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Apocalipse
Já começou a catástrofe causada pelo aquecimento global, que se esperava para
daqui a trinta ou quarenta anos. A ciência não sabe como reverter seus efeitos. A
saída para a geração que quase destruiu a espaçonave Terra é adaptar-se a furacões,
secas, inundações e incêndios florestais.
URSOS CANIBAIS
O aquecimento global fez diminuir em 20% a calota polar ártica nas últimas três décadas,
reduzindo o território de caça dos ursos-polares. Muitos deles ficaram sem alimento. A
mudança radical de seu habitat provocada pelo homem está custando caro aos ursos.
Recentemente, no Mar de Beaufort, no Alasca, pesquisadores americanos que há 24 anos
estudam a região identificaram um caso inédito de canibalismo na espécie: duas fêmeas, um
macho jovem e um filhote foram atacados e comidos por um grupo de machos. Estimativas
apontam que os ursos-polares podem desaparecer em vinte anos.
A história do relacionamento entre o homem e a natureza é marcada pelo livro Silent Spring
(Primavera Silenciosa), de 1962. Nessa obra seminal, a bióloga americana Rachel Carson alertou
pela primeira vez para os perigos do uso indiscriminado de pesticidas, até então encarados pela
maioria das pessoas como uma bênção da ciência para solucionar o problema da fome. A descrição
dramática feita por ela das primaveras "sem cantos de pássaros" sacudiu a consciência das pessoas
em escala mundial e serviu de ponto de partida para o moderno movimento ambientalista. A nova
consciência ecológica abriu caminho para leis de controle dos pesticidas e para acordos
internacionais sobre o meio ambiente, como o que baniu a produção de químicos responsáveis pela
destruição da camada de ozônio. Quase cinqüenta anos depois, o entendimento sobre o fato de que
"somos parte do equilíbrio natural" – como definiu a bióloga – pode nos ser útil diante de uma
catástrofe global iminente provocada pelo aquecimento global. Como uma praga apocalíptica, as
mudanças climáticas já semeiam furacões, incêndios florestais, enchentes e secas com tal
intensidade que ninguém mais pode se considerar a salvo de ser diretamente atingido por suas
conseqüências.
Bobby Haas/National Geographic
SOLO QUE ARDE
Nas últimas três décadas, o total de terras atingidas por secas severas
dobrou em decorrência do aquecimento global. Na China, segundo o
mais recente estudo da ONU, todos os anos 10 000 quilômetros
quadrados em média – o equivalente a metade do estado de Sergipe – se
transformam em deserto. Na Etiópia (foto), secas anuais condenam 6
milhões de pessoas à fome. Na Turquia, 160 000 quilômetros quadrados
de terras cultiváveis sofrem com a desertificação gradativa e a
conseqüente erosão do solo.
O primeiro estudo rigoroso sobre o aquecimento global foi realizado por cientistas da
Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, em 1979. De lá para cá, ambientalistas e
governos debateram, quase sempre aos berros, questões que lhes pareciam básicas. Primeiro, o grau
de responsabilidade da ação humana. Segundo, se os efeitos das mudanças no clima da Terra são
iminentes. A terceira questão é o que pode ser feito para impedir que o problema se agrave. O
debate, nos termos descritos acima, está morto e enterrado. As pesquisas convergiram, além do
benefício da dúvida, para a constatação de que nenhuma influência da natureza poderia explicar
aumento tão repentino da temperatura planetária. Até os mais céticos comungam agora da idéia
apavorante de que a crise ambiental é real e seus efeitos, imediatos. O que divide os especialistas
não é mais se o aquecimento global se abaterá sobre a natureza daqui a vinte ou trinta anos, mas
como se pode escapar da armadilha que criamos para nós mesmos nesta esfera azul, pálida e frágil,
que ocupa a terceira órbita em torno do Sol – a única, em todo o sistema, que fornece luz e calor nas
proporções corretas para a manutenção da vida baseada no carbono, ou seja, nós, os bichos e as
plantas.
Daniel Betra/Greenpeace/Reuters
A BAIXA DO RIO
No Oceano Atlântico, a temperatura da água está meio grau mais alta
do que há vinte anos. Esse calor a mais altera o padrão de circulação
dos ventos, provocando deslocamento de massas de ar seco para a
região amazônica. A mudança impede a formação de nuvens,
causando a escassez de chuvas. Em 2005, o fenômeno provocou a
maior seca dos últimos quarenta anos na Amazônia. O Rio Amazonas
baixou 2 metros (foto). Mais de 35 municípios do Amazonas e do
Acre ficaram isolados, sem comida, água, luz ou transporte. A grande
seca pode se repetir a qualquer momento.
A VIDA EM UMA TERRA MAIS QUENTE
O que fazer para sair dessa crise é bem mais controverso, apesar de ninguém ignorar que,
para evitar que a situação piore, é preciso parar de bombear na atmosfera dióxido de carbono,
metano e óxido nitroso. Esses gases resultantes da atividade humana formam uma espécie de
cobertor em torno do planeta, impedindo que a radiação solar, refletida pela superfície em forma de
calor, retorne ao espaço. É o chamado efeito estufa, e a ele se atribui a responsabilidade pelo
aumento da temperatura global. Há um acordo internacional que estabelece metas de redução, o
Tratado de Kioto, assinado por 163 países e rejeitado pelos Estados Unidos, precisamente o país
que emite 25% de todo o gás carbônico. É mais uma razão para não esperar grande coisa de
documento. "Kioto tem um grande significado simbólico, mas suas metas são muito modestas",
pondera o americano Jonathan Overpeck, da Universidade do Arizona. No protocolo, que entrou em
vigor no ano passado, os países se comprometeram a reduzir em 5% as emissões de CO2 em relação
aos níveis de 1990. "Mesmo que todos os países interrompessem imediatamente a liberação de
gases do efeito estufa", disse a VEJA o americano John Reilly, diretor do programa de mudanças
climáticas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), "a atmosfera já está de tal forma
impregnada que a temperatura média do globo ainda subiria por mais 1 000 anos e o nível do mar
continuaria a se elevar por mais 2.000."
Na realidade, as emissões de gases estão subindo e as previsões são de mais calor. Como o
aquecimento global já é inevitável, cientistas e ambientalistas têm colocado uma nova questão na
linha de frente da batalha das mudanças climáticas: como se preparar e se adaptar à vida em um
planeta bem mais quente. O tema central desta reportagem não é a previsão de mau tempo no
futuro, ainda que este seja um de seus destaques. O que se lerá aqui diz respeito, sobretudo, ao
impacto do aquecimento global que já se faz sentir no mundo atual e como teremos de aprender a
viver com isso. A primeira coisa que precisa ser aprendida é como conviver com a fúria da natureza
injuriada. De acordo com um levantamento da Organização das Nações Unidas, em 2005 ocorreram
360 desastres naturais, dos quais 259 diretamente relacionados ao aquecimento global. O aumento
foi de 20% em relação ao ano anterior. No início do século XIX, de acordo com alguns
historiadores, dificilmente havia mais de meia dúzia de eventos de grandes dimensões em um ano.
No total, foram 168 inundações, 69 tornados e furacões e 22 secas que transformaram a vida de 154
milhões de pessoas.
Fotos Image.net
O SUMIÇO DO GELO
O norte dos Andes é a região de maior concentração de glaciares nos trópicos. Só no Peru
existem 3 044 deles. Até a década de 80, essas geleiras incrustadas no interior das cordilheiras,
remanescentes da era glacial, permaneciam praticamente inalteradas. Um estudo recente da
ONU concluiu que houve uma drástica redução das áreas dos glaciares peruanos nos últimos
quinze anos por causa das mudanças climáticas. Nas fotos, tiradas no mesmo mês de anos
diferentes, a redução de um glaciar da Cordilheira Branca.
AS SEIS PRAGAS DO AQUECIMENTO
Seis mudanças de grandes proporções causadas pelo aquecimento global estão relacionadas
a seguir. Todas estão ocorrendo agora, afetam não apenas o clima mas perturbam a vida das pessoas
e têm como única previsão futura o agravamento da situação. É assustador observar que eventos
assim, de dimensões ciclônicas, sejam o resultado do aumento de apenas 1 grau na temperatura
média da Terra, uma fração do calor previsto para as próximas décadas.
• O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de
8% ao ano há três décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979,
uma redução de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da
França, da Alemanha e do Reino Unido.
• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das
categorias 4 e 5 – os mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que
destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa nova realidade.
• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil
foi varrido por um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades
similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema veio para ficar.
• O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20
centímetros. Em certas áreas litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço
de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU estima que o nível das águas subirá 1 metro até o
fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser protegidas por diques.
• Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da
superfície do planeta é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000
quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao território do Líbano.
• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem
anualmente por causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao
aquecimento global. Em 2030, o número dobrará.
Fotos National Snow And Ice Data Center (NSIDC)
DESASTRE NO ALASCA
No Alasca, onde as temperaturas médias do inverno aumentaram 4
graus nos últimos cinqüenta anos, a paisagem se modificou por
completo. A camada de gelo que cobre o mar desapareceu em
algumas regiões (nas fotos, o glaciar Muir com a diferença de 63
anos). No passado, 10 milhões de quilômetros quadrados do Oceano
Ártico permaneciam congelados durante o verão. Hoje, segundo
estudos do Arctic Climate Impact Assessment, a área congelada é
pelo menos 30% menor.
O PLANETA É GIGANTE, O EQUILÍBRIO É FRÁGIL
Em escala geológica, a temperatura da Terra sempre funcionou como um relógio pontual. A
cada 100.000 anos, mudanças sutis na órbita do planeta e na sua inclinação em relação ao Sol
provocam uma queda na temperatura e fazem com que as massas de gelo dos pólos aumentem de
tamanho e se aproximem da linha do Equador. São as glaciações. A última terminou há 10.000
anos. Foi nessa pequena janela geológica entre o fim da última era glacial e hoje, marcada por
temperaturas amenas, que a humanidade desenvolveu a agricultura, construiu as cidades e viajou à
Lua. Nos últimos 120 anos, com o relógio fora de ordem devido à atividade humana, a temperatura
média do planeta aumentou 1 grau. Pode parecer pouco, mas mudanças climáticas dessa magnitude
têm conseqüências drásticas. Há 12.000 anos, quando a temperatura média era apenas 3 graus mais
baixa que a atual, uma camada de gelo cobria a Europa até a França. Uma vez alterado, o
mecanismo natural do clima, dizem os cientistas, não é fácil de ser reajustado. "Ao quebrar o
equilíbrio climático, a humanidade mexeu com processos que não conhece por completo e que estão
fora do alcance e da capacidade da mais avançada tecnologia", analisa o geofísico Paulo Eduardo
Artaxo, da Universidade de São Paulo.
Os gases responsáveis pelo aquecimento excessivo são produzidos pelos combustíveis
fósseis usados nos carros, nas indústrias e nas termelétricas e pelas queimadas nas florestas.
Processos naturais, como a decomposição da matéria orgânica e as erupções vulcânicas, produzem
dez vezes mais gases que o homem. Por eras, garantiram sozinhos a manutenção do efeito estufa,
sem o qual a vida não seria possível na Terra. Para se manter em equilíbrio climático, o planeta
precisa receber a mesma quantidade de energia que envia de volta para o espaço. Se ocorrer
desequilíbrio por algum motivo, o globo esquenta ou esfria até a temperatura atingir, mais uma vez,
a medida exata para a troca correta de calor. O equilíbrio natural foi rompido pela revolução
industrial. Desde o século XIX, as concentrações de dióxido de carbono no ar aumentaram 30%, as
de metano dobraram e as de óxido nitroso subiram 15%. A última vez em que os níveis de gases do
efeito estufa estiveram tão altos quanto agora foi há 3,5 milhões de anos. O ano passado foi o mais
quente desde que as temperaturas começaram a ser registradas, em 1866. Pelo que se sabe, o planeta
está mais quente do que já foi em qualquer momento dos últimos dois milênios. Se mantiver o ritmo
atual, no fim do século a temperatura média será a mais elevada dos últimos 2 milhões de anos.
EFEITO IRREVERSÍVEL?
Sabe-se que o próximo relatório do Painel Internacional de Mudança Climática (IPCC,) das
Nações Unidas, a mais respeitada autoridade em aquecimento global, a ser divulgado em 2007,
depois de revisto pelos cientistas e pelos órgãos governamentais, deve estimar um aumento na
temperatura média do planeta entre 2 e 4,5 graus até 2050. "Dois graus é uma barreira psicológica
para os cientistas", diz Marc Lucotte, diretor do Instituto de Ciências do Ambiente da Universidade
de Quebec, no Canadá. Acima desse patamar, a probabilidade de ocorrerem tragédias muito maiores
que as observadas em anos recentes, como inundações, secas, ondas de calor, furacões e epidemias,
aumenta muito. "Aí será tarde demais para tentar uma volta atrás", afirma o ambientalista Carlos
Rittl, coordenador da campanha de clima do Greenpeace no Brasil. Na pior das hipóteses, um
aumento de 4 graus iria igualar as temperaturas do Ártico aos patamares registrados há 130.000
anos, segundo um estudo feito com base em análises geológicas por cientistas da Universidade do
Arizona e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos. Nesse passado
distante, o nível dos oceanos era 6 metros mais alto e a camada de gelo do Ártico praticamente
havia desaparecido. "Isso não significa que o nível do oceano subirá imediatamente a 6 metros
quando o termômetro registrar um aumento de 4 graus na temperatura", disse a VEJA Jonathan
Overpeck, um dos coordenadores do estudo. "Mas a partir de então o processo de derretimento dos
glaciares será rápido e irreversível."
Irreversível? Muitos cientistas começam a acreditar que as mudanças climáticas chegaram a
um ponto de não-retorno. Esse fenômeno leva agora o nome de tipping point, termo em inglês
popularizado como título de livro por Malcolm Gladwell, escritor badalado de Nova York. Em
ciência, significa o momento em que a dinâmica interna passa a encarregar-se de uma mudança
iniciada previamente por forças externas. Em vários aspectos já cruzamos o limite sem volta. A
limpeza da atmosfera é tarefa para gerações. O degelo nas regiões polares está além do tipping
point. Obviamente, como conseqüência do volume de água do degelo, os oceanos continuarão a
subir. O aquecimento dos mares alimentará novos furacões, aumentando a capacidade destrutiva
desses fenômenos meteorológicos. "A violência desses desastres naturais só pode ser atenuada se
houver uma redução na temperatura da água, o que parece improvável", afirma o biólogo americano
Thomas Lovejoy, presidente do Centro Heinz para a Ciência, em Washington. Recentemente,
Lovejoy constatou um novo efeito desastroso do excesso de gás carbônico: os mares estão ficando
mais ácidos. As alterações no PH marítimo levam à redução do número de moluscos e plânctons,
que estão na base da alimentação dos ecossistemas marítimos, e ameaçam aniquilar os recifes de
corais. Obviamente, não há muito que se possa fazer para salvar a vida marinha.
Tom Ondway/AP
AGONIA SUBMARINA
O excesso de gás carbônico na atmosfera está tornando os oceanos
mais ácidos. Isso enfraquece os corais, viveiros do mar, e os
plânctons, base da cadeia alimentar subaquática.
UM PACTO GLOBAL PELA SALVAÇÃO
O derretimento dos glaciares, concordam os especialistas, já atingiu dinâmica própria,
impossível de ser freada. O impacto do aquecimento global pode ser percebido em toda parte, mas
não há nada mais explícito que a redução das geleiras e do Ártico. Praticamente todos os glaciares
da Terra estão encolhendo. Dos 150 que existiam no Glacier National Park, nos Estados Unidos, em
1880, restam cinqüenta, e a estimativa é que o último desaparecerá até 2030. O mesmo se vê nos
Andes, na Patagônia e nos Alpes. Blocos de gelo do tamanho de pequenos países têm se
desprendido da Antártica e boiado no Atlântico Sul até se dissolver no mar. Nos últimos cinqüenta
anos, o volume de gelo no Ártico caiu quase à metade e, nessa velocidade, terá desaparecido
totalmente no verão de 2080. Segundo um estudo do meteorologista americano Eric Rignot, da
Nasa, o ritmo do derretimento da cobertura de gelo da Groenlândia dobrou nos últimos dez anos.
Segundo o IPCC, o nível dos mares subiu entre 10 e 20 centímetros no último século. O aumento
decorre da combinação do aquecimento das águas – e sua conseqüente expansão – com o
derretimento do gelo nos pólos e nas montanhas. A estimativa é que suba mais 1 metro até o fim do
século. Caso a camada de gelo da Groenlândia, que chega a 3,2 quilômetros de espessura em alguns
pontos, derreta por completo, o nível do mar atingirá 7 metros. Cidades como Recife e Parati
precisariam de diques de 8 metros de altura para sobreviver.
O cenário é adverso, mas não justifica a inércia. Os recursos para reduzir os efeitos
colaterais do aquecimento são conhecidos. Basicamente, é necessário encontrar um uso mais
eficiente de energia e diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Cerca de 75%
desses gases vêm do combustível fóssil utilizado na produção de energia, nas indústrias e nos
automóveis. Outros 25% são provenientes das queimadas – talvez o item mais fácil de consertar. Há
preocupação real entre os governos. Vários países estão reconsiderando a energia nuclear, que hoje
provê 16% do total. Só a China quer construir 32 usinas até 2020. Os Estados Unidos estão
interessados em produzir combustível para carros usando milho, da mesma maneira que o Brasil faz
com a cana. Mas nenhum país vai muito longe porque as alternativas custam caro e os riscos para a
economia são altos. Campanhas de ONGs e ambientalistas propõem que cada pessoa faça sua parte,
como deixar o carro na garagem alguns dias por semana. São atitudes louváveis, mas de pouco
efeito prático. "São necessárias grandes estratégias e investimentos pesados para transformar o
modo como o mundo viveu nos últimos vinte anos", define o americano John Reilly, do MIT. Por
isso, frear o ritmo do aquecimento global exige o envolvimento de governos. Não é o caso de pôr
todos eles a negociar, como ocorreu em Kioto, e convencê-los de que é hora de ajudar o planeta.
Haveria tantos interesses divergentes que um consenso seria praticamente impossível. "Na
realidade, para resolver o problema do efeito estufa bastaria um acordo entre as dez ou vinte
maiores economias", diz David Keith, presidente do Conselho de Energia e Meio Ambiente do
Canadá. Trata-se dos maiores poluidores e também são países que têm tecnologia e dinheiro para
mudar o padrão energético.
OS MAUS TRIPULANTES
Os seres humanos se adaptaram aos novos ambientes – essa é a chave do sucesso evolutivo
da espécie. Mas um mundo mais quente pode ser cheio de surpresas – a maioria delas desagradável.
Há quatro anos, os canadenses precisaram se acostumar com a visão de urubus no verão, um
fenômeno inédito. Esses pássaros preferem as regiões mais quentes e nunca eram vistos em
latitudes tão altas. No Brasil, uma elevação de apenas 1 grau reduziria a área propícia para o cultivo
do café em 32%. Se o aumento do calor for de 3 graus, a redução será de 58%. "Em dias com mais
de 34 graus, as flores do café abortam os grãos e a produtividade cai drasticamente", diz Hilton
Silveira Pinto, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Eu não ficaria
surpreso se tivéssemos de importar café da Argentina." Com um aumento de 3 graus, haverá uma
redução de 20% na produção de arroz; na de feijão, de 11%; e na de milho, de 7%. A temperatura
mais alta pode tornar o Sul e o Sudeste atrativos para mosquitos que transmitem doenças hoje
típicas da Amazônia e do Centro-Oeste. Centros de saúde terão de se preparar para atender casos de
malária e de dengue. Em vinte anos, o mar estará 8 centímetros mais alto na costa brasileira. Essa
pequena diferença poderá fazer com que, quando a maré estiver alta, as ondas invadam o litoral.
"Será preciso construir diques em Parati e no Recife", afirma Afrânio Mesquita, oceanógrafo da
Universidade de São Paulo. "Teremos de aprender com a Holanda, que tem vastas áreas abaixo do
nível do mar." Adaptar-se ao clima mais quente parece ser viável para a humanidade. Se é o que nos
resta fazer, teremos de fazê-lo. Isso não nos livrará, porém, da condenação das gerações futuras.
Seremos sempre estigmatizados como os tripulantes que por pouco não destruíram o único, pálido,
frágil e azul oásis de vida na imensidão do universo.
OS VERDES CHEGAM A WALL STREET
Image.Net
O GURU DA TURMA
Gore: palestras para convencer empresários de que investir em
energia limpa é bom negócio
Há décadas os ambientalistas alertam para os riscos da escalada do aquecimento global, mas
seus argumentos raramente foram ouvidos. Pudera. As soluções apresentadas para acabar com o
efeito estufa passavam por fechar indústrias, prejudicar economias e sacrificar parte do bem-estar
conquistado pela humanidade ao longo do século XX. Agora que as conseqüências do aquecimento
se abatem sobre várias regiões do globo e os governos se mobilizam em torno da questão por meio
do Tratado de Kioto, o ambientalismo começa a conquistar seus mais céticos opositores: os grandes
empresários e investidores. Parte deles acredita que a produção de energia limpa pode se
transformar num excelente negócio, sem que para isso seja preciso abrir mão das premissas
sagradas do capitalismo. Esses empresários avaliam que, como diz John Doerr, um dos grandes
investidores do Vale do Silício, "a revolução verde pode se tornar a grande oportunidade
empresarial do século XXI".
À frente desse movimento, que vem sendo chamado de nova revolução verde, está o exvice-presidente americano Al Gore. Afastado dos cargos públicos desde que perdeu a disputa pela
Casa Branca para George W. Bush, em 2000, Gore se transformou num pregador incansável em
favor da salvação do planeta por meio de investimentos em novas tecnologias e modelos de
negócios. Nos últimos anos, ele já fez mais de 1000 palestras em empresas e universidades,
discursando sobre as conseqüências das mudanças climáticas e o que pode ser feito para combatêlas. Há três semanas, estreou nos cinemas americanos o documentário Aquecimento Global, uma
Verdade Inconveniente, que tem Gore como protagonista e é amplamente baseado em suas
palestras. A fita tem ajudado a imprimir a Gore uma certa aura de astro e guru. Ao comparecer à
apresentação do filme em Cannes, no mês passado, ele atraiu mais atenção do que celebridades
como Penélope Cruz e Tom Hanks.
Para provar que investir no verde pode ser um bom negócio, há dois anos Gore abriu com
outros sócios a empresa Generation Investment Management, um fundo que administra 200 milhões
de dólares aplicados em produção de energia sustentável. Também em sociedade com investidores,
comprou por 70 milhões de dólares um canal de TV a cabo destinado a divulgar causas ecológicas.
Negócios como esses seriam impensáveis até poucos anos atrás, quando a imagem que Wall Street
tinha dos ambientalistas era a de um bando de chatos usando sandálias e rabo-de-cavalo.
Revista Veja. Edição 1961. 21 de junho de 2006. Editora abril.
AS SEIS PRAGAS DO AQUECIMENTO
Seis mudanças de grandes proporções causadas pelo aquecimento global estão relacionadas a seguir. Todas
estão ocorrendo agora, afetam não apenas o clima mas perturbam a vida das pessoas e têm como única previsão futura o
agravamento da situação. É assustador observar que eventos assim, de dimensões ciclônicas, sejam o resultado do
aumento de apenas 1 grau na temperatura média da Terra, uma fração do calor previsto para as próximas décadas.
• O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três
décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhão de
quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.
• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os
mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra
dessa nova realidade.
• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por um forte
ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade,
mostra que o problema veio para ficar.
• O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20 centímetros. Em certas áreas
litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU
estima que o nível das águas subirá 1 metro até o fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser
protegidas por diques.
• Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da superfície do planeta
é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao
território do Líbano.
• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem anualmente por
causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento global. Em 2030, o número
dobrará.
AS SEIS PRAGAS DO AQUECIMENTO
Seis mudanças de grandes proporções causadas pelo aquecimento global estão relacionadas a seguir. Todas
estão ocorrendo agora, afetam não apenas o clima mas perturbam a vida das pessoas e têm como única previsão futura o
agravamento da situação. É assustador observar que eventos assim, de dimensões ciclônicas, sejam o resultado do
aumento de apenas 1 grau na temperatura média da Terra, uma fração do calor previsto para as próximas décadas.
• O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três
décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhão de
quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.
• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os
mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra
dessa nova realidade.
• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por um forte
ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade,
mostra que o problema veio para ficar.
• O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20 centímetros. Em certas áreas
litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU
estima que o nível das águas subirá 1 metro até o fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser
protegidas por diques.
• Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da superfície do planeta
é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao
território do Líbano.
• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem anualmente por
causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento global. Em 2030, o número
dobrará.
O planeta terra está esquentando!
Os dias mais quentes foram registrados durante esta última década. A previsão é de que até o ano de 2100 as
temperaturas estarão destinadas a aumentarem até seis graus, o que poderia trazer conseqüências devastadoras.
Os cientistas dizem que alguns fenômenos naturais como erupções vulcânicas possuem um efeito temporário sobre
o clima. Porém, afirmam também que o clima está sofrendo mudanças por causa do aquecimento global.
Qual a causa do aquecimento da terra?
Em geral, é a liberação de gases e vapores produzidos através de queimadas nas matas, poluição provocada
por carros e industrias, que são os grandes culpados disso tudo. Com isso eles destroem “camada de Ozônio“ que tem a
função de proteger a terra dos raios solares. Com a destruição dessa camada a terra fica mais exposta ao sol, e
conseqüentemente, a temperatura aumenta.
Quando o sol esquenta a terra, alguns gases da atmosfera atuam como um vidro de uma estufa, absorvendo o
calor e conservando o planeta quente o suficiente para manter a vida na terra. O problema acontece devido às
concentrações excessivas dos “gases estufa” que isolam a terra evitando que o calor escape, o que faz com que a
temperatura do planeta aumente assustadoramente.
Que conseqüências o aquecimento da Terra pode provocar?
Alguns cientistas calculam um aumento de seis graus centígrados durante este século.
Se isso acontecer, as conseqüências em 2050 seriam catastróficas.
As geleiras (calotas polares) derreterão e com isso o nível do mar subirá causando inundações colocando em
risco a vida da população das zonas costeiras, inclusive as grandes cidades; grandes alterações climáticas, em relação às
chuvas e secas, provocando muitos prejuízos a agricultura; o avanço do deserto através da Europa; terremotos; ondas
gigantescas (Tsunamis, como aconteceu recentemente na Ásia). E ainda, a falta de água mundial, o que significa o fim,
já que sem a água, não há vida na terra. Estes são apenas alguns dos desastres que poderiam acontecer.
Existe algo a fazer?
Para reverter os efeitos do aquecimento global é preciso reduzir a quantidade de carbono e de outros gases químicos
destruidores lançados na atmosfera em todo o mundo.
Em 1997, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou o tratado de Kioto, assinado no Japão. Este tratado
obriga legalmente a todas as nações industrializadas a diminuir em 5, 2%, entre 2008 e 2012, o lançamento dos gases
estufa na atmosfera. Porém, os Estados Unidos, responsável por cerca de 30% de todos os poluentes lançados na
atmosfera, não assinaram o protocolo. O pior, é que talvez nem os países que assinaram consigam cumprir as metas de
diminuição. Os gases lançados na atmosfera podem permanecer por lá durante um ou mais séculos. Para que houvesse
uma mudança significativa, deveria haver uma diminuição de 60% desses gases lançados.
O aquecimento global, não é um problema individual. É preciso haver logo uma conscientização da população
mundial para que ainda se possa fazer algo. É uma luta contra o tempo, como se uma “bomba do tempo” estivesse
ativada, correndo o risco de explodir a qualquer momento.
Texto de Cássia Nunes revisado por Ivana Silva
O planeta terra está esquentando!
Os dias mais quentes foram registrados durante esta última década. A previsão é de que até o ano de 2100 as
temperaturas estarão destinadas a aumentarem até seis graus, o que poderia trazer conseqüências devastadoras.
Os cientistas dizem que alguns fenômenos naturais como erupções vulcânicas possuem um efeito temporário sobre
o clima. Porém, afirmam também que o clima está sofrendo mudanças por causa do aquecimento global.
Qual a causa do aquecimento da terra?
Em geral, é a liberação de gases e vapores produzidos através de queimadas nas matas, poluição provocada
por carros e industrias, que são os grandes culpados disso tudo. Com isso eles destroem “camada de Ozônio“ que tem a
função de proteger a terra dos raios solares. Com a destruição dessa camada a terra fica mais exposta ao sol, e
conseqüentemente, a temperatura aumenta.
Quando o sol esquenta a terra, alguns gases da atmosfera atuam como um vidro de uma estufa, absorvendo o
calor e conservando o planeta quente o suficiente para manter a vida na terra. O problema acontece devido às
concentrações excessivas dos “gases estufa” que isolam a terra evitando que o calor escape, o que faz com que a
temperatura do planeta aumente assustadoramente.
Que conseqüências o aquecimento da Terra pode provocar?
Alguns cientistas calculam um aumento de seis graus centígrados durante este século.
Se isso acontecer, as conseqüências em 2050 seriam catastróficas.
As geleiras (calotas polares) derreterão e com isso o nível do mar subirá causando inundações colocando em
risco a vida da população das zonas costeiras, inclusive as grandes cidades; grandes alterações climáticas, em relação às
chuvas e secas, provocando muitos prejuízos a agricultura; o avanço do deserto através da Europa; terremotos; ondas
gigantescas (Tsunamis, como aconteceu recentemente na Ásia). E ainda, a falta de água mundial, o que significa o fim,
já que sem a água, não há vida na terra. Estes são apenas alguns dos desastres que poderiam acontecer.
Existe algo a fazer?
Para reverter os efeitos do aquecimento global é preciso reduzir a quantidade de carbono e de outros gases
químicos destruidores lançados na atmosfera em todo o mundo.
Em 1997, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou o tratado de Kioto, assinado no Japão. Este tratado
obriga legalmente a todas as nações industrializadas a diminuir em 5, 2%, entre 2008 e 2012, o lançamento dos gases
estufa na atmosfera. Porém, os Estados Unidos, responsável por cerca de 30% de todos os poluentes lançados na
atmosfera, não assinaram o protocolo. O pior, é que talvez nem os países que assinaram consigam cumprir as metas de
diminuição. Os gases lançados na atmosfera podem permanecer por lá durante um ou mais séculos. Para que houvesse
uma mudança significativa, deveria haver uma diminuição de 60% desses gases lançados.
O aquecimento global, não é um problema individual. É preciso haver logo uma conscientização da população
mundial para que ainda se possa fazer algo. É uma luta contra o tempo, como se uma “bomba do tempo” estivesse
ativada, correndo o risco de explodir a qualquer momento.
Texto de Cássia Nunes revisado por Ivana Silva
 Quanto você contribui para o aquecimento global?
Se você pensa em chaminés industriais quando alguém fala em aquecimento global, saiba que, todos os anos,
cada “pessoa física” do planeta produz, em média, 7 toneladas de gás carbônico. A estimativa, feita pela ONU, não
inclui fábricas e usinas, só a soma de todas as emissões que as pessoas provocam ao ligar o carro, acender o fogão ou
comer carne. Somadas, elas são responsáveis por 0,9% das gigatoneladas anuais de gás carbônico que a humanidade
joga na atmosfera (número semelhante à emissão de fenômenos naturais, como vulcões e incêndios florestais). “O
impacto pessoal na formação do efeito estufa é muito grande. Quanto mais prejudicamos o clima, fica mais urgente
ainda tomar uma atitude”, diz Osvaldo Martins, da ONG Iniciativa Verde.
Não há mais dúvida de que o homem é responsável pelas alterações que o clima do planeta sofreu nos últimos
50anos. De acordo com o relatório Mudanças Climáticas 2007, as chances são de mais de 90%. “Mesmo que as
emissões de gases na atmosfera fossem reduzidas em 60% para que o planeta recuperasse o equilíbrio, já
experimentaremos um aumento de 0,1ºC na temperatura a cada década durante os próximos 100 anos”, diz Carlos
Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A melhor atitude a se tomar é diminuir a emissão pessoal
de gás carbônico.
Cada habitante na terra libera em
média 7 toneladas/ano de gás
carbônico.
Para compensar os efeitos dessa
emissão, seria preciso plantar
38,9 árvores.
Fonte: Revista Super Interessante. Março de 2007.P.38-9.
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