T10 "O Brasil e a engenharia: uma visão panorâmica"

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O BRASIL E A ENGENHARIA : UMA VISÃO PANORÂMICA
W.P. Longo e Leizer Lerner
O Brasil, maior pais da América Latina em extensão, tem 8,5
milhões de quilômetros quadrados de território (dos quais 49,3% na
Amazônia), 4,5 milhões de quilômetros quadrados na Zona
Econômica Exclusiva no mar e na Plataforma Continental,
191milhões de habitantes (22,3 hab/km2)[1] e um PIB (produto
interno bruto) de pouco mais de um trilhão de dólares PPC (poder
paritário de compra)[1]. O País ainda possui cerca de 7.367 km de
costa marítima, uma das maiores redes fluviais do planeta, e cerca
de 16.886 km de fronteira territorial com todos os países da América
do Sul, exceto Chile e Equador. O Brasil é uma das quatro potências
econômicas mundiais emergentes, ao lado da Rússia, da Índia e da
China, constituindo, hoje, o grupo de nações denominado BRIC..
Possuidor de moderna e competitiva agro-indústria, segundo
produtor mundial de alimentos (apesar de utilizar atualmente apenas
parte de suas terras aptas para plantio e pecuária), detém da ordem
de 12% da água doce superficial do planeta [2]. O País abriga uma
indústria robusta, completa e complexa que o faz o nono produtor
mundial de automóveis, o quarto de aviões comerciais (alcançando
45% do mercado de jatos para transporte) [3] e é o campeão mundial
de exploração de petróleo em águas marítimas profundas.
Autonomamente, conduz programas ambiciosos de desenvolvimento
aeroespacial e nuclear. Da ordem de 52% das suas exportações
anuais de 160 bilhões de dólares são de produtos manufaturados [4].
Adicionalmente, da sua matriz energética total de 226 tep (toneladas
equivalentes de petróleo), 45,1% provém de fontes renováveis,
sendo 14,8% de hidroeletricidade e 30,2% de biomassa,
principalmente da cana de açúcar através do etanol e da queima do
seu bagaço [5]. O setor de serviços é dinâmico e se mantém
tecnologicamente atualizado. A rede telefônica tem mais de 122
milhões de celulares [6] e 10 milhões dos domicílios dispõem de
computadores [7], sendo de 41,5 milhões o número de usuário da
Internet [8].
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Com previsão anual de crescimentos da economia de 5% [9] e
populacional de 1,41% [1], o Brasil ainda apresenta uma relevante
desigualdade de distribuição de renda e notáveis carências na sua
infra-estrutura. 84,2% da sua população vive em cidades[1],
principalmente em grandes conglomerados urbanos concentrados no
sul, sudeste e nordeste, próximos à sua costa no Oceano Atlântico,
com déficit de mais de 6,6 milhões de moradias [10], sendo que
apenas 52% dos seus municípios e 33,5% dos domicílios coletam
esgoto [11]. Existem grandes vazios populacionais que começam a
ser ocupados desordenadamente no centro e no norte do País. Sua
malha ferroviária é de apenas 29 mil quilômetros; a rodoviária tem
1,6 milhões de quilômetros, dos quais somente 12% pavimentados
[12]. A extensa costa marítima e seus gigantescos rios ainda são
pouco explorados como vias de transporte.
Este modesto cenário sintético nos permite deduzir que se trata
de um país em construção acelerada e que, portanto, apresenta
desafios e oportunidades para a engenharia tão grandes quanto são
as suas potencialidades.
A própria engenharia evidencia um grande desafio, que é o
baixíssimo número de seus profissionais (estimados em apenas
550.000) em relação ao porte da sua economia e em relação à
população, com somente seis engenheiros para cada mil habitante
economicamente ativo. Em 2003, nos 1.217 (7,40%) cursos de
engenharia existentes, foram oferecidas 130.362 (6,51%) vagas para
as quais se inscreveram 394.001 (8,04%) candidatos, sendo
completadas 86.076 (6,82%) vagas[13]. Nesse ano, havia um
alunado total de 301.158 (7,75%) indivíduos, sendo apenas de
30.456 (5,77%) o número de formandos[13]. Atualmente, apesar da
falta de engenheiros para conduzirem as obras de infra-estrutura e
da expansão industrial e de serviços em curso, não se tem
conseguido aumentar o interesse dos jovens pela profissão.
Na década de 90, o governo brasileiro promoveu a abertura
comercial e industrial do País à concorrência internacional, aderindo
à chamada globalização. Resultou um enorme decréscimo da
participação das empresas de engenharia consultiva nacionais no
mercado interno brasileiro e acentuada desnacionalização de setores
tecnologicamente dinâmicos do setor produtivo, e muitos empregos
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de engenheiros altamente qualificados foram transferidos para fora
do País. No exterior, apesar de várias
empresas de engenharia brasileiras estarem executando
obras em todos os continentes, sua presença é modesta se
comparada com a de outros grandes países em desenvolvimento,
como a China e a Índia.
Outro desafio à engenharia brasileira é a necessidade de
aumentar o valor tecnológico localmente agregado às suas
exportações. Apesar de pouco mais da metade das exportações
brasileiras contemplarem produtos manufaturados, estes são, em
grande parte, produtos de baixa agregação de valor tecnológico ou
são dependentes de tecnologias e componentes importados,
diminuindo o montante das divisas que poderiam ser auferidas pela
economia nacional.
Finalmente, do exposto se conclui que seria oportuno um
programa governamental prioritário para o desenvolvimento da
engenharia nacional, abrangendo desde o despertar de vocações
nos jovens, o aperfeiçoamento e contínua atualização do quadro de
engenheiros existente, até a promoção da exportação de serviços de
engenharia e de produtos com maior valor tecnológico agregado,
oriundos de inovações desenvolvidas no País.
Referências bibliográficas:
1.
2.
3.
4.
IBGE, Países, 2007 (www.ibge.gov.br/paisesat/` )
www.socioambiental.org/esp/agua/pgn/ (04/07/2008)
www.portalbrasil.net/embraer.html (03/07/2008)
www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=571
(03/07/2008)
5. MDIC,Matrizes Energéticas-Exercício 2006 (www.mdic.gov.br)
6. Telefonia celular cresce 21,98% em 12 meses, Plantão Info,
Tecnologia, 22/02/2008 (www.info.abril.com.br)
7. Aumenta o número de residências com computadores(2006),
MDIC, Telecentros de informação e negócios, Destaques
(www.telecentros.desenvolvimento.gov.br).
8. IDG NOW, Brasil bate recorde de usuários de Internet geral e
residencial em maio, 27/06/2006. (www.idgnow.uol.com.br)
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9. Agência Brasil, EBC, Secretário diz que projeção de
crescimento econômico para 2009 pode ser revista,
03/07/2009. (www.agenciabrasil.gov.br).
10.Rassier,J.C., Déficit de moradias, Painel Brasil TV, 03/07/2009
(www.painelbrasil.gov.br)
11. IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2002.
12. Anuário Estatístico de Transportes Terrestres - AETT 2005,
Ministério dos Transportes.
13. INEP, Censo da Educação Superior: Sinopse Estatística 2003.
Rio de Janeiro, Julho de 2008
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