VARIAÇÃO SAZONAL DE VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS EM ECOSSISTEMA DE MANGUEZAL NA REGIÃO BRAGANTINA - PA. João de Athaydes Silva Junior1, Antônio Carlos Lola da Costa2, Paulo Henrique Lopes Gonçalves3, Alan Pantoja Braga4, Rafael Ferreira da Costa5, Euclysanor Gesta Reis6, José Maria Nogueira da Costa7, Patrick Meir8, Yadvinder Malhi9 ABSTRACT The city of Bragança is located to the Northeast of the State of Pará, distant about 200 km of the capital, Belém. Rivers, fens and igarapés cut the city. The possible exuberant conversion of mangroves in mangroves degraded can influence decisively in the regional and local climate. The mangroves are very productive coastal ecosystems, for offering to vital space for numerous species of fish, clams and crabs, presenting high income fishing boat and thus representing, the base of subsistence for great part of the population local, being one of ecosystems most productive of the planet. The study of the sazonalidade of the climate of these regions it is important for one better understanding of these complex ecosystems. This mangrove presents a forest with average canopy of 18 m of height and trees that reach up to 25 m. The analyses presented in this work mention information to it gotten during the dry period and the rainy one in the year of 2003. RESUMO O município de Bragança está localizado à Nordeste do Estado do Pará, distante cerca de 200 km da capital, Belém. O município é cortado por rios, mangues e igarapés. A possível conversão de manguezais exuberantes em áreas degradadas pode influenciar em variações climáticas regional e local. Os manguezais são ecossistemas costeiros muito produtivos, por oferecerem espaço vital para numerosas espécies de peixes, moluscos e caranguejos, apresentando alto rendimento pesqueiro e 1 Universidade Federal do Pará, CG/DM, Rua Augusto Corrêa, nº 1, CEP 66075-110, Belém-PA, Fone: +55 (91) 2111207, e-mail: [email protected] 2 Universidade Federal do Pará, CG/DM, e-mail: [email protected] 3 Universidade Federal do Pará, CG/DM, e-mail: [email protected] 4 Universidade Federal do Pará, CG/DM, e-mail: [email protected] 5 Universidade Federal de Campina Grande,DCA , e-mail: [email protected] 6 Universidade Federal do Pará, CG/DM, e-mail: [email protected] 7 Universidade Federal de Viçosa, e-mail: [email protected] 8 University of Edinburgh, e-mail: [email protected] 9 University of Edinburgh, e-mail: [email protected] representando assim, a base de subsistência para grande parte da população local. O estudo da sazonalidade do clima deste ecossistema poderá proporcionar uma melhor compreensão destes complexos ecossistemas. Este manguezal apresenta uma floresta com dossel médio de 18 m de altura e árvores que alcançam até 25 m. As análises apresentadas neste trabalho referem-se a informações obtidas durante o período seco e o chuvoso do ano de 2003. INTRODUÇÃO O Estado do Pará possui extenso território e nele encontram-se diferentes ecossistemas, dentre os quais destacamos os manguezais. A costa Nordeste do Estado do Pará possui extensas florestas de manguezais, sendo que esse ecossistema exerce papel preponderante na cadeia alimentar costeira e na plataforma continental, exercendo um papel de berçário natural para reprodução de várias espécies. As florestas de manguezais cobrem mais de 100.000 km² das costas Tropicais do mundo. Esse ecossistema é de fundamental importância para o equilíbrio costeiro, pois o ecossistema é o abrigo para inúmeras variedades de plantas, animais e microorganismos, que são altamente adaptados a variações diárias de marés. Os manguezais também possuem um sistema produtivo de variadas e numerosas espécies de peixes, moluscos e caranguejos, que possuem valor econômico, e é à base da sustentabilidade de grande parte da população local. Em diversas regiões onde são encontrados os manguezais, a especulação imobiliária, o turismo e o crescimento desordenado das grandes cidades tem causado degradação ambiental progressiva. O município de Bragança está localizado à Nordeste do Estado do Pará, com uma população de 93.779 pessoas (censo 2000) e uma área de 3.258 km2, cujas coordenadas são de 01º03’S e longitude de 46º46’W. Sua localização à margem do rio Caeté, foi o que lhe rendeu o apelido carinhoso de "Pérola do Caeté". A cidade é uma das mais antigas do Estado do Pará, com quase 380 anos de história. História que começou no século XVII, mais precisamente em 1622, quando o território de Bragança pertencia à Capitania do Gurupi. A área foi doada por Felipe III, da Espanha, a Gaspar de Souza, Governador Geral do Brasil. Anos depois, em 1634, o filho de Gaspar de Sousa, Álvaro de Souza, fundou ali, à margem direita do rio Caeté, o que seria o primeiro povoado de Bragança. Contudo, devido às dificuldades de comunicação com Belém, o núcleo habitacional foi transferido para o lado esquerdo do rio, onde, atualmente, está localizada a sede municipal de Bragança, que só tornou-se verdadeiramente cidade em 1854 por decreto do então presidente da Província, tenente-coronel Sebastião do Rego Barros. Por se localizarem em regiões litorâneas, os ecossistemas de manguezais estão sujeitos a fortes influências dos ventos. Entre os principais fatores está a brisa marítima decorrente do gradiente térmico oceano-continente. A caracterização eólica destas regiões é importante para uma melhor compreensão destes complexos ecossistemas. O vento influencia no crescimento da vegetação por ser um mecanismo de transporte de dióxido de carbono (CO2), vapor d’água e calor sensível entre a vegetação e a atmosfera. O Projeto LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-atmosfera na Amazônia) opera um sítio experimental na região com uma torre micrometeorológica de 25 metros de altura e onde estão sendo realizadas medições micrometeorológicas usando-se uma estação meteorológica automática. As espécies vegetais predominantes são: Mangue Vermelho (Rhizophora mangle), Siriúba (Avicennia germinans) e Mangue Branco (Laguncularia racemosa). Palavras chave: Manguezal, Meteorologia. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A atmosfera apresenta movimentos em resposta à diferença de pressão entre duas regiões. A causa principal das diferenças de pressão é a absorção diferencial da radiação solar na superfície. Em termos de macroescala, os raios solares são mais intensos na região equatorial do que nos pólos. RIBEIRO, 2001, estudou o comportamento do vento em áreas de manguezais na região Bragantina e observou que a sua predominância é de NE. Em relação ao curso diário da velocidade do vento, este acompanha as variações do balanço de radiação, sendo a velocidade do vento maior no período diurno, sob o efeito do balanço de radiação solar positivo. O estudo de sazonalidade do vento para este ecossistema feito por (SILVA JUNIOR et al., 2003) confirma este resultado, acrescentando informações sobre a estação menos chuvosa, onde a velocidade do vento apresenta maiores valores, devido ao maior aquecimento diferencial da superfície. Os ventos são deslocamentos de ar no sentido horizontal, originários de gradientes de pressão. A intensidade e a direção dos ventos são determinadas pela variação espacial e temporal do balanço de energia na superfície terrestre, que causa variações no campo de pressão atmosférica, gerando os ventos. O vento se desloca de áreas de maior pressão para áreas de menor pressão. As variações na temperatura e umidade do ar são muito importantes para a conservação e desenvolvimento dos ecossistemas de manguezais, garantindo o equilíbrio de espécies animais e vegetais, alem de que a temperatura é uma variável de grande importância no balanço de energia no interior dos manguezais, influenciando no balanço de calor local. (BRAGA, et al., 2003). A superfície do manguezal possui altas concentrações de matérias orgânicas e decompostas, que servem de nutrientes para os seres vivos que vivem nesses ecossistemas. As florestas de manguezal possuem ecossistemas costeiros de transição entre ambientes marinhos e terrestres, que são característicos de regiões costeiras tropicais. As propriedades físicas dos manguezais interagem com a radiação solar, influenciando nas condições micrometeorológicas, especialmente na temperatura e na umidade do ar (Leal, 1998). Na microrregião Bragantina, a temperatura do ar apresenta uma pequena variação anual, com as máximas, médias e mínimas em torno de 31,3C; 25,9ºC e 21,2ºC, respectivamente. Porém, verificam-se grandes amplitudes térmicas diárias, muitas vezes superiores a 10C, principalmente na estação menos chuvosa. Os valores médios mensais de umidade relativa do ar apresentam-se sempre elevados durante todo o ano, variando entre 77% e 91% (INMET). A precipitação pluvial apresenta maior variabilidade, embora esta região se caracterize por ser uma das mais chuvosas do Brasil, com valor médio anual da ordem de 2544,8mm. Apesar das variações, observa-se a existência de duas épocas de características distintas quanto à distribuição das chuvas, uma estação chuvosa que vai de janeiro a maio, e outra época menos chuvosa, que vai de junho a dezembro. O clima da região Amazônica, onde se encontra o manguezal Bragantino, possui uma combinação de vários parâmetros, sendo que o mais importante é o balanço de radiação. Na Amazônia, a radiação máxima no topo da atmosfera é de 36,7 MJ.m -2.dia-1 em dezembro/janeiro, enquanto que a mínima é de 30,7 MJ.m-2.dia-1 em junho/julho (Salati e Marques, 1984). Segundo RIBEIRO et al. (1997), a distribuição anual do brilho solar está diretamente relacionada com a distribuição anual das chuvas, que por sua vez relaciona-se com a nebulosidade. Apesar da ocorrência de grande nebulosidade durante a maior parte do ano, os valores de brilho solar mensal são sempre superiores a 47% do brilho total possível, na estação menos chuvosa e 28% na estação chuvosa, apresentando um valor médio anual de 2.143,8 horas. A maior intensidade de brilho solar ocorre no período de agosto a novembro, representando, em média, cerca de 66,5% do total possível. A transformação de mangue exuberante em áreas degradadas, altera o equilíbrio bioclimático e de energia, representando um drástico impacto ambiental. A degradação dos manguezais poderá causar também uma mudança na quantidade de energia solar usada na evaporação, obviamente que isto vai depender da resposta das comunidades vegetais ao clima e à água disponível no solo. Em épocas de seca as árvores transpiram menos água do solo, assim, em períodos de seca duradouros elas poderão continuar evapotranspirando, devido às suas raízes serem mais profundas, enquanto plantas menores já teriam secado e morrido. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado em um ecossistema de manguezal na região Bragantina (00° 50’ 31’’S e 46° 38’ 56’’W), as margens do Furo Grande. O período de estudo refere-se ao ano de 2003, onde foram analisados os meses mais significativos da época chuvosa e da época menos chuvosa da região. Para quantificar o comportamento dos elementos meteorológicos foram utilizadas informações obtidas através de uma estação meteorológica automática, modelo Campbell Scientifc, instalada no topo de uma torre micrometeorológica de 25 metros de altura. RESULTADOS E DISCUSSÕES Velocidade do vento A velocidade do vento à superfície varia bastante com o tempo e caracteriza-se por intensas oscilações, cuja rapidez e amplitude está relacionada com o estado de agitação do ar, que constitui a turbulência. Essa agitação denuncia a passagem, pelo local de observação, de turbilhões de diferentes tamanhos. Uma variação brusca na velocidade do vento chama-se rajada e geralmente é acompanhada por uma variação igualmente brusca na direção. A variação média horária da velocidade do vento durante os meses de março e novembro é mostrado na Figura 01. Verifica-se que as maiores velocidades do vento ocorreram no mês de novembro, devido ao maior diferencial de aquecimento da superfície. A maior velocidade média ocorreu as 11:00 horas, com valor de 4,3 m.s-1, enquanto que a menor velocidade média ocorreu as 06:00 horas, com valor de 2,7 m.s-1. No mês de março, a maior velocidade do vento ocorreu em torno das 16:00 horas, com valor de 2,8 m.s-1, enquanto que a menor velocidade ocorreu entre 06:00 e 07:00 horas, com valor de 1,1 m.s-1. Em termos médios mensais, a velocidade do vento para março foi de 1,9 m.s-1 e para novembro 3,4 m.s-1. Observa-se que no período mais chuvoso a velocidade do vento tem um máximo retardado em relação ao mês de novembro, possivelmente devido ao grande diferencial de aquecimento da superfície. 4,0 3,0 2,0 1,0 Vel. Vento Março Vel. Vento Novembro 2300 2100 1900 1700 1500 1300 1100 0900 0700 0500 0300 0,0 0100 Velocidade do vento (m/s) 5,0 Hora Local Figura 01 – Variação média horária da velocidade do vento. Direção do vento A direção do vento exprime a posição do horizonte aparente do observador a partir da qual o vento parece provir e nunca para onde o vento estaria indo. A direção é expressa em termos de graus formado entre o ângulo que o vetor velocidade do vento forma com o norte verdadeiro do local, medido no sentido horário. A predominante do vento durante a época mais chuvosa é mostrada na Figura 02. Observou-se que a predominância na direção do vento para este mês foi de N–NE (82%), sendo N( 42%) e NE (40%). N 100% NW 75% NE 50% 25% W 0% E SW SE S FIGURA 02 – Predominância da direção do vento para a época mais chuvosa. Na figura 03 está ilustrada a predominância do vento para a época menos chuvosa. Observouse que a direção predominante do vento nesta época também foi de NE (87%). N 100% 75% NW NE 50% 25% W 0% E SW SE S Figura 03 - Predominância da direção do vento para a época menos chuvosa. Temperatura do ar A figura 04 mostra a variação sazonal média horária da temperatura do ar. Observou-se que a variação média horária da temperatura do ar no mês de novembro foi, em média, 1,9C maior do que no mês de março, fato este associado com a maior intensidade de radiação solar global e a menor quantidade de nuvens, que propicia um aumento na temperatura do ar no período menos chuvoso. No mês de novembro, a maior temperatura ocorreu por volta das 13:00 horas, com valor de 29,1 ºC e a menor por volta das 04:00 horas, com valor de 26,7ºC. No mês de março, a maior temperatura registrada foi as 15:00 horas, com valor de 27,0 ºC e a menor registrada foi de 24,6 ºC as 06:00 horas. 90 MARÇO NOVEMBRO UR (%) 85 80 75 70 Hora Local Figura 04 - Variação sazonal média horária da temperatura do ar. 2300 2100 1900 1700 1500 1300 1100 0900 0700 0500 0300 0100 65 Umidade Relativa do ar A figura 05 mostra a variação sazonal média horária da umidade relativa do ar. Sabe-se que a umidade relativa do ar é a quantidade de vapor d’ água em suspensão na atmosfera que falta para que a mesma atinja a saturação. Observa-se que no mês de março, a umidade relativa do ar apresenta um valor médio de 83,8%, enquanto que em novembro este valor é de 72,5%. Nas duas épocas a umidade relativa é bastante elevada. 90 MARÇO NOVEMBRO UR (%) 85 80 75 70 2300 2100 1900 1700 1500 1300 1100 0900 0700 0500 0300 0100 65 Hora Local Figura 05 – Variação sazonal média horária da umidade relativa do ar. Radiação solar global A figura 06 mostra a variabilidade sazonal média da radiação solar global. Observou-se que para a época chuvosa os valores médios diários foram de 16,0 MJ.m-2. dia-1, enquanto que na época menos chuvosa este valor foi de 25,7 MJ. m-2. dia-1, apresentando uma variabilidade sazonal da ordem de 38%. Em relação aos valores máximos, estes foram de 522,9 w.m-2 para a época mais chuvosa e de 825,6 w.m-2 para a época menos chuvosa, sempre ocorrendo por volta das 12:00 horas. 900 MARÇO NOVEMBRO Radiação (w.m²) 750 600 450 300 150 2300 2100 1900 1700 1500 1300 1100 0900 0700 0500 0300 0100 0 Hora Local Figura 06 – Variação sazonal média horária da radiação solar global. Precipitação Pluviométrica A figura 07 mostra a variação sazonal horária da precipitação pluviométrica. Observou-se que no período das 06 às 12 horas a precipitação foi 33,5 % do total, enquanto que no período das 12 às 18 horas esta precipitação foi de apenas 15,9 % do total. O total acumulado no mês de março foi de 764,2 mm, ao passo que em novembro este valor foi de 4,06 mm. Verificou-se que no mês de março 50,6% do total de precipitação ocorreu no período noturno, enquanto que em novembro, 100% da precipitação ocorreu no período diurno. 80 MARÇO NOVEMBRO 70 PRP (mm) 60 50 40 30 20 10 Hora Local Figura 07 - Variação sazonal média da precipitação pluviométrica 2300 2100 1900 1700 1500 1300 1100 0900 0700 0500 0300 0100 0 A figura 08 mostra a variação mensal da precipitação pluviométrica. Observou-se que durante o período estudado, o total pluviométrico foi de 2.624,72 mm, sendo o mês de março o mais chuvoso. Em relação à época menos chuvosa, observou-se que nos meses de agosto a outubro a quantidade precipitada foi de apenas 0,03% do total. Durante o período chuvoso, o total precipitado foi na ordem de 2.132,5 mm o que corresponde a 81,2% do total da pluviosidade. Na transição entre o período chuvoso e o menos chuvoso tivemos um total acumulado de 425,6 mm, o que corresponde a 16,2% do total da precipitação pluviométrica. Na época menos chuvosa a precipitação acumulada foi de 66,5 mm, correspondendo a 2,5% do total anual. 700 Precipitação (mm) 600 500 400 300 200 100 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Meses Figura 08 – Variação mensal da precipitação pluviométrica. CONCLUSÃO O resultado das análises apresentadas neste trabalho refere-se a informações obtidas durante o período seco e o chuvoso do ano 2003. Observou-se que a maior variabilidade térmica ocorreu na época menos chuvosa. A umidade relativa do ar apresenta-se elevada durante todo ano. A radiação solar global sofre uma considerável redução na época chuvosa, o que esta associada com as características de nebulosidade da região. O vento predominante foi de Norte / Nordeste durante todo ano, sendo a sua velocidade media menor na época menos chuvosa. A precipitação pluviométrica anual apresenta grande variabilidade, influenciando de forma decisiva no comportamento dos demais elementos meteorológicos. 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