Nem só de bordado viverá o homem Fato é que 80% dos 55 mil habitantes vivem do bordado e esse quadro não sofreu qualquer alteração até os dias de hoje Ibitinga ostenta vários títulos que variam de “Capital Nacional do Bordado”, “Terra de abundantes recursos naturais” até “Cidade que não falta emprego”. Entre todas essas definições, a mais adequada seria a de “Terra de rara beleza”, o que nos encheria de orgulho, do que sermos tachados de costureiras e bordadeiras em qualquer parte do país, não que isso incomode, mas o senso comum impera quando nos identificamos como ibitinguenses natos. A própria mídia nos trata assim. No dia 31 de agosto, Ibitinga foi destaque no programa “Como Será”, exibido pela Tv Globo e apresentando por Sandra Annemberg que se preocupou em mostrar os benefícios do Centro de Capacitação e Requalificação das Indústrias do Bordado de Ibitinga (CECRIB), responsável por capacitar homens e mulheres para trabalharem como costureiros. Apesar da reportagem se ater apenas ao investimento, na capacitação do ser humano, no empreendedorismo e no mercado de trabalho local, ela não investigou o grau de satisfação de quem já está no bordado há décadas e não encontra outro ramo para atuar devido à falta de oportunidade. Um estudante universitário ou recém-formado não vê chance de crescer em Ibitinga. Aqui não há setor que empregue ou dê estabilidade econômica para biomédicos, engenheiros, agrônomos, arquitetos, educadores, artistas, comunicadores e afins. Desde os tempos de Dioguina Sampaio, pioneira do bordado manual, nunca mais investiram em outro produto, apenas se preocuparam em aperfeiçoá-lo. Fato é que 80% dos 55 mil habitantes vivem do bordado e esse quadro não sofreu qualquer alteração até os dias de hoje. A economia gira em torno dessa fonte de renda há décadas e nenhuma gestão se preocupou em alterar o cenário. Quem sofre as consequências desse “mercado de trabalho engessado” é a nova geração que precisa se decidir entre ficar e tentar sobreviver com um salário de costureiro ou arriscar mudar de cidade em busca de melhores condições de vida. Se Ibitinga continuar sendo referência para sacoleiras e turistas, ficaremos reféns da globalização e à mercê do desenvolvimento tecnológico. O cenário de atraso econômico não beneficiará qualquer grupo social. Vale reforçar que uma cidade não se faz apenas com costureiras e bordadeiras. A necessidade é outra: é educação, saúde, emprego e renda. E Ibitinga tem competência para crescer, tanto que o interior do estado é forte, muito forte. Isso significa menos dependência da capital e maior dinamismo econômico no interior. O segredo é sair do comodismo e não se prender a um modelo único de sucesso. A realidade exige essa mudança.