o homem se faz a si mesmo - História

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A PRÉ-HISTÓRIA: o homem se faz a si mesmo
A Pré-História abrangeu 98% da vida do homem sobre a Terra. No Paleolítico, o homem pré-histórico se
agrupou em hordas ou grupos nômades e fabricou instrumentos de pedra lascada, dedicando-se à caça de animais
e à coleta de frutos e raízes. No Neolítico, fez instrumentos de pedra polida, desenvolveu a agricultura e
domesticou os animais, organizando-se em clãs e aldeias. Na Idade dos Metais, o desenvolvimento da metalurgia,
o surgimento do Estado e a invenção da escrita possibilitaram ao homem a passagem para os tempos históricos.
“Enquanto, por exemplo, os ossos da caixa craniana tiveram que sustentar os fortes músculos necessários às
pesadas mandíbulas do chimpanzé e controlar seus dentes, usados nos combates, o cérebro não tinha muito onde se
expandir, pois seus ossos deviam ser espessos e sólidos. Se as patas e pernas dianteiras têm, normalmente, de carregar
o peso do corpo, seja andando ou subindo, os finos e delicados movimentos dos dedos humanos, nos atos de pegar e
fazer coisas, seriam impossíveis. Ao mesmo tempo, sem mãos para pegar alimentos e ferramentas e sem armas feitas
manualmente para obter alimentos e repelir ataques, as pesadas mandíbulas e dentes usados nas lutas, como os de
nossos ancestrais, os macacos, dificilmente poderiam ser reduzidos de tamanho ou diminuídos de peso. Assim, as
modificações evolucionárias que contribuíram para fazer o homem estão intimamente ligadas entre si e às modificações
culturais feitas pelo próprio homem.” (CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem.)
No trecho acima, o antropólogo e arqueólogo Gordon Childe procura demonstrar a relação e
interação entre dois processos distintos, mas profundamente inter-relacionados: a evolução biológica e a
evolução cultural do homem. A “transformação” do macaco antropomorfo em Homo sapiens não foi o
resultado de uma evolução breve, simples e unilinear, ao contrário, foi um processo longo, complexo e
descontínuo. Neste processo, conhecido como hominização, o trabalho desempenhou um papel decisivo. O
homem foi o único animal capaz de fabricar ferramentas e, através delas, atuar sobre a natureza e produzir
seus meios materiais de existência. O trabalho produtivo foi um ato cultural por excelência: ao produzir
cultura, o homem ao mesmo tempo se autoproduziu como ser humano.
1. A origem da vida
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A evolução biológica e cultural que vai do Australopithecus (“macaco do sul”) ao Homem de CroMagnon (Homo sapiens), ao longo de centenas de milhares de anos, foi, por sua vez, a culminância de um
lento processo cujas origens começam com o surgimento do Universo, passando pela formação da Terra e
do Sistema Solar, e ao aparecimento das primeiras manifestações de vida em nosso planeta.
Presume-se que o mais antigo ancestral do homem tenha surgido há cerca de 2,5 milhões de anos.
Animal da classe dos mamíferos, o homem pertence à ordem dos primatas, cuja subordem anthropoidea
inclui, por sua vez, a superfamília hominoidea, que compreende as famílias pongidae e hominidae, a primeira
se dividindo em quatro gêneros (orangotango, gibão, gorila e chimpanzé) e a segunda possuindo um único
gênero: o homem.
O mais longínquo antepassado do homem, conhecido até agora, é o Australopithecus (“macaco do
sul”), cujo fóssil foi descoberto em 1924, na África do Sul, pelo arqueólogo Raymond Dart. Supõe-se que
esse hominídeo viveu naquela região entre 1,5 milhão 600 mil de anos. Embora semelhante ao macaco, o
Australopithecus era bípede, possuía cintura pélvica, postura semi-ereta e usava armas de pedra para caçar.
Sua altura oscilava entre 1,06 e 1,37 m, e o tamanho de seu cérebro variava de 450 a 550 cm³ (o do Homo
sapiens é de 1.200 a 1.600 cm³ e o do chimpanzé, de 350 a 450 cm³).
Em 1891, foram descobertos na ilha de Java, Indonésia, fósseis de Pithecanthropus erectus (“homem
macaco em pé”), conhecido como Homem de Java. A esse grupo pertencem também o Homem de
Heidelberg, encontrado na Alemanha e o Homem de Pequim, descoberto na China. Estes hominídeos
viveram entre 500 e 200 mil a.C. na Ásia, Europa e África. Entre outras características, o Pitecanthropus
erectus possuía maxilar grande e proeminente, o que deixava pouco espaço na caixa craniana para o
desenvolvimento do cérebro, que media cerca de 1.000 cm³.
Em 1856, foi descoberto na Alemanha o Homem de Neanderthal, hominídeo que teria vivido entre
200 e 50 mil a.C. na Europa, norte da África e Ásia. Era um ser de baixa estatura e sem queixo, com arcos
supraciliares proeminentes e fronte inclinada e baixa. Bípede, com cintura pélvica e andar ereto, o Homem
de Neanderthal possuía altura média de 1,60 m e cérebro com 1.400 a 1.600 cm³.
O último elo dessa evolução foi o Homem de Cro-Magnon, descoberto em meados do século
passado numa caverna na França. Fronte alta e larga, mandíbula leve com dentes pequenos e queixo
proeminente, o Homem de Cro-Magnon possuía estatura elevada, cerca de 1,80 m e cérebro com 1.600 cm³,
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semelhante ao do homem moderno. Com o Cro-Magnon, que viveu entre 40 e 30 mil a.C., a evolução do
homem atingiu o estágio superior de ser dotado de inteligência, sensibilidade e vida espiritual: o Homo
sapiens sapiens, o “homem sábio sábio”, aquele que tem consciência, inteligência desenvolvida e capacidade
de raciocínio.
A evolução que começou com o Australopithecus e se completou com o Cro-Magnon, através de uma
cadeia de centenas de milhares de anos, teve como resultado final a completa e radical diferenciação entre o
homem e o macaco antropomorfo. Durante essa lenta e complexa evolução, o homem desenvolveu cinco
características: postura ereta, braços livres e mãos preensoras, cérebro pensante, linguagem articulada e
olhos de focalização penetrante.
O processo de hominização teve início no momento em que o homem assumiu uma postura ereta e,
liberando os braços e as mãos, passou a fabricar instrumentos, inicialmente de pedra (lascada e polida) e,
posteriormente, de metais (cobre, bronze e ferro). Junto com a produção de seus instrumentos de trabalho,
o homem passou também a se produzir enquanto homem. Através do trabalho, o homem se humanizou e
com a humanização, passou a produzir cultura partilhada com seu grupo e transmitida de geração em
geração. A confecção de armas e ferramentas determinou a transição da adaptação passiva, na qual a
natureza dominava o homem, para a adaptação ativa, em que o homem dominou a natureza. O primeiro
coletor e caçador foi-se transformando lentamente em agricultor e pastor, em produtor de artefatos e
alimentos.
O trabalho teve um papel determinante na transformação do primata em homem. No próprio ato de
produzir instrumentos, o homem se autoproduziu, realizando a interação entre os olhos, o cérebro e as
mãos. Adquiriu uma visão em perspectiva, aprimorou a capacidade psicomotora e operou a síntese entre o
olhar focado e penetrante, as operações mentais e as atividades físico-musculares. A unificação do “ver”,
do “pensar” e do “fazer” condicionou a interação recíproca entre a focalização visual, o desenvolvimento
intelectual e o adestramento manual do ser humano.
Utilizando a ferramenta como um prolongamento e apêndice de seu braço e, ao mesmo tempo,
dividindo o trabalho e cooperando com outros homens, a força e a capacidade do homem individual foram
multiplicadas e potencializadas no interior do clã, da aldeia ou da tribo. A necessidade de comunicação,
inerente e necessária à vida em sociedade, levou o homem a modular os sons, a criar palavras para nomear
as coisas, a combinar palavras em frases, a traduzir o pensamento abstrato em conceitos. Simultaneamente,
desenvolveu a linguagem articulada que, por sua vez, fortaleceu ainda mais os laços comunitários
estabelecidos pela divisão e cooperação no trabalho. Através do trabalho, o homem cultivou as plantas e
realizou a revolução agrícola, domesticou os animais e realizou a revolução pastoril. Descobriu os metais e
fez a revolução metalúrgica, substituindo as armas e ferramentas de pedra por armas e ferramentas de
metais, cuja maior resistência e durabilidade permitiram-lhe a conquista definitiva do meio ambiente. Os
metais permitiram ao homem fabricar arados, enxadas, foices, facões, etc., que possibilitaram a ampliação
dos campos arados para o cultivo, a construção de barragens e diques para o uso agrícola, a derrubada de
florestas.
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O trabalho efetuou a mediação do homem com a natureza e do homem com outros homens. Ao
humanizar a natureza, através do trabalho, o homem se humanizou com ela. Ao produzir seus meios
materiais de existência, o homem se autoproduziu como ser humano. No trabalho e pelo trabalho o homem
se hominizou, ascendendo na escala que foi do primata ao Homo sapiens, e se humanizou, como único
animal dotado de inteligência, sensibilidade e espiritualidade.
MELLO, Leonel Itaussu A. e COSTA, Luís César Amad. História Antiga e Medieval (texto adaptado).
Profª ISABEL CRISTINA SIMONATO
EEEM “Emílio Nemer” – Castelo – ES
Blog: belsimonato.wordpress.com
28.fevereiro.2012
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