Universidade Estadual de Londrina GUILHERME DOS SANTOS A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES LONDRINA 2010 GUILHERME DOS SANTOS A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES Projeto de Pesquesa Nº 05427 do Departamento de Filosofia – CLCH da Universidade Estadual de Londrina. Coord. prof. Dr. Joaquim José de Moraes Neto LONDRINA 2010 1. Título A Linguagem em Aristóteles. 2. Resumo A contribuição de Aristóteles para o sistema filosófico é indiscutível, dessa forma, o presente trabalho se propõe a investigar a influencia gerada na filosofia contemporânea, sobretudo em especial no sistema filosófico Habermasiano da filosofia da linguagem. Abordará questões contextuais e filosóficas que serviram de bases para a discussão Aristotélica em sua preocupação fundamental sobre a importância e o significado que a linguagem desempenho na construção do ser humano. O filósofo contemporâneo, Jürgen Habermas é devedor em grande medida do pensamento de Aristóteles em seu fundamento lingüístico, contribuindo de forma significativa na construção da sua filosofia da linguagem. Descobrir até que ponto essa influencia Aristotélica contribuiu para sistematização da sua filosofia e como Aristóteles concebe a Linguagem, é o propósito primordial desse trabalho. 3. Objetivos 3.1 Objetivos Gerais. Estudar em Aristóteles o conceito de Linguagem, e seus principais fundamentos em sua filosofia que refletiram do modo geral em seu sistema filosófico. 3.2 Objetivos Específicos. Identificar a influencia lingüística da filosofia de Aristóteles em sua contribuição para a “guinada lingüística” que fundamentou os filósofos da linguagem, em especial Habermas. 4 Justificativa Os filósofos da linguagem trouxeram um novo olhar para a filosofia moderna e contemporânea, no entanto, isso não seria possível sem voltar os olhos para a filosofia clássica, sobretudo sobre a filosofia da linguagem fundamentada por Aristóteles tanto no Órganon como na Poiésis. Jürgen Habermas tem se destacado como um proeminente filósofo contemporâneo através da sua Filosofia da Razão Comunicativa, porém, a compreensão Aristotelica é fundamental para a compreensão da sua filosofia servindo-lhe de ponte para o seu conhecimento. Essa investigação servirá de base para essa descoberta filosófica. Diz-nos Aristóteles no De Interpretationei: “As coisas na voz são os símbolos das afecções da alma e as coisas escritas [são os símbolos] das coisas na voz”. Vemos assim que Aristóteles define a palavra como símbolo (symbolon) de afecções da alma (pathémata tés psychés). Mas o que quer dizer Aristóteles quando afirma que as coisas na voz são símbolos? Para esclarecermos isto, citaremos a seguir as três passagens onde Aristóteles se refere explicitamente ao conceito de símbolo no De Interpretatione: (I) “As coisas na voz são os símbolos das afecções na alma, as coisas escritas [são os símbolos] das coisas na voz (1,16 a 3-4).” (II) “Nenhum nome é [tal] por natureza, mas [apenas] quando ele se torna símbolo”(1,16 a 28). (III) “As afirmações e as negações na voz são os símbolos daquelas na alma.” (1,24 b 2). A relação ‘símbolo de’ se refere à relação entre os sons da voz e as modificações da alma, assim como a relação entre os caracteres da escritura e as expressões vocais”. Os sons ou coisas na voz (tá en té phoné) incluem nomes, verbos, o discurso e suas formas. Já podemos constatar a diferença crucial entre as teorias sofísticas da linguagem e a de Aristóteles: no pensamento do estagirita não se trata mais do princípio da aderência total que liga a palavra ao ser, tão caro aos sofistas; a palavra em Aristóteles é dita símbolo de um estado psíquico, o que equivale a dizer que a relação da linguagem com o ser não é imediata. A frase é tornada mais clara pela seguinte passagem do De Interpretationeii: E, do mesmo modo que as letras não são as mesmas para todos, as vozes não são as mesmas, enquanto os estados de alma, de que essas expressões são imediatamente os signos, são idênticos para todos, como são idênticas também as coisas das quais os estados psíquicos são as imagens. Aristóteles, ciente da diversidade das línguas, reconhece que as palavras “não são significantes por elas mesmas, enquanto que os estados de alma são semelhantes às coisas que lhes correspondem” 4. Se as palavras fossem naturais (ou seja, se não fossem convencionais), não haveria mais que uma única língua para todos os homens, o que é manifestamente um absurdo: “O critério do caráter convencional das formas lingüísticas, orais e escritas, consiste no fato, empiricamente observável, de que elas dependem de regras de uso que mudam de uma comunidade à outra”. Como a palavra é símbolo de um estado psíquico, e como este último é uma imagem das coisas reais, a linguagem não tem qualquer relação de semelhança com as coisas: O símbolo não toma pura e simplesmente o lugar da coisa, ele não tem nenhuma semelhança com ela [isto é afirmar que há uma ligação, mas também uma distância, pela qual o símbolo se distingue da relação de semelhança] e, no entanto, é a ela que ele nos reenvia [significando-a]. Nesse sentido a partir da idéia de símbolo propomos uma relação com a teoria do agir comunicativo em Habermas. O problema central de "Teoria do agir comunicativo" gira em torno da possibilidade de interpretar os processos de modernização da sociedade atual em categorias de uma teoria da racionalidade. Este problema subdívidese em duas questões complementares: Primeira questão: será possível interpretar a modernização capitalista como um processo de racionalização? Segunda questão: será possível apoiar esta teoria da racionalização da sociedade numa teoria da racionalidade comunicativa!" A colocação do problema central nestes termos predetermina, de certa maneira, as tarefas básicas que procuram ser desempenhadas no transcorrer do livro: delinear um conceito amplo e abrangente de racionalidade, capaz de satisfazer a pretensões universalistas e demonstrar, em segundo lugar, que a estrutura dos processos de comunicação voltados ao consenso, já caracterizados mais acima, satisfaz às exigências universalistas do conceito amplo de racionalidade. O ponto de vista de Habermas é claro com relação ao papel central da pragmática formal da linguagem. Mas é extremamente complexo na sua argumentação. No entanto, a problemática do símbolo em Aristóteles fornece, através da hermenêutica, a possibilidade de descobrirmos o logos lingüístico através de uma pragmática que em Aristóteles (em sua Metafísica) é conhecida através do conceito de “experiência”. 5 Metodologia Seguiremos dois passos fundamentais em nossa proposta. O primeiro refere-se a uma leitura de Aristóteles a partir de sua noção de palavra e linguagem cotidos em sua obra “De Interpretatione”. No segundo momento provocaremos um encontro de Aristóteles com Habermas a partir de sua teoria do agir comunicativo. No mais faremos a revisão bibliográfica, com exame de obras do filósofo e de comentadores. 6. Plano de Trabalho I. O que é Linguagem em Aristóteles 1.2 O contexto histórico-filosófico 1.3 Principais problemas contextuais II Discussões sobre a fundamentação lingüística de Aristóteles 2.1 Significados da Linguagem 2.3 Fundamentação teórica III Pontos de Contato da Filosofia de Aristóteles com Habermas 3.1 Principais aspectos metodológicos 3.2 A influencia de Aristóteles no sistema Habermasiano 3.3 Raízes fundamentais. IV. Conclusão 7. BIBIOGRAFIA ____. Ética a Nicômaco. In: Os pensadores. vol. IV. 1ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1964. Aristóteles, Horácio, Longino. A Poética Clássica. 7º ed. Cultrix. São Paulo, 1997 ________ Órganon. Edipro. São Paulo, 2005 ARISTÓTELES. De Interpretatione. (Tricot). Paris: Vrin, 1959. ______________. De L’âme. (Rodier). Paris: Vrin, 1900. _____________ . Les Réfutations Sophistiques. (Tricot). Paris: Vrin, 1977. ______________. Metafísica. (Yebra). Madri: Editorial Gredos, 1970. AUBENQUE, Pierre. Le Problème de L’Être chez Aristote. 2.ed. Paris: Presses Universitaires de France, Paris, 1983. ___________________. “La Dialectique chez Aristote”, in L’Atualità della Problematica Aristotelica, Padua 6-8, 1967. CHIESA, Curzio. Symbole et signe dans le De Interpretatione. In: Philosophie du Langage et Grammaire dans l’antiquité. Bruxelas: Ousia, 1986, p. 203-18. WOLFF, Francis. Les Trois Langage-mondes in La Liberté de L’Esprit, Hachete, Paris, março de 1996. i ii Aristóteles, De Interpretatione, 1 16 a, 3-4 Aristóteles, De Interpretatione, 1, 16 a 4-8