O USO DO COMPUTADOR E DA REDE NA ESCOLA PÚBLICA: ABRINDO CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DIGITAL Lina Cardoso Nunes - UNESA 1 INTRODUÇÃO Assistimos, neste século, transformações extraordinárias tornadas possíveis pela velocidade dos avanços tecnológicos e que vêm configurando “a sociedade da informação e do conhecimento”. Essas transformações operam-se nos mais variados setores, tanto em organizações escolares, quanto nas não–escolares, atingindo todas as classes sociais, inegavelmente com graus de diversidade acentuada. Gomes referenciado por Belloni (2002, p. 119) alerta “uma parcela de estudantes já chega à escola com habilidades para a utilização de muitos dos recursos informáticos e comunicacionais, enquanto grande parte das crianças se encontra à margem desse processo” A escola pública tem se constituído em espaço de democratização para crianças e jovens que aspiram apropriar-se dos conhecimentos veiculados socialmente, mas no contexto do mundo globalizado evidencia-se uma nova modalidade de construção de conhecimentos, propiciado pelas mídias, que invadem os locais mais distantes do território nacional. As mídias, em especial, o computador e a rede, favorecem o acesso às mais diversas linguagens, o que se faz tanto por meio de simples aparelhos telefônicos como de sofisticados equipamentos midiáticos. A própria distribuição das mídias entre os grupos sociais sinaliza para a diversidade de acesso às tecnologias da informação e comunicação entre pobres e abastados. Assim, como se diferencia a distribuição das mídias entre crianças e jovens, também diferem as escolas que estes freqüentam. Essas diferenças repercutem favorável ou desfavoravelmente nas condições de acesso às informações e ao conhecimento. A diversidade é um dos desafios que emerge na sociedade da informação, trazendo à tona a temática da info-exclusão, a qual, por sua vez, remete a um desafio maior que é o fato de que em inúmeras de nossas escolas ainda presenciarmos alunos que não estão completamente alfabetizados e em grande parte dessas escolas se observa que não chegou “a era da comunicação escrita – o que é visível pela precária ou inexistente biblioteca” (BELLONI, 2002, p. 121). 2 Essas diferenças assustam os educadores, visto que a cada minuto temos notícias das mutações evidenciadas pela introdução da rede e do computador no comércio, na indústria, nas universidades, que têm demonstrado o poder dos dispositivos telemáticos na velocidade com que são dinamizadas as atividades nos setores técnicos e científicos. Hoje, o que chamamos de avançadas tecnologias permitem que informações, imagens e sons proliferem de maneira fantástica, nos fazendo viver numa sociedade planetária (PRETTO, 1996), que se configura como Sociedade de Informação. Sociedade de informação é o “espaço” que o sujeito tem a partir da tela do computador. Ele pode ler textos e obter infinitas informações (Internet), pode se comunicar em tempo real (e-mails ou chats). Todas essas opções podem ser usadas numa biblioteca ou num cibercafé, por exemplo; o sujeito nem mesmo precisa estar em casa. A sociedade de informação altera a questão de espaço e a sociedade como um todo, altera a economia, a política, e vem modificando radicalmente cada vez mais, todos os tipos de trabalho (inclusive o do professor). A sociedade de informação está “chamando” a educação e, quando estas se aliarem verdadeiramente, sem fragmentos, poderemos então pensar que a criança terá condições de ampliar a sua visão de mundo, possibilitando viver de forma menos desigual. Nesse sentido, as transformações oriundas das tecnologias nos submetem a uma nova cultura, exatamente porque elas se incorporam à cultura, e inserem modificações nas formas de produção e de apropriação do saber. Marques (2003, p.143) alerta que nos horizontes e desafios da cibercultura a escola ganhou o mundo e se organizou na direção da cultura escrita. A cultura escrita penetrou a oralidade e a vida social em sua amplitude, por meio de capacidades que extrapolam o ensino das capacidades de ler e escrever, exigindo mais do que habilidades técnicas, a inserção ativa em uma cultura mais ampla, a cultura da escrita. Nessa perspectiva, para que as escolas acompanhem o progresso tecnológico, não só os alunos precisam ser preparados para a utilização das tecnologias da informação e comunicação – TIC – mas também os professores, muitos dos quais ainda não se apropriaram das competências indispensáveis para acessar os aparatos telemáticos. Pode-se falar de certa morosidade da escola no trato com as TIC, ou melhor, com as inovações de diferentes modalidades introduzidas ao longo da história da educação. 3 A qualificação dos professores para a utilização das tecnologias nos processos educacionais configura outro desafio para a criação de ambientes de aprendizagem na escola. Nesse sentido, a implementação de programas de informatização das escolas públicas tem sido foco de preocupações de os órgãos oficiais. Entre outros, vale destacar o Proinfo, a TVescola e o Pró-formação, que têm se revelado incisivos nesse sentido, objetivando a preparação dos professores para as novas competências relativas à utilização das tecnologias nas escolas. No âmbito da sociedade da informação, as possibilidades de inserir os aparatos midiáticos nas instituições escolares aparecem como uma perspectiva de minimizar a distância que separa o ensino fundamental e médio dos avanços tecnológicos. Assim, as políticas públicas têm, ainda que minimamente, se preocupado em propiciar programas a fim de que diminuam as acentuadas diferenças entre crianças e jovens de contextos socioculturais diversificados. Entre esses programas oficiais, no município do Rio de Janeiro, implementados pela Secretaria Municipal de Educação (SME), destacam-se as salas pólo de leitura, que viabilizam o acesso às diferentes linguagens, desde livros para todas as idades, como TV e vídeo, DVD, cd-rom, entre outros, adequados aos projetos em desenvolvimento nesses espaços educacionais. Próximo às salas pólo de leitura estão instalados laboratórios de Informática que favorecem o acesso ao computador e à rede. 2. OBJETIVOS, QUESTÕES E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. A questão problemática por nós investigada foi a seguinte: Quais as possibilidades e os limites para a inclusão digital de professores e alunos da rede pública, tendo em vista as ações desenvolvidas pelo programa das salas pólo de leitura? Nessa ótica, emerge o objetivo geral deste estudo que é analisar as ações desenvolvidas pelo referido programa, no município do Rio de Janeiro, para que se implementem as inovações tecnológicas nos espaços escolares. As tecnologias da informação e comunicação vêm assumindo especial importância nos dias atuais em todos os campos do conhecimento e na urgência de refletir sobre o compromisso social da escola na superação de processos de exclusão, tendo em vista sua responsabilidade na inserção de crianças e jovens na sociedade informacional. O acesso à informação é direito de todos e considerando a escola como campo privilegiado na apropriação do conhecimento formal é instigante uma pesquisa que 4 analise criticamente os espaços criados para a inclusão das crianças e jovens de escolas públicas nas recentes modalidades de apropriação das informações. Este estudo assume as características da investigação qualitativa, que possui cinco características (BOGDAN; BIKLEN, 1994): os participantes da investigação foram professores de oito escolas públicas, em diversas coordenadorias regionais de Educação (CRE), que estão à frente dos programas desenvolvidos pela Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, em especial das salas de leitura-pólo e dos alunos que realizam atividades com esses professores, especialmente nos laboratórios de Informática. Os instrumentos aplicados para a coleta foram a observação e as entrevistas semiestruturadas; usamos também, a análise de documentos oficiais relacionados às propostas governamentais. A análise de conteúdo foi utilizada para trabalhar com material de pesquisas qualitativas, nesse estudo especialmente as entrevistas semi-estruturadas. Portanto, serve para avaliar a comunicação (emissor e receptor) e o seu significado; pode ser objeto a análise de conteúdo No âmbito da análise de conteúdo foi utilizada a análise temática, que fala da recorrência de vários temas encontrados nos depoimentos, buscando “os núcleos de sentido que compõem a comunicação, cuja presença pode significar alguma coisa para os objetivos analíticos do estudo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 105). 3. EMBASAMENTO TEÓRICO DO ESTUDO As intensas mudanças de ordem social, cultural, econômica, tecnológica e política geram diferentes formas de relações na organização do trabalho e novas exigências para a qualificação pessoal. Diante disso, é importante ressaltar que “ ser humano é fazer-se dotado de consciência reflexiva por meio da linguagem e de todo o contexto social nela incluso” (MARQUES, 2003, p. 53). Nesse sentido, torna-se válido refletir sobre o fato de se denominar a era atual como sociedade da informação, sendo que rapidamente passou a se chamar sociedade da informação e do conhecimento, e posteriormente designada sociedade da aprendizagem (ALARCÃO, 2003). É aí que emerge a premência de refletir sobre o estado de permanente aprendizagem, de caráter individual e colaborativa. O processo de aprendizagem é resultante “de um sutil entrelaçamento entre o desejo e as capacidades do uso da razão, que se reconstroem ao reconstruírem seus objetivos e atestam tanto a singularidade do sujeito que aprende quanto a natureza social dele e do que ele aprende.” (MARQUES, 2003, p.39). 5 Configura-se, assim, a sociedade da aprendizagem, que requer de imediato um professor multicompetente e um aluno voltado para um novo paradigma de aprendizagem. A era da informação e do conhecimento constitui um desafio para as escolas frente às tecnologias da informação e comunicação. Belloni (2001, p.10) afirma que: a escola deve integrar as TIC porque elas já estão influentes e presentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola, especialmente à escola pública atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas máquinas está gerando. É o que se denomina de “info-exclusão”. Vale ressaltar que o fenômeno da infoexclusão não diz respeito apenas aos alunos, mas também aos professores, que, para atuarem como mediadores, precisam dominar as linguagens midiáticas, ou seja, as linguagens da mídia eletrônica. Salientamos nesse aspecto a formação continuada dos professores, entendendo como urgente o desenvolvimento dessa nova competência, o que poderia minimizar o problema do professor analfabeto digital. A sociedade da informação exige uma nova forma de comunicação entre professores e alunos visando prática pedagógicas que desenvolvam as aprendizagens. Nessa perspectiva, Marques (2003, p.148) afirma: a escola ganha mundo e o mundo se faz escola ao nela convergirem o distante e o próximo, os objetivos universalizantes e permanentes, os intentos de grupos sociais específicos e a formação de sujeitos singularmente autônomos e socialmente competentes. Não mais a escola para uma etapa da vida, mas a escola da educação continuada ao longo da vida.” É, portanto, uma escola nova para um tempo novo. Para este tempo novo, como foi citado, exigem-se novas competências profissionais e no caso dos professores novas competências para ensinar (PERRENOUD, 2000), dentre elas utilizar novas tecnologias, explorando as potencialidades dos programas em relação aos objetivos do ensino, tendo em vista a utilização das ferramentas multimídia no ensino. Marques (2003, p. 145) comenta as idéias de Levy (1999) e sugere que “ trabalhar não é mais aplicar conhecimentos pré-estabelecidos, mas produzir saberes em mutação“. Prossegue, explicando que o ciberespaço comporta tecnologias intelectuais que modificam numerosas funções cognitivas humanas, em que o professor se faz animador de aprendizagens mais do que fornecedor de conhecimentos. (LEVY, 1999 apud MARQUES, 2003, p. 145). 6 O computador surge como suporte de uma nova articulação da linguagem com diferentes formas de comunicação. Estas informações a partir das tecnologias podem ser trocadas e processadas no meio eletrônico se transformando em novos desafios para a escola. Assim como o surgimento da linguagem falada e escrita trouxe mudanças para a sociedade, as tecnologias também modificam a comunicação (MARQUES, 2003,). É oportuno alertar para a denominada “a lógica clandestina do computador” (MARQUES, 2003, p. 78) que apresenta novas formas interatividade e comunicação eletrônica e estimula “usos de velhas/novas habilidades de ler, escrever, falar argumentar e negociar”. É uma conversação diferente, propiciada pelo computador. MARQUES (2003, p. 80) conclui que: à dinâmica da lógica clandestina do conversar e do escrever acrescenta a sociabilidade ciberespacial uma potenciação das virtualidades da linguagem, no sentido de melhor entenderem-se os homens entre si, sobre si mesmos e sobre os mundos que configuram no pensar e no agir (...) aberto às novas reformulações controladas por comunidades discursivas de argumentação e postas no âmbito da mais ampla publicidade crítica. Segundo Marques, a simples possibilidade de escrever em uma folha em branco “a faz suporte da leitura de um leitor virtual, numa mudez que pode intervir a cada momento, estando assim interagindo com o escrever do escrevente, levando, inclusive, o escrevente a reescrever sempre seu novo texto”. (MARQUES, 2003, p. 66). Essa escola incluída no mundo contemporâneo impõe formas de pensar apropriadas ao tempo no qual está inserida, configurando-a como reflexiva, sobre a qual Alarcão (2003, p.38) afirma “uma escola reflexiva é uma comunidade de aprendizagem e um local onde se produz conhecimento sobre educação”. É um local de pesquisa. Pesquisa em que interagem professores e alunos numa dinâmica colaborativa. Na pesquisa podem ser desenvolvidas cooperativamente metodologias de ensino e avaliação, refletindo possibilidades de inserção na realidade, com perspectivas de transformação social. Essa escola nos dias de hoje tenta abrir espaços para os tempos invadidos pelas inovações da sociedade da informação em que vivemos. Alarcão (2003, p.12) afirma que: as escolas são lugares onde as novas competências devem ser reconhecidas e desenvolvidas. Sendo a literacia informática uma das novas competências, de imediato se coloca uma questão: a das diferenças ao acesso à informação e da necessidade de providenciar igualdade de oportunidades sob pena de desenvolvermos mais um factor de exclusão social :a infoexclusão.. 7 Entendemos, pois, que há um compromisso da escola com crianças e jovens para participar da era da informação. Reconhecemos que a mídia tem um “poder esmagador e a sua influência é multifacetada, podendo ser usada para o bem e para o mal” (ALARCÃO, 2003, p. 13). Portanto, cabe à escola responsabilizar-se pelo estímulo à consciência crítica que se recomenda esteja presente no espaço escolar, de maneira que, desde a alfabetização os alunos reflitam sobre a força das idéias transformadas em palavras escritas, sendo capazes de analisar e discutir os textos apresentados nos livros didáticos, nos jornais, nas revistas, além dos que aparecem na televisão. Assim, especialmente, os professores precisam aceitar as novas circunstâncias, pois conforme alerta Alarcão (2003, p.15) o professor não é o único transmissor do saber e tem de aceitar situar-se nas novas circunstâncias que, por sinal, são bem mais exigentes. O aluno já não é mais o receptáculo a deixar-se rechear de conteúdos. O seu papel impõe-lhe exigências acrescidas. Ele tem que aprender a gerir e a relacionar informações para as transformar no seu conhecimento e no seu saber. A autora explica que a escola também deve ser outra, cuja organização aponta para a flexibilidade, sendo um sistema aberto sobre si mesmo e também à sociedade em que está inserida. Para Marques, o modelo lingüistico “muitos-a-muitos”, que caracteriza a comunicação na cibercultura, amplia as possibilidades das aprendizagens na comunidade escolar através do mutidiálogo e da conectividade lateral, com recursos revolucionários para novos saberes na comunidade do conhecimento. (MARQUES, 2003, p.144). É imprescindível, portanto, que se criem condições nas escolas e nas comunidades (ALARCÃO, 2003, p. 26) que “compensem a falta de acessibilidade a fontes de informação que possam existir no seio das famílias”, com a perspectiva refletir sobre as possibilidades de eliminar assim os ciberanalfabetos do contexto social. Assim, as TIC serão usadas na educação quando a implantação de uma infraestrutura mínima adequada às escolas deixar de ser um grande desafio (Takahashi, 2000, p.45). É verdade que: A instalação de uma infra-estrutura nas escolas e outras instituições de ensino de um país é do ponto de vista econômico, pouco atraente (...). O problema fundamental em relação à disponibilização dessa infraestrutura é essencialmente de custos: é uma empreitada cara, envolvendo significativo dispêndio inicial para aquisição e, posteriormente,para manutenção e atualização do parque instalado 8 Marques (2003) aponta esse como um dos desafios para a escola significar as informações dos seus educandos e transformá-las em aprendizagens, uma vez que antes a escola estava preocupada somente em disponibilizar o acesso aos educandos às informações dispostas nos livros e hoje tem que se preocupar com as suas interpretações. A interpretação das informações se faz a partir da forma como ela é apresentada e dos nossos conhecimentos prévios. Desse ponto de vista, as tecnologias da informação se constituem num desafio para a educação escolar e não apenas um novo recurso para ser utilizado nas aulas, a escola tem que se preparar para novas formas de comunicação, de cultura e de sociedade para não se tornar defasada. Para formar professores, hoje, são indispensáveis estes aparatos, o que impõe a necessidade de acesso a esses meios e de se pensar nas inúmeras possibilidades trazidas através desses recursos para se programar a educação continuada do professor que poderá ser realizada de forma presencial ou a distância. Também não é possível esquecer da dimensão crítica no uso desses aparatos tecnológicos, isto significa não utilizá-los com o foram anteriormente outras tecnologias analógicas, mas conhecendo seus limites e possibilidades, refletindo sobre a questão ideológica subjacente a qualquer recurso tecnológico.Vale lembrar o fato de que o professor é também, nesse caso, um aluno e como tal precisa ter uma postura humilde diante de seu não-saber, o que se constitui num problema em algumas situações de aprendizagem entre os professores que se consideram “os donos do saber”. . Nesse contexto, Porto (2003) propõe parcerias comunicacionais e colaborativas, o que pressupõe a implantação de ações conjuntas as entre instituições, na perspectiva de favorecer experiências inovadoras como lugares de reflexão e produção do conhecimento. São, portanto, espaços de vivências docentes, com ênfase no trabalho coletivo, na valorização de saberes docentes e discentes, em situações práticas nas escolas, na utilização de diferentes linguagens /mídias e metodologias dialógicoparticipativas, no crescimento e respeito mútuos entre todos os participantes e na atenção para o processo de estudo e investigação de problemas (idem, p.89-90). A autora insiste no trabalho de equipe, que aponta para a administração de crises e confrontos que surgem para facilitar a manifestação dos pontos de vista dos participantes, “expressarem seus interesses, dificuldades e soluções encontradas “ (idem, p. 90). 9 4. RESULTADOS: O COMPUTADOR E A REDE COM POSSÍVEL CAMINHO PARA INCLUSÃO DIGITAL A constatação inicial em nosso estudo foi que a Salas pólo de Leitura e o laboratório Informática estavam em locais próximos nas escolas investigadas, com infra-estrutura de organização semelhante.Na primeira havia mesas, cadeiras, estantes com livros didáticos e de literatura infanto-juvenil, televisão, vídeo, rádio, e outros recursos de mídia eletrônica. No laboratório de Informática estavam dispostos 10 computadores em mesas adequadas e cerca de 20 cadeiras. Em três das escolas observadas houve diferentes fatos que apresentaram entraves para realizar as atividades, dos quais apontamos os seguintes: a precária de infraestrutura física, a falta de recursos humanos e a preparação insuficiente de alguns professores para lidar com a Informática. O primeiro fato diz respeito aos problemas ligados ao funcionamento do computador, decorrente da exigência de rede elétrica bem aparelhada; o segundo fato tem relação com o afastamento de professores das salas de aula por motivos de saúde/ e outros, sendo substituídos pelos responsáveis das Salas Pólo de Leitura, o que impedia a realização das atividades planejadas pelos coordenadores responsáveis e o terceiro está ligado à necessidade de recursos humanos preparados para orientar as atividades de Informática. Pode-se ressaltar que, em uma das escola observadas, em especial, o trabalho realizou-se conforme as orientações emanadas pelo programa, tendo à frente um coordenador que, ao ser entrevistado, manifestou-se positivamente sobre as ações desenvolvidas, embora apresente uma crítica ao programa, conforme pode ser constatado a seguir: na verdade o programa, muito bem elaborado, tem como objetivo levar o aprendizado aos alunos através de vídeos, programas de rádio e literaturas interessantes. O programa de Multieducação tem ótima bibliografia e, na teoria, é a escola ideal onde as salas de aula deveriam ter, no máximo, 36 alunos, com ambiente climatizado e mobiliário adequado. Mas, esse modelo ideal está longe de ser cumprido. Quando indagado sobre a relação entre a Sala de Leitura Pólo e a Sala de Informática assim se pronunciou: o aluno como não possui internet na escola, faz as pesquisas preliminares na sala de leitura como se estivesse pesquisando um site. Depois, munido do material necessário, dirige-se à sala de informática e começa a desenvolver a sua autoria. Este depoimento indica as possibilidades de autonomia propiciadas pelas atividades desenvolvidas durante o processo de produção de textos. 10 Um aspecto interessante explicado pelo professor foi sobre a organização das atividades de Informática, que é referenciado a seguir: as atividades são previamente combinadas com os professores que desejam utilizar a sala de informática e divide-se os alunos em grupos, por exemplo, masculino e feminino. No primeiro dia o grupo masculino fica na sala de leitura enquanto o feminino fica na sala de informática, no segundo dia inverte-se o grupo. Em casos excepcionais a sala é usada sem a devida reserva. A sala funciona, agora, todos os dias, e os monitores é que são os responsáveis para fazer o acompanhamento dos alunos e das atividades da sala. O coordenador em foco teve a oportunidade de se referir a um dos aspectos que difere significativamente do trabalho desenvolvido em outras escolas, relativo à preparação de monitores de Informática. A alternativa viabilizada nesse espaço escolar possibilitou a participação de um número maior de alunos, favorecendo a inclusão social e digital desse grupo. . No percurso da pesquisa outro aspecto positivo observado foi o curso promovido pela SME/RJ, que objetivou a capacitação de professores em Informática Educativa, indispensável, mas não suficiente, para a superação do problema citado anteriormente sobre a necessidade de preparação para utilizar as tecnologias.Vale assinalar que as dez Coordenadorias Regionais de Educação promoveram esses cursos; cada turma compunha-se até vinte 20 alunos, e a carga horária é de 40 horas. Os alunos/professores receberam diversos materiais didáticos. Nos encontros foram discutidas as práticas educativas, as metodologias e estratégias que o professor deve lançar mão, para que o aluno seja incluído nas diferentes linguagens, inclusive a digital. Analisaram-se abordagens teóricas de aprendizagem, entre as quais a instrucionista, a interacionista e a abordagem sócio-interacionista. Foram discutidas ainda questões sobre os softwares educacionais; e a elaboração de projetos e sites educacionais. Durante o curso de capacitação, houve possibilidades de se familiarizarem com a internet, trocando e-mails, e de elaborarem um projeto com os softwares a serem utilizados com os alunos, e também de criarem uma página no computador.Vale salientar que a dinâmica da professora responsável contribuiu para que, mesmo exaustos após uma semana de trabalho, muitos deles em dupla jornada, ali estivessem dando continuidade à sua formação. No decorrer dos encontros foram levantados pelos professores alguns problemas ligados à Informática, transcritos a seguir: P1-Falta de professores qualificados; P2 - 11 Falta de suporte técnico, gerando insegurança para operar o sistema P5 - Controle rígido da gestão escolar; P7 - Falta de prioridade da gestão para as inovações tecnológicas; P8 - Descontinuidade dos programas; P9 – A resistência e/ou falta tempo; P11 –A falta de gosto pela Informática; P13 – A preocupação do professor que não sabe o que fazer ou como fazer as atividades com o computador; P15 – O desconhecimento de Informática Educativa. Por outro lado, os encontros oportunizaram a escuta de diferentes pontos de vista dos cursistas participantes sobre aspectos relativos às suas preocupações. Alguns revelam o desconhecimento da máquina, como os registrados a seguir: P3 Quero conhecer a ligação da informática com a educação; P4 -Não tenho tempo para fazer faculdade sobre o assunto, e como sou diretora preciso conhecer; P6-Preciso me capacitar para ajudar meus alunos; P12-Não sei “mexer” no computador, mas quero aprender. P14-Tenho que me atualizar, preciso sair do analfabetismo digital. P15Preciso aprimorar os meus conhecimentos Diversos depoimentos mostram que alguns professores têm certa familiaridade com o computador, e outros ainda desejam ampliar seus conhecimentos, conforme pôde ser constatado nos depoimentos a seguir: P2-Desde 95 que uso o PC – ele é para mim uma ferramenta muito útil; P3 -Já fiz um curso de informática básica – é muita informação em pouco tempo; P6- Quero saber o que é Informática Educativa – já trabalho no laboratório da minha escola mais preciso explorá-lo melhor. P11 -Quero ajudar outros professores da minha escola a utilizar o computador. Um aspecto positivo observado como resultado do programa foi o encontro realizado em uma das escolas Pólo, com coordenadores e professores que estão à frente dos programas das salas pólo / Informática, para o qual fomos convidados. Teve como objetivo a apresentação dos projetos em desenvolvimento nessas escolas, oferecendo oportunidades de conhecer a diversidade de situações educacionais oferecidas pelo programa da SME/RJ. Entre os projetos podem ser citados: O uso da Informática nas aulas de Matemática; o projeto Memória, integrado com as aulas de História; o projeto Picharte, ligado à preservação do Espaço, desenvolvido no laboratório de Informática; o projeto Baú de Histórias, desenvolvido articulado às atividades de desenvolvimento da Linguagem, além de muitos outros, que revelaram a autoria e a criatividade dos coordenadores e professores que estão à frente do Programa em foco. Os resultados apresentados evidenciam a importância dos programas governamentais, tanto na esfera federal, quanto na estadual e na municipal para a 12 inclusão dos alunos da escola pública. Mesmo assim, os entraves observados indicam que ainda há muito a ser realizado, considerando os olhares dos participantes – coordenadores e professores envolvidos no estudo apresentado O percurso investigativo aqui delineado evidenciou que o problema apresenta muitos aspectos que merecem ser aprofundados. Consideramos que os dados coletados ainda não são insuficientes para que possamos apressar conclusões sobre a questão apresentada inicialmente, isto é: a inclusão digital dos alunos das escolas públicas no Ensino fundamental, no contexto das propostas governamentais. . No entanto, pudemos constatar pontos de vista dos participantes apontaram em relação a vários aspectos observados: a alternativa desenvolvida por um dos coordenadores das Salas de Leitura Pólo para a preparação de alunos-monitores na sala de Informática; a capacitação dos professores propiciada pela SME/RJ, os inúmeros projetos em desenvolvimento apresentados no âmbito do Programa. Os pontos de vista dos participantes expressos em suas falas mostraram os seguintes aspectos desfavoráveis convergentes no percurso investigativo: a falta de infra-estrutura física e de recursos humanos com competência específica para operacionalizar atividades com a Informática Educativa. Nosso ponto de vista sobre o que foi relatado, observado e analisado destaca sinais indicadores de mudanças em alguns espaços escolares, que favorecem a inclusão digital da população de crianças e jovens das escolas públicas.No entanto, ficou evidenciada a urgência de se dar continuidade aos citados programas, a fim de que, as iniciativas de êxito não se transformem em espaços de incertezas, decepções e desânimo para os que se empenharam em sua realização. REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003, 102 p. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Portugal: Edições 70, 1977, 228 p. BARRETO, Raquel Goulart. Tecnologias Educacionais e educação a distância: avaliando políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet,2001. BELLONI, Maria Luiza (org.) A formação na sociedade do espetáculo. São Paulo: Edições Loyola, 2002,188 p 13 BOGDAN, Robert & BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. 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Na fase preliminar foi constatado que as Salas Pólo de Leitura – programa oficial da Secretaria Municipal de Educação / Rio de Janeiro constitui um lócus para a aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação em situações educacionais, relacionados aos projetos elaborados pelas comunidades das escolas em tela.Surgem, nesses pólos, possibilidades de acesso dos alunos dessas escolas na rede, por meio do computador, o que aponta caminhos para a inclusão digital.