ESPECIFICIDADES DO TEXTO TEATRAL – O PÚBLICO COMO PRINCIPAL RECEPTOR DO DIÁLOGO NO TEATRO Roberta Moura Cavalcanti ([email protected]) Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE Pós-graduação em Literatura Brasileira RESUMO: O texto escrito para o teatro difere de outros textos literários pelas suas especificidades, (didascálias, diálogos, vazios, ausência de narrador, etc.) e, dentre essas, a ausência do narrador acarreta no surgimento maior de diálogos. Estes, mesmo quando ocorre de personagem para personagem, têm como destinatário o espectador, confirmando assim, que todos os diálogos presentes no texto teatral tem como receptor o público. PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Público; Diálogo. ABSTRACT: The text written for the theater differs from other literary texts because of their specifieds (“Didascáias”, conversations, empty, aus o clock the narrator, etc.) and, among these, the aus o clock in the narrator leads emergence of greater conversations. These, even when it occurs from character to character, have as receiver the viewer, thus confirming that all conversations in the theater text have as receiver the audience. KEY-WORDS: Theater; Audience; Conversations. Introdução O trabalho a seguir trata-se de uma análise sobre as especificidades do texto teatral, destacando o público como principal receptor dos diálogos existentes na cena (ou no texto). Tendo em vista que tanto no texto de teatro, como na peça, os diálogos são uma constante, resolvermos analisar sua presença com o objetivo de compreender qual a sua relação com o texto e com público. Para tal feito, usamos como metodologia a revisão literária de teóricos do teatro. O texto teatral apresenta certas características e especificidades que o difere de outros textos, dentre elas, podemos salientar as lacunas e os vazios, elementos que não oferecem dados suficientes para a imaginação do leitor, a presença direta de diálogos e as rubricas (ou didascálias), indicações cênicas que geralmente vêm no início do capítulo (cena) indicando o lugar e os personagens presentes na mesma. O texto teatral ainda apresenta outras características, como o fato de jogar com diversos receptores, o leitor tanto pode ser um diretor, quanto um ator, ou um figurinista. Nesse tipo de texto há outras peculiaridades como a falta do narrador e a presença da lista dos personagens que vem logo no início do mesmo. Entre essas características talvez a mais importante seja a ausência do narrador. Ao contrário do que acontece em textos narrativos (romances), onde o narrador tem presença fundamental no texto e as personagens aparecem por intermédio dele, expondo suas vidas e o interior de seus pensamentos, no texto teatral a personagem dispensa o narrador, fazendo-se presente por ela mesma, falando diretamente para o público, constituindo assim praticamente a totalidade da obra (PRADO, 2007. p.84). “Teatro é ação e romance é narração” (PRADO, 2007. p.84) e é justamente por ser ação que o teatro vai além de simplesmente contar/narrar uma história. No teatro essa história tem vida por meio das personagens e, ainda de acordo com Prado, “O teatro propriamente dito só nasceu ao se estabelecer o diálogo, quando o primeiro embrião da personagem – o corifeu – se destacou do quadro narrativo e passou a ter vida própria” (PRADO, 2007. p.86). E essa ausência do narrador faz com que a história a ser contada nos palcos se realize através do diálogo entre as personagens, diálogo este que tem como receptor o público, como veremos. Não existe teatro sem público. Este é o elemento mais importante, uma vez que toda a encenação tem como alvo a platéia. De acordo com Ryngaert “(...) a fala de uma personagem organiza sua relação com o mundo” (RYNGAERT, 1995. p.103). E ainda segundo o mesmo, “por trás do diálogo teatral existe um autor cuja função é organizar o discurso das personagens em função de um objetivo supremo, a comunicação com os espectadores” (RYNGAERT, 1995. p.108), ou seja, os diálogos presentes no texto teatral e na encenação têm como receptor o público espectador. Mesmo quando as personagens conversam entre si, quando um personagem A dirige a palavra à personagem B, não é a B a principal receptora e sim o público, uma vez que ele é o alvo das informações veiculadas durante o diálogo. O diálogo existe entre as personagens, mas essas operam como emissoras indiretas numa relação entre o autor e o público, sendo o autor o emissor que usa dos personagens para passar suas idéias para o receptor (público), o que Ryngaert chama de dupla enunciação no teatro. “O público tem portanto o estatuto de destinatário indireto, pois é a ele, em última instância, que todos os discursos são dirigidos, ainda que raramente o sejam de maneira explícita” (RYNGAERT, 1995. p.109). Não só desta maneira o público é o destinatário, quando a personagem reconhece a presença dos espectadores e fala para eles, ou quando um ator dirige-se diretamente para esta platéia, ainda sim o público é o principal receptor do diálogo teatral, o que no texto de Ryngaert é explanado como estratégia de informação, onde o autor escolhe o que e como o público deve saber. Não podemos relacionar este diálogo apenas com falas, o diálogo teatral não é formado apenas de falas, mas também de silêncios. Mesmo quando uma personagem está calada em cena, por trás deste silêncio há uma mensagem a ser passada para o receptor, o que de acordo com Ryngaert “Tudo é permitido no diálogo teatral, tanto mais que no diálogo a fala está sempre em busca de seu destinatário” (RYNGAERT, 1995. p.110). Mesmo sendo o alvo dos diálogos presentes em cena (no texto teatral), o público não tem esta noção, o que o faz se sentir, muitas vezes, como parte estranha numa situação, como se estivesse surpreendendo uma conversa que não é destinada a ele, mas isto é facilmente explicado pelo fato de que estes discursos são destinados, raramente, de forma explícita. Considerações Finais Podemos observar que o texto teatral com todas as suas especificidades, entre elas a ausência do narrador o que acarreta, de certa forma, na presença de diálogos, tem como principal receptor da mensagem contida nesses diálogos o público, o espectador, seja o que lê o texto teatral, ou o que vai ao teatro assistir à peça. Um exemplo claro disto é Brecht que pretendeu um teatro político onde as peças trazem uma mensagem de cunho social e o intuito era o de provocar a platéia para que eles não permanecessem neutros perante a realidade social, mandando assim uma mensagem “direta” ao público. Referências PRADO, Décio de Almeida. et al. A personagem no teatro. In: A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007. p.81-101. ROUBINE, Jean-Jacques. Introdução às grandes teorias do teatro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. p.138-200. RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo: Martins Fontes, 1995. _____________ Sobre o Autor: Roberta Moura Cavalcanti ([email protected]) – Graduada em Letras-Habilitação Português/Inglês pela FUNESO. Atualmente está cursando o 8º módulo da Pós-Graduação em Literatura Brasileira na FAFIRE. Tem publicações na área de Literatura e Cultura.