Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa Mestrado em Educação – Didáctica da Matemática Problemas Contemporâneos em Educação Professora Doutora Olga Pombo AS TIC, a Ciência e a Escol@ da sociedade de informação à sociedade do conhecimento http://escolatic.googlepages.com/home Maria Teresa Godinho Pereira da Silva Maio de 2007 Índice Início Panoramas Novos desafios Formação de professores Plataformas colaborativas Referências bibliográficas Anexo – Uma viagem no tempo 2 3 4 6 8 10 11 1. Início O avanço científico-tecnológico não é apenas uma realidade dos nossos dias. É uma certeza dos tempos futuros. Que tarefas deve assumir a Escola face aos novos desafios e às determinações epistemológicas da nossa contemporaneidade? Como preparar os alunos para a situação actual dos saberes? Como perspectivar o papel das TIC na Escola? De que forma a educação crítica para a utilização das tecnologias pode fazer a diferença na preparação de jovens para a sociedade onde vivem e irão viver quando forem adultos? Que novos desafios se colocam às instituições responsáveis pela formação de professores? De que modo a utilização de plataformas de comunicação e colaboração podem contribuir para encontrar respostas para esses desafios? "A adaptação do ensino às transformações que se produzirão nas próximas décadas exigirá mudanças profundas nos saberes que o sistema educacional transmite. Não é possível prever os conteúdos concretos que deverão ser ensinados nas diferentes disciplinas. Em parte, porque muitos deles ainda não foram criados. Em contrapartida, é factível afirmar que assistiremos a uma transformação sem precedentes tanto no tipo de conhecimentos que a escola transmitirá como nas competências (saber fazer) em que os futuros aluno serão capacitados.” (Daniel Filmus, 2004, p. 126) 2 2. Panoramas Enquanto, antigamente, o saber se mantinha inalterável ao longo de séculos, nas últimas décadas, assistiu-se a uma enorme aceleração do progresso científico e tecnológico e à crescente especialização dos campos da Ciência. Paradoxalmente, o progresso exponencial da Ciência (Big Science) veio também expor a crescente fragilidade dos seus paradigmas. A Escola tem revelado grandes dificuldades em coadunar a sua actuação com as mudanças operadas na maior parte dos sectores da sociedade. Seymour Papert, matemático e reconhecido percursor da utilização da tecnologia na educação, num dos seus livros, narra uma viagem no tempo em que médicos e professores do séc. XIX chegam aos nossos dias. Esta alegoria pretende comparar de uma forma caricata a extensão das alterações efectuadas em muitos ramos da sociedade com as realizadas na Escola. Sendo a missão da Escola possibilitar às gerações mais novas a aquisição de saberes construídos pelas gerações anteriores de modo a garantir a sua preparação para a construção de novos saberes e assim acautelar a perpetuação da própria Ciência, pois, como refere Olga Pombo no seu texto Comunicação e Construção do Conhecimento, "não há Ciência sem Escola" (pg. 19), torna-se cada vez mais premente que os professores tomem consciência das enormes modificações que ocorreram nas últimas décadas no domínio da Ciência e utilizem a Tecnologia no seu domínio profissional de uma forma crítica e transformadora. Longe dos tempos em que a escola era praticamente a única fonte de saber, actualmente, a maioria dos alunos vive, desde que nasce, imerso na sociedade da informação e da tecnologia. Para muitos estudantes, as quatro paredes vazias de uma sala de aula e um professor que debita a matéria de uma forma mecânica, ano após ano, e apenas apela à memorização de informação contida no manual, não constitui desafio suficiente. A escola não consegue acompanhar a actual evolução dos saberes e da tecnologia se continuar a manter uma postura tradicional baseada na mera transmissão dos conhecimentos (apanágio da escola durante séculos). Para muitos alunos, a escola não oferece alternativas, não lhes dá oportunidade de construir vidas com sentido em torno do trabalho escolar, despertando-os para o conhecimento – não lhe dá oportunidade de se expressarem através da participação na aprendizagem na escola. A este propósito, Etienne Wenger e colegas referem a urgência de se construir uma escola como uma comunidade de aprendizes empenhados. Assente numa lógica de disciplinaridade, decorrente da especialização da Ciência, a Escola deve “defender perspectivas transversais e interdisciplinares” (Pombo, in Epistemologia da Interdisciplinaridade) e contornar obstáculos colocados institucionalmente em termos de currículos, horários, salas, gestão… pois além de acompanhar o desenvolvimento dos saberes, deve encontrar estratégias de articulação dos conhecimentos que ministra. "A tradicional concepção de sala de aula, com alunos-expectadores enfileirados diante de um professor-especialista detentor da informação, deve ser modificada tanto nos ambientes presenciais, semi-presenciais ou não presenciais.Combater o instrucionismo, a reprodução de conhecimentos e fragmentação do saber é o grande desafio. Os novos paradigmas epistemológicos apontam para a criação de espaços que privilegiem a co-construção do conhecimento, o alcance da consciência ético-crítica decorrente da dialogicidade, interatividade, intersubjetividade. Isto significa uma nova concepção de ambiente de aprendizagem." (Santos & Okada, In A construção de ambientes virtuais de aprendizagem, p. 1) 3 Tendo em conta as mudanças no campo da Ciência e da Tecnologia como é que a escola se deverá organizar para continuar a desempenhar o seu papel? Que novas competências deve tentar desenvolver nos alunos para que estes sejam capazes de uma atitude positiva face à mudança contínua e à necessidade de aprendizagem ao longo da vida? 3. Novos desafios Nos últimos anos, a Escola deixou de ser o principal meio de informação para as novas gerações e passou a concorrer com outros meios como a televisão e a Internet. No entanto, é preciso ter presente que informação e conhecimento não são exactamente a mesma coisa. O conhecimento implica sempre informação, mas a acessibilidade à informação nem sempre implica a construção de conhecimento. Desde a invenção da escrita e durante séculos, a informação sempre foi escassa e de difícil acesso. A parte mais valiosa e interessante da informação estava disponível em textos que só eram acessíveis a uma minoria. Com a invenção da imprensa deu-se uma revolução sendo possível registar e reproduzir textos facilmente. Mas a massificação de livros e as revistas demorou muito tempo e só nas últimas décadas se concretizou. Além disso, é preciso não esquecer que até ao início do século XIX, os níveis de analfabetismo eram muitíssimo altos no mundo inteiro. Hoje a quantidade de informação disponível e acessível é completamente diferente. É cada vez mais abundante e fácil de obter, por exemplo, através da Internet. Como refere José Joaquín Brunner o actual problema da Educação “não é onde encontrar a informação, mas como oferecer acesso a ela sem exclusões e, ao mesmo tempo, aprender e ensinar a seleccioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la e usá-la” (2004, pp. 24-25). O mesmo autor sublinha que relativamente ao conhecimento, “elemento central do capital cultural produzido pela escola”, também ocorreram grandes alterações. Até há pouco tempo atrás, “a missão de inculcar conhecimentos era favorecida pelo facto de a plataforma global do conhecimento e as bases do conhecimento disciplinar serem relativamente reduzidas e estáveis, o que facilitava o trabalho da escola” (Idem). Em contrapartida, nos nossos dias, o conhecimento aumenta e é alterado com grande velocidade. Daí um novo desafio que se coloca à Escola é a necessidade de desenvolver nos alunos “funções cognitivas superiores (…) indispensáveis num meio saturado de informação, evitando que o ensino fique reduzido ao nível das destrezas elementares” (Idem p. 25). Como referem Wenger e colegas, a Escola deve oferecer a aprendizagem como a chave para o mundo – como a chave para um infinito número de formas de ser e de participar no mundo. Deve construir diversidade e criar diversidade. O desejável não é que os alunos saiam da escola com um saber enciclopédico uniforme. Pretende-se que os alunos deixem a escola e possuam conhecimentos, mas também possuam auto-controlo, tenham capacidade de resolução de problemas, de planeamento, de reflexão, sejam criativos e tenham capacidades de compreensão e de comunicação com os seus pares e de adaptação a um mundo em constante evolução. 4 O papel das Tecnologias da Informação e Comunicação na Escola "Mais que um guia imensamente permissivo que articula cada um a todos os outros, a rede apela para um jogo infinito de combinatórias, para a participação activa - interactiva - do navegador. Ela permite por isso, não apenas ‘viajar’ nos mundos já conhecidos, como ‘navegar’ nos mundos por descobrir." (Olga Pombo In O Hipertexto como Limite da Ideia de Enciclopédia, p. 23) Como refere Daniel Firmus (2004), o tipo de saber que predomina na Escola actual ainda é atomizado enciclopédico e baseado na memorização. Está desvinculado da realidade. É baseado em dados, datas e fórmulas que servem para passar nos exames, cuja principal função é darem acesso a novos exames. Enquanto que este tipo de saber tinha razão de existir no contexto das relações sociais e de trabalho que predominavam há mais de um século e que convergiam para a preparação dos alunos para um mundo relativamente estável, hoje em dia revela-se inadequado. A rapidez com que a Ciência evolui e a Tecnologia se torna obsoleta, o desaparecimento de profissões e postos de trabalho vitalícios obrigam a pensar na necessidade de formar cidadãos com capacidade permanente de se actualizarem e de se adaptarem às mudanças que irão pautar as suas vidas. A Escola mais do que ensinar conteúdos específicos deverá “ensinar a aprender” e gerar uma atitude positiva face à mudança contínua e à formação ao longo da vida Neste contexto, a importância do papel que assume o domínio das TIC é inquestionável. São inúmeras as justificações para o seu uso na Escola. Brunner (2004) aponta algumas delas: capacitar os alunos para a utilização de instrumentos que já estão a ser utilizados na sociedade e que no futuro se espera que venham a ter um impacto ainda maior (no trabalho, no lar e nas comunicações); aumentar a motivação dos alunos, melhorar as suas capacidades de pensamento lógico e numérico, desenvolver as suas capacidades de aprendizagem autónoma e de criatividade, e favorecer atitudes mais positivas em relação à ciência e à tecnologia, assim como uma maior auto-estima por meio do domínio das tecnologias; fornecer a professores e alunos um meio que poderá conectá-los com uma fonte quase inesgotável de informação e dar-lhes acesso a um enorme arquivo de conhecimento; incrementar a eficiência da gestão escolar e aumentar a potência e a intensidade dos processos de ensino aprendizagem; facilitar uma comunicação dos professores com as famílias dos alunos e ajudar a estreitar laços com a comunidade; diminuir a brecha digital existente entre os alunos de famílias com maior poder aquisitivo (que têm acesso à utilização dos meios informáticos em casa, em colégios particulares…) e os alunos de famílias mais desfavorecidas. No entanto, é indispensável acentuar que a utilização das TIC na Escola não é sinónimo de domínio de instrumentos tecnológicos. Pode ter consequências profundas na própria transformação da Escola e na forma como se processa a construção do conhecimento pelos indivíduos. “A questão não se resume à técnica pela técnica nem ao acréscimo epidérmico de técnicas. A educação escolar é um todo tradicional, apoiado nos seus pilares tradicionais. Dessa forma, a 5 tecnologia não é um adorno ou adendo superficial que se possa incrustar no velho prédio sem que outras partes sejam afectadas. Voltada para a continuidade das gerações, não por acaso a educação escolar apresenta consistente unidade e intensas forças coesivas em que uma componente afecta o outro. Assim, as novas tecnologias da informação e de comunicação alteram sensivelmente as relações entre os actores e entre os componentes do sistema. Não se trata de mudanças fáceis e rápidas, mas de alterações que se referem aos próprios apoios fundamentais da edificação.” (Wertheim, 2004, p. 8) Por outro lado, de modo nenhum se pode pensar que as tecnologias são milagrosas e que por si só vão transformar a Escola. Wertheim alerta-nos simultaneamente para o optimismo e pessimismo pedagógico, salientando que “nem os sistemas educacionais se caracterizam por unidades inabaláveis, em que as mudanças são impossíveis, nem se caracterizam como terrenos de superficialidade, onde as tecnologias possam fazer o milagre da mudança rápida e, de preferência, indolor” (2004, p. 8). Que factores estarão na base de uma utilização dos computadores profícua e impulsionadora do sucesso educativo dos alunos? Como contribuir para a alteração de mentalidades e práticas de professores cuja formação está profundamente enraizada no ensino tradicional? 4. Formação de professores “Os governos medem seu grau de sintonia com a sociedade da informação baseando-se no número de escolas conectadas e no número de computadores por alunos. Os especialistas avaliam e criticam, os professores têm que se adaptar a exigências até ontem desconhecidas, e os empresários oferecem produtos, serviços, marcas, experiências e ilusões em um mercado educacional cada vez mais amplo e dinâmico.” (Brunner, 2004, p. 17) Sendo incontornável o comprometimento da Escola com a Tecnologia, como podem os professores aproveitar as suas potencialidades de uma forma crítica e inovadora de modo a promover o conhecimento científico dos alunos? Que novos papéis poderão desempenhar as instituições de formação de professores na emergência do novo papel do professor? A utilização da Internet e de outros recursos tecnológicos numa perspectiva crítica deverá corresponder a uma maneira diferente de entender a Escola como uma instituição comprometida com transformações nas maneiras de ensinar e de aprender. Mais do que utilizar as TIC para reforçar práticas tradicionais, o papel fundamental do professor deverá ser o de ajudar os alunos a estruturar a informação recolhida, a integrar e a articular o conhecimento científico. Daniel Firmus defende que "o novo papel da escola deve ser ensinar os alunos como buscar, classificar, e interpretar a informação: quando, como e em que condições utilizar o conhecimento e como produzir o conhecimento” (2004, pg.124). Neste sentido, o professor terá de reequacionar o papel dos seus alunos na sala de aula conferindo-lhes um papel mais activo e ajudá-los a ter consciência de que a informação a que tão facilmente têm acesso através da Internet não é sinónimo de conhecimento. Em vez de meros acumuladores acríticos de informação (debitada na aula pelo professor, lida nos manuais ou nos computadores), os alunos deverão ser capazes de a compreender e de produzir conhecimento significativo a partir dela. 6 As instituições de formação de professores (inicial e contínua) desempenham, sem dúvida, um papel crítico na actualização da Escola e dos professores. No entanto, embora tenham sofrido algumas transformações e inovações nos últimos anos, de uma maneira geral, ainda estão longe de aceitar os desafios das TIC continuando apenas a veicular uma visão instrumental da sua utilização. Brunner evidencia este facto chamando a atenção de que “as faculdades e escolas de pedagogia mantêm, basicamente, a mesma orientação e estrutura desde o último quarto do século passado, não tendo adoptado as redifinições e os redesenhos que seriam necessários para abordar os desafios da sociedade da informação” (2004, p. 71). Os currículos de formação de professores deverão responder às exigências actuais da utilização das TIC na prática pedagógica, sendo desejável que “os profissionais que saiam das instituições formadoras de docentes contem com as atitudes críticas, habilidades e destrezas necessárias para que lhes seja possível valorizar e avaliar a pertinência dos uso das TIC na sala de aula” (Martinez, 2004, p. 108). Uma experiência de formação de professores, mas não só... No nosso país, há cerca de um ano, o Ministério da Educação, através da Equipa de Missão Computadores Redes e Internet nas Escolas (CRIE), visando o apoio ao desenvolvimento curricular e à inovação pedagógica, promoveu um concurso, designado Iniciativa Escolas, Professores e Computadores Portáteis, para apetrechar as escolas dos 2.º e 3.º Ciclos com computadores portáteis com acesso à Internet. No presente ano lectivo, este projecto abrange 1160 estabelecimentos de ensino, cerca de 11600 professores e mais de 30000 alunos. Com esta iniciativa pretendeu-se incentivar o uso profissional das tecnologias da informação e da comunicação pelos professores, tanto de forma individualizada como no contexto das respectivas aulas (CRIE, 2006). Paralelamente a esta iniciativa, foi desencadeado um programa de formação de professores na área das TIC a nível nacional, a cargo dos Centros de Formação das Associações de Escolas, tendo por base um quadro referencial de formação que incorpora, entre outros, os seguintes princípios: - ter como primeiro objectivo a utilização das TIC pelos alunos nas escolas; - integrar modalidades mistas, com uma componente presencial e outra a distância e com o apoio de plataformas de aprendizagem "online"; - estar contextualizada com o trabalho quotidiano do professor, prevendo uma componente prática de trabalho na escola; - enquadrar-se no projecto educativo das escolas a que os professores/formandos pertencerem, nomeadamente no Plano TIC de cada escola/agrupamento. De modo a reforçar o enquadramento da Iniciativa dos Portáteis, a Equipa CRIE mobilizou ainda a acção dos professores requisitados nos cerca de vinte Centros de Competência CRIE em todo o país, no sentido de prestarem apoio e acompanharem a concretização dos projectos das escolas abrangidas por esta iniciativa. De que modo a implementação deste triplo mecanismo de APETRECHAMENTO, FORMAÇÃO E APOIO A PROJECTOS DAS ESCOLAS contribuirá para uma utilização dos computadores profícua e impulsionadora do sucesso educativo dos alunos envolvidos? Qual o impacto da utilização da Plataforma Moodle (impulsionada pela equipa central CRIE, pelos Centros de Competência e por muitas Escolas) na formação de professores e no trabalho com os alunos? 7 5. Plataformas colaborativas "O desenvolvimento de plataformas de colaboração permite uma capacidade de acção inimaginável até hoje. Possibilita que milhares de pessoas interactuem com milhares de outras, de forma coordenada, porém autónoma, sem referência a uma estrutura hierarquizada e sem outras regras senão as inventadas por elas mesmas. Este cenário traz novos desafios entre os quais o aumento da capacidade de auto-organização do sistema educacional. Ao mesmo tempo, gera uma grande transparência do seu desenvolvimento." (Rada, 2004, p. 116) Desenvolvimento de comunidades educacionais Na Escola actual, os professores não são os únicos detentores do saber. O conhecimento encontra-se distribuído pelos professores, livros, Internet, televisão... A aplicação das TIC aos sistemas pedagógicos, na qual se inclui a utilização de plataformas online, veio afectar tanto o conteúdo dos conhecimentos como a sua transmissão, permitindo a difusão da informação e o estabelecimento de interacções diversificadas entre os vários participantes. As plataformas colaborativas fornecem uma infra-estrutura que facilita a comunicação e colaboração entre professores (ajudando a superar o habitual isolamento da sua prática profissional) permitindo-lhes partilhar recursos e materiais pedagógicos e envolverem-se em “grupos virtuais de trabalho, baseados em interesses comuns ou em torno de temas ou disciplinas” (Brunner, 2004, p. 56). As plataformas colaborativas vieram também acrescentar uma nova dimensão à sala de aula, possibilitando, através da conectividade, criar novas formas de aprendizagem e permitindo o seu prolongamento no espaço e no tempo. Apesar de se considerar que a exploração de todas estas possibilidades ainda se encontra num estado embrionário, Juan Rada defende que a “construção de comunidades – além das fronteiras físicas dos estabelecimentos – incorpora uma dimensão pedagógica nova, capaz de gerar dinâmicas importantes de socialização e aprendizagem " (2004, p. 114). O mesmo autor refere que as plataformas de colaboração educacional agregam “dimensões importantes, como a gestão colaborativa de projectos com aplicações e funcionalidades específicas (por exemplo, para a planificação ou pesquisa). Nesse caso, muitos estudantes e professores podem trabalhar em rede, conjuntamente, sobre o mesmo tema” (2004, p. 115). O que é o Moodle? Moodle é o acrónimo de “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment”. O seu autor Martin Dougiamas pretendeu criar um ambiente virtual de aprendizagem facilitador da construção de espaços de trabalho, de comunicação e de colaboração. Trata-se de um projecto baseado em software livre de distribuição gratuita através da Internet e de tipo fonte aberta (open souce). O programa vai sendo desenvolvido e aperfeiçoado com a colaboração da comunidade de utilizadores. Com o objectivo de corrigir os erros que vão sendo detectados e de introduzir novas funcionalidades, programadores em todo o mundo continuam a trabalhar para o aperfeiçoamento do produto. 8 A sua utilização fácil, intuitiva e flexível permite a adaptação a uma enorme variedade de contextos educacionais. Os participantes nestas comunidades on-line possuem preocupações idênticas e debatem-se com problemas comuns e utilizam o Moodle como suporte da sua actividade (informar, pedir esclarecimentos, comunicar experiências e descobertas, partilhar recursos e materiais…). A plataforma Moodle tem já um enorme impacto a nível mundial. É utilizado em mais de 175 países e está traduzido em cerca de 70 línguas. No nosso país, no último ano assistiu-se a uma verdadeira proliferação do Moodle pelas escolas e instituições de formação (ver exemplo da plataforma do Departamento de Educação da FCUL). Plataforma Moodle do Centro de Competência CRIE da FCUL A plataforma do Centro de Competência CRIE FCUL constitui uma infra-estrutura de suporte à formação de professores na área das TIC e ao acompanhamento de projectos das escolas. Concebida com um espaço acessível a todos que nela queiram participar (além de qualquer pessoa se poder inscrever neste ambiente virtual, a maioria das áreas de trabalho estão disponíveis para visitantes) possui uma organização flexível que se vai adaptando às necessidades emergentes. A dinamização de actividades e os recursos disponibilizados em cada área de trabalho (disciplina) têm como finalidade fomentar a comunicação, a partilha, a reflexão e a colaboração entre os participantes. Apesar da aprendizagem técnica do Moodle ser fácil e intuitiva, o grande desafio que se coloca aos professores tem a ver com aspectos pedagógicos e com opções metodológicas. Como refere Rada "as transformações não têm somente com o desenvolvimento da tecnologia: elas dependem também - e mais profundamente ainda – do desenvolvimento das mentalidades e da forma como se organizam os poderes" (2004, p. 116). Para entender verdadeiramente as enormes potencialidades desta ferramenta, tanto no âmbito da formação de professores, como a nível do trabalho com os alunos, há apenas uma forma: aceitar o desafio de "viver" nela. Muitos professores já começaram a fazê-lo. Aqui fica um testemunho de uma Professora a propósito da sua experiência no Moodle com os seus alunos: “Foi aqui que comecei uma relação nova com os meus alunos; através de um trabalho mais direccionado a cada um deles, respondendo às dificuldades que individualmente eles íam colocando (nem sempre possível na sala de aula onde o tempo é sempre escasso), às vezes apenas um simples cumprimento quando nos encontrávamos ao mesmo tempo na plataforma, foi possível criar uma certa cumplicidade entre nós e uma nova motivação para aprendizagem, que é visivel quando nos encontramos presencialmente. É frequente nos corredores e no fim das aulas, alguns perguntarem: ‘stora’, quando é que coloca um novo desafio na plataforma? É evidente que não consegui ‘chegar’ a todos os alunos (até porque nem todos têm computadores em casa e internet e não há soluções milagrosas, muito menos em educação), mas todos os pequenos passos são sempre grandes quando falamos de pessoas.” (Maria dos Anjos - Professora de História da Escola EB 2,3 de Ribamar, Abril de 2007) 9 Para aprender a usar o Moodle Na disciplina Usar o Moodle da Plataforma do CC CRIE da FCUL estão disponíveis vários recursos para apoio à auto-formação dos professores e foram criados fóruns para troca de ideias e materiais. O enriquecimento deste espaço faz-se com o contributo de todos. 6. Referências bibliográficas Brunner, J. J. (2004), Educação no Encontro com as Novas Tecnologias. In Tadesco J. C. (Org.), Educação e Novas Tecnologias: esperanças ou incertezas? (pp. 17-75). Brasil, Cortez Editora Firmus, D. (2004), Breves reflexões sobre a escola do futuro e apresentação da experiência “aulas na rede” da cidade de Buenos Aires. In Tadesco J. C. (Org.), Educação e Novas Tecnologias: esperanças ou incertezas? (pp. 109-119). Brasil, Cortez Editora Martínez, J. H. G. (2004), Novas Tecnologias e o desafio da Educação. In Tadesco J. C. (Org.), Educação e Novas Tecnologias: esperanças ou incertezas? (pp. 95-108). Brasil, Cortez Editora Papert, S. (1997). Família em Rede, Lisboa: Relógio D’Água Pombo, O. (sem data). Comunicação e Construção do Conhecimento. Consultado em 5 de Maio de 2007 através de http://www2.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/publicacoes%20opombo/comunicacao_construcao.doc Pombo, O. (sem data). Epistemologia da Interdisciplinaridade. Consultado em 5 de Maio de 2007 através de http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/portofinal.pdf Pombo, O. (sem data). O Hipertexto como ideia Limite de Enciclopédia. Consultado em 5 de Maio de 2007 através de http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/enciclopedia/presentefuturo.pdf Rada, J. (2004), Oportunidades e riscos das novas tecnologias para a educação. In Tadesco J. C. (Org.), Educação e Novas Tecnologias: esperanças ou incertezas? (pp. 109-119). Brasil, Cortez Editora Santos, E. & Okada, A. (sem data). A Construção de Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Consultado em 5 de Maio de 2007 através de http://www.projeto.org.br/alexandra/pdf/8_anped2003_okada&santos.pdf Wenger, E., Eckert, P. & Goldman, S. (sem data). The School as a Community of Engaged Learners. Consultado em 5 de Maio de 2007 através de http://www.stanford.edu/~eckert/PDF/SasCEL.pdf Werthein, J. (2004), Apresentação. In Tadesco J. C. (Org.), Educação e Novas Tecnologias: esperanças ou incertezas? (pp. 7-8). Brasil, Cortez Editora 10 Anexo “Imagine um grupo de viajantes no tempo, entre os quais um grupo de médicos cirurgiões e um grupo de professores, que chegassem do século passado, para ver as coisas como se passam nos nossos dias. Imagine o espanto dos cirurgiões quando entrassem numa sala de operações de um hospital moderno! Os cirurgiões do séc. XIX não conseguiriam perceber o que aqueles fulanos, vestidos de maneira tão esquisita, estavam a fazer. Embora compreendendo que estava a decorrer uma operação cirúrgica qualquer, muito provavelmente seriam capazes de identificá-la. Os rituais de anti-sepsia, a aplicação dos anestésicos, os hips dos aparelhos electrónicos e até a imensa luminosidade ser-lhes-iam completamente desconhecidos. Certamente sentir-se-iam incapazes de dar uma ajuda. Quão diferente seria, no entanto, a reacção dos professores viajantes do tempo ao entrarem numa moderna sala de aula! Talvez se sentissem intrigados pela existência de alguns objectos estranhos, pelos estilos de vestuário e de corte de cabelo, mas perceberiam a maior parte do que se estava a passar e poderiam mesmo, num abrir e fechar d eolhos, tomar conta da turma. Naturalmente, discutiriam entre si se as mudanças observadas foram para melhor ou para pior.” (Seymour Papert In Família em Rede, 1997) 11