A Suzana – o cerco das terras camponesas e a destruição dos recursos naturais pela Suzano Papel e Celulose Em estudos realizados nos anos 80 (PAULA ANDRADE, 1982), (PAULA ANDRADE, 1983) (PAULA ANDRADE, 2007) analisamos as transformações provocadas pela chegada dos chamados gaúchos, ainda na década de 70, para a agricultura camponesa da mesorregião classificada pelo IBGE como Sul Maranhense. Mais tarde, no âmbito de outras pesquisas, centramos atenção no impacto da transformação do cerrado nativo em carvão vegetal, com vistas à siderurgia, tanto para a massa florestal do Leste Maranhense, quanto para a agricultura camponesa da região (PAULA ANDRADE, 1995a) (PAULA ANDRADE, 1995b). Em todas essas situações, distintas histórica e etnologicamente, e referidas a diferentes regiões do estado, buscamos destacar as transformações na estrutura agrária decorrentes da implantação de chamados grandes projetos – agropecuários, florestais e industriais – nas décadas de 70, 80 90 e, em decorrência, a crise ecológica (WOLF, 1984 p. 336) que se abateu sobre distintos segmentos camponeses aí presentes. Em todos os casos estava (e ainda está) em questão a destruição de recursos básicos necessários à reprodução camponesa, aspecto que hoje poderia ser pensado à luz das reflexões sobre justiça ambiental (PACHECO, 2007) (RIBEIRO E PACHECO, 2007). Mais que isto, estava em questão a destruição dos recursos específicos de áreas usufruídas em sistema de uso comum das terras, sobretudo daquelas classificadas como chapada, onde as famílias praticam o extrativismo do bacuri e de outras espécies vegetais. Totalmente articulada ao extrativismo, à produção de alimentos em base familiar foi inexoravelmente atingida, levando a pensar na situação de vulnerabilidade (ACSERALD, 2006) em que foram colocadas milhares e milhares dessas famílias. Naquele momento, tratamos de caracterizar o campesinato da região em questão e de refletir sobre a importância da articulação entre a apropriação familiar e o usufruto comum dos recursos básicos. Em alguns casos, buscamos, ainda, demonstrar a articulação entre posse e propriedade, tentando demonstrar que o uso comum da terra e de outros recursos naturais pode implicar em que um mesmo grupo familiar esteja envolvido em distintas situações jurídicas (PAULA ANDRADE, 1995). Ou seja, nos preocupamos em refletir sobre as estratégias camponesas diante do avanço do cercamento de áreas de cerrado – as chapadas – onde famílias camponesas exercem o extrativismo, a caça e a pequena criação de animais. Passados mais de vinte anos (em alguns casos quase trinta) da realização desses estudos, constatamos que os processos resultantes do açambarcamento das terras de uso comum e o desaparecimento de grupos camponeses continuam em curso. A destruição de sistemas de conhecimento da natureza deveras complexos – o saber local – ancorado nos lugares (ESCOBAR, 2000) (VAN der PLOEG, 2000) – nunca cessou. Todo esse processo assumiu novas características sem, contudo, desviar-se de seu rumo inicial – a expropriação camponesa e a devastação ambiental, com todas as suas conseqüências sociais. No Sul Maranhense, expandem-se os plantios de soja de uma forma avassaladora. No Leste, após a destruição de parte considerável da massa florestal do cerrado para produção de carvão vegetal, as empresas repassaram os chamados projetos de manejo florestal sustentado para outros grupos econômicos, que objetivam a produção de papel e celulose, como é o caso da Paineiras e da Suzano Papel e Celulose. Realizando pesquisa de campo, atualmente, nos municípios de Santa Quitéria e Chapadinha, no Leste Maranhense, constatamos o avanço dessa empresa sobre as terras camponesas, com destruição das áreas de extrativismo (chapadas) e cerco das terras agricultáveis (baixões). O objetivo desta apresentação é dar um panorama dos conflitos socioambientais gerados pela expansão do plantio de eucalipto na região, com apoio e subsídios oficiais, resultando na extinção de flora e fauna características do cerrado; na destruição de nascentes de grandes rios, como o Preguiças (Parque Nacional dos Lençóis); no açambarcamento da água dos povoados que ainda resistem na região, seja desviando-a para irrigar as plantações de eucalipto, seja sugando-a com caminhão pipa diretamente dos pequenos rios, lagoas e riachos dos quais se servem as famílias.