Mestrado e Doutorado em Lingüística da UFC – Teorias Lingüísticas I – Parte II: Lingüística gerativa – Prof. Dr. Leonel Figueiredo de Alencar LANGENDOEN, D. Terence. Linguistic theory. In: BECHTEL, William; GRAHAM, George (Orgs.). A companion to cognitive science. Oxford: Blackwell, 1999. p.235-244. Resumo sucinto elaborado por Leonel F. de Alencar Fortaleza, 27/6/2017 Comentários, críticas, sugestões: prof_leonel-teorias A R R O B A yahoo.com.br Neste capítulo, Langendoen (1999) expõe, de forma sucinta, os objetivos, conceitos fundamentais, subcomponentes e modelos gerativos principais da teoria lingüística. Para o autor, o objetivo da teoria lingüística consiste, sobretudo, em investigar (i) o que é a linguagem, (ii) quais as propriedades de um organismo ou máquina capaz de aprendê-la e usála, (iii) como alguém determina o significado de uma expressão que ouviu, (iv) como alguém determina uma expressão para um significado que pretende transmitir e (v) qual a classe das gramáticas possíveis. Segundo Langendoen, as respostas dadas às questões (i) e (ii) variam conforme o arcabouço teórico adotado, não havendo consenso a respeito da melhor abordagem. Além disso, é a opinião geral entre os lingüistas de que nenhuma teoria resolveu ainda essas questões satisfatoriamente. Langendoen compara duas estratégias diferentes para resolver essas duas questões, propostas, respectivamente, por Joseph Greenberg (1963) e Noam Chomsky (1980). Enquanto o primeiro propôs uma investigação de uma grande quantidade de línguas para determinar as propriedades distintivas da linguagem, o segundo defendeu a extração das propriedades comuns a todas as línguas por meio da análise aprofundada de apenas uma pequena amostra. Embora não se tenha chegado a uma resposta definitiva à questão (i), sabe-se, como ressalta Langendoen, que "toda língua é um sistema com recursos suficientes para comunicar as intenções, desejos e crenças de seus falantes" (p. 235). As noções mais importantes da teoria lingüística são, portanto, as de expressão, que é o veículo de que se utiliza para comunicar algo, e de significado, i.e. o que se comunica. Toda língua possui, portanto, uma estrutura fonológica, sobre a qual Langendoen discorre pormenorizadamente, e uma estrutura semântica. Ele faz um levantamento, contudo, dos critérios de adequação que uma representação semântica deve satisfazer. As noções de expressão e significado constituem a base para definição de duas outras noções fundamentais: morfe e morfema. Um morfe é a associação de uma pronúncia 1 específica com um significado específico, pronúncia essa não passível de segmentação em unidades menores significantes, cuja combinação seja capaz de produzir o significado do todo. O morfema, enquanto noção mais abstrata, constitui uma classe de morfes. Por meio de processos fonológicos e semânticos sistemáticos, pode-se derivar, a partir de um morfema, o conjunto de morfes a ele associados. A teoria da gramática, que é parte substancial da teoria lingüística, tem como objeto a descrição dos subcomponentes da linguagem constituídos pelo léxico, a morfologia e a sintaxe, visando a determinar as propriedades da classe das gramáticas possíveis (v. questão (v) supra). Essas propriedades constituem a Gramática Universal (Universal Grammar – UG), cuja investigação é de enorme relevância para dirimir o paradoxo que é a aquisição da linguagem. De fato, a criança, não obstante partir de uma experiência limitada, adquire ainda assim domínio da gramática de sua língua materna. Na teoria lingüística gerativa, parte-se da hipótese de que a UG é inata. Sob essa perspectiva, o aprendizado da gramática é possibilitado por essa bagagem genética da criança, consistindo não numa aquisição propriamente dita, mas numa seleção de um membro da UG compatível com os dados lingüísticos do ambiente ao qual a criança é exposta. O primeiro subcomponente da linguagem que Langendoen apresenta é o léxico, o qual constitui o inventário de lexemas de uma língua. Os itens do léxico devem ser aprendidos individualmente, uma vez que, além dos morfemas, incluem combinações de lexemas cujas expressões ou cujos significados não são predizíveis a partir das expressões ou dos significados das partes que os constituem. Graças aos subcomponentes da morfologia e da sintaxe, a grande maioria das combinações de expressão e significado não precisa ser aprendida. Com efeito, é possível predizer o significado dessas combinações a partir do significado dos constituintes e da maneira como se combinam. Na morfologia, os lexemas são combinados para formar palavras. Já na sintaxe são combinados lexemas para formar sintagmas e frases. Segundo Langendoen, todas as línguas são dotadas do mesmo poder expressivo, o qual é viabilizado por meio da interação do léxico, morfologia e sintaxe. Há significados, porém, que só podem ser expressos pela combinação de elementos na morfologia e, sobretudo, na sintaxe. De fato, é nessa última que residem os procedimentos recursivos, i.e. operações como, por exemplo, a coordenação e a subordinação, que se podem reaplicar sobre seus próprios resultados um número potencialmente infinito de vezes. Duas outras operações sintáticas estão presentes em todas as línguas: o movimento e o apagamento de constituintes sintáticos. Encerra o capítulo uma comparação entre os diferentes modelos da teoria lingüística chomskyana, por um lado, e a Semântica Gerativa e a Teoria da Otimalidade (Optimality Theory – OT), por outro. Para o autor, os primeiros não atendem aos objetivos (iii) e (iv) supra, porque não permitem determinar o significado a partir de uma expressão dada nem 2 vice-versa. Em vez de adotarem uma derivação linear das representações lingüísticas como as duas últimas teorias, postulam uma arquitetura bifurcada, em que a projeção da expressão sobre o significado não é direta, mas intermediada por um outro nível de projeção. Conforme Langendoen, a OT é o único modelo gerativo voltado diretamente para as questões (iii) e (iv). Nesse modelo, a produção e a percepção da linguagem são tratadas, analogamente à aquisição da linguagem, como um problema de seleção. Dada uma expressão da classe universal de expressões definidas por um gerador, restrições extraídas de um conjunto universal são aplicadas para determinar o significado correspondente dessa expressão no âmbito da classe universal dos significados possíveis, também definidos pelo gerador. Na produção da linguagem, ocorre o processo inverso. Não obstante o caráter universal do gerador e das restrições, as línguas diferem porque atribuem importância diferente a cada restrição. 3