consigo.