INOVAÇÃO NA FISIOTERAPIA: ANÁLISE DO POSSÍVEL EFEITO NEUROREGENERATIVO DA TERAPIA POR DÍODO EMISSOR DE LUZ APÓS LESÃO DO NERVO ISQUIÁTICO EM CAMUNDONGOS Bruna Lenfers Turnes1; Daniela Dero Lüdtke2; Msc. Daniel Fernandes Martins (orientador)3 INTRODUÇÃO A terapia por diodo emissor de luz (Light-emitting diode therapy – LEDT) é uma forma de fototerapia, que utiliza como fonte de irradiação LEDs (VINCK et al., 2005). LEDs são diodos semicondutores que quando energizados emitem luz (SCHUBERT, 2006). O termo "Fototerapia" diz respeito à intervenção terapêutica não invasiva com luz, como por exemplo, situações envolvendo a irradiação do tecido cutâneo e subcutâneo para a reparação tecidual, a acupuntura à base de luz e irradiação transcutânea para alívio da dor (ENWEMEKA, 2005). A neuropatia periférica é uma doença neuromuscular comum que, de uma maneira geral, indica algum distúrbio do sistema nervoso periférico (VALLAT; MAGY, 2005). Estima-se que a prevalência das neuropatias periféricas seja de aproximadamente 2,4 % da população mundial, e que entre as pessoas com mais de 55 anos esta prevalência alcance 8% desta população (ENGLAND; ASBURY, 2004), entretanto, poucas terapias e intervenções estão disponíveis para impedir ou reverter os danos associados (ZOCHODNE, 2008). Além disso, as NPs são freqüentemente acompanhadas de dor neuropática, geralmente crônica e incapacitante, e em boa parte resistente aos tratamentos farmacológicos disponíveis, estando entre as mais difíceis de tratar (DWORKIN et al., 2003; FINNERUP et al., 2005; ATTAL et al., 2010). _____________ 1 Acadêmica de Fisioterapia da Unisul. Bolsista do Artigo 170. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica de Fisioterapia da Unisul. E-mail: [email protected] 3 Docente da Unisul. Doutorando em Neurociências – UFSC. E-mail: [email protected] Os mecanismos para a analgesia induzida pela LEDT são pouco compreendidos, no entanto, está bem estabelecido que a terapia fotônica influencia a síntese, liberação e metabolismo de inúmeras substâncias sinalizadoras envolvidas na analgesia, tais como endorfinas, óxido nítrico, prostaglandinas, bradicinina, acetilcolina e serotonina (VINCK, 2006). Além desses efeitos neurofarmacológicos existem evidências experimentais da diminuição do processo inflamatório, aumento da circulação sangüínea e diminuição da atividade das fibras C (GRECO et al., 1989; VACCA et al., 1993; VACCA et al., 1994; REDDY, 2004, VINCK, 2006). OBJETIVOS O presente estudo investigou o efeito da LEDT sobre as alterações comportamentais induzidas pela lesão nervosa periférica no modelo do esmagamento do nervo ciático em camundongos. Palavras-chave: Dor neuropática; LEDT; camundongos. MÉTODOS O presente trabalho trata-se de um estudo do tipo experimental. Foram utilizados camundongos Swiss machos (25 a 35 g), aclimatados a 22±2 oC, no ciclo 12h-claro/12hescuro (claro a partir das 6:00 h.), com acesso a ração e água “ad libitum”. Os animais foram homogeneamente distribuídos entre os grupos e aclimatizados no laboratório por pelo menos 1h antes dos testes e foram usados somente uma vez em cada experimento. Os experimentos foram realizados após a aprovação do protocolo pelo Comitê de Ética no uso de Animais da Unisul (CEUA-UNISUL), realizados de acordo com o guia de cuidados de animais de laboratório e guia ético para investigações experimentais da dor em animais conscientes (Zimermann, 1983). O número de animais utilizados e a intensidade dos estímulos nocivos foram o mínimo necessário para demonstrar o possível consistente efeito ao tratamento recebido. Os animais foram submetidos ao esmagamento do nervo ciático e em seguida tratados. A LEDT foi administrada (1 x ao dia) nas doses de 4J, 6J e 8J. Os testes foram compostos pela avaliação da hipersensibilidade mecânica e ao frio através dos testes de von Frey (0,4g) e acetona, respectivamente. A função motora foi avaliada através do Índice Funcional do Ciático (IFC) e Índice Estático do Ciático (IEC). RESULTADOS E DISCUSSÃO A lesão traumática do nervo ciático de ratos através do esmagamento do mesmo foi capaz de induzir (no grupo operado-esmagado) um aumento na frequência de retirada da pata sugerindo um quadro de alodínia ao estímulo mecânico. Além disso, observamos que o prétratamento dos animais com o LED foi capaz reduzir a frequência de retirada da pata, o que sugere uma redução significativa da dor, principalmente com o tratamento de 8J. Padronizamos a avaliação da hipersensibilidade ao frio, através do teste da acetona e podemos observar que a lesão do nervo ciático de camundongos através do esmagamento do mesmo foi capaz de induzir comportamento nociceptivo dos animais sugerindo um quadro de alodínia ao estímulo térmico ao frio. Além disso, observamos que o pré-tratamento dos animais com o LED foi capaz reduzir o comportamento nociceptivo, o que sugere redução da dor. Na avaliação dos Índices Funcional e Estático do Ciático, que avaliam a recuperação da função motora observou-se que no grupo falso-operado a média do IFC permaneceu estável, próximo de -10%, que é considerado um valor normal (ausência de déficit motor) até a 4ª semana. No entanto, no grupo operado, observou-se que a média do IFC no primeiro dia após o esmagamento foi de quase -100%. Este valor no primeiro dia após o esmagamento representa total perda da função motora no membro em que o nervo ciático foi esmagado, confirmando a indução da lesão pelo modelo adotado. O IFC do grupo operado controle (-5,34%) alcançou um valor correspondente à função normal do nervo somente no 28º dia após o esmagamento, igualando-se ao valor do IFC do grupo falso-operado (-2,36%). Além disso, os grupos OPERADO + LED 4J, OPERADO + LED 6J e OPERADO + LED 8J não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das avaliações em relação aos valores do IFC do grupo operado, indicando que a recuperação da função motora não foi acelerada em relação ao grupo operado. O grupo falso-operado apresentou o valor médio do IEC próximo de -10%, com mínima variação ao longo do período experimental. Este valor do IEC, igualmente ao IFC, é considerado um valor de atividade motora normal. Porém, no grupo operado a média do IEC apresentou consideráveis mudanças no primeiro dia após o esmagamento, alcançando quase - 100%. Nos grupos OPERADO + LED 4J, OPERADO + LED 6J e OPERADO + LED 8J, observou-se comportamento semelhante ao grupo operado durante todo o período experimental, alcançando os valores do IEC do grupo falso-operado na 4ª semana após o esmagamento. CONCLUSÕES O presente estudo demonstra que o esmagamento do nervo ciático produz hipersensibilidade mecânica e térmica ao frio e que a LEDT é capaz de reduzir a hipersensibilidade. Além disso, houve indução de total perda da função motora no membro em que o nervo ciático foi esmagado, porém os valores indicam que a LEDT não acelerou a recuperação da função motora. Neste contexto, e no intuito de contribuir para o desenvolvimento de terapias não invasivas que possam complementar o tratamento das NPs e da dor neuropática associada, estes resultados tem uma direta aplicação terapêutica para restaurar a função após lesão neuronal periférica e pode fornecer a base para novas abordagens terapêuticas. REFERÊNCIAS ATTAL, N. et al. EFNS guidelines on the pharmacological treatment of neuropathic pain: 2010 revision. Eur J Neurol, v. 17, n. 9, p. 1113-e88, set. 2010. ENGLAND, J.D., ASBURY, A.K. Peripheral neuropathy. Lancet. 363: 2151-2161, 2004. ENWEMEKA, S. Light is Light. Photomedicine and Laser Surgery, v. 23, n. 2, p. 159160, 2005. FINNERUP, N. B. et al. Algorithm for neuropathic pain treatment: an evidence based proposal. Pain, v. 118, n. 3, p. 289-305, dez. 5 2005. GRECO, M. et al. Increase in RNA and protein synthesis by mitochondria irradiated with helium-neon laser. Biochem Biophys Res Commun, v. 163, n. 3, p. 1428-34, set. 1989. REDDY, G. K. Photobiological basis and clinical role of low-intensity lasers in biology and medicine. J Clin Laser Med Surg, v. 22, n. 2, p. 141-50, abr. 2004. VACCA, R. A. et al. Activation of mitochondrial DNA replication by He-Ne laser irradiation. Biochem Biophys Res Commun, v. 195, n. 2, p. 704-9, set. 1993. VACCA, R. A. et al. Increase of both transcription and translation activities following separate irradiation of the in vitro system components with He-Ne laser. Biochem Biophys Res Commun, v. 203, n. 2, p. 991-7, set. 1994. VINCK, E. M. et al. Increased fibroblast proliferation induced by light emitting diode and low power laser irradiation. Lasers Med Sci, v. 18, n. 2, p. 95-9, 2003. VINCK, E. M. et al. Pain reduction by infrared light-emitting diode irradiation: a pilot study on experimentally induced delayed-onset muscle soreness in humans. Lasers Med Sci, v. 21, n. 1, p. 11-8, abr. 2006. ZIMMERMANN, M. Ethical guidelines for investigations of experimental pain in conscious animals. Pain. v. 16, n. 2, p. 109-110. 1983. ZOCHODNE, D. W. Neurobiology of Peripheral Nerve Regeneration. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. FOMENTO O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Artigo 170, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).