OS HEBREUS E O MONOTEÍSMO Criado pela ONU em 1948, o Estado de Israel ocupa no Oriente Médio um território equivalente ao de Sergipe, o menor estado brasileiro. Apesar de boa parte de suas terras ser árida, os israelenses transformaram a região em local propício para o plantio de alimentos. Hoje, além de apresentar uma agricultura moderna, Israel é a principal potência do Oriente Médio. Entender a determinação dos israelenses de sobreviver em situações adversas como essa só é possível quando conhecemos o judaísmo. Religião monoteísta criada por volta de 1200 a.C., o judaísmo foi um dos fatores que ajudaram a manter as tradições e a unidade do povo judeu durante a dispersão pelo mundo a que ele foi submetido por quase 2 mil anos. Neste capítulo estudaremos a história dos hebreus, dos quais os judeus são descendentes. O monoteísmo como força unificadora Segundo alguns pensadores, as religiões seriam uma tentativa de se encontrarem respostas para certas indagações que a razão humana não conseguia explicar. Assim, os deuses teriam sido criados pela imaginação humana para explicar fenômenos como o nascer do Sol, o aparecimento de uma estrela cadente, a queda de um raio, as doenças, o nascimento e a morte, etc. Com o tempo, uma divindade teria se destacado entre as outras e passado a ser considerada uma espécie de rei dos deuses, criador de todas as coisas. Esse processo teria levado a humanidade em direção ao monoteísmo. No Egito, por exemplo, no século XIV a.C., o faraó Amenófis IV tentou implantar o culto a um único deus, Amon, mas fracassou. Após sua morte, os egípcios retornaram ao politeísmo. Seja como for, a crença em um Deus único e universal só se concretizou de fato entre os hebreus, povo nômade que, há milhares de anos, disputava com outras tribos do deserto poços de água e terras de pastagem no Oriente Médio. A origem dos hebreus Os hebreus são um grupo que tem sua origem lingüística na Mesopotâmia. O hebraico falado por eles era uma língua semita, assim como as línguas de outros povos mesopotâmicos. Sua história é narrada sem precisão científica no Velho Testamento, um dos livros que compõem a Bíblia. O primeiro registro não bíblico de sua existência foi encontrado no Egito e é datado de cerca de 1220 a.C. Trata-se de um relato sobre a relação de dominação exercida sobre eles pelo faraó Mineptah. Documentos históricos e descobertas arqueológicas comprovam a presença dos hebreus na Palestina somente a partir de 1230 a.C. Essa data contraria as informações da Bíblia, segundo a qual eles já estariam estabelecidos em solo palestino dois séculos antes. O período dos juízes Quando os hebreus se estabeleceram na Palestina, sua organização social baseava-se em um sistema comunitário, sem forma definida de governo. Os líderes surgiam apenas em momentos de maior necessidade, como durante as guerras. Na falta de uma centralização política e administrativa, cabia a um conselho de anciães, liderado por um juiz, orientar e aconselhar a população em questões específicas. Os juízes eram chefes militares com autoridade religiosa. Na tentativa de unificar as tribos hebraicas, eles passaram a difundir entre a população a idéia de que os hebreus eram um povo único, escolhido por Deus em meio a tantos outros. Para criar esse sentimento de identidade, os juízes afirmavam que os hebreus eram descendentes diretos do patriarca Abraão - aquele que, segundo a Bíblia, teria conduzido os hebreus de Ur, na Mesopotâmia, à Terra Prometida, na Palestina. Eles também exortavam a população a abandonar seus antigos hábitos politeístas. Tudo isso contribuiu para o nascimento do judaísmo, religião monoteísta que se tornaria a base de outras crenças monoteístas surgidas mais tarde, como o cristianismo e o islamismo. Do Politeísmo Ao Monoteísmo Diversos estudos apontam no monoteísmo judeu a presença de elementos politeístas das civilizações antigas. Um dos exemplos disso é a história do dilúvio, segundo a qual Noé conseguiu sobreviver de uma inundação construindo uma arca. Esse episódio - relatado na Bíblia seria uma adaptação do Épico de Gilgamesh, poema sobre um rei da Mesopotâmia escrito por volta de 2000 a.C. Segundo o filósofo francês Voltaire (1694-1778), o judaísmo é resultado da influência das religiões de diferentes povos. Ele afirma que os hebreus tomaram emprestado dos fenícios o nome de Deus; dos persas, a crença na existência de anjos e na luta entre o Bem e o Mal; e dos egípcios, a prática da circuncisão. Os Hebreus e o Monoteísmo Uma das principais fontes de estudo do povo hebreu e do monoteísmo religioso no mundo é o Velho Testamento. Segundo a Bíblia, os hebreus descendem de Abraão, patriarca que vivia na cidade de Ur – na Mesopotâmia – e que teria recebido uma ordem de Deus para conduzir seu povo até a Terra Prometida, também chamada de Canaã, ou Palestina, localizada onde hoje se encontra o Estado de Israel. Mais tarde, no decorrer do século XX a.C., um longo período de seca e fome teria obrigado os hebreus a deixar Canaã para se fixarem no Egito, onde acabariam escravizados. Ainda segundo o relato bíblico, no Século XV a.C. eles teriam fugido de lá guiados por Moisés, profeta escolhido por Deus para conduzir o povo hebreu de volta à Terra Prometida. Depois de quarenta anos de travessia no deserto, os hebreus teriam chegado à Palestina Apesar das divergências de datas entre a historiografia e o Velho Testamento, a Bíblia pode ser usada como referência nos estudos de História.Juntamente com outras fontes, ela nos permite reconstruir a história dos hebreus e recuperar costumes de civilizações antigas, padrões de comportamento, mitos das regiões, etc. A monarquia hebraica Por volta de 1010 a.C. os hebreus unificaram suas tribos e formaram o reino de Israel, do qual o primeiro rei foi Saul. Coube a seu sucessor, Davi (1006-966 a.C.), a tarefa de expulsar da Palestina um dos povos rivais: os filisteus. Após escolher Jerusalém - cidade que já existia - para capital do reino, Davi dividiu Israel em doze províncias (ou tribos). Com Salomão (966-926 a.C.), filho de Davi, o reino de Israel conheceu sua fase de esplendor e de centralização religiosa. É dessa época a construção do Templo de Jerusalém. Com a morte de Salomão, o reino entrou em convulsão e dividiu-se entre o reino de Israel (reunindo as dez tribos do norte) e o reino de Judá (formado pelas duas tribos do sul). Em 722 a.C. o reino de Israel foi dominado pelos assírios, que levaram muitos hebreus como escravos para seu território. Em 587 a.C. Nabucodonosor, rei dos babilônicos, conquistou Judá, destruiu o Templo de Jerusalém e escravizou muitos de seus habitantes, levando-os para a Babilônia. Em 539 a.C. Ciro I, o Grande, rei da Pérsia, conquistou a Mesopotâmia e permitiu que os hebreus retornassem à Palestina, onde viveriam em liberdade desde que lhe pagassem tributos. Posteriormente, a região da Palestina foi dominada pelos gregos e depois pelos romanos. Em razão da violência imposta por estes últimos, os hebreus dispersaram-se por vários lugares do mundo na chamada Diáspora. Essa dispersão duraria cerca de 2 mil anos. Mesmo vivendo separados uns dos outros, sem governo e sem território próprios até 1948, quando a ONU criou o Estado de Israel, os judeus mantiveram vivo o sentimento de identidade nacional e religiosa. Esse sentimento de pertencer a uma única nação só foi possível em razão de sua forte crença religiosa e do fato de acreditarem que a Palestina estava destinada a eles por vontade divina. Atividades 1. Segundo alguns pensadores, como surgiu a religião? 2. É possível resgatar a história dos hebreus e do monoteísmo usando como documento histórico a Bíblia? Justifique sua resposta. 3. Como era a organização social dos hebreus no período dos juízes? 4. Boa parte das civilizações vistas até o momento neste livro tiveram seu processo de unificação - formação de um único Estado amparado pelo uso da força. No caso dos hebreus, como ocorreu a centralização? 5. Explique a frase: "Mesmo vivendo separados até 1948, os judeus mantiveram vivo o sentimento de identidade nacional e religiosa”.