Condições meteorológicas de agosto, El Niño e as

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NOTA TÉCNICA Nº 13 (10/09/2012)
CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS DE AGOSTO, EL NIÑO E AS CULTURAS
AGRÍCOLAS
Esta nota técnica descreve a precipitação pluvial (chuva) e as temperaturas do ar
ocorridas em agosto de 2012 no Estado do Rio Grande do Sul e as condições atuais do sinal
do evento El Niño. Além disso, são apresentadas as condições atuais de crescimento e
desenvolvimento dos cereais de inverno e forrageiras, bem como o indicativo da situação das
culturas de primavera-verão em início de safra.
CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS OCORRIDAS EM AGOSTO DE 2012
A precipitação pluvial do mês de agosto apresentou diferenças relacionadas ao volume
e à distribuição espacial, variando entre 5 mm no nordeste até 150 mm no extremo oeste e
sudoeste (Figura 1). Na metade sul do Estado os volumes variaram entre 100 e 150 mm,
enquanto na região central e oeste os volumes ficaram entre 60 e 80 mm. Apenas na região
norte, entre o planalto, serra e leste os volumes foram reduzidos de 50 a 5 mm.
Na metade norte do Estado os volumes acumulados ficaram abaixo da normal
climatológica (inferiores a 70% da média esperada). Cabe destacar a regional de Erechim
onde a precipitação registrada foi apenas 10% do esperado.
Na metade sul os valores observados foram muito próximos ou superiores a média,
sendo que, os volumes acumulados representaram pelo menos 90% da média esperada para o
mês. Na maior parte da Campanha os valores de precipitação registrados ficaram entre 30 e
50% superiores a normal. Apenas no extremo da Fronteira Oeste foram observados valores de
precipitação superiores a 70% da média (Figura 1).
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Figura 1. Precipitação pluvial acumulada (chuva) no mês de agosto de 2012, expressa em mm
e em porcentagem da normal climatológica padrão.
A distribuição da precipitação ao longo das semanas foi irregular no mês de agosto no
Estado. Na semana de 01 a 09 foi registrada chuva apenas na região Central e metade Sul,
com maiores volumes na regional Pelotas, com volumes em torno de 35 a 50 mm. Na região
central os volumes registrados ficaram entre 5 e 20 mm. Entre os dias 10 e 16 de agosto
ocorreram chuvas em praticamente todo o Estado, a exceção de parte da região Norte, Serra e
Litoral Norte. Os volumes registrados foram baixos variando na maioria das regiões entre 10 e
35 mm. Na faixa entre a região metropolitana em direção a Erechim os volumes ficaram entre
5 e 10 mm.
Na terceira semana do mês de agosto, entre os dias 17 e 23, apenas a metade Oeste
registrou precipitações, com baixos volumes na faixa mais central (5 mm), e maiores volumes
registrados do centro em direção a fronteira oeste e campanha, variando entre 50 e 80 mm. Na
região de Uruguaiana foram registrados volumes superiores a 100 mm nesse período. Na
última semana entre os dias 24 a 31 de agosto a chuva voltou a ser registrada em todo o
Estado. Os maiores volumes foram registrados no Litoral Norte, Serra do Nordeste e região
Metropolitana, variando entre 65 a 100 mm. Nas regiões Central e Noroeste os volumes
variaram entre 15 mm e 40 mm e, na Campanha, Alto Uruguai e no Planalto Médio, os
volumes foram inferiores a 20 mm.
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Figura 2. Precipitação pluvial acumulada (chuva) entre os dias 01 a 09 (A), 10 a 16 (B), 17 a
23 (C) e 24 e 31 (D) de agosto de 2012.
O mês de agosto foi caracterizado por temperaturas do ar acima da normal
climatológica na maioria das regiões do Estado. Considerando dados de 21 estações
meteorológicas convencionais (INMET), a temperatura média mínima da primeira semana do
mês variou entre 9,0ºC em Bom Jesus e 16,8ºC em São Luiz Gonzaga. Na segunda e terceira
semana as temperaturas mínimas aumentaram, com médias mínimas entre 11,2ºC em
Cambará do Sul e 18,2ºC em Santa Maria e Porto Alegre. A quarta semana de agosto foi
característica de inverno, com temperaturas mínimas absolutas abaixo de 8ºC. Em Cambará
do Sul foi registrada temperatura mínima média do ar de 7,1ºC e em Torres de 12,9ºC.
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A temperatura do ar média máxima registrada nas três primeiras semanas de agosto
foram superiores a 20ºC em praticamente todas as estações meteorológicas do INMET. Em
Campo Bom, na terceira semana do mês, a temperatura média máxima foi de 32,7ºC, em Iraí
30,8ºC e em Porto Alegre 30,7ºC. Na quarta semana, a temperatura média máxima diminuiu
consideravelmente, variando entre 15,4ºC em Cambará do Sul e 22,7ºC em Iraí.
Tabela 1. Temperaturas do ar mínima e máxima médias registradas na primeira semana
(01/08-09/08), segunda semana (10/08-16/08), terceira semana (17/08-23/08) e na quarta
semana (24/08-31/08) de agosto de 2012, em 19 estações meteorológicas convencionais do
INMET no RS.
Estações
Meteorológicas
Convencionais
Temperatura mínima média (ºC)
1º
2º
3º
4º
semana semana semana semana
Temperatura máxima média (ºC)
1º
2º
3º
4º
semana semana semana semana
Bagé
12,9
15,4
16,7
9,4
22,1
23,9
24,1
18,1
Bom Jesus
9,0
11,7
12,4
7,5
21,5
23,0
23,5
17,4
Cambará do Sul
9,2
11,2
11,5
7,1
21,7
23,0
24,1
15,4
Campo Bom
12,3
14,8
16,1
11,8
26,5
29,7
32,7
21,1
Caxias do Sul
13,1
14,6
15,9
9,3
21,6
25,3
26,1
16,9
Cruz Alta
13,9
15,1
16,1
9,7
24,4
25,1
26,0
20,0
Encruzilhada do Sul
13,3
14,6
16,6
9,6
22,1
24,0
25,0
18,5
Iraí
14,9
15,1
17,3
11,2
28,1
27,7
30,8
22,7
Lagoa Vermelha
11,1
13,1
13,7
8,4
22,5
24,0
24,7
18,1
Passo Fundo
12,1
14,1
14,5
9,1
22,7
23,5
25,7
18,6
Pelotas
12,3
13,0
16,5
11,1
22,3
24,2
25,3
18,5
Porto Alegre
13,5
15,3
18,2
12,4
25,3
28,2
30,7
21,8
Rio Grande
12,6
14,5
16,7
12,1
21,0
21,3
23,1
19,3
Santa Maria
Santa Vitória do
Palmar
Santana do
Livramento
15,5
16,5
18,2
11,4
25,9
26,8
26,8
20,5
11,0
11,9
14,6
10,1
17,6
20,0
21,7
17,6
11,4
14,0
14,3
7,9
22,2
24,0
22,3
17,5
São Luiz Gonzaga
16,8
17,3
18,1
10,2
26,3
27,9
27,0
20,9
Torres
12,8
14,9
16,6
12,9
21,2
21,9
23,1
19,0
Uruguaiana
12,8
15,3
16,0
8,9
24,4
26,3
25,7
19,9
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EL NIÑO E A AGRICULTURA
A produção agrícola do Rio Grande do Sul está diretamente relacionada aos volumes
de precipitação observados, uma vez que grande parte das culturas não é conduzida sob o
sistema de irrigação. Um dos fatores que está diretamente relacionado à quantidade e à
distribuição espacial da precipitação no Estado é a ocorrência do fenômeno El Niño. Este
fenômeno é provocado pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico
Equatorial, o que interfere na circulação atmosférica regional e global, causando impacto no
clima de diversas regiões do planeta. No Estado, em anos de ocorrência de El Niño,
normalmente são observados valores de precipitação acima da média climatológica.
Durante o mês de agosto não foram observadas alterações significativas de aumento da
temperatura da superfície do Pacífico Equatorial, assim não se observaram alterações nos
fatores que configuram a ocorrência de El Niño. No entanto, diversos modelos de previsão de
ocorrência do fenômeno indicam que existe a possibilidade do desenvolvimento de condições
que propiciem a ocorrência do mesmo nos próximos meses (setembro, outubro), persistindo
até o final do ano (dezembro). Os modelos prognósticos indicam probabilidade de 70% de
ocorrência de um evento El Niño com intensidade fraca a moderada, entretanto, ainda não é
possível afirmar que a ocorrência do fenômeno irá se refletir em aumento significativo de
precipitação na primavera e início do verão no Rio Grande do Sul.
A ocorrência do El Niño e consequentemente um possível aumento da precipitação
atrelada ao fenômeno pode refletir tanto de forma positiva quanto negativa na agricultura
durante a primavera. As culturas de verão poderão ser favorecidas no que se refere à
recuperação do déficit hídrico do solo, assim como, poderá contribuir para a recuperação dos
reservatórios e mananciais utilizados para a irrigação das lavouras de arroz. Entretanto, para
os cereais de inverno o aumento da precipitação pode ser desfavorável em função de coincidir
com o período de maturação e colheita destas culturas.
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CEREAIS DE INVERNO (TRIGO)
As plantas de trigo, em agosto, estavam em pleno desenvolvimento vegetativo,
período que doenças, pragas e plantas voluntárias podem comprometer o crescimento das
plantas. No mês de agosto a aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas foi necessária
para garantir a sanidade das plantas. O crescimento das plantas foi rápido em função das altas
temperaturas do ar registradas nesse período, com exceção em algumas regiões do Estado que
os volumes de chuva registrados foram muito baixos e as plantas sofreram déficit hídrico.
Segundo dados da Emater/RS, até final de agosto, cerca de 15% das lavouras de trigo estavam
em antese e 3% em enchimento de grãos (Figura 3).
Fases de desenvolvimento
do trigo no RS em agosto de 2012
Semeadura/
Germinação
Afilhamento/formação
da espigueta
Alongamento do colmo/
antese
Enchimento de grãos/
Maturação fisiológica
Figura 3. Escala fenológica do trigo.
NT 13 – CemetRS – 10/09/2012
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FORRAGEIRAS
Na metade norte do Estado, onde menores volumes de chuva foram observados, o
desenvolvimento das forrageiras está mais lento. Isso implica na necessidade de redução na
carga animal, a fim de garantir uma adequada massa de forragem disponível aos animais. É
importante atentar para o manejo das forrageiras cultivadas nessa época, no sentido de
garantir alturas ideais para as espécies forrageiras. No caso de pastoreio rotativo, deve-se
garantir elevada capacidade de rebrote (Figura 4).
Figura 4. Velocidade de rebrote da planta e do sistema radicular em pastoreio rotativo.
Na região da Campanha, onde a pecuária é baseada, principalmente, em pastagens
naturais, os maiores volumes acumulados de chuva, juntamente com as temperaturas do ar
acima da normal climatológica, proporcionaram maior rebrote das plantas forrageiras. No
entanto, durante o mês de setembro, ainda devem ser mantidas cargas animais reduzidas a fim
de promover o restabelecimento do campo nativo.
As pastagens cultivadas de aveia + azevém implantadas em meados de março/abril já
se encontram em estágio avançado de desenvolvimento. O desenvolvimento reprodutivo vem
sendo favorecido pelas elevadas temperaturas do ar registradas. Isso implica em antecipação
de planejamento para a implementação de pastagens cultivadas de verão, havendo a
necessidade de adequação das áreas destinadas aos animais. Em algumas regiões, as pastagens
perenes de verão, como o tifton, já estão rebrotando.
Os produtores que adiaram a implementação das pastagens de inverno em decorrência
da estiagem poderão utilizá-las por mais tempo. Nestes casos, o azevém está em pleno
NT 13 – CemetRS – 10/09/2012
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desenvolvimento vegetativo, podendo estender sua utilização até dezembro. Normalmente, as
pastagens de aveia + azevém são utilizadas até início de novembro. No sentido de garantir as
alturas ideais das espécies forrageiras, indica-se manejo entre 15 e 20 cm para as pastagens de
aveia + azevém.
CULTURAS DE PRIMAVERA – VERÃO
Em função da chuva no mês de agosto ter sido distribuída de forma irregular no
Estado, o acúmulo de água nos mananciais e no solo não se deu de forma satisfatória para a
agricultura. A baixa umidade do solo, principalmente na metade norte do Estado, vem
reduzindo o ritmo de semeadura das culturas de primavera-verão implantadas no cedo,
especialmente milho e feijão. Segundo o último levantamento da Emater/RS (06/09/2012) a
semeadura do milho atinge 15% da área, enquanto na média dos anos já deveria estar em
20%. O feijão já está com 12% da área semeada, ficando um pouco abaixo da média da época
que seria 15%.
As reservas de água nos mananciais para irrigação de arroz estão muito baixas e os
produtores vêm tendo dificuldades em planejar as lavouras, segundo informações da
Emater/RS. Há indicativos de que haja substituição de áreas de plantio de arroz pela cultura
da soja devido a falta de água nos reservatórios.
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