Curso: Medicina Veterinária Disciplina: Histologia Geral e Embriologia Profª: Patrícia Mendes Data: / / Valor: Nota: Alunos (dupla):__________________________________________ MÉTODOS DE ESTUDO DAS CÉLULAS A DESCOBERTA DA CÉLULA Com exceção dos vírus, todos os demais organismos têm a célula como unidade estrutural e funcional. Nos unicelulares, como bactérias e amebas, a própria célula é um indivíduo. Nos pluricelulares, a organização do indivíduo alcança níveis mais elevados, pois compreende formação de tecidos, órgãos e sistemas ou aparelhos. Atualmente se conhecem muitos detalhes da morfologia e da fisiologia celular, bem como as características dos diferentes tipos de células, graças à evolução de várias técnicas e o aprimoramento de aparelhos. Como a maior parte das células é invisível a olho nu, só foi possível estudá-las após a invenção do microscópio, em 1590. Mesmo assim, sua descoberta só ocorreu em 1665, quando o físico inglês Robert Hooke (1635-1703), observando cortes finos de cortiça ao microscópio, verificou que ela era formada por numerosos compartimentos vazios, aos quais deu o nome de ‘células’. Na verdade, o que Hooke observou eram espaços cheios de ar delimitados por parede celular, as células mortas de cortiça. Célula do latim cellula, que significa cela, pequeno compartimento. Microscópio do grego mikros, pequeno + skopein, ver, olhar A teoria segundo a qual “todos os organismos vivos, com exceção dos vírus, são constituídos de células”, se prende aos nomes do botânico alemão Matthias Schieiden (1804-1881) e o zoólogo alemão Theodor Schwann (1810-1882), ambos considerados criadores da Teoria Celular. A aplicação da teoria celular na embriologia se deveu a Kölliker (1841), que identificou o óvulo e o espermatozóide como células, cuja fusão resulta no zigoto, início de nova vida animal ou vegetal. Em 1855, o médico Rudolf Virchow generalizou o conceito de que não existe geração espontânea de células, todas elas se originando de células pré-existentes. Em 1882, o alemão Walter Flemming descreveu a divisão celular por mitose. A moderna doutrina celular pode ser resumida em quatro conceitos fundamentais: 1) a menor unidade de vida é a célula; 2) todo ser vivo pluricelular provém de uma célula, o zigoto; 3) todas as células provêm de outras pré-existentes; 4) todas as reações metabólicas de um organismo vivo ocorrem dentro de suas células. A DESCOBERTA DO CONTEÚDO CELULAR Em 1831, o botânico inglês Robert Brown, estudando células de orquídeas, observou nelas a presença de um corpúsculo, a que chamou de núcleo. Por volta de 1832, o conteúdo celular era conhecido pelo nome de protoplasma, Mais tarde o protoplasma sem o núcleo foi designado citoplasma. A existência da membrana que envolve o citoplasma foi percebida indiretamente, pois quando se pressionava a superfície de uma célula, seu conteúdo extravasava. Tal fato permitiu supor a presença de uma película. Esta, por ser extremamente fina, só pôde ser observada após a invenção do microscópio eletrônico. Flemming, entre 1876 e 1880, apoiado em descobertas de outros pesquisadores, confirmou ser a cromatina o principal componente do núcleo. Em 1890, Waldeyer introduziu o termo ‘cromossomo’ para designar os filamentos de cromatina visíveis na célula em divisão por mitose. Observou também que o número de cromossomos não ficava alterado quando uma célula se dividia por mitose. Entre 1880 e 1900 foram identificados no citoplasma: centríolos, mitocôndrias, complexo de Golgi, plastos em células vegetais e ergastoplasma. As estruturas celulares descobertas durante o século XIX e início do século XX ficaram mais bem conhecidas com a utilização do microscópio eletrônico, principalmente depois de 1950. Junto às membranas do reticulo endoplasmático foram observados os ribossomos, corpúsculos com diâmetro aproximado de 150Å, e somente visíveis ao microscópio eletrônico. A microscopia eletrônica também contribuiu para identificar os lisossomos. Christian de Duve, por volta de 1955, descreveu esses corpúsculos como pequenas bolsas contendo enzimas com função digestiva, na célula animal. Em 1956, Joe-Him Tijo, biólogo javanês, e Johann Levan, citologista sueco, utilizando células cultivadas in vitro, procedentes de pulmões de embriões humanos abortados, descobriram que as células somáticas humanas têm 46 cromossomos, e não 48 como se supunha até então. Mais recentemente, os maiores progressos da citologia ocorreram no campo da fisiologia do material hereditário, presente no núcleo das células. Ficou esclarecido que o gene, partícula da hereditariedade, se identifica como um ácido desoxirribonucléico (DNA). Sabe-se também que os genes estão localizados nos cromossomos e que casa gene determina a síntese de uma proteína específica. DIMENSÕES DAS CÉLULAS As dimensões das estruturas biológicas podem agrupar-se em dois grandes grupos: a) macroscópicas, isto é, visíveis ao olho humano e b) microscópicas, invisíveis ao olho humano, tendo como fronteira o poder de resolução do olho humano. Por isso utilizamos unidades de medida menores que o milímetro para se fazer referência ao seu tamanho e ao de suas organelas. Essas medidas são o micrômetro (µm), o namômetro (nm) e o angström (Å). A sua relação com a unidade fundamental do sistema métrico, o metro (m) e com o milímetro (mm) é a seguinte: Fig.1: Uma comparação de tamanhos de microrganismos. O quadro acima mostra a equivalência no sistema métrico para as unidades usadas para expressar as dimensões das células microbianas (modificado por Pelczar et al., 1996). Para se ter uma idéia mais clara das dimensões a que se referem às unidades mencionadas, convém lembrar que nosso olho permite a visão de objetos que meçam no mínimo 0,1mm. Designando poder de resolução a menor distância que deve existir entre dois pontos para que sejam vistos individualmente, podemos afirmar que o poder de resolução do olho humano é de 0,1mm. Dessa forma, se dois pontos estiverem próximos entre si a uma distancia menor que 0,1mm, não serão percebidos pelo olho humano, mas poderão ser vistos individualmente por meio de um microscópio óptico, com poder de resolução de cerca de 0,2 µm. As menores células visíveis aos microscópios são as bactérias, dentre as quais muitas se encontram nos limites de resolução do aparelho, entre 0,2 e 0,3 µm. Num mesmo organismo pluricelular o tamanho das células pode variar muito, pois está relacionado com o tipo de atividade ou função por elas desempenhada. As células nervosas (neurônios), por exemplo, podem ter prolongamentos que ultrapassam 1m de comprimento; as células dos rins, do fígado e da pele têm, em média, 30 µm de diâmetro; as do sangue, de 0,5 a 0,7 µm. Em termos de formação de imagem é fundamental percebermos o significado de 3 conceitos muito importantes, que são o poder de ampliação, o poder de resolução e o limite de resolução. Poder de ampliação: capacidade de um aparelho aumentar n vezes uma imagem. Na microscopia é dado pelo produto entre a ampliação das oculares e a ampliação das objetivas. Poder de resolução: capacidade de um aparelho fornecer imagens distintas de dois pontos distintos. Limite de resolução: distância mínima a que dois pontos podem estar para o aparelho os mostrar individualizados. O que determina a riqueza de detalhes da imagem fornecida por um sistema de imagens é seu poder de resolução e não seu poder de ampliar o tamanho dos objetos. A capacidade de aumentar só tem valor prático se for acompanhado por um aumento do poder de resolução. Este limite de resolução depende essencialmente da objetiva, já que as oculares não podem acrescentar detalhes à imagem. A função das oculares é aumentar o tamanho dessa imagem, que é projetada no seu plano de focagem pela objetiva. MÉTODOS DE ESTUDO Para o estudo da célula o instrumento fundamental é o microscópio. O mais comum e mais usado é o microscópio óptico (M.O.). Mas também existe o microscópio eletrônico. A Citologia desenvolveu-se muito a partir de 1939 com a invenção do microscópio eletrônico de transmissão. Nesse instrumento o material é atravessado por um feixe de elétrons (e não por luz) e é possível obtermos imagens ampliadas até 400 mil vezes. Posteriormente, foi desenvolvido o microscópio eletrônico de varredura, no qual o feixe de elétrons, em vez de atravessar o objeto, o varre como ser fosse uma pessoa sentindo com os dedos o relevo de uma superfície. Desse modo, consegue-se uma imagem tridimensional do material observado. Em 1981 surgiu o microscópio de varredura por tunelamento, capaz de aumentar as estruturas até 100 milhões de vezes e fornecer imagens de átomos e moléculas. O microscópio óptico é um aparelho no qual a ampliação das imagens é feita por um sistema duplo de lentes convergente: objetiva e ocular. A objetiva fornece uma imagem real, invertida e maior do que o objeto; a ocular fornece a imagem definitiva, maior e virtual, direita em relação à imagem fornecida pela objetiva e invertida em relação ao objeto. O M.O. compõe-se de uma parte mecânica que serve de suporte e uma parte óptica que é constituída de três lentes: condensador, a objetiva e a ocular (Esquema abaixo). O aumento total de ampliação dada por um microscópio é igual ao aumento da objetiva multiplicado pelo aumento da ocular. Esta última aumenta o material enquanto a objetiva aumenta o poder de resolução que é a capacidade de diferenciar entre dois objetos muito próximos. O M.O. comum permite aumentos de até 2.000 vezes. O material que se quer observar ao microscópio óptico é colocado entre uma lâmina e uma lamínula de vidro, sendo atravessado por um feixe de luz que incidirá na lente objetiva. Esta aumenta a imagem e a projeta na lente ocular que, por sua vez, a amplia ainda mais, permitindo que seja vista pelo observador. Observações: 1. A imagem proporcionada pelo M.O. é aumentada, virtual e invertida em relação ao objeto examinado. 2. Calcula-se o aumento da imagem obtida ao M.O. multiplicando-se o valor do aumento da ocular pelo valor do aumento da objetiva. 3. Campo microscópico é a área da preparação que se está observando ao M.O.. Quanto maior o aumento da imagem, menor é a abrangência do campo 4. Em virtude do último item, sempre ao iniciar a observação ao M.O. usa-se uma combinação de lentes que proporcione um menor aumento, a fim de se obter uma visão panorâmica da preparação; depois usa-se uma combinação de lentes que proporcione um maior aumento, permitindo a visualização de detalhes do campo microscópico. Ao M.O. as células podem ser observadas vivas, bastando colocá-las sobre a lâmina e cobri-las com uma gota de água ou solução fisiológica. Este é denominado exame vital, ou observação in vivo, que traz algumas vantagens: mostra o material como é, sem altereações; permite a observação de fenômenos fisiológicos como a divisão celular ou o movimento de materiais dentro da célula; possibilita observar a locomoção de organismos unicelulares. Entretanto esse método não permite distinguir, com nitidez, as estruturas celulares. Nas observações in vivo, a técnica de coloração é denominada coloração vital e o corante é usado em concentrações extremamente baixas. Por exemplo, o núcleo, de caráter ácido, tem afinidade por corantes básicos. Para se obter um bom contraste entre as diferentes partes das células há necessidade de tratá-las com substâncias denominadas corantes. Esse processo, denominado coloração, consiste em corar diferencialmente as diversas estruturas celulares. A maioria dos corantes mata as células, podendo ocasionar alteração em suas estruturas. Para evitar que isso aconteça, em geral, a coloração é precedida de um processo denominado fixação. Esta é feita com substâncias que matam a célula rapidamente, estabilizando suas estruturas de modo que elas permaneçam como se estivessem vivas, ou, ainda, utilizando processos físicos, como congelamento e a desidratação. Os materiais a serem examinados ao microscópio devem ser suficientemente finos para que a luz ou os elétrons os atravessem; devem ser preparados por meio de técnicas especiais, de modo que possam ser cortados em fatias muito finas, denominados cortes histológicos. As técnicas de preparação para o corte consistem na fixação do material e posterior inclusão em parafina (para microscopia óptica) ou em resinas do tipo epóxi (para microscopia eletrônica). Depois de solidificadas, essas substâncias tornarão o material mais consistente, permitindo que ele seja cortado em um aparelho denominado micrótomo. A espessura dos cortes histológicos para o microscópio óptico é de 3 a 6 µm; para o eletrônico, de 0,02 a 0,1 µm. Além da técnica do corte histológico existem outras duas muito usadas: esmagamento, em que se pressiona o material entre lâmina e lamínula, juntamente com um fixador e corante, para que as células se espalhem; esfregaço, que consiste em espalhar, numa fina camada sobre a lâmina, as células dispersas num meio liquido. Os processos aqui descritos constituem as técnicas citológicas básicas, mas há outras também muito utilizadas como a auto-radiografia (técnica que identifica a incorporação de material radioativo em tecidos vivos, utilizando um filme sensível à radioatividade), microdissecação (técnica de dissecação de estruturas celulares sob a lupa ou microscópio), ultracentrifugação (centrifugação ultra-rápida para separação de fragmentos e organelas celulares). ESTUDO DIRIGIDO 1) Qual é a unidade funcional de todo organismo vivo? 2) Explique como foram as descobertas da célula por Robert Hooke. 3) Cite o conceito da Teoria Celular. 4) Explique porque a Teoria celular tem aplicação na Embriologia. 5) Quais são os quatro conceitos fundamentais da doutrina celular? 6) Explique sobre a descoberta do núcleo celular. 7) O progresso dos microscópios permitiu a descoberta de algumas organelas. Cite-as. 8) Explique o que é uma observação macroscópica e observação microscópica. 9) Porque utilizamos unidades de medida menores que 1 milímetro quando trabalhamos com microscopia? 10) Quais são as medidas utilizadas em microscopia? 11) Qual o tamanho mínimo dos objetos que podem ser vistos pelo olho humano? E quando utilizamos um microscópio? 12) Qual o menor tipo celular pode ser observado no microscópio? 13) O tamanho das células é variável? Explique e cite exemplos. 14) Para a formação de uma imagem no microscópio, é importante saber o significado de 3 termos. Descreva-os: a. Poder de ampliação b. Poder de resolução c. Limite de resolução 15) Qual dos fatores citados na questão anterior determina uma maior riqueza de detalhes numa imagem? 16) Porque o poder de ampliação não é relevante se o poder de resolução não for bom? 17) Porque o limite de resolução depende essencialmente das objetivas? 18) Se as oculares não acrescentam detalhes à imagem, qual a sua função? 19) Cite os dois principais tipos de microscópios. Diferencie-os. 20) Cite os procedimentos básicos para a montagem de uma lâmina e porque devem ser seguidos criteriosamente.