Aulas 7 e 8 Passagem da consciência mítica ao discurso racional filosófico. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. Ática, 1995. REALE, G., ANTISERI, D. História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1991. Vol 1, 2 e 3. HIRYNIEWICZ, S. Para filosofar hoje. Rio de Janeiro: Santelena, 2001. MITO E FILOSOFIA: CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA CLÁSSICA. Esquema de quadro: 1) Mito e filosofia 2) Funções do mito 3) Características da consciência mítica 4) Condições histórica para o surgimento da filosofia 1) MITO E FILOSOFIA A filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos? O QUE É UM MITO? É uma narrativa sobre a origem de alguma coisa. A palavra mito vem do grego, MYTHOS e deriva de dois verbos: a) MYTHEYO: contar, narrar, falar, alguma coisa para outros. b) MYTHEO: conversar, contar, anunciar, designar. Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que receberam a narrativa como verdadeira porque confiam naquele que narra. O mito é sagrado porque ele vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável. O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe, através de três maneiras principais: a) Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres; tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas e pessoais. [exemplificar com o mito de Éros (Cupido – amor)]. b) Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que fazem surgir alguma coisa no mundo. [exemplo: as olimpíadas]. c) Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem lhes desobedece ou a quem lhes obedece. [exemplo: mito de Dédalo e Ícaro]. Quais são as diferenças entre filosofia e mito? 1) O mito pretende narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e porque no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são; 2) O mito narrava a origem por meio de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos naturais primordiais por meio de causas naturais e impessoais; 3) O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos. 1 2 2) FUNÇÕES DO MITO Na maioria das sociedades onde se faz presente, o mito constitui o elemento em torno do qual organiza-se toda a vida social. É estrutura dominante, enquanto indica o tipo de ação que deve ser realizada nas diferentes circunstâncias. Isto porque desempenha três funções: a) Conhecimento: o mito fornece uma interpretação da realidade. b) Acomodação: diante do mundo ameaçador – as forças da natureza, as doenças, as injustiças, a morte – o mito se apresenta como um ponto de referência, um oásis no qual o homem procura algum tipo de consolo e de segurança. c) Organização social: a sociedade organiza-se de acordo com os comandos contidos no mito. O mito indica que tipo de relações devem ser estabelecidas entre os homens e as melhores; como devem ser tratados os jovens e os velhos; o que devem fazer as mulheres e os guerreiros. O mito funciona como teoria que permite ao homem orientar-se no mundo. Indica-lhe também o modo como interferir no ritmo natural dos acontecimentos. A mentalidade mítica acredita mais na possibilidade de interferência de forças ocultas no rumo dos acontecimentos do que na própria capacidade de agir no mundo. 3) CARACTERÍSTICAS DA CONSCIÊNCIA MÍTICA: Numa sociedade em que o mito serve de fio condutor para a existência de seus membros, desenvolve-se um tipo específico de percepção de si mesmo e da realidade. A consciência do homem mítico apresenta as seguintes características: a) Comunitária: o homem mítico não se percebe propriamente como indivíduo. Vê-se sobretudo como parte de um todo maior, uma célula de seu grupo. As experiências tomam caráter coletivo. b) Sacralizada: para o homem mítico nada ocorre naturalmente. Tudo deve-se à intervenção de alguma força oculta, à presença de um deus, de um herói ou de um antepassado. Na consciência mítica, não há clara distinção entre o sagrado e o profano. c) Acrítica: o homem mítico tende a aceitar, sem críticas, os ensinamentos da tradição. A inovação é vista como perigosa e a rebeldia pode provocar a ira dos antepassados. Tudo o que é feito e dito deve respeitar a tradição. [TRABALHAR O MITO DE ORFEU]. 4) CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA: O que tornou possível o surgimento da filosofia no século VI a.C.: a) As viagens marítimas: que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos. b) A invenção do calendário: que é possível calcular o tempo segundo as estações do ano e não como uma força divina incompreensível. c) A invenção da moeda: a troca com espécie feita por cálculos. Portanto, uma nova capacidade de abstração e generalização. d) A invenção da escrita alfabética: revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética supõe representação da imagem a uma coisa que está sendo dita. e) A invenção da política: o surgimento da polis grega. Um espaço público que faz surgir um novo tipo de palavra e de discurso: a retórica. (EXPLICAR A RETÓRICA).