bob esponja e a filosofia: reflexões sobre

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BOB ESPONJA E A FILOSOFIA:
REFLEXÕES
SOBRE
RELACIONAMENTOS, CARREIRA
E VIDA
Qual a relação entre Bob Esponja e a Filosofia? Este artigo pretende analisar alguns
aspectos importantes da trama da série que têm relação com a Filosofia e a arte de pensar.
Bob Esponja, que, à primeira vista, não tem nada a nos ensinar, por se tratar de um
personagem de uma série feita para o público infantil, pode nos ajudar a refletir sobre
nossas atitudes. Através de um olhar mais demorado e polido (que é justamente a proposta
da Filosofia) podemos notar que o nosso querido personagem amarelo é um filósofo nato
(mesmo sem sequer se dar conta disso).
Ele é a esponja marinha mais famosa da televisão mundial. Criado em 1999 pelo biólogo
marinho e animador Stephen Hillenburg, a série animada é produzida e exibida
originalmente pelo canal Nickelodeon. A trama da série se passa na fictícia cidade
subaquática de “Bikini Bottom” (no Brasil, “Fenda do Biquíni”). Munido de sua icônica calça
quadrada (que, inclusive, dá nome à série) e cercado por personagens pouco
convencionais, Bob Esponja tem muito a nos ensinar sobre relacionamentos, carreira e vida.
A seguir exploraremos alguns aspectos importantes da trama da série que têm relação com
a Filosofia e a arte de pensar. Bob Esponja, que, à primeira vista, não tem nada a nos
ensinar, por se tratar de um personagem de uma série feita para crianças, pode nos ajudar a
refletir sobre nossas atitudes. Através de um olhar mais demorado e polido (que é
justamente a proposta da Filosofia) podemos notar que o nosso querido personagem
amarelo é um filósofo nato (mesmo sem sequer se dar conta disso).
Encare a vida de modo positivo
Fazer cara feia diante dos problemas não os mudará em nenhum aspecto. Já no século 4
a.C., um dos mais célebres advogados, escritores e
intelectuais do Império Romano, chamado Lucius Séneca,
ensinava: “apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é,
por si só, uma vida”. É dele também mais um conselho: “o homem que sofre antes de ser
necessário, sofre mais que o necessário”.
Bob Esponja tem um jeito muito próprio e pouco ortodoxo de encarar a vida. Diante de uma
dificuldade, nosso personagem marinho não faz cara feia. Pelo contrário, procura encarar a
vida como uma brincadeira. Uma boa dose de ingenuidade e fé nas pessoas (resguardadas
as devidas proporções) é bem vinda.
Mesmo quando é posto em verdadeiras ciladas e tem que enfrentar brutamontes de MMA
(como no episódio "Os Crocantes Apetitosos”, em que Seu Sirigueijo, seu patrão, gerencia
Bob Esponja e Patrick como uma dupla de luta livre para ganhar um milhão de dólares),
nossa Esponja encarou o fato como uma diversão.
Ainda que a vida te sufoque (ou no caso dele, um monstro cheio de músculos te esmague),
tente tirar proveito disso, seja para aprender sobre si mesmo ou mesmo para dar algumas
risadas depois que tudo passar.
Bob Esponja reinventa as palavras de Séneca para nos ensinar que não adianta ficar
preocupado por antecipação. Cedo ou tarde, teremos que enfrentar nossos problemas, e
encarar eles de frente e de peito aberto é a melhor maneira de fazer isso.
Olhar para as dificuldades do passado e reconhecer que superamos nossas próprias
expectativas nos motiva a continuar em constante crescimento pessoal.
Roupas e dinheiro não mudam quem você é
Em uma sociedade marcada pelo consumismo e pela necessidade, cada vez mais presente,
de se destacar pelo que se tem (e não pelo que se é), Bob Esponja nos ensina que a
aparência não muda nossa essência.
No episódio “Para o Calça Quadrada ou Não”, Bob Esponja
fica sem suas calças quadradas! Todas elas encolheram na
máquina de lavar. Ao sair para comprar uma nova calça,
ele se depara com muitas opções, no entanto nenhuma
atende as suas expectativas. Depois de muito procurar,
Bob encontra uma calça, porém redonda.
Ao sair pela rua, Bob Esponja acredita que não está sendo reconhecido pelos seus amigos
em função de sua nova aparência, transformando-se, assim, em um novo Bob Esponja, o
“Calça Redonda”.
Toda a trama do episódio gira em torno da questão da mudança de personalidade do
personagem. Na verdade, ele assume uma nova identidade por acreditar piamente que é
outra pessoa. Agora como “Bob Esponja, Calça Redonda”, nossa esponja procura um novo
emprego (mas acaba trabalhando no mesmo lugar de sempre) e muda totalmente sua
rotina, ao assumir essa nova personalidade.
Com a nova personalidade, Bob passa a ser desleixado no trabalho, ouve conselhos
errados de Lula Molusco, seu colega de trabalho, e não cumpre suas atividades, o que
acaba gerando alguns problemas para nossa esponja.
Ao final do episódio, Bob Esponja percebe que não são elementos externos que nos
qualificam ou dizem quem realmente somos, mas a essência de nosso caráter. Mesmo que
nossa aparência seja alterada por algum elemento externo a nós, não devemos jamais nos
esquecer de quem realmente somos.
Somos frutos de nossas experiências, que nos ajudam a sermos pessoas diferentes
(melhores ou piores) a cada dia. A escolha de mudar para melhor ou pior cabe a cada um. A
mudança é certa, pois é um fator da vida. O caminho a ser trilhado, entretanto, é uma
questão pessoal.
No episódio “Bolsos Porosos”, nosso personagem conhece os efeitos de ser muito rico e o
que este novo “status” acarreta para vida de alguém.
Rick Jarow, considerado pioneiro do movimento anticarreira e autor do Livro "Criando o
Trabalho que Você Ama" escreve que “a abundância não diz respeito a quanto dinheiro se
tem, mas à atitude sobre o quanto se tem”.
Bob Esponja viu todos os seus amigos irem embora de sua casa quando seu dinheiro
chegou ao fim. Todos se aproximavam dele para pedir dinheiro e bastou o último centavo ir
embora para que todos fossem também. Não devemos dar festas para atrair amigos, pois,
para os verdadeiros amigos, nossa presença já deve ser comemorada.
O famoso filósofo Iluminista François Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido como
Voltaire, escreveu que “quando se trata de dinheiro, todos têm a mesma religião”. Voltaire
era defensor da liberdade religiosa e livre comércio.
Com Bob Esponja, aprendemos também que ter dinheiro é bom, mas que o que vem fácil
com ele, também vai embora facilmente. Não devemos ter como amigos pessoas que se
aproximam de nós porque podem conseguir algo em troca. Essa pode parecer uma
constatação lógica, até certo ponto, mas devemos ficar atentos ao fato de que essa
percepção não é tão fácil de ser atingida.
No final da história, Bob Esponja contabilizou um único amigo, o leal Patrick, uma estrela
marinha totalmente sem noção, mas com um coração sem tamanho. Ainda que a ilusão de
se ter muitos amigos seja atraente, ela não passa de uma mera ilusão. Prefira poucos, mas
verdadeiros amigos.
Seja amigável
O modo como encaramos a vida diz muito a respeito de quem somos. A vida pode ser dura,
mas com amigos por perto as coisas podem ser menos difíceis. Ser amigável não é ter a
capacidade de fazer amigos facilmente, mas encarar a vida com boa disposição e ser
solícito.
O filósofo grego Aristóteles, que nasceu em
384 a.C., na cidade de Estagira (antiga cidade
da Macedônia, situada hoje na Grécia), e
morreu em 322 a.C., escreveu que “ninguém
deseja viver sem amigos, mesmo dispondo de
todos os outros bens".
O grande Aristóteles prezava a amizade, tanto que a colocou com um bem desejável e
muito valioso, mesmo por aqueles que possuem bens materiais. O filósofo colocou a
amizade num patamar superior aos bens materiais, pois considerava que amigo é aquele
que nos torna mais aptos a refletir sobre nossas atitudes.
Ainda segundo Aristóteles, “até mesmo pensamos que os ricos, os que ocupam altos
cargos, e os que detêm o poder são os que mais precisam de amigos; de fato, de que
serviria tanta prosperidade sem a oportunidade de fazer o bem, se este se manifesta
sobretudo e em sua mais louvável forma em relação aos amigos?”
Segundo o filósofo, a amizade pode ser classificada em três espécies: 1) amizade segundo
o prazer; 2) amizade segundo a utilidade e 3) amizade segundo a virtude, ou a amizade
perfeita.
Algumas pessoas fundamentam sua amizade baseadas no prazer que as outras podem
trazer. Pessoas divertidas e espirituosas, por exemplo, têm muitos amigos não em função
de seu caráter mas devido ao prazer que proporcionam àqueles que o cercam.
Quando uma amizade é estabelecida segundo a utilidade, ela existe por causa do bem que
uma pessoa pode proporcionar à outra. O sentimento existe também não em função do
caráter, mas a uma recíproca utilidade.
A amizade segundo a virtude, no entanto, é estabelecida somente entre os homens que, nas
palavras de Aristóteles, são “bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o
bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos”. Pessoas assim são raras,
bem como amizades assim também são.
Bob Esponja nos apresenta um bom exemplo de como ser amigável e ter uma amizade
baseada na virtude. Mesmo tendo apenas um amigo mais próximo (Patrick), a atitude de
Bob é sempre de estar aberto a novas amizades, mesmo que seu jeito pouco ortodoxo de
fazer amigos possa acabar assustando alguns moradores da Fenda do Biquíni.
Diante de um problema, Bob Esponja sabe que pode contar com seu leal amigo Patrick.
Nosso querido personagem entende a importância de se ter amigos por perto; entende o
que o filósofo grego disse há mais de dois mil atrás sobre o valor da amizade. Esteja aberto
a fazer novas amizades e perceba que quem tem amigo tem o bem mais valioso que existe.
Seja determinado e dedicado no trabalho
Bob Esponja é o tipo de profissional que todo empregador gostaria de ter. Sempre bem
disposto, chega até a cantarolar enquanto prepara o famoso hambúrguer de siri, no
restaurante “Siri Cascudo”.
Como a maioria das pessoas, Bob tem um patrão que
não reconhece nem valoriza seu trabalho. Mas você acha
que isso é um problema para nosso herói amarelo? Pelo
contrário, sua determinação e dedicação superam qualquer adversidade.
Um bom profissional precisa a cada dia se motivar, pois a motivação funciona muito mais
como um processo que surge de dentro para fora do que algo externo. Bons profissionais
são “pro ativos”, não esperam grandes oportunidades para agir. Pelo contrário, criam
oportunidades para novos negócios e relacionamentos. Na crise, enquanto uns choram,
outros vendem lenços.
Bob Esponja é apaixonado pelo que faz, ele ama seu trabalho. Apesar de brincalhão e meio
sem noção às vezes (quase sempre), ele se dedica muito ao seu trabalho e mesmo quando
seu colega de trabalho, Lula Molusca, lhe passa alguma instrução errada, Bob não deixa
que seus ruins conselhos interfiram no bom desempenho de suas funções.
A maioria das pessoas passa a maior parte do dia exercendo alguma atividade laboral. Se
você é uma dessas pessoas que ficam mais no ambiente de trabalho do que em casa ou
com seus amigos, opte por um emprego que você tenha prazer em fazer. Não precisa ser
apaixonado pelo que faz, mas procure fazer algo no qual você se sinta útil fazendo, em que
você faz diferença.
Quando fazemos o que gostamos, fazemos com prazer e com sentimento de dever
cumprido. Se você trabalha exatamente com o que gosta de fazer, se você ama o que faz,
parabéns, pois seu trabalho não é propriamente um “trabalho”, mas uma diversão. Talvez
você nem sentisse falta de receber um salário, pois o simples prazer de realizar a tarefa já
seria uma recompensa.
Seja resiliente
Segundo a Física, a “resiliência” é a propriedade que alguns corpos
apresentam de retornarem à sua forma original mesmo depois de
expostos a uma deformação elástica. A Psicologia “emprestou” o
verbete da Física para conceituar que resiliência é a capacidade que
uma pessoa tem para lidar com problemas, obstáculos ou mesmo
resistir à pressão de situações adversas, sem ceder a um surto
psicológico.
Nas empresas, um funcionário resiliente é aquele que toma decisões com o intuito de
vencer mesmo quando se depara com um contexto de ambiente tenso e hostil. A resiliência
é uma combinação de diversos comportamentos, tais como: análise do ambiente,
administração das emoções, autoconfiança, enxergar mudanças e dificuldades como
grandes oportunidades, bom humor, empatia, otimismo, sociabilidade e controle dos
impulsos.
Em diversas situações, podemos notar que Bob Esponja se mostra um funcionário resiliente,
pois mesmo diante das armações de Lula Molusco e do Seu Sirigueijo, nosso personagem
não perde a boa vontade e a motivação para continuar a realizar seu trabalho de forma
eficiente.
Mas não é todo dia que Bob Esponja está completamente disposto e motivado a dar o
melhor de si. Isso é natural, algo que acontece com todas as pessoas também. Há dias em
que acordamos menos dispostos que outros, mas não é por isso que devemos deixar as
pressões do dia a dia nos puxarem para baixo.
Quando fazemos uma análise do ambiente em que vivemos, administramos nossas
emoções, temos confiança em nós mesmos e encaramos as adversidades com bom humor
e empatia, conseguimos enxergar mais longe e alcançar nossos objetivos. Quando
controlamos nossas emoções e encaramos os problemas com otimismo alcançamos o
sucesso.
Olhe para as dificuldades sob outro prisma. Mude o foco, mude a perspectiva. Pessoas
resilientes enxergam os problemas como verdadeiras oportunidades para brilhar. O grande
Ayrton Senna, piloto brasileiro de Fórmula 1, três vezes campeão mundial, nos anos de
1988, 1990 e 1991, disse que “na adversidade, uns desistem, enquanto outros batem
recordes”.
Não espere tudo ficar bem para dar o seu melhor. Brilhe na adversidade. Não deixe de ter
perseverança.
Durante os Jogos Olímpicos, vemos diversos atletas de diferentes países competindo por
uma medalha de ouro. Alguns desses atletas recebem altíssimos patrocínios e gozam de
uma vida financeiramente estável. Porém muitos que ali estão não possuem sequer
condições para se sustentar em seu próprio país. Esses últimos, entretanto, são os que
recebem mais atenção da mídia quando conquistam uma medalha.
O motivo? Perseverança.
Os atletas que possuem os melhores equipamentos, a melhor estrutura, os melhores
patrocinadores não chamam tanto a atenção quando conquistam uma medalha porque, de
certo modo, já se era esperado que eles ganhassem, que chegassem ao lugar mais alto do
pódio. Os verdadeiros heróis são aqueles que conseguem ultrapassar as barreiras do
preconceito, do racismo, da quase miserabilidade e conquistam a medalha de ouro.
Os heróis não vivem em casas luxuosas e gozam de uma vida de fartura. Os heróis (de
verdade) vencem inimigos muito mais poderosos do que seus oponentes.
Assim, através dessas breves linhas, fizemos uma análise, ainda que singela, da relação
entre a trama de Bob Esponja e a Filosofia. Não devemos esquecer que se trata de um
desenho animado, com um enredo voltado para o público infantil, possuindo, assim, alguns
elementos que devem ser desconsiderados quando se faz uma análise filosófica.
Procuramos potencializar os aspectos que achamos relevantes para esta análise, pois
mesmo se tratando de uma série animada para o público infantil, a trama de Bom Esponja
tem muito a nos dizer e ensinar.
Que possamos seguir os (bons) exemplos de Bob Esponja, seja no relacionamento com
amigos, família ou colegas de trabalho e sejamos positivos, motivados e resilientes no dia a
dia. Que não demos mais valor ao dinheiro do que ele realmente merece, pois, no final das
contas, ficarão as boas histórias para contar.
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