Asiáticos dão lições de ajuste econômico rápido GILSON SCHWARTZ da Equipe de Articulistas O governo japonês está lançando mais uma ofensiva para tirar o país da estagnação. São três frentes de ataque simultâneas: redução das taxas de juros, financiamento público à reestruturação do sistema industrial e programa de saneamento dos bancos, também com recursos do governo. Se desta vez funcionar, até o final do ano a crise asiática poderá transformar-se em mais um capítulo na história de desafios vencidos na região. Além do Japão, os governos de várias outras economias asiáticas estão dando impressionantes lições de ajuste econômico rápido e ofensivo. A China, que continua mantendo um controle bastante estrito sobre fluxos de capital e comércio, está promovendo uma ampla reestruturação do seu setor produtivo estatal. É um modelo diferente da privatização ocidental. As empresas e bancos estatais mais frágeis são fechados, enquanto o governo fortalece instituições consideradas estratégicas. Se isso resultar numa fila de credores estrangeiros descontentes, paciência. Em primeiro lugar estão os objetivos de fortalecimento do projeto nacional chinês. Na China, o setor privado segue seu curso, em áreas autorizadas pelo governo central. Enfim, não é bem uma privatização, mas sim fortalecimento simultâneo do setor estatal e do privado. A Coréia do Sul já dá sinais de recuperação dos investimentos e acumula um nível recorde de reservas internacionais. Como no Japão e na China, o governo vem patrocinando um fortalecimento dos conglomerados do país. Além da ação positiva dos governos, os asiáticos tendem agora a se beneficiar da queda nos preços de matérias-primas. Máquinas exportadoras montadas em cima da reciclagem de insumos e em muitos casos voltadas à industrialização de ponta, as economias asiáticas são ajudadas pela redução nos custos de produção. A recuperação dos preços de chips e a expansão dos setores de alta tecnologia nos EUA ajudam. A crise asiática foi causada por excesso de investimento. Em seu relatório recente sobre a região, o FMI diz que só na Tailândia havia um problema de atraso cambial mais sério. Nos outros países, a forte entrada de capitais internacionais nos anos 90 causou especulação imobiliária e fragilização dos sistemas financeiros. Isso joga por terra a receita recessiva do FMI. Nem mesmo a questão fiscal era séria em vários países, ao contrário da propaganda ocidental após a crise, que atribuía os problemas à corrupção e ao estatismo asiáticos. A superação da crise é possível somente com retomada do crescimento, taxas de juros declinantes e redução dos excessos de capacidade produtiva (ajuste patrimonial bancado pelo Estado). Ao receitar ajuste fiscal e recessão, o FMI piorou as coisas, tornando ainda mais frágeis as instituições financeiras e mais remotas as possibilidades de pagamento das dívidas das empresas. Embora esses fatores sugiram um cenário de recuperação para a Ásia, é importante lembrar que nos últimos dois anos a economia mundial, em especial os EUA, cresceu vigorosamente. Ou seja, os asiáticos tiveram o benefício simultâneo de custos em queda e demanda forte por suas exportações. A economia norte-americana está exuberante, mas continua crescendo o número de observadores que consideram esse ambiente irracional. Cresce também o número de economistas que assinalam o fim do ciclo de redução de juros nos EUA. Na UE, o novo banco central resiste a reduzir os juros. Em suma, talvez seja cedo para tirar lições do ajuste asiático. A única certeza é que esperar sentado pela melhoria do ambiente internacional é a pior coisa a fazer.