FACULDADE DE LETRAS LITERATURA

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FACULDADE DE LETRAS
LITERATURA COMPARADA II
João Camillo Penna
2013.2
Avaliação I (Data de entrega: dia 1° de novembro)
A partir do roteiro abaixo desenvolva suas respostas. Escreva no mínimo cinco páginas. O
trabalho deve ser feito individualmente ou em grupos de dois. Na página seguinte você
encontrará um resumo de nossas discussões em sala, assim como uma sugestão de trechos a
serem analisados. Abaixo um guia de formatação do trabalho.
Composição da nota
Conteúdo:
Formatação:
Gramática:
Estruturação a partir do roteiro:
5
2
2
1
10
Guia para a formatação do trabalho
A formatação é um aspecto tedioso, mas importante. Procedo aqui à enumeração de alguns pontos
principais:
a) Em um ensaio crítico, trabalha-se com pelo menos um texto senão com diversos. É essencial explicitar
a referência dele (ou deles), em nota de rodapé, ou entre parênteses. Uma citação deve aparecer sempre
entre aspas. Se ela tem mais de três linhas deve ser escrita sem aspas, separada do corpo do texto, o
bloco inteiro inscrito com um recuo de 3,0 cm à direita (ou simplesmente com o recuo do parágrafo), e
à esquerda, e em uma fonte menor;
b) Toda citação deve aparecer com sua devida referência de autor. Se você está utilizando idéias de
alguém, dê crédito a essa pessoa, autor ou professor. Há duas maneiras de explicitar as referências:
entre parênteses no corpo do texto (por exemplo: TROYES, p.45) ou em nota de rodapé. Neste caso, a
nota não requer parênteses.
c) As obras citadas no correr do trabalho, ou importantes para a sua concepção, devem ser incluídas na
bibliografia, situada no final do trabalho. Nunca se apresenta um texto sem bibliografia. Os itens da
bibliografia se escrevem da seguinte forma: para livro: SOBRENOME (caixa alta), Pré-nome do autor
(redondo). Título do livro (itálico). Cidade: Editora, Ano. Exemplo: TROYES, Chrétien de. Perceval ou o
Romance do Graal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Para parte de um livro, desta forma: CANDIDO,
Antonio. "Dialética da malandragem". Em: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas cidades, 1993. Observe
que, neste caso, o título de parte de livro (poema, artigo) aparece entre aspas e em redondo, e o título
do livro aparece em itálico.
d) As palavras estrangeiras são inscritas em itálico; as palavras citadas, ou utilizadas num sentido
específico, fora do comum, devem ser inscritas entre aspas. O itálico deve ser utilizado também para
sublinhar uma palavra, expressão ou frase. Utiliza-se atualmente nas práticas editoriais cada vez menos
o negrito ou o sublinhado.
Nessa primeira parte do curso lemos uma peça teatral de Bertold Brecht, A ópera de três vinténs e um romance, O castelo
de Franz Kafka, a peça apresentando o método do teatro épico brechtiano, e o livro de Kafka, uma demonstração
da modernidade no romance. Os objetivos dos dois textos (e métodos de construção) não poderiam, à primeira vista,
ser mais opostos: o distanciamento brechtiano como método de conscientização política, visando a despertar a
análise no espectador, e o percurso cheio de obstáculos de K. de justificar sua existência no vilarejo. No entanto,
observamos que ambas as estratégias literárias modernas apresentam questões que se ancoram facilmente no campo
da política. Benjamin em seu ensaio sobre Kafka mostra a estranheza do mundo arcaico kafkiano, marcado pela
memória de uma tradição judaica, no contexto europeu. De modo análogo, em “O que é uma literatura menor?”,
Deleuze e Guattari demonstram o quanto o trabalho de uma minoria judaica tcheca na língua alemã é capaz de
desterritorializar uma língua maior, como o alemão; para eles uma literatura menor é eminentemente política,
enquanto a literatura maior se presta a um uso individual (familiar, conjugal [p. 39]). Mais evidente é a politização do
teatro brechtiano: a representação da exploração capitalista a partir da “fábrica” de mendigos Peachum, cuja
mercadoria é a piedade, corresponde também a uma leitura política da sociedade. Por outro lado, o mundo da
burocracia kafkiana, regido pelo universo da lei, contém um nítido comentário sobre a “sociedade administrada”,
como diria Theodor Adorno. Um ponto em comum chama a atenção nos dois: seus personagens são estranhos à
ordem estabelecida: K. é um estrangeiro literalmente “sem-teto” no vilarejo, enquanto que todos os personagens de
A ópera dos três vinténs provêm da chamada marginalidade. Observe-se o modo como é situada a cena de A ópera de três
vinténs, ponto de partida de sua ação, no Prólogo: Uma feira em Soho.// Os mendigos mendigam, os assaltantes
assaltam, as prostitutas se prostituem” (p. 13). Ambos têm como personagens pessoas quaisquer. Brecht situa o
esquema de uma cena do teatro épico na rua (“O teatro épico”, p. 67-68): “Só depois de se compreender o que há de
novidade, de ousadia, de desafio aberto à crítica nesta afirmação de que uma cena como a de esquina de rua é
suficiente como esquema de um grande teatro, se poderá realmente compreender o que se segue” (p. 68). Para
Brecht qualquer pessoa, (“não necessita ser artista”) poderá “atuar” essa cena, mobilizando-se criticamente diante
dos fatos narrados. O romance de Kafka, por outro lado, situa o vilarejo como ambiente imanente, povoado por
pessoas comuns, sem acesso à transcendência das instâncias do poder do castelo. “O castelo, cujos contornos já
principiavam a se desvanecer, permanecia silencioso como sempre, nunca ainda K. tinha visto o menor sinal de vida
nele, talvez não fosse possível reconhecer alguma coisa daquela distância e no entanto os olhos exigiam isso e não
queriam suportar a quietude” (O castelo, p. 116). A constatação dessa situação de indigência de K., rigidamente
confinado entre a proibição da lei e a possibilidade de transgressão, como na parábola “Diante da lei”, é o requisito
para a construção de um pensamento crítico. Tanto o teatro épico quanto a literatura kafkiana têm embutido neles
um programa político: de transformar o expectador, o leitor, qualquer um, em um artista, um pensador, ou um
crítico. Escreva um ensaio em duas partes. Na primeira, analise duas cenas da peça de Brecht, por exemplo, a cena na
“rouparia para mendigos de Peachum”, em que interagem os mendigos com Peachum, e Polly revela a seus pais que
se casara com Mac Navalha (p.45-49); e a cena na prisão de Mac Navalha (p.94-105), mostrando os mecanismos que
caracterizam o teatro épico de Brecht (distanciamento, didatismo, sugestão do pensamento crítico). (No caso dessa
segunda cena, contraponha as instruções do autor para a encenação em nota de rodapé, com a estruturação da cena,
para organizar a sua resposta). Na segunda parte, analise duas cenas de O castelo, em que se demonstra o caráter ao
mesmo tempo proibido e desejado do poder, tal qual ele se encarna em Klamm, em todos os objetos que pertencem
a ele, em todos os locais habitados por ele ou que ele simplesmente atravessa. Por exemplo, no momento de
começar a relação com Frieda, a amante de Klamm, a visão de Klamm pelo orifício (p. 46), a travessia do limite do
balcão ( a “prescrição”) previamente estabelecido pelo hospedeiro na Hospedaria dos senhores: “O senhor
agrimensor só pode ir até o balcão” (p. 42), e a noite de amor intenso com Frieda, nas proximidades de Klamm, que
se encontra num quarto ao lado; ou essa outra, no capítulo “A espera por Klamm” (p. 116-125), em que K. fica
esperando horas por Klamm no pátio da Hospedaria dos senhores, e acaba se aninhando no trenó de Klamm (“[...]
sentiu-se tão atraído para entrar no trenó [...], p. 121), sem jamais ter conseguido se encontrar com ele. (Dica: faça a
sua análise textual citando trechos relevantes para o ponto que deseja demonstrar e depois comente-os.)
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